Segunda parte do meu top 10 de jogos da Seleção. Primeira parte aqui.
4) Portugal x Dinamarca (2012)
Este é outro jogo de que estou sempre a falar. Para começar, foi o primeiro jogo em anos que, na minha opinião, esteve ao nível dos grandes jogos da história da Equipa de Todos Nós em termos de epicidade. Foi um dos jogos em que gritei mais vezes ao longo dos noventa minutos. Foi o jogo em que assustei a minha irmã com a minha reação ao golo de Hélder Postiga. Foi o jogo em que nos deixámos empatar, ficando em risco de… bem, aquilo que acabaria por acontecer no Mundial 2014. Foi o jogo em que Silvestre Varela saltou do banco, qual representante do Instituto de Socorro a Náufragos (ainda hoje me faz rir…), e nos salvou a todos a poucos minutos do fim. Foi esse o golo que eu e a minha irmãzinha celebrámos à gritaria durante pelo menos cinco minutos e que a Seleção celebrou atirando-se em peso (jogadores e técnicos incluídos) para cima do Varela. Foi uma montanha-russa de emoções que eu nunca esquecerei.
3) Portugal x Holanda (2004)
O pódio deste top é composto exclusivamente por jogos do Euro 2004. Este campeonato foi, até agora, o melhor campeonato futebolístico de que me recordo. Para começar, realizou-se cá em Portugal, o que só de si foi excitante (pena é os envelopes debaixo da mesa e a má gestão dos estádios todos…). Em segundo, o povo uniu-se em torno da Seleção de uma maneira nunca antes vista: as bandeiras nas janelas, os cortejos de adeptos seguindo a Seleção para onde quer que fosse, os festejos nas ruas após as grandes vitórias, a eterna Força da Nelly Furtado, entre muitas outras coisas. No dia da final, eu e a minha família fomos até Alcochete para ver o autocarro passar, no caminho para a Luz. O único protagonista que me lembro ao certo de vislumbrar, quando o autocarro finalmente passou, é o Simão. Talvez tenha visto também o guarda-redes Quim (que é feito dele?). O meu irmão na altura disse que viu Luiz Felipe Scolari.
Há uns anos ouvi Manuel José (penso que era ele) dizendo, num qualquer programa de comentário/debate desportivo, que não gostara de todo esse “circo”, que este terá sido a causa da derrota na final. Sinceramente, eu duvido. Aquele “circo” todo não era mais do que uma versão alargada do que acontece nos estádios: milhares de adeptos marcando presença, vestidos a rigor, aplaudindo a sua equipa. Desde quando é que isso é prejudicial? Além do mais, conforme já escrevi antes, o futebol é acima de tudo um entretenimento, um espetáculo, é para ser vivido com paixão.
Por isso não, não me arrependo de ter ido a Alcochete ver a Equipa de Todos Nós, tal como nunca me arrependi de nenhuma manifestação de apoio que seja. Foi, aliás, no Euro 2004 que aprendi o que é verdadeiramente ser adepta da Seleção, todos os aspetos do cargo: a euforia e a felicidade das grandes vitórias, o desgosto e a frustração das derrotas. Lições que permanecem até hoje.
Regressando ao top, em terceiro lugar temos o jogo que nos colocou na nossa primeira – e até agora única – final. Lembro-me de ver o golo do Cristiano Ronaldo (o seu segundo pela Turma das Quinas) a partir da televisão da minha cozinha. Não me lembro tão bem de ver o golo do Maniche em direto, mas há dois anos, no programa Heróis do Mundial da RTPN (tristíssima por não termos um programa equivalente para o Europeu), recordei a forma possante, majestosa, como ele corria pelo campo.
No livro “Os alegres dias do país triste”, de Afonso de Melo – o mesmo autor d‘“A Pátria Fomos Nós” – vêm algumas palavras de Maniche sobre este golo:
- “Que aconteceu? Estavas possesso?
- Olha, o que digo é que foi completamente intencional. E isso nota-se pela forma como inclino o corpo para a frente. A minha vontade era marcar golo, mas também admito que foi mais bonito do que aquilo que eu esperava.
- Recebes um passe do Ronaldo.
- Ele toca num canto de forma muito rápida e eu chutei com muita força e colocado. Também beneficiei do facto de o Davids ter deixado aquele poste junto ao qual se posicionava nos cantos. Foi aí que a bola entrou.”
Também me recordo do auto-golo do Jorge Andrade – um belo chapéu na baliza errada – e de o Ricardo o consolar com uma palmada leve no rabo (?). Lembro-me de dizer à minha irmãzinha – que na altura tinha seis anos – que aquilo era o Jorge Andrade a levar tau-tau por se ter enganado na baliza.
No entanto, a imagem mais marcante daquele jogo foi o abraço entre Rui Costa e Luís Figo, no fim do jogo (não sei se o segundo não estaria a chorar). Afinal, naquele dia, treze anos antes, os dois tinham conquistado o Mundial de sub-20 e, agora, levavam a Seleção A à sua primeira final… e em casa!
2) Portugal x Inglaterra (2004)
Tal como aconteceria no Mundial 2006, o jogo dos quartos-de-final do Euro 2004 foi o mais emocionante de toda a prova. Para além de eu ter um gosto especial por reviravoltas, por marcadores que oscilam rapidamente entre favoráveis e desfavoráveis, este jogo esteve cheio de momentos inesquecíveis, conforme explicarei a seguir.
Lembro-me de ter visto a primeira parte no instituto de línguas que frequentava na altura com um dos meus professores, curiosamente de nacionalidade inglesa. A segunda parte e o prolongamento vi em casa, no quarto do meu irmão. O jogo não começou bem para nós, os ingleses marcaram cedo e o resultado manteve-se assim até mais ou menos aos oitenta minutos. Quando se fala deste jogo, fala-se muito de Ricardo, claro, e mesmo de Rui Costa. Não se fala muito de Hélder Postiga – claro – apesar de ele ter sido fulcral para levar o jogo a prolongamento. Lembro-me da carranca de Luís Figo quando foi obrigado a dar o lugar a Postiga e de, alegadamente, ele ter ido logo para o balneário. Tal atitude daria polémica nos dias que se seguiram. Lembro-me de ouvir Figo dizer “Penso que não cometi nenhum crime” numa Conferência de Imprensa. Lembro-me também de o Selecionador Luiz Felipe Scolari ter dito que Figo estivera no balneário a rezar à Nossa Senhora de Fátima.
Por outro lado, quando pesquisei sobre este incidente, na preparação desta entrada, descobri mais esta declaração de Scolari: “[Figo] estava muito participativo e, segundo me contaram, numa jogada do Cristiano Ronaldo, no prolongamento, dizia 'vai miúdo'" Esta imagem derrete-me o coração.
