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O Meu Clube É a Seleção!

Mulher de muitas paixões, a Seleção Nacional é uma delas.

Especial Aniversário: Top 10 Jogos da Seleção Portuguesa #1

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Hoje completo oito anos (!!!) como blogueira graças aqui a "O Meu Clube é a Seleção!". Este ano quis fazer algo para assinalar a data, algo diferente. Resolvi apresentar os meus dez jogos da Seleção preferidos – entre outras coisas, é uma oportunidade para escrever sobre partidas marcantes que ocorreram antes de inaugurar este blogue. Além disso, é mais do que apropriado recordar grandes jogos da Seleção poucos antes de começarmos a preparar um Europeu, para o qual partimos com ambições.

 

Uns alertas rápidos antes de começar: em primeiro lugar, só comecei a ligar a sério ao futebol e à Seleção por volta de 2002. Assim sendo, este top não incluirá jogos do Euro 2000 nem de campeonatos anteriores (quem me dera ter estado cá para ver o Mundial de 66!).

 

Em segundo lugar, como costuma ser a regra neste blogue, este top é muito subjetivo. Não me vou basear tanto em aspetos técnicos, de qualidade propriamente dita do futebol praticado porque, sejamos sinceros, eu não percebo assim tanto dessa vertente. Basear-me-ei antes nos aspetos mais sentimentais, no que significou aquele jogo para mim, aqueles jogos que permaneceram na minha memória em vez de se perderem no meio de dezenas de outros jogos.

 

Por fim, queria avisar para não levarem a posição dos jogos no top 10 demasiado à letra. Em alguns casos, a diferença entre duas posições consequentes é mínima.

 

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Esta lista possui Menções Honrosas. Sem nenhuma ordem em especial, começo por falar dos jogos com Angola, o Irão e o México no Mundial 2006. Na minha opinião, este campeonato valeu sobretudo pela consistência da caminhada, não tanto por jogos individuais particularmente emocionantes, com uma exceção. Daí que não encontrem muitos jogos desse Mundial no top.

 

Refiro, também, o Portugal x Rússia da Qualificação para o Mundial 2006, uma expressiva vitória por 7-1. O intervalo de tempo entre o nosso segundo jogo do Euro 2004 e o nosso antepenúltimo do Mundial 2006 foi uma era dourada para a Seleção Portuguesa.

 

Por outro lado, incluo também o nosso jogo com a Espanha do Euro 2012. Sim, foi uma derrota mas, na minha opinião, foi uma derrota honrada, foi uma das nossas melhores derrotas. O domínio foi quase sempre nosso, fomos a única equipa no Euro 2012 capaz de fazer frente à Espanha. Oficialmente, era a meia-final, mas teve mais de final que o jogo com a Itália, poucos dias depois. Infelizmente abordámos mal os penálties.

 

Por fim, queria incluir o Portugal x Sérvia do ano passado – só porque foi o primeiro jogo da Seleção em muito tempo a que assisti… em que a Seleção ganhou.

 

Como tenho muito a dizer sobre estes jogos, este top virá dividido em duas entradas. Esta é a primeira parte, a segunda parte virá mais tarde, ainda hoje em princípio.

 

Sem mais delongas, comecemos com o número 10.

 

10) Portugal x Espanha (novembro de 2010)

 

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Mesmo sendo um jogo particular, não é todos os dias que se goleia a corrente campeã europeia e mundial. Muito menos apenas dois meses – mais coisa menos coisa – após uma crise e uma troca de treinadores. Não contou para muito, teria trocado de bom grado esta vitória por uma nos oitavos-de-final do Mundial 2010 ou, sobretudo, nas meias-finais do Euro 2012 No entanto, na altura em que ocorreu, esta vitória foi importante para levantar um pouco mais a moral, quando o Mundial 2010 e o caso Queiroz ainda estavam frescos na memória e quando a Qualificação para o Euro 2012 ainda ia a meio. Considero que este foi um dos primeiros sinais a indiciar que esse Europeu nos traria alegrias.

