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O Meu Clube É a Seleção!

Mulher de muitas paixões, a Seleção Nacional é uma delas.

Equipamentos da Seleção Nacional (2004-2018): do pior ao melhor

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É este o texto diferente do costume de que ando a falar há algum tempo. Hoje vamos falar sobre equipamentos da Seleção Nacional. 

 

Como toda a gente sabe, em anos pares (regra geral, por volta dos particulares de março/abril), a Equipa de Todos Nós recebe um conjunto novo de equipamentos. Esses equipamentos servem para todo o ciclo bianual, que inclui um Mundial ou um Europeu, a fase de Qualificação para o Mundial ou Europeu seguinte e, mais recentemente, a Liga das Nações. Neste texto, quero pegar nos diferente equipamentos que a Seleção envergou desde 2004 a esta parte (escolho este ano porque foi quando comecei a acompanhar ativamente a Equipa das Quinas) e ordená-los de acordo com as minhas preferências.

 

Aviso desde já que estou longe de ser uma especialista em moda, ainda menos do que em futebol. Este é apenas o meu gosto pessoal, estão à vontade para discordar. 

 

Nesta lista vou só considerar os equipamentos principais. Ainda pensei incluir os alternativos, mas ficaria demasiado confuso. Os alternativos terão o seu próprio texto, um dia. Não a curto prazo, talvez daqui a um ano ou dois. Os que forem lançados este ano já entrarão nessa lista. 

 

Antes de começar, queria deixar bem explícito que, deste conjunto, não existe nenhum equipamento principal de que eu não goste nem um bocadinho. A Seleção teve alguns equipamentos “parolos” no seu passado, como descrevem neste artigo, mas a qualidade melhorou muito de 2000 para a frente. Com os alternativos a história é outra mas, regra geral, não tenho tido razão de queixa em relação aos equipamentos principais nestes últimos dezasseis anos.

 

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Ou melhor até tenho, mas não tem a ver com a qualidade estética do equipamento. Tem a ver com o facto de, pelo menos nas fornadas de 2016 e 2018, os equipamentos produzidos pela Nike seguirem quase todos o mesmo modelo. Basta olharmos para imagens da final de Paris: o equipamento português e o francês são iguais, tirando a cor!

 

E depois temos fenómenos como, por exemplo, o equipamento alternativo da Inglaterra em 2016 ser igual ao nosso principal do mesmo ano e o nosso equipamento alternativo de 2018 ser igual ao da Polónia (com o mesmo tipo de letra nos nomes e tudo). Irrita-me tanto… Que é feito da imaginação?

 

No que toca a equipamentos principais, o vermelho tem sido, naturalmente, a cor predominante. Eu diria que é a minha segunda cor preferida, atrás do azul. Em parte por estar associada à Turma das Quinas. O meu tom preferido não é tanto o clássico vermelho vivo, é um tom um bocadinho mais escuro, como o que escolhi para o fundo deste blogue (consta que o nome oficial é vermelho persa). É uma cor rica, elegante, sobretudo nestes tons menos agressivos.    

 

Também gosto do vermelho cor de vinho tinto para vestir, sobretudo no outono/inverno.

 

Curiosamente, já foram feitos estudos sobre a influência da cor vermelha em equipamentos desportivos. É uma cor que simboliza paixão, energia, testosterona, vitalidade, dominância. Uma cor emotiva, que entusiasma e motiva os aliados e intimida os adversários. Está provado que dá vantagem. 

 

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É claro que essa vantagem pesa menos que fatores como o talento e a técnica. Se não fosse assim, teríamos muito mais que apenas dois títulos. Em todo o caso, o vermelho é uma cor que já faz parte do carácter da Seleção. 

 

Dito isto, gostava de ver mais verde nos equipamentos das Quinas. Afinal de contas, sempre representa cerca de quarenta por cento da nossa bandeira. Além de que é uma cor menos agressiva, que representa esperança, harmonia, compaixão, segurança – características que também fazem parte do ADN da Equipa de Todos Nós, a meu ver. Contrabalançam com as emoções extremas do vermelho e também com a hostilidade endémica do futebol de clubes, sobretudo em Portugal. 

 

Mas passemos ao cerne deste texto: os equipamentos da Seleção nos últimos dezasseis anos, do pior para o melhor. Vamos começar com…

 

8) 2008

 

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Admito-o desde já: o equipamento criado para o Euro 2008 só está no fundo da lista por, usando o termo técnico, picunhices. Em termos gerais, este equipamento não é pior do que os outros desta lista. Como quase todos, é todo em vermelho (embora eu não adore este tom particular), com letras e números dourados. 

 

Aquilo de que não gosto neste equipamento é do feitio da gola (estiveram ali a inventar sem necessidade) e a camisola mais justa que o habitual. Na altura, acho que li em algum lado que isto foi deliberado, era para melhor absorver a transpiração ou algo do género. No entanto, do ponto de vista estético não ficou muito bem, na minha opinião. Prefiro camisolas mais largas. 

 

7) 2012

 

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O equipamento apresentado para o Euro 2012 não difere radicalmente do de 2008. Também ele é todo vermelho, um vermelho vivo, clássico. Desta vez, no entanto, não se puseram a inventar: a gola tem um feito normal, a camisola não parece nem demasiado larga nem demasiado justa.

 

Na verdade, o ponto fraco deste equipamento é precisamente o facto de não terem inventado nada. É um equipamento simples, uma aposta segura, que não é feio mas também não deslumbra. É pouco imaginativo. Parece-se mais com o modelo básico com que os designers (estilistas?) da Nike começam na hora de conceber um equipamento novo.

 

É por isso que está tão baixo nesta lista: falta-lhe carácter. 

 

6) 2018

 

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Este é o equipamento mais recente desta lista. Criado para o Mundial 2018, mas que também foi usado durante a conquista do nosso segundo título, na Liga das Nações. Tem algumas semelhanças com o de 2008: todo vermelho, letras e números dourados. Está melhor conseguido, no entanto: gosto do estilo dos múmeros e do discreto efeito “riscado” nos ombros e braços – mais proeminente em outras peças desta coleção, como o equipamento de treino.

 

Pode ser o mesmo modelo que a Nike aplicou a todos os seus equipamentos se seleções, mas ao menos é bonito.

 

5) 2006

 

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O equipamento criado para o Mundial 2006 é todo vermelho, como vários outros desta lista. Este, no entanto, é um vermelho diferente, bastante curioso. Varia consoante a luz. Sob a luz artificial é um vermelho mais perto do vinho tinto (parecido com o vermelho das camisolas dos finais dos anos 90, início dos anos 2000). Sob a luz do sol transforma-se num vermelho mais vivo, cor de sangue seco.

 

É um efeito muito giro e único. Tive várias oportunidades de vê-lo, pois cheguei a ter o boné desta coleção, da mesma cor. Infelizmente perdi-o.

 

O único problema é que, apesar de ser uma cor original e bonita, é um bocadinho escura demais, que se torna demasiado quente e pesada. Tendo em conta que os grandes campeonatos de seleções se realizam durante o verão, esta é uma desvantagem significativa. É só mesmo por este motivo que este equipamento não está mais acima na classificação.



4) 2010

 

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Nesta parte da lista, as diferenças entre os equipamentos em termos de preferência não são muito grandes. Foi difícil de definir a ordem nesta parte. Se estivesse a escrever este texto há um ano, a ordem se calhar seria diferente. Hoje fica assim.

 

Finalmente um equipamento que não é todo em vermelho: o criado para o Mundial 2010. A camisola é vermelha, mas possui uma faixa verde horizontal, na zona do peito. Inicialmente os calções eram brancos – eu gostava assim, mas admito que fica demasiado parecido com o equipamento do Manchester United. 

 

Talvez seja por isso que, em muitos jogos (talvez na maior parte deles), a Seleção tenha usado calções vermelhos. Também ficam bem, não me interpretem mal – a faixa verde distingue-os dos vários equipamentos-todos-vermelhos – mas eu preferia os calções brancos. Mais: este seria o equipamento ideal para recuperar a tradição dos calções verdes. Uma oportunidade desperdiçada, na minha opinião. 

 

3) 2016

 

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Este equipamento tem o grande viés de ter sido o equipamento com que ganhámos o nosso primeiro título. Eu mesma tenho a camisola – há anos que queria uma da Seleção e optei pela camisola de Campeões Europeus.

 

Não digo que a minha opinião não seja nem um bocadinho enviesada mas, na minha opinião, mesmo colocando de lado o facto de ser a camisola da final de Paris, é um equipamento bonito por si mesmo. Na verdade, mais do que o fator Campeão Europeu, pesa mais o facto de eu ter um exemplar da camisola, que posso examinar ao pormenor.

