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O Meu Clube É a Seleção!

Mulher de muitas paixões, a Seleção Nacional é uma delas.

Nível um

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Na passada quinta-feira, dia 23 de março, a Seleção Portuguesa de Futebol venceu a sua congénere liechtensteiniana por quatro bolas sem resposta… e eu estive lá. Três dias mais tarde, a Seleção deslocou-se ao Luxemburgo, onde venceu a seleção local por seis bolas, também sem resposta.

 

Como tinha dito no texto anterior, fui ao jogo com o Liechtenstein (meu Deus, odeio escrever “Liechtenstein”. Ainda bem que, depois deste texto, só terei de fazê-lo em novembro.) com os meus pais. Como era mais ou menos inevitável com idas ao futebol durante a semana, não deu para sair tão cedo como o ideal. Ainda assim, chegámos aos nossos lugares precisamente na hora certa: no curto intervalo entre o hino do Liechtenstein e A Portuguesa.

 

Já que falo nisso, por estes dias aprendi uma coisa nova. Enquanto passávamos pela cancela dos bilhetes e procurávamos a nossa bancada, soou o hino do Liechtenstein. Reconheci a melodia.

 

– Mas isto é o God Save the Queen.

 

Na altura não me lembrava que a Rainha já tinha morrido e agora o hino oficial é God Save the King.

 

Mais tarde, em casa, fui pesquisar e descobri que existem várias canções patrióticas que usam esta melodia – que foi originalmente composta em França, no século XVII. Algumas delas foram hinos nacionais no passado – por exemplo, nos Estados Unidos e na Suíça – mas a Noruega usa-a como hino à sua família real e, como se viu, o Liechtenstein ainda a usa como hino nacional.

 

Deve ser esquisito quando o Liechtenstein joga contra a Inglaterra.

 

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Regressando ao nosso jogo, a minha mãe gostou do ambiente. O meu pai, no entanto, tem muito do arquétipo do velho resmungão e queixou-se de ver mal e de não haverem repetições. E, como podem ver na fotografia, trouxe o seu pacotinho de amendoins, com uma mola e tudo. 

 

Enfim.

 

Estávamos sentados perto da bandeirola de canto direita, junto à baliza norte – a do Liechtenstein durante a primeira parte. Fomos regalados, logo nos primeiros minutos, com um “cabrito de João Cancelo – caso Roberto Martínez ainda tivesse dúvidas em relação ao significado do termo. A minha mãe gostou muito de vê-lo jogar, a ele e ao João Félix. Não foi a única. 

 

E não tardou muito até celebrarmos um golo, precisamente de Cancelo. A bola sobrou para ele na sequência de um canto, ele pontapeou com força. Foi também um “frango” do guarda-redes do Liechtenstein, que basicamente defendeu para dentro da baliza. Em todo o caso, estava aberto o marcador. Primeiro golo de 2023. 

 

Infelizmente, o resto da primeira parte entreteve pouco. Os liechtensteinianos, coitados, só tinham capacidade para estacionar o autocarro e chutar para a frente. O Rui Patrício apanhou uma seca – em ambos os jogos desta jornada, na verdade. 

 

Não vou culpar uma seleção de microestado, com jogadores competindo em ligas regionais, por não conseguirem fazer frente a Portugal: uma seleção recheada de jogadores que alinham nalguns dos melhores clubes da Europa. Mas não gostei da atitude do guarda-redes deles: queimando tempo em todos os pontapés de baliza, mesmo depois de estarem a perder.

 

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Ó homem, ninguém espera que o Liechtenstein consiga competir com Portugal, mas tem algum amor próprio! Dá uma oportunidade, a ti e aos teus colegas, para pelo menos tentarem!

 

Não deu para ver aí em casa – eu confirmei-no – mas a certa altura, aquando de mais um pontapé de baliza, Cristiano Ronaldo pegou na bola e foi ele mesmo colocá-la para o guarda-redes, para que não perdesse mais tempo. Nós, no público, rimo-nos – que Ronaldo nunca mude!

 

Portugal desperdiçou muitas oportunidades durante a primeira parte – Bruno Fernandes, Ronaldo (uma que ele não costuma falhar). No que toca a este último, no entanto, o público não pareceu demasiado desiludido. Pelo contrário, continua aquilo que eu tinha observado no jogo com a Suíça no ano passado: Ronaldo continua a ser apaparicado, continua a receber aplausos mesmo quando falha remates. 

 

Ele merece nesta fase? Discutível. Em todo o caso, ele retribuiria mais tarde. 

 

Aqui entre nós, fiquei um bocadinho zangada por a maior parte dos golos terem sido marcados na baliza mais longe de nós. Mas pronto. 

 

Logo a abrir na segunda parte, Cancelo centrou para a grande área, um dos jogadores do Liechtenstein segurou mal a bola e Bernardo Silva aproveitou para rematar certeiro para as redes. Menos de cinco minutos depois, o árbitro marcou penálti a nosso favor e – quem mais? – Ronaldo foi chamado a converter e não falhou.

 

 

A minha mãe não sabia que ultimamente, em jogos da Seleção, quando Ronaldo marca, o público grita “SIIIIII!!!” em coro com ele. Eu não lhe tinha contado precisamente para não estragar a surpresa. E fico feliz por ela ter podido ver por ela mesma – como referi no texto anterior, nesta altura é quase só por isso que aceito que Ronaldo continue na Seleção.

 

O segundo golo dele sempre foi mais interessante: um livre direto, mesmo à entrada da grande área. Uma vez mais, o guarda-redes conseguiu tocar na bola, outro se calhar conseguiria defender. Ou talvez não, foi um remate bastante potente.

 

Parece irreal. O tempo vai passando, tanta coisa vai mudando, mas o Ronaldo continua a fazer aquilo que faz há dezoito anos: a marcar pela Seleção. Continua a ser uma constante na nossa vida, mesmo numa altura em que muitos já teriam pendurado as chuteiras. Uma pessoa começa a pensar…

 

Regressando ao jogo com o Liechtenstein, infelizmente não houveram mais golos depois deste – por muito que fôssemos pedindo “Só mais um! Só mais um!” – nem aconteceu nada mais de assinalável. Não vou falar dos assobios a João Mário – quem acompanhe este blogue ou a sua página no Facebook já sabe o que penso sobre clubites, não tenho nada a acrescentar. Destaco apenas as declarações de João Palhinha sobre o assunto – esteve muito bem. 

 

Por outro lado, tenho de assinalar este momento, que tive o privilégio de ver com os meus próprios olhos. Grande Cancelo!

 

Em suma, um resultado perfeitamente aceitável para este adversário – e uma noite bem passada, pela parte que me toca. No dia seguinte, doía-me tudo e tinha a voz um pouco rouca – prova de que tinha aproveitado bem. Podia ter sido uma vitória mais volumosa mas pronto. Sempre foi o nosso primeiro jogo com este Selecionador, que só tinha feito dois treinos. Longe de ser grave. 

 

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Sabíamos que as coisas não seriam tão fáceis perante o Luxemburgo. Também uma seleção de microestado, mas uns furos acima do Liechtenstein. Só perdera dois dos nove jogos que disputara antes e as nossas últimas visitas não foram muito fáceis. Estávamos todos cautelosos. 

 

Tais preocupações esfumaram-se ao fim de vinte minutos e três golos. 

 

O primeiro foi marcado aos nove minutos. Bruno Fernandes assistiu para Nuno Mendes, em cima da linha de fundo. Este cabeceou para os pés de Cristiano Ronaldo. Acho que este último não estava à espera de receber a bola, mas a confusão só durou uma fração de segundo. Depressa a bola foi parar às redes. 

 

Os portugueses estavam bem representados no Estádio do Luxemburgo e fizeram-se ouvir neste momento: gritando “SIIII!!” em coro com Ronaldo, cantando o nome dele. Aqui entre nós, foram um público ainda mais efusivo que nós, em Alvalade. Não tendo tantas oportunidades para verem a Seleção jogar, os emigrantes aproveitam bem quando conseguem. 

