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O Meu Clube É a Seleção!

Mulher de muitas paixões, a Seleção Nacional é uma delas.

Um estranho empate, a vitória de que precisávamos

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No passado dia 2 de junho, a Seleção Portuguesa de Futebol empatou a uma bola com a sua congénere espanhola. Três dias mais tarde, venceu a sua congénere suíça por quatro bolas sem resposta. Estes dois jogos contaram para a fase de grupos da terceira edição da Liga das Nações. 

 

Antes de mais nada, um pequeno pedido de desculpas por não ter publicado aqui no blogue antes destes jogos. Tenho tido umas semanas complicadas, em grande parte porque apanhei Covid e este não foi meigo comigo. Não é a primeira vez que salto uma crónica pré-jogo e não será a última. Mas não o devia ter feito desta vez. 

 

Nestas crónicas gosto de fazer uma rápida análise aos nossos adversários, o historial recente deles, o nosso histórico de confrontos com eles – para depois fazer prognósticos. Isso fez-me falta nesta jornada. Quando esta jornada começou, senti-me como se estivesse numa aula prática da faculdade sem a ter preparado.

 

Enfim, acontece. Mas vou tentar não repetir no futuro.

 

No dia do jogo com a Espanha, saí tarde do trabalho e acabei por perder os primeiros vinte e cinco minutos do jogo. Bem, mais ou menos. Ia consultando aqueles sites de atualizações de jogos quando podia até sair, depois ouvi o relato na rádio. Dava para perceber que a Espanha estava claramente por cima, ainda que Portugal fosse conseguindo defender-se dos ataques deles. 

 

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Mas não por muito tempo. Na verdade, entrei em casa precisamente no momento em que Álvaro Morata marcou. Rafael Leão tentou passar para trás, João Cancelo (foi ele, não foi?) deixou a bola fugir e ir parar aos pés de Gavi. Os Marmanjos foram basicamente apanhados com as calças na mão enquanto Gavi galgava o campo. Por fim, este passou a Sarabia que assistiu para Morata.

 

Tenho de admitir, foi uma bela jogada. Os portugueses só se podiam culpar a si mesmos.

 

Agora que já tinha acesso a uma televisão, conseguia ver com os meus próprios olhos que a Espanha estava a jogar muito melhor do que nós. Os portugueses na comparação quase pareciam amadores, dependentes da inspiração dos mais criativos. Não era tanto um “fia-te na virgem e não corras”, era mais um “fia-te no Rafael Leão e deixa os espanhóis correrem”. Em teoria isto não devia ser eficaz. Na prática, com Fernando Santos tem resultado muitas vezes.

 

Infelizmente, Rafael Leão – que jogou no lugar de Cristiano Ronaldo e é um dos Marmanjos do momento – não estava nos seus dias. Ou isso, ou se calhar ainda não estava preparado para este papel – ainda tem pouca experiência na Seleção.

 

Aproveito para falar já numa das questões-chave do jogo: a ausência de Cristiano Ronaldo do onze inicial. O assunto fez correr muita tinta – mais do que devia, na minha opinião. Ronaldo tem trinta e sete anos, vai completar em breve vinte anos como jogador profissional (!). Não podemos ficar dependentes dele para sempre, temos de ir fazendo o desmame. Pessoalmente, eu não o deixava no banco neste jogo – o mais difícil da fase de grupos. Mas temos de encarar com naturalidade quando ele não joga de início. 

 

A nossa melhor fase foi no início da segunda parte, quando entrou Rúben Neves para o lugar de João Moutinho. Infelizmente o ímpeto não durou muito. Ainda assim, Ricardo Horta – estreante e outro dos Marmanjos do momento – entrou aos setenta e poucos minutos e só precisou de mais dez para empatar a partida. Pode ter sido um golo contra a corrente do jogo, mas foi uma jogada bonita: a troca de bola entre Cancelo e Gonçalo Guedes, a assistência do primeiro para o remate de Horta.

 

 

Por alturas do fim do jogo, eu mal acreditava. Como é que tínhamos conseguido não perder aquele jogo? Quase senti pena dos espanhóis, que tinham feito muito mais por merecer a vitória. Quase… porque duvido que nuestros hermanos pensassem o mesmo se fosse ao contrário – não tanto os jogadores, mais os adeptos. Eles que não nos deram pontos na Eurovisão e, pior ainda, assobiaram o nosso hino. 

 

Por isso sim, que se danem. Este pontinho é nosso. E talvez venha a ser precioso.

 

Por outro lado, tenho de ser sincera: este empate não entusiasmou ninguém. Foi um típico jogo à Fernando Santos, sobretudo neste último ano, ano e meio. Um estranho empate, como disseram nos Memes da Bola. Parafraseando um monólogo de uma personagem de Ted Lasso, o equivalente futebolístico a um quadro de quarto de hotel: cumpre a sua função, mas está longe de ser uma obra de arte, está longe de comover. 