 

Esta camisola tem os ombros e os braços num vermelho mais escuro – como poderão ver na fotografia abaixo, são na verdade riscas muito finas, alternando entre o vermelho-vinho-tinto e o vermelho do resto da camisola. Esse vermelho, aliás, é o tal vermelho-persa de que falei acima, o meu tom preferido (se não for exatamente esse o tom, está muito próximo).

 

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É, em suma, um belo equipamento (mesmo que, mais uma vez, partilhe o modelo com várias outras seleções da Nike). Merece ser este a figurar nas fotografias do 10 de julho. 

 

2) 2014

 

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Este é capaz de ser o equipamento mais criativo e original desta lista (só o de 2010 é que compete com ele nesse capítulo). É todo em vermelho, mas a camisola possui um degradê (é esse o termo correto?). O peito e os ombros são num vermelho mais vivo que, depois, transita para um vermelho mais escuro, que ocupa a parte de baixo da camisola, os calções e as meias.

 

É uma pena este equipamento estar associado ao desastre que foi o Mundial 2014 porque eu gosto mesmo muito deste equipamento. Só prova que a beleza da camisola não serve de prognóstico.

 

E ainda bem, não é? Para estas coisas ninguém gosta de spoilers.

 

1) 2004

 

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Como disse antes, tive algumas dificuldades em definir partes desta classificação, mas nunca tive dúvidas em relação ao primeiro lugar. 

 

Admito que haja muita nostalgia nesta escolha. Como poderão ler aqui, muitos dos meus jogos preferidos de sempre da Seleção decorreram durante o Euro 2004. Ainda hoje, se reescrevesse essa lista, o Portugal-Espanha continuaria no primeiro lugar – porque foi onde tudo começou para mim. Se não fosse esse jogo, nenhum dos outros teria tido o mesmo impacto.

 

É difícil explicar a quem não se lembre desse campeonato ou tenha nascido depois dele (parecendo que não, gente de quinze anos incluem-se nesse grupo) o impacto que o Euro 2004 teve no povo. Fomos nós os anfitriões, uns anfitriões bastante entusiastas. A Seleção ia fazendo a sua parte, com jogos que se tornariam lendários. Todo o país esteve em festa como nunca se vira antes e não se tornaria a ver até agora.

 

Não, nem mesmo quando nos sagrámos Campeões Europeus. Não estou a dizer que tenha sido pior ou melhor, apenas que não foi a mesma coisa. Porque foi em França, não em Portugal.

 

O equipamento do Euro 2004 foi o último equipamento até agora a ter calções verdes. As cores, aliás, são mais vivas do que o costume, sem destoarem, com pormenores dourados – as faixas verticais, fininhas, de cada lado da camisola. À frente os números aparecem dentro de círculos, em homenagem ao equipamento da Seleção no Mundial de 1966. 

 

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Em suma, é um equipamento brilhante e festivo, diferente de qualquer outro, o que reflete na perfeição aquilo que o Euro 2004 representou para nós: um período feliz, brilhante, uma festa, algo irrepetível. O início da minha história de amor com a Seleção – e por isso estará sempre em primeiro.

 

E cá estão, os equipamentos das Quinas ordenados pelas minhas preferências. Devia ter calculado que dedicaria uma boa parte deste texto a comparar tons de vermelho mas olhem. Foi diferente. Foi divertido.

 

Agora estou ansiosa pela revelação do equipamento do Euro 2020. Provavelmente fá-lo-ão aquando dos jogos de março: o torneio da Qatar Airways, em que vamos jogar com a Bélgica e a Croácia. Espero que não se limitem a um equipamento liso, todo vermelho. Espero que sejam criativos, que lhe deem personalidade própria.

 

Não me peçam para decidir logo em que lugar ficaria nesta lista, ou mesmo para dar logo um parecer definitivo sobre o equipamento. Vou precisar de tempo para formar as minhas opiniões, de ver a Seleção envergando as novas camisolas em campo.

 

É esperar para ver. A contagem decrescente continua. Acompanhem-na connosco, na página de Facebook deste blogue.

Seleção 2014

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Mais um ano perto de terminar, mais um ano perto de começar. Ganhei o hábito de, por esta altura, recordar aqui no blogue o que aconteceu com a Seleção ao longo dos últimos doze meses, olhar para estes acontecimentos de novo, como quem volta a ler um livro depois de saber como acaba. 

 

2014 foi um ano estranho para a Seleção. Teve altos e baixos, como todos os anos, mas também teve muitas coisas incompreensíveis. Por outro lado, foi um ano em que senti a história repetindo-se: 2002, com o fracasso no Mundial; 2010, com as confusões na Federação, a sua incapacidade de lidar com o rescaldo do Mundial e de gerir os selecionadores. 2014 foi também um ano em que senti que, quanto mais as coisas mudam, mais elas ficam na mesma.

 

Comecemos pelo princípio. 2014 arrancou de forma agridoce, emotiva, para o futebol português, tanto devio à morte de Eusébio como à Bola de Ouro de Cristiano Ronaldo. O primeiro jogo da Seleção, contudo, só ocorreu em março. Pouco antes, realizou-se o sorteio da Qualificação para o Euro 2016. Independentemente do que tivéssemos pensado na altura, hoje sabemos que nenhum dos nossos adversários é fácil. 

 

 

No dia 5 de março, a Seleção jogou contra a sua congénere camaronesa num jogo de carácter particular que teve lugar no Estádio Magalhães Pessoa, em Leiria. Como o costume, a Convocatória suscitou polémica pela teimosia de Paulo Bento em excluir certos jogadores. Em defesa do nosso antigo técnico, há que dizer que alguns dos nomes mais controversos - Edinho, Rafa, Ivan Cavaleiro - não se saíram mal no jogo com os Camarões. Foi de facto um bom particular, com a Seleçção Portuguesa a vencer por 5 a 1, golos de Cristiano Ronaldo (dois), Raúl Meireles, Fábio Coentrão e Edinho. Não foi mau, tendo em conta que os Camarões também estavam Qualificados para o Mundial, mas como o costume a Comunicação Social só quis saber de Ronaldo, que ultrapassara Pedro Pauleta no número de golos com a Camisola das Quinas. Estou convencida de que esta Ronaldomania, se não foi um dos fatores a contribuir para o fracasso no Mundial, certamente não ajudou a Seleção.

 

Por outro lado, uma das coisas que não compreendo deste ano é como passámos de jogos com exibições, vá lá, boazinhas, como a deste particular e dos outros que antecederam o Mundial, a... o que quer que tenha sido a nossa participação no Campeonato do Mundo.

 

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A Convocatória Final para o Brasil foi revelada no dia 19 de maio mas a polémica começou antes, com as pré-Convocatórias. Não gosto de estar a bater no ceguinho nem acho que nomes diferentes na Lista mudassem significativamente o nosso destino, mas há coisas difíceis de compreender. A principal será, porventura, a exclusão de Ricardo Quaresma. Para ser justa, relembro que Paulo Bento não foi o único técnico a embirrar com Quaresma este ano e o próprio Marmanjo terá a sua quota-parte de culpas na maneira como os treinadores lidam com ele. No entanto, quem perde acaba por ser quem não aposta no mustang. E quando às insinuações de Paulo Bento de que os jogadores que excluía "não tinham perfil para a Seleção"... bem, Quaresma teve perfil suficiente para estar por detrás de todos os nossos golos pós-Mundial. I rest my case.

 

Também já por alturas da Convocatória se comentava a duvidosa forma física de mais de metade dos jogadores da Seleção, sendo Cristiano Ronaldo o maior exemplo - mais tarde, descobrir-se-ia que as nossas dúvidas não eram descabidas. Não fomos os únicos a ter lesões importantes - este Mundial foi ridiculamente rico em lesões - mas fomos os mais assolados por este problema. Tivemos um total de cinco elementos incapacitados, num total de quinze condicionados. Como disse a minha irmã, a Seleção esteve em modo In My Remains, dos Linkin Park "Like an army falling, one by one by one". Tanto quanto me lembrava, era a primeira vez que tal acontecia num campeonato desta envergadura e, ainda hoje, não compreendo porquê. Muitos criticaram a decisão pós-Mundial de substituir a equipa médica mas terá sido assim tão descabido? Uma coisa é certa: a histeria em redor da tendinose rotuliana de Cristiano Ronaldo foi um dos aspetos mais irritantes deste Mundial.

