No passado dia 21 de março, a Seleção Portuguesa de Futebol venceu a sua congénere sueca por cinco bolas contra uma. Cinco dias mais tarde, no entanto, perdeu perante a sua congénere eslovena por duas bolas sem resposta. Ambos os jogos foram de carácter amigável.
Enfim.
Conforme já tinha referido no texto anterior, estava ainda a trabalhar durante a primeira parte do jogo com a Suécia. Foi um final de dia mais movimentado que o costume. Aviso de amiga: pessoas que chegam a um estabelecimento nos últimos cinco, dez minutos antes do fecho, sem terem um bom motivo para isso, têm um lugar reservado no inferno. Foi o caso de pelo menos dois dos utentes que ainda lá estavam quando fechámos. É indecente!
Ainda assim, consegui ir espreitando sites de atualizações e soube quando marcaram os dois primeiros golos. O terceiro coincidiu com a altura em que nos preparávamos para fechar, logo, só soube dele durante o intervalo, já a caminho de casa.
Pelo que vi e li mais tarde, a Suécia até entrou no jogo a dominar, mas só se aguentou durante uns vinte minutos. Portugal rapidamente tomou as rédeas da partida. O primeiro golo do jogo – e do ano – surgiu aos vinte e quatro minutos. O primeiro remate foi de Bernardo Silva, mas a bola foi ao poste. Na recarga, Rafael Leão não perdoou.
O segundo golo também teve assistência de Bernardo Silva, ainda que de maneira diferente. Este passou a Matheus Nunes, que avançou pelo campo sem que os suecos conseguissem fazer nada. Ao entrar na grande área, rematou certeiro.
Por sua vez, o terceiro golo começou com um passe fabuloso de João Palhinha. A bola voou quase a distância equivalente a um meio campo até Nélson Semedo, à direita. Este foi até à linha de fundo, assistindo depois para Bruno Fernandes marcar – fazendo um túnel ao pobre defesa sueco.
Na segunda parte, já estava à frente da televisão e, sinceramente, gostei do que vi. Uma exibição bem agradável. Gostei em particular de ver Palhinha: teve vários momentos que me recordaram a célebre jogada do Portugal x França do Euro 2021 2020, que terminou com uma cueca a Pogba.
E fui capaz de ver a Seleção marcando um par de golos. O primeiro teve a assistência de Bruno Fernandes. Esteve frente a frente com o guarda-redes, teve a hipótese de rematar ou de passar a um colega: ou Bruma, à sua esquerda, ou Gonçalo Ramos, à sua direita. Acabou por escolher Bruma, que não desperdiçou o jeitinho.
Infelizmente, depois, cometemos um erro de amadores. Baixámos a guarda durante o rescaldo do golo e deixámos Viktor Gyökeres marcar o primeiro da Suécia. Toti Gomes ficou mal na fotografia.
Ainda assim, só precisámos de alguns minutos para ampliar a vantagem de novo. António Silva fez um passe longo para Nélson Semedo, que seguiu pela direita e assistiu para o golo de Gonçalo Ramos. Os suecos, no entanto, conseguiram voltar a reduzir, perto do fim do jogo.
Toda a gente ficou contente com este resultado e com este jogo, muitos nós começaram a sonhar alto. Não vou mentir, eu também me deixei levar por esse espírito. Mas já tinha escrito que os suecos não estavam a atravessar um bom momento – aquela vitória vale o que vale. E, da minha experiência acompanhando a Seleção de perto, já devia saber que o Universo tem a mania de nos atirar de volta para a Terra quando andamos com a cabeça nas nuvens.
O que, pelo menos esta fase, não é uma coisa má, atenção!
Eu sabia que a Eslovénia seria um adversário mais difícil que a Suécia. Ainda assim, estava à espera de melhor. Nem quero escrever muito sobre este jogo – o que há para dizer? Foi uma seca. Estava a ver a partida e a pensar: “Fui eu pedir para sair mais cedo para isto?”. Não que preferisse estar a trabalhar, mas porque é que os Marmanjos só jogaram bem nesta jornada quando não pude ver o jogo todo?
Muitos têm apontado que esta derrota serviu para demonstrar a falta que nomes como Bernardo Silva e Bruno Fernandes fazem. Talvez tenham razão, mas também concordo com a dispensa deles deste jogo. Já não é a primeira vez que o escrevo: a época futebolística atualmente é uma coisa parva. Se for possível poupar os jogadores literalmente nesta altura do campeonato, que se poupe!
E, no fim do dia, isto é apenas um particular. O próprio Roberto Martínez disse depois que o mais importante não era a vitória – eu disse o mesmo antes, como digo antes de todos os jogos amigáveis. Não vamos colocar tudo em causa e deixar de ser candidatos ao título porque perdemos um jogo – tal como não éramos os grandes favoritos depois de termos ganho a uma seleção que falhou o Apuramento.
Dito isto, espero mesmo que o jogo com a Eslovénia tenha servido para tirar ilações, que aquilo foi penoso.
No meio disto tudo, devo confessar, tenho andado pouco entusiasmada com a Seleção. Em parte por andar ocupada com outras coisas – quem segue o meu outro blogue e sobretudo a sua página no Facebook terá uma ideia sobre o que estou a falar – mas também porque este último ano, sejamos sinceros, foi pouco estimulante. Uma Qualificação tranquila perante adversários de nível médio/acessível (claro que tinha sido pior se tivéssemos sentido dificuldades) e, agora, dois particulares. Já não é a primeira vez que o digo: tenho saudades de partidas mais intensas, com mais em jogo. Tenho saudades do mata-mata, do Nitromint debaixo da língua.
Isto é, no momento não acho assim tanta piada, mas depois gosto de recordar e de escrever sobre isso.
Felizmente já não falta muito tempo. Diz que os Convocados serão anunciados a 20 de maio, marcando o início da era do Europeu. Em princípio, não devo publicar antes da Convocatória, mas vou tentar publicar depois, antes dos particulares marcados para junho.
Na próxima sexta-feira, dia 8 de setembro, a Seleção Portuguesa de Futebol defrontar a sua congénere eslovaca no Tehelné pole (o Estádio Nacional da Eslováquia), em Bratislava. Três dias depois, receberá a sua congénere luxemburguesa no Estádio do Algarve. Ambos os jogos contarão para o Apuramento para o Euro 2024.
Há coisa de um mês, quando pensava nesta dupla jornada, achava que não iria ter grande coisa sobre que escrever nesta crónica pré-jogos. Pois bem, não foi o caso.
Começando pela Convocatória, que veio com uma dose saudável de polémica. Por causa das Chamadas de João Félix e João Cancelo, que quase não tiveram minutos pelos respectivos clubes – isto é, antes de ambos assinarem pelo Barcelona, na reta final do Mercado.
Roberto Martínez justificou a Convocatória, pelo menos em parte, com a necessidade por parte "da Federação e do futebol português". É nisto que se tem centrado a controvérsia. Eu acho que se está a fazer algum empolamento daquilo que Martínez disse, mas tirando isso desta feita concordo com a opinião popular.
Não vou ser hipócrita. Não vou dizer que discordo completamente com aquilo que Martínez disse. Sempre gostei de imaginar a Seleção como um lugar seguro, tanto para jogadores como para adeptos, longe da toxicidade do futebol de clubes. Não é a primeira vez que escrevo sobre essa ideia – e quero acreditar que a realidade não é muito diferente daquilo que imagino.
Dito isto, sei perfeitamente que essa não é a principal função da Equipa de Todos Nós. Não sei quem ainda não o percebeu, mas a Seleção serve para representar um país. Funcionar como porto de abrigo é apenas um efeito secundário agradável. Não faz sentido Chamar um jogador que talvez não mereça em detrimento de outro, só porque está triste.
Sobretudo quando são sempre os mesmos a serem Convocados – e quando outros andam há séculos, mesmo há anos, à espera da sua oportunidade.
Por outro lado, fingindo que sim, que Martínez deve Chamar jogadores precisando de consolo… aqui entre nós, será que Félix o merece?
