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O Meu Clube É a Seleção!

Mulher de muitas paixões, a Seleção Nacional é uma delas.

Renúncias, equipamentos e outros temas fraturantes

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Hoje à noite, a Seleção Portuguesa de Futebol defrontará a sua congénere checa. Depois, na próxima terça-feira dia 27 de setembro, receberá a sua congénere espanhola. Estes serão os últimos jogos a contar para a fase de grupos da terceira edição da Liga das Nações. 

 

Vou ser sincera: antes de segunda-feira estive perto de não escrever uma crónica pré-jogos para dupla jornada – sobretudo tendo em conta que me atrasei com o meu outro blogue. Acho que me esforçaria sempre por publicar qualquer coisa, por pequena que fosse, pois arrependi-me de não ter escrito antes dos jogos de junho

 

Mas não tinha mesmo muito a dizer. Esta foi uma Convocatória bastante conservadora. Fiquei surpreendida mas não devia ter ficado. Para além de ser Fernando Santos, há muito pouco espaço para treinar, para fazer experiências. O calendário futebolístico atual é uma coisa parva – mais sobre isso já a seguir – quase não há jogos particulares, não vai dar para fazer um estágio como deve ser antes do Mundial. Nós teremos dez dias e estamos entre os mais afortunados nesse aspeto. É provável que a Convocatória para o Mundial também não inove muito.

 

Até aqui tudo bem, um dia normal no escritório. Tudo mudou quando, na segunda-feira, Rafa – um dos Chamados para esta dupla jornada – anunciou que se ia retirar da Seleção.

 

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Não estava à espera desta. Já lá vão anos desde a última vez que tivemos de lidar com uma situação parecida. 

 

De início fiquei preocupada, devo confessar. Como amante da Seleção, nunca gostei de renúncias por princípio. Além disso, da minha experiência, estas costumam ser sintomas de desentendimentos entre jogadores e Selecionador. Aconteceu com Carlos Queiroz, aconteceu com Paulo Bento. Quem acompanhe este blogue nos últimos tempos saberá que tenho andado com um pé dentro e um pé fora no que toca a Fernando Santos – desde o Euro 2020. Se isto significasse o que eu achava que significava, teria mais munições contra o Selecionador. 

 

Não me parece que seja esse o caso, no entanto. Até pelo timing da renúncia: antes desta, Rafa só tinha vindo à Seleção nas últimas duas jornadas do ano passado e em ambas fora dispensado por lesão. Se tivessem existido desentendimentos, Rafa teria renunciado mais cedo, não acham? 

 

É certo que, da última vez que Rafa esteve na Seleção, em novembro último, circularam rumores de "falta de empenho", de que ele "gerava desconforto na Equipa das Quinas. Hoje há quem diga que Rafa se ressente de ninguém o ter defendido na altura… o que não é verdade. Fernando Santos negou todos os rumores na altura, em entrevista. 

 

Da mesma maneira, também não acho que Rafa tenha saído por estar contra o uso de jogadores naturalizados ou porque o Otávio e o Diogo Costa foram maus para o Benfica, como alguns disseram – isso são as pessoas projectando as suas próprias birras na situação. 

 

A "teoria" que me parece mais plausível relaciona-se com gestão de tempo. Rafa nunca foi uma opção super consistente na Turma das Quinas. Foi Campeão Europeu mas mal jogou. Os seus poucos destaques de Quinas ao peito foram o primeiro jogo contra a Polónia em 2018 e o jogo contra a Hungria no Euro 2020. Nunca fez parte do núcleo duro de confiança de Fernando Santos. Foi Convocado para esta dupla jornada, mas é possível que não fosse titular em nenhum dos jogos. 

 

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Segundo Rui Casaca, um antigo dirigente do Sporting de Braga e conhecido de Rafa, este "valoriza muito a vida para além do futebol". Como muitos têm assinalado, entre a pandemia e um Mundial fora de horas, os calendários futebolísticos tornaram-se demasiado pesados nos últimos anos. Por estes dias, todos os clubes “grandes” têm dois jogos por semana. 

 

E eu pergunto-me: como é que os jogadores aguentam? Quando é que têm dias de folga? Desde que comecei a trabalhar e sobretudo no pós-pandemia, sou muito ciosa do meu tempo fora do trabalho. Não sei se conseguiria aguentar o estilo de vida de um futebolista como Rafa: sem fins-de-semana, desfasados de toda a gente, inúmeras viagens.

 

Tendo tudo isto em conta, não me choca que Rafa prefira ficar de fora da Seleção. Sobretudo se estiver convencido que só iria para lá aquecer bancos (não acho que fosse verdade, mas pronto). É possível que tenhamos outros exemplos, não só em Portugal, de jogadores renunciando às respetivas seleções por não aguentarem este ritmo. 

 

Dito isto tudo, a maneira como Rafa fez isto deixou muito a desejar. Para começar, devia ter avisado Fernando Santos antes da Convocatória, não depois. O Selecionador teria tempo para pensar numa alternativa – e calculo que seja uma logística complicada para a Federação Chamar um jogador fora de horas. 

 

Por outro lado, segundo declarações de Fernando Santos ontem, Rafa disse uma coisa ao Selecionador – que não podia comparecer nesta dupla jornada – e outra coisa à Federação – que não voltaria a envergar as Quinas. Mas que raio…? Só faz com que Rafa fique pior na fotografia. 

 

Tirando estes últimos aspetos, aceito a decisão de Rafa. Mas fico triste: este está a atravessar uma boa fase e agora não podemos aproveitá-la. Por outro lado, estou feliz por Gonçalo Ramos ter sido Chamado – é outro que anda a entusiasmar. 

 

 

Do outro lado do espectro temos Cristiano Ronaldo. Não sei se sou a única mas, depois das figuras tristes que fez no último Mercado de Transferências e da sua estranha situação no Manchester United, tenho-me interrogado se o seu papel na Seleção iria mudar. 

 

Suponho que ainda seja cedo para isso acontecer. Afinal de contas, ele saiu-se bem na última jornada – e como escrevi na altura, nós recebêmo-lo sempre de braços abertos.