 

 

O primeiro particular do estágio do Mundial teve como adversário a Grécia - orientada na altura por Fernando Santos, que ironicamente é agora o nosso Selecionador. Este jogo enquadrava-se nas comemorações do centenário da Federação Portuguesa de Futebol, pelo que teve lugar no Estádio Nacional, no Jamor, uma arena de forte simbolismo para o futebol português. Também foram prestadas homenagens a Eusébio e Mário coluna, falecidos anteriormente este ano. Este jogo ficou marcado pela ausência de habituais titulares, destacando-se Cristiano Ronaldo. Portugal dominou durante praticamente todo o jogo - Nani jogou melhor do que se esperava - mas notaram-se os habituais problemas na finalização. O jogo terminou com o marcador por abrir.

 

Antes de deixar o território nacional, a Seleção Portuguesa foi recebida pelo Presidente da República no Palácio de Belém, receção marcada por selfies e outras atitudes pouco convencionais para uma visita ao Chefe de Estado. Nos dez dias, mais coisa menos coisa, que se seguiram, a Equipa de Todos Nós estagiou nos Estados Unidos - alegadamente para se adaptar ao fuso horário - tendo sido das últimas equipas a chegar ao Brasil. Este foi outro dos aspetos controversos e incompreensíveis deste ano de Seleção: a localização do estágio, o clima. Deveríamos ter ido mais cedo para o Brasil? Deveríamos ter estagiado numa cidade diferente? E se as condições fossem tão agrestes que não conseguíssemos treinar como deve ser?

 

 

Antes do Mundial, contudo, ainda tivemos dois particulares, que não correram muito mal. O jogo com o México teve lugar no Gilette Stadium, em Boston, de madrugada para o fuso horário português. Foi um jogo sem grande história, que poderia ter dado para ambos os lados. A vitória portuguesa pela margem mínima só foi obtida ao cair do pano, cortesia de Bruno Alves. Estes golos, estas vitórias ao último minuto, tornar-se-iam uma tendência deste ano. Esta foi apenas a primeira e, por sinal, a menos empolgante.  

 

 

 

O jogo com a República da Irlanda correu melhor mas também este adversário encontrava-se uns furos abaixo dos dois anteriores. Desta feita, Cristiano Ronaldo jogou mas ele não contribuiu grandemente para a vitória folgada. Hugo Almeida bisou, Fábio Coentrão assistiu para um auto-golo e marcou ele mesmo outro, Vieirinha também marcou o seu, assistido por Nani (que também assistira Coentrão). Portugal contudo ainda sofreu um golo pelo meio, fruto de uma distração coletiva aquando de um livre.

 

Por esta altura, eu sentia-me bastante otimista relativamente ao início da participação portuguesa no Mundial, talvez um pouco para lá do realista. Hoje tenho vontade de rir e de chorar com a minha ingenuidade - mas em minha defesa, acho que nem os mais pessimistas estavam à espera de um descalabro como aquele. 

 

 

O nosso jogo de estreia no Campeonato do Mundo foi a humilhação do ano... se não tiver sido do século. Foi um jogo em que praticamente tudo o que podia correr mal correu. A história poderia ter corrido de outra maneira se tivéssemos cometido menos asneiras: o penálti oferecido por João Pereira, a "turrinha" de Pepe a Müllero atraso na reorganização da defesa após a expulsão, a equipa toda à beira de um ataque de nervos... com a lesão de Coentrão e Hugo Almeida a ajudar à festa. Parafraseando Afonso de Melo em A Pátria Fomos Nós, num Mundial não há segundas oportunidades - Portugal sentiu-o na pele no Brasil. O descalabro só não foi maior porque os alemães tiveram pena de nós - o que para mim é a pior vergonha. O facto de agora sabermos que não fomos os únicos a ser humilhados pelos alemães neste Mundial é fraco consolo.

 

 

Portugal estava obrigado a ganhar aos Estados Unidos para poder sonhar com a passagem aos oitavos. Nós tentámos. Começámos bem, até marcámos um golo cedo, cortesia de Nani - o único golo que pudémos festejar plenamente neste Mundial. Jogámos melhor que frente à Alemanha, mas os nossos pareciam lesmas - não sei se devido ao clima ou à (falta de) forma física (Postiga saiu lesionado aos treze minutos) ou se de ambos. Portugal não conseguiu ampliar a vantagem, só a segurou até aos sessenta e três minutos, os Estados Unidos chegaram mesmo a passar à frente. Varela voltou a vestir o fato de bombeiro e empatou o jogo ao cair do pano, mas apenas adiou o inevitável. Se quiséssemos continuar no Mundial, teríamos de golear o Gana e esperar que a Alemanha vencesse os Estados Unidos.

 

Eu já não acreditava. Lembro-me em particular do dia que se seguiu ao jogo, um dia cinzento e chuvoso, apesar de em termos cronológicos o verão já ter começado. Este ano não tivemos verão, nem o do Mundial nem o propriamente dito. 

 

 

Em todo o caso, no início do jogo com o Gana, sentia-me irracionalmente entusiasmada, como se aquele fosse apenas mais um jogo da Seleção, como se ainda estivesse tudo em aberto. Ganhámos por 2-1, um auto-golo e um golo de Cristiano Ronaldo para o lado português. Um resultado insuficiente para irmos aos oitavos. O Mundial terminava para os portugueses. 

 

Acredito que nunca saberemos ao certo o que aconteceu, qual ou quais fatores foram decisivos para o descalabro, o que poderia ter sido feito para evitar isto. Se bastaria o João Pereira não ter provocado aquele penálti ou o Pepe não ter sido expulso, de modo a reduzir a expressividade da vitória alemã, se esta não tivesse sido tão destrutiva... Ou se seria necessário um lote diferente de jogadores, um local de estágio diferente, talvez mesmo um local de estágio diferente... Seria importante aprendemos com os erros cometidos neste Mundial, mas já percebo que nós, portugueses, não somos muito dotados nesse capítulo. 

 

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As medidas tomadas pela Federação após o Mundial são um bom exemplo disso. Mudou a equipa médica, deu novos poderes a Paulo Bento, um voto de confiança que deu ares de uma despropositada promoção. Isto pouco antes do arranque da Qualificação para o Euro 2016. Na Convocatória para o primeiro jogo - contra a Albânia, no Estádio de Aveiro - apenas figuravam oito dos que haviam representado (fracamente) o País no Mundial. A maior ausência era a de Ronaldo, por lesão. Era uma lista que não parecia muito convincente, apesar de algumas novidades como Bruma, Vezo, Ricardo Horta e Pedro Tiba, e ainda se notavam os fantasmas do Brasil. Estes terão tido influência no jogo com a Albânia. 

 

 

Os nossos adversários estacionaram o autocarro à frente da baliza, é certo, mas não se pode dizer que os portugueses tivessem feito muito por abrir caminho. O golo albanês resultou de um momento de inspiração que coincidiu com uma distração da nossa defesa. Os portugueses não conseguiram sequer anular a vantagem. No final do jogo viam-se lenços brancos nas bancadas e, de facto, poucos dias depois, Paulo Bento abandonava o cargo de Selecionador. 

 

Demissões de técnicos nunca são processos felizes e esta não foi exceção. Oficialmente, esta terá sido uma rescisão amigável. Na prática, não se percebeu muito bem de quem partiu a ideia da demissão. Eu fiquei com a ideia de que Paulo Bento não saiu de vontade cem por cento livre e esta medida passa, no mínimo, por estranha quando, duas semanas antes, a Federação dava um voto público de confiança ao Selecionador. Apesar de este processo ter sido bem mais civilizado do que o que aconteceu com Carlos Queiroz, a FPF tornou a ficar mal na fotografia ao ter cedido ao pedido de Paulo Bento renovar antes do Mundial e ao não o ter demitido logo após o respetivo descalabro.

 

A Federação demorou algumas semanas a encontrar um substituto. Um dos favoritos foi sempre Fernando Santos: já passara pelos três grandes e tivera um bom desempenho ao leme da seleção grega. No entanto, encontrava-se  - e ainda se encontra - condicionado pelo castigo atribuído pela FIFA por se ter desentendido com um árbitro durante o Mundial. Durante algum tempo, pensou-se que Fernando Santos era uma hipótese descartada, precisamente devido a esse castigo. No entanto, tal conficionante acabou por não ser problema - e, de qualquer forma, com o recurso, o castigo acabaria por ser suspenso - pois, no fim, a Federação contratou-o.

 

 

 

A primeira Convocatória de Fernando Santos caracterizou-se pelo regresso de ausentes prolongados, como Ricardo Carvalho, Tiago, Danny e Ricardo Quaresma. Estes regressos podem ter causado uma controvérsia na altura, mas esses antigos "renegados" têm até ao momento (tirando Danny e, mais tarde, Bosingwa) mostrado-se merecedores da segunda oportunidade, com destaque para Quaresma.

