No passado dia 16 de novembro, a Seleção Portuguesa de Futebol venceu a sua congénere… *consulta texto anterior aqui no blogue* liechtensteiniana por duas bolas a zero. Três dias mais tarde, a Seleção venceu a sua congénere islandesa pela mesma diferença de golos… e eu estive lá. Com estes dois jogos, ficou concluída a fase de Apuramento para o Euro 2024, que terá lugar na Alemanha. A Seleção ficou em primeiro lugar no grupo J e irá para o pote 1 no sorteio para a fase de grupos do Euro 2024, que decorrerá no próximo sábado, dia 2 de dezembro.
Comecemos pelo jogo com o Liechtenstein. Vou ser sincera, não foi grande coisa. Arrisco-me a dizer que foi o nosso pior nesta fase de Qualificação.
Não que esteja surpreendida pela exibição. Olhemos para as circunstâncias: este era um jogo que já não contava para nada. Não contava para o primeiro lugar, nem sequer contava para os potes do sorteio. Em termos práticos era um amigável. E naturalmente o Selecionador Roberto Martínez aproveitou a ocasião para inventarfazer experiências – estratégias a que os Marmanjos não estão tão habituados. Além disso, foi fora de casa, durante uma fase intensa da temporada futebolística, perante uma seleção de microestado, de nível semi-profissional ou mesmo amador.
Em suma, não havia nada que convidasse a uma grande festa do futebol. Era daqueles jogos de que os treinadores gostam, mas os jogadores e dos adeptos não.
Foi frustrante para o meu lado pois consegui ver toda a primeira parte, em que não aconteceu nada de assinalável, e mal consegui ver a segunda, mais interessante. Culpa da hora de jantar e a televisão da cozinha, mais velha que a larga maioria da Seleção atual.
Ao menos consegui ver o golo de Cristiano Ronaldo, no início da segunda parte. Ele que, sem surpresas, estava com ganas. Já em cima do intervalo falhara um pontapé de bicicleta (ele tem um bocadinho de azar com eles, não é?) e, no primeiro minuto da segunda parte, enviara uma bola ao poste.
No minuto seguinte, Diogo Jota isolou Ronaldo pela esquerda, este rematou e a bola finalmente entrou. Capitão ao resgate, como tantas vezes antes.
Não consegui ver o golo de João Cancelo em direto, o que é uma pena. A assistência foi de António Silva, depois disso Cancelo fez tudo sozinho. Fintou o guarda-redes (no vídeo da Sport TV, um dos comentadores até se riu) e rematou de um ângulo difícil, entre dois defesas do Liechtenstein.
Ainda houve tempo para José Sá mostrar o que vale, na sua estreia pela Seleção (custou-me a acreditar, confesso. Convocado há anos e só agora é que calçou as luvas). E para o VAR anular um golo a Gonçalo Ramos por fora-de-jogo, na sequência de um livre.
Uma palavra para o público adepto de Portugal, que se fez ouvir durante todo o jogo. É o costume em países como este, acessíveis aos emigrantes, e é sempre agradável. Por outro lado, em defesa dos liechtensteinianos, segundo uma reportagem que vi na RTP3 antes do jogo, a população de Vaduz, a capital, é de cinco mil. Eles não conseguiriam encher o estádio sem deixar a cidade às moscas.
Ao menos os liechtensteinianos ficaram com o orgulho de terem impedido uma goleada da nossa parte. Por nosso lado, ficámos contentes com a nona vitória na Qualificação. Ainda assim, eu desejei que o jogo seguinte fosse melhor.
E foi.
O jogo com a Islândia decorreu no vigésimo-sexto aniversário da minha irmã – e dez anos depois da inesquecível segunda mão dos play-offs frente à Suécia. Aqui entre nós, tenho inveja dela. Faço anos em janeiro, nunca há jogos da Seleção nessa altura do ano. Em todo o caso, como forma de festejar, fomos todos a Alvalade – casa do Sporting dela. Eu, ela, o seu namorado e os nossos pais.
Chegámos cedo e não tivemos dificuldade em entrar. É a vantagem de o jogo ter sido ao domingo e de Alvalade ter bons acessos.
O pior é que ando com azar e/ou falta de jeito para lugares. Fui eu quem comprou os bilhetes no Continente – já deviam ser os últimos. Não me lembro se fui eu ou a senhora que me atendeu quem escolheu os lugares. Só sei que ficámos na bancada de cima. Tivemos de subir vários lanços de escada – como disse um vizinho nosso, foi um aquecimento ainda mais rigoroso que o dos jogadores. Ainda me afligi com os joelhos da minha mãe, mas felizmente ela não se queixou.
