Portugal 2 Sérvia 1 - A verdadeira emoção do futebol
No passado domingo, dia 29 de março, a Seleção Portuguesa de Futebol venceu a sua congénere sérvia por duas bolas a uma, em jogo a contar para o Campeonato Europeu da modalidade, que terá lugar em França, no próximo ano. Este jogo teve lugar no Estádio da Luz... e eu estive lá.
Vim ao Estádio da Luz acompanhada apenas pela minha irmã. Já estamos habituadas a ir juntas ao futebol - esta época temos ido a vários do Sporting. Ainda que até aprecie estes jogos (gosto de ouvir a claque a cantar), não os vejo (nem esses, nem nenhum outro jogo) com a mesma paixão com que vejo o meu clube. Foi o que aconteceu no domingo, mais de quatro meses depois da última vez.
Felizmente conseguimos chegar cedo, sem grande stress. Conforme tinha dito antes, ficámos no terceiro anel, mas via-se melhor do que eu esperava. Chegámos a tempo de assistir ao anúncio oficial (?) dos onzes titulares. A leitura dos nomes de Matic, Markovic e outros jogadores ou antigos jogadores do Benfica motivaram mais ovações do que se esperaria como reação a adversários. Eu sabia que uma boa parte dos quase sessenta mil espetadores na Luz tinham vindo, pelo menos em parte, para ver os antigos benfiquistas. Não me interpretem mal, eu gosto do fair-play. No entanto, espero que, aquando do golo da Sérvia, os que aplaudiram Matic se tenham sentido, pelo menos, um bocadinho culpados.
Houve também tempo para cantarmos os parabéns ao grande Rui Costa, o eterno Maestro, que completou quarenta e três anos naquele dia. Foi um momento bonitinho, num Estádio que tanto significa para ele. Como sempre, o hino foi um momento especialíssimo - conforme comprovam os inúmeros vídeos na minha timeline do Facebook, o meu incluído.
Portugal dominou durante praticamente o jogo todo, ainda que com mais pragmatismo que brilhantismo (que parece ser a imagem de marca do reinado de Fernando Santos). Para uma equipa com apenas um ponto na Qualificação, os sérvios engonharam demasiado nos primeiros minutos, o que irritou.
Felizmente marcámos cedo, a partir de um pontapé de canto. Foi um canto batido "à bola curta", o segundo batido assim naquele jogo. Eu e a minha irmã estranhámos. Estávamos precisamente a comentá-lo quando o Fábio Coentrão fez um centro perfeito para Ricardo Carvalho, que rematou de cabeça para as redes sérvias. Nesse momento, parámos imediatamente com as queixas. (Mais tarde, descobriríamos que aquela maneira peculiar de bater o canto tinha, provavelmente, sido ensaiada ao longo da semana. Fernando Santos chegou mesmo a dá-lo a entender na Conferência de Imprensa).
Este golo de Ricardo Carvalho fez-me recordar outro dele, noutro jogo a que assisti: Portugal x Luxemburgo, em 2005, no Estádio do Algarve. Também nesse Ricardo Carvalho inaugurou o marcador com um remate de cabeça. Nesse jogo, ele e os outros jogadores vieram festejar mesmo para perto de nós (estávamos sentados mesmo junto ao campo, atrás da bandeirola de do canto), alguns deles poderão mesmo ter olhado para nós. No jogo de domingo, eles também vieram festejar para a nossa zona, mas nós estávamos muito lá em cima.
O golo relativamente madrugador não me tranquilizou uma vez que, agora que estavam a perder, os sérvios ficaram obrigados a mexer-se. Não chegaram a ameaçar verdadeiramente, mas conseguiram enervar-me. Também não ajudou o facto de Portugal ter abrandado demasiado para o meu gosto - pragmatismo a mais. Recordava-me de vários outros jogos anteriores, em que também tínhamos chegado à vantagem relativamente cedo para, mais tarde, a perder e não conseguir recuperar: os dois jogos anteriores com a Sérvia, bem como os dois jogos contra Israel, incluindo aquele a que assisti ao vivo.
A anulação da vantagem que eu receava ocorreu pouco após o intervalo, com um espetacular pontapé de bicicleta de Matic. Apesar de ter andado a recear este percalço, quando este se concretizou não desanimei demasiado. Ainda tínhamos meia hora, provavelmente o Quaresma entraria em breve, ele resolveria. O resto do público, aparentemente, concordava pois, passado o choque do golo, toda a Luz vibrou com os gritos em coro de "POR-TU-GAL! POR-TU-GAL!". E, cerca de dois minutos mais tarde, Portugal regressaria à vantagem no marcador, cortesia de Fábio Coentrão.
Mais tarde, Fernando Santos agradecer-nos-ia esta e outras manifestações de apoio, chegando mesmo a dar-nos mérito pela vitória. Eu fico feliz por isso, fico orgulhosa por ter cumprido o meu papel, mas a verdade é que o mesmo aconteceu em 2013, no tal jogo com Israel a que fui assistir: o público gritando pela equipa após o golo sofrido. A diferença é que a Seleção que jogou na Luz, no domingo, teve bem mais maturidade do que a que jogou nesse encontro, em Alvalade. Nesse encontro e em muitos outros dos últimos anos.