 

 

O primeiro jogo de Fernando Santos foi um particular com a França, uma seleção de quem temos sido fregueses há várias gerações. Isto associado ao facto de ser a estreia de um Selecionador depois de uma série de maus resultados fez com que o resultado final - uma derrota por 2-1 - fosse expectável. Portugal não entrou bem no jogo, com destaque para os primeiros vinte minutos. Os laterais não estiveram bem, sobretudo Eliseu. Os dois golos franceses partiram de distrações da defesa portuguesa - agora vejo que estas distrações foram um pecado frequente este ano - o segundo numa altura em que a Seleção até começava a assumir o comando do jogo. Por fim, Ricardo Quaresma, suplente utilizado, converteu um penálti, fazendo o resultado.

 

 

 

O jogo seguinte, com a Dinamarca, foi a sério. Foi um jogo de paciência - que se tornaria a regra nos jogos seguintes - e de muitos nervos. Por uma vez Portgual até parecia ter a Sorte do seu lado, com um árbitro amigo e uma bola dinamarquesa ao poste, mas permanecia incapaz de converter essa sorte em golos. Foi preciso, de novo, Ricardo Quaresma entrar e assistir para Cristiano Ronaldo salvar o dia - isto no último minuto do jogo, numa altura em que já todos fazíamos contas considerando apenas um ponto. Foi o golo mais dramático do ano. Era a primeira vitória apóso Mundial, a primeira vitória da Qualificação, da era Fernando Santos. Estava dado o primeiro passo. 

 

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Um mês mais tarde, Portugal recebeu a Arménia no Estádio do Algarve. Tornou a ser um jogo de paciência, tornando-se até algo pastoso, mas desta feita não foi necessário esperar até ao último minuto pelo golo. Este foi, mais uma vez, fruto da parceria entre Cristiano Ronaldo e Ricardo Quaresma - embora Nani tivesse dado uma mãozinha nesta. Não chegámos a subir ao primeiro lugar do grupo, mas ficámos em segundo com um jogo a menos. Não está a correr nada mal, por isso.

 

  

Alguns dias mais tarde, a Seleção foi a Old Trafford disputar um jogo de carácter amigável com a sua congénere argentina. Muitos esperavam um grande duelo entre Cristiano Ronaldo e Lionel Messi (que, afinal, não está propriamente de fora da corrida para a Bola de Ouro, ao contrário do que pensava), mas ambas as superestrelas estiveram algo apagadas. Daí o jogo se ter revelado anti-climático, mesmo secante, sobretudo após a substituição das estrelas. Para os portugueses, contudo, teve uma agradável surpresa no último minuto (mais uma vez) com um inesperado golo do miúdo Raphael Guerreiro, assistido por Ricardo Quaresma (mais uma vez). E foi isto o que aconteceu com a Seleção em 2014.

 

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Foi um ano estranho, como procurei demonstrar, com muitas coisas incompreensíveis, com claro destaque para o Mundial. Continuo a achar que podíamos ter-nos saído melhor com uma atitude diferente. Talvez não conseguíssemos ir além dos oitavos-de-final - quartos, se tivéssemos sorte - mas sempre deixaríamos uma melhor imagem, semelhante as deixadas por seleções como a Grécia ou a Argélia. Tenho a tentação de enveredar pelos clichés do "levantar a cabeça" e "seguir em frente", mas, visto que não é a primeira vez que isto acontece, seria importante percebermos o que falhou para que esse erro não se repita. Mas eu sou uma mera adepta, nem sequer percebo por aí além de futebol, não posso fazer nada.

 

Ao menos as coisas começaram a correr melhor na reta final deste ano. Continuamos com os problemas de sempre, mas estes não representam um fardo tão grande. Não jogamos grande coisa (excetuando talvez contra a França) mas vamos ganhando os jogos - quer à Arménia, quer à Argentina - conquistando três pontos de cada vez, descomplicando a Qualificação. A fazer o melhor possível com aquilo que temos, tal como eu desejava no início do Apuramento. Tal como escrevi antes, a curto prazo é suficiente. A médio/longo prazo precisaremos de mais. Mas eu acredito que chegaremos lá - à medida que a Seleção e Fernando Santos se forem habituando uns aos outros e também à medida que jogadores da excelente Seleção Sub-21 (como Raphael Guerreiro) se forem integrando entre os séniores.

 

O problema é que ainda ficam a faltar três meses para o próximo jogo da Turma das Quinas. É muito tempo, muitas semanas em que o Selecionador não tem oportunidade de treinar os jogadores ele mesmo. Muita coisa muda em quatro meses. Se para mim, mera adepta, é frustrante, para Fernando Santos sê-lo-á ainda mais - afinal de contas, esta é a vida dele.

 

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Felizmente, foi anunciada há pouco tempo uma solução para este problema: a Liga das Nações. Ainda não compreendi ao certo em que moldes funcionará esta competição, mas sei que servirá substituir os jogos particulares e para dar maior competitividade ao futebol de seleções. Parece-me uma ideia excelente (qualquer desculpa para termos mais jogos de seleções agradar-me-ia, de resto). Mas, se for bem feita, esta Liga das Nações poderá aumentar o interesse pelos jogos da Equipa de Todos Nós - diminuirão os choradinhos pela pausa no futebol de clubes. Por serem jogos de maior grau de dificuldade e por oferecerem mais oportunidades de contacto entre selecionador e jogadores, a qualidade do futebol de seleções aumentará. E em princícpio não voltaremos a estar quatro meses sem Equipa das Quinas. Toda a gente fica a ganhar.

 

Mas isto só acontecerá daqui a quatro anos. Para já temos 2015. Como sempre, os anos ímpares são menos apelativos para mim por não haver Euro nem Mundial. O meu desejo é que, já que 2014 se pareceu um pouco com 2010, que o próximo ano se pareça com 2011: sem grandes dramas relacionados com a Seleção, só alegrias. Já tivémos drama que chegue nos últimos anos. Que a Seleção continue a crescer e não torne a escorregar no Apuramento. A ver se é desta que nos Qualificamos sem recorrer a play-offs, só para variar. Se isso acontecer, se continuarmos a melhorar, talvez possamos ter uma palavra a dizer durante o Euro 2016. Há muita gente céptica por aí, mas eu tenho fé de que continuaremos a crescer, de que a Seleção ainda tem muito para dar nos próximos anos e não será apenas por termos o Melhor do Mundo, embora isso ajude e muito. 

 

Uma das coisas que, conforme afirmei no início deste texto, vai sofrendo muitas alterações mas que, no fundo, continua na mesma é a minha atitude para com a Seleção. Houve alturas este ano em que quis desistir, deixar de me ralar com as aventuras e desventuras da Turma das Quinas... ou assim pensei. Por muito que fosse dizendo no blogue e página e a mim mesma que já não queria saber - ou pelo menos não tanto como noutras alturas - vinha a Convocatória seguinte, o jogo seguinte, ouvia o hino, às vezes o relato de Nuno Matos, e pronto; sentia-me entusiasmada de novo como se os únicos fracassos não tivessem acontecido. Conforme fui repetindo aqui no blogue e na página, há poucas coisas que me entusiasmem assim. Muito poucas. 

 

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No outro dia, comentava a brincar com a minha irmãzinha sportinguista que o seu adorado clube era como um mau namorado, que não retribui o afeto que lhe é dedicado. Ela respondeu-me que os clubes e respetivos jogadores não são como namorados, são como filhos: não gostamos deles por serem bons, gostamos deles por serem nossos. Isto não difere muito daquilo que escrevi após o Mundial: os jogadores da Seleção são de certa forma da minha família (não digo meus filhos, que vários deles são mais velhos do que eu!): acompanho-os, vejo-os crescer, irrito-me com as asneiras deles, orgulho-me dos seus feitos. E isso não mudará em 2015. 

 

Desejo assim um 2015 muito positivo para o futebol português, para os jogadores portugueses e para a Seleção. E deixo aqui os meus votos de um Feliz Natal a todos os meus leitores, na companhia daqueles de quem mais gostam, e de que tudo vos corra de feição no ano que vem. Termino com um brindezinho de Natal...

 

 

Portugal 2 Gana 1 - Canto do cisne

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No passado dia 26 de junho, a Seleção Portuguesa de Futebol defrontou a sua congénere ganesa no Estádio Nacional, em Brasília, em jogo a contar para a fase de grupos do Campeonato do Mundo da modalidade. A Seleção Nacional venceu por duas bolas contra uma, mas foi eliminada da competição por ter uma maior diferença de golos em relação ao Estados Unidos.

 
Antes de mais nada, quero pedir desculpas pelo atraso exagerado desta crónica. Têm sido uns dias complicados, tem-me faltado tempo e, também, um bocadinho de paciência. Se Portugal tivesse continuado no Brasil, eu faria um esforço por publicar esta crónica antes do jogo dos oitavos-de-final. Mas assim...
 