 

9) Suécia x Portugal (novembro de 2013)

 

 

Este é o jogo mais recente deste top. A segunda mão do playoff de acesso ao Mundial 2014 marcou, não apenas pela vitória em si, mas também pelas circunstâncias. Como poderão ler aqui, este encontro realizou-se no aniversário da minha irmã, daí ter ganho um significado especial para nós (ainda hoje, quando vemos resumos do jogo, durante as celebrações dos três golos portugueses, a minha irmã diz algo como: “Se prestarem atenção, hão de ouvir o Ronaldo a gritar: ‘Parabéns, Mafalda!’”). Foi também uma vitória que fez muita gente fazer figura de parva: começando por Joseph Blatter, que poucas semanas antes protagonizara o triste episódio do Comandante e do bom menino; passando por vários adeptos suecos, que usaram vários truques sujos para nos destabilizar, sobretudo Ronaldo (tocando músicas provocatórias na chegada dos portugueses, fazendo barulho junto ao hotel onde estes estavam alojados…); terminando na triste campanha da Pepsi sueca. Dá um gozo especial quando conseguimos rir por último (mais sobre isso adiante). Por fim, referir também o épico relato do Nuno Matos, acima, o “És o melhor do Mundo, ca*****!” e o vídeo de agradecimento que a Seleção filmou.

 

Na verdade, este jogo só não está numa posição mais cimeira nesta tabela porque foi demasiado um one-man show, foi mais uma vitória de Ronaldo do que do resto da Seleção. A equipa chegou a atrapalhar mais do que a ajudar – essa Ronaldo-dependência virar-se-ia contra nós de maneira trágica uns meses mais tarde, no Brasil (e nestas últimas semanas, em que Ronaldo se tem debateu com uma lesão, tive medo que o mesmo se repetisse em França). De qualquer forma, o fraco desempenho da Seleção no Mundial 2014 não estragou as minhas recordações dos playoffs. Quando mais não seja porque deixou-nos viver na ilusão durante mais uns meses.

 

8) Portugal x Dinamarca (outubro de 2010)

 

 

Estou sempre a falar deste jogo, não vos vou maçar mais repetindo o que já escrevi inúmeras vezes aqui no blogue e na página do Facebook. Deixo o link para a análise a esse jogo e digo apenas que, na minha opinião, foi aqui que começou o ciclo que culminaria com as meias-finais do Euro 2012.

 

7) Portugal x Bósnia (novembro de 2011)

 

 

A segunda mão dos playoffs do Euro 2012 foi outro jogo emocionante. Não foi muito diferente do que seria o segundo jogo com a Suécia, em 2013, mas foi melhor – porque não foi apenas Ronaldo a brilhar (ele marcou dois golos, calando adeptos bósnios gritando por Messi), foi a equipa toda: Nani enviou uma bomba daquelas, Postiga marcou duas vezes, Miguel Veloso marcou de livre. Tal como aconteceria daí a dois anos em menor escala, esta foi uma vitória contra uma série de fatores empenhados em deitar-nos abaixo: um ex-selecionador que aproveitara o nosso único deslize em um ano para mandar farpas (acho que nunca perdoarei Queiroz…); a própria UEFA que nos obrigou a disputar a primeira mão num batatal, ignorando os nossos pedidos para trocar de campo (apesar de a seleção francesa ter conseguido essa troca, cerca de um mês antes); os responsáveis bósnios que regaram a relva antes do jogo, ignorando também os nossos pedidos, o que piorou ainda mais o estado do campo; os lasers que adeptos bósnios apontaram à cara de Ronaldo, entre outras coisas. Um jogo épico que teve o sabor de uma final, em que até houve hino no fim do jogo e tudo, que indiciou a boa campanha que a Seleção realizaria poucos meses mais tarde, no Euro 2012.

 

6) Portugal x Holanda (2012)

 

 

O Euro 2012 e as semanas antes foram um dos melhores períodos da minha vida. Como adepta da Seleção foi um ponto alto pois, para além de ter sido chamada à televisão a propósito deste blogue, pela primeira vez desde que inaugurara aqui o estaminé, a Equipa de Todos Nós estava a fazer um campeonato, não digo ao nível dos de 2004 ou 2006, mas lá perto. Pela primeira vez, escrevia no blogue sobre um campeonato de seleções que valia a pena ser recordado. Naturalmente, tinha de incluir jogos do Euro 2012 nesta lista.

 

Este foi o jogo que pôs fim a meses de dúvidas e nervosismo. Desde que o sorteio da fase de grupos do Euro 2012 nos colocara no chamado Grupo da Morte, todos sabíamos que seria muito difícil chegarmos aos quartos-de-final da prova. Do mesmo modo, sabíamos que, se passássemos o grupo, seríamos automaticamente candidatos ao título. Esta vitória trouxe um grande alívio, uma grande alegria, surpreendeu os mais céticos. Tendo em conta que, dois anos volvidos, não passaríamos o grupo do Mundial 2014, hoje valorizo ainda mais essa vitória. Recordo-me em particular de eu e a minha irmã fazermos um duplo high-five enquanto gritávamos: “PASSÁMOS A FASE DE GRUPOS!!”.