Regressando a Postiga, tal como disse antes, foi ele quem repôs a igualdade, cabeceando após um centro perfeito de Simão, esticando o tempo de jogo para os cento e vinte minutos. Mais tarde, Postiga destacar-se-ia no jogo por, no desempate por penálties, ter batido o seu à Panenka – se a brincadeira tivesse corrido mal, o jogo poderia ter terminado de maneira diferente e o pobre Hélder seria ainda mais vilanizado do que é hoje. Mais uma vez, no livro “Os alegres dias do país triste”, ele falou da gracinha: “Saiu… Agora, vendo as coisas à distância, não repetia. Foi um ato de loucura, de inconsciência. Ficará para sempre na minha memória. Algo próprio da idade. Era um miúdo! Mas, atenção. Fazia aquilo muitas vezes nos treinos. Não devia era ter feito num momento daquela importância.”
Pois não. Segundo o que ouvi no programa Heróis do Mundial, quando foi do jogo com a Inglaterra em 2006, alguém foi dizer ao Hélder, aquando dos penálties:
- Postiga, tem juízo, à Panenka não!
Mas regressemos a outros heróis deste jogo. Como Rui Costa, que saltara do banco e deu um tiro espetacular, no prolongamento, colocando-nos pela primeira vez à frente no marcador (nunca me vou esquecer da cara de aziado de Sven-Göran Erikson, no banco inglês…). Não durou muito, contudo: cinco minutos mais tarde, Frank Lampard repunha a igualdade.
Chegamos ao Ricardo, claro. Não se fala deste jogo sem falar do Ricardo, do penálti que ele quis defender sem luvas. Sobre este gesto inusitado ele disse, no mesmo livro referido acima: “Já disse várias vezes que foi instintivo. Vi que era Vassel a marcar e ele era o único cuja forma de chutar não tinha estudado em DVD. Pensei que era preciso fazer algo. Olhei para as minhas mãos e pensei: vai ser sem luvas! Mais tarde fui colega dele no Leicester, em Inglaterra (clube que, por sinal, está agora em alta por se terem sagrados campeões ingleses) e ele confessou-me que ficou intrigado. Que até perguntou ao árbitro se eu podia fazer aquilo.”
Também me recordo de ver Eusébio, de toalhinha branca no pulso, gritando para o guarda-redes. Durante algum tempo não soube ao certo o que gritara o Pantera Negra. Ouvi várias versões. Assumindo que o livro que temos referido fala verdade, ele gritava:
- Não te mexas! Não te mexas!
O que quer que tenha sido resultou, pois Ricardo defendeu. Depois desse penálti, quando foi a vez de marcar à Inglaterra, Ricardo quis executar e fê-lo sem hipótese de defesa. Muitas imagens me ficaram na retina desses momentos. O preciso instante em que a bola entra e o resto da Seleção desata a correm em direção ao Ricardo, atirando-se para cima dele. O Eusébio beijando o relvado da sua amada Luz. Ricardo nos braços do Selecionador. Finalmente, Scolari com a bandeira brasileira numa mão, a portuguesa na outra e encostando ambas ao coração, antes de recolher aos balneários.
Eu tinha apenas catorze anos na altura do Euro 2004, na altura destes ou de outros jogos. Era demasiado jovem, demasiado inocente para compreender na totalidade o quão raro, o quão grandioso era o que estava a acontecer, o que a nossa Seleção estava a fazer, a maneira como o povo reagia a estes feitos. Só agora, passados estes anos todos, é que começo a compreender que isto que descrevi acima é a matéria da qual são feitas as lendas.
1) Portugal x Espanha (2004)
Tive alguma dificuldade em escolher os meus dez jogos favoritos e talvez ainda mais em definir a ordem de preferência. No entanto, não tive dúvidas nenhumas relativamente ao primeiro lugar. O Portugal x Espanha do Euro 2004 pode não ser o jogo mais emocionante ou tecnicamente melhor conseguido desta lista, mas é especial por vários motivos. Primeiro, este foi o jogo em que Cristiano Ronaldo se estreou a titular pela Seleção. Segundo, foi o primeiro jogo a que assisti ao vivo, no Estádio de Alvalade, com os meus pais e o meu irmão, algo que me marcou profundamente. Lembro-me da sensação de irrealidade, ao ver com os meus próprios olhos coisas que só via através de um ecrã de televisão – só o facto de não ouvir os comentadores era suficientemente estranho. Lembro-me de, a certa altura, ver pardais pousando no relvado durante o jogo e de ter achado graça na altura: uma coisa tão prosaica como pardais num palco onde lendas estavam sendo escritas!
Devo de resto dizer que os nossos amigos espanhóis criaram um ambiente amigavelmente provocador. Ainda antes de entrarmos no estádio, uns espanhóis meteram-se connosco, a propósito da camisola de Figo que o meu irmão vestia. Figo na altura ainda jogava no Real Madrid e os adeptos espanhóis tentaram provocar-nos, dizendo que Figo era espanhol. A minha mãe deu-lhes uma resposta à altura, em espanhol macarrónico.
- Figo no es español. Sus pesetas é que son españolas.
No estádio, apesar de termos chegado cerca de duas horas antes, conforme aconselhado pelas autoridades, já lá estavam imensos espanhóis, fazendo barulho. Nós, portugas, não íamos deixá-los sem resposta. Acho que chegámos a gritar “E quem não salta é espanhol, olé! Olé!”. Resultado: ainda o jogo não tinha começado e o meu irmão já estava sem voz.
Como estávamos mais para o lado da baliza sul, não conseguimos ver o golo de Nuno Gomes (eu pelo menos não me lembro de vê-lo), mas os festejos na bancada foram explosivos. Recordo-me de vislumbrar, por entre os braços erguidos, a Seleção toda abraçando Nuno Gomes (que depois seria rebatizado de Nuno Álvares Pereira Gomes). Os adeptos sentados à nossa frente fizeram questão de se virar para trás para trocar high-fives connosco – algo que tornariam a fazer no fim do jogo, quando a vitória já estava garantida.
Nunca tínhamos ganho à Espanha em jogos oficiais antes daquele encontro e não voltaríamos a ganhar depois deste. No entanto, na minha opinião, mais do que qualquer outro jogo contra nuestros hermanos, aquele era o jogo em que tínhamos de vencer. Aquele era o meu primeiro jogo, era o nosso Europeu! A história não podia terminar na fase de grupos! (já foi suficientemente mau termos deitado tudo a perder na final…)
Digo-o com toda a franqueza: se não tivéssemos vencido este jogo, eu não estaria aqui, a escrever neste blogue, não seria a pessoa que sou hoje. Foi com aquela vitória que começou uma devoção que se mantém até hoje. Por ter sido o início da série brilhante neste Europeu, por ter sido o meu primeiro jogo de futebol ao vivo, algo que se tornaria uma das minhas experiências favoritas – mesmo os jogos do Sporting a que a minha irmã me leva. O Portugal x Espanha do Euro 2004 pode não ter sido o jogo mais brilhante ou emocionante, mas foi o início da minha paixão pela Equipa de Todos Nós. Por esse motivo, para mim será sempre o melhor jogo de todos os tempos.