 

Só tivemos de esperar mais cinco minutos pelo segundo golo. Uma grande assistência de Bernardo Silva e eu adorei o salto de João Félix, cabeceando para as redes luxemburguesas.

 

E a pose que ele fez nos festejos. 

 

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Foi bastante comentado o facto pouco habitual de a Seleção ter marcado três golos de cabeça. Algo que acho ainda mais engraçado é o facto de terem sido todos marcados por “baixinhos”. O terceiro golo, aos dezassete minutos, veio depois de outra grande assistência, desta vez de João Palhinha, para a cabeça de Bernardo Silva.

 

Finalmente – pelo menos no que toca à primeira parte – em cima da hora de jogo, foi a vez de Bruno Fernandes isolar Ronaldo para que este bisasse.

 

Por esta altura, todas as oportunidades de Portugal tinham sido convertidas a golo – tirando uma de Danilo, anulada por fora-de-jogo, e uma bola na trave de Félix, em cima do intervalo. A Seleção eficaz? Que coisa tão estranha!

 

A segunda parte do jogo não foi tão bem conseguida. Portugal desacelerou um pouco e o Luxemburgo começou a dar mais luta – sem consequências práticas. Portugal melhorou com as substituições, sobretudo com as entradas de Otávio e Rafael Leão. O primeiro foi outro “baixinho” a marcar de cabeça aos 76 minutos. Nuno Mendes e Rafael Leão meteram-se pela esquerda, o último centrou para Otávio, que teve de saltar para cabecear para as redes.

 

Pelo meio, Rúben Neves cobrou um livre mas a bola bateu com estrondo na trave. Aos 85 minutos, o árbitro assinalou um penálti a nosso favor. Como todos os habituais conversores já tinham saído, foi Leão bater… mas não correu bem. Parece que foi o primeiro penálti que ele cobrou enquanto sénior. E como já estávamos a ganhar por muito… aceita-se. A defesa do guarda-redes serve de momento de honra para o Luxemburgo, no meio da goleada. 

 

Dito isto, é bom que Leão vá praticando penáltis. A médio/longo prazo poderemos ter desempates por grandes penalidades, precisamos de gente que saiba batê-los.

 

Na jogada seguinte deu-se um momento caricato, quando Otávio rematou e Gonçalo Ramos fez de central luxemburguês. Não seria a Seleção sem uma dose saudável de parvoíce. 

 

 

Felizmente, Leão conseguiu redimir-se. Rúben Neves fez-lhe o passe, Leão seguiu pela esquerda, passou por vários luxemburgueses e, no fim, rematou certeiro.

 

Foi assim a nossa dupla jornada inaugural da Qualificação: seis pontos (o que não acontecia desde 2012), dez golos, nenhum sofrido. Somos líderes do grupo. Não vou mentir, sabe bem depois da inconsistência dos dois últimos Apuramentos. Sobretudo o segundo jogo – um progresso em relação às três visitas anteriores ao Luxemburgo. Ronaldo marcou quatro golos, quando alguns de nós pensavam que o tempo dele na Seleção já tinha terminado. Ele e os outros Marmanjos parecem contentes com Roberto Martínez.

 

Aliás, tenho gostado das palavras dos jogadores em relação à mudança de técnico: elogiando Martínez, sem deixar de mostrar respeito e gratidão pelo trabalho de Fernando Santos. Isto é, tirando Cristiano Ronaldo – Fernando Santos contrariou o menino, logo, virou persona non grata. O Capitão parece estar numa fase melhor que durante o Mundial, mas pelos vistos continua a só querer “yes men” na sua vida.

 

Em todo o caso, apesar das dúvidas que permanecem em relação a Roberto Martínez, nota-se que este está a fazer um esforço. Tem estado a aprender português, já canta o hino (ainda que a minha irmã torça o nariz), rodeou-se de gente, como Ricardo Pereira (o antigo guarda-redes) e Ricardo Carvalho, que conhece bem a Seleção e o futebol português e diz que quer falar com Fernando Santos em breve. Como disse antes, respeito a humildade e o compromisso.

 

Dito isto… estes jogos não provam quase nada (e isto é válido tanto para Martínez como para Ronaldo neste momento). É quase para dizer: perante estes adversários e com os jogadores que temos hoje em dia, até as nossas avozinhas conseguiam. Até eu conseguia. Isto foi pouco mais que a nossa obrigação. Estou contente mas não alinho em euforias. Isto foi apenas o nível um.

 

Claro que dá imenso jeito termos uma fase de Apuramento com uma progressão relativamente linear em termos de dificuldade. A próxima dupla jornada não será tão fácil… mas falamos sobre isso na altura. Gostava de ir ao jogo com a Bósnia, mas os bilhetes estão “temporariamente” esgotados. A ver se consigo comprá-los quando os puserem à venda de novo. 

 

Como sempre, obrigada pela vossa visita. Até à próxima.

 

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Estava a correr demasiado bem...

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No passado dia 9 de junho, a Seleção Portuguesa de Futebol venceu a sua congénere checa por três bolas sem resposta. Três dias mais tarde, no entanto, perdeu perante a sua congénere suíça por uma bola sem resposta. Estes jogos contaram para a fase de grupos da Liga das Nações e, com este resultado, Portugal fica em segundo lugar, com menos um ponto que a líder Espanha.

 

Estava a correr demasiado bem, não estava?

 

Um jogo de cada vez. O jogo com a Chéquia decorreu em Alvalade, à semelhança do primeiro jogo com a Suíça. Eu podia ter estado lá. Quando soubemos que íamos ter estes dois jogos perto de nós, a minha irmã sugeriu irmos aos dois. Eu no entanto tinha começado um emprego novo, achava que ainda não estaria à vontade para pedir para sair mais cedo – sobretudo na véspera de um fim-de-semana prolongado. Eu já iria ao jogo com a Suíça. Não precisava de ir ao outro com a Chéquia, certo? Certo?

 

Errado.

 

A minha irmã acabou por arranjar bilhetes para ela e para os amigos. Claro que me arrependi de ter decidido não ir. Sobretudo depois de ter tido uma experiência fantástica no domingo anterior, que me deixou a chorar por mais, e de me ter recordado que a Seleção não tornará a jogar perto de mim este ano – o jogo em casa com a Espanha será em Braga e acho que não haverão particulares antes do Mundial. Agora que já estou um pouco mais à vontade no meu emprego, sei que podia perfeitamente ter pedido para sair mais cedo: mesmo que tivesse de ir diretamente do trabalho para o estádio, mesmo que chegasse atrasada. 

 

Não vou mentir, doeu. Sobretudo quando uma das amigas da minha irmã apanhou Covid e se colocou a hipótese de eu ir no lugar dela… mas o bilhete foi para outro amigo.

 

Fica a lição para mim. Por outro lado, mais tarde a minha irmã contou-me que os amigos dela nunca tinham ido a um jogo da Seleção e adoraram a experiência. O que me fez sentir muito melhor. Afinal, já conto uma mão-cheia de jogos da Turma das Quinas. Posso ter perdido uma oportunidade mas, se isso contribuiu para converter outros à Equipa de Todos Nós, valeu a pena. 

 

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Por outro lado, a minha irmã levou a minha camisola da Seleção, que sempre invejou, emprestada. A camisola tem o meu nome impresso nas costas, mas ela não se importou. As pessoas confundem-nos tantas vezes que ela já está habituada a que lhe chamem Sofia.

 

E vice-versa, na verdade. Quem tem irmãos sabe como é. Sobretudo se forem tão parecidos fisicamente como eu e a minha irmã.

 

Já lhe prometi que, se ela gostar do próximo equipamento da Seleção, compro-lhe uma camisola pelos anos ou pelo Natal. De qualquer forma, no caso deste jogo, fiquei contente por pelo menos a minha camisola ter estado em Alvalade – foi como se uma parte de mim tivesse estado lá.

 

Uma parte de mim está sempre lá quando joga a Seleção, no entanto.

 

A verdade é que foi uma tarde complicada no meu emprego. Voltei a sair às oito da noite, mas desta feita não consegui sequer ver (e muito menos partilhar na página) o onze inicial. 