 

Falando do jogo em si, a Seleção fez uma exibição excelente, tirando o golo sofrido no início do jogo. A maior estrela foi Ronaldo, ao apontar dois golos – que dedicou ao filho, que fazia dois anos no dia do jogo – mas, lá está, não deixou de ser um triunfo de equipa. Ficou claro que os próprios Marmanjos sentiram esta vitória – Miguel Veloso tinha lágrimas nos olhos na flash-interview e, mais tarde, a equipa passou a noite a cantar.

 

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Paulo Bento foi algo agressivo na Conferência de Imprensa que se seguiu e os jogadores recusaram as flash-interviews fora do campo. Até compreendo o ponto de vista deles, já que a Imprensa não andava a ser meiga. No entanto, hoje não acho que a acusação de Paulo Bento – de que alguns dos jornalistas estariam a torcer contra Portugal – tenha tido fundamento. Existem muitos críticos da Seleção, muitos céticos, alguns clubistas aziados, mas se houve coisa que aprendi com o Euro 2012 foi que, nas grandes vitórias da Seleção, como esta, não existe alma nenhuma que não fique feliz (tirando Pinto da Costa e mesmo assim). Há muita hipocrisia nessa alegria, é certo, muito aproveitamento, mas foi uma das coisas que mais feliz me fez durante esse Europeu: ter toda a gente a falar sobre as vitórias da nossa Seleção. Foi verdadeiramente a Equipa de Todos Nós.

 

No entanto, estando eu sempre aqui, no melhor e no pior, estas vitórias são mais minhas que de muitos por aí, reservo-me esse direito. O mesmo tornará a acontecer quando a Seleção voltar a ter triunfos como este – que estes aconteçam já no próximo mês.

 

5) Portugal x Inglaterra (2006)

 

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Portugal tem um particular com a Inglaterra marcado para o próximo mês. Vai ser no mínimo interessante reencontrar os nossos amigos ingleses dez anos depois, quando os últimos três jogos disputados foram tão… interessantes, cada um à sua maneira.

 

Conforme referi acima, não considero os jogos individuais do Mundial 2006 assim tão memoráveis. O jogo dos quartos com a Inglaterra é a única exceção e isto, mesmo assim, deve-se quase exclusivamente à parte final. Antes de nos focarmos no jogo em si, contudo, quero falar das circunstâncias em que este ocorreu. Nos dias que antecederam e nos que se seguiram ao jogo, a Imprensa inglesa esteve de armas apontadas à nossa Seleção. Antes do jogo, o motivo era, obviamente, destabilizar-nos (algo em que falharam redondamente pois quem esteve de cabeça perdida naquele jogo foram os ingleses). Não resisto a referir um episódio, descrito no livro “A Pátria Fomos Nós”. Consta que, numa conferência de Imprensa em que os jornalistas ingleses foram criticados pela sua campanha contra a Seleção Portuguesa, alguém perguntou a Pedro Pauleta:

 

- Afinal de contas, de quem é que vocês têm mais medo? Da Seleção inglesa ou dos jornalistas ingleses?

 

Eis a resposta do ponta-de-lança:

 

- Ao fazer uma pergunta dessas, vê-se que não conhece a História de Portugal. Se conhecesse, saberia que os portugueses nunca têm medo de nada. Foi sem medo que chegámos a todos os lugares do Mundo. Somos um país pequeno e respeitamos toda a gente. E exigimos respeito por nós. Só isso.

 

Se eu tivesse estado lá neste momento, teria aplaudido. Grande Pauleta!

 

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Infelizmente, a campanha dos ingleses nos dias que se seguiram ao jogo foi muito mais feia e… duradora. Tudo porque, se bem se recordam, os ingleses culparam Cristiano Ronaldo pela expulsão de Wayne Rooney. Ainda hoje se fala deste episódio – aposto que vão voltar a falar dele aquando do próximo jogo, no mês que vem. Os ingleses, ao que parece, não repararam que Rooney pisara, deliberadamente, Ricardo Carvalho nos… bem, numa zona sensível. A meu ver, era uma expulsão legítima. O “crime” de Ronaldo foi pressionar o árbitro a favor da expulsão (como se ele fosse o primeiro jogador de futebol a fazer uma coisa dessas…). Pelo meio, uma câmara apanhou Ronaldo a piscar o olho ao banco português, algo que os ingleses associaram ao lance.