 

É por estas e por outras que, nesta altura do campeonato, muitos de nós não conseguem estar a cem por cento com Fernando Santos – eu incluída. Foi por muitos jogos assim que o ano passado foi tão frustrante. É certo que uma coisa é termos estes estranhos empates perante adversários como a Espanha – historicamente uma das nossas maiores bestas negras. Outra coisa era quando tínhamos estes estranhos empates ou estranhas vitórias perante adversários como a República da Irlanda ou o Azerbaijão

 

E de qualquer forma, no que toca a entretenimento e obras de arte, fomos bem compensados no jogo seguinte.

 

Este decorreu no Estádio de Alvalade e eu estive lá, com a minha irmã – que não ia a um jogo da Seleção desde antes da pandemia, desde… desde a final da Liga das Nações no Porto há precisamente três anos, vejo agora. 

 

Chegámos cedo, sem grandes complicações – o facto de já não precisarmos de certificados de vacinação e afins ajuda – assistimos a parte do aquecimento. Como sempre, estava um ambiente fantástico, com lotação esgotada – nunca me farto disso. E como era o Estádio de Alvalade, a Seleção vestia um equipamento verde e vermelho e ainda tínhamos a luz do dia, lembrei-me do meu primeiro jogo.

 

 

Como já toda a gente assinalou, Portugal não entrou bem na partida. Os suíços dominaram durante os primeiros dez minutos, culminando com o golo de Seferovic, aos seis minutos. Comecei logo a fazer contas à vida, naturalmente – ao mesmo tempo, estranhei que o marcador não se alterasse nos ecrãs gigantes. Acabou por aparecer a indicação de consulta do VAR por mão na bola. Pouco depois obtivemos confirmação e o golo foi anulado. Suspiro coletivo de alívio, festejos nas bancadas.

 

– Que sirva de lição – disse eu, na altura. Estava apenas falando para o ar, claro, parecido com os meus gritos ocasionais de “Vai! Vai! Vai!”, “Corre!”, “Chuta!”. Mas a verdade é que os jogadores pensaram o mesmo – vários admitiram-no mais tarde. O golo anulado foi uma “wake up call”. Depois dele, Portugal tomou conta do jogo. 

 

Começando logo aos quinze minutos, na nossa primeira ocasião. Cristiano Ronaldo cobrou o livre direto, o guarda-redes Gregor Kobel defendeu para a frente, William Carvalho marcou na recarga. Adoro ver os festejos deste golo – se me permitem a nota menos futebolística, William tem um sorriso lindo.

 

Isto na verdade foi apenas o começo para William. Ele fez um jogo espetacular, catalisando vários lances de ataque. Não foi o único. Adiantando-me um pouco, Portugal num todo jogou bem. Jogou “bonito”, como Fernando Santos insiste em dizer. O talento que todos reconhecem nos nossos Marmanjos estava finalmente a vir ao de cima. Otávio estava em todo o lado – neste jogo reparei que ele é baixinho mas corre muito. Nuno Mendes teve vários rasgos de inspiração. Diogo Jota não esteve nas suas melhores noites – aparentemente ele só consegue marcar de cabeça – mas sempre contribuiu para os dois golos de Cristiano Ronaldo. João Cancelo foi pura e simplesmente imperial. Rúben Neves também esteve bem, à semelhança de Bruno Fernandes, que também esteve nos golos de Ronaldo. Eu podia continuar…

 

Mas regressemos à primeira parte do jogo. Os últimos quinze minutos foram absolutamente avassaladores da nossa parte, com dois golos e uns quantos desperdícios. Ambos os golos foram assinados por Ronaldo. 

 

A jogada do primeiro começou em Rúben Neves, Otávio desviou de cabeça, Bruno Fernandes passou para Diogo Jota. Pensava-se que este iria rematar – em vez disso, este desarmou dois suíços e assistiu para o remate certeiro de Ronaldo. 

 

No segundo golo, Bruno Fernandes fez uma cueca a um dos suíços (que boss…), a bola chegou a Nuno Mendes que assistiu para Diogo Jota. Este aparentemente não estava à espera e tentou um remate atrapalhado. Kobel defendeu de novo para a frente (a sério? Um remate tão fraquinho e ele defende para a frente? Acho que até eu teria conseguido agarrar esta bola!) e desta vez foi Ronaldo a aproveitar. 

 

 

Não sei como é com vocês, mas eu nunca me cansarei de ouvir multidões gritando “SIIII!!!!” em coro com Cristiano, cantando o nome dele. As imagens de uma D. Dolores em lágrimas no rescaldo dos dois golos correram mundo. Por um lado é caricato: o filho é recordista em golos de seleções (e em vários outros tipos de golos). A senhora chora de todas as vezes que Ronaldo marca?

 

Por outro lado, são imagens bonitas, ninguém o nega. E compreende-se. Era uma ocasião especial, os gémeos de Ronaldo faziam cinco anos – o pai marcou um golo para casa. Além disso, há que recordar, a família tem passado por tempos difíceis.