Mas regressemos ao segundo golo do jogo de domingo. Muitos dão, justamente, maior mérito a João Moutinho, que construiu a jogada praticamente toda - Coentrão teve apenas de encostar após o centro magistral de Moutinho. No entanto, na minha opinião, Coentrão mereceu assinar um golo, pelo que tinha vindo a fazer durante o jogo. Gostei de vê-lo mais adiantado do que o costume, acho que combina com o seu hábito de nunca se conformar, de puxar a equipa para a frente. Esteve em ambos os golos, tendo sido ele, inclusivamente, a oferecer o canto onde marcámos o primeiro - depois de ter feito pressão sobre o sérvio Basta, obrigando-o a atirar para fora. Durante os festejos do segundo golo, cheguei mesmo a gritar "Coentrão do meu coração!", roubando a frase a este relato de Nuno Matos.
Marcado este golo, o resto do jogo desenrolou-se sem sobressaltos de maior. Fiquei à espera do terceiro golo, um golo que nos desse tranquilidade mas, mais uma vez, os portugueses foram demasiado pragmáticos. Além de que não seria a Seleção se não ficássemos até ao último minuto à beira dos nossos assentos, com o coração na garganta - o patrocínio secreto por parte de alguma sociedade de cardiologistas, de que eu suspeito que a Turma das Quinas beneficie há muito tempo, ia ao ar. De qualquer forma, não houveram mais deslizes, os três pontos foram obtidos, o primeiro lugar do grupo I foi conquistado - por agora.
Confirme disse anteriormente, gostei muito de ver Coentrão frente à Sérvia. Para mim, esteve tão bem como João Moutinho, eterno formiguinha, por muitos considerado o Homem do Jogo. Deu-me particular gozo vê-lo fazendo o que queria dos nossos adversários, a sua baixa estatura contrastando com os corpulentos sérvios. Cristiano Ronaldo foi influente de uma maneira mais discreta do que o habitual: não marcou, mas vimo-lo várias vezes chamando a equipa para o ataque, indicando o caminho. Praticamente todos estiveram bem, tirando Nani e Eliseu, na minha opinião. O primeiro pode estar a ser feliz de novo no Sporting, eu fico também feliz por ele, mas, na Seleção, continua algo apagado. No domingo esteve sem jeito, pelo menos. Quanto ao Eliseu, pode estar a sair-se bem no Benfica (ou talvez não, não sei...) mas, pela Turma das Quinas, tem atrapalhado mais do que ajudado (volta, Raphael Guerreiro!!).
Fico, sobretudo, satisfeita por, para além de termos somado mais três pontos e de estarmos em primeiro no grupo, marcámos mais do que um golo por jogo e nem precisámos do Quaresma! É um progresso relativamente aos últimos jogos. Confesso, no entanto, que estaria mais descansada caso tivéssemos marcado mais um golo na Luz. Afinal de contas, euforias à parte, tornámos a vencer apenas pela margem mínima, ainda que tenhamos jogado um pouco melhor.
Isso, contudo, não altera o facto de estarmos em ascensão. Tal como assinalou Fernando Santos na Conferência de Imprensa após o jogo, nesta fase " As coisas estão a correr bem. Ganhámos na Dinamarca, onde já não o conseguíamos há muitos anos. Ganhámos à Argentina, o que também não acontecia há quarenta anos, e agora ganhámos à Sérvia, adversário que, também, nunca tínhamos batido". Estivemos frequentemente em piores situações ao longo dos últimos anos, com destaque para o pós-Mundial 2014 - conforme disse antes, é-me estranho estar numa posição relativamente desafogada no Apuramento. Não que a situação seja perfeita, porque não o é. Algumas críticas feitas têm legitimidade. Eu também estou insegura com a nossa dependência em jogadores com mais de trinta anos, eu também, a certa altura, posso fartar-me do pragmatismo e começar a suspirar pelo futebol alegre como o Waka Waka de outros tempos. No entanto, se todos os jogos oficiais deste ano terminarem com vitórias pela margem mínima, como as mais recentes, considerá-lo-ei um sucesso.
Antes de terminar esta entrada (isto deve ser um recorde neste último ano, uma crónica publicada apenas dois dias após o respetivo jogo...), queria apenas referir que, por estes dias, tenho lido algumas opiniões que defendem que, com a pausa internacional, houve igualmente um pausa na verdadeira emoção do futebol. Talvez isso seja verdade para certos fanáticos clubistas e/ou "intelectuais" do futebol. No entanto, se aquilo a que assisti no Estádio da Luz (os parabéns a Rui Costa, o Hino Nacional, os gritos de incentivo após o golo que sofremos, entre outros momentos) não é emoção, não sei o que será. Se quiserem algo mais objetivo como prova, basta-me dizer (ou melhor, recordar, que estiveram mais de 58 mil na Luz e a transmissão do jogo foi o programa televisivo mais visto do ano, até ao momento. O que contradiz a tese de que o povo só quer saber da Seleção aquando de Europeus e Mundiais.
Quanto a mim, sinto-me feliz por ter podido experimentar de novo essa emoção ao vivo e por, ao contrário dos meus últimos dois jogos ao vivo, termos tido um final feliz. Por, depois de uma eternidade sem Seleção, o primeiro jogo ter corrido bem, tendo-me proporcionado um dos meus melhores fins de tarde/princípio de noite dos últimos tempos. O meu desejo agora é que o percurso continue a decorrer sem percalços de maior e que, claro, culmine com o Apuramento para o Europeu de França.
E não se esqueçam que, daqui a duas horas, temos o particular contra Cabo Verde.