 

Dizer que Ronaldo foi mal recebido quando regressou ao Manchester United depois do Mundial é eufemismo. Eu, na altura, defendi a sua saída do clube, a transferência para o Real Madrid ou para qualquer outra equipa, fora de Inglaterra. No entanto, Ronaldo ficou (consta que Sir Alex Ferguson interveio pessoalmente na questão, como forma de manter o jogador) e fez uma das suas melhores épocas em Inglaterra, ganhando ainda mais o meu respeito. Toda esta história é capaz de ter sido um dos primeiros exemplos da frase que lhe é atribuída: “Your love makes me strong, your hate makes me unstoppable”.

 

Regressemos aos quartos-de-final do Mundial 2006. Conforme referi acima, os 120 minutos de jogo não foram particularmente memoráveis, tirando a expulsão de Rooney. Este jogo é recordado pelos penálties, pelas três defesas de Ricardo – algo inédito em Mundiais. Ricardo desvalorizou o seu próprio mérito, na altura. “Eles estavam mortos”, terá ele dito, segundo o livro “A Pátria Fomos Nós”, mais uma vez. “Eu via nos olhos deles. Não tinham confiança nenhuma”. Uma boa prova disso foi aquele inglês, que chutou antes de o árbitro apitar. De qualquer forma, a postura gélida de Ricardo, na baliza, não terá de todo deixado os ingleses menos nervosos.

 

Vou deixar a narrativa dos penálties para o grande Nuno Matos. Ainda hoje, passados todos estes anos, depois de ter visto este vídeo inúmeras vezes, não consigo deixar de rir com a maneira como ele e Alexandre Afonso (penso que é ele…) transmitem a montanha-russa de emoções que foi este desempate.

  

 

Queria chamar a atenção, por fim, para o penálti decisivo, marcado por Cristiano Ronaldo (penálti esse que agravou ainda mais a azia inglesa). Como poderão ver no vídeo acima, antes de rematar, o (na altura) jovem fez questão de beijar a bola. Depois de executar o penálti, fica a sensação que ele demorou uns segundos a perceber que o seu penálti decidira o jogo. Nessa altura, no meio dos festejos, apontou para o céu e gritou:

 

- Estou aí!

 

Só prova que Cristiano Ronaldo sempre teve uma queda para os grandes momentos.

 

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Por fim, dizer apenas que, aquando deste jogo, eu e a minha família estávamos a passar férias no Algarve. Sendo verão, aquilo estava, naturalmente, cheio de turistas ingleses. Vimos o jogo sozinhos, mas depois fomos todos festejar para a rua principal. Tirámos fotografias e tudo, como podem ver acima (a da esquerda sou eu, a da direita é a minha irmãzinha). Foram dos melhores festejos de uma vitória da Seleção de que me recordo (tirando um ou outro do Euro 2004). Não era para menos, foi a primeira vez que via a Seleção chegar tão longe num Mundial. Que não seja a última…

 

Segunda parte do top aqui.

A Pátria Fomos Nós

Era para publicar este texto na página do Facebook mas este tornou-se demasiado longo, logo, incompatível com uma rede social que pede consultas rápidas. Deste modo, quebro o hábito, muito enraizado, de só publicar no blogue quando acontece alguma coisa de relevante com a Seleção e venho falar-vos de um livro.

Há pouquíssimos dias, mudei de casa, depois de muitas semanas empacotando o conteúdo do apartamento antigo. Não fazem ideia da tralha que acumulámos ao longo de vinte anos... Nestas alturas, contudo, temos também a felicidade de encontrar coisas que há muito julgávamos perdidas. Este exemplar de A Pátria Fomos Nós é um exemplo desses objetos.

Este livro é da autoria de Afonso de Melo, que foi Assessor de Imprensa da Seleção Nacional entre 2004 e 2006. Foi escrito durante o Mundial da Alemanha como uma espécie de diário da jornada da Seleção durante essa fase final. Digo "uma espécie" pois não fala apenas sobre a Equipa de Todos Nós. É frequente o autor divagar, recorrendo a muitas referências culturais, mas acaba por se relacionar quase tudo, de uma forma ou de outra, com o futebol.

Por motivos óbvios, adoro o livro. Comprei-o faz agora seis anos, mais coisa menos coisa, poucos meses após a sua edição. Durante dois anos reli-o várias vezes - uma das quais foi um ano após o Mundial 2006, em que ia lendo a cada dia o texto correspondente ao mesmo dia do ano anterior. Foi uma das coisas que me deu vontade de criar o blogue O Meu Clube é a Seleção. Sei que a última vez que o li antes de o "perder" foi durante o Euro 2008, no dia do Portugal-Alemanha, como forma de me entusiasmar para o jogo. Vejo agora que, depois disso, enfiei-o numa pasta, juntamente com uma série de jornais da altura - outra coisa que vocês não podem imaginar é a quantidade de jornais desportivos noticiando sobre jogos da Seleção que eu fui guardando ao longo destes anos... Esta pasta foi, seguidamente, atirada para debaixo da minha cama e nunca me dei ao trabalho de voltar a esvaziá-la durante quatros anos.