 

Depois de sair, contudo, liguei-me logo ao relato da rádio. Fiquei a saber que Portugal estava por cima, com várias oportunidades falhadas. Na rádio disseram que isso não era garantia de nada, que o mesmo acontecera com os espanhóis quando estes jogaram com a Chéquia – e acabaram correndo atrás do empate. Iria acontecer-nos o mesmo? 

 

 

Felizmente não. Curiosamente, aconteceu-me o exato oposto do que acontecera no jogo com a Espanha: cheguei a casa no preciso momento em que marcámos o nosso primeiro golo. Bem, mais ou menos: foi quando estava a entrar no elevador, com o Nuno Matos nos headphones. Não resisti a dar um pequeno grito de golo. Espero não ter incomodado nenhum dos meus vizinhos – suponho que, para eles, seria indiferente se eu gritasse no elevador ou no meu apartamento. 

 

Este primeiro golo resultou de mais uma colaboração entre Bernardo Silva e João Cancelo. O primeiro fez um passe excelente para o segundo, escapando a três checos. Cancelo depois seguiu pela direita e rematou certeiro. 

 

Momento engraçado quando um apanha-bolas se veio abraçar a Cancelo durante os festejos. Admiro o atrevimento (penso que terá sido o mesmo que roubou um high-five a Ronaldo). Espero que não tenham ralhado com ele. 

 

O segundo golo veio cinco minutos depois e teve de novo Bernardo. Uma vez mais, passe magistral, desta feita para a finalização de Gonçalo Guedes. Um belo golo, nova colaboração entre Bernardo e Guedes exatamente três anos após a primeira final da Liga das Nações.

 

Não há muito mais a dizer sobre este jogo. Uma exibição pouco excitante, mas consistente (ao contrário do que acontecera uma semana antes, em Madrid), suficiente para garantir e merecer a vitória. No fim, estávamos todos contentes. Tínhamos feito um jogo mau perante a Espanha mas com um resultado aceitável, tínhamos duas vitórias seguidas com boas exibições. Estávamos em primeiro no grupo. As coisas estavam a correr bem para o nosso lado.

 

Não durou. 

 

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Ainda não se tinha completado um minuto do jogo com a Suíça, em Genebra, e já tínhamos consentido um golo do nosso conhecido Haris Seferovic. Desta feita contou.

 

Esperava-se que este golo servisse de “wake up call” – esse e o penálti anulado pelo VAR. Não foi assim, pelo menos não no imediato. Foi uma primeira parte muito pastosa e desinspirada – tanto da nossa parte como dos suíços. É possível que os jogadores estivessem a sentir os quatro jogos em dez dias, que já estivessem a pensar nas férias. Por outro lado, tínhamos jogadores menos experientes em campo – Rafael Leão, que ainda não se adaptou bem à Turma das Quinas; Vitinha, pela primeira vez a titular. Quando nomes mais habituais, como Gonçalo Guedes e Bernardo Silva, entraram, a qualidade do nosso jogo melhorou.

 

A segunda parte foi, assim, melhor que a primeira. No entanto, foi um caso clássico de bola-não-quer-entrar. Uma conjugação de pouca sorte (“baliza benzida”, como ia dizendo António Tadeia), falta de pontaria, guarda-redes fazendo o jogo da vida dele (porque não jogou o mesmo que jogou em Alvalade? Aquele que defendia para a frente?) e, a partir de certa altura, bloqueio psicológico. A desvantagem no marcador manteve-se. 

 

Esta derrota doeu e ainda terá doído mais aos milhares de portugueses no Estádio de Genebra. Pela maneira como estes se faziam ouvir – mesmo tendo Portugal passado noventa e nove por cento do jogo a perder – arrisco-me a dizer que estes estavam em maioria? Alegadamente o suíço Steffen ter-se-á a certa altura virado para as bancadas e pedido apoio – em vez disso recebeu assobios.

 

Quase tenho pena dos suíços. Eles supostamente estavam a jogar em casa. Ao mesmo tempo, é triste temos invadido casa alheia para ver Portugal fazer um jogo tão pobre.

 

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Cristiano Ronaldo, João Moutinho e Raphael Guerreiro não jogaram em Genebra, nem sequer estiveram no banco. Fernando Santos já tinha anunciado na véspera que os dispensara. Na altura não me chocou – Cristiano e Moutinho estão entre os mais velhos do grupo e Raphael costuma lesionar-se com alguma frequência. E não há por aí quem ache que Portugal joga melhor sem Ronaldo?

 

Por outro lado, porque é que Ronaldo, com trinta e sete anos, teve direito a ir de férias mais cedo, quando Pepe, dois anos mais velho, teve de jogar os noventa minutos vezes quatro desta jornada? A resposta é simples, na verdade: Fernando Santos está mais à vontade para rodar o meio-campo e o ataque que a defesa. O Selecionador falou sobre isso há pouco tempo, em entrevista com António Tadeia, salientando a falta de jogos particulares para fazer experiências. E a verdade é que já tivemos experiências desagradáveis quando não pudemos usar os centrais do costume.

 

Regressando a Cristiano Ronaldo, é muito fácil dizermos agora que, se ele tivesse jogado em Genebra, teríamos ganho. É possível, não o nego – talvez este não falhasse tantos remates. Mas já tivemos outros jogos em que a bola não entrava com Ronaldo em campo, por isso, não há garantia de nada.

 

E agora? Agora ainda dependemos de nós mesmos para nos Qualificarmos para a final four da Liga das Nações. Temos “apenas” de ganhar os dois próximos jogos. É mais fácil escrevê-lo do que fazê-lo: um dos nossos adversários é a Espanha, a quem ganhámos um total de uma vez em jogos oficiais. Nada de especial.

 

Porquê, minha gente, porquê? Andava eu toda contente por estarmos a conseguir os resultados e, pelo menos até certo ponto, as exibições. Parecia que tínhamos aprendido com os erros de 2021 e que estávamos finalmente a aproveitar o talento dos nossos jogadores. Porquê?

 

Não podíamos ter terminado a jornada com o jogo com a Chéquia? Os jogadores até agradeciam o compromisso mais leve. 

 

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Uma das poucas coisas boas em relação à nossa derrota com a Sérvia foi o facto de a equipa técnica ter aprendido com os erros. Assim, conseguiram catalisar um melhor desempenho na maioria dos jogos em 2022 até agora. Seremos também capazes de aprender com esta derrota? Eu espero que sim.

 

Por outro lado, pelo menos na parte que toca à calendarização e gestão física, depois da pandemia e do Mundial no outono, é pouco provável que estas circunstâncias se repitam de novo. 

 

Isto é, espero eu. 

 

Agora temos outra vez um tubarão a bloquear-nos o caminho para uma fase final. É certo que, nos play-offs para o Mundial, os italianos fizeram-nos o favor de perderem com a Macedónia do Norte antes de se poderem cruzar connosco. Aqui, tudo o que podemos fazer é rezar para que os espanhóis percam pontos perante os suíços, para não ficarmos obrigados a vencê-los.

 

A brincar a brincar, eu não me admirava se isso acontecesse. As pessoas dizem que Fernando Santos tem uma vaca no que toca a estas coisas.

 

Temos o verão inteiro para pensarmos nisso, para lambermos as feridas (começando por mim mesma). Os Marmanjos que descansem e aproveitem as férias – esta foi uma época longa e dura, a próxima também o será. Em setembro regressaremos mais fortes e arranjaremos uma maneira de retificar esta situação.

 

Como sempre, obrigada pela vossa visita. Visitem também a página de Facebook associada a este blogue. Tenham um verão feliz, em setembro haverá mais.

Um estranho empate, a vitória de que precisávamos

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No passado dia 2 de junho, a Seleção Portuguesa de Futebol empatou a uma bola com a sua congénere espanhola. Três dias mais tarde, venceu a sua congénere suíça por quatro bolas sem resposta. Estes dois jogos contaram para a fase de grupos da terceira edição da Liga das Nações. 