 

Talvez seja por isso que Ronaldo nos seja tão leal. Talvez ele sinta que neste momento que a Seleção é o único sítio onde é verdadeiramente amado (embora ele só se possa culpar a si mesmo por isso). Ao ponto de ter adiantado esta semana que quer jogar no Euro 2024. Que teremos de levar com o “Cris” durante mais um par de anos, pelo menos.

 

Por um lado fico comovida. Tenho passado os últimos quatro ou cinco anos à espera que Ronaldo acorde um dia e decida que já não aguenta vir à Seleção. Antigos heróis meus, como Luís Figo, Rui Costa, Pedro Pauleta, Deco, fizeram isso e eu encaixei. Eu também encaixaria que Ronaldo fizesse o mesmo.

 

Mas ele não faz! Ele não nos vira costas! De uma maneira que vai além do racional, na minha opinião. 

 

Porque esse é o reverso da medalha. Onde acaba o amor à camisola e ambição e começa a negação? Ele já não é um jovem. Na idade dele muitos jogadores já penduraram as botas há muito. Como pode ele ter a certeza de que irá aguentar? Tenho medo que este espírito deixe de ser saudável. Espero que Ronaldo saiba o que está a fazer.

 

Adiante. 

 

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No mesmo dia da Convocatória, foram apresentados os novos equipamentos. Desde que dediquei um texto inteiro a equipamentos da Seleção, fiquei contratualmente obrigada a pronunciar-me sobre cada coleção nova. E é o que vou fazer.

 

Uma última palavra para o equipamento principal de 2020. Como escrevi no outro dia na página, tomei o gosto a esta camisola. Quando saiu queixei-me dos colarinhos e, de facto, não adoro o pormenor. Na prática, eles não me incomodaram quase nada. Hoje colocaria este equipamento em terceiro ou quarto lugar na minha classificação.

 

Agora sobre este conjunto… No que toca ao equipamento principal, a minha primeira impressão não foi muito favorável. Percebo a ideia: durante muito tempo tivemos equipamentos só em vermelho quando a nossa bandeira é quarenta por cento verde, mais coisa menos coisa. A equipa por detrás dos equipamentos terá querido contrariar isso – o lema desta coleção é precisamente “Veste a bandeira”. Em 2020, recuperaram os clássicos calções verdes, para este quiseram pensar fora da caixa.

 

Eu aplaudo. Na minha classificação, favoreci os equipamentos mais criativos e o principal de 2022 é definitivamente um equipamento criativo. Mas talvez tenha ficado demasiado diferente para o gosto de muitos. Pessoalmente, acho que irei aprender a gostar deste equipamento. Como todos, vou precisar de vê-lo em campo. Daqui a um par de anos darei o meu juízo final. 

 

De resto, gosto muito desta coleção em geral. O equipamento alternativo é menos arrojado mas mais popular: eles raramente erram com equipamentos brancos com pormenores verdes e vermelhos – espero que lancem um boné a condizer. Os equipamentos de treino e as camisolas de passeio são também muito giros. Aliás, gosto muito da estética geral da coleção, que adotaram para as redes sociais das seleções: as diagonais, os padrões geométricos, as letras douradas.

 

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A única exceção é a camisola de aquecimento. Fui das primeiras a reparar e adivinhei logo as reações. A sério que ninguém entre os criadores fez o mesmo?

 

Não tenho muito a dizer sobre os jogos. Há quem diga que temos de pelo menos pontuar perante a Chéquia, para depois discutirmos o Apuramento com nuestros hermanos. Para ser sincera, acho mais seguro ganharmos aos checos e fazermos figas para que os suíços roubem pontos aos espanhóis – assim, não seríamos obrigados a vencê-los na terça-feira. 

 

Não que nos possamos fiar. 

 

Aliás, nenhum destes jogos será fácil. Como disse ontem Fernando Santos, os espanhóis tiveram sérias dificuldades em casa checa – e o estádio vai estar cheio, logo à noite. E mesmo que ganhemos – e eu acho que ganhamos – se a Espanha ganhar à Suíça, teremos de vencê-los na terça-feira. Recordo que só vencemos nuestros hermanos exatamente uma vez em jogos oficiais – no Euro 2004

 

Algo que joga a nosso favor é o facto de o jogo de terça se realizar em nossa casa – numa Pedreira esgotada. Tenho a certeza que o público tudo fará para facilitar a tarefa aos nossos Marmanjos.

 

Infelizmente, estou com um problema de timing nesta jornada. Hoje vou ter um jantar e não sei se terei acesso a uma televisão. Na terça-feira só saio do trabalho às 20h30 – só conseguirei ver a segunda parte do jogo com a Espanha e talvez não toda. 

 

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Não me queixo muito pois, no Mundial, não terei esse problema. Ou melhor tê-lo-ei em menor escala. Vou tirar uma semana de férias na semana dos jogos com o Uruguai e a Coreia do Sul para poder ver pelo menos esses dois jogos sem stress e ter tempo para escrever sobre eles no blogue. Há anos que queria fazê-lo e finalmente consigo – só é pena não ter conseguido tirar mais dias. 

 

De qualquer forma, mesmo não podendo ver, não deixarei de torcer. Será uma tarefa hercúlea, mas eu acredito. E se conseguirmos, se carimbarmos o regresso à final four da Liga das Nações, eu serei uma mulher feliz.

 

Como sempre, obrigada pela vossa visita. Força Portugal!

Não é tradição, é sina!

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No passado dia 15 de junho, a Seleção Portuguesa de Futebol estreou-se no Euro 2020 com uma vitória por três bolas sem resposta perante a sua congénere húngara. No dia 19 de junho, no entanto, a Seleção Nacional perdeu perante a sua congénere alemã por quatro bolas contra duas. Com estes resultados, Portugal encontra-se em terceiro lugar na classificação do grupo F, com três pontos, ainda sem saber se segue ou não para os oitavos-de-final da prova.

 

Como rezava a música, “continhas até ao fim não é tradição, é sina.” Num grupo destes sabíamos que era uma possibilidade, mas isso não significa que seja agradável. 

 

Já aí vamos. Comecemos por falar dos jogos em si.

 

A tarde do dia da partida com a Hungria foi complicada no meu emprego. Estive ocupada até ao último minuto, de tal maneira que não tive tempo sequer de ver o onze inicial – muito menos de partilhá-lo na página.