Encontrei o livro de novo na semana passada e, quatro anos, duas fases finais e duas trocas de Selecionador mais tarde, tornei a lê-lo. Enquanto lia e recordava a situação da Seleção aquando do Mundial 2006, não pude evitar fazer comparações entre essa altura e o momento atual.

Sendo o autor jornalista e, na altura, Assessor de Imprensa da Seleção, este gasta várias páginas do livro tecendo críticas à Comunicação Social, portuguesa e estrangeira, a certos comentadores, ao assédio da Imprensa à Equipa das Quinas. Hoje, seis anos mais tarde, na era dos blogues, do Facebook e do Twitter, estamos pior. Hoje, qualquer gato pingado (eu incluída) pode "opinar" publicamente sem perceber do assunto sobre que escreve.

Além de que, em 2006, as críticas nunca partiram de um ex-selecionador rancoroso.

Em termos de jogadores e treinador, a Seleção está completamente diferente. Paulo Bento não é Luiz Felipe Scolari. Os únicos "sobreviventes" são o Cristiano Ronaldo, o Hélder Postiga e o Hugo Viana - embora este nem sequer seja um Convocado habitual. Ninguém pode substituir jogadores como Luís Figo e Pedro Pauleta. E muitos dos Marmanjos elogiados no livro - Ricardo Carvalho, Paulo Ferreira, Deco - desiludiram-me nestes últimos anos.


No entanto, existem pequenas grandes coisas que se mantiveram, ainda que não de uma forma constante. Pelo menos, sei que estiveram presentes durante a boa campanha no Euro 2012. A união popular em torno da Equipa de Todos Nós, quando o resto do País só nos dava desilusões - mais agora que em 2006. O facto de a união e a amizade serem o ponto forte da Seleção Nacional, tal como, segundo o livro, Costinha terá afirmado em vésperas do Rússia-Portugal, de setembro de 2005.

O autor escreveu algumas vezes ao longo do texto frases como: "Portugal está sempre em vantagem! Eles eram 40 mil e nós um só". A Seleção foi também uma só durante o Euro 2012, jogadores e equipa técnica foram um só. Daí a nossa campanha.

O livro termina com a seguinte frase, a seguinte promessa: "Um dia traremos a taça...". Continuo à espera que se cumpra. Julgo que já estivemos mais longe, mesmo assim. Mas isso é conversa para outra ocasião. Para já, tal como fiz no domingo passado, a propósito do aniversário de Luís Figo, ao longo dos próximos dias tenciono partilhar com  vocês na página do Facebook algumas das minhas passagens preferidas do livro. Mantenham-se ligados!

Por isso e porque para a semana há jogo da Seleção!

Crise existencial em altura de aniversário

Depois de semanas à espera, incluindo um abril invulgarmente cinzento e chuvoso em vários aspetos, finalmente encontramo-nos em vésperas do Anúncio dos Convocados que representarão Portugal na fase final do Campeonato Europeu de Futebol, que terá lugar na Polónia e na Ucrânia no próximo mês. Estes dias ficam ainda marcados pelo quarto aniversário deste meu blogue, O Meu Clube é a Seleção, inaugurado a 12 de maio de 2008.

Não se pode dizer em rigor que tenho escrito neste blogue há quatro anos. A minha ideia inicial era mantê-lo apenas durante a fase final do Europeu de há quatro anos, estive praticamente um ano sem atualizar o blogue.

Quando penso nisso agora, se calhar não terá sido muito má ideia ter suspendido o blogue por essa altura. Não se deram muitos acontecimentos relacionados com a Seleção nesse ano e os poucos que se deram foram, na sua maioria, tropeções na Qualificação para o Mundial 2010 - assuntos extremamente deprimentes. No entanto, mesmo nessa altura, eu ia fazendo as minhas reflexões por escrito - mais valia tê-las publicado no blogue, para ajudar outras pessoas sem ser apenas eu própria, incluindo, se calhar, os próprios jogadores, a processarem a frustração inerente às sucessivas desilusões e, ao mesmo tempo, transmitir-lhes coragem e esperança. 

Acabou por ser, em parte, por esse motivo que retomei o blogue em junho de 2009. Em parte por isso, o resto porque, pura e simplesmente, tinha imensas saudades de escrevê-lo. A altura em que voltei a atualizá-lo acabou por coincidir com o ponto de viragem no percurso da Seleção para o Mundial 2010 - mais ou menos. E, desde essa altura, com uma ou outra exceção alheia à minha vontade, nunca mais deixei de publicar entradas sempre que a Equipa de Todos Nós tinha um jogo ou estava envolvida nalgum acontecimento importante. 