Os lugares em si ficavam literalmente na fila mais acima. Quase batíamos com a cabeça na pala. A visibilidade era péssima – como podem ver na fotografia, era como se víssemos o campo no fundo de um túnel. Nem sequer conseguíamos ver os ecrãs nos cantos do estádio. Mal conseguíamos identificar os jogadores – o que foi chato durante o jogo.
Em defesa deles, os meus pais pelo menos não se importaram. Mal por mal, via-se o campo todo, o que nem sempre é possível nas bancadas mais abaixo. Mas eu gosto de estar próxima dos jogadores, mesmo que às vezes não veja o que se passa do outro lado do campo.
Ainda assim, deu para sentir o ambiente fantástico em Alvalade, com pirotecnia e tudo. Foi a primeira vez que vi um espetáculo assim num estádio. E nós, no público, fizemos barulho durante praticamente o jogo todo – os bate-palmas foram bem utilizados.
O jogo foi, de facto, melhor que o anterior, em parte porque Martínez inventou menos. Portugal entrou bem, com muitas oportunidades – um remate de cabeça de Cristiano Ronaldo no primeiro minuto, uma bola ao poste de Otávio ao sétimo minuto, entre outros. Muitos outros.
Foi um problema recorrente nesta dupla jornada, aliás: dificuldades na finalização. Neste compromisso não fez mal, mas em jogos mais importantes, perante adversários de maior calibre, poderá ser problemático.
Terá de ir para a lista de problemas a resolver antes do Europeu.
Felizmente, o marcador mexeu-se aos trinta e seis minutos, com um belo remate do canto da grande área. Só consegui identificar o pistoleiro porque este, nos festejos, tapou as orelhas – um gesto para a Matilde, a filha mais velha de Bruno Fernandes.
Foi um belo golo, após uma troca deliciosa de bola entre ele e Bernardo Silva.
Na segunda parte houveram mais oportunidades desperdiçadas, sobretudo de Cristiano Ronaldo. Eu queria muito um golo dele porque “SIIIII!!!!!!” e ele, de facto, esforçou-se. E nós puxámos por ele, cantámos por ele. Infelizmente, não foi a noite de Ronaldo.
O segundo golo foi marcado no meio de alguma confusão. Do meu lugar não se conseguia ver bem quem marcou e ainda ficámos no escuro durante algum tempo – o speaker em Alvalade não se dignou a anunciar o marcador. Ainda pensei que tivesse sido João Félix mas não. Foi Ricardo Horta.
Isto cinco minutos após ter entrado em campo. Já é habitual com ele.
Em defesa da minha primeira percepção, foi João Félix quem fez o primeiro remate, defendido pelo guarda-redes. Cristiano ainda tentou a recarga, falhou. Horta tentou e foi bem sucedido. Ficou feito o resultado.
Antes de terminar, uma palavra apenas para o aplauso de Alvalade à entrada de João Neves. Martínez tinha pedido para se deixar as rivalidades de lado e, de qualquer forma, gosto de pensar que o público não seria cruel com um jogador tão novinho ainda. Não devia ter sido necessário pedi-lo, tais aplausos deviam ser a norma, temos a fasquia demasiado baixa.
Mas gostei à mesma. Temos de começar por algum lado.
E foi isto. Ficaram a faltar mais golos, sobretudo de Cristiano, e uns lugares melhores, mas foi uma noite bem passada, um aniversário bem passado. Estive no início desta fase de Qualificação e no final desta. Concluímos este Apuramento sem mácula, como eu desejava há muito tempo, com trinta e seis golos marcados e apenas dois sofridos. Nenhuma outra seleção fez melhor do que nós.
Correndo o risco de repetir o que já escrevi em textos recentes, sim, o nosso grupo era acessível, mas já tivemos grupos acessíveis antes. Por exemplo, o nosso grupo da Qualificação para o Mundial 2022 não era muito mais difícil do que este – a Sérvia é um pouco melhor que a Islândia ou a Eslováquia, na minha opinião, mas só isso – e toda a gente se lembra de como issocorreu. Contrariar a nossa mania da auto-sabotagem é um feito significativo. Temos direito a sentirmo-nos orgulhosos.
Foi um bom ano para a Seleção, em suma. Tranquilo. Sê-lo-ia sempre com este grupo de Apuramento, a menos que as coisas corressem mesmo muito mal. Mas não deixa de saber bem depois da agitação de 2021 e 2022. Como tinha previsto, este foi um ano para Roberto Martínez se adaptar à Seleção. O verdadeiro teste será agora, em 2024, com o Europeu. Para o qual partimos com ambições.
E, falando por mim, sim, soube-me bem o ano mais tranquilo, mas já ando com desejos de alguma adrenalina.