 

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Felizmente, depois de terminar tudo, não demorei muito a chegar ao meu carro e a ligar o rádio. Só devo ter perdido os primeiros cinco ou dez minutos. Nesta altura, já tinha visto nas redes sociais que o Diogo Jota desperdiçara uma de caras. Como disseram algures, há alturas em que a melhor opção é mesmo passar ao Ronaldo.

 

Jota ao menos aprendeu a lição, como veríamos no jogo seguinte. 

 

Por outro lado, o próprio Cristiano Ronaldo falharia uma oportunidade flagrante mais tarde no jogo. Ninguém está imune a estas coisas – parecendo que não, são humanos como nós. 

 

Na primeira parte, o jogo teve essencialmente um único sentido. A minha irmã bem o dizia: os húngaros não eram capazes de partir para o ataque. Infelizmente, isso obrigou-os a ficarem mais retidos à defesa. Muitos usaram o termo “acantonados” ou “acampados”. Tornou-se ainda mais difícil para os portugueses chegarem ao golo. Não cumpri o meu desejo de festejar um golo com buzinadelas.

 

Se na primeira parte Portugal esteve claramente por cima, na segunda sempre foi assim. Houveram alturas em que a Hungria cresceu e Portugal esteve perto de perder o controlo da situação. Veja-se o golo anulado por fora-de-jogo – em que, ainda por cima, Rui Patrício não ficou muito bem na fotografia. 

 

À medida que o tempo ia passando e o golo não surgia, os nervos aumentavam. Eu sabia que seria assim, referi-o na crónica anterior, mas isso não me impediu de sofrer. Como é que uma pessoa se prepara para jogos destes?

 

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Concordo com a opinião popular que defende que Fernando Santos devia ter mexido mais cedo. Podíamos ter ganho por mais com Rafa e Renato Sanches mais tempo em campo – até porque Rafa precisou de alguns minutos até entrar nos eixos. Mas mais vale tarde do que nunca, suponho eu. 

 

Finalmente o marcador mexeu, aos oitenta e quatro minutos. Rafa assistiu para Raphael Guerreiro, que arranjou um corredor no meio de uma data de húngaros. O Raphael não tem jogado grande coisa nestes últimos dois jogos – com grande pena minha, pois gosto dele – mas ao menos conseguiu ser o primeiro português a marcar neste Europeu.

 

O resultado não se manteve inalterado durante muito tempo depois desta. A jogada começou com o Renato abrindo caminho por entre a muralha húngara. Passou a bola ao Rafa, que conseguiu um penálti. Ronaldo, claro, não desperdiçou.

 

Por fim, já em tempo de compensação, deu-se a jogada que ficou nas bocas do mundo: trinta e três passes seguidos, terminando com a assistência de Rafa para o segundo golo de Ronaldo na partida. De início pensei que ele estava em fora-de-jogo, mas em câmara lenta dá para ver que Ronaldo está em linha no momento do passe.

 

Este foi um jogo que deixou a desejar em vários aspetos – e alguns deles voltariam para nos tramar no jogo seguinte – mas, mal por mal, foi a nossa melhor estreia em campeonatos de seleções desde 2008. E tendo em conta o que aconteceu mais tarde, estes três pontinhos iniciais são preciosos.

 

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Antes do jogo com a Alemanha, até estava otimista q.b., sobretudo depois de saber do empate entre a França e a Hungria. Agora em retrospetiva, não sei se esse resultado nos trouxe alguma vantagem para além de um sorriso presunçoso. Mas na altura, de uma maneira estranha, deu-me alguma esperança.

 

Esperança que, apesar de tudo, ainda durou um bocadinho. Talvez demasiado. Ficámos numa situação parecida à da Hungria na primeira parte do nosso primeiro jogo: completamente dominados pelos alemães, só que defendendo pior. Como disse antes, Raphael Guerreiro já viu melhores dias mas, como veremos adiante, as maiores falhas estavam à direita. 

 

Antes, uma das coisas que prolongou a minha relativa ilusão foi o golo português, contra a corrente do jogo. Todos concordam que foi uma jogada lindíssima: a arrancada de Bernardo Silva, o sprint de Cristiano Ronaldo, Diogo Jota desta vez tomando a decisão correta e passando ao Capitão.

 

Este golo foi uma das poucas coisas boas da tarde. Independentemente de tudo o que aconteceu antes ou depois, era a primeira vez desde 2008 que marcamos à Alemanha. Era mais um golo marcado por Ronaldo – que fica agora a dois da marca de Ali Daei –  mais uma data de recordes quebrados e um argumento contra aqueles que dizem que Ronaldo “só marca a seleções pequenas”.

 

Ora, a Alemanha não acusou o golo. Continuou na sua e finalmente, pouco após a meia hora de jogo, conseguiu marcar dois golos em poucos minutos. Mais tarde, ainda no início da segunda parte, os alemães marcaram o terceiro. Dez minutos depois, mais coisa menos coisa, marcaram o quarto.

 

Falo dos quatro golos alemães de uma assentada porque estes têm todos o mesmo ADN. Durante o jogo, aquando do terceiro golo, eu barafustava para quem me quisesse ouvir:

 

– Mas quem é que deixou aquele gajo sozinho? Quem é que deixou aquele gajo sozinho?

 

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“Aquele gajo” era Robin Gosens. E a verdade é que, vendo agora imagens dos golos alemães, todos eles metem Gosens completamente à vontade à direita. Chega a ser caricato. Pouco importa que os dois primeiros golos tenham vindo de portugueses na baliza errada. Isto foi praticamente o mesmo golo em repetição.

 

Portugal até melhorou mais tarde, quando Fernando Santos meteu João Moutinho – mas também quando a Alemanha tirou o pé do acelerador. Conseguimos até marcar mais um golo na sequência de um livre – com Ronaldo fazendo uma assistência acrobática para a finalização de Diogo Jota.

 

Não evitou a derrota, mas poderá ser importante nas contas dos melhores terceiros.

 

Ainda houve tempo para Renato Sanches – que está em ótima forma – dar um tiro à barra. Infelizmente, o resultado desfavorável manteve-se. 

 

Não foi uma tragédia como o que aconteceu em 2014 e, por princípio, não é vergonha nenhuma perder contra a Alemanha. Mas todos concordam que podíamos ter feito mais. Não sou a melhor pessoa para avaliar o que falhou, mas até eu reparei que, em ambos os jogos, as coisas corriam melhor depois de Fernando Santos mexer no meio-campo. 