Dá para acreditar que já vamos em oito anos de “O Meu Clube é a Seleção”? A mim custa-me um bocadinho. Na verdade, este blogue acaba por receber menos atenção do que o meu outro blogue, o Álbum de Testamentos. Só inaugurei este último depois do Euro 2012, mas sendo um blogue mais genérico, sem um tema definido, posso escrever nele com mais frequência. Por sua vez, a Seleção joga em intervalos cada vez mais espaçados, pelo que este blogue fica muitas vezes inativo durante meses. Resultado, o Álbum já quase ultrapassa “o Meu Clube é a Seleção” em número de visualizações.
Por outro lado, tenho a página do Facebook, que atualizo quase todos os dias, o que sempre compensa a inatividade do blogue. De qualquer forma, agora que vem aí o Euro 2016 e vou deixar o Álbum um bocadinho mais de lado, talvez a tendência se inverta.
Conforme refiro de vez em quando aqui no blogue, o tempo passa mas o gozo de escrever sobre a Seleção não diminui. Tal como já referi antes, o futebol é uma história que nunca acaba, tem sempre novas personagens, novos enredos, novas reviravoltas. Eu sou cada vez mais apaixonada pela modalidade em si, já não desdenho assim tanto do futebol de clubes (não são os clubes em si que são corruptos, são as pessoas), mas continuo a não amar equipa nenhuma, só a Seleção. Foi para jogos como os que apresentei nesta lista que criei este blogue: para poder escrever sobre eles, para contribuir para a sua imortalização, para poder falar sobre eles aos meus filhos e netos. Sempre assumi que chegaria a uma altura em que deixaria de ter tempo para este blogue e para a respetiva página de Facebook, mas até agora essa altura ainda não chegou e, em princípio, tão depressa não chegará. Vamos continuar a ter “O Meu Clube é a Seleção!” por muitos anos ainda, com sorte.
E agora que já tirámos estas duas entradas para falar do passado, nas próximas falaremos do presente e do futuro mais próximo. Estamos a cinco dias do Anúncio dos Convocados para o Euro 2016!
No passado domingo, dia 22 de junho, a Seleção Portuguesa de Futebol defrontou, em Manaus, a sua congénere norte-americana, em jogo a contar para a fase de grupos do Campeonato do Mundo da modalidade. Tal encontro terminou com um empate por duas bolas no marcador, deixando a Seleção praticamente eliminada do Mundial, ficando obrigada a golear o Gana, no jogo de amanhã, quinta-feira dia 26 de junho, e a esperar que a Alemanha ganhe aos Estados Unidos.
Visto que a minha irmã não estava em casa e eu não queria assistir ao jogo só com os meus pais, assisti a esta partida numa esplanada. O encontro até começou bem para o nosso lado, com aquele golo, bafejado pela sorte, de Nani. Gritei em coro com toda a gente na esplanada, feliz por, aparentemente, estarmos vivos e termos ainda uma palavra a dizer neste Mundial, por Nani, depois de tudo porque passou nos últimos tempos, depois de ter falhado a África do Sul, ter finalmente marcado um golo num Mundial.
Ele merecia mais do que isto. Mas ainda não é altura de ir por aí.
Todos sabíamos que o 1-0 era um resultado perigoso, que tínhamos de marcar o segundo golo o mais rapidamente possível para matarmos o jogo. Só que esse golo nunca mais vinha e os americanos não desistiam de tentar anular a vantagem. Os portugueses iam tentando mas estavam tão lentos, era uma coisa parva, não sei se por causa do clima ou da sua forma física. Provavelmente por causa de ambos. Este jogo veio a confirmar aquilo de que já se suspeitava fortemente na segunda-feira anterior: em termos físicos, os jogadores portugueses estão um farrapo. Prova disso foi a lesão de Hélder Postiga, aos treze minutos. A sua saída acabou por não ser demasiado prejudicial, pois Éder revelou-se um dos mais inconformados ao longo de todo o jogo - não que isso tenha sido suficiente.
Há que dizê-lo, os portugueses jogaram melhor que na segunda-feira anterior e viu-se que eles se esforçaram. No entanto, a fraca forma física revelou-se mais forte que a vontade. A verdade é que, tal como já tinha dito anteriormente, não é normal ocorrerem tantas lesões. Não acredito em "azar" ou coincidências - às tantas, aquele bruxo do Gana, que queria lesionar Ronaldo, foi tão eficaz que lesionou, não só o madeirense, como também três quatros da Seleção Portuguesa. Não sou, nem de longe nem de perto, a melhor pessoa para tecer julgamentos sobre esta matéria, mas devem ser fornecidas explicações sobre a situação. As que Henrique Jones e Humberto Coelho forneceram não me convencem. O mesmo se passa com a questão do clima. Conforme tem sido dito, de repente o País ficou cheio de especialistas em climatologia. No entanto, conforme tenho lido, não existem verdades absolutas nesta matéria. Não se sabe o que é melhor, se estagiar em condições adversas, semelhantes àquelas em que decorrerão os jogos, sob o risco de estas se revelarem demasiado agrestes para os jogadores treinarem, ou estagiar em condições ótimas para o treino mas diferentes das dos jogos. O que parece relativamente consensual é que este Campeonato do Mundo não foi preparado adequadamente.
Mas regressemos ao jogo.
Ao início da segunda parte, tive esperanças de que os portugueses tivessem aproveitado o intervalo para se hidratarem e recuperarem as forças para correrem atrás do segundo golo. Não foi bem isso que aconteceu. Os portugueses continuavam tão lentos como em todo o jogo. Nem falo dos crónicos problemas na finalização - eles desperdiçavam cada uma... Acabou por acontecer o que se adivinhava havia pelo menos meia hora: os americanos marcaram.
Os portugueses até pareceram acordar com este golo, ainda tentaram correr atrás do resultado, mas acordaram tarde demais. Paulo Bento mandou entrar Varela e eu até me lembrei de um lendário outro segundo jogo de fase de grupos. Ainda tive esperanças num desfecho semelhante. No entanto, não estávamos em 2012, em que havia frescura suficiente para alimentar a fase do "Ai Jesus!", frente à Dinamarca. Cedo aconteceu o pior: os Estados Unidos colocaram-se à frente no marcador. Houve quem reclamasse do fora-de-jogo no início da jogada, mas Portugal tinha tido mais do que oportunidades para evitar aquele desfecho.