Tenho bem a noção de que o meu blogue tem tido pouquíssimos leitores, por mais promoção que tente fazer. Que, na prática, teria quase a mesma audiência que obtenho com este blogue se escrevesse sobre a Seleção num diário pessoal (como fazia antes de 2008). E embora isso às vezes me desanime, não me impede de continuar a escrevê-lo. Sempre gostei de escrever, sempre gostei de escrever sobre a Seleção, se houver hipóteses de ajudar a Equipa de Todos Nós dessa maneira, nem que seja apenas um pouco, fá-lo-ei com todo o prazer.

Há coisa de dois meses e meio, inaugurei a página de Facebook de apoio ao blogue. Ao longo deste tempo, esforcei-me por publicar pelo menos uma vez por dia - o que desafia a minha criatividade. Nunca quis que o meu blogue fosse uma mera fonte de notícias sobre a Turma das Quinas. Criei-o para que fosse um espaço onde pudesse expressar as minhas opiniões. Do mesmo modo, não queria que a respetiva página de Facebook transmitisse apenas as últimas novidades sobre a Seleção. Já existem imensas fontes de notícias assim na Internet - sem querer desvalorizar páginas como o Gosto da Seleção Portuguesa, que tem feito um excelente trabalho ao fornecer, entre outras coisas, imagens engracadíssimas referentes à Equipa de Todos Nós. Além de que já partilhou o meu vídeo para The Climb. O que tenho tentado fazer é publicar notícias, fotografias, vídeos, músicas juntamente com as minhas opiniões sobre o assunto. Houve alturas em que não acontecia nada relacionado com a Seleção e não era fácil arranjar algo que publicar. Foi difícil resistir à tentação e pura e simplesmente voltar a partilhar publicações de páginas como as acima mencionadas. Mas ajudou a mitigar a abstinência de Seleção.

Para além de páginas como o Gosto da Seleção Portuguesa, outra fonte de notícias que me foi bastante útil foi o Alerta do Google que já tinha criado há alguns meses, para me avisar sempre que surjam publicações sobre a Seleção Nacional na Internet. Não é tão seletivo como o ideal, às vezes aparecem-me artigos sobre o clube brasileiro A Portuguesa, por exemplo.

Ora, há cerca de dois meses, apareceu-me nos Alertas uma publicação no Yahoo Answers com a seguinte pergunta:

"Qual (é) o problema da Seleção Portuguesa?"

"Esses dias tenho pensado num problema tradicional da seleção portuguesa... Uma seleção cheia de grandes jogadores como CR7, Quaresma, Ricardo Carvalho, Deco, Pepe, Pauleta, Nani... E outros aposentados como Luís Figo... mas nunca conseguiu nada mais que semi-finais de euros e copas... qual o problema dessa seleção?? que cheia de sensacionais jogadores, amarela nos títulos???"

Fonte: AQUI

Quando vi o título da pergunta pela primeira vez, fiquei a olhar para aquilo estilo: "um brasileiro conseguiu resumir numa linha aquilo com que nos andamos a debater há anos!" Nunca pensei que fosse possível simplificar as coisas a este ponto. Mas faz sentido que tenha sido um brasileiro a formular a pergunta dos duzentos mil euros, pois é capaz de ser mais racional, mais isento do que um português.

Realmente, qual é o nosso problema, afinal? Somos há anos, para aí desde 2000, 2002, 2004, considerados candidatos ao título em cada campeonato de seleções por possuírmos jogadores "de classe mundial". Figo, Rui Costa, Nuno Gomes, Pauleta, Deco, Cristiano Ronaldo, Nani, Fábio Coentrão... No entanto, na hora da verdade, na hora de provarmos que somos candidatos ao título, caímos sempre. O que é que está a falhar?

Analisemos a coisa...


Começarei pelo Euro 2004, que foi a altura em que comecei a acompanhar a Seleção de perto. É-me cada vez mais claro que perdemos uma oportunidade de ouro - não, não, de platina! - com este campeonato: jogávamos em casa, tínhamos a base da equipa que, no ano anterior, dera a Taça UEFA e, nesse ano, a Champions ao FC Porto, tínhamos veteranos como o Figo e o Rui Costa e promessas como o Cristiano Ronaldo, tínhamos o entusiasmo dos adeptos, tínhamos todas as condições, devia ter sido tudo nosso. Ainda hoje, passados oito anos, não compreendo como é que o deixámos escapar. Há quem fale de inexperiência, excesso de confiança, de euforia ou simplesmente azar. O que é certo é que é muito difícil - para não dizer impossível - termos circunstâncias tão favoráveis como tínhamos em 2004. Cada vez me apercebo mais disso. Devia ter sido tudo nosso.