 

Além disso… cinco faltas contra quinze da Alemanha? Não é normal!

 

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Pouco depois do fim do jogo, os Marmanjos vieram para as redes sociais pedindo-nos para acreditarmos “tanto quanto eles”. Mesmo os comentadores da TVI durante o jogo iam mantendo um tom irritantemente otimista, sem noção (piores do que eu...). Chegaram a dizer coisas como:

 

– Aquilo que nos aconteceu hoje pode acontecer à França na quarta-feira.

 

Pois. Eu também posso ganhar o Prémio Nobel da Literatura este ano.

 

Não é que não acredite, porque acredito. Não seria a primeira vez – e em princípio não será a última – que a Seleção dava a volta a circunstâncias tão desfavoráveis como esta. Diz que é possível seguirmos em frente mesmo perdendo contra os franceses – e a vantagem de este ser o grupo F é o facto de sermos os últimos a jogar. Entraremos em campo conhecendo os mínimos olímpicos para seguirmos para os oitavos-de-final. À hora desta publicação, “basta-nos” perder por dois golos de diferença. 

 

Ao que chegámos… Peço desculpa, mas isto chega a ser patético. Nunca gostei de pegar na calculadora, apesar de, como disse antes, ser a nossa sina. Mas ao menos antes só tínhamos de incluir equipas do nosso grupo na equação. Na minha opinião, o critério dos “melhores terceiros” estraga um pouco a fase de grupos.

 

Enfim, é o que temos. Mal por mal, ao menos sempre é mais digno ficarmos em terceiro num grupo com a Alemanha e a França do que num grupo com a Islândia e a Áustria. 

 

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Mas dizia eu que o problema não é não acreditar. Eu acredito e acho que a maior parte de nós acredita. O problema é que acreditar não basta. É preciso aprender com os erros, fazer melhor em campo, jogar melhor – seja individualmente, seja coletivamente, seja o que quer que seja. Não sei o suficiente para apontar dedos, mas sei que temos capacidade para mais do que isto. Somos Campeões Europeus e temos grandes jogadores do nosso lado. Somos melhores do que isto!

 

Quando estivemos numa situação parecida com esta há cinco anos, escrevi que, se tudo corresse bem e nos tornássemos Campeões Europeus, ninguém se ralaria com o facto de nos termos apurado em terceiro no grupo. Não foi bem assim – pelo contrário, foi aqui que nasceu o “de empate em empate” (a parte mais engraçada desta história é que, antes do Euro 2016, Portugal não tinha empatado uma única vez sob a alçada de Fernando Santos). Mas o final dessa história continua a ser aquilo que mais interessa.

 

Da mesma forma, hoje sinto-me desiludida, mas isso passará se seguirmos em frente no Europeu. Mais: quanto mais aprendermos com o que aconteceu no jogo de sábado, mais longe iremos na prova. Aí acreditarei em Fernando Santos quando diz que, se apanharmos a Alemanha na final, ganhamos nós. 

 

Mas não conto com esse ponto até ele nascer. Ainda temos os franceses no nosso caminho, com quem nunca é fácil lidar, nem mesmo nas melhores circunstâncias. Agora vieram de um escandaloso empate perante a Hungria e vão encontrar a seleção que lhes tirou o Europeu que eles mesmos organizaram. 

 

São meninos para nos darem uma goleada só mesmo para garantir que vamos para casa mais cedo. Nem quero imaginar a humilhação…

 

Eu acredito no empate pelo menos – e já será suficientemente difícil. Se há algo de que tenho a certeza hoje é que ninguém na Seleção quer ficar pela fase de grupos. Nunca aconteceu connosco num Euro, era no mínimo indigno acontecer agora. Falta é passar dos desejos à ação. 

 

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Venham de lá os franceses. Uma vez mais, vemo-nos do outro lado.

Agora é que vão ser elas

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Na próxima quarta-feira, dia 7 de outubro, a Seleção Portuguesa de Futebol receberá a sua congénere espanhola, em jogo de carácter particular. Quatro dias mais tarde, a Seleção deslocar-se-á ao Stade de France, em Paris, para defrontar a seleção local. Três dias mais tarde, regressa a Portugal para receber a seleção sueca. Estes dois últimos jogos contarão para a fase de grupos da segunda edição da Liga das Nações. Ambos os jogos em casa decorrerão no Estádio de Alvalade.

 

A preparação destes jogos começa  na próxima semana, provavelmente na segunda-feira. São muitas viagens e pouco tempo, poucos dias para treinar. É certo que daqui a Paris são apenas duas horas, duas horas e meia de voo. Mesmo assim, deve custar.

 

(Por outro lado… será que eles vão ficar alojados em Marcoussis outra vez? Seria giro.)

 

Ao menos os jogos em Lisboa já vão ter público! Poucos milhares de pessoas se não me engano. À hora desta publicação, ainda não se sabe nada sobre a venda de bilhetes para estes jogos. O que é estranho, tendo em conta que faltam poucos dias para o particular com a Espanha. 

 

Eu gostava de ir a um dos jogos – em circunstâncias normais se calhar preferia o da Espanha, mas hoje em dia não sou esquisita. Vivo perto de Alvalade e, bolas, quero voltar a um estádio! Quero ver a Seleção! Mas acho que vai ser difícil conseguir bilhetes.

 

Mesmo que eu não possa ir, ao menos sei que os nossos meninos não estarão sozinhos, que não terão de cantar o hino para um estádio vazio. Já é um consolo. No entanto, confesso que me custa imaginar um jogo da Seleção sem grandes multidões, à chegada, à saída, nas bancadas. 

 

Fernando Santos revelou os Convocados para este triplo compromisso ontem, quinta-feira. Regressam William Carvalho, Rafa Silva, Daniel Podence e Rúben Semedo. Não houve nenhuma estreia absoluta em Convocatórias – embora Podence e Semedo ainda não contem internacionalizações. Eu estava à espera de mais mudanças, mas Fernando Santos trouxe o habitual argumento da estabilidade do grupo. 

 

Bem, também não sou suficiente versada no assunto para criticar.