O que nos leva aos sorteios para a fase de grupos, este sábado. Portugal está no pote 1, evitando uma série de tubarões. Não teremos de novo um cenário como o do Euro 2020. Aliás, não deveremos ter um grupo demasiado difícil. O pior que nos pode acontecer seria encontrarmos os Países Baixos (nossos fregueses, como dizia Luiz Felipe Scolari) e a Itália (detentora do título mas que nem sequer foi ao Mundial 2022). Arrisco-me a dizer que quem sobreviveu a um grupo com a Alemanha e a França, quando estávamos numa fase bem menos estável, sobrevive a qualquer coisa, nas atuais circunstâncias.
…meu Deus, espero não vir a arrepender-me destas palavras. Já se sabe: isto na teoria é tudo muito bonito. Na prática é que se vê.
Costumo escrever um texto analisando os resultados do sorteio, mas não sei se faço o mesmo desta vez. Vou estar ocupada este fim-de-semana, nem deverei acompanhar a cerimónia em si.
A parte mais chata é que, agora, a Seleção só se reúne de novo daqui a quatro meses. Para um particular em Guimarães, frente à Suécia, e outro com adversário a definir – vai depender dos resultados do sorteio. É muito tempo, muita coisa pode – não não, vai – mudar até lá. Nos últimos dois, três anos, vínhamos de desilusões e o hiato deu jeito para lamber as feridas. Agora vai custar mais.
Mas pronto, havemos de sobreviver. Só espero que não hajam lesões graves que impeçam Marmanjos de virem ao Europeu.
Para o caso de não haver nenhuma crónica pós-sorteio, deixo já aqui os meus votos de Boas Festas e de Feliz Ano Novo. Que 2024 seja um ano muito muito feliz para a Seleção.
No passado dia 13 de outubro, a Seleção Portuguesa de Futebol venceu a sua congénere eslovaca por três bolas contra duas, no Estádio do Dragão. Três dias mais tarde, venceu a sua congénere bósnia por cinco bolas sem resposta. Com estes resultados, a Seleção garantiu o primeiro lugar no seu grupo de Apuramento, confirmando presença no Euro 2024, que terá lugar na Alemanha. Foi a Qualificação mais rápida de sempre.
Começando pelo jogo com a Eslováquia, como toda a gente, gostei da primeira parte. Depois do que aconteceu no jogo de Bratislava, no mês passado, estava à espera de outro jogo enfadonho. Não foi isso que aconteceu. Houve animação à mistura com frustração: um festival de oportunidades desperdiçadas – típica mistura de azar e de guarda-redes adversário inspirado – e um par de sustos para o nosso lado. O primeiro desperdício ocorreu relativamente cedo: uma daquelas situações em que está toda a gente na pequena área, a equipa atacante em cima da linha de baliza, rematando várias vezes mas a bola teimando em não entrar.
Felizmente, o marcador funcionou aos dezoito minutos. De uma maneira que já se tornou típica, a assistência foi de Bruno Fernandes. Depois de ter sentado um eslovaco, enviou a bola para a cabeça de Gonçalo Ramos – que, assim, aumentou ainda mais a sua respeitável conta de golos pela Seleção.
Perto da meia hora de jogo, a nossa vantagem ampliou depois de Cristiano Ronaldo ter, sem surpresas, sido chamado para bater um penálti.
Como muitos têm assinalado, os dois golos de vantagem ao intervalo não refletiam o desempenho de Portugal durante a primeira parte. Na altura, os comentadores da RTP disseram que 2-0 era um resultado perigoso. Pode dar uma falsa sensação de segurança, levar a complacência por parte da equipa em vantagem. Se o adversário reduz para 2-1, a partida é relançada.
O tempo deu-lhes algum razão: Portugal abrandou no início da segunda parte. Talvez tenha sido, de facto, complacência. Talvez tenha sido excesso de individualismo. Talvez tenha sido a chuva – aumentou de intensidade na segunda parte e Portugal começou a meter água. Os eslovacos começaram a crescer no jogo e conseguiram chegar ao golo aos sessenta e nove minutos. O primeiro golo que sofremos na era Martínez, em quase um ano.
Sim, desagradável, mas tinha de acontecer mais cedo ou mais tarde.
Felizmente, como já tantas aconteceu nas últimas duas décadas, Cristiano Ronaldo veio em nosso auxílio três minutos depois. A assistência foi de Bruno Fernandes (quem mais?), Ronaldo só teve de encostar.
Os eslovacos ainda tornaram a reduzir, por volta dos oitenta minutos. Mesmo assim, apesar de algum nervosismo da minha parte, a vitória não chegou a estar em risco. Com o apito final, Portugal selou a sua presença no Euro 2024 – a mais rápida de sempre, como referido antes.