O Mundial 2006 foi outra boa oportunidade desperdiçada, embora seja discutível se tal aconteceu por culpa nossa, se foi justo. Ainda não estou convencida de que aquele lance envolvendo o Ricardo Carvalho e o Thierry Henry era mesmo penálti. De qualquer forma, a final de Berlim foi fraquinha, Portugal devia ter estado lá. E visto que a Itália só venceu nos penálties, acho que poderíamos ter ganho.

Neste caso, contudo, o karma funcionou pois os nossos amigos franceses nunca mais fizeram nada de jeito desde aquela noite em Nuremberga. Começando pela cabeçada de Zidane e acabando nos tristes episódios  ocorridos no Mundial 2010. Como dizia a minha irmã quando era pequenina: "Deus castiga sem pau nem pedra!"


Aquando deste Europeu, a Seleção já não estava ao nível a que estivera aquando dos campeonatos anteriores. Figo e Pauleta já tinham abandonado a Equipa de Todos Nós dois anos antes e a base da equipa do FC Porto que ganhara a Taça UEFA e a Champions já se dissolvera há muito. Até tivemos um bom começo, com vitórias frente à Turquia e à República Checa. O pior foi a notícia de que Luiz Felipe Scolari, um dos heróis do Euro 2004 e do Mundial 2006, o homem que nos reaproximou da Seleção, iria trocar-nos pelo Chelsea - ainda hoje, passados quatro anos e duas estreias de treinadores, não consigo perdoar-lhe por nos ter deixado assim. A notícia é capaz de ter desestabilizado a Seleção pois não fizemos mais nada de jeito nesse campeonato depois do anúncio. Perdemos contra a anfitriã Suíça no último jogo do grupo, que só serviu para cumprir calendário. Depois, pura e simplesmente não conseguimos suplantar a terrivelmente eficaz Alemanha nos quartos-de-final, apesar de termos lutado até ao fim. Não se podia pedir mais do que isso.


Julgo que, neste caso, foi o método de Carlos Queiroz que não funcionou, na minha opinião. Só ganhámos à Coreia do Norte, de longe a adversária mais fraca do nosso grupo. Se tivéssemos abordado os jogos de maneira diferente, da maneira como, se calhar, Paulo Bento abordaria, provavelmente teríamos ganho à Costa do Marfim, talvez até ao Brasil, poderíamos ter terminado o grupo em primeiro lugar, evitado a Espanha e avançado mais na prova.


Como podem ver, as razões para os nossos falhanços são várias e já foram dadas por muitos: fatores internos, fatores externos, desculpas atrás de desculpas, cada uma mais esfarrapada do que a anterior, adeptos bipolares que, em segundos, passam da euforia à disforia e vice-versa, formação deficiente de jogadores, desvalorização do futebolista português... Quem conseguir encontrar uma explicação para esta ausência de títulos tão linear como a pergunta que originou esta crise existencial, merece o prémio Nobel.



Enquanto se procura uma resposta à pergunta, estamos à porta de mais uma fase final de um campeonato de seleções. E como já vai sendo tradição, faço aqui o meu prognóstico: considero que a Seleção está mais forte do que estava há dois anos, antes do Mundial 2010. Paulo Bento afirmou, inclusivamente, que as dificuldades porque passámos no Apuramento - que incluíram aquilo que, na minha opinião, foi o pior momento de sempre da Turma das Quinas - nos tornaram mais fortes, dar-nos-ão "motivação e confiança". Como já afirmei antes, se nos esperasse um grupo como o que tivemos na África do Sul, não estaria muito preocupada. Contudo, como já escrevi em dezembro último, Deus quis que a gente sofresse no Euro 2012. Estamos mais fortes em vários aspetos, sim, disso não existem dúvidas, mas não sei se estaremos suficientemente fortes para sobrevivermos ao Grupo da Morte.

Acho muito difícil ganharmos à Alemanha. Talvez arranquemos um empate se tivermos (muita) sorte do nosso lado. Com a Dinamarca, o nosso historial recente não nos é favorável, ao longo dos últimos anos complicaram-nos várias vezes a vida à grande e à dinamarquesa. Contudo, se conseguimos vencê-los há ano e meio, pouco depois de uma crise gravíssima, com um treinador recém-chegado, após apenas dois ou três treinos, certamente será possível vencermos após duas ou três semanas de estágio e dois particulares e com a motivação extra de estarmos na fase final de um campeonato de seleções. Em relação à Holanda, é difícil fazer previsões. Expulsámo-los duas vezes de fases finais, mas a última vez ocorreu há seis anos. Além disso, estamos a falar dos vice-campeões Mundiais. Em quem é que vocês apostariam?