Não conheço pessoalmente nenhuma das partes envolvidas, a minha opinião vale o que vale. Em todo o caso, a história de João Félix no Atlético de Madrid tem sido turbulenta desde o início. Não tenho pena do clube. Eles enterraram cento e vinte e cinco milhões de euros num puto de dezanove anos. Não tinham noção do risco que corriam?
Dito isto, Félix não se portou bem nas últimas semanas: recusando-se a jogar pelo clube que lhe pagava o salário, estragando qualquer boa vontade que o Atlético ainda pudesse ter para com ele.
João Cancelo também teve uma época estranha em 2022/2023, mas não há nenhuma indicação de faltas de profissionalismo como esta.
E sabem o que me dá uma certa raiva? A birra de Félix funcionou, ele conseguiu o que queria: assinar pelo Barcelona. Certo, vai ter um corte no salário, vai passar a receber apenas três milhões de euros líquidos por época, em vez de seis.
Há de sobreviver. Ele que comece a comprar produtos de marca branca.
Não me interpretem mal: fico contente pelo Félix, que cumpre um sonho de criança, tal como fico contente pelo Cancelo. Só quero o melhor para os Marmanjos – até porque a Seleção só tem a ganhar com isso. Mas fica um amargo de boca por atitudes como estas serem narrativamente recompensadas – como disseram aqui na vizinhança, o mundo é dos canalhas. Sobretudo quando compararmos com o que aconteceu a João Palhinha.
Caso ainda não saibam, Palhinha esteve a isto de assinar pelo Bayern de Munique. Ao ponto de ter feito exames médicos e tirado fotos com a camisola do novo clube. Só que, à última hora, como não conseguiram arranjar nenhum substituto para Palhinha, o Fulham cancelou o negócio. Em suma, apunhalaram-no pelas costas.
Ele não merecia isto. Palhinha sempre mostrou ser um bom profissional, Será talvez um dos médios portugueses mais talentosos desta geração. Ainda na semana passada recordaram o momento em que humilhou metade da seleção francesa, no Euro 2020. Ao mesmo tempo, em pesquisas para este texto, recordei-me do golo dele perante o Luxemburgo em outubro de 2021 (mais sobre isso já a seguir). Também destaco as palavras mais recentes dele sobre os colegas assobiados durante jogos da Seleção.
Penso que não é a primeira vez que refiro que detesto o Mercado de Transferências. Situações como esta são um dos motivos. Além disso, faz-me impressão a maneira leve, por vezes mesmo desumanizante, como são discutidas as vidas de jogadores e das respectivas famílias.
E muitas vezes nós só sabemos dos negócios nas esferas mais elevadas, em que os salários generosos facilitam imenso o ciclo eterno de enraizamento e desenraizamento. Nem quero imaginar como será para os que jogam nos escalões mais baixos, ganhando muito menos.
Talvez estes dias com a Seleção façam bem a Palhinha. E já que Martínez falou de apoiar os jogadores portugueses, eis alguém que está a precisar. Que ele e os outros Marmanjos lhe deem muitos abraços por mim, que lhe digam para não desistir, para continuar a dar o seu melhor – talvez a porta se volte a abrir no futuro.
Regressando à Convocatória e a Félix e Cancelo, Martínez referiu também a necessidade de manter a consistência e dar continuidade ao trabalho realizado nos estágios anteriores. O que sempre é um argumento mais aceitável – mas, ao mesmo tempo, só reforça a ideia de que a Seleção é um grupo fechado.
Por exemplo, para mim não há motivo para não terem Convocado o Paulinho. Martínez disse que a Seleção já tem Cristiano Ronaldo e Gonçalo Ramos. Ronaldo é Ronaldo, sim. Mesmo que não o fosse, sempre tem marcado golos e feito assistências pelo Al Nassr (claro que se pode discutir o nível de dificuldade dessa Liga). Mas Ramos acabou de se transferir para o Paris Saint Germain e, tanto quanto sei, ainda não marcou nenhum golo. Paulinho, por sua vez, já conta quatro neste campeonato.
Ficam estes amargos de boca mas, no fim, o que interessa são os resultados. Nesse aspeto, ninguém pode apontar nada a Martínez até agora. Que continue assim.
Falemos, então, sobre os jogos que nos esperam. O nosso histórico com a Eslováquia é reduzido, o que não surpreende sendo esta uma seleção mais jovem do que eu – nasceu há apenas trinta anos, depois da separação da antiga Checoslováquia. Jogámos quatro vezes contra eles, ganhámos três jogos e empatámos um. Os dois primeiros jogos – duas vitórias – decorreram durante a Qualificação para o Euro 2000, quando ainda não acompanhava a Seleção de perto.
Os dois últimos jogos, no entanto, decorreram durante o Apuramento para o Mundial 2006. Tive oportunidade de recordar essa fase da Seleção – essa e outras – graças ao documentário do Canal 11 sobre os vinte anos de Cristiano Ronaldo de Quinas ao peito. Sendo ele a única constante nestas últimas duas décadas, a história de Ronaldo na Seleção é a história da Seleção nessas duas décadas.
Isso foi o meu aspeto preferido em relação a este documentário – como, por exemplo, este momento. Nem tudo girou só à volta de Ronaldo.
E, claro, os Marmanjos podem falar as vezes que quiserem sobre o Euro 2016, sobretudo sobre a final. Eu nunca me vou cansar de ouvir.
Deu-me um gozo particular recordar a Seleção de entre 2004 e 2006, o Apuramento para o Mundial da Alemanha) – e a maneira como o vivi. Tinha acabado de desistir do futebol de clubes e tinha acabado de me apaixonar pela Equipa de Todos Nós, durante o Euro 2004.
Durante aqueles dois primeiros anos, tudo era uma novidade. Cada jogo era especial, era um dia feliz, mesmo aqueles particulares insignificantes – um espírito que me esforço por manter hoje em dia. Escrevia no meu diário sobre cada um desses jogos, praticando, sem ainda o saber, para este blogue. Sentia tudo – em parte por inocência, em parte porque era uma adolescente nesta altura, devia andar com as hormonas aos saltos. Lembro-me, por exemplo, de ficar super triste depois de perdemos um particular com a República da Irlanda – hoje não me tiraria o sono.
Tenho de referir que, na altura, tinha um enorme fraquinho pelo Ronaldo. Agora rio-me disso. Vejo imagens dele em 2003, 2004 e… meu Deus, que cara de miúdo! Dezanove anos com cara de catorze!
E eu que gozo com o João Félix…
Olhemos para os jogos com a Eslováquia nessa fase de Apuramento. O primeiro foi fora, a 30 de março de 2005: um empate a uma bola. Lembro-me muito vagamente de ver esse jogo e de Hélder Postiga ter sido o autor do golo português.
Nas minhas pesquisas para este texto, encontrei no YouTube a transmissão completa deste jogo, com o relato em russo. Não estava à espera. Deixo-o aqui, se alguém quiser ver.
Recordo-me um pouco melhor do jogo em casa, em junho do mesmo ano – e das circunstâncias em torno dele. Essa dupla jornada ficou marcada pelo regresso de Luís Figo à Seleção depois de um ano de ausência. Lembro-me de ver essa notícia na Internet, no início de uma aula de TIC (ainda há aulas de TIC no Secundário?).
Na altura fiquei contente. Era o Figo! Era a nossa maior figura! Hoje, em retrospetiva, ficou um ligeiro ressentimento. Um jogador ou está disponível para vestir as Quinas ou não está! Estarem com um pé dentro e outro fora é que não dá com nada.
Em relação ao jogo em si, recordava-me do golo de Cristiano Ronaldo. Este veio mesmo à baila agora, quando Ronaldo falou aos jornalistas. É capaz de ter sido o primeiro que ele marcou de livre pela Seleção. Eu lembrava-me inclusivamente de ele olhar diretamente para a câmara por uns instantes durante os festejos.