Uma palavra para a chuva. Que incomodou e prejudicou, sim, mas que na minha opinião tornou tudo mais épico, deu estilo às fotografias e aos vídeos. Ao longo do encontro, ia-me recordando de outro jogo no Dragão debaixo de chuva – em 2012, frente à Irlanda do Norte (há onze anos! Estou velha!). Um jogo com um desfecho bem mais triste, o início de uma fase triste para a Seleção.
Em contraste, o momento atual é feliz, é tranquilo. No seu pior é enfadonho, mas no seu melhor é uma festa.
O que nos leva ao jogo com a Bósnia-Herzegovina. Não estava à espera de muitas facilidades – íamos jogar fora, com uma equipa perante a qual tínhamos sentido algumas dificuldades na Luz. Mesmo o penálti cobrado por Cristiano Ronaldo, claro, antes dos cinco minutos de jogo, não era garantia de nada para mim. Estes golos madrugadores às vezes são traiçoeiros – uma vez mais, podem levar a complacência.
Bem, estava enganada pois a Bósnia deixou de existir no jogo depois deste penálti. Como aconteceu no mês passado com o Luxemburgo, a primeira parte resume-se aos golos marcados.
Não tenho muito a dizer sobre o penálti de Ronaldo. Foi um penálti, foi bem batido. O segundo golo do Capitão foi mais interessante. Assistência de João Félix – que fez um belo jogo, finalmente encontrou-se a si mesmo no Barcelona. Ronaldo fugiu a dois bósnios, um vindo de cada lado, e fez um chapéu ao guarda-redes. Um golo cheio de estilo, pena o fora-de-jogo mal assinalado – o VAR corrigiu mas o momento já se tinha estragado.
É a desvantagem deste sistema.
Felizmente, não tivemos esse problema com o terceiro golo. O Gonçalo Inácio fez um passe excelente (outro a fazer um jogo fantástico, provando merecer a titularidade), desde a linha de meio-campo. A bola apanhou Bruno Fernandes, este avançou e disparou de primeira para as redes.
O quarto golo teve alguma graça. Os comentadores da RTP estavam a falar sobre o histórico recente de João Cancelo nos clubes. O tema passou para a mesa do jantar. E, falando no diabo, quem marca a seguir?
Uma vez mais, a assistência foi de Bruno Fernandes, em cima da linha de fundo. A bola ia para Ronaldo, mas este atrapalhou-se e deixou-a passar. Cancelo chegou-se à frente, como quem diz “Eu trato disto”, apanhou a bola no limite da grande área e disparou certeiro para as redes.
Finalmente, já a poucos minutos do intervalo, Diogo Dalot fez um passe à distância, desde a linha do meio campo, para Otávio. Este entrou na grande área pela direita, assistindo depois para João Félix assinar um golo. Uma vez mais, a festa teve de ficar em pausa enquanto o VAR validava o golo, mas pronto.
Na segunda parte, a Bósnia estacionou o autocarro para ver se não sofria mais golos. Por sua vez, Portugal entrou em modo de gestão e substituições para experiências. A vitória estava mais do que assegurada, bem como o primeiro lugar no grupo. Manter o mesmo ímpeto atacante já seria bullying.
Assim, a segunda parte não teve história. Chega a ser brilhante a forma como não aconteceu praticamente nada em quarenta e cinco minutos de jogo. Depois do apito final, não me lembrava de quase nada da segunda parte.
Enfadonho, sim, mas não me importei muito, depois daquela primeira parte. Deu para ir preparando este texto.
Com este resultado, assegurámos o primeiro lugar e o nosso estatuto como cabeças-de-série no sorteio da fase de grupos do Euro 2024. Fica menos provável repetir-se o cenário do Euro 2020. E ainda falta uma jornada dupla para o fim da Qualificação.
Naturalmente, está toda a gente satisfeita, eu incluída. Já há quem fale de recuperarmos o título europeu no próximo ano. Uma parte de mim começa a encher-se de fé, outra vez. O resto, no entanto, está a puxar essa parte para baixo, a garantir que ela mantém os pés na terra.
Ainda é cedo. Faltam pouco menos de nove meses para o Europeu (guiando-me por aquele anúncio bizarro da Meo). Muita coisa pode mudar entretanto. Além disso, não nos podemos esquecer que temos apanhado adversários fáceis. Ainda não tivemos de lidar com equipas do nosso nível ou superior. Deu para ver em jogos como os contra a Eslováquia que ainda temos arestas por limar.
Por fim, se me deixarem ser essa pessoa por um momento, enquanto comandou a Bélgica, o problema de Martínez não foram as fases de Qualificação. Foi depois.
(Ainda que eu ache que os jogadores belgas e os seus egos também foram pelo menos parte do problema.)