 

Antes de mais nada, um pequeno pedido de desculpas por não ter publicado aqui no blogue antes destes jogos. Tenho tido umas semanas complicadas, em grande parte porque apanhei Covid e este não foi meigo comigo. Não é a primeira vez que salto uma crónica pré-jogo e não será a última. Mas não o devia ter feito desta vez. 

 

Nestas crónicas gosto de fazer uma rápida análise aos nossos adversários, o historial recente deles, o nosso histórico de confrontos com eles – para depois fazer prognósticos. Isso fez-me falta nesta jornada. Quando esta jornada começou, senti-me como se estivesse numa aula prática da faculdade sem a ter preparado.

 

Enfim, acontece. Mas vou tentar não repetir no futuro.

 

No dia do jogo com a Espanha, saí tarde do trabalho e acabei por perder os primeiros vinte e cinco minutos do jogo. Bem, mais ou menos. Ia consultando aqueles sites de atualizações de jogos quando podia até sair, depois ouvi o relato na rádio. Dava para perceber que a Espanha estava claramente por cima, ainda que Portugal fosse conseguindo defender-se dos ataques deles. 

 

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Mas não por muito tempo. Na verdade, entrei em casa precisamente no momento em que Álvaro Morata marcou. Rafael Leão tentou passar para trás, João Cancelo (foi ele, não foi?) deixou a bola fugir e ir parar aos pés de Gavi. Os Marmanjos foram basicamente apanhados com as calças na mão enquanto Gavi galgava o campo. Por fim, este passou a Sarabia que assistiu para Morata.

 

Tenho de admitir, foi uma bela jogada. Os portugueses só se podiam culpar a si mesmos.

 

Agora que já tinha acesso a uma televisão, conseguia ver com os meus próprios olhos que a Espanha estava a jogar muito melhor do que nós. Os portugueses na comparação quase pareciam amadores, dependentes da inspiração dos mais criativos. Não era tanto um “fia-te na virgem e não corras”, era mais um “fia-te no Rafael Leão e deixa os espanhóis correrem”. Em teoria isto não devia ser eficaz. Na prática, com Fernando Santos tem resultado muitas vezes.

 

Infelizmente, Rafael Leão – que jogou no lugar de Cristiano Ronaldo e é um dos Marmanjos do momento – não estava nos seus dias. Ou isso, ou se calhar ainda não estava preparado para este papel – ainda tem pouca experiência na Seleção.

 

Aproveito para falar já numa das questões-chave do jogo: a ausência de Cristiano Ronaldo do onze inicial. O assunto fez correr muita tinta – mais do que devia, na minha opinião. Ronaldo tem trinta e sete anos, vai completar em breve vinte anos como jogador profissional (!). Não podemos ficar dependentes dele para sempre, temos de ir fazendo o desmame. Pessoalmente, eu não o deixava no banco neste jogo – o mais difícil da fase de grupos. Mas temos de encarar com naturalidade quando ele não joga de início. 

 

A nossa melhor fase foi no início da segunda parte, quando entrou Rúben Neves para o lugar de João Moutinho. Infelizmente o ímpeto não durou muito. Ainda assim, Ricardo Horta – estreante e outro dos Marmanjos do momento – entrou aos setenta e poucos minutos e só precisou de mais dez para empatar a partida. Pode ter sido um golo contra a corrente do jogo, mas foi uma jogada bonita: a troca de bola entre Cancelo e Gonçalo Guedes, a assistência do primeiro para o remate de Horta.

 

 

Por alturas do fim do jogo, eu mal acreditava. Como é que tínhamos conseguido não perder aquele jogo? Quase senti pena dos espanhóis, que tinham feito muito mais por merecer a vitória. Quase… porque duvido que nuestros hermanos pensassem o mesmo se fosse ao contrário – não tanto os jogadores, mais os adeptos. Eles que não nos deram pontos na Eurovisão e, pior ainda, assobiaram o nosso hino. 

 

Por isso sim, que se danem. Este pontinho é nosso. E talvez venha a ser precioso.

 

Por outro lado, tenho de ser sincera: este empate não entusiasmou ninguém. Foi um típico jogo à Fernando Santos, sobretudo neste último ano, ano e meio. Um estranho empate, como disseram nos Memes da Bola. Parafraseando um monólogo de uma personagem de Ted Lasso, o equivalente futebolístico a um quadro de quarto de hotel: cumpre a sua função, mas está longe de ser uma obra de arte, está longe de comover. 

 

É por estas e por outras que, nesta altura do campeonato, muitos de nós não conseguem estar a cem por cento com Fernando Santos – eu incluída. Foi por muitos jogos assim que o ano passado foi tão frustrante. É certo que uma coisa é termos estes estranhos empates perante adversários como a Espanha – historicamente uma das nossas maiores bestas negras. Outra coisa era quando tínhamos estes estranhos empates ou estranhas vitórias perante adversários como a República da Irlanda ou o Azerbaijão

 

E de qualquer forma, no que toca a entretenimento e obras de arte, fomos bem compensados no jogo seguinte.

 

Este decorreu no Estádio de Alvalade e eu estive lá, com a minha irmã – que não ia a um jogo da Seleção desde antes da pandemia, desde… desde a final da Liga das Nações no Porto há precisamente três anos, vejo agora. 

 

Chegámos cedo, sem grandes complicações – o facto de já não precisarmos de certificados de vacinação e afins ajuda – assistimos a parte do aquecimento. Como sempre, estava um ambiente fantástico, com lotação esgotada – nunca me farto disso. E como era o Estádio de Alvalade, a Seleção vestia um equipamento verde e vermelho e ainda tínhamos a luz do dia, lembrei-me do meu primeiro jogo.

 

 

Como já toda a gente assinalou, Portugal não entrou bem na partida. Os suíços dominaram durante os primeiros dez minutos, culminando com o golo de Seferovic, aos seis minutos. Comecei logo a fazer contas à vida, naturalmente – ao mesmo tempo, estranhei que o marcador não se alterasse nos ecrãs gigantes. Acabou por aparecer a indicação de consulta do VAR por mão na bola. Pouco depois obtivemos confirmação e o golo foi anulado. Suspiro coletivo de alívio, festejos nas bancadas.

 

– Que sirva de lição – disse eu, na altura. Estava apenas falando para o ar, claro, parecido com os meus gritos ocasionais de “Vai! Vai! Vai!”, “Corre!”, “Chuta!”. Mas a verdade é que os jogadores pensaram o mesmo – vários admitiram-no mais tarde. O golo anulado foi uma “wake up call”. Depois dele, Portugal tomou conta do jogo. 

 

Começando logo aos quinze minutos, na nossa primeira ocasião. Cristiano Ronaldo cobrou o livre direto, o guarda-redes Gregor Kobel defendeu para a frente, William Carvalho marcou na recarga. Adoro ver os festejos deste golo – se me permitem a nota menos futebolística, William tem um sorriso lindo.

 

Isto na verdade foi apenas o começo para William. Ele fez um jogo espetacular, catalisando vários lances de ataque. Não foi o único. Adiantando-me um pouco, Portugal num todo jogou bem. Jogou “bonito”, como Fernando Santos insiste em dizer. O talento que todos reconhecem nos nossos Marmanjos estava finalmente a vir ao de cima. Otávio estava em todo o lado – neste jogo reparei que ele é baixinho mas corre muito. Nuno Mendes teve vários rasgos de inspiração. Diogo Jota não esteve nas suas melhores noites – aparentemente ele só consegue marcar de cabeça – mas sempre contribuiu para os dois golos de Cristiano Ronaldo. João Cancelo foi pura e simplesmente imperial. Rúben Neves também esteve bem, à semelhança de Bruno Fernandes, que também esteve nos golos de Ronaldo. Eu podia continuar…

 

Mas regressemos à primeira parte do jogo. Os últimos quinze minutos foram absolutamente avassaladores da nossa parte, com dois golos e uns quantos desperdícios. Ambos os golos foram assinados por Ronaldo. 

 

A jogada do primeiro começou em Rúben Neves, Otávio desviou de cabeça, Bruno Fernandes passou para Diogo Jota. Pensava-se que este iria rematar – em vez disso, este desarmou dois suíços e assistiu para o remate certeiro de Ronaldo. 