Mais uma vez, a primeira parte do jogo coincidiu com o meu trabalho, mais uma vez recorri ao relato da rádio para acompanhá-la. Apesar daquilo que tinha escrito na crónica anterior, apesar de saber que o nosso destino estava praticamente selado, não deixei de me entusiasmar e enervar, como se ainda estivesse tudo completamente em aberto. Está mais do que visto que eu não aprendo, que esta minha doença não se controla assim tão facilmente. Ou isso, ou o Alexandre Afonso e o Nuno Matos são excelentes no que fazem. Eu prefiro pensar que é a primeira hipótese - embora a segunda não seja menos verdadeira - e que isso nunca mudará, em circunstância alguma. A receção do sinal de rádio não era a melhor, devia ter a sua piada se alguém me visse deslocando-me para certos pontos de modo a evitar as interferências da estática. Fui percebendo que Portugal entrara com... bem, com ganas, tendo Cristiano Ronaldo atirado à barra logo aos seis minutos e à figura do guarda-redes ganês aos dezanove.
 

O momento do primeiro golo coincidiu com uma altura em que o relato se misturava com a estática. Percebi que era golo e, como estava sozinha, festejei-o silenciosa mas exuberantemente em termos gestuais. Não percebi quem marcara, contudo. Na esperança de que os meus colegas estivessem a acompanhar o jogo através daqueles sites, e como já se ouviam buzinas ao longe, corri para eles a perguntar, com um bocadinho de ansiedade a mais, quem marcara. Mais tarde, fartaram-se de se meter comigo por causa desta atitude.

E tinha eu esperanças de manter esta minha doença mais ou menos controlada no local de trabalho. Não tenho mesmo emenda...

Eventualmente, descobri que havia sido auto-golo. E os meus colegas até foram simpáticos em dizer-mo quando descobriram, dou-lhes crédito por isso. Em todo o caso, ao intervalo, saí. Desta feita, não me apeteceu ir para a esplanada onde vira o jogo com a Alemanha. Em vez disso, fui para um café onde já me conheciam bem e até me viram no A Tarde É Sua de há dois anos. Logo, sabiam que sou uma grande adepta da Seleção, com o meu blogue e a minha página, conforme outros clientes vendo o jogo ficaram a saber. Outro gesto simpático, mas fiz-lhes ver que, nesta altura, ter tal estatuto é ingrato.

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Fui vendo Portugal dominando os ganeses, mas já com a fraca forma física a dar de si. Quando surgiu o golo do Gana (por sinal, pouco após sabermos que a Alemanha marcara), tive um dejá-vu do jogo com os Estados Unidos: mais uma vez, Portugal mostrava-se incapaz de segurar a vantagem.

Felizmente, os portugueses estavam a jogar melhor que nos encontros anteriores. Ou isso, ou pura e simplesmente os ganeses não tinham capacidade para nos criarem assim tantos problemas. Depois de sair Éder (que, segundo os que viram o jogo desde início, incluindo a minha irmã, apenas estava a servir de empecilho), e de entrar Varela e Vieirinha, Portugal passou o resto do jogo em constante ataque, destacando-se o inevitável Cristiano Ronaldo. Após o encontro, muitos contaram os remates falhados e vieram choramingar que "afinal, era possível" golear o Gana, como era requerido para passarmos a fase de grupos. Eu, no entanto, há muito que sei que a Seleção precisa de vinte remates para marcar um golo, por isso não vou nessa conversa.

Cristiano Ronaldo lá conseguiu acertar na baliza, alcançando a proeza de marcar em todas as fases finais em que participou - seis no total. A única coisa de que se pode orgulhar, coitado, num Mundial onde ele se destacou mais pela tendinose rotuliana e pelos cortes de cabelo.

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Por fim, o encontro terminou, sentenciando a eliminação de ambas as equipas em jogo do Campeonato do Mundio, bem como a passagem da Alemanha e dos Estados Unidos aos oitavos-de-final. Durante o jogo, enquanto o marcador estava empatado, quase desejei, à semelhança de outros senhores do café, que o Gana nos derrotasse, só para poderem passar em vez dos Estados Unidos. A última coisa que desejava neste Mundial, para além de uma eliminação prematura como esta, era sermos ultrapassados pela seleção de um país que, não apenas não ama o futebol como o resto do Mundo, como também tem pessoas que o consideram anti-americano e mesmo um veículo do comunismo. No entanto, sabe-se agora que a comitiva ganesa tinha ainda mais problemas do que a nossa, eles não tinham condições para ir muito longe. E os americanos parecem, de facto, estarem a converter-se ao futebol depois desta participação no Mundial, ao ponto de sugerirem Tim Howard, o guarda-redes que parou dezasseis remates só no jogo com a Bélgica, para Secretário da Defesa.

De qualquer forma, como já não tinha grande fé no Apuramento, fiquei satisfeita por, pelo menos, termos ganho. Este jogo foi, de certa forma, o nosso canto do cisne neste Mundial, permitiu-nos sair do Brasil com alguma dignidade.

Seguiu-se a tarefa ingrata e desagradável - que ainda não terminou - de diagnosticar este fraco desempenho da Equipa de Todos Nós, de encontrar culpados. Por muito que me custe, tenho de dizer que foram cometidos vários erros ao longo deste percurso, começando pelo número ridículo de lesões. Já aquando da Convocatória se comentava a duvidosa forma física dos Escolhidos, devíamos ter calculado que daria nisto. Eu na altura achei que haveria tempo para os jogadores recuperarem, mas enganei-me redondamente. Não nego que o departamento médico possa ter culpas no cartório, mas cheguei a ler uma notícia que alegava que os jogadores, compreensivelmente ansiosos por jogarem num Mundial, teriam mentido sobre a sua condição física. Não sei se é verdade, mas parece-me plausível. Pode-se questionar a Convocatória, mas eu acho que bastaria aos nossos jogadores estarem em melhores condições para tudo ter sido diferente.

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Por outro lado, à semelhança de muita gente, julgo que foi no jogo com a Alemanha que as coisas descarrilaram sem reparação possível. Todos garantem (eu não vi) que Portugal até entrou bem nesse jogo até o penálti, provocado por João Pereira, e a expulsão de Pepe terem deitado por terra o controlo emocional da equipa. Se tivéssemos conservado o sangue-frio, talvez tivéssemos perdido por menos e conseguido, posteriormente, o Apuramento pela diferença de golos, no mínimo. Mesmo assim, continuo convencida que não teríamos pernas para ir muito mais longe.

Pelo meio, Cristiano Ronaldo teve tempo para atirar mais achas para a fogueira. Não posso dizer, infelizmente, que esteja surpreendida - há muito que sei que ele só é o Capitão quando a Seleção está na mó de cima. No entanto, as declarações dele após o jogo contra os Estdos Unidos têm sido retiradas do contexto: tanto quanto percebi (mas posso estar enganada), quando ele disse que não tínhamos grande equipa, referia-se à condição física da maioria dos jogadores, ele mesmo incluído. Além disso, não sejamos hipócritas: infinitos comentadores têm acusado a equipa portuguesa de ser mediana ao longo das últimas semanas, para não dizer meses ou anos, ninguém se importa. O Capitão da equipa diz o mesmo e toda a gente se atira ao ar? É claro que um comentador é um comentador, um Capitão é um Capitão, mas mesmo assim. O que eu não compreendo é, realmente, o otimismo de Ronaldo antes do jogo com a Alemanha. Nem eu nem ninguém...

O que eu sei é que, ainda que, como toda a gente diz, Portugal não seja uma Seleção de topo, nós tínhamos condições para mais do que isto, conforme já dei a entender acima. Um pouco por superstição, não faço prognósticos específicos antes das fases finais. Agora que o Mundial já acabou para nós, posso dizer que calculava que chegássemos aos quartos-de-final. E acho que teria sido possível, quer com este vinte e três, em boa forma, quer com um grupo algo diferente. Além disso, temos jogadores que até estavam bem fisicamente e mereciam ter ficado mais tempo no Mundial; é o caso, por exemplo, de Nani e William Carvalho.


O pior de tudo é que este está a ser um belo Mundial, bem disputado, cheio de emoções. Se por um lado não estávamos de todo ao nível dele, por outro lado, se estivéssemos melhor preparados, poderíamos estar a fazer parte disto, ou pelo menos ter saído dele de forma mais digna, como saíram seleções como a Grécia e a Costa Rica, merecedora do respeito de toda a gente. Irrita-me que tenhamos desperdiçado mais esta oportunidade. E, claro, poderíamos ter aumentado o índice de felicidade e auto-estima nacional, da maneira tão frequentemente por mim descrita cá no blogue, ainda que durante escassas semanas. Poderíamos ter tido mais golos, mais vitórias, daquelas que se festejam nas ruas, que alegram todo o País, poderíamos ter vídeos de bastidores mostrando os jogadores a cantar e a festejar, ter tido o Mundo com os olhos postos na Seleção pelos melhores motivos.