Foi o segundo golo da partida. O primeiro foi de Fernando Meira aos vinte e um minutos, na sequência de um pontapé de canto.
Se olhássemos para a Eslováquia no início da atual Qualificação, esta talvez não parecesse grande ameaça. Na Liga das Nações estão apenas na Divisão C. Só participaram em três campeonatos de seleções: no Mundial 2010, no Euro 2016 e no Euro 2020. Neste último não passaram da fase de grupos.
Agora que já vamos para a quinta jornada, no entanto, os eslovacos estão em segundo lugar, atrás de nós. Ganharam todos os jogos até agora, tirando um empate a zero com o Luxemburgo em casa (estranho…). Toda a gente concorda que Portugal está pelo menos um nível acima em termos de qualidade. Na prática, temos de ter cuidado. Até porque será um jogo fora.
Em relação ao Luxemburgo, temos jogado muitas vezes com eles nos últimos anos, não precisamos de dedicar-lhes muitas palavras. No entanto, este será um jogo em casa, no Estádio do Algarve. E eu queria recordar a última vez que jogámos com o Luxemburgo no Algarve, há quase dois anos – porque eu estive lá.
Ganhámos por cinco a zero, mas aquilo que recordo melhor é, como referi acima, o golo de João Palhinha e o seu festejo roubado a Ronaldo. Aquela foi uma fase menos má da Seleção, entre o desapontante Euro 2020 e o deslize para os play-offs para o Mundial 2022, no mês seguinte. Em termos pessoais, 2021 não foi fácil para mim, mas aquela terá sido uma das noites mais felizes de todo o ano – no meio de uns agradáveis dias de férias, as únicas a que tive direito em 2021.
Tenho pena de não poder voltar ao Estádio do Algarve para este jogo. Mas também não me posso queixar do meu histórico recente de presenças em jogos da Seleção. Gostava que voltássemos a ter uma vitória tão generosa como a de outubro de 2021 – ou como a de março deste ano – mas é sempre arriscado fazer assunções dessas. O mais importante será sempre conquistarmos os três pontos – e isso vale para ambos os jogos desta jornada. Está a saber bem ter uma Qualificação tranquila para variar. Quero que continue assim.
Como sempre, obrigada pela visita e por lerem o texto até ao fim. Visitem a página de Facebook deste blogue. Força Portugal!
No passado sábado, dia 9 de outubro, a Seleção Portuguesa de Futebol venceu a sua congénere catari por três bolas sem resposta, em jogo de carácter particular. Três dias depois, venceu a sua congénere luxemburguesa por cinco bolas sem resposta, em jogo a contar para a Qualificação para o Mundial 2022… e eu estive lá!
Neste texto, vou focar-me menos no jogo com o Catar e mais no jogo com o Luxemburgo. O primeiro foi apenas um particular, menos importante. O segundo foi oficial, com um pouco mais de história, e foi o meu regresso aos jogos da Seleção, mais de dois anos e uma pandemia depois da minha última vez. Tenho muito mais a dizer.
Não que o jogo com o Catar tenha sido mau. Foi acima da média no que toca a particulares nos últimos anos e houve uma clara melhoria em relação ao jogo do mês passado. Os jogadores encararam o jogo com seriedade – gostei do desempenho de Gonçalo Guedes, por exemplo, mas os grandes destaques foram os estreantes, como veremos já a seguir.
Por outro lado, o Catar também não deu uma para a caixa.
Ainda assim, foi preciso esperar mais de meia hora pelo primeiro golo da Seleção. O estreante Matheus Nunes fez um excelente passe para outro estreante, Diogo Dalot, em cima da linha final. Este assistiu de cabeça para Cristiano Ronaldo, que não desperdiçou.
Sem desprimor para o nosso Capitão, que juntou mais um país à sua lista de golos… aqui foram os estreantes a fazer o mais difícil. Em particular Dalot, um dos melhores em campo neste jogo.
O segundo golo veio no início da segunda parte, na sequência de um canto batido por João Mário. William Carvalho tentara rematar primeiro, de cabeça, mas o guarda-redes catari defendeu primeiro. Na recarga, José Fonte rematou certeiro para as redes. Foi o seu primeiro golo pela Seleção, apesar de já se ter estreado há uns bons anos.
Bem, ele é um central. Marcar golos não é uma prioridade para ele, pelo menos não da maneira como é para um avançado ou mesmo um médio. Nós estamos mal habituados com Pepe e Bruno Alves.
Um dos destaques na segunda parte foi Rafael Leão, que rendeu Cristiano Ronaldo ao intervalo. Via-se mesmo que o Marmanjo queria muito marcar um golo, mas não conseguiu acertar com a baliza.
Acabou por culminar num momento caricato aos oitenta e dois minutos. Bruno Fernandes fez-lhe um passe de primeira, desde o meio-campo. Leão conseguiu o mais difícil: desviar-se do guarda-redes e do colega catari. Mas, quando tinha a baliza aberta, atirou à barra.
Bruno Fernandes não resistiu a mandar-lhe uma bicada nas redes sociais, como podem ver. É tão mau...
Ao menos Rafael conseguiu carimbar uma assistência, já em tempo de compensação. André Silva – outro que estava com ganas – só teve de desviar de cabeça para a baliza. Ficou feito o resultado.
A única coisa má a apontar a este jogo (e também ao seguinte) é que podiam ter havido ainda mais golos. Pelo menos neste caso era apenas um particular. Se é para falhar oportunidades como aquela do Rafael Leão, que seja quando é a feijões.
O Portugal x Luxemburgo foi, então, o meu regresso aos jogos da Equipa das Quinas. Não foi o meu regresso aos estádios após a pandemia – esse regresso ocorreu há poucas semanas, num jogo do Sporting com a minha irmã. Se eu teria preferido regressar com a Seleção, o meu clube? Sim. No entanto, precisamente por causa da pandemia, preferi ser prática em vez de sentimental. Não desperdiço oportunidades.
Foi o que fiz também com este jogo. Tinha férias para tirar, as primeiras este ano, logo, fui passar uma semana ao Algarve (e até apanhei bom tempo. Deu para ir a banhos). A única parte chata é não ter tido companhia – foi a primeira vez que fui a um jogo de futebol sozinha.
Não que tenha sido muito mau. Regra geral não tenho problemas em fazer coisas a solo. E no caso deste jogo, encorajou-me a ir trocando comentários com outras pessoas na bancada – algo que, se calhar, não aconteceria noutras circunstâncias.
Esta foi a minha segunda vez no Estádio do Algarve. A primeira foi em 2005, também perante o Luxemburgo, conforme recordei aqui. Esse jogo terminou com 6-0 no marcador, mas toda a gente sabe que os luxemburgueses melhoraram muito desde então. Não se iam deixar golear desta maneira outra vez.
Ou assim pensávamos nós.
O ambiente estava ótimo no Estádio do Algarve. Lotação esgotada pela primeira vez desde o início da pandemia o que, depois de uma época inteira de estádios vazios ou parcialmente lotados, terá sabido particularmente bem aos jogadores.
Tal como já acontecera noutros jogos da Seleção, havia uma pequena claque que ia entoando cânticos, alguns adaptados dos clubes. Nem todos conseguiam cativar o público, tirando uma pessoa ou outra. Os melhores eram a tradicional onda e uma adaptação do haka islandês.
O jogo dificilmente podia ter começado melhor, com três golos da Seleção em menos de vinte minutos. É certo que os dois primeiros foram de penálti – e que o primeiro penálti não era válido, embora na bancada não conseguíssemos perceber.
Compreendo as queixas de Luc Holtz, selecionador do Luxemburgo, mas todos concordam que não foi por esse penálti que Portugal ganhou. Pode-se discutir, sim, se o jogo teria decorrido da mesma forma se aquele penálti não tivesse sido assinalado. Depende muito de jogo para jogo. Existem casos em que um golo cedo muda tudo, desbloqueia um jogo. Existem outros casos em que, quando a boa entrada de uma das equipas não se traduz em golos – ou quando se falha um penálti, como aconteceu perante a Irlanda – a corrente do jogo muda.