 

No segundo golo, Bruno Fernandes fez uma cueca a um dos suíços (que boss…), a bola chegou a Nuno Mendes que assistiu para Diogo Jota. Este aparentemente não estava à espera e tentou um remate atrapalhado. Kobel defendeu de novo para a frente (a sério? Um remate tão fraquinho e ele defende para a frente? Acho que até eu teria conseguido agarrar esta bola!) e desta vez foi Ronaldo a aproveitar. 

 

 

Não sei como é com vocês, mas eu nunca me cansarei de ouvir multidões gritando “SIIII!!!!” em coro com Cristiano, cantando o nome dele. As imagens de uma D. Dolores em lágrimas no rescaldo dos dois golos correram mundo. Por um lado é caricato: o filho é recordista em golos de seleções (e em vários outros tipos de golos). A senhora chora de todas as vezes que Ronaldo marca?

 

Por outro lado, são imagens bonitas, ninguém o nega. E compreende-se. Era uma ocasião especial, os gémeos de Ronaldo faziam cinco anos – o pai marcou um golo para casa. Além disso, há que recordar, a família tem passado por tempos difíceis.

 

Já que falo nisso, queria destacar outro momento. Conforme referimos antes, tivemos vários desperdícios nos últimos quinze minutos da primeira parte. Um deles foi de Ronaldo, um lance de caras. O Capitão teve uma reação um pouco mais desalentada do que eu esperava. Logo a seguir, nas bancadas, aplaudimos e cantámos o nome dele, em jeito de consolo.

 

A minha irmã já tinha comentado que nós tratamo-lo bem, que o mimamos. Ninguém nega que ele o merece, sobretudo neste momento. Não só por tudo o que tem feito por nós, mas também depois da perda que ele e a família sofreram há pouco tempo.

 

O futebol é isto. A Seleção é isto.

 

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Chegámos, assim, ao intervalo com uma vantagem de três golos. Eu queria ainda mais na segunda parte – até porque a baliza da Suíça ia ficar do nosso lado. Na prática, sabia que seria difícil mantermos o ímpeto, com todas as condicionantes à forma física dos jogadores. Eu, aliás, estava à espera que Ronaldo saísse ao intervalo ou por volta do momento sessenta. Isso não aconteceu, ele jogou até ao fim – uma vez mais eu teria feito diferente, mas pronto.

 

Ainda assim, a segunda parte não foi má. Ronaldo chegou a enfiar a bola na baliza aos cinco minutos, mas o golo foi anulado por fora de jogo. Pena. Ficou por repetir o hat-trick de há exatamente três anos antes. E não pude festejar um golo de Ronaldo do meu lado do campo.

 

O momento de brilho ocorreu perto dos setenta minutos, numa jogada de João Cancelo e Bernardo Silva (que acabara de render Bruno Fernandes). Cancelo abriu caminho pela direita sem dificuldades. O passe de Bernardo escapou a três suíços, Cancelo fintou o guarda-redes com imensa classe e rematou certeiro para as redes.

 

Tal como já me tinha acontecido no jogo com a Sérvia, o telemóvel voou-me do bolso durante os festejos (o casaco que uso com a camisola da Seleção tem os bolsos muito grandes, eu esqueço-me sempre…). Desta feita, dois senhores (pai e filho?) que estavam no banco da frente apanharam-no e viraram-se para trás. Eu estava ainda de olhos nos jogadores a festejar, sorrindo como uma tola. Demorei vários segundos a perceber que o telemóvel que tinham na mão era o meu. 

 

Enfim…

 

Não aconteceu mais nada de assinalável durante o resto dp jogo, ainda que nós nas bancadas fôssemos gritando “Só mais um! Só mais um!”. Tirando o momento em que João Palhinha se ia virando a Embolo. Noutras circunstâncias eu diria que ele não devia perder a cabeça por “dá cá aquela Palhinha” (não, não peço desculpa) mas, em defesa dele… aquilo foi uma falta demasiado dura e completamente desnecessária, talvez merecesse mesmo o cartão vermelho. 

 

Por outro lado, quando revi o lance na televisão, deu para ver e ouvir claramente Fernando Santos gritando a Palhinha para ter calma. 

 

Em todo o caso, a Suíça nunca chegou a ameaçar verdadeiramente. A vitória manteve-se. 

 

Arrisco-me a dizer que este foi o nosso melhor jogo nos últimos tempos. Talvez mesmo desde 2020. É certo que houve demérito da Suíça – acho que vi nalgum lado que eles andam com problemas internos – mas isso não é culpa nossa. Eles tinham a obrigação de fazer melhor, depois dos bons resultados que tiveram no último ano. E eu não me esqueço que eles se bateram taco a taco connosco na Qualificação para o Mundial 2018.

 

Por nosso lado, como referi antes, finalmente vimos Portugal a jogar bem, aproveitando o talento dos seus jogadores. É assim que nós gostamos! Depois de demasiadas pinturas de quarto de hotel, finalmente fizemos uma obra de arte. Era a vitória de que precisávamos há muito tempo, algo que nos desse argumentos contra os críticos da Seleção – incluindo aquele que vive dentro da minha cabeça. 

 

Além de que eu não podia ter pedido mais de um jogo a que assisti ao vivo. Foi uma das minhas noites mais felizes dos últimos tempos. 

 

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A questão agora é saber se conseguimos repetir a proeza. Começando já hoje, com o jogo com a Chéquia. Vai ser difícil: os checos têm um estilo de jogo diferente da Suíça, empataram com a Espanha e igualam-nos em pontos. Não podemos esperar facilidades.

 

Eu naturalmente quero mais daquilo que tivemos no domingo, mas sei que será difícil. Para além de ser um adversário mais complicado, estamos em fim de época, são quatro jogos em onze dias, Fernando Santos tem de rodar a equipa, como tem sido amplamente comentado. Com todas as atenuantes, só peço a vitória. O fator artístico será secundário. Pelo menos no que toca aos próximos dois jogos.

 

Que ganhemos então. Hoje faz três anos desde que vencemos a Liga das Nações. Eu quero regressar a uma final four e, se possível, repetir esse feito. 

 

Como sempre, obrigada pela vossa visita. Espreitem a página de Facebook daqui do blogue. E tendo em conta que há jogo logo à noite… força Portugal!

Antes da nossa estreia no Euro 2020

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No passado dia 4 de junho, a Seleção Portuguesa de Futebol empatou sem golos com a sua congénere espanhola. Mais tarde, no dia 9, venceu a sua congénere israelita por quatro bolas sem resposta. Ambos os jogos foram de carácter particular. Agora, estamos em contagem decrescente para a nossa estreia no Euro 2020, perante a Hungria, em Budapeste. 

 

Antes de começarmos, não posso deixar de falar sobre o que aconteceu no jogo entre a Dinamarca e a Finlândia. Eu, como muita gente, apanhei um susto, apesar de não saber nada sobre Christian Eriksen – e à semelhança de muitos amantes portugueses de futebol, tive recordações horríveis do que aconteceu com Miklos Feher em 2004. 

 

Felizmente, evitou-se a tragédia e o mundo do futebol respirou de alívio. Já muitas pessoas elogiaram os intervenientes (os colegas de equipa, os adversários, os médicos, os adeptos gritando por Eriksen no estádio). Eu assino por baixo de todas. É muito triste que isto tenha acontecido no Europeu que já tinha sido adiado por motivos de saúde, num dos poucos jogos com público esta época. Mas o mais importante é que Christian sobreviveu. A história teve um final feliz.

 

Passemos à frente.

 

Este é apenas o meu segundo texto aqui no blogue desde que entrámos em modo Europeu. Eu tinha avisado que seria assim, mas ainda é estranho. Nestes últimos dias às vezes penso em Europeus e Mundiais anteriores. Escrevia muito mais aqui, andava mesmo mais entusiasmada do que me sinto hoje.