Talvez aquela tenha sido a gota de água que fez com que, ao fim de todos estes anos, o copo derramasse, talvez uma parte de mim tenha deixado de acreditar logo aquando do desastroso jogo com a Alemanha. A verdade é que, poucos minutos após este golo, o meu estado de espírito era, para minha própria surpresa, de indiferença, de resignação. Percebia que este Mundial, pura e simplesmente, não estava fadado para nos correr bem (ai, o tão português fatalismo desta frase...). De tal maneira que nem festejei quando Varela marcou, em cima do final do jogo. Se por um lado o Drogba da Caparica voltava a dar uma de Salvador da Pátria, dando a Portugal uma ínfima hipótese de permanecer no Mundial, por outro lado, pode ter apenas adiando o inevitável.
Já devem ter percebido que não, não acredito que Portugal vá além da fase de grupos deste Campeonato do Mundo. Mesmo que se dê o milagre e a Sorte seja favorável às cores lusitanas, duvido que tenhamos pernas para ir muito mais longe. Em teoria, soa melhor dizer que Portugal chegaria aos oitavos do Mundial em vez de dizer que não foi além da fase de grupos. Na prática, duvido que consigamos apagar a má imagem que temos deixado, com destaque para o nosso jogo de estreia.
Sinto-me tentada a partir já para as alegações finais, como se Portugal estivesse já fora do Brasil. No entanto, não me parece legítimo estar a escrever sobre as supostas razões do que está a ser uma péssima prestação, não quando a porta dos oitavos-de-final ainda não está definitivamente encerrada.
Posso já dizer, contudo, que isto não está a ser nada como estava à espera. Disse anteriormente que este Mundial seria como o verão - não está a sê-lo. Foi-o, de certa forma, durante as semanas de preparação, mas terminou com o jogo com a Alemanha. Agora está a ser como o inverno - o que até condiz com a meteorologia dos últimos dias. Talvez seja por isso que, também, não estou com grande pena de que isto possa acabar já amanhã. Ando, aliás, a desejar regressar às semanas, ou meses, antes do Mundial, ou mesmo ao ano passado - aos tempos inocentes em que podíamos, ainda, sonhar com um bom Campeonato do Mundo.
Admito que o "eu" de há um ano ou dois, ou talvez mesmo de há uns meses, provavelmente desprezar-me-ia por estar a desistir tão "facilmente". Parte de mim, neste momento, até concorda: eu devia estar revoltada contra as previsões mais pessimistas, devia continuar a acreditar teimosamente, mesmo desesperadamente, como nos últimos tempos. É bem possível que isto seja apenas cansaço, um momento de desânimo, que daqui a umas semanas venha a sentir saudades destes dias. Contudo - embora isto não sirva, de modo algum, de desculpa - conforme já disse amiudadas vezes anteriormente, quando se passa tanto tempo como eu passo a tentar puxar pelos jogadores, a convencer os demais a puxar pelos jogadores, uma pessoa precisa de alguma espécie de retorno. Que, neste Mundial, tem sido nulo, independentemente dos responsáveis por essa situação.
Uma coisa, no entanto, não muda. Eu continuo aqui, no meu blogue, na minha página. Ainda que a minha fé tenha atingido mínimos históricos, continuarei a puxar por eles e a esperar um desfecho favorável às cores portuguesas. Nem eu sei explicar porque insisto nisso, talvez seja masoquismo, talvez seja porque é o meu clube, são os meus heróis e, conforme dizia numa curta-metragem que vi no outro dia, uma pessoa não abandona os seus heróis. É algo semelhante que, de resto, peço aos nossos jogadores para a partida de amanhã, frente ao Gana: mesmo que já não dê para passar, que tentem conseguir uma vitória ou, pelo menos, uma exibição decente, para ao menos sairmos deste Mundial de cabeça erguida. Não faltará, certamente, tempo para se fazer a análise completa ao fracasso, que parece inevitável. De qualquer forma, qualquer que seja o desfecho, eu estou aqui e sempre estarei.
Na passada terça-feira, dia 15 de outubro, a Seleção Portuguesa de Futebol recebeu no Estádio de Coimbra a sua congénere luxemburguesa no último jogo de Apuramento para o Campeonato do Mundo da modalidade, que se realizará no próximo ano, no Brasil. Tal encontro terminou com uma vitória portuguesa por 3-0. Ao mesmo tempo, a Rússia empatou com o Azerbaijão. Contas feitas, os russos vencem o grupo F e Qualificam-se diretamente para o Mundial. Quanto a nós, ficamos em segundo lugar, obrigados a ir aos playoffs lutar por uma vaga no Brasil. Conheceremos o nosso adversário na próxima segunda-feira.
Tal como se previa, o último jogo desta fase de Qualificação foi tranquilo, equivalente a um particular para levantar a moral. A Seleção não precisou de jogar melhor do que jogou contra Israel, mas parecia jogar melhor visto que os luxemburgueses pouco conseguiam fazer para nos travar. Tivemos várias iniciativas de Varela e Hélder Postiga mas também um número exasperante de bolas perdidas. Apesar da clara inferioridade do adversário, foi necessário este ver-se reduzido a dez para nós marcarmos. Corria a meia hora de jogo. João Moutinho consegue passar a bola a Varela que, isolado, marca com facilidade. Estava aberto o marcador.
Não tivemos de esperar muito pelo segundo golo, resultante de uma jogada iniciada, uma vez mais, por João Moutinho. Não me canso de ver esta jogada, não me lembro da útima vez que vi a Turma das Quinas sincronizada com tanta perfeição. Destaque óbvio para o passe de génio de Moutinho para trás, com o calcanhar, e para o pontente remate de Nani. O momento do jogo, claramente.
Foi bom ver Nani de regresso aos golos quase um ano e meio depois do último. Ele que, no Apuramento para o Euro 2012, foi um dos melhores marcadores mas que, depois disso, até ao momento, só tinha marcado uma vez, naquele malfadado particular contra a Turquia, antes do Euro 2012. Era um dos que queria que marcasse, no jogo de terça-feira. Espero, também, que o jogador do Manchester United não fique por aqui, que volte em breve a ser um dos melhores marcadores da Seleção.
Destaque também para o cumprimento que Nani foi dar a Paulo Bento nos festejos do golo, em jeito de manifestação de apoio e agradecimento pela confiança que o técnico continua a depositar nele. Gestos deste género são sempre de louvar.