 

Já que falo nisso, queria destacar outro momento. Conforme referimos antes, tivemos vários desperdícios nos últimos quinze minutos da primeira parte. Um deles foi de Ronaldo, um lance de caras. O Capitão teve uma reação um pouco mais desalentada do que eu esperava. Logo a seguir, nas bancadas, aplaudimos e cantámos o nome dele, em jeito de consolo.

 

A minha irmã já tinha comentado que nós tratamo-lo bem, que o mimamos. Ninguém nega que ele o merece, sobretudo neste momento. Não só por tudo o que tem feito por nós, mas também depois da perda que ele e a família sofreram há pouco tempo.

 

O futebol é isto. A Seleção é isto.

 

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Chegámos, assim, ao intervalo com uma vantagem de três golos. Eu queria ainda mais na segunda parte – até porque a baliza da Suíça ia ficar do nosso lado. Na prática, sabia que seria difícil mantermos o ímpeto, com todas as condicionantes à forma física dos jogadores. Eu, aliás, estava à espera que Ronaldo saísse ao intervalo ou por volta do momento sessenta. Isso não aconteceu, ele jogou até ao fim – uma vez mais eu teria feito diferente, mas pronto.

 

Ainda assim, a segunda parte não foi má. Ronaldo chegou a enfiar a bola na baliza aos cinco minutos, mas o golo foi anulado por fora de jogo. Pena. Ficou por repetir o hat-trick de há exatamente três anos antes. E não pude festejar um golo de Ronaldo do meu lado do campo.

 

O momento de brilho ocorreu perto dos setenta minutos, numa jogada de João Cancelo e Bernardo Silva (que acabara de render Bruno Fernandes). Cancelo abriu caminho pela direita sem dificuldades. O passe de Bernardo escapou a três suíços, Cancelo fintou o guarda-redes com imensa classe e rematou certeiro para as redes.

 

Tal como já me tinha acontecido no jogo com a Sérvia, o telemóvel voou-me do bolso durante os festejos (o casaco que uso com a camisola da Seleção tem os bolsos muito grandes, eu esqueço-me sempre…). Desta feita, dois senhores (pai e filho?) que estavam no banco da frente apanharam-no e viraram-se para trás. Eu estava ainda de olhos nos jogadores a festejar, sorrindo como uma tola. Demorei vários segundos a perceber que o telemóvel que tinham na mão era o meu. 

 

Enfim…

 

Não aconteceu mais nada de assinalável durante o resto dp jogo, ainda que nós nas bancadas fôssemos gritando “Só mais um! Só mais um!”. Tirando o momento em que João Palhinha se ia virando a Embolo. Noutras circunstâncias eu diria que ele não devia perder a cabeça por “dá cá aquela Palhinha” (não, não peço desculpa) mas, em defesa dele… aquilo foi uma falta demasiado dura e completamente desnecessária, talvez merecesse mesmo o cartão vermelho. 

 

Por outro lado, quando revi o lance na televisão, deu para ver e ouvir claramente Fernando Santos gritando a Palhinha para ter calma. 

 

Em todo o caso, a Suíça nunca chegou a ameaçar verdadeiramente. A vitória manteve-se. 

 

Arrisco-me a dizer que este foi o nosso melhor jogo nos últimos tempos. Talvez mesmo desde 2020. É certo que houve demérito da Suíça – acho que vi nalgum lado que eles andam com problemas internos – mas isso não é culpa nossa. Eles tinham a obrigação de fazer melhor, depois dos bons resultados que tiveram no último ano. E eu não me esqueço que eles se bateram taco a taco connosco na Qualificação para o Mundial 2018.

 

Por nosso lado, como referi antes, finalmente vimos Portugal a jogar bem, aproveitando o talento dos seus jogadores. É assim que nós gostamos! Depois de demasiadas pinturas de quarto de hotel, finalmente fizemos uma obra de arte. Era a vitória de que precisávamos há muito tempo, algo que nos desse argumentos contra os críticos da Seleção – incluindo aquele que vive dentro da minha cabeça. 

 

Além de que eu não podia ter pedido mais de um jogo a que assisti ao vivo. Foi uma das minhas noites mais felizes dos últimos tempos. 

 

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A questão agora é saber se conseguimos repetir a proeza. Começando já hoje, com o jogo com a Chéquia. Vai ser difícil: os checos têm um estilo de jogo diferente da Suíça, empataram com a Espanha e igualam-nos em pontos. Não podemos esperar facilidades.

 

Eu naturalmente quero mais daquilo que tivemos no domingo, mas sei que será difícil. Para além de ser um adversário mais complicado, estamos em fim de época, são quatro jogos em onze dias, Fernando Santos tem de rodar a equipa, como tem sido amplamente comentado. Com todas as atenuantes, só peço a vitória. O fator artístico será secundário. Pelo menos no que toca aos próximos dois jogos.

 

Que ganhemos então. Hoje faz três anos desde que vencemos a Liga das Nações. Eu quero regressar a uma final four e, se possível, repetir esse feito. 

 

Como sempre, obrigada pela vossa visita. Espreitem a página de Facebook daqui do blogue. E tendo em conta que há jogo logo à noite… força Portugal!