No caso deste jogo, no entanto, acho que não faria diferença. Até porque os luxemburgueses fariam nova falta para penálti – esse legítimo – poucos minutos depois.
Ainda assim, achei mal quando, mais tarde, Fernando Santos invocou o golo anulado em Belgrado a propósito desta conversa. Uma arbitragem olho por olho no que toca a erros é mau princípio.
Em todo o caso, estes penáltis serviram para Cristiano Ronaldo juntar mais um par de golos à sua lista. E para gritarmos “SIIIM!” nas bancadas em coro com ele – algo que eu desejava fazer há algum tempo.
Tenho a ideia de que a jogada para o terceiro golo da partida começou com João Cancelo, mas posso estar enganada. De qualquer forma, a assistência foi de Bernardo Silva e o remate foi de Bruno Fernandes. O guarda-redes Anthony Moris, se calhar, podia ter feito mais, a bola passou-lhe mesmo por baixo do corpo, mas nada disso tira o mérito a Bruno.
Nesta altura, um miúdo de seis ou sete anos sentado atrás de mim comentou:
– Isto vai dar em goleada…
Eu disse-lhe que costumava ser assim, com o Luxemburgo – ele era demasiado novinho para se recordar desses jogos – e que, se calhar, naquela noite aconteceria o mesmo. No entanto, depois destes frutuosos primeiros vinte minutos, o resto da primeira parte não teve grande história.
Na segunda parte, aos sessenta e oito, deu-se um dos momentos da noite. Ronaldo rematou com um lindo pontapé de bicicleta. Por seu lado, o guarda-redes Moris resolveu agigantar-se e defender aquela. Um remate espetacular que obrigou a uma defesa espetacular.
Imagens posteriores mostraram um Ronaldo desiludido com este falhanço. Também mostraram André Silva ajudando-o a levantar-se, os outros colegas consolando-o, e isto é um dos motivos pelos quais adoro a Seleção. Ao mesmo tempo, nas bancadas, festejámos e cantámos o nome dele (dá para ouvir no vídeo) como se a bola tivesse entrado.
Ou se calhar foi a nossa forma de consolá-lo.
Em todo o caso, no minuto seguinte, na cobrança do pontapé de canto resultante da defesa, novo destaque. João Palhinha saltou, elevando-se sobre os demais, e marcou de cabeça. Na bancada pensámos que tinha sido Ronaldo a marcar, até pelo festejo, gritámos “SIIIM!” e tudo… só depois vimos que um dos Marmanjos que foi abraçar o marcador usava a camisola 7. Estive uns bons cinco minutos a rir-me da lata do Palhinha. Não há respeito pelo Capitão…
Eu adoro-os.
A cinco minutos do fim, Ronaldo chegou finalmente ao hat-trick. Grande trabalho de Rúben Neves também, que gosta muito de fazer estes passes à distância, quase teleguiados. Ronaldo só teve de desviar de cabeça.
Estava feito o resultado. Cinco a zero. Não tem sido muito habitual a Seleção marcar tanto nos últimos anos – o mais recente fora perante a Andorra, no ano passado. É certo que o Luxemburgo não deixa de ser uma seleção de microestado e houve demérito da parte deles neste jogo, mas a verdade é que não lhe ganhávamos por tanto há dez anos.
E o resultado podia ter sido ainda mais volumoso. Continuamos com um problema de eficácia, o que noutras circunstâncias poderia tramar-nos. No entanto, falando por mim e exclusivamente sobre esta noite… eu não podia ter pedido mais.
Foi a maneira perfeita de regressar aos jogos da Seleção, depois de tanto tempo de ausência e de tudo o que aconteceu entretanto. Uma das noites mais felizes deste ano. Cheguei a desejar que o jogo nunca acabasse. Mesmo quando acabou, não pude demorar muito, mas soube-me bem caminhar entre outros adeptos, de bandeira ao ombro, bebendo as últimas gotas daquele ambiente fantástico. Fiz toda a minha viagem de regresso a sorrir e a minha garganta demorou dois dias a recuperar.
Tinha regressado a casa. Deve ser por isso que A Minha Casinha é a verdadeira música da Seleção, por muito que a FPF tente impor-nos outras músicas.
Estes jogos reforçaram a esperança que senti no final da jornada do mês passado. Sim, estamos a falar apenas do Catar e do Luxemburgo, não são equipas de renome. Mas foi a segunda vez que os defrontámos este ano e houveram claras melhorias de um encontro para o outro. Fomos mais consistentes, marcámos mais golos e deixámos de sofrê-los – interrompendo uma tendência que se vinha a arrastar. Temos os play-offs garantidos, bastando-nos quatro pontos para carimbarmos o passaporte para o Catar.
Por isso sim, mantenho o benefício da dúvida em relação a Fernando Santos. Por enquanto. Na próxima jornada os testes serão mais difíceis… mas falaremos sobre isso na altura.
Obrigada pela vossa visita, como sempre. Soube bem escrever esta. Daqui a menos de um mês haverá mais. Até lá, não deixem de visitar a página de Facebookdeste blogue.
No passado dia 23 de junho, a Seleção Portuguesa de Futebol empatou a duas bolas com a sua congénere francesa, em jogo a contar para a fase de grupos do Euro 2020. Com este resultado, em combinação com o empate entre a Alemanha e a Hungria, a Seleção Nacional apurou-se para os oitavos-de-final como uma das melhores terceiras classificadas da prova. Nos oitavos-de-final, no entanto, defrontou a sua congénere belga e perdeu por uma bola a zero, tendo sido eliminada do Euro 2020.
A grande desvantagem do sistema de adotei neste Europeu, de não me obrigar a escrever um texto por jogo aqui no blogue, é que as coisas mudam muito depressa – de uma maneira que não acontece tanto com jogos de Qualificação. O nosso estado de espírito no fim do jogo com a França é totalmente diferente do do final do jogo com a Bélgica.
Além de que o primeiro jogo foi muito mais interessante que o segundo. Como tal, este texto está muito desequilibrado. Gasto muitos mais parágrafos analisando o jogo com a França do que o jogo com a Bélgica – passo mais tempo discutindo as consequências desse segundo encontro. Peço desde já desculpa se parecer esquisito, mas a última jornada da fase de grupos foi demasiado emocionante e caricata para não escrever sobre ela.
Todos sabíamos que o jogo com a França seria difícil. Tentámos preparar-nos para isso, partilhámos memes com terços e calculadoras, embora soubéssemos que, tecnicamente, para passarmos aos oitavos-de-final, bastava-nos perder por menos de três golos de diferença com a França.
Isto se a Alemanha não perdesse com a Hungria mas… era a Alemanha e era a Hungria. Tínhamos acabado de levar uma tareia dos alemães e somos os atuais Campeões Europeus (não por muito mais tempo…). Os húngaros nunca seriam capazes de fazer mossa aos alemães, certo?
...certo?
Algo que acho que nunca referi aqui no blogue: nas últimas jornadas de fases de grupos como estas, em que os dois jogos decorrem ao mesmo tempo para evitar combinações de resultados, gosto de imaginar as quatro equipas no mesmo campo, jogando umas contra as outras. Acaba por ser mais ou menos isso que acontece – pelo menos em grupos como o nosso, com a classificação ainda em aberto.
Agora que penso nisso, no entanto, a regra dos melhores terceiros estraga um pouco esse esquema. Para verdadeiramente evitar combinações de resultados, literalmente todas as equipas teriam de jogar ao mesmo tempo – o que não é possível, claro.
Outro dos motivos pelos quais imagino o campo único para quatro equipas é porque, por muito que alguns de nós o neguem, os dois jogos acabam por ser influenciados um pelo outro, nem que seja um bocadinho. Fernando Santos pode dizer que tentou impedir que dissessem aos jogadores o que se estava a passar em Munique, mas os múltiplos adeptos húngaros nas bancadas não receberam o recado. No caso do grupo F, aliás, a coisa foi tão disputada que Portugal passou pelas quatro posições da tabela nos noventa minutos de duração dos jogos (sinto que há potencial para uma piada brejeira aqui, mas está aquém das minhas capacidades).