Se a primeira parte do jogo ainda foi razoável, a segunda chegou a ser uma seca em vários momentos. Estávamos a jogar contra dez amadores mas não havia maneira de enfiarmos a bola na baliza. Nesse aspeto, um dos jogadores mais exasperantes era Hugo Almeida. Eu não gosto de criticar um jogador da Seleção assim tão abertamente mas, meu Deus, o tipo não dava uma para a caixa! Toda a gente anda, agora, a falar dele como se ele fosse uma nulidade e eu sei que não é bem assim, que ele já audou várias vezes a Seleção com os seus golos, mas o seu desempenho nestes últimos dois jogos, sobretudo no de Coimbra, deixa imenso a desejar. Imenso.
Felizmente, Postiga estava lá para ensinar como se acerta na baliza - embora também pudesse tê-lo feito mais cedo. O ponta-de-lança era outro dos que queria que marcasse, que sabia que marcaria - não é por acaso que ele já é o sexto melhor marcador de sempre com a Camisola das Quinas.
Destaco, ainda, que Moutinho também assistiu este golo, que assistiu todos os golos que marcámos ao Luxemburgo nesta fase de Apuramento. Também sem surpresas aqui. O Moutinho, pura e simplesmente, não sabe jogar mal.
Foi isto o jogo. uma vitória fácil mas que esteve longe de empolgar. Podia ter sido mais expressiva, com as oportunidades que tivemos - incluindo três bolas nos eternos ferros da baliza - e a nossa óbvia superioridade. Dá a ideia, às vezes, que eles não estão para se chatear, ou então que têm medo - sendo ambas as hipóteses indignas de nós. Em todo o caso, gostei das palavras realistas de Paulo Bento, admitindo que a Seleção não foi suficientemente competente para se Qualificar em primeiro, apesar de ter capacidade para isso.
Entretanto, os nossos amigos azeris lá conseguiram empatar com a Rússia - algo que aumenta a nossa frustração pois, se tivéssemos ganho a Israel na semana passada, já estaríamos Apurados, livres de todo este drama. Mas também é aquela, bem assinalada pelos comentadores da RTP: se tivéssemos conquistado aqueles três pontos, a Rússia teria, quase de certeza, abordado o jogo de forma diferente, com menos complacência. Teria ganho e as consequências práticas seriam as mesmas. Tal como disse na última entrada, a diferença seria, sobretudo, em termos anímicos.
A minha frustração acentua-se quando olho para o lote dos já Apurados, quando vejo seleções como os Estados Unidos (onde o futebol é ainda considerado secundário), o Irão de Carlos Queiroz (Grrr!!!), a Bósnia. A Bósnia-Herzegovina que nós derrotámos nos dois últimos playoffs mas que, agora, Qualificou-se diretamente.
Ao mesmo tempo, a Dinamarca ficou já excluída do Mundial por ter sido a pior segunda classificada do conjunto europeu. Eles que nos venceram nas duas Qualificações anteriores a esta, que nos dificultaram a vida à grande e à dinamarquesa no grupo do Euro 2012. Ironias do futebol.
Em todo o caso, frustrações à parte, parabéns à Bósnia pela sua primeira Qualificação para um Mundial.
Quanto a nós, teremos de esperar pela uma da tarde da próxima segunda-feira para saber com quem disputaremos o acess ao Mundial do Brasil. Perante a possibilidade de termos de disputá-lo com a Suécia ou, sobretudo, com a França, tenho-me rido para não chorar. Pouco ajuda saber que eles também não desejam encontrar-se connosco - daria, aliás, mais jeito se estivessem confiantes, demasiado confiantes. Se fosse outra equipa "das grandes" (Inglaterra, Holanda, Itália..), poderia invocar como vantagem a nossa capacidade dde superação perante seleções deste género Mas o nosso historial com a França (só derrotas desde 1975) não tranquiliza.
Por outro lado, há sempre aquele desejo de desforra pelas três meias-finais em que o franceses foram o nosso carrasco. E poucas coisas dariam mais gozo do que fazê-lo barrando-lhes o acesso ao Mundial. Além disso, tal como a minha irmã assinalou no outro dia, se nem eles nem os suecos se apuraram diretamente, será porque não estão assim tão bem quanto isso. Pela mesma lógica, também não podemos subestimar a Islândia e a Roménia - ainda que não tenham o mesmo prestígio, se ficaram em segundo lugar nos seus grupos, se foram considerados melhores que a Dinamarca, por algum motivo será.
Por outro lado, se nos calhasse a França, com todas as dificuldades associadas, era bem feita para eles. Para ver se aprendiam a deixarem-se de desleixos na Qualificação.
O que eu quero mesmo é ir ao Mundial, seja de que modo for, vencendo quem quer que nos calhe. Não concebo a alternativa, não imagino um Mundial sem nós. Não quando há quinze anos que não falhamos um campeonato de seleções, não depois da campanha que fizemos no Euro 2012. Para o conseguirmos, não chega fazer o que fizemos durante o Apuramento. Qualquer que seja o adversário que nos sair na rifa, literalmente, para o vencermos será necessário fazer muito mais, tudo o que vem no refrão do Menos Ais. Sei o que vários de vocês dir-me-iam, que nesses momentos Portugal supera-se, eu mesma farto-me de dizê-lo - mas até quando poderemos fiar-nos nisso, até quando isso será suficiente?
Temos um mês para nos prepararmos para os playoffs, para corrigir as nossas falhas, espero. Se Deus quiser, nessa altura teremos bem menos baixas - apesar de tudo, das boas exibições de jogadores como Ricardo Costa e Antunes, acho que a ausência de titulares habituais continua a fazer mossa. Se não em termos táticos, pelo menos em termos psicológicos. Qualquer que seja o nosso adversário, mesmo com todas as desilusões recentes, com todas as dúvidas, farei por manter a fé na Seleção. Fé essa que, tal como farto de dizer, acaba sempre por ser recompensada, mais cedo ou mais tarde. Paulo Bento prometeu que Portugal tudo fará para descobrir o caminho futebolístico para o Brasil e eu acredito nele. Calhe quem calhar, eles que venham. Nós estaremos prontos.
Na passada terça-feira, dia 11 de setembro, a Seleção Portuguesa de Futebol recebeu no Estádio Axa, em Braga, a sua congénere azeri. Foi um jogo a contar para a Qualificação para o Campeonato do Mundo em Futebol, que se realizará em 2014 no Brasil, que a Seleção levou de vencida por três golos sem resposta.
Vi este jogo na sua totalidade acompanhada pela minha irmã mais nova, como já se tornou hábito. As suas tiradas, de um humor entre o de menina reguila e de dondoca, dão sempre uma outra graça a tudo. No início, ela disse-me que a Seleção nunca havia ganho naquele estádio. O meu irmão, prático, fez-lhe ver que existem muitos estádios no planeta que nunca albergaram uma vitória portuguesa. E este era apenas o terceiro jogo da seleção naquela arena.