 

Podence é um dos muitos portugueses no Wolverhampton. O clube já se tornou num meme, com tantos jogadores lusos – e equipa técnica! – mais que alguns clubes que a I Liga. Obra de Jorge Mendes, segundo consta. Ao ponto de o equipamento alternativo deles, esta época, ser vermelho e verde (mais bonito que o nosso equipamento alternativo, aqui entre nós). Há quem graceje que o Wolverhampton é uma seleção portuguesa alternativa.

 

Pessoalmente não me importo. Dá sempre jeito a qualquer seleção ter jogadores competindo no mesmo clube, arrotinados uns com os outros. Por uma questão de patriotistmo preferia que fosse num clube português – não sendo possível, ao menos é um campeonato prestigiado, competitivo, como a Premier League. 

 

Além disso, eu até gosto de lobos. Tenho uma linda pastora-alemã e muitas crianças que se cruzam com ela pensam que é o Lobo Mau (quando não pensam que é o Inspetor Max). E ela de facto é um bocadinho parecida… mas é mais um cordeirinho com pele de lobo. 

 

Regressando a Podence, acho que ele tem estado bem nos últimos tempos. Fez uma assistência num jogo contra o Sheffield e, no jogo contra o Manchester City, fez uma maldade a Kevin De Bruyne e as imagens correram mundo. 

 

 

Uma coisa que descobri agora, enquanto pesquisava para este texto: Podence é mais baixo do que eu, um metro e sessenta e cinco. Bem, a altura vale o que vale. 

 

Sobre Rúben Semedo, não sei muito das suas andanças, apenas que o Benfica o deseja mas o Olympiacos não quer deixá-lo sair. À hora desta publicação, a coisa ainda não está resolvida. Seja qual for o clube, este tem de dar-lhe oportunidades para se desenvolver. 

 

William e Rafa são Campeões Europeus e jogadores que acompanho há uns anos, logo, estou contente por tê-los de volta. Sobre o momento de William? Tem dado sinais contraditórios. Marcou ao Real Madrid há poucos dias e, há coisa de duas semanas, marcou um golo espetacular ao Valladolid. No entanto, no jogo com o Getafe, cometeu um erro que custou um golo – o Getafe acabaria por vencer o Bétis por 3-0. 

 

Acontece. Mas espero que não se repita na Seleção. 

 

Em relação a Rafa, não sei muito bem como se tem saído no Benfica. Marcou um golo ao PAOK ao cair do pano, que infelizmente não chegou para evitar a derrota. Sei no entanto que é um jogador de talento – espero voltar a vê-lo nesta jornada.

 

Vão ser uns dias giros com a Seleção – vamos defrontar não uma, mas duas das nossas bestas negras. Uma delas, felizmente, será num jogo particular: a Espanha, no Estádio de Alvalade. 

 

No mês passado comentámos que, com tanto tubarão no nosso caminho, fazia sentido praticarmos com um. Por outro lado, a Espanha também tem um tubarão com que ligar – a Alemanha está no seu grupo da Liga das Nações. Talvez tenha sido por isso, pelo menos em parte, que nuestros hermanos aceitaram jogar connosco.

 

E no entanto, neste momento, os espanhóis estão à frente no seu grupo. A Alemanha empatou os dois jogos até agora, só conta dois pontos. Já não são o que eram? Bom sinal para nós, no grupo do Europeu? Eu não fiava. 

 

Como se devem recordar, a última vez que jogáms contra nuestros hermanos foi no Mundial 2018 – empatámos três a três, com um hat-trick de Cristiano Ronaldo. Talvez seja mais rigoroso dizer que Ronaldo empatou contra a Espanha, pois o coletivo português em si deixou a desejar, tirando uma ou outra exceção. 

 

Foi um bom resultado, até porque, até ao momento, o único jogo oficial em que ganhámos à Espanha foi no Euro 2004 – o jogo mais importante da minha vida, conforme já referi várias vezes aqui no blogue, e que por sinal se realizou no mesmo estádio. Por outro lado, da última vez que recebemos a Espanha para um jogo particular, a coisa correu bem.

 

Desde a última vez que jogámos com a Espanha, os nossos vizinhos falharam o acesso à fase final da primeira edição da Liga das Nações – a Inglaterra Qualificou-se à frente deles. Para o Europeu, no entanto, Apuraram-se em primeiro, à frente da Suécia.

 

Dos grandes da Europa, ao que parece, fomos os únicos que não nos Qualificámos em primeiro para o Euro 2020. E somos os detentores do título – tanto do Europeu como da Liga das Nações! Que vergonha…

 

Tendo isto tudo em conta, coloco o favoritismo ligeiramente do lado dos espanhóis. É apenas um particular, de resto, se não ganharmos não será dramático. É claro que uma vitória iria saber bem… mas o mais importante será praticarmos para os próximos desafios. 

 

E que desafios serão esses, senhores… Agora é que vão ser elas.

 

É a primeira vez que nos cruzamos com os nossos amigos franceses desde a final do Euro 2016. Quis o destino que o primeiro reencontro ocorresse exatamente no mesmo palco – não teria sido assim se o Europeu deste ano não tivesse sido adiado.

 

Acontece que agora os franceses são Campeões do Mundo, o que nos deixa numa posição… estranha. Nós conquistámos o Europeu perante eles, ainda temos esse título… mas tecnicamente o Campeão do Mundo há de ser melhor que o Campeão da Europa, certo? E no entanto, um ano depois do Mundial, nós ganhámos a Liga das Nações, que no fundo é um campeonato europeu noutros moldes. A França nem sequer chegou à final four.

 

Em defesa dos franceses, eles só não se Qualificaram por causa da diferença de golos – a Holanda Apurou-se à frente deles. Quem sabe o que teria acontecido se tivesse vindo à fase final? Teria sido giro se, mais uma vez, disputassem a final connosco.

 

Em todo o caso encontramo-nos agora, na fase de grupos da segunda edição. Estamos empatados com eles na tabela classificativa com seis pontos – estamos à frente por termos mais dois golos marcados. O Campeão do Mundo contra o Campeão da Europa, uma espécie de Supertaça em seleções. Acho que vamos ter muitos olhos neste jogo.