Outra das questões muito debatidas no rescaldo da nossa participação no Mundial diz respeito à necessidade de renovação da Seleção, bem como à continuidade de Paulo Bento. Começando pelo segundo tema, não tenho uma opinião formada sobre ele, já que já estive a favor e contra a continuidade do atual Selecionador. Agora já não importa, pois o contrato está há muito assinado e, aparentemente, nenhuma das partes está interessada em rescindir (em princípio o caso Queiroz não se repetirá, como eu cheguei a temer). Apesar de o Selecionador ter uma fatia significativa da responsabilidade pelo que aconteceu, eu não tenho memória curta, como parece ter o resto do País. Não acho que tudo esteja mal na Seleção "só" por causa deste Mundial e, sobretudo, não me esqueço (e nunca me esquecerei) da maneira como Paulo Bento recuperou a Equipa de Todos Nós após a trapalhada com o Selecionador anterior, nem do Euro 2012 - cuja participação portuguesa continuo a não considerar um acaso, uma anomalia, ao contrário do que toda a gente parece acreditar.

Por outro lado, uma das lições que retiro deste Mundial é que um bom passado não garante um bom presente ou um bom futuro. O que nos leva à renovação da Equipa das Quinas. Não nego que a linha pode ter acabado para certos Marmanjos, como (sniff, sniff) Hélder Postiga, mas também já falei aqui de jogadores que mereciam mais oportunidades na Seleção. Um dos receios que tenho relativamente à continuidade de Paulo Bento é que ele insista em Convocar os mesmos de sempre, que ele não tenha "aprendido" com este Mundial. Mas o futuro a Deus pertence.


O que eu acho que a Seleção precisa, tanto como a tão debatida renovação, é de recomeçar do zero, dentro do possível. Embarcar na Qualificação para o Euro 2016 sem grandes expectativas senão Apurarmo-nos - seja de que maneira for - encarando um jogo de cada vez. Gostava de poder dizer que acredito numa Qualificação tranquila mas não acredito. Acho que nos espera (mais) um Apuramento atribulado e tenciono tentar mentalizar-me o melhor que puder em relação a isso, para evitar apanhar tantos baldes de água fria.

Quanto a este Mundial, só quero atirá-lo para trás das costas o mais depressa possível. Foi uma participação para esquecer. Ficaram a faltar as coisas que descrevi acima, por que ansiava. Tornámos a perder uma oportunidade de realizar o sonho. Não era uma oportunidade tão boa como outras, mas duvido que as próximas sejam melhores. Já me interrogo, até, se isto é uma maldição qualquer, se só poderemos fazer um bom Mundial de quarenta em quarenta anos.

Por outro lado, admito que, ainda que o Mundial tenha estado abaixo das minhas expectativas, talvez daqui a umas semanas ou meses, quando já tiver digerido o que aconteceu, venha a ter saudades das pequenas coisas boas: chegar a casa após o trabalho e atualizar a página, as fotografias dos treinos, do bullying entre jogadores, os fins de tarde passados nas esplanadas, consultando os jornais desportivos, rascunhando as crónicas do blogue, mesmo passando-as a computador. E quando começar a sentir saudades de tudo isso, ainda faltarão quase dois anos para voltarmos a ter um campeonato de seleções.


Há coisas que, no entanto, não mudam: apesar de tudo o que aconteceu, eu continuo ao lado da Equipa de Todos Nós, a apoiá-los, a ajudá-los à minha maneira, a adorar praticamente todos os que vestem a Camisola das Quinas. Acompanho vários deles há muitos anos, tenho crescido com eles, exulto e orgulho-me dos seus triunfos, irrito-me com os seus disparates, sofro com as suas tristezas. De certa forma, são uma espécie de família para mim, são os meus heróis, são o meu clube. Conforme já disse anteriormente, uma pessoa não vira as costas ao seu clube.

Além do mais, sei que mais cedo ou mais tarde a Seleção recuperará, levantar-se-á, voltará a dar alegrias. Mesmo que sejam pequenas: uma vitória num particular insignificante ou num jogo de Qualificação com um adversário "acessível". É apenas uma questão de paciência e perseverança.

Quero aqui deixar os meus agradecimentos às pessoas que acompanharam o meu blogue e respetiva página do Facebook ao longo da participação do Mundial, que continuam a fazê-lo mesmo depois de esta participação ter terminado. Ao longo das próximas semanas, até surgirem novas notícias sobre a Seleção, naturalmente o blogue estará em stand-by e a página com atividade reduzida. No entanto, conforme tenho vindo a dizer ultimamente, enquanto tal estiver dentro das minhas possibilidades, não desistirei nem do blogue nem da página. E mesmo que desista deles, da Seleção em si nunca desistirei. O capítulo do Mundial 2014 está encerrado, pelo menos para Portugal. Agora venha o próximo.

Portugal 2 Estados Unidos 2 - Inverno

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No passado domingo, dia 22 de junho, a Seleção Portuguesa de Futebol defrontou, em Manaus, a sua congénere norte-americana, em jogo a contar para a fase de grupos do Campeonato do Mundo da modalidade. Tal encontro terminou com um empate por duas bolas no marcador, deixando a Seleção praticamente eliminada do Mundial, ficando obrigada a golear o Gana, no jogo de amanhã, quinta-feira dia 26 de junho, e a esperar que a Alemanha ganhe aos Estados Unidos.

 

Visto que a minha irmã não estava em casa e eu não queria assistir ao jogo só com os meus pais, assisti a esta partida numa esplanada. O encontro até começou bem para o nosso lado, com aquele golo, bafejado pela sorte, de Nani. Gritei em coro com toda a gente na esplanada, feliz por, aparentemente, estarmos vivos e termos ainda uma palavra a dizer neste Mundial, por Nani, depois de tudo porque passou nos últimos tempos, depois de ter falhado a África do Sul, ter finalmente marcado um golo num Mundial.

 

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Ele merecia mais do que isto. Mas ainda não é altura de ir por aí.

 
Todos sabíamos que o 1-0 era um resultado perigoso, que tínhamos de marcar o segundo golo o mais rapidamente possível para matarmos o jogo. Só que esse golo nunca mais vinha e os americanos não desistiam de tentar anular a vantagem. Os portugueses iam tentando mas estavam tão lentos, era uma coisa parva, não sei se por causa do clima ou da sua forma física. Provavelmente por causa de ambos. Este jogo veio a confirmar aquilo de que já se suspeitava fortemente na segunda-feira anterior: em termos físicos, os jogadores portugueses estão um farrapo. Prova disso foi a lesão de Hélder Postiga, aos treze minutos. A sua saída acabou por não ser demasiado prejudicial, pois Éder revelou-se um dos mais inconformados ao longo de todo o jogo - não que isso tenha sido suficiente. 
 
Há que dizê-lo, os portugueses jogaram melhor que na segunda-feira anterior e viu-se que eles se esforçaram. No entanto, a fraca forma física revelou-se mais forte que a vontade. A verdade é que, tal como já tinha dito anteriormente, não é normal ocorrerem tantas lesões. Não acredito em "azar" ou coincidências - às tantas, aquele bruxo do Gana, que queria lesionar Ronaldo, foi tão eficaz que lesionou, não só o madeirense, como também três quatros da Seleção Portuguesa. Não sou, nem de longe nem de perto, a melhor pessoa para tecer julgamentos sobre esta matéria, mas devem ser fornecidas explicações sobre a situação. As que Henrique Jones e Humberto Coelho forneceram não me convencem. O mesmo se passa com a questão do clima. Conforme tem sido dito, de repente o País ficou cheio de especialistas em climatologia. No entanto, conforme tenho lido, não existem verdades absolutas nesta matéria. Não se sabe o que é melhor, se estagiar em condições adversas, semelhantes àquelas em que decorrerão os jogos, sob o risco de estas se revelarem demasiado agrestes para os jogadores treinarem, ou estagiar em condições ótimas para o treino mas diferentes das dos jogos. O que parece relativamente consensual é que este Campeonato do Mundo não foi preparado adequadamente.
 
Mas regressemos ao jogo.
 