Na minha opinião, a França esteve por cima no início do jogo, ainda que Portugal se tenha apresentado mais consistente que perante a Alemanha. Um breve destaque para Renato Sanches e João Moutinho, o músculo e o cérebro do meio-campo, respetivamente, pelo menos neste jogo.
Os nervos apertaram-se logo aos onze minutos, quando a Hungria marcou à Alemanha. Lá se ia a conversa dos dias anteriores, de perdemos por menos de três golos. Além de que, se a vantagem húngara se mantivesse, os nossos amigos alemães estavam fora do Europeu.
É um alívio saber que não fomos a única equipa dita “grande” que esteve perto de sair de um Europeu frente à Hungria. Tirando a parte da homofobia, respeito aos húngaros pela maneira como se bateram neste grupo, conseguindo empates com os dois últimos Campeões do Mundo!
E tendo em conta que os três sobreviventes do Grupo da Morte não se mantiveram no Europeu durante muito tempo, mais valia que um de nós os três tivesse ido para casa mais cedo (não nós, claro!) e os húngaros tivessem ido aos oitavos.
Regressando ao jogo com a França, agora os portugueses estavam mais pressionados, mas acabaram por ser os primeiros a chegar à vantagem. Fiquei com alguns sentimentos de culpa quando Danilo levou um soco acidental de Hugo Lloris. Horas antes do jogo estive a conversar com amigos sobre o Europeu e criticámos a prestação do Danilo nos jogos anteriores.
Teria o Universo ouvido as nossas críticas e decidido castigar o Marmanjo? Não era preciso tanto…
Naturalmente, Cristiano Ronaldo foi chamado a converter o penálti e não falhou. Achei piada ao João Palhinha. Este começara a aquecer, depois do que acontecera ao Danilo, mas depois do golo interrompeu o aquecimento para ir abraçar o Cristiano.
À semelhança do que já acontecera no jogo com a Alemanha, soube bem estarmos a ganhar à França e em primeiro no grupo, mesmo que não tenha durado. Também me pareceu que Portugal jogou melhor depois do penálti convertido.
Infelizmente os franceses também tiveram o seu penálti. À semelhança de muita gente, não acho que seja legítimo – só de uma forma muito exagerada. O Mbappé não reparou no Nélson Semedo atrás de si, chocou contra ele e atirou-se ao chão. Na altura, a quente, eu disse que era a UEFA levando a França ao colo, como é tradição. Mais a frio, admito que o lance não é preto no branco, mas continuo a achar que não é penálti.
Por outro lado, alegadamente este árbitro terá sido excluído do resto do Europeu por causa deste erro. A mim quer-me parecer que fizeram dele um bode expiatório. Afinal de contas, o VAR não contrariou a decisão do árbitro: o erro não foi só dele!
Em relação ao penálti em si, destaque para o Pepe tentando dizer ao Rui Patrício para que lado o Benzema rematava. Patrício ou não o viu ou não ligou. Bolas, Rui…
Golos sofridos imediatamente antes do intervalo costumam ser mau sinal e este jogo não foi exceção. Sofremos o segundo golo logo nos primeiros minutos (como disseram no Twitter, agora é que o VAR funcionava…). E como a Alemanha continuava a perder, com aqueles resultados íamos para casa naquela noite.
O que para mim seria inglório, mesmo humilhante. Sermos expulsos de um Europeu na fase de grupos pela primeira vez. Enquanto detentores do título. Perante a equipa a quem conquistámos esse título.
Não. Não podia acabar assim. É certo que não duraria muito mais de qualquer forma, mas sempre foi um bocadinho menos mau.
Felizmente não ficámos muito tempo em desvantagem. Outro penálti a nosso favor, outra conversão para Cristiano Ronaldo.
Não sei como foi com vocês, mas para mim esta foi a altura em que as emoções ameaçaram levar a melhor sobre mim. Já tinha bebido cidra ao jantar, durante o intervalo, agora tive de beber mais uns goles para ajudar com os nervos. A minha mãe queixou-se que estava com taquicárdia.
Devia usar-se esse nome em vez de Grupo da Morte. Grupo da Taquicárdia! Grupo do Nitromint!
Houve alguém que, nessa noite, escreveu nas redes sociais que o Europeu podia ser só o grupo F em loop. Essa pessoa claramente não era adepta de nenhuma das quatro seleções.
Hoje, no entanto, que já estamos fora do Europeu, dava tudo para sofrer assim outra vez. Para ir das lágrimas à euforia e vice-versa, como aquele célebre adepto suíço. Mais sobre isso daqui a pouco.
Aparentemente, os Marmanjos também se deixaram enervar nesta altura e perderam um pouco o controlo da situação. Sem consequências de maior, felizmente. Foi nessa altura que Rui Patrício fez aquela espetacular defesa dupla, bloqueando um remate do Pogba e outro de Griezmann. Eu levei as mãos à cabeça, a minha irmã gritou mesmo: “PATRÍCIO!! PATRÍCIO!!” (Não se costumava gritar “RUI!!!”?). A minha rua festejou a defesa como se tivesse sido um golo.
Estou como toda a gente: façam-lhe outra estátua! Somos tão abençoados por ele jogar por nós…
Quem também teve o seu momento foi João Palhinha. Não me canso de ver esta jogada: a maneira como ele se baixa, se levanta e se baixa de novo para fintar os franceses, culminando com o túnel ao Pogba. Que classe!
Entretanto, em Munique, a Alemanha conseguira empatar com a Hungria aos 66 minutos, mas os húngaros adiantaram-se de novo dois minutos depois. Só aos 84 minutos é que os alemães conseguiram empatar de novo e garantir a permanência na prova.
Entretanto, em Budapeste, a partir de certa altura os portugueses e os franceses entraram como que em cessar-fogo. Ambas as equipas estavam satisfeitas com o resultado e pareceram não estar muito para se chatear – momento engraçado com Fernando Santos gritando com os jogadores para eles irem para a frente. Chegou mesmo a haver um alegado penálti não assinalado a favor da França (mais legítimo que o que foi assinalado, na minha opinião), mas nesta fase do jogo já ninguém queria saber.
Não foi um mau jogo, tendo em conta o adversário. Foi definitivamente melhor que o jogo com a Alemanha – ao menos a derrota não foi desperdiçada. No entanto, sabendo hoje o que aconteceu depois da fase de grupos, uma pessoa pergunta-se se foi um feito assim tão notável.
Não tenho muito a dizer sobre o jogo com a Bélgica, para ser sincera. A primeira parte foi muito contida, ambas as equipas com muito respeitinho uma pela outra, um jogo muito tático e… enfadonho. Fez-me lembrar o jogo com a Croácia no Euro 2016. Portugal esteve ligeiramente por cima, com algumas oportunidades. Os belgas, no entanto, marcariam em cima do intervalo, no único remate enquadrado que tiveram.
Naturalmente, Portugal passou a segunda parte toda a correr atrás do resultado. As oportunidades choveram: de Diogo Jota, de João Félix, de Cristiano Ronaldo. Tivemos inclusivamente uma bola ao poste, claro que tivemos, cortesia de Raphael Guerreiro. Nada foi suficiente para anular a desvantagem e, no fim, fomos enviados para casa.
E foi isto o nosso Europeu. Uma vitória perante a Hungria, um empate perante a França e duas derrotas, perante a Alemanha e a Bélgica. Um bocadinho melhor que no Mundial 2018, mas não por muito. À semelhança do que aconteceu há três anos, tudo o que temos para recordar é um ou outro momento bonito, uns quantos recordes do Ronaldo e mais nada.
Acho que se pode considerar mesmo o nosso pior desempenho em fases finais de Europeus. É certo que, antes de 2016, não havia oitavos-de-final, passávamos diretamente dos grupos aos quartos. Mas, como assinalaram no Twitter, foi o primeiro Euro em que a equipa que nos eliminou não chegou à final.
