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O Meu Clube É a Seleção!

Mulher de muitas paixões, a Seleção Nacional é uma delas.

Portugal 0 Espanha 0 (4-2 após penáltis) - Travados

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O Campeonato da Europa de Futebol, que se realizou na Polónia e na Ucrânia, já acabou há alguns dias, o jogo das meias-finais que opôs a Seleção Portuguesa de Futebol à sua congénere espanhola já se realizou há mais de uma semana. Devia ter publicado bem mais cedo, mas tem-me faltado tempo. É a velha questão das fases finais em época de exames. Aquando dos outros jogos, era catalisada pela necessidade de publicar antes do jogo seguinte. Mas agora...

 
Tal como se previa, o jogo despertou interesse um pouco por todo o planeta. Os olhos do Mundo estiveram pousados em Donetsk. Dave Phoenix Farrel, dos Linkin Park - mais conhecido por, simplesmente, Phoenix - afirmou no Twitter não saber por quem torcer. Chuck Comeau, dos Simple Plan, estava aflito por não ter maneira de ver o jogo, acabou por seguir os penáltis via rádio. Por sua vez, a Nelly Furtado, da eterna "Força" do Euro 2004, não teve problemas em dizer que estava a torcer por nós. Parece, inclusivamente, que o jogo bateu recordes de audiência televisiva, tanto cá em Portugal como em Espanha.
 
 
Vou ter saudades disso. De ter a Seleção no centro das atenções, sobretudo quando se começou a perceber que os portugueses tinham uma palavra a dizer neste Europeu. Dos programas de rádio e televisão sobre o assunto - mesmo que, em certas alturas, me tenham parecido exagerados. De estar na Faculdade, nos cafés, no Metro, no comboio, no autocarro, escutando por acaso conversas alheias sobre a Seleção, por vezes metendo-me nelas. Das bandeiras. Das publicações no Facebook. De ver o nome do País, o nome dos nossos jogadores, nos Trending Topics do Twitter. De ver os jogos com a minha irmã, de ela conhecer pelo metade dos jogadores pelo nome, de consultar a caderneta de cromos para saber o peso e a altura de cada um deles, para se ter uma ideia do que terá sido quando um dos nossos levavam com um adversário em cima.  Da blusa vermelha que usei no "A Tarde é Sua" e em todos os dias de jogos.  Do meu velho cachecol. De ver pessoas que, em circunstâncias normais, pouco ligariam ao futebol, tão entusiasmadas quanto eu.


Mas regressemos ao jogo antes de irmos por aí. Que, como seria de esperar, foi muito intenso, inadequado para cardíacos. Muita gente se queixou no Twitter ao longo de todo o encontro. Cedo, faríamos companhia a Eusébio...

Os primeiros noventa minutos foram muito equilibrados. Portugal foi a primeira - e única - equipa que conseguiu contrariar o tiki-taka espanhol neste Europeu. Dou graças à nossa defesa por tal feito, com destaque para Pepe e Rui Patrício. O primeiro surgia quase sempre que nuestros hermanos se aproximavam da nossa grande área. O segundo defendeu várias. Eu cheguei a pedir a canonização de ambos, comecei a chamá-los São Pepe e São Patrício, os nossos salvadores...

 

O pior é que a defesa espanhola não era inferior. O maldito Iker Casilhas agarrava todas!
 
Tirando isso, Portugal foi dominante durante quase todo o encontro. Mesmo no prolongamento, quando os nossos já estavam a meio-gás e os espanhóis começaram a encostar-nos ao nosso meio-campo, a nossa defesa continuava suficientemente organizada para lhes anular os ataques.
 
Cedo se percebeu que a coisa só se resolveria nos penáltis. E ninguém se sentia particularmente feliz com isso. Desempatando o jogo dessa forma, tudo podia acontecer - tinha noção disso mesmo antes do fim do prolongamento. Não acho que os penáltis sejam propriamente uma lotaria, mas, na minha opinião, são quarenta por cento perícia, trinta por cento estado psicológico e emocional, tanto do guarda-redes como do marcador, trinta por cento sorte.

 

 

 

A coisa até começou bem para o nosso lado, com o Rui Patrício a defender a primeira grande penalidade dos espanhóis. São Patrício, São Patrício... Pena foi João Moutinho ter estragado tudo. Quando ele ia bater o penálti, recordei-me, inevitavelmente, de um jogo da Taça de Portugal há alguns anos, entre o Sporting e o F.C.Porto, em que o Moutinho falhara o primeiro penálti de um desempate semelhante, decidindo o desfecho do jogo. Lembrei-me de o meu pai comentar que fora má ideia colocar tal pressão, tal responsabilidade, nos ombros de um jogador na altura tão jovem. Contudo, disse a mim própria que isso não significava nada, que o Moutinho já não tinha vinte anos, que ele era capaz de dar conta do recado. Ledo engano. Casilhas era demasiado bom.