O próprio Martínez também parece não querer sonhar muito alto, pelo menos não para já. Não está errado. Por outro lado, pode-se argumentar que Portugal tem a obrigação de apontar para o título. Tem talento para isso, mais ainda do que em 2016. Além disso, já li no Record que esta poderá ser uma boa altura para tentarmos recuperar o título, já que vários dos habituais candidatos – Espanha, Alemanha, Itália, Bélgica – estão a passar por fases menos boas.
Bem, exceto a França. Sempre a França.
Não faltarão ocasiões daqui até junho para falarmos sobre isso. Regressando ao presente, queria dar graças pelo momento atual da Seleção: alegre e tranquilo como referi antes. Por coisas como o estreante João Neves sendo acarinhado pelos colegas (“o nosso pupilo”, chamou-lhe Danilo). É um bom contraste com outras áreas da vida atual, tanto a nível individual como coletivo. Como em muitas outras ocasiões nos últimos vinte anos, é um escape, é um consolo, é esperança de mais alegrias no futuro.
E por enquanto é suficiente.
Ficam a faltar dois jogos para o fim da Qualificação. Com o primeiro lugar garantido, estes jogos servirão apenas para cumprir calendário. No lugar de Martínez, tratava estes jogos como meros particulares para fazer experiências, mas ele não parece muito para aí virado. Gostava de ir ao jogo com a Islândia em Alvalade, para a celebração, mas calha nos anos da minha irmã. Não sei se vai dar.
Logo se vê.
De qualquer forma, em princípio, uma vez mais, não haverá crónica pré-jogos, a menos que aconteça algo de extraordinário. Mas, como o costume, irei deixando as minhas observações na página do Facebook.
Na próxima sexta-feira, dia 8 de setembro, a Seleção Portuguesa de Futebol defrontar a sua congénere eslovaca no Tehelné pole (o Estádio Nacional da Eslováquia), em Bratislava. Três dias depois, receberá a sua congénere luxemburguesa no Estádio do Algarve. Ambos os jogos contarão para o Apuramento para o Euro 2024.
Há coisa de um mês, quando pensava nesta dupla jornada, achava que não iria ter grande coisa sobre que escrever nesta crónica pré-jogos. Pois bem, não foi o caso.
Começando pela Convocatória, que veio com uma dose saudável de polémica. Por causa das Chamadas de João Félix e João Cancelo, que quase não tiveram minutos pelos respectivos clubes – isto é, antes de ambos assinarem pelo Barcelona, na reta final do Mercado.
Roberto Martínez justificou a Convocatória, pelo menos em parte, com a necessidade por parte "da Federação e do futebol português". É nisto que se tem centrado a controvérsia. Eu acho que se está a fazer algum empolamento daquilo que Martínez disse, mas tirando isso desta feita concordo com a opinião popular.
Não vou ser hipócrita. Não vou dizer que discordo completamente com aquilo que Martínez disse. Sempre gostei de imaginar a Seleção como um lugar seguro, tanto para jogadores como para adeptos, longe da toxicidade do futebol de clubes. Não é a primeira vez que escrevo sobre essa ideia – e quero acreditar que a realidade não é muito diferente daquilo que imagino.
Dito isto, sei perfeitamente que essa não é a principal função da Equipa de Todos Nós. Não sei quem ainda não o percebeu, mas a Seleção serve para representar um país. Funcionar como porto de abrigo é apenas um efeito secundário agradável. Não faz sentido Chamar um jogador que talvez não mereça em detrimento de outro, só porque está triste.
Sobretudo quando são sempre os mesmos a serem Convocados – e quando outros andam há séculos, mesmo há anos, à espera da sua oportunidade.
Por outro lado, fingindo que sim, que Martínez deve Chamar jogadores precisando de consolo… aqui entre nós, será que Félix o merece?
Não conheço pessoalmente nenhuma das partes envolvidas, a minha opinião vale o que vale. Em todo o caso, a história de João Félix no Atlético de Madrid tem sido turbulenta desde o início. Não tenho pena do clube. Eles enterraram cento e vinte e cinco milhões de euros num puto de dezanove anos. Não tinham noção do risco que corriam?
Dito isto, Félix não se portou bem nas últimas semanas: recusando-se a jogar pelo clube que lhe pagava o salário, estragando qualquer boa vontade que o Atlético ainda pudesse ter para com ele.
João Cancelo também teve uma época estranha em 2022/2023, mas não há nenhuma indicação de faltas de profissionalismo como esta.
E sabem o que me dá uma certa raiva? A birra de Félix funcionou, ele conseguiu o que queria: assinar pelo Barcelona. Certo, vai ter um corte no salário, vai passar a receber apenas três milhões de euros líquidos por época, em vez de seis.
Há de sobreviver. Ele que comece a comprar produtos de marca branca.