Isto enquanto detentores do título (não por muito mais tempo, claro…).
Foi uma semana algo triste, a última – aqueles dias de regressar à realidade após uma derrota como esta, de lavar os cachecóis e as bandeiras, em que a comunicação social se volta de novo para os clubes. Falando por mim, estava à espera de mais, queria mais. Queria continuar em modo Seleção, queria ter estado mais tempo no Europeu. Mesmo que não conseguíssemos chegar à final outra vez, mesmo que caíssemos nas meias ou mesmo nos quartos. Isto soube a pouco. Outra vez.
Por estes dias, tenho visto dois tipos de reações a esta eliminação. De um lado, temos gente defendendo a Seleção e Fernando Santos, dizendo que Portugal fez tudo para ganhar, faltou-nos a sorte, os belgas não fizeram nada para merecer a vitória. Do outro lado, temos gente que pede a demissão de Fernando Santos para ontem.
Eu estou algures no meio deste espectro, mas muito inclinada para o segundo grupo. O argumento do “mérito” da vitória já está ultrapassado há muito. Em parte porque já estivemos do outro lado, a equipa que “não merecia ganhar”. A Bélgica não é o tubarão que todos parecem achar que é e nem sequer aguentou muito tempo no Europeu depois de nós. No entanto, com um remate enquadrado conseguiram marcar um golo, enquanto nós precisámos de quatro remates enquadrados e uns tantos desenquadrados para marcarmos zero.
E os burros são eles, como diria Luiz Felipe Scolari? (Acho que não é a primeira vez que parafraseio Scolari para fazer este argumento…)
Eu (ainda) não vou ao ponto de pôr os patins em Fernando Santos, mas compreendo aqueles que o querem. Muitas pessoas já andavam descontentes com o Selecionador há algum tempo. O desempenho neste Europeu foi a gota de água. Pessoalmente não sei se esta é a melhor altura para trocar de Selecionador, com uma fase de Qualificação já a decorrer e o Mundial já no próximo ano. E há sempre aquele argumento do o-treinador-é-a-vítima-mais-fácil.
É capaz de ser verdade mas, no que toca à Seleção, das últimas duas vezes que trocámos de técnico, as coisas começaram a correr bem de novo relativamente depressa depois da estreia do novo treinador. Interpretem-no como quiserem.
Confesso, no entanto, que o principal motivo pelo qual não quero que Fernando Santos se vá embora é irracional. Ainda estou grata por Paris e pelo Porto. Mas para ser sincera, a minha boa vontade está a esgotar-se. Vocês sabem que estou longe de ser uma autoridade na matéria, mas a opinião que mais tenho encontrado é que Fernando Santos não sabe como usar o talento de que dispõe. Ainda joga como se fosse 2016, o que já não é adequado à realidade atual.
E a pior parte é que Fernando Santos parece não achar que está a fazer nada de errado.
Existem atenuantes para Fernando Santos. Mal por mal, tirando a Hungria (e mesmo assim), apanhámos equipas grandes no nosso percurso. Houve um progresso evidente nos últimos dois jogos – aquela derrota com a Alemanha é que terá sido fatal. A França e a Alemanha acabaram por vir parar ao mesmo barco afundado.
Muita gente a dizer que Portugal só ganhou três jogos no tempo regulamentar em Europeus e Mundiais com Fernando Santos, mas eu não desvalorizo a Liga das Nações: ganhámos vários jogos na primeira edição da prova perante boas equipas e atrevo-me a dizer que jogámos bem com a Itália, a Polónia e a Holanda. A segunda edição não nos correu tão bem, mas sempre ganhámos duas vezes à Suécia e à Croácia (com boas exibições, tirando o último jogo do grupo) e tivemos um bom empate com a França. Pode não ter tanto prestígio como o Euro ou o Mundial, mas também conta.
Por outro lado, o argumento morde a sua própria cauda. Porque é que não jogámos assim neste Europeu?
De qualquer forma, não me quero focar muito nessas atenuantes, porque permitem que Fernando Santos lave as mãos da sua parte da culpa. Não me admirava se ele dissesse, com todas as letras:
– Estão a ver? A França, Campeã do Mundo e Vice-Campeã da Europa, também falhou os quartos-de-final! O problema não sou eu!
A comunicação dele, aliás, já irrita. Na Conferência de Imprensa insistiu no seu velho chavão de que “nenhuma equipa pode dizer neste momento que é melhor que Portugal” – grande consolo! Disse que os jogadores estavam a chorar no balneário (um abraço para eles) mas falou em “olhar em frente e ir ganhar o Campeonato do Mundo” – o que é de mau gosto, sinceramente.
Não sou a única que faz uma careta quando pensa num Mundial 2022 igual a este Europeu, pois não?
Quem abordou bem o assunto foi António Tadeia, no outro dia: “Fernando Santos sugerir que vamos ganhar o Mundial 2022 é tão válido como eu dizer que no ano que vem vou bater o recorde do Mundo dos dez mil metros. Enquanto eu não explicar como é que tenciono fazê-lo, com que plano de treinos, de nutrição, com que estratégia de corrida, com quem a fazer de lebre e em que dia e condições, tudo o que eu diga serve zero.”
É a mesma questão de que falei no texto anterior. Como numa história infantil, acreditar com força e esperar que o destino resolva tudo por nós – quando falo em destino, falo do Cristiano Ronaldo, claro. Mensagens bonitas de esperança e crença têm a sua utilidade, são boas para as redes sociais, para as campanhas publicitárias, mesmo para este blogue, mas não chegam. Não ganham campeonatos, nem sequer ganham jogos.
Mesmo quando escrevi este texto (um dos que mais me orgulho neste estaminé) sobre acreditar de novo passados tantos anos, não deixei de referir que, se falhássemos, iria custar – quando se sonha alto pela primeira vez em muito tempo, se caímos, a queda dói mais.
Não tenciono voltar as costas à Seleção. Se não voltei em circunstâncias piores, não o farei agora. Estarei sempre disponível para, como escreve Tadeia, “empunhar o cachecol e a bandeira e urrar por Portugal sempre que há jogo”. Mas não quero que me tomem como garantida. Não quero estar sempre a passar por isto. Ou Fernando Santos aprende a usar os trunfos que tem ou dá o lugar a quem saiba usá-los.
Espero que a Federação não cometa os mesmos erros que cometeu com Carlos Queiroz e Paulo Bento. Insistiram num selecionador cujo tempo já claramente terminara, só dando a chicotada quando a Seleção perdeu pontos sem necessidade na Qualificação. Uma vez mais, não digo que tenhamos chegado a essa fase com Fernando Santos, mas, se ele tiver de sair, que saia na altura certa.
Não vou mentir: será triste quando isso acontecer. Mas também é uma das leis da vida: nada dura para sempre. Também me entristece saber que este poderá ter sido o último Europeu de Pepe e Cristiano Ronaldo. A ver se eles, ao menos, ainda aguentam até ao Mundial.
E é tudo, por agora. Como o costume, obrigada a todos os que acompanharam comigo esta participação no Europeu, por curta que tenha sido. Em setembro haverá mais.
No passado dia 24 de março, a Seleção Portuguesa de Futebol venceu a sua congénere azeri por uma bola a zero. Três dias mais tarde, em Belgrado, empatou a duas bolas com a sua congénere sérvia. Finalmente, no dia 30, venceu a sua congénere luxemburguesa por três bolas a uma. Todos estes jogos contaram para a Qualificação para o Mundial 2022 e, com estes resultados, Portugal conta sete pontos e segue em primeiro da classificação do grupo.
Esta foi uma jornada tripla bastante atribulada. Começando pelo primeiro jogo – uma maneira triste e entediante de começar o ano da Seleção. Cheguei a perguntar-me se fora mesmo daquilo que tivera saudades durante semanas – até porque nesse tempo andei a ver os jogos do Sporting com a minha irmã.