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Ao início da segunda parte, tive esperanças de que os portugueses tivessem aproveitado o intervalo para se hidratarem e recuperarem as forças para correrem atrás do segundo golo. Não foi bem isso que aconteceu. Os portugueses continuavam tão lentos como em todo o jogo. Nem falo dos crónicos problemas na finalização - eles desperdiçavam cada uma... Acabou por acontecer o que se adivinhava havia pelo menos meia hora: os americanos marcaram. 
 
Os portugueses até pareceram acordar com este golo, ainda tentaram correr atrás do resultado, mas acordaram tarde demais. Paulo Bento mandou entrar Varela e eu até me lembrei de um lendário outro segundo jogo de fase de grupos. Ainda tive esperanças num desfecho semelhante. No entanto, não estávamos em 2012, em que havia frescura suficiente para alimentar a fase do "Ai Jesus!", frente à Dinamarca. Cedo aconteceu o pior: os Estados Unidos colocaram-se à frente no marcador. Houve quem reclamasse do fora-de-jogo no início da jogada, mas Portugal tinha tido mais do que oportunidades para evitar aquele desfecho.
 
Talvez aquela tenha sido a gota de água que fez com que, ao fim de todos estes anos, o copo derramasse, talvez uma parte de mim tenha deixado de acreditar logo aquando do desastroso jogo com a Alemanha. A verdade é que, poucos minutos após este golo, o meu estado de espírito era, para minha própria surpresa, de indiferença, de resignação. Percebia que este Mundial, pura e simplesmente, não estava fadado para nos correr bem (ai, o tão português fatalismo desta frase...). De tal maneira que nem festejei quando Varela marcou, em cima do final do jogo. Se por um lado o Drogba da Caparica voltava a dar uma de Salvador da Pátria, dando a Portugal uma ínfima hipótese de permanecer no Mundial, por outro lado, pode ter apenas adiando o inevitável. 
 

Já devem ter percebido que não, não acredito que Portugal vá além da fase de grupos deste Campeonato do Mundo. Mesmo que se dê o milagre e a Sorte seja favorável às cores lusitanas, duvido que tenhamos pernas para ir muito mais longe. Em teoria, soa melhor dizer que Portugal chegaria aos oitavos do Mundial em vez de dizer que não foi além da fase de grupos. Na prática, duvido que consigamos apagar a má imagem que temos deixado, com destaque para o nosso jogo de estreia.

Sinto-me tentada a partir já para as alegações finais, como se Portugal estivesse já fora do Brasil. No entanto, não me parece legítimo estar a escrever sobre as supostas razões do que está a ser uma péssima prestação, não quando a porta dos oitavos-de-final ainda não está definitivamente encerrada.

Posso já dizer, contudo, que isto não está a ser nada como estava à espera. Disse anteriormente que este Mundial seria como o verão - não está a sê-lo. Foi-o, de certa forma, durante as semanas de preparação, mas terminou com o jogo com a Alemanha. Agora está a ser como o inverno - o que até condiz com a meteorologia dos últimos dias. Talvez seja por isso que, também, não estou com grande pena de que isto possa acabar já amanhã. Ando, aliás, a desejar regressar às semanas, ou meses, antes do Mundial, ou mesmo ao ano passado - aos tempos inocentes em que podíamos, ainda, sonhar com um bom Campeonato do Mundo.

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Admito que o "eu" de há um ano ou dois, ou talvez mesmo de há uns meses, provavelmente desprezar-me-ia por estar a desistir tão "facilmente". Parte de mim, neste momento, até concorda: eu devia estar revoltada contra as previsões mais pessimistas, devia continuar a acreditar teimosamente, mesmo desesperadamente, como nos últimos tempos. É bem possível que isto seja apenas cansaço, um momento de desânimo, que daqui a umas semanas venha a sentir saudades destes dias. Contudo - embora isto não sirva, de modo algum, de desculpa - conforme já disse amiudadas vezes anteriormente, quando se passa tanto tempo como eu passo a tentar puxar pelos jogadores, a convencer os demais a puxar pelos jogadores, uma pessoa precisa de alguma espécie de retorno. Que, neste Mundial, tem sido nulo, independentemente dos responsáveis por essa situação.

Uma coisa, no entanto, não muda. Eu continuo aqui, no meu blogue, na minha página. Ainda que a minha fé tenha atingido mínimos históricos, continuarei a puxar por eles e a esperar um desfecho favorável às cores portuguesas. Nem eu sei explicar porque insisto nisso, talvez seja masoquismo, talvez seja porque é o meu clube, são os meus heróis e, conforme dizia numa curta-metragem que vi no outro dia, uma pessoa não abandona os seus heróis. É algo semelhante que, de resto, peço aos nossos jogadores para a partida de amanhã, frente ao Gana: mesmo que já não dê para passar, que tentem conseguir uma vitória ou, pelo menos, uma exibição decente, para ao menos sairmos deste Mundial de cabeça erguida. Não faltará, certamente, tempo para se fazer a análise completa ao fracasso, que parece inevitável. De qualquer forma, qualquer que seja o desfecho, eu estou aqui e sempre estarei. 

Portugal 0 Alemanha 4 - "22 (ou melhor, 21) homens atrás de uma bola", tragédia em Salvador

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Na passada segunda-feira, dia 16 de junho, a Seleção Portuguesa de Futebol estreou-se no Campeonato do Mundo da modalidade, em Salvador da Bahia, com uma pesada derrota frente à sua congénere alemã, por quatro bolas sem resposta.
 
Devo dizer que este é, provavelmente, o pior jogo da Seleção que testemunhei, e eu já acompanhei uma série de encontros medíocres: o jogo com os Estados Unidos e com a Coreia do Sul em 2002, vários das Qualificações para o Mundial 2010 e 2014, e estes são apenas dos exemplos de que me recordo neste momento. Só para terem uma ideia, nas primeiras vinte e quatro horas que se seguiram ao jogo, quando recordava os pormenores do encontro ficava com vontade de vomitar. Desejei, desesperadamente, ua maneira de fazer “reset” ao jogo, uma maneira de, como na série Tru Calling/O Apelo, rebobinar aquele dia, arranjar maneira de avisar a Seleção para que evitasse os erros que tão caro nos custaram. No entanto, isto é o Mundial, há muio mais coisas em jogo do que num particular ou num jogo de Qualificação; tal como disse na crónica anterior, estes encontros ficam gravados na História, para o melhor e para o pior, e temos de lidar com toda a repercussão do jogo – que, obviamente, não foi a mais simpática para o nosso lado. 
 
Durante a primeira parte do jogo, pude, felizmente (ou infelizmente) ir acompanhando a nível quase constante o relato radiofónico. Adicionalmente, tinha as mensagens que a minha irmã me ia enviando e o site do jornal A Bola, consultado regularmente pelos meus colegas, que se ia atualizando com as incidências do jogo. Logo nos primeiros minutos, Rui Patrício fez um passe infeliz para Khedira, estilo o que fizera no último jogo com Israel. Khedira não soube aproveitar a prenda que o guarda-redes português lhe ofereceu, mas agora percebe-se que este deslize de Patrício era um indício trágico do que aí vinha. 
 

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Eu não desanimei demasiado com o penálti convertido a golo, poucos minutos depois. Esperava um efeito semelhante ao do jogo com a Holanda, há dois anos: que o golo sofrido os acordasse e os fizesse correr atrás do empate. Não foi isso o que aconteceu, aliás, a Turma das Quinas desfez-se em pedaços por completo e nunca mais recuperou.
 
Ficou claro que, psicologicamente, os portugueses estavam em farrapos. Um belo exemplo disso foi Pepe. Foi uma sorte um estar sozinha quando ouvi no relato sobre a sua expulsão, pois na altura tapei o rosto com as mãos, com elas abafando as pragas que me saíam dos lábios. Pelo relato, percebi que o vermelho direto resultara de uma infantilidade, mas não me inteirei dos pormenores. Pouco depois, a minha irmã disse-me, por mensagem, que fora um dejá-vu do vermelho de Hélder Postiga na Irlanda do Norte, no ano passado. Não é preciso dizer mais nada. 
 
Para a segunda seleção mais velha deste Mundial, os portugueses mostraram demasiada imaturidade no Arena Fonte Nova. Pior, mostraram ser incapazes de aprender com os erros. O caso de Pepe é particularmente preocupante, ele que já se viu envolvido em demasiadas situações semelhantes a esta. 
 

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Nesta altura, já tínhamos sofrido o segundo golo e já Hugo Almeida tinha saído, por lesão. Paulo Bento terá demorado a reorganizar a defesa – já frágil, mesmo antes da perda de Pepe – o que nos custou o terceiro golo. Nesta fase, percebi que dificilmente empataríamos, quanto mais ganhar, e só desejei que Portugal marcasse pelo menos um ou dois golos, só para recuperarmos uma fração que fosse da nossa dignidade. 
 