Não me interpretem mal: fico contente pelo Félix, que cumpre um sonho de criança, tal como fico contente pelo Cancelo. Só quero o melhor para os Marmanjos – até porque a Seleção só tem a ganhar com isso. Mas fica um amargo de boca por atitudes como estas serem narrativamente recompensadas – como disseram aqui na vizinhança, o mundo é dos canalhas. Sobretudo quando compararmos com o que aconteceu a João Palhinha.
Caso ainda não saibam, Palhinha esteve a isto de assinar pelo Bayern de Munique. Ao ponto de ter feito exames médicos e tirado fotos com a camisola do novo clube. Só que, à última hora, como não conseguiram arranjar nenhum substituto para Palhinha, o Fulham cancelou o negócio. Em suma, apunhalaram-no pelas costas.
Ele não merecia isto. Palhinha sempre mostrou ser um bom profissional, Será talvez um dos médios portugueses mais talentosos desta geração. Ainda na semana passada recordaram o momento em que humilhou metade da seleção francesa, no Euro 2020. Ao mesmo tempo, em pesquisas para este texto, recordei-me do golo dele perante o Luxemburgo em outubro de 2021 (mais sobre isso já a seguir). Também destaco as palavras mais recentes dele sobre os colegas assobiados durante jogos da Seleção.
Penso que não é a primeira vez que refiro que detesto o Mercado de Transferências. Situações como esta são um dos motivos. Além disso, faz-me impressão a maneira leve, por vezes mesmo desumanizante, como são discutidas as vidas de jogadores e das respectivas famílias.
E muitas vezes nós só sabemos dos negócios nas esferas mais elevadas, em que os salários generosos facilitam imenso o ciclo eterno de enraizamento e desenraizamento. Nem quero imaginar como será para os que jogam nos escalões mais baixos, ganhando muito menos.
Talvez estes dias com a Seleção façam bem a Palhinha. E já que Martínez falou de apoiar os jogadores portugueses, eis alguém que está a precisar. Que ele e os outros Marmanjos lhe deem muitos abraços por mim, que lhe digam para não desistir, para continuar a dar o seu melhor – talvez a porta se volte a abrir no futuro.
Regressando à Convocatória e a Félix e Cancelo, Martínez referiu também a necessidade de manter a consistência e dar continuidade ao trabalho realizado nos estágios anteriores. O que sempre é um argumento mais aceitável – mas, ao mesmo tempo, só reforça a ideia de que a Seleção é um grupo fechado.
Por exemplo, para mim não há motivo para não terem Convocado o Paulinho. Martínez disse que a Seleção já tem Cristiano Ronaldo e Gonçalo Ramos. Ronaldo é Ronaldo, sim. Mesmo que não o fosse, sempre tem marcado golos e feito assistências pelo Al Nassr (claro que se pode discutir o nível de dificuldade dessa Liga). Mas Ramos acabou de se transferir para o Paris Saint Germain e, tanto quanto sei, ainda não marcou nenhum golo. Paulinho, por sua vez, já conta quatro neste campeonato.
Ficam estes amargos de boca mas, no fim, o que interessa são os resultados. Nesse aspeto, ninguém pode apontar nada a Martínez até agora. Que continue assim.
Falemos, então, sobre os jogos que nos esperam. O nosso histórico com a Eslováquia é reduzido, o que não surpreende sendo esta uma seleção mais jovem do que eu – nasceu há apenas trinta anos, depois da separação da antiga Checoslováquia. Jogámos quatro vezes contra eles, ganhámos três jogos e empatámos um. Os dois primeiros jogos – duas vitórias – decorreram durante a Qualificação para o Euro 2000, quando ainda não acompanhava a Seleção de perto.
Os dois últimos jogos, no entanto, decorreram durante o Apuramento para o Mundial 2006. Tive oportunidade de recordar essa fase da Seleção – essa e outras – graças ao documentário do Canal 11 sobre os vinte anos de Cristiano Ronaldo de Quinas ao peito. Sendo ele a única constante nestas últimas duas décadas, a história de Ronaldo na Seleção é a história da Seleção nessas duas décadas.
Isso foi o meu aspeto preferido em relação a este documentário – como, por exemplo, este momento. Nem tudo girou só à volta de Ronaldo.
E, claro, os Marmanjos podem falar as vezes que quiserem sobre o Euro 2016, sobretudo sobre a final. Eu nunca me vou cansar de ouvir.
Deu-me um gozo particular recordar a Seleção de entre 2004 e 2006, o Apuramento para o Mundial da Alemanha) – e a maneira como o vivi. Tinha acabado de desistir do futebol de clubes e tinha acabado de me apaixonar pela Equipa de Todos Nós, durante o Euro 2004.