 

 

Depois o penálti do Bruno Alves foi à trave. Não sei se foi por nervosismo do nosso defesa, se foi simplesmente azar. Voto na segunda - os ferros na baliza acabaram por ser os nossos maiores opositores neste Europeu. E os exemplos abundam. De tal forma que, como que para que não houvesse dúvidas de que os limites metálicos das balizas estavam contra nós, o remate de Fabregas também foi ao poste... mas a bola entrou, à mesma!

 

 

Talvez agora compreendam o título "Travados". A trave expulsou-nos do Europeu, mais do que os espanhóis!

 

 

Entretanto, já o Europeu terminou, já a Espanha se sagrou campeã, tornando-se a primeira seleção a conquistar três títulos consecutivos. Os italianos não tiveram qualquer hipótese, foram completamente cilindrados. A verdadeira final foi em Donetsk, connosco. Nós fomos a única equipa capaz de fazer frente aos espanhóis.
 
Contudo, não foi suficiente. Eu sabia que ia ser assim. Já tinha alertado para tal aqui no blogue, até mesmo antes do Europeu: nestes jogos, não chega jogar melhor, os desfechos são definidos com base em detalhes, em pormenores tornados pormaiores. Mas também é aquela: não se podia exigir muito mais aos jogadores portugueses.
 
Como muitos diriam, o futebol tem destas coisas.

 

 

Isto coloca um ponto final no Europeu da Polónia e da Ucrânia, nestas semanas gloriosas em que a Seleção esteve reunida, em que foi rainha e senhora das nossas atenções. Acho que aproveitei bem este mês e meio, mais coisa menos coisa. Não escrevi cá no blogue com tanta frequência como, se calhar, no Euro 2008 ou no Mundial 2010 porque, desta vez, tive - e vou continuar a ter - uma página no Facebook. As entradas no blogue são extensas, exigem bastante tempo - que o diga esta, que demorou mais de uma semana! No Facebook, é tudo muito mais rápido. Mesmo quando publico uma opinião um pouco mais extensa, demoro muito menos tempo. Além de que me permitiu, não só opinar sobre quase tudo o que saiu sobre a Seleção, mas também guardá-lo para a posteridade. Mantive-me, portanto, a parte de quase tudo. Acompanhei umas quantas conferências de Imprensa em direto. Vi e escutei diversos programas sobre o assunto. Gastei quase um caderno A5 inteiro, de espessura considerável, com notas e rascunhos de entradas. Fui à televisão dar a cara pela Turma das Quinas. Festejei a vitória frente à República Checa na rua, seis anos depois da última vez que o fizera.
 
A única coisa que lamento não ter feito é ter visto os jogos com várias pessoas, quer fosse no Campo Pequeno ou assim ou, simplesmente, num café ou restaurante. Posso ter estado acompanhada por muitos, um pouco por todo o Mundo, através do Twitter, mas não é a mesma coisa. Eu queria ver e ouvir as reações das pessoas, em vez de apenas lê-las.

 

 

 
Sim, aproveitei bem. E, sobretudo, valeu a pena aproveitá-lo. Pela primeira vez desde que tenho este blogue, a Seleção Nacional fez uma campanha num campeonato de seleções que vale a pena ser recordada. Pela primeira vez, sinto que fiz bem ao ter o blogue, a página do Facebook, ao não ter deitado fora os jornais dos dias que se seguiram aos jogos. 
 
Tem-me deprimido um pouco, mais do que o facto de não termos ido à final, a ideia de que o Europeu já acabou, que a Seleção já não está reunida, que a atenção já está a regressar aos clubes. Isto, adicionado ao facto de ainda estar em exames, faz-me, por vezes, desejar dolorosamente que a Equipa de Todos Nós estivesse, de novo, em estágio, que me levassem com eles para lá - fisicamente, não apenas uma parte de mim. Há quem recorde que a Qualificação para o Mundial 2014 já começa em setembro mas não é a mesma coisa.
 
Em suma, estou em ressaca de Seleção. Há de passar.
 
 
Uma das coisas que tem ajudado é pensar no próximo Apuramento. Os nossos adversários já são conhecidos desde há um ano. Em princípio, só a Rússia nos colocará dificuldades significativas, embora suspeite que Israel e a Irlanda do Norte não sejam tão inofensivos como parecem. De qualquer forma, espero que esta Qualificação seja bem menos atribulada que as duas anteriores. Sem tropeções graves, sem grandes polémicas, sem calculadoras. Sê-lo-á, certamente. Paulo Bento parece estar de pedra e cal ao leme na Seleção. Os Marmanjos provaram ter carácter. Alguns deles, como o Cristiano Ronaldo, o Nani, o Hugo Almeida, o João Moutinho, o Raúl Meireles, o Pepe, entre outros, já jogam juntos na Seleção há alguns anos. Além disso, Paulo Bento teve o mérito de, não tenho a espinha dorsal de nenhum clube, formar uma equipa sólida a partir de jogadores de clubes e campeonatos diferentes. 
 