 

A verdade é que estou mais velha e menos disponível para andar sempre a pensar na Seleção. Além disso, já são treze anos de blogue, muitos jogos, muitos campeonatos, parte da novidade perdeu-se – pelo menos no que toca aos estágios de preparação.  Os jogadores dão quase sempre as mesmas respostas politicamente corretas nos contactos com os jornalistas e os jogos particulares têm pouco valor preditivo do que acontece quando é a doer – mais sobre isso já a seguir.

 

 

Também não tenho muito a dizer sobre as campanhas publicitárias: não são más, mas nenhuma é absolutamente extraordinária. Gosto do facto de a do Continente não se limitar à Seleção A e estou a fazer a coleção de cromos deles. A da Galp também está gira – eles nunca desiludem. 

 

Quanto à música de apoio, Vamos Com Tudo… aprecio a intenção e não desgosto. No entanto, como cheguei a explicar na página de Facebook (a publicação já lá não está porque houve cometi a asneira de reativar a versão antiga das páginas e perdi os últimos três meses de publicações, mais coisa menos coisa. Ao menos ainda tenho este tweet), nesta fase a FPF tem de tirar a cabeça da areia e fazer d’A Minha Casinha a música oficial da Seleção. 

 

Falemos então dos particulares, começando pelo primeiro. O jogo com a Espanha não foi brilhante da parte de Portugal. Vejam-se as estatísticas ao intervalo: setenta por cento de posse de bola para nuestros hermanos. Ainda assim, como disse Fernando Santos mais tarde, os espanhóis não fizeram nada de transcendente. Rui Patrício teve poucas ocasiões para brilhar, ao contrário do que tinha acontecido no jogo anterior com a Espanha, em outubro do ano passado.

 

Por outro lado, foi bom ver Pepe de novo a jogar pela Seleção, passados estes meses todos. Já tinha saudades dele. Ao mesmo tempo, José Fonte esteve bem, tirando uma falha ou outra. Chegou mesmo a enfiar a bola na baliza aos vinte e dois minutos – o único em todo o jogo a conseguir fazê-lo. O problema foi ter-se empoleirado em Pau Torres para chegar à bola – árbitro nenhum deixaria passar.

 

Pena Fonte não ter conseguido marcar de maneira legal. Teria piada: outro golo contra a corrente do jogo, cerca de 24 horas depois das meias-finais dos sub-21. 

 

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Já que falamos de centrais, adiantemo-nos um bocadinho e falemos de Danilo. Fernando Santos colocou-o a central na segunda parte e acho que todos concordam que ele se saiu bem. Podemos não concordar com esta opção de Fernando Santos, mas ao menos a qualidade de Danilo não será um problema. 

 

Quem gostei muito de ver neste jogo (e não fui a única) foi Renato Sanches. Tirando umas faltas parvas que ele cometeu na primeira parte, terá sido um dos melhores portugueses em campo – com umas arrancadas fazendo lembrar o Euro 2016. Num dos contactos com os jornalistas, Renato disse que se sente melhor jogador hoje do que há cinco anos. Preciso de vê-lo mais vezes em campo para confirmá-lo, mas parece-me que está pelo menos ao mesmo nível.

 

Não há muito mais a dizer sobre este jogo. Como disse antes, Portugal não começou bem, mas foi crescendo ao longo dos primeiros quarenta e cinco minutos. A segunda parte foi mais aberta, mais individualista – os lançados Pedro Gonçalves e Nuno Mendes deram uns ares de sua graça – mas mesmo assim nada por aí além. Apesar da ligeira superioridade espanhola, o empate acabou por ser um resultado justo. 

 

Muitos de nós estavam à espera de um bocadinho mais, eu incluída, mas um empate com uma das nossas maiores bestas negras – só lhes ganhámos uma vez em jogos oficiais e, mesmo em jogos particulares, a última vitória foi há mais de dez anos – nunca é um mau resultado. 

 

Além disso, da minha experiência, os primeiros particulares da preparação para um Europeu ou Mundial nunca são brilhantes e nunca ficam na História. Por exemplo, quantos de nós se lembram que antes do Mundial 2018, há três anos, empatámos com a Tunísia? Eu não me lembrava! 

 

Nessa linha, os últimos particulares não são necessariamente mais memoráveis mas, nos últimos anos, a tradição tem sido escolher um adversário mais acessível para garantir uma vitória fácil, mesmo generosa. Para dar moral e quebrar alguns enguiços (não é, Cristiano?). Antes do jogo, não incluía Israel nesse grupo, estava até à espera de um jogo um pouco mais difícil, mas é provável que tenha sido essa a intenção. 

 

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Suponho que ainda estava com os nossos jogos de 2013 na mente. Esqueci-me que, hoje, Portugal é melhor equipa. 

 

Os portugueses entraram bem no jogo, com uma oportunidade logo aos dois minutos – eu ainda mal me aperceber que o jogo tinha começado. Como disse Fernando Santos, “podíamos ter feito dois ou três golos nos primeiros vinte e cinco minutos”. O problema era a finalização – Diogo Jota, por exemplo, não estava inspirado.

 

Por estes dias, tem havido quem fale em alinhar André Silva ao lado de Cristiano Ronaldo: o segundo melhor marcador do campeonato alemão ao lado do melhor marcador do campeonato italiano. Compreendo que critiquem Fernando Santos por, ao que parece, não investir nessa opção. Até concordo em parte – afinal de contas, essa dupla deu bons resultados entre 2016 e 2018, mais coisa menos coisa.

 

Dito isto, também compreendo que Fernando Santos não queira ir por aí, para já. André Silva teve um par de épocas menos conseguidas e acabou por perder lugar na Seleção – nas poucas oportunidades de que tem disposto, ainda não deu motivos ao Selecionador para apostar nele. Ao mesmo tempo, Diogo Jota tem sido uma peça importante na Turma das Quinas após o hiato da pandemia – e toda a gente sabe o que se diz sobre equipas que ganham. 

 

É daquelas coisas que, em teoria, são boa ideia mas que é difícil passar à prática. Infelizmente não estou a ver André Silva como opção de primeira linha neste Europeu. Mas poderá vir a ser um trunfo secreto numa situação de aperto. 

 

Regressando ao jogo com Israel, foram precisos quarenta e dois minutos para se chegar ao golo. Bom entendimento à direita entre Bernardo Silva e João Cancelo, este último assistiu para Bruno Fernandes que não falhou. 

 

 

Este jogo estava fadado para ter golos aos pares, perto do final de cada uma das partes. O segundo golo veio poucos minutos depois do primeiro. Bruno Fernandes também esteve neste – assistiu para Ronaldo, que beneficiou de um frango do guarda-redes Marciano. 

 

Na segunda parte, Fernando Santos mudou a estratégia e, como acontece em muitos particulares deste género, a qualidade decaiu. Chegou a ser secante nalguns momentos. Mas felizmente tivemos direito a um segundo par de golos, ao cair do pano.

 

Aquele remate de João Cancelo, encontrando um corredor para a baliza no meio de uma grande área cheia, para começar. E depois o tiro de Bruno Fernandes (após assistência de Gonçalo Guedes), à entrada da área, mesmo no canto superior esquerdo da baliza. Ninguém podia defender aquela.

 

Para mim estes foram os melhores em campo: Cancelo e Bruno Fernandes. Quem diria que finalistas europeus de clubes fariam a diferença, não é? 

 

Pena é Cancelo ter testado positivo para o Coronavírus e ir falhar o Europeu. Logo agora que ele se revelava tão promissor, ele que podia combinar-se com Bernardo Silva! 

 

Ao menos sempre é uma oportunidade para o Diogo Dalot.

 

 

Regressando ao particular com Israel, este foi um bom jogo. É claro que temos de dar um desconto por ser uma equipa como Israel, no entanto. Quem nos dera que as coisas fossem assim tão fáceis no Euro.

 

...e daí talvez não. Como toda a gente sabe, é quando as coisas são demasiado difíceis que Portugal se atrapalha.

 

De qualquer forma, os particulares são águas passadas, o Europeu já começou. Citando Rui Reininho, “agora é a doer”. E vai doer, não se iludam. 

 

Ainda não tive oportunidade de falar sobre a Hungria como adversário. São a seleção mais fraca do grupo F, ninguém discorda, mas eu não os descreveria como sardinhas, como fiz antes. Mal por mal, vão em onze jogos sem perder e, na última fase de grupos da Liga das Nações, subiram à divisão A.