Durante aqueles dois primeiros anos, tudo era uma novidade. Cada jogo era especial, era um dia feliz, mesmo aqueles particulares insignificantes – um espírito que me esforço por manter hoje em dia. Escrevia no meu diário sobre cada um desses jogos, praticando, sem ainda o saber, para este blogue. Sentia tudo – em parte por inocência, em parte porque era uma adolescente nesta altura, devia andar com as hormonas aos saltos. Lembro-me, por exemplo, de ficar super triste depois de perdemos um particular com a República da Irlanda – hoje não me tiraria o sono.
Tenho de referir que, na altura, tinha um enorme fraquinho pelo Ronaldo. Agora rio-me disso. Vejo imagens dele em 2003, 2004 e… meu Deus, que cara de miúdo! Dezanove anos com cara de catorze!
E eu que gozo com o João Félix…
Olhemos para os jogos com a Eslováquia nessa fase de Apuramento. O primeiro foi fora, a 30 de março de 2005: um empate a uma bola. Lembro-me muito vagamente de ver esse jogo e de Hélder Postiga ter sido o autor do golo português.
Nas minhas pesquisas para este texto, encontrei no YouTube a transmissão completa deste jogo, com o relato em russo. Não estava à espera. Deixo-o aqui, se alguém quiser ver.
Recordo-me um pouco melhor do jogo em casa, em junho do mesmo ano – e das circunstâncias em torno dele. Essa dupla jornada ficou marcada pelo regresso de Luís Figo à Seleção depois de um ano de ausência. Lembro-me de ver essa notícia na Internet, no início de uma aula de TIC (ainda há aulas de TIC no Secundário?).
Na altura fiquei contente. Era o Figo! Era a nossa maior figura! Hoje, em retrospetiva, ficou um ligeiro ressentimento. Um jogador ou está disponível para vestir as Quinas ou não está! Estarem com um pé dentro e outro fora é que não dá com nada.
Em relação ao jogo em si, recordava-me do golo de Cristiano Ronaldo. Este veio mesmo à baila agora, quando Ronaldo falou aos jornalistas. É capaz de ter sido o primeiro que ele marcou de livre pela Seleção. Eu lembrava-me inclusivamente de ele olhar diretamente para a câmara por uns instantes durante os festejos.
Foi o segundo golo da partida. O primeiro foi de Fernando Meira aos vinte e um minutos, na sequência de um pontapé de canto.
Se olhássemos para a Eslováquia no início da atual Qualificação, esta talvez não parecesse grande ameaça. Na Liga das Nações estão apenas na Divisão C. Só participaram em três campeonatos de seleções: no Mundial 2010, no Euro 2016 e no Euro 2020. Neste último não passaram da fase de grupos.
Agora que já vamos para a quinta jornada, no entanto, os eslovacos estão em segundo lugar, atrás de nós. Ganharam todos os jogos até agora, tirando um empate a zero com o Luxemburgo em casa (estranho…). Toda a gente concorda que Portugal está pelo menos um nível acima em termos de qualidade. Na prática, temos de ter cuidado. Até porque será um jogo fora.
Em relação ao Luxemburgo, temos jogado muitas vezes com eles nos últimos anos, não precisamos de dedicar-lhes muitas palavras. No entanto, este será um jogo em casa, no Estádio do Algarve. E eu queria recordar a última vez que jogámos com o Luxemburgo no Algarve, há quase dois anos – porque eu estive lá.
Ganhámos por cinco a zero, mas aquilo que recordo melhor é, como referi acima, o golo de João Palhinha e o seu festejo roubado a Ronaldo. Aquela foi uma fase menos má da Seleção, entre o desapontante Euro 2020 e o deslize para os play-offs para o Mundial 2022, no mês seguinte. Em termos pessoais, 2021 não foi fácil para mim, mas aquela terá sido uma das noites mais felizes de todo o ano – no meio de uns agradáveis dias de férias, as únicas a que tive direito em 2021.
Tenho pena de não poder voltar ao Estádio do Algarve para este jogo. Mas também não me posso queixar do meu histórico recente de presenças em jogos da Seleção. Gostava que voltássemos a ter uma vitória tão generosa como a de outubro de 2021 – ou como a de março deste ano – mas é sempre arriscado fazer assunções dessas. O mais importante será sempre conquistarmos os três pontos – e isso vale para ambos os jogos desta jornada. Está a saber bem ter uma Qualificação tranquila para variar. Quero que continue assim.
Como sempre, obrigada pela visita e por lerem o texto até ao fim. Visitem a página de Facebook deste blogue. Força Portugal!
Na passada quinta-feira, dia 23 de março, a Seleção Portuguesa de Futebol venceu a sua congénere liechtensteiniana por quatro bolas sem resposta… e eu estive lá. Três dias mais tarde, a Seleção deslocou-se ao Luxemburgo, onde venceu a seleção local por seis bolas, também sem resposta.