Talvez dê para assistir a um jogo. Os meus pais, pela primeira vez em vários anos, parecem recetivos à ideia - ao preço a que estão os bilhetes, não dá para ir sem financiamento parental. E, definitivamente, vou voltar a assistir a treinos abertos, assim que eles voltarem ao Jamor.
 
 
Há quem já nos considere candidatos ao título no Mundial 2014 - que é o suposto prazo de validade desta equipa. Eu não estou assim tão otimista. Tenho medo que as circunstâncias deste Europeu não se repitam, que tenhamos perdido outra boa oportunidade. Que, em 2014, as coisas não corram tão bem para o nosso lado.
 
No entanto, ao longo do ano passado, tal como já mencionei em entradas anteriores, pressenti - não de uma forma cem por cento racional - que a Seleção estava lentamente a fortalecer-se cada vez mais, a regressar aos seus melhores tempos, tornando o sonho cada vez menos impossível. Este Europeu confirmou tais suspeitas. Podemos ter sido travados, mas tornámo-nos grandes de novo, somos outra vez uma das melhores seleções do Mundo e não é apenas por termos o Cristiano Ronaldo.
 
E o meu pressentimento agora é de que continuaremos a crescer, ao longo dos próximos dois anos. De que chegaremos ao Brasil ainda mais fortes. Talvez suficientemente fortes para voltarmos a lutar pelo título. 
 
 
Por enquanto, a curto e a médio prazo, uma coisa não mudará: a Seleção continuará a ser uma das poucas coisas em que poderemos acreditar no nosso País, que retribuirá todo o apoio que lhe for dado, que nos permitirá esperar por algo de bom no futuro. Foi o que aconteceu agora, neste Europeu. As próximas alegrias serão menores, provavelmente não durarão mais do que uma noite, na maior parte dos casos. Não resolverão os problemas a ninguém. Mas se ajudar alguém a dormir melhor nessa noite, já valerá a pena.
 
Deixo aqui o calendário da Qualificação para o Mundial 2014:
 

O capítulo Euro 2012 terminou, o capítulo Mundial 2014 começa em setembro. A coisa boa disto tudo é que há sempre um campeonato de seleções a cada dois anos, há sempre um recomeço, há sempre uma nova oportunidade se lutar pelo sonho. Temos sempre desculpas para continuar a acreditar. Ainda me encontro um pouco em luto mas temos o verão para recuperar. Continuarei a atualizar a página do Facebook - não tão frequentemente como nas últimas semanas pois as notícias escassearão e poderei, inclusivamente, estar de férias sem acesso à Internet. Mas se surgir algo sobre a Seleção, falarei disso. Mantenham-se ligados. A história continuará a ser escrita em setembro. 

República Checa 0 Portugal 1 - Sem impossíveis

Seis anos depois do Mundial na Alemanha - altura em que a Seleção Portuguesa de Futebol contava com jogadores como Luís Figo, Pedro Pauleta, Maniche, Deco, Ricardo Carvalho - a Turma das Quinas, desta feita, catalisada por jogadores como Cristiano Ronaldo, Nani, Hélder Postiga, Pepe, Fábio Coentrão, Raul Meireles, atingiu as meias-finais do Euro 2012.

Estas coisas começam a ser previsíveis, quase rotineiras. A Seleção entrou muito lenta na partida - parece que é mesmo impossível entrarem com toda a força desde o primeiro minuto. O que nos valeu foi o facto de, ao contrário da Holanda, a República Checa não foi capaz de tirar partido disso. Não me recordo, aliás, de uma única defesa por parte de Rui Patrício. Nunca tiveram hipótese. Assim, a Seleção acabou por ir crescendo e, após o intervalo, entrou em campo a matar. Nos primeiros dez, quinze minutos, a bola mal saiu da grande área checa. O que valeu aos checos foi o Petr Cech e... o poste. 


- O que é que o poste tem contra nós? - chegou mesmo a lamentar a minha irmã.

Até nisto, o Cristiano Ronaldo anda a quebrar recordes: até ao momento, é o jogador que mais bolas tem enviado ao ferro da baliza neste Europeu.