 

Ninguém poderá criticar demasiado a Seleção na eventualidade de perdermos. São os Campeões do Mundo e um adversário tradicionalmente difícil para Portugal – a final de Paris foi a nossa primeira vitória perante os franceses em mais de quarenta anos. E a França não nos vai subestimar segunda vez. 

 

Um empate não seria de todo um mau resultado. Adiaria a disputa pelo primeiro lugar para mais tarde, talvez para o jogo com eles em nossa casa. Nós continuaríamos à frente – por definição, um empate não altera a diferença de golos.

 

No entanto, todos queremos uma vitória. Todos queremos recriar o maior feito da História da Seleção Nacional, pelo menos em parte – o mesmo adversário, o mesmo palco. Uma nova vitória perante a França ajudaria a silenciar aqueles que ainda hoje alegam que não merecemos ganhar o Europeu. E permitir-nos-ia darmos um grande passo em frente na corrida por um lugar na final four.

 

Depois deste jogo, temos outro com a Suécia, desta vez em casa, em Alvalade. Como já jogámos contra eles no mês passado, não tenho nada de novo a dizer sobre eles. Passemos à frente.

 

Ainda não sei como vou fazer com as crónicas sobre estes jogos. São logo três, com poucos dias de intervalo entre eles. A próxima semana será complicada para mim em termos do meu emprego, não devo conseguir publicar antes do jogo com a França. Talvez consiga publicar entre esse jogo e o da Suécia… mas o mais provável é eu escrever sobre os três jogos no mesmo texto.

 

Eu vou dando informações sobre isso na página do Facebook. Para já, quero saborear a oportunidade inédita que é ter uma jornada tripla de Seleção. Continuem desse lado saboreando também!

 

CORREÇÃO A 5/10/2020: Na publicação original vinha referido que o jogo com a Espanha teria lugar na Luz. 

Os Silvas e os perdidos e achados

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Na passada quinta-feira, dia 11 de outubro, a Seleção Portuguesa de Futebol venceu a sua congénere placa por três bolas contra duas, em jogo a contar para a fase de grupos da Liga das Nações. Três dias depois, no domingo, a Seleção venceu a sua congénere escocesa por três bolas contra uma, em jogo de carácter particular. Com o resultado do primeiro jogo, Portugal fica a um ponto apenas do Apuramento para a Liga das Nações.

 

O início do jogo com a Polónia fez-me lembrar o do Euro 2016, no sentido em que os polacos entraram por cima no jogo, acabando por abrir o marcador. Desta feita demoraram mais – aos dezoito minutos, na sequência de um canto em que a defesa portuguesa não ficou muito bem na fotografia.

  

Um aparte: o autor do golo foi Piatek, mas o meu cérebro insistia em ouvir Triatec. Enfim, parvoíces de uma farmacêutica…

 

Portugal reagiu muito bem ao golo. Tomou as rédeas da partida, levando a cabo várias jogadas vistosas na segunda metade da primeira parte – incluindo um golo anulado a Rafa. Permanece o problema da finalização: muitos têm comentado que, com Ronaldo, a Seleção era mais concreta e eficaz. Mas eu acho que isso resolve-se com o tempo.

 

Até porque Portugal não demorou muito a chegar ao empate. Foi aos 31 minutos, fruto de uma bela jogada coletiva, em que a bola passou por Bernardo Silva e João Cancelo, até Pizzi centrar para André Silva, que rematou para as redes.

 

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Portugal conseguiu ir para o intervalo em vantagem. Ninguém se tem calado com o passe de Rúben Neves para Rafa Silva e não é para menos: a bola atravessou o comprimento equivalente a um meio-campo, encontrando Rafa desmarcado. Este consegue ultrapassar o guarda-redes polaco e só não assinou o golo oficialmente porque Glik, o defesa, cortou para a própria baliza.

 

Enfim. Para mim o golo é de Rafa.

 

Tem piada porque não era suposto Rafa estar em campo. Ou mesmo na Polónia. Rafa só fora Convocado à última hora, para substituir o lesionado Gonçalo Guedes e só foi titular porque Bruma estava indisposto.

 

O mais caricato no meio disto tudo (no melhor sentido)? Não digo que isso acontecesse com Guedes, mas tenho a certeza que, se Bruma tivesse sido titular, conforme o previsto, ele também teria brilhado. Talvez também tivesse marcado  – e acabaria por fazê-lo no jogo seguinte.

 

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Mas estou a adiantar-me.

 

O ímpeto português continuou na segunda parte – culminando com mais um golo, desta feita de Bernardo Silva. O miúdo é baixinho, sobretudo quando comparado com os gigantes polacos, mas ele conseguiu dar baile a cinco deles e rematar de fora para as redes. Ele é um espetáculo! Não admira que Pep Guardiola ande caidinho por ele (e o Deco também).

 

Infelizmente, Portugal deixou-se adormecer à sombra da vantagem de dois golos. Compreensível, mas desnecessário. A Polónia aproveitou e acabou por chegar ao golo – Blaszczykowski rematou de primeira após um mau alívio de Pepe.

 

Na verdade, o golo nem sequer devia ter sido validado, pois, no início da jogada, Bereszynski deixou a bola sair pela linha lateral durante um instante. O mais estranho disto tudo é que, segundo esta imagem, o árbitro assistente viu o que aconteceu e não fez nada.

 

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Não vou insistir muito nisto, pois acabámos por ganhar o jogo à mesma, mas espero que nada deste género se volte a repetir.

 

Por sinal, o autor deste golo foi o mesmo jogador que bateu o penálti que Rui Patrício defendeu, no jogo de 2016 – um nome como Blaszczykowski fica na memória. Conseguiu redimir-se, dois anos depois.

 

Felizmente, Portugal não deixou a Polónia ganhar ímpeto com este golo – pelo contrário, voltámos a mandar na partida, sobretudo com as entradas de Danilo Pereira e Renato Sanches. Este último esteve, até, perto de repetir o protagonismo do jogo de 2016 – com duas oportunidades, aos oitenta e quatro minutos e aos noventa. Por sua vez, também Bruno Fernandes desperdiçou uma flagrante, já em tempo de compensação.