No entanto, mentiria se dissesse que a ideia da maldição do Estádio de Braga, o espectro do empate frente à Albânia há quatro anos naquele palco nunca me passaram pela mente durante os noventa minutos do jogo.
A Seleção entrou e campo com uma atitude completamente diferente com que abordara o jogo de sexta-feira. Este encontro foi de sentido único, disputando-se quase todo no meio campo azeri. A baliza dos nossos adversários esteve constantemente debaixo de fogo. No entanto, a bola teimava em não entrar.
Isto é já um problema crónico, um filme muito visto, protagonizado pela Equipa das Quinas: a finalização. João Moutinho, no final do jogo, falava em azar - mas eu também vi alguma aselhice na maneira como perdiam as bolas na grande área azeri. Algumas pareciam de propósito. A páginas tantas, a coisa torna-se psicológica, formando-se um ciclo vicioso. Não ajudava o facto de o guarda-redes azeri, depois de um frango no último jogo da sua seleção, estar inspirado naquela noite.
Há uns tempos, ouvi a minha irmã a reclamar a propósito do seu clube:
- Porque é que todos os guarda-redes fazem os jogos das vidas deles sempre que jogam contra o Sporting?
Podia-se perfeitamente reformular essa pergunta, desta feita, para a Seleção. No entanto, pior do que o guarda-redes, era o poste.
Se não se justifica falar de uma maldição do Estádio Axa, o caso muda de figura no que toca aos ferros das balizas. Só neste jogo, enviámos umas seis ou sete bolas ao poste. Já na sexta-feira, tinham ido duas ou três. E isto já vem desde o Europeu. Não percebo o que é que existe entre a Seleção e a trave para os Marmanjos estarem constantemente a enviar-lhes as bolas... Não parece ser um relacionamento saudável, como dizia a Ana, uma das minhas seguidoras no Twitter, a Turma das Quinas parecia gostar demasiado de dar boladas aos ferros...
- Juro-te, o poste é o melhor guarda-redes de sempre! - chegou a reclamar a minha irmã.
No intervalo, o Ronaldo chegou a ir até aos ferros, como que para se certificar de que não havia nenhum íman escondido que estivesse a atrair a bola. Mas talvez a melhor solução seja aquela que o Record sugeriu: ir à bruxa.
No meio de tudo isto, há que louvar a atitude dos jogadores. Apesar de exibirem, ocasionalmente, sinais de ansiedade - a certa altura o Ronaldo começou a rir-se após os remates falhados, como se tivesse chegado àquela fase em que se ria para não chorar - a equipa nunca perdeu o norte, todo e cada elemento - incluindo aqueles como o Nani que nem sequer estavam a ter um desempenho brilhante - se entregou competamente ao longo de todos os noventa minutos de jogo.
Por outro lado, o que nos valeu foi o facto de o Azerbaijão não ter tido capacidade de tirar proveito da nossa falta de pontaria. Com outro adversário, a história seria diferente.
O momento alto do jogo foi a substituição de Miguel Veloso por Varela, aos sessenta e poucos minutos de jogo, seguida, ainda nem um minuto havia passado, do primeiro golo do encontro, marcado pelo homem que acabara de entrar. Mais uma vez, Varela fez de bombeiro da Seleção, de Salvador da Pátria, depois daquele inesquecível golo frente à Dinamarca. Não quero comparar as circunstâncias em que se marcaram os dois mais recentes golos do Marmanjo envergando a camisola das Quinas, mas ambos foram celebrados intensamente, com um misto de alívio e júbilo.
Este golo deu à equipa a confiança necessária para, mais uma vez, tal como disse a Ana, deixar os postes em paz e dilatar ainda mais a vantagem O primeiro a fazê-lo foi, mais uma vez, o Hélder Postiga, após uma bela assistência de Cristiano Ronaldo.
Tal como já tinha escrito no outro dia, parece que os jornais já perceberam, finalmente, que o Hélder até é bom jogador. Hoje assinalaram que o ponta-de-lança já tem uma média de golos superior à do Ronaldo - tal como já eu tinha dito antes do Europeu. Ainda ontem, no início do jogo, o meu irmão perguntava como é que ainda deixavam o Postiga jogar.
- Ui, agora irritaste a Sofia - comentou a minha irmã, divertida.
No entanto, engoli a irritação e nada disse. O Hélder falou por mim ao marcar o golo. Depois de o celebrar, virei-me para o meu irmão e perguntei-lhe.
- Que 'tavas a dizer sobre o Postiga?
Deste modo, neste momento, depois de muito ter defendido o Hélder, no blogue, no Facebook, na televisão, cada golo dele com a camisola das Quinas ganha um sabor especial, é uma prova de que tenho razão.
Mas também, se formos por aí, cada golo que a Equipa de Todos Nós marca também é uma prova de que tenho razão, de que faço bem em apoiá-los incondicionalmente.
O golo de Bruno Alves - que já tinha marcado no último jogo frente ao Azerbaijão - surgiu três minutos mais tarde, quase sem darmos por ele, selando o resultado. Quando o árbitro apitou três vezes, fiquei com pena pois até estava a gostar do jogo.
Como podem calcular, fiquei satisfeita. Foi uma boa noite para a Turma das Quinas. Portugal amealhou mais três pontos, totalizando seis, neste momento, e fez uma exibição globalmente positiva, tirando os problemas na finalização. Gostei sobretudo do facto de a Seleção ter melhorado de um jogo para o outro. Daqui a um mês, enfrentaremos a Rússia, a nossa principal adversária neste Apuramento. Como quero que Portugal volte a amealhar seis pontos nessa dupla jornada, espero que a Equipa das Quinas esteja ainda melhor nessa altura, que continue a crescer à medida que a Qualificação avança.
Paulo Bento fez questão de abrir a Conferência de Imprensa que se seguiu ao jogo agradecendo ao público por, numa altura em que as coisas parecem cada vez piores a nível sócioeconómico, por terem vindo ao estádio. Fica bem o agradecimento. Há que, de facto, elogiar o público que foi impecável: puxando pela Seleção durante praticamente todo o jogo, sendo paciente perante os inúmeros ataques falhados. E a Seleção até retribuiu bem o apoio que lhe foi dado.
Cada vez mais pessoas, começando pelas trinta mil que foram ver este jogo, começam a aprender aquilo que já sei há, pelo menos, dois anos: neste momento, a Equipa de Todos Nós é a única instituição neste País que cumpre as promessas que faz, que retribui aquilo que recebe da nossa parte, que nos oferece consolo e alegria. Não resolve a crise, ao contrário do que o Onze Por Todos insinuava, mas dá-nos alguma força para lidarmos com ela. Eu própria tenho tido alguns dias complicados ultimamente. No entanto, agora, este tão desejado bom arranque de Qualificação, a expectativa dos próximos jogos, ajudar-me-ão a não ter medo do que aí vem. E estou certa de que também ajudará outras pessoas. É a conversa do costume, que tenho vindo a repetir desde há dois anos a esta parte. Espero que a Seleção continue a dar-me motivos para repetir estas palavras de esperança outra e outra vez.