Foi mais uma esperança vã. Nesta altura, já eu tinha saído do trabalho e ido para a esplanada de que falei anteriormente, com wi-fi. Aqui, havia-se juntado uma pequena e, naquela altura, insatisfeita multidão a ver a tristeza que estava a ser o jogo. Portugal só não sofreu muitos mais golos porque – e isto é, talvez, o mais humilhante de tudo – os alemães tiveram pena de nós e baixaram o ritmo. 
 
Houve tempo para o árbitro nos negar um penálti, que parecia verdadeiro. Ao ver Ronaldo correndo atrás do árbitro, temi que ele desse uma de João Pinto, e gemi:
 
- Alguém o agarre! Alguém o agarre!
 
 
 
Felizmente, ter-lhe-á sobrado um fragmento de sensatez para parar de correr e ficar a refilar para si mesmo. Ainda bem; já estávamos a deixar uma péssima imagem da nossa Seleção, a última coisa de que precisávamos era de ter o nosso Capitão a agredir o infeliz do árbitro.
 
Os portugueses bem se queixariam, mais tarde, do juiz da partida, queixas que tinham a sua legitimidade, mas nem eles podem dizer que o árbitro foi o único culpado pelo descalabro - aquele penálti por marcar sobre Éder pouco faria por nós. Mais, muito antes de o encontro entre Portugal e Alemanha ter começado, já muitos jogos do Mundial tinham sido marcados por arbitragens polémicas. Eu já antes sabia que, se nos calhasse também um árbitro de imparcialidade duvidosa, as vítimas não seriam os alemães. Não vou dizer que os portugueses tinham obrigação de saber isso - se o árbitro estivesse firmemente apostado em prejudicar-nos (não vou dizer que estava), pouco se poderia fazer - mas atitudes como as de Pepe em nada ajudam nestas situações.
 
O pior do jogo foi mesmo a perda de Fábio Coentrão, que foi obrigado a abandonar o Mundial. Ele que - todos concordam, apesar de continuarem a insistir no Ronaldo-mais-dez - é insubstituível e definitivamente não merecia isto. Não quando sempre foi, praticamente desde que se estreou com a Camisola das Quinas, um dos que mais dá pela Seleção, independentemente do seu momento de forma. Logo agora, que parecia atravessar uma fase tão promissora. O destino foi-lhe cruel.
 
 
É, de resto, um dos aspetos que mais me aflige: o número elevado de lesionados ou de candidatos a sê-lo. Não é um problema exclusivo de Portugal; é bem conhecida a lista de grandes jogadores que falharam este campeonato. No entanto, pelo menos no que toca à Seleção Portuguesa, não me lembro de outro Europeu ou Mundial em que tivéssemos tido tantas baixas ou tantos riscos de inaptidão para os jogos. Toda a gente fala do calendário pesado da temporada, há quem aponte isso como motivo para os recentes e surpreendentes fracassos de Inglaterra e, sobretudo, Espanha, mas, tanto quanto me lembro, é a primeira vez que isto acontece. Porquê este ano em particular?
 
Antes do fim da agonia, ainda houve tempo para o quarto golo alemão, resultante de mais uma falha na defesa, em que Rui Patrício tornou a ficar mal na fotografia. Estava feito o resultado. 
 
Não é a primeira vez, nem a segunda, que nos estreamos a perder num campeonato de seleções. Eu acreditem nas palavras otimistas de Cristiano Ronaldo, na véspera do jogo (e nem falo do camelo...), mas aceitaria perder por 1-0, 2-1, 2-0 ou mesmo 3-1.  Afinal de contas, em 2004 e 2012, as derrotas iniciais não impediram bons desempenhos nos respetivos Europeus. E em 2012 até não fizemos má figura, nem mesmo em 2008, apesar de esse jogo ter ditado a nossa expulsão do Euro. Mas nunca foi assim tão expressivo, tão humilhante. O único jogo que se compara é o da nossa estreia no Mundial 2002 com os Estados Unidos - e toda a gente sabe como essa história acabou. O pior é que ando a ver semelhanças com 2002: lesão da maior figura da equipa, dúvidas sobre a adequabilidade das condições em que decorreu o estágio, sobre a estabilidade emocional dos jogadores.
 
 
É claro que, quando a Seleção passa por crises semelhantes a esta, se coloque tudo em causa, que venham a lume teorias da conspiração. Carlos Queiroz, por exemplo, não deixou de meter a sua farpa, como é habitual. O provérbio "em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão" nunca fez tanto sentido, ainda que muitas das críticas tecidas tenham a sua legitimidade.
 
Para mim, o pior não é a derrota em si, nem mesmo o resultado. O pior foi o fracasso do espírito de Seleção, da garra, da entreajuda, em suma, daquilo que falei, daquilo que exaltei, na última e outras crónicas neste blogue, no artigo que enviei para o Record Online. Essa é que foi a verdadeira desilusão. Com que cara fico eu quando, depois de ter garantido que cada um dos jogadores é melhor quando joga na Seleção do que sozinho, não se viu nada disso no Arena Fonte Nova?
 
Não percebo o que aconteceu, sinceramente. A "equipa" que jogou com a Camisola das Quinas em Salvador não é a Seleção que eu conheço, não é nada.
 
Algo vai ter de mudar. Paulo Bento tem ideias fixas (por outras palavras, é casmurro que nem uma mula), mas terá de alterar alguma coisa. Que mais não seja porque tem quatro jogadores indisponíveis para o jogo com os Estados Unidos. Se antes se podia tolerar os seus implicanços com a Comunicação Social  - porque até tinha razão nalgumas coisas e, de resto, não se podia apontar-lhe muito, pois tinha vindo a cumprir os objetivos, com maior ou menor dificuldade - agora não tem o direito de ser tão arrogante como tem sido. Com alguma sorte, acontecerá o mesmo que aconteceu a Luiz Felipe Scolari, após a primeira derrota com a Grécia no Euro 2004.
 

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Portugal está agora obrigado a ganhar tanto aos Estados Unidos como ao Gana para poder passar a fase de grupos. Parece que, já que o Gana e a Alemanha empataram (como é que o Gana conseguiu fazer frente aos alemães e nós não?), a nossa atual diferença de quatro golos não deverá ser um problema. Em circunstâncias normais, eu diria que é assim que, de resto, a Seleção "gosta" de jogar: com margem de erro reduzida, sempre no caminho mais difícil. Eu mesma calculava que, muito provavelmente, seria assim que a fase de grupos se desenrolaria, cheguei mesmo a considerá-lo desejável (não torno a dizer que uma derrota pode ser "boa"; tal como no lugar-comum, vou ter mais cuidado com o que desejo). Mas, ao longo destes dias, tenho tido medo das sequelas anímicas do nosso primeiro jogo do Mundial, de que a forma física dos jogadores, as condições climatéricas, sejam mais fortes que a vontade de fazer bem, de que os mais pessimistas tenham razão. Esta derrota desanimou-me imenso. Não foi para isto que esperei estes meses todos, para não dizer quase dois anos. Agora, que estamos a menos de vinte e quatro horas do jogo com os Estados Unidos, já recuperei uma boa parte desse ânimo, mas continuo com muitas dúvidas. 
 
Eu já devia estar habituada, já devia saber que não é fácil saber que é fácil ser-se adepto incondicional da Seleção. É muito mais fácil ser-se daqueles que se vestem com as cores nacionais sempre que a Seleção está em alta mas que, nos momentos difíceis como este, desatam de imediato a criticar tudo e todos. Eu já devia tê-lo interiorizado mas, pelos vistos, padeço do mesmo mal que os Marmanjos: nunca aprendo.
 
Eu não quero ser desses adeptos hipócritas. Ainda que, ultimamente, ande a pensar que, um dia destes, vou pura e simplesmente desistir, deixar de me ralar com as desventuras da Seleção, parar de tentar constantemente, puxar por eles, encorajar as outras pessoas a apoiá-los como eu apoio, porque eles nem sempre o merecem, não será para já. Pelo menos não enquanto houver uma hipótese de fazermos um bom Mundial. Como já aconteceu antes, não é tanto por convicção, é mais por desespero. Não quero que isto acabe assim, não quero que 2002 se repita. Quero acreditar que nós somos mais do que fomos segunda-feira, que aquilo foi a exceção, não a regra, que a Seleção vai levantar-se outra vez, tal como o tem feito várias vezes nos últimos anos - incluindo em alturas em que nem eu já quase acreditava. Paulo Bento conseguiu ressuscitar a Seleção depois do caso Queiroz, tem de conseguir fazer o mesmo agora. Isto não pode acabar assim. 
 
Mostrem que somos mais do que isto. Mostrem que somos a Seleção.