No entanto, de acordo com o que, na altura, me disseram no Twitter, se o cântaro vai demasiadas vezes à fonte, acaba por se partir. A quebra deu-se aos 79 minutos. Nani passa a bola a João Moutinho - que estava a fazer alto jogo, atacando, defendendo... é como se fosse o faz-tudo da Equipa das Quinas! - leva-a quase até à linha de fundo, cruza para a área e Ronaldo, com grande classe, remata de cabeça, obrigando Petr Cech a ir buscar a bola ao fundo da baliza.


Este golo também teve direito a dedicatória. Ronaldo voltou a dizer "É p'ra ti!" e, desta feita, até soprou um beijo em direção às câmaras. Só que não há certezas sobre a quem se dirigiu. Talvez fosse para o filho, para a mãe ou para a namorada. Há quem diga que foi a Messi - sem comentários... Provavelmente, nunca o saberemos. Prefiro assumir que se dirigiu a cada um de nós.


Depois do jogo, houve festa na rua. Desta feita, eu e a minha irmã juntámo-nos a eles. Pela primeira vez em seis anos, fui para a rua festejar uma vitória da Seleção - também foi a primeira vez em seis anos que a Seleção se qualificou para as meias-finais de uma grande competição, não íamos deixar passar isso em branco. Lá nos juntámos ao resto do pessoal, na mesma rotunda onde, há oito anos, estive a comemorar a presença na final do Euro 2004. Muitas bandeiras e cachecóis, pessoas penduradas nas janelas e tejadilhos dos carros, maluquices com motas, cânticos de "Portugal Allez" e mesmo do Hino Nacional, carros abanados, o autocarro urbano exibindo "Força Portugal" no letreiro eletrónico, buzinas, vuvuzelas... Quando regressámos a casa, vinha com uma dor de cabeça de todo o tamanho - mas não me importei nada com isso. Era dor de vitória. Só me doía a cabeça porque fizeram barulho. Só fizeram barulho porque Portugal está nas meias do Euro 2012.


Independentemente do que acontecer nas meias, esta campanha já pode ser considerada um sucesso. Afinal de contas, estamos entre as quatro melhores da Europa! Foi para momentos como os de quinta-feira à noite, para jogos como o de quinta-feira à noite, para conquistas como a de quinta-feira à noite que eu criei este blogue há quatro anos. Para, mais tarde, poder recordar estes momentos, para, mais tarde, falar deles aos meus netos. Contar-lhes como a Seleção conseguiu calar os pessimistas, como Cristiano Ronaldo esteve endiabrado como nunca nestes dois últimos jogos; de como Fábio Coentrão, às vezes, parece levar a Turma das Quinas às costas; de como o Moutinho parece, de facto, uma formiguinha: baixinho, mas correndo de um lado para o outro em prol da equipa; de como os veteranos Figo e Eusébio festejaram o golo do seu herdeiro, Cristiano Ronaldo; de como o Pepe é um defesa fantástico, uma grande figura na nossa Seleção, que, apesar de ser brasileiro por nascimento, faz questão de expressar, ostensivamente, o seu amor ao nosso País, sobretudo depois de marcar de como Nani, apesar de não ter marcado, ainda, neste Europeu, já contribuiu para, pelo menos, três golos da Equipa de Todos Nós; de como Varela saltou do banco e salvou o dia, frente à Dinamarca. De como tudo isto foi possível graças a um treinador jovem e relativamente inexperiente. 

No entanto, já que chegámos até aqui, quero mais. Quero que cheguemos à final de Kiev. No momento em que escrevo, ainda não se sabe quem será o nosso adversário nas meias. Prefiro a França, não tanto pela acessibilidade (que, de resto, é relativa. Uma equipa que conseguir eliminar a Espanha não pode ser subestimada), mais por vingança, para desforrar as meias-finais de 84, 2000 e 2006... ou repetir a história. Mas o mais provável é levarmos com nuestros hermanos de novo. Em todo o caso, Portugal já provou tem  capacidade de se bater como igual, ou mesmo superior, com qualquer equipa deste Europeu. Seja a Espanha, seja a França, a final de Kiev não é um objetivo inalcançável. 


A Seleção está a ter um bom trajeto, esta fase final já deu uma mão-cheia de coisas boas para recordar, sobre que escrever, mas quero ainda mais. Quero pelo menos mais uma vitória, pelo menos mais uns bons momentos sobre que escrever, para recordar. Acredito que este Europeu pode dar-nos ainda mais. Basta que a Turma das Quinas faça o que tem feito até agora (pensando melhor, convinha entrar a matar desde o primeiro minuto, não ter aquela primeira meia hora toda encolhida). Nesta fase do campeonato, não há impossíveis. Agora é a Seleção Nacional agarrar esta oportunidade e dar-nos, finalmente, um final feliz.