Não diria que a Seleção jogou mal. Portugal não comprometeu, não cometeu erros. No entanto, não houve intensidade, não houve inspiração no ataque, nada que entusiasmasse. Ao mesmo tempo, o “Azérbaijão” (o novo “Félich” que me irritou tanto que, na segunda parte, mudei para a SportTV) mal saiu do seu meio campo durante a primeira parte. Mesmo quando conseguiu sair, mais tarde, não chegava a ameaçar a baliza de Anthony Lopes.
O resultado disto tudo foi um dos jogos mais enfadonhos de que há memória. É verdade que ganhámos – e não ganhávamos num primeiro jogo de Apuramento há oito anos e meio – mas este é o pior tipo de vitória. Nem sequer tivemos o prazer de festejar um golo. Foi Medvedev a marcar na própria baliza. A única coisa em que este jogo foi melhor que outras estreias em Apuramentos foi mesmo os três pontos.
Na altura as reações nas redes sociais a este jogo foram duras. Eu, embora concordasse com o essencial das críticas, achava um exagero. Sim, fora um jogo mau, mas estava longe de ser o pior de sempre da Equipa de Todos Nós – acreditem, eu sei do que falo. Não fazia sentido estar a pôr tudo em causa por um jogo em que ganhámos. Eu sabia que da próxima vez, com um adversário mais estimulante, a coisa correria melhor. Certo?
Acho que não se justifica dizer “Errado!”, mas…
O resultado abaixo das expectativas no jogo com a Sérvia desiludiu-me um pouco mais do que o costume porque eu estava a ter um dia bom. Dias bons em tempos de pandemia são raros. Tinha ido dar sangue de manhã – por mera coincidência era Dia Nacional do Dador. Já agora, deem sangue! – estava bom tempo, dera um agradável passeio higiénico, tivera pizza para o jantar.
A boa disposição manteve-se durante a primeira parte. Portugal não foi brilhante, mas dominou o jogo – um alívio após a fraca exibição em Turim. O primeiro golo foi marcado logo aos dez minutos – Bernardo Silva assistiu para a cabeça de Diogo Jota. O segundo golo, aos trinta e cinco minutos, foi idêntico ao primeiro – desta vez com Cédric Soares a assistir.
Ao intervalo sentia-me satisfeita e otimista em relação ao resto do jogo. Os Marmanjos manteriam o nível, mais ou menos, marcariam mais um golo ou, pelo menos, conservariam a vantagem. Reconheço agora que este otimismo era um tudo nada exagerado. O género de engano de alma ledo e cego que já deveríamos saber que a Fortuna não deixaria durar muito.
Não cheguei a ver o primeiro golo da Sérvia pois atrasei-me a mudar de canal no fim do intervalo – foi logo aos primeiros minutos. Na altura não me preocupei muito pois continuávamos em vantagem. No entanto, a intensidade da primeira parte desaparecera sem deixar rasto. Pior de tudo, aos sessenta minutos, na sequência de (tenho de reconhecer) uma bela jogada de contra-ataque, os sérvios empataram a partida.
Não se pode dizer que Portugal tenha procurado febrilmente regressar à vantagem. António Tadeia é da opinião que, a certa altura, Fernando Santos resignara-se ao empate. No entanto, Portugal chegou a conseguir enfiar a bola na baliza, mesmo no último minuto, a minha irmã até desatou aos guinchos… mas não valeu.
Vamos então falar deste infame momento e da reação de Ronaldo. Um episódio que tem feito correr muita tinta digital e, à boa maneira das redes sociais, as discussões chegaram a extremos ridículos.
Deixo aqui o meu contributo para o debate. Para começar, sim, o golo era legal – dá para ver no vídeo acima – custou-nos dois pontos. Não culpo os árbitros, são humanos. É para compensar as suas limitações que existe o vídeo-árbitro e a tecnologia da linha de golo… que, no entanto, continuam a não ser usadas nas fases de Apuramento porque… razões.
Já não é a primeira vez que a falta de VAR, passe a expressão, nos lixa. A outra vez foi há dois anos, mais dia menos dia, por sinal também frente à Sérvia, também num segundo jogo de Apuramento. Estive a ouvir a Conferência de Imprensa depois do jogo e tive um dejá-vu quando Fernando Santos disse que o árbitro lhe pedira desculpa.
Nos dias seguintes a FIFA chutou as responsabilidades para a UEFA, a UEFA chutou as responsabilidades para as federações dos países que organizam os jogos – qualquer coisa sobre a federação do país-anfitrião ter de pedir licença à federação do país visitante para implementar a tecnologia da linha de golo.
O que a mim cheira a treta. Haverá alguma federação que recuse as tecnologias?
Para juntar achas a esta fogueira, ao pesquisar para este texto, encontrei notícias de finais de 2019 que indicam que a UEFA aprovou o VAR para os jogos de Qualificação, estava só à espera da luz verde da FIFA. Porque é que não passou da decisão à prática? A FIFA não autorizou e, agora, está a mentir? A FIFA autorizou mas a UEFA “esqueceu-se” de implementar a tecnologia?
Não faz sentido.
Regressando ao momento do golo, não gostei nada da reação de Ronaldo. Sim, foi uma reação humana, no calor do momento, não serei eu a atirar a primeira pedra – se bem que, da última vez que tive uma reação semelhante (também a propósito do jogo com a Sérvia na Luz) estava mais cafeínada que o costume. Sei também que Ronaldo é daquelas pessoas que tem mau génio, tem sempre as emoções à flor da pele, sente tudo – sobretudo no que toca àquilo que adora, o futebol – não é capaz de esconder nada.
Ainda assim… Ronaldo tem trinta e seis anos. Está no futebol profissional há quase duas décadas. Este não foi o primeiro nem o segundo caso de má arbitragem que ele testemunhou e é possível que não seja o último. Ele não devia ter mais controlo sobre si mesmo nesta altura do campeonato?
Quanto ao facto de ter atirado com a braçadeira de Capitão… não foi bonito, não foi correto, percebo que algumas pessoas tenham ficado incomodadas com o gesto. No entanto, não acho que tenha sido intencional. Era o que estava à mão. Se ele tivesse um apito ao pescoço ou o telemóvel no bolso, teriam sido esses objetos a voar.
Na verdade, o que me irritou neste episódio é que Ronaldo foi reclamar com o árbitro quando o jogo ainda estava a decorrer. Não houve pausa, tirando alguns segundos depois. Bernardo Silva tentara a recarga. Ronaldo podia ter adiado a birra por um minuto ao dois e ter ficado em campo com ele e os colegas tentando não desperdiçar a jogada. Talvez ele (ou outro qualquer) tivessem conseguido marcar, teríamos agora nove pontos e a conversa hoje seria outra.
Um dos argumentos que tem circulado por aí é que Ronaldo adora a Seleção, adora marcar golos (e tem andado algo ansioso com isso), leva-o a peito, daí essa reação. Eu respeito isso, admiro-o, mas este caso pedia um pouco menos amor e um pouco mais juízo.
Além disso, sejamos sinceros, se fosse uma mulher a fazer uma birra daquelas, as críticas seriam muito mais duras. Veja-se o que aconteceu com Serena Williams.
Adiante. Apesar de nos terem roubado a vitória, não se pode dizer que tenhamos feito o suficiente para merecê-la. É claro que “merecer” é relativo: no futebol ganha-se marcando golos e não seria a primeira vez que Ronaldo faria de Deus Ex Machina. Ainda assim, estivemos a ganhar por 2-0 e perdemos essa vantagem. Não foi só culpa do árbitro.
Havemos de falar sobre as falhas da Seleção mais à frente. Antes, o jogo com o Luxemburgo.
Depois da turbulência dos jogos anteriores, só queria uma vitória tranquila. Não precisava de ser uma grande exibição: apenas um jogo sem stress, três pontos ganhos sem grandes complicações, sem dar motivos para polémicas.