 

É uma pena não termos terminado o jogo com um resultado mais dilatado, mas deu para segurar os três pontos. Agora basta-nos um empate para garantirmos um lugar na final four. Podíamos já estar Qualificados, descansadinhos, se no Polónia-Itália os italianos não tivessem decidido marcar no tempo de compensação, depois de noventa minutos sem golos. Foi só para nos chatear…

 

Por outro lado, também seria um bocadinho seca ter dois jogos em novembro só para cumprir calendário. Se tudo correr bem, um deles – o segundo, frente à Polónia – sê-lo-á.

 

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Não estava com grandes expectativas para o particular com a Escócia. Primeiro, era um particular. Sgundo, íamos começar com um onze radicalmente diferente – só Rúben Dias se mantinha em relação ao jogo anterior.

 

E de facto Portugal não entrou bem no jogo. A equipa parecia desarticulada, mal conseguindo tocar na bola durante os primeiros minutos. Não que a Escócia tenha conseguido aproveitar. De maneira caricata, a sua melhor oportunidade foi um quase auto-golo: Sérgio Oliveira desviou mal de cabeça e Beto teve de se esmerar.

 

Tirando esse momento, a primeira parte foi uma seca. Só para o fim é que a Seleção começou a dar um ar de sua graça. Bruma teve um par de oportunidades, mas acabou por ser o absoluto estreante Hélder Costa a fazer o golo, em cima do intervalo, após assistência de Kevin Rodrigues.

 

A segunda parte foi melhorzita, se bem que não exatamente interessante. Portugal manteve-se por cima, sobretudo com a entrada de Renato Sanches. O miúdo está finalmente a provar o seu talento outra vez e eu não podia estar mais satisfeita. Ele andou perdido durante demasiado tempo.

 

Foi, aliás, dos pés de Renato que começou a jogada do segundo golo, em cima dos setenta e cinco minutos. O jovem foi chamado a bater um livre direto, a bola encontrou a cabeça de Éder, que a desviou para as redes.

 

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Este foi o primeiro golo do ponta-de-lança desde a lendária final de Paris, há mais de dois anos. Naturalmente, toda a gente ficou feliz. Éder não teve muitas oportunidades de repetir a façanha desde o Europeu – se tivesse jogado mais vezes, poderia ter marcado antes.

 

Há quem diga, já, que ele devia ter sido Convocado antes, sobretudo para o Mundial. Não que discorde… mas também não vou dizer que não compreenda as escolhas de Fernando Santos. Por muito gratos que estejamos todos a Éder, muitos parecem ter-se esquecido que ele é um jogador de altos e baixos. Em contraste, André Silva tem assinado, de forma consistente, uma data de golos pelas Quinas. Em quem é que vocês apostariam?

 

Em todo o caso, é sempre um prazer ter Éder na Seleção, sobretudo a marcar golos. Não apenas por ter marcado o golo mais importante da História do futebol português, mas também pelo seu amor à camisola – mais velho que a final de Paris. De que outra maneira se explica ele ter aguentado tanta crítica, muitas vezes injusta, da massa adepta durante tempo suficiente para marcar aquele golo?

 

Regressando ao jogo com a Escócia, o terceiro golo foi assinado por Bruma – um belo remate após ter fugido a pelo menos três escoceses. O jovem, finalmente, junta o seu nome à lista de marcadores pelas Quinas, depois de ter passado um par de jogos ameaçando. Este é outro que andou desorientado durante uns anos e que parece ter encontrado o caminho certo.

 

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Agora que penso nisso, este foi o jogo dos perdidos e achados. Cada um dos protagonistas (tirando Kevin Rodrigues, tanto quanto sei) têm tido carreiras atribuladas, de uma maneira ou de outra. No entanto, conseguiram orientar-se e, agora, dão o seu contributo para as Quinas.

 

Os escoceses ainda conseguiram o golo de honra antes do final, num lance em que a defesa portuguesa ficou mal na fotografia, devo dizer.

 

E foi isto. Dadas as circunstâncias, não se podia exigir muito mais da parte de Portugal, neste jogo. Para ser sincera, foi melhor do que estava à espera – eu teria apostado num 1-0 ou 2-0.

 

Este jogo serviu para provar que temos segundas linhas, mesmo que não joguem tão bonito como os habituais titulares. Acho que já o disse antes, mas isto, comparado com a situação há cinco ou seis anos, são vacas gordas. Bem diz o povo, não há fome que não dê em fartura.

 

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E não é por acaso, é fruto de vários anos de trabalho por parte da Federação – e não é a primeira vez que o digo.

 

Na verdade, a “moral da história” é mais ou menos a mesma que a dos jogos do mês passado: estamos bem, a começar um capítulo novo. Estamos a entrar no futuro.

 

Nesse aspeto, a Liga das Nações tem dado jeito para fazer essa transição. São jogos oficiais mas, aos olhos de muitos, não serão tão “importantes” como, por exemplo, um Apuramento para um Europeu ou Mundial, a pressão não é a mesma. No entanto, são jogos bem mais competitivos e exigentes que os habituais particulares. E, de qualquer forma, como fomos parar a um grupo pequenino, de apenas três equipas, conseguimos encaixar dois particulares para fazer outras experiências.

 

Confesso que me é um bocadinho estranho pensar que, daqui a um mês, estaremos já a encerrar a fase de grupos desta competição. É uma rotina nova de seleções, ainda estou a habituar-me. A melhor parte, de longe, é podermos vir a participar numa fase final num ano ímpar – outra vez. Melhor ainda, podermos vir a fazê-lo no nosso próprio país!

 

…mas estou a adiantar-me. Ainda nos falta um ponto. Esperemos até que os lugares na final four estejam confirmados antes de fazermos planos para junho. Até lá…

A Seleção de Todos Nós

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Na passada segunda-feira, 19 de Maio, pouco após as oito e um quarto da noite, Paulo Bento anunciou os vinte e três Convocados para representar Portugal no Mundial 2014. 
 
A cerimónia contou com uma certa pompa e circunstância quanto baste e começou com um discurso do presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Fernando Gomes. Neste, o presidente teceu rasgados elogios ao atual selecionador. Agora compreende-se que Fernando Gomes pretendia dar publicamente o seu voto de confiança a Paulo Bento, antes de uma Convocatória que, como todas as outras, causaria contestação. Na altura, contudo, ansiosa como me sentia, só pensava: "Ó senhor Presidente, ninguém quer saber! Deixe o Paulo Bento dizer os Convocados, que nós não podemos esperar mais!"
 