 

Isto para não falar do caricato jogo da fase de grupos de 2016. Por outro lado, recordar que os húngaros vão jogar em casa, com um estádio cheio e tudo. Da última vez que visitámos a Hungria vencemos… mas houve sangue.

 

Por fim, recordo que Portugal tem a mania infeliz de não ganhar o primeiro jogo de um Europeu ou Mundial. A última vez que o conseguiu foi em 2008, ainda este blogue era um bebé. Mas desta feita não vai dar – não podemos dar-nos a esse luxo.

 

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Em suma, não esperem facilidades. Nem perante a Hungria, nem perante a Alemanha ou a França, nem perante qualquer adversário que se cruze connosco, caso passemos a fase de grupos. Estive a ver este vídeo de uma previsão do Europeu e olhemos para as possíveis seleções no nosso caminho: ele é Espanha, ele é Croácia, ele é Inglaterra, ele é Bélgica, ele é uma Itália que teve uma boa estreia neste Europeu… 

 

Eu não sei se vou aguentar, minha gente. 

 

Dito isto, na minha opinião, pelo menos no que toca a individualidades, esta é a melhor seleção que temos em anos – desde o Euro 2004 e o Mundial 2006, arrisco-me a dizer. Como referi antes, temos três finalistas europeus de clubes (tínhamos quatro, mas o FDP do Covid…), temos muitos jogadores que foram campeões nos respectivos campeonatos, temos o Melhor do Mundo. Se há Equipa de Todos Nós à altura deste desafio... é esta. 

 

É claro que o talento por si só não basta. É preciso saber usá-lo – e há muita gente que não perdoará a Fernando Santos, se ele não for capaz de canalizar esta qualidade toda para um bom desempenho neste Europeu.

 

Pois bem, eu acredito. Vai ser difícil, cada jogo vai ser um sofrimento atroz. Racionalmente, não ponho as mãos no fogo. Mas acredito dos jogadores e equipa técnica, acredito na sua determinação e entrega, na sua capacidade de superação. Afinal de contas, Portugal costuma dar-se bem em circunstâncias como estas. É certo que, até agora, só a Espanha foi capaz de revalidar um título europeu, mas nunca se sabe… 

 

O melhor é ir encarando um jogo de cada vez. Para já é importante começarmos com uma vitória perante a Hungria, o que nos facilitará bastante a vida no chamado Grupo da Morte, ou Grupo da Vida, ou Grupo da Glória (é bom que Portugal ultrapasse as suas manias de não ganhar o primeiro jogo, de se boicotar a si mesmo). Depois logo se vê.

 

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O jogo é terça-feira às cinco da tarde, que é a hora a que saio do trabalho. Estive a pensar em hipóteses diferentes, mas em princípio venho ver o jogo para casa, mesmo que tenha de acompanhar a primeira parte na rádio, no caminho. Por um lado, quero ver se não perco muita coisa por não ter acesso à televisão. Por outro, até será simpático se marcarem um golo durante o meu regresso a casa – para além das vantagens de marcar um golo cedo, dava para eu cumprir um desejo antigo de festejar com buzinadelas. 

 

Em relação a este blogue, ainda não sei quando tornarei a publicar de novo, mas em princípio vou tentar escrever uma crónica sobre os dois primeiros jogos. Em último caso, escrevo um texto sobre os três jogos da fase de grupos. De qualquer forma, como habitual, vou deixando as minhas impressões na página de Facebook deste blogue. 

 

Terça-feira saltamos para a toca de coelho. Vemo-nos no outro lado. 

 

Em boas mãos (e pés)

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No passado sábado, dia 5 de setembro, a Seleção Portuguesa de Futebol derrotou a sua congénere croata por quatro bolas contra uma. Três dias mais tarde, derrotou a sua congénere sueca por duas bolas sem resposta. Ambos os jogos contaram para a fase de grupos da segunda edição da Liga das Nações. 

 

Era difícil Portugal ter tido uma melhor estreia do que esta, na competição. Foi sinceramente melhor do que eu me atrevia a esperar. 

 

Antes do início do jogo com a Croácia sentia-me nervosa. Pelos motivos que referi no final da última crónica e também porque não conseguia prever como correria o jogo. Achava que poderia dar para qualquer lado. Afinal de contas, sempre era o Campeão da Europa e da Liga das Nações contra o vice-campeão do Mundo. Pelo menos em teoria, era um duelo de titãs.

 

Agora sei que não precisava de me preocupar, mas foi melhor assim. É sempre preferível sobrestimar o adversário do que o contrário. 

 

Ambos os jogos desta jornada decorreram à porta fechada. Tal como se calculava, é deprimente. Os gritos dos jogadores e treinadores faziam eco nas bancadas vazias. Dizem que se ouviam os veículos na VCI dentro do estádio, durante o jogo com a Croácia – quando devia ser o contrário. Quem passava na VCI àquela hora devia ser capaz de ouvir os gritos no público dentro do estádio – tal como quem passa na Segunda Circular junto ao Estádio de Alvalade ou ao Estádio da Luz, durante jogos lá (como vivo em Lisboa, tenho mais experiência com isso). 

 

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Cristiano Ronaldo não jogou devido a uma infeção no dedo do pé, que estava a tratar com antibiótico (como farmacêutica, gostava de saber que terapêutica ele fez). Ele e os outros suplentes assistiram ao jogo na bancada. Ronaldo pareceu-me frustrado por não poder estar em campo – ao ponto de, a certa altura, se ter esquecido de pôr a máscara (eu dava-lhe um sermão daqueles, como tenho dado a vários utentes meus). 

 

Curiosamente, durante o jogo com a Suécia, quando Ronaldo estava em campo, as câmaras não pareceram tão interessadas no que se estava a passar nas bancadas, entre os suplentes. Porque será?

 

A Croácia teve uma oportunidade aos dois minutos, defendida por Anthony Lopes (titular em vez de Rui Patrício, que estava de férias antes destes jogos). Tirando essa ocasião, os croatas permaneceram acampados no seu meio campo, mesmo na sua grande área, muito encolhidos, durante quase toda a primeira parte. 

 

Portugal ia criando oportunidades atrás de oportunidades, sem conseguir concretizá-las – parecia-me que tínhamos sempre croatas no caminho da bola. Tivemos sintomas da nossa velhinha maldição dos postes – três bolas aos ferros, já não nos acontecia há algum tempo… 

 

Os comentadores iam dizendo que, mais cedo ou mais tarde, Portugal marcaria. Eu estava com medo que nos acontecesse o oposto – que os remates falhados começassem a subir à cabeça dos Marmanjos, que os nervos piorassem ainda mais a pontaria, um ciclo vicioso que acabasse com o jogo empatado ou pior.

 

 

Felizmente não foi isso que aconteceu. Aos quarenta minutos João Cancelo recebeu a bola perto da grande área. Lá permaneceu um momento, como que pensando o que fazer a seguir. Alguém, talvez Fernando Santos, gritou “Chuta!” – eu não ouvi da primeira vez, mas o meu pai ouviu. É uma das poucas vantagens da ausência de público. De qualquer forma, Cancelo obedeceu, um belo tiro, certeiro para as redes. O golo foi dedicado à sua falecida mãe – um gesto bonito, sobretudo depois da entrevista que dera ao Canal 11, poucos dias antes.

 

Estava quebrado o gelo. Na segunda parte, a Croácia abriu-se mais, aproximou-se mais da nossa baliza, sem fazer grandes ameaças. Portugal continuou por cima, se bem que sem o fulgor da primeira parte. Aos cinquenta e oito minutos, um dos defesas da Croácia distraiu-se com João Félix, dando espaço a Raphael Guerreiro para assistir para Diogo Jota e este rematar para as redes.

 

Este também teve direito a dedicatória – desta feita à namorada e ao filho que tem por nascer (eles são pais muito novinhos…). Depois de Ronaldo lhe ter roubado o golo no jogo com o Luxemburgo, Jota estreava-se a marcar com a Camisola das Quinas.