Era bom, não era? Aqueles Marmanjos…
Péssima primeira parte, péssima. Uma vez mais, faltou agressividade, faltou concentração. Como diria o próprio Fernando Santos, Portugal estava a jogar a passo, uma espécie de peladinha. Enquanto isso, o Luxemburgo vinha catalisado pela vitória perante a República da Irlanda (!). Com os luxemburgueses entusiasmados e os portugueses apáticos, quem é que acham que marcou primeiro?
Só quando deram por si em desvantagem é que os portugas acordaram para a vida. Bernardo Silva passou para o meio, Pedro Neto rendeu o lesionado João Félix. Portugal começou a jogar melhor. Finalmente, em cima do intervalo, Pedro Neto assistiu para Diogo Jota marcar de cabeça.
Dias mais tarde, Jota marcaria da mesma forma pelo Liverpool. Quatro golos de cabeça no espaço de uma semana. O miúdo deixa-me sem palavras. Ninguém diria que esteve três meses lesionado – parece, aliás, que Jota passou esse tempo a treinar cabeceamentos!
Depois do intervalo, aos cinquenta minutos, Cristiano Ronaldo colocou Portugal em vantagem, após assistência de João Cancelo. Antes do jogo, eu tinha previsto que ele ia marcar – já são muitos anos, sei como ele funciona.
Acertei… mas acho que todos concordamos que o enguiço ainda não passou por completo. Veja-se a oportunidade dupla que ele desperdiçou aos setenta e oito minutos (após outro período mais apagado da Seleção). Ronaldo não costuma falhar estas.
Algo que é em simultâneo uma vantagem e uma desvantagem da Equipa de Todos Nós é não acompanharmos diretamente o seguimento de momentos específicos das carreiras dos jogadores. Depois das jornadas os Marmanjos regressam aos clubes e, quando voltam à Seleção, as suas histórias já estão num capítulo completamente diferente. Pode ser que Ronaldo já tenha recuperado o faro para o golo quando começarmos a preparar o Europeu.
Regressando ao jogo contra o Luxemburgo, Portugal conseguiu ampliar a vantagem a dez minutos do fim – com um golo de João Palhinha, na sequência de um canto cobrado por Pedro Neto. Espero que o tenham visto mais tarde, nas entrevistas rápidas: os olhos de Palhinha até brilhavam, estava tão feliz!
Ele e o outro estreante, o Nuno Mendes, estiveram muito bem nesta tripla jornada. O segundo em particular, como li algures, tem dezoito anos, mas joga como se tivesse sido internacional a vida toda. Veja-se a assistência dele para o golo não validado de Ronaldo.
Este jogo com o Luxemburgo fez-me lembrar o de 2012, com o mesmo adversário. Nesse também começámos mal, com o Luxemburgo a marcar primeiro. Também conseguimos empatar antes do intervalo, também chegámos à vantagem no início da segunda parte.
Na minha opinião, o jogo de 2012 foi pior – nessa altura, a seleção do Luxemburgo estava menos profissionalizada do que hoje. Ainda assim, a Turma das Quinas está melhor fornecida agora, tem capacidade para melhor.
O que me leva ao denominador comum aos três jogos deste compromisso: a falta de intensidade, de concentração. As redes sociais têm colocado as culpas em Fernando Santos, porque é isso que o povo faz. No entanto, tirando algumas decisões, não acho que a culpa seja dele.
A falta de tempo de qualidade com os jogadores é um argumento tão velho como, se calhar, o próprio conceito de seleção nacional mas, para sermos justos, esta é apenas a terceira jornada tripla – e a primeira em que os três encontros são a doer. Foram três jogos em menos de uma semana! Segundo Fernando Santos, entre viagens e jogos, os treinos servem apenas para recuperação, não propriamente para treinar. E suponho que, nesta fase da época, isso pese mais aos jogadores que em outubro ou novembro.
Há um par de anos talvez torcesse o nariz a essa desculpa. No entanto, se formos a ver, houveram outras seleções com resultados menos bons. A França empatou com a Ucrânia – os ucranianos não são nenhuns bananas, nós mesmos o descobrimos, mas a França sempre os goleou em outubro último – a Holanda perdeu contra a Turquia, a Espanha empatou com a Grécia e, mais chocante de todas, a Alemanha perdeu com a Macedónia do Norte!
Tendo isto em conta, os nossos resultados nesta tripla jornada não foram assim tão maus. E não são, mesmo em circunstâncias melhores, como veremos já a seguir. Não será apenas coincidência termos várias seleções de topo com resultados abaixo das expectativas. Alguma coisa se passa e deve ter mesmo que ver com o calendário atual das seleções.
Não sou a melhor pessoa para falar disso, mas penso ter lido alguém sugerindo dedicarem um mês, um mês e meio, às fases de Qualificação. Mais ou menos como fazem com os Europeus e Mundiais. Teria a grande desvantagem de aumentar os hiatos entre concentrações da Seleção, mas as vantagens seriam maiores. Os selecionadores teriam mais tempo de seguida para trabalhar com os jogadores e criarem rotinas, logo, a qualidade do futebol aumentaria. Em relação aos clubes, talvez fosse menos prejudicial abdicarem dos jogadores apenas uma ou duas vezes por época, mesmo que durante várias semanas, do que abdicarem-no várias vezes ao ano, por vezes em alturas críticas dos campeonatos.
A hipótese devia ser discutida, no mínimo.
Nessa linha, concordo com António Tadeia quando diz para guardarmos as pedras para Fernando Santos para depois do Europeu. Será mais adequado avaliarmos as competências do Selecionador quando este tiver oportunidade para trabalhar como deve ser com os Marmanjos.
Por agora, apesar das controvérsias todas, do drama, no fim do dia o que conta são os resultados, são os pontos. E a verdade é que estes não são assim tão maus. Como disse antes, foi a primeira vez em oito anos e meio que ganhámos o primeiro jogo da Qualificação. Ainda mais tempo passou, nem sei bem quanto, desde a última vez que conseguimos tantos pontos nos três primeiros jogos de Qualificação – tanto quanto me lembro, tem havido quase sempre um jogo que perdemos ou dois empates.
É claro que nove pontos seriam melhores que sete – ainda não é desta que fazemos uma Qualificação imaculada. Além disso, só conseguimos o Apuramento direto se ficarmos em primeiro lugar. Estamos em primeiro agora, mas a margem de erro não é larga.
Eu no entanto estou confiante. Como dei a entender, já nos Qualificámos em circunstâncias mais difíceis. Não há nenhum motivo para falharmos agora.
Mas para já a Qualificação ficará em pausa até setembro. Quando a Seleção se reunir de novo será para preparar o Europeu.
Devo avisar que ainda não sei como irei cobrir o Euro 2020 neste blogue. Mudei recentemente para um emprego que me vai roubar tempo de escrita. Ainda não sei ao certo quando, mas será muito difícil eu conseguir escrever uma crónica para cada jogo, ou pares de jogos. Se o blogue não ficar completamente parado durante o Europeu – algo que quero evitar a todo o custo – os textos terão quase de certeza um formato diferente.
Fico um bocadinho triste, mas sempre soube que isto iria acontecer. Mais cedo ou mais tarde, deixaria de ter a mesma disponibilidade para este blogue. Por outro lado, para ser sincera, às vezes fico um pouco farta da fórmula atual destas crónicas. Talvez uma mudança não seja assim tão má.
Em todo o caso, na pior das hipóteses, se não conseguir voltar cá, fico satisfeita por ter aguentado durante tanto tempo (quase treze anos!) e por ter apanhado tantos momentos felizes. Destaque óbvio para os nossos primeiros dois títulos.
Além disso, vou continuar na página do Facebook – as minhas postas de pescada em torno da Seleção não vão desaparecer por completo das internetes. Não é o meu formato preferido, mas é melhor do que nada. Também servirá para vos manter atualizados em relação a futuros planos para este blogue.
Aconteça o acontecer, como sempre, muito obrigada pelas vossas visitas. Até uma próxima!