Acabou por não ser Paulo Bento a dizê-los, estes foram-nos apresentados sob a forma de vídeo:
 
 
Com este formato, houve tempo para digerir cada um dos nomes à medida que estes iam sendo anunciados. De uma maneira geral, eu aprovava cada um deles. Fui apanhada de surpresa pela inclusão de nomes como Rafa, Éder e Vieirinha. Senti um prazer culpado com as Chamadas dos meus adorados Hélder Postiga e Nani. Só mais para o fim do vídeo é que fiquei à espera do nome de Ricardo Quaresma mas a apresentação terminou antes que este fosse anunciado. Lembro-me de fitar o símbolo da Federação no fim do vídeo e pensar: "Oh não, ele não fez isto..."

Não se pode, contudo, dizer que hajam grandes surpresas na Convocatória. Para mim, a maior surpresa foi mesmo a exclusão de Quaresma, que não consigo mesmo compreender, por muito que me esforce. De uma maneira geral, Paulo Bento referiu dois critérios para justificar as suas escolhas: polivalência e estabilidade emocional. Não sou, nem de longe nem de perto, a pessoa mais habilitada para falar sobre o primeiro aspeto, que terá justificado as inclusões de Rafa,  Rúben Amorim e André Almeida, bem como a exclusão de Adrien. Quanto à estabilidade, à confiança, compreende-se. Paulo Bento chegou mesmo a enviar uma indireta a Danny quando referiu ser "preferível levar jogadores com vontade, determinação e compromisso". Para ser sincera, por muito boa vontade que tenha anteriormente demonstrado para com Danny, estava a ficar farta das confusões dele. De uma forma quase inconsciente, fiquei aliviada quando ele nem sequer entrou na pré-Convocatória. Nesta, concordo com Paulo Bento.

O caso de Quaresma - que, coitado, deve estar a ter um dejá-vu de 2006 - na minha opinião, é diferente de Danny. É certo que o jogador do F.C. Porto continua algo imaturo, apesar dos trinta e um anos, mas ao ponto de não merecer ir ao Mundial? Tenho as minhas dúvidas. É aqui também que reside a grande incoerência de Paulo Bento. O Selecionador alega que Quaresma esteve um ano e meio sem jogar, só se tornando selecionável nos últimos dois ou três meses. No entanto, tal situação não difere muito da de metade da Convocatória que, como tem sido ampla e jocosamente comentado nas redes sociais, falhou parte da época por lesão. Ainda que Paulo Bento afirme que Nani tem características diferentes de Quaresma, que o primeiro não esteve um ano e meio sem jogar, como o segundo, em termos práticos, na minha opinião, Quaresma fez mais pelo seu clube nos três ou quatro meses que jogou que Nani fez pelo dele desde o Euro 2012. Até Carlos Mané merecia mais estar no Mundial que Nani, nesse aspeto pelo menos - é claro que não é a decisão mais sensata um jogador de dezoito ou dezanove anos estrear-se pela Seleção num Mundial.

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Não sou, contudo, verdadeiramente capaz de contestar nem a Chamada de Nani nem a de Hélder Postiga. Estive em conflito comigo mesma durante as últimas semanas pois, se tanto as lesões de Postiga como a falta de ritmo de Nani me exasperavam, a verdade é que não queria o Mundial sem dois dos meus jogadores preferidos, mesmo que não fossem titulares. Passa-se um bocadinho o mesmo com o Eduardo. Não seria justo eu estar a criticar os outros casos de momentos de forma duvidosos. Desse modo, tirando a situação de Quaresma, não tenho muito mais a apontar a esta Lista Final. No entanto, não nego que isto se torna injusto para outros jogadores selecionáveis, com ritmo de jogo e comprovada qualidade, que ficaram de fora deste campeonato. Paulo Bento aparenta dar prioridade aos aspetos psicológicos, em detrimento, um pouco, dos aspetos técnicos. Tem a sua lógica: de nada serve termos trunfos no baralho que não temos maneira de utilizá-los. Ninguém pode negar que Marmanjos como Nani, Postiga, Eduardo e outros que tais sempre mostraram empenho quando vestem a camisola das Quinas. Vão na linha dos jogadores, de que falei anteriormente, que se saem melhor pela Seleção que pelos clubes. Não esquecer o caso de Nani que tem aquele talento que o Selecionador "não se dá ao luxo de desperdiçar", tal como afirmou há um ano. Ainda deve haver tempo para os "lesionados" (Ronaldo incluído) recuperarem até ao Mundial e, de qualquer forma, duvido que muitos desses venham a ser titulares. Mas até que ponto, contudo, conseguirão as pernas acompanhar a vontade de fazer bem?

Eu confio em Paulo Bento, apesar de todas estas dúvidas. Tal como o disse antes da Convocatória, acredito que ele sabe o que está a fazer, que ele saberá tirar o melhor proveito dos jogadores que Escolheu, colocando-o ao serviço de Portugal. Como sempre, têm sido tecidas várias críticas a esta Convocatória, umas mais construtivas do que outras. Há dois anos, as mais destrutivas ter-me-iam enfurecido. Hoje, apenas me despertam indiferença. Tal como já referi anteriormente, caso o Mundial nos corra de feição, todas essas alminhas aziadas se esquecerão desses comentários e juntar-se-ão à festa, como se nunca tivessem duvidado da Turma das Quinas. Citando João Querido Manha, "a partir de agora, esta é a Seleção de Portugal, é a Seleção de todos nós". Tudo o resto é irrelevante.

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Tirando os portugueses do Real Madrid (não sei se Vieirinha já chegou), a Seleção encontra-se já reunida em Cascais, tendo já começado a Operação Mundial. É lá que o meu coração se encontra sediado. Tal como na próxima semana estará sediado em Óbidos, depois em New Jersey, nos Estados Unidos, até finalmente aportar em Terras de Vera Cruz. Apesar de, segundo o que disse anteriormente, o Verão ter começado na segunda-feira, a verdade é que o tempo piorou desde esse dia. Não faz mal. Agora, que estamos finalmente em Modo Seleção, o Sol arranjará sempre maneira de brilhar por entre a chuva, tal como reza um dos temas da minha playlist da Equipa de Todos Nós. E é meu desejo que este período abençoado se prolongue o mais possível.