Talvez consigamos passar aos quartos-de-final, mas é um grande "talvez" e não é de todo descabido pensar que não vamos conseguir (três vezes na madeira). Luís Freitas Lobo resumiu-o de uma forma brilhante há uns meses, no Público: "Se Portugal passar é um grande feito. Se for eliminado, temos de encarar isso de uma forma natural." Ninguém poderá criticar abertamente se não conseguirmos passar a fase de grupos, mas sei que o pessoal ficará ressentido. Aposto que, nestas semanas de antecipação do Europeu, será muito vendida a ideia da Seleção como remédio anti-crise. Eu vendi essa ideia anteriormente e tenciono continuar a fazê-lo. Teremos motivos para desejar a Taça que, se calhar, não tínhamos em 2004, 2006 ou mesmo em 2008 e 2010. De igual modo, teremos motivos para nos sentirmos desiludidos se falharmos que não tínhamos anteriormente.

Devo dizer (e acho que não é a primeira vez que o digo) que me enojam perfeitamente esse tipo de adeptos, bipolares, que só apoiam a Seleção quando esta vence, cujo "casamento" com as Quinas não é no melhor e no pior. O meu é, devo ser uma espécie em vias de extinção, mas já perdi, se não todas, pelo menos noventa por cento das ilusões que, se calhar, tinha há oito anos. Como é que querem que eu as tenha quando jogadores como o Simão, o Miguel, o Paulo Ferreira se puseram a andar quando as coisas começaram a correr mal? (leia-se, quando rebentou o caso Queiroz). Não me deixarei iludir pelo marketing todo, pelos discurso de que "tudo está bem" na Seleção. Pelo menos, manterei sempre uma certa reserva.

Já não é, aliás, o patriotismo que me liga às Quinas - eu gosto da Equipa de Todos Nós precisamente por, pelo menos nalguns aspetos, não ter nada a ver com o País que representa. A Seleção é literamente e cada vez mais apenaso meu clube (escolhi mesmo bem o nome para o meu blogue...). Tamém sei que nem todos os jogadores se movem pelo patriotismo, se é que algum se move, que muitos deles só vestirão a camisola enquanto lhes for conveniente.

Contudo, continuarei a apoiar porque, mesmo que já não confie nos outros adeptos, nem confie a cem por cento nas palavras e nas intenções dos Marmanjos, acredito nas ações deles. Porque é através de jogos como aquele com a Dinamarca, em outubro de 2010, com a Espanha no mês seguinte, com a Bósnia em novembro último, no Estádio da Luz, que a Turma das Quinas retribui o apoio que pessoas como eu lhe dão. E como a Seleção já provou conseguir superar-se, aposto que teremos direito a mais jogos como esses no Euro 2012. Mesmo que agora esteja mais consciente do que estava há quatro anos, quando inaugurei o blogue, de que é pouco provável nós levantarmos a Taça, que o mais certo é tudo acabar "em desilusão e poeira" (não me perguntem de quem é esta citação, porque não me lembro...), de que nem toda a gente apoia tão desinteressadamente como eu a Equipa que devia ser de Todos Nós, incluindo os próprios jogadores, o meu amor pela Seleção continua intacto ao fim de todos estes anos e ainda não abandonei a esperança que tinha, em maio de 2008, de um dia publicar uma entrada sobre o nosso primeiro título a nível de Seleção A. Hei de publicá-la um dia, seja daqui a mês e meio, dois anos, quatro, sei, dez, vinte ou cinquenta. Que diabo, se só conseguirmos levantar uma Taça depois de eu ter falecido, se eu só puder acompanhar esse momento através do relato de Jorge Perestrelo, espero que o Céu tenha acesso à Internet! Até lá, continuarei a encarar cada fase final de campeonatos de seleções da mesma forma: pensado jogo a jogo, mantendo ambos os pés assentes na Terra, sem contudo deixar de aproveitar cada momento de cada uma das viagens.

A viagem rumo à final de Kiev começa segunda-feira, dia 14 de maio, na Casa da Música, em Óbidos, às 20h. Como sempre, acompanharei a jornada desde início e utilizarei o blogue e a página do Facebook como diários de bordo. Agora, é ver até onde a Seleção Nacional consegue ir.