 

Mais tarde, foi a vez de João Félix se estrear, com um remate da meia-lua – após múltiplas tentativas, não apenas naquele jogo, praticamente desde que se estreou pela Seleção. O pobre miúdo nem sequer festejou o golo de imediato, parecia que nem acreditava que tinha mesmo marcado.

 

Os croatas tiveram direito ao golo de honra ao minuto noventa, fruto de uma fífia de João Cancelo. O Marmanjo segurou mal a bola, os adversários conseguiram ganhar posse e a jogada terminou com um remate certeiro de Bruno Petkovic, sem hipótese para Anthony Lopes. 

 

Depois do desempenho de Cancelo neste jogo, acho que toda a gente lhe perdoa este deslize. Até porque não demorou muito até a vantagem de três golos ser reposta. 

 

 

O golo de André Silva surgiu mesmo no sopro final da partida, na sequência de um canto. Foi uma jogada algo confusa, estavam muitos croatas na grande área. Pepe fez uma tentativa de remate de cabeça, a bola foi parar a André Silva, que a enfiou na baliza entre o guarda-redes croata e um colega dele. 

 

O árbitro apitou para o final logo após o golo, algo que não me lembro de alguma vez ter visto em futebol – as celebrações do golo misturando-se com as celebrações da vitória. Um pormenor engraçado. 

 

Toda a gente inundou a Seleção de elogios após este jogo. Eu incluída, claro, depois do meu nervosismo e expectativas algo baixas. Há quem aponte demérito da Croácia – e de facto acho que se esperava mais dos vice-campeões do Mundo, mesmo sem Modric e Rakitic – mas ninguém pode tirar o mérito a cada um dos que envergaram a (não muito bonita, tenho de concordar) Camisola das Quinas naquela noite. 

 

Não é a primeira vez que escrevo aqui sobre a alegria que é ver tanto jovem talentoso, alguns deles ainda com caras de adolescentes, jogando pela Seleção. Eu sentia-me inchar naquela noite com cada elogio aos Marmanjos que lia e ouvia – como se estivessem a elogiar-me a mim. Ah, as saudades que eu tinha disso!

 

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Foi aqui que as pessoas se começaram a questionar, não pela primeira vez, se Portugal jogaria melhor sem Ronaldo. Havemos de falar sobre isso neste texto… mas para já o jogo com a Suécia. 

 

Ronaldo estava já recuperado na infeção no dedo do pé. Alinhou, assim, desde início, tomando o lugar de Diogo Jota. Foi a única alteração em relação ao onze inicial anterior. Antes deste jogo ouvi comentadores debatendo qual das opções era a melhor: mudar a constituição da equipa, poupando jogadores desgastados pelo jogo anterior (afinal de contas, estamos em pré-época); ou usar essencialmente o mesmo onze, tomando partido das rotinas. 

 

Eu arrisco-me a dizer que talvez tivesse sido melhor ter usado um onze diferente, com jogadores mais frescos. O cansaço pode explicar, pelo menos em parte, a exibição menos entusiasmante da Seleção. Mas não percebo assim tanto de futebol para questionar uma decisão como esta. 

 

À hora do jogo estava, como a minha mãe diz, com a neura. Desejava uma vitória da Seleção um pouco mais do que o costume, para me levantar o ânimo. Em parte por causa disso, não prestei tanta atenção à primeira parte do jogo como prestara no sábado anterior. 

 

A Suécia começou o jogo por cima, defendendo bem. Portugal teve dificuldades em criar oportunidades, mas eventualmente foi crescendo no jogo. Cristiano Ronaldo fez duas tentativas de golo, ambas defendidas pelo guarda-redes Robin Olsen. 

 

 

Finalmente, em cima do intervalo, Gustav Svensson foi expulso por acumulação de amarelos, após falta sobre João Moutinho. Ronaldo foi chamado a cobrar e fê-lo com a mesma mestria que um jogador comum bate um penálti. Bruno Fernandes diria mais tarde que, na véspera, Ronaldo marcara “seis ou sete livres assim no treino e saiu igual”

 

Parece puro talento, magia, mas não é. É prática. O que para mim é ainda mais inacreditável. 

 

A expulsão e o golo em cima do intervalo mudaram o curso do jogo. Eu finalmente sorri, ultrapassando a minha neura. Tem sido sempre assim, há mais de metade da minha vida.

 

Deste modo, a segunda parte foi mais fácil, mesmo não sendo brilhante. Portugal teve mais oportunidades – de João Félix, dos dois meninos dos anos, João Moutinho e Bruno Fernandes. Este último chegaria a mandar uma bola aos ferros – outra vez a maldição.

 

No entanto, como em muitas outras noites de Seleção, estava escrito nas estrelas que aquela pertencia a Ronaldo. Não consigo perceber ao certo quem fez aquele passe transversal ao campo, espetacular. Não sou a única: há sítios que dizem que foi João Cancelo, outros dizem que foi Bruno Fernandes. De qualquer forma, João Félix recebeu a bola, passou-a para Ronaldo. Este disparou, em cima do limite da grande área, diretamente para as redes. 

 

 

Estava feito o marcador. Dois golos de Ronaldo, o centésimo-primeiro da sua conta pessoal pela Seleção. Sete deles foram precisamente frente à Suécia, a sua maior vítima empatada com a Lituânia. Fica a oito golos do recorde de Ali Daei. Todos esperam que Ronaldo atinja a marca em breve – se não fosse o Covid, se calhar já teria atingido. 

 

Foi ele quem mais brilhou neste jogo. Os companheiros estiveram mais apagados, em comparação com o jogo da Croácia. Existem várias explicações possíveis, algumas delas já referimos aqui. Menor frescura. Suécia mais competente que a Croácia. Ou então, talvez a Equipa de Todos Nós enquanto coletivo jogue melhor sem Ronaldo do que com ele. 

 

Esta teoria já não é nova e suspeito que depressa irá ganhar barbas. Fernando Santos tem garantido várias vezes que nenhuma equipa é melhor sem o Melhor do Mundo. No entanto, como muitos têm apontado, com Ronaldo em campo, os jogadores podem ter a pressão e/ou a tentação de passar a bola ao madeirense, esperarem que ele resolva a coisa. 

 

Uma vez mais, não sou a melhor pessoa para avaliar a questão. No entanto, no que toca a dilemas deste género relacionados com a Equipa de Todos Nós, estamos bem servidos neste momento. 

 

Há meia dúzia de anos o drama era se a Seleção era Ronaldo-mais-dez. Hoje conseguimos ganhar com ou sem Ronaldo. O drama é saber qual destas duas versões da Seleção é a melhor. Se esta dupla jornada serve de exemplo, de qualquer das maneiras, as Quinas estão em boas mãos (e pés). Temos o Melhor do Mundo e temos vários jogadores cheios de talento, representando os melhores clubes da Europa, que ainda nem sequer atingiram todo o seu potencial. Que podemos desejar mais?

 

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Como disse no início, era de facto difícil fazer melhor nesta dupla jornada – sobretudo tendo em conta as circunstâncias. Idealmente teríamos tido uma exibição melhorzita na vitória sobre a Suécia, mas esta continuava a valer três pontos. Era importante começarmos bem esta fase de grupos, até porque o pior (leia-se: a França) ainda está para vir. Mas preocupamo-nos com isso quando chegar a altura.

 

Para já, soube-me muito bem ter a Seleção de volta – e saber que voltaremos a tê-la dentro de poucas semanas. Como dei a entender antes, a vitória sobre a Suécia serviu-me de consolo, numa noite em que estava de mau humor. Não fez os meus problemas desaparecerem por magia, claro que não, mas tirou-me da minha própria cabeça. Deu-me coisas boas em que pensar, impediu-me de ir demasiado abaixo.

 

É precisamente por isso que a Seleção fez tanta falta durante os primeiros meses da pandemia. É por isso que estou feliz por tê-la de volta.


Obrigada a todos aqueles que acompanharam esta jornada dupla de Seleção comigo, quer neste blogue quer na sua página de Facebook. No próximo mês haverá mais.

 

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