Ontem, a Seleção Portuguesa de Futebol defrontou a sua congénere dinamarquesa num jogo da segunda jornada da fase de grupos do Euro 2012, saindo de lá com uma vitória por três bolas contra duas. Foi um jogo daqueles, típicos da Turma das Quinas em fases finais de campeonatos de seleções, inadequado para corações fracos. Eu, pelo menos, há anos que não gritava tanto durante um jogo, que não estava tão histérica. Ainda bem que os meus pais não estavam em casa...
Vi o jogo com a minha irmã, a melhor amiga dela, que estava em videoconferência a partir de sua casa, e com muitas mais pessoas através do Twitter. No início do encontro, estava mais nervosa do que o habitual. Talvez por causa do café que tinha tomado pouco antes, talvez porque, inconscientemente, antecipava o sofrimento que seria a partida. A maneira como a Seleção entrou em campo em nada me ajudou a manter a calma.
Houve um lance em que Bendtner - que acabou por ser um dos grandes protagonistas do jogo, por vários motivos - pisou Pepe. No Twitter, começaram muitos a goza, invocando os inúmeros, digamos, acessos de mau génio do luso-brasileiro para com outros jogadores, ao serviço do Real Madrid. "Foge Bendtner!", dizia um. "Bendtner não vai acabar o jogo sem sair lesionado", dizia outro.
Contudo, Pepe arranjou melhor forma de se vingar. Marcou um golo.
Este foi a segunda vez que o luso-brasileiro marcou o primeiro golo da Seleção num Europeu - recorde-se o golo frente à Turquia, na nossa estreia no Euro 2008. Depois dessa, Pepe ainda marcou uma vez em setembro de 2009, frente à Hungria. De todas as vezes que o luso-brasileiro fatura envergando as cores de Portugal, ele bate com força do peito, do símbolo das Quinas estampado na camisola, mesmo sobre o coração, agarra-o com força - já havia reparado nisso ao fazer as minhas montagens de vídeos da Equipa de Todos Nós. Ontem, chegou mesmo a beijá-lo. Como que a mostrar ao Mundo que tem o nosso País no coração, apesar de as suas raízes serem outras. São gestos bonitos.
E, como já tinha dito acima, foi uma forma bem melhor de se vingar da pisadela de Bendtner do que responder à letra, arriscando-se a cartão ou pior...
Embora, por outro lado, talvez tivesse sido melhor para a nossa pressão arterial se ele tivesse feito com que o dinamarquês saísse mais cedo, numa maca.
Estou a brincar!
A televisão da amiga da minha irmã estava ligeiramente mais adiantada do que a nossa. Portanto, aquando deste primeiro golo, ela festejou-o uns segundos antes de nós. Não que isso tenha estragado muito o sabor mas, de qualquer forma, depois desta, decidimos que, sempre que a Seleção atacasse, colocaríamos o computador em silêncio. Se soubéssemos sempre de antemão como é que cada jogada ia acabar, estando esta ainda a decorrer no nosso televisor, o jogo perdia a piada quase toda.
Acho que seria cómico visto de fora. A Seleção partindo para o ataque, eu cruzando os dedos, agarrando o meu velho cachecol, inclinando-me para a frente, em direção ao televisor, enquanto dizia:
- Tira o som.
Pouco depois, foi marcado o segundo golo, desta feita sem o aviso prévio de uma televisão mais adiantada do que a nossa. Quando vi que tinha sido o Hélder Postiga a marcar, berrei:
- ESTE É P'RA MIM! ESTE É P'RA MIM! ESTE É P'RA MIM! EU DEFENDI-O NA TELEVISÃO! EU SABIA! ESTE É P'RA MIM! - a minha irmã até se assustou...
Claro que, depois deste golo, toda a gente comentou que ele até era um dos melhores marcadores do Saragoça, que este era o seu vigésimo golo com a camisola das Quinas. Como seria de esperar. Eu cá nunca deixei de acreditar no Hélder. Tinha-o defendido cá no blogue, tinha-o defendido quando fui ao "A Tarde É Sua". E embora tivesse admitido que não seria má ideia o Nélson Oliveira alinhar de início, fiquei secreta e irracionalmente satisfeita quando Paulo Bento anunciou que o Hélder seria titular frente à Dinamarca. Tinha até um pressentimento de que ele marcaria à Dinamarca. E não me enganei.
Por isso, peço desculpa mas este golo foi para mim. Eu mereci-o. Obrigada Hélder! Obrigada por não me teres deixado ficar mal na televisão.
Uma referência ainda a Nani, que esteve bastante bem no jogo. Esta assistência no golo de Hélder Postiga foi apenas um exemplo. Não é de admirar. Antes do jogo, na página do Facebook, dei vários exemplos de grandes momentos do Marmanjo frente à Dinamarca, começando no pontapé de canto direto para a baliza, no seu jogo de estreia com a camisola das Quinas, acabando nos dois golos seguidos no Estádio do Dragão. E agora a assistência neste golo, ontem. Tinha de ser. O Nani tem, como diz o outro, uma certa queda para dinamarqueses.
O golo de Bendtner estragou-nos um pouco a festa, sobretudo aos mais verdes nestas coisas, como a minha irmã, que julgavam que o jogo já estava arrumado. Mas não estava. A Dinamarca ainda tinha uma palavra a dizer. Assim, chegou-se ao intervalo com a sensação de que o jogo havia acabado de começar.
A segunda parte do jogo trouxe muito sofrimento. Cristiano Ronaldo diria, mais tarde, que os dinamarqueses não fizeram quase nada na segunda parte, mas não foi essa a sensação com que fiquei - vi demasiadas vezes os nossos adversários atacando-nos. O facto de o Ronaldo não estar nos seus dias não ajudou em nada.
Nesta altura, já devem ter ouvido falar da reação nas redes sociais às oportunidades desperdiçadas pelo madeirense. Não estavam a brincar. Pelo menos no Twitter, quase exigiam a cabeça do Marmanjo numa travessa. Nesta altura, já tinha esgotado o meu limite de tweets, portanto, não contribui nem contrariei esta tendência, mas ia acompanhando-a.
A coisa piorou aquando do segundo golo de Bendtner, que repôs o empate. O golo não surpreendeu, depois de tanto ataque dinamarquês - mas não deixou de ser um valente balde de água fria. No Twitter, fartaram-se de culpar Ronaldo por este resultado, nos minutos que se seguiram, chegando mesmo a insinuar que ele devia era sair da Seleção - algo que eu considero inconcebível. Mas já lá vamos.
Eu continuava a acreditar que era possível reverter o resultado, mas não com muita convicção. Ou melhor, com mais desespero do que convicção. Só pensava que não queria ter de fazer contas, que não queria ter de fazer figas por equipa alheia. Vi Paulo Bento meter Varela e o filme começava a parecer-me familiar.
Só que, desta feita, o filme teve um desfecho diferente. Um desfecho feliz. Varela, também conhecido como o Drogba da Costa da Caparica, saltou do banco e salvou o dia. Achei imensa graça quando hoje, no Record, na página de humor, disseram que o Marmanjo ia passar a ser patrocinado pelo Instituto de Socorro a Náufragos, pois a sensação é mesmo essa: o Varela salvou a honra do convento! O seu golo foi, sem sombra de dúvida, o ponto alto de todo o jogo. Eu e a minha irmã gritámos como nunca, ao longo de minutos. Em Lviv, a euforia não foi menor. A Seleção em peso, suplentes e um ou outro técnico incluídos, saltou em peso para cima do herói. Foi lindo! Não me canso de ver estes festejos. Só tenho pena de não terem mostrado Paulo Bento nesta altura...
Mesmo assim, o sofrimento continou. A Dinamarca não deixou de atacar, poderia repôr o empate a qualquer momento. O árbitro deu quatro minutos de compensação - foram os quatro minutos mais longos da História do Futebol! Mas finalmente lá soou o apito final e o resultado ficou selado - algo que eu celebrei com mais um par de berros de triunfo, ao mesmo tempo que começava a ouvir buzinas e vuvuzelas vindas do exterior.
E pronto. Foi assim que a Seleção teve a sua primeira vitória do Europeu, a primeira vitória do ano. Vitória essa que lhe garantiu três pontos, três pontos que nos colocam de novo na corrida por um lugar nos quartos-de-final.
O Ronaldo é que, coitado, o jogo não lhe correu bem. Mas não me parece que isso justifique a onda de fúria contra ele, quando ele já fez muito pela Seleção - parecendo que não, ele já ajudou muito a Equipa das Quinas, seja assistindo e marcando golos, seja levando a equipa ao colo, seja em conversas de balneário. O povo tem memória curta mas eu, embora também às vezes tenha dúvidas, não me esqueço destas coisas.
Julgo que o problema é o mesmo da finalização: psicológico. As pessoas - incluindo, se calhar, ele próprio - andam a pressioná-lo demasiado, na minha opinião. Não se justifica porque, como ontem ficou provado, a Seleção é mais do que Cristiano Ronaldo, existem outros jogadores de valor para além dele, que podem fazer a diferença. Além disso, como disseram ontem no Twitter, ninguém estará mais desiludido do que ele. Ele bem pode dizer que o importante é a equipa, que não se importa que nos tornemos campeões sem que ele marque um golo que seja. Eu acredito que ele esteja a ser sincero mas também acredito que ele se sinta desiludido com o seu desempenho individual. A solução há de ser a mesma; quando ele marcar, o enguiço desaparecerá.
Independentemente da etiologia do problema, a crucificação por parto dos próprios adeptos nunca foi terapêutica eficaz. Neste momento, ele devia era ouvir mensagens de apoio.
De qualquer forma, tenho a certeza que ele vai ultrapassar esta fase má e que vai calar toda a gente que o critica. Como o fez há uns tempos no Real Madrid, segundo o que li num blogue. Parece que, depois de uma derrota no Barnabéu aos pés do Barcelona, os adeptos culparam-no pelo desaire, criando uma onda de ódio semelhante à que grassa cá em Portugal. Mas depois, o Ronaldo calou-os ao marcar um golo no jogo da segunda volta do campeonato, em Camp Nou, num jogo que lhes garantiu o título. Pode ser que o mesmo aconteça agora, pode ser que ele, frente à Holanda, se vingue de tudo isto.
Paulo Bento havia dito que se teria de recuperar o espírito do jogo no Estádio do Dragão para este encontro. E eu acho que este jogo teve, de facto, muitas semelhanças com o jogo de 8 de outubro de 2010. Nesse dia, tal como ontem, só a vitória interessava. Nesse dia, tal como ontem, sofreu-se - embora ontem tenha sido pior. Nesse dia, tal como ontem, a vitória deu-nos novo fôlego. Nesse dia, tal como ontem, a vitória não nos serviria de muito se não vencêssemos também o jogo seguinte.
Já deu para ver que jogos com a Dinamarca são sinónimo de sofrimento. Quer o desfecho seja feliz ou não para o nosso lado, nós sofremos sempre, por um motivo ou outro. Aquela malfadada reviravolta em Alvalade, no início da Qualificação para o Mundial 2010. O empate no ano seguinte, depois de termos estado a perder, que nos fez pegar na calculadora. A estreia de Paulo Bento depois do caso Queiroz. A agonizante derrota no ano passado que nos atirou para os play-offs. E o jogo de ontem - que me deixou atordoada horas após o seu término.
O pior é que ainda não estamos despachados com a Dinamarca. Ainda temos de disputar com ela um lugar nos quartos-de-final, ainda que não diretamente. Pelos artigos que tenho lido, nem tudo depende de nós. São umas contas bem manhosas estas, que dizem que nós podemos ser apurados com uma derrota e ficar pelo caminho com uma vitória. No entanto, é como eu disse hoje de manhã, no café: nós temos é de ganhar à Holanda, de preferência com vários golos. Se isso nos der o Apuramento, ótimo. Se não (três vezes na madeira!), não será por culpa nossa, pelo menos não completamente. Ao menos voltaremos a casa, com a consciência tranquila, sabendo que demos tudo por tudo.
Mas seria uma injustiça do catano!
E não será fácil ganhar à Holanda. Eu sei que ela perdeu com a Alemanha e com a Dinamarca, mas ainda me parece inverosímil que a atual vice-campeã do Mundo não passe da fase de grupos. Eles ainda podem qualificar-se e lutarão por isso. E, ao contrário do certas pessoas acham, não me parece que o nosso historial nos ajude a derrotá-los. Tanto eles como nós mudámos muito desde o Euro 2004 e o Mundial 2006. Não podemos esperar facilidades.
Eu acredito que é possível chegarmos aos quartos, que estes estão ao nosso alcance. A Seleção provou ontem que, apesar de nem sempre ter jogado muito bem, tem espírito coletivo, tem paixão, tem uma palavra a dizer neste Europeu. Mais uma vez, aqueles homens provaram que merecem o nosso apoio, a nossa fé - demoraram algum tempo, mas finalmente voltaram a prová-lo. Agora espero que o provem, mais uma vez, no próximo domingo, desmontando a Laranja Mecânica e garantindo um lugar no mata-mata.