Como tinha dito no texto anterior, fui ao jogo com o Liechtenstein (meu Deus, odeio escrever “Liechtenstein”. Ainda bem que, depois deste texto, só terei de fazê-lo em novembro.) com os meus pais. Como era mais ou menos inevitável com idas ao futebol durante a semana, não deu para sair tão cedo como o ideal. Ainda assim, chegámos aos nossos lugares precisamente na hora certa: no curto intervalo entre o hino do Liechtenstein e A Portuguesa.
Já que falo nisso, por estes dias aprendi uma coisa nova. Enquanto passávamos pela cancela dos bilhetes e procurávamos a nossa bancada, soou o hino do Liechtenstein. Reconheci a melodia.
– Mas isto é o God Save the Queen.
Na altura não me lembrava que a Rainha já tinha morrido e agora o hino oficial é God Save the King.
Mais tarde, em casa, fui pesquisar e descobri que existem várias canções patrióticas que usam esta melodia – que foi originalmente composta em França, no século XVII. Algumas delas foram hinos nacionais no passado – por exemplo, nos Estados Unidos e na Suíça – mas a Noruega usa-a como hino à sua família real e, como se viu, o Liechtenstein ainda a usa como hino nacional.
Deve ser esquisito quando o Liechtenstein joga contra a Inglaterra.
Regressando ao nosso jogo, a minha mãe gostou do ambiente. O meu pai, no entanto, tem muito do arquétipo do velho resmungão e queixou-se de ver mal e de não haverem repetições. E, como podem ver na fotografia, trouxe o seu pacotinho de amendoins, com uma mola e tudo.
Enfim.
Estávamos sentados perto da bandeirola de canto direita, junto à baliza norte – a do Liechtenstein durante a primeira parte. Fomos regalados, logo nos primeiros minutos, com um “cabrito”de João Cancelo – caso Roberto Martínez ainda tivesse dúvidas em relação ao significado do termo. A minha mãe gostou muito de vê-lo jogar, a ele e ao João Félix. Não foi a única.
E não tardou muito até celebrarmos um golo, precisamente de Cancelo. A bola sobrou para ele na sequência de um canto, ele pontapeou com força. Foi também um “frango” do guarda-redes do Liechtenstein, que basicamente defendeu para dentro da baliza. Em todo o caso, estava aberto o marcador. Primeiro golo de 2023.
Infelizmente, o resto da primeira parte entreteve pouco. Os liechtensteinianos, coitados, só tinham capacidade para estacionar o autocarro e chutar para a frente. O Rui Patrício apanhou uma seca – em ambos os jogos desta jornada, na verdade.
Não vou culpar uma seleção de microestado, com jogadores competindo em ligas regionais, por não conseguirem fazer frente a Portugal: uma seleção recheada de jogadores que alinham nalguns dos melhores clubes da Europa. Mas não gostei da atitude do guarda-redes deles: queimando tempo em todos os pontapés de baliza, mesmo depois de estarem a perder.
Ó homem, ninguém espera que o Liechtenstein consiga competir com Portugal, mas tem algum amor próprio! Dá uma oportunidade, a ti e aos teus colegas, para pelo menos tentarem!
Não deu para ver aí em casa – eu confirmei-no – mas a certa altura, aquando de mais um pontapé de baliza, Cristiano Ronaldo pegou na bola e foi ele mesmo colocá-la para o guarda-redes, para que não perdesse mais tempo. Nós, no público, rimo-nos – que Ronaldo nunca mude!
Portugal desperdiçou muitas oportunidades durante a primeira parte – Bruno Fernandes, Ronaldo (uma que ele não costuma falhar). No que toca a este último, no entanto, o público não pareceu demasiado desiludido. Pelo contrário, continua aquilo que eu tinha observado no jogo com a Suíça no ano passado: Ronaldo continua a ser apaparicado, continua a receber aplausos mesmo quando falha remates.
Ele merece nesta fase? Discutível. Em todo o caso, ele retribuiria mais tarde.
Aqui entre nós, fiquei um bocadinho zangada por a maior parte dos golos terem sido marcados na baliza mais longe de nós. Mas pronto.
Logo a abrir na segunda parte, Cancelo centrou para a grande área, um dos jogadores do Liechtenstein segurou mal a bola e Bernardo Silva aproveitou para rematar certeiro para as redes. Menos de cinco minutos depois, o árbitro marcou penálti a nosso favor e – quem mais? – Ronaldo foi chamado a converter e não falhou.
A minha mãe não sabia que ultimamente, em jogos da Seleção, quando Ronaldo marca, o público grita “SIIIIII!!!” em coro com ele. Eu não lhe tinha contado precisamente para não estragar a surpresa. E fico feliz por ela ter podido ver por ela mesma – como referi no texto anterior, nesta altura é quase só por isso que aceito que Ronaldo continue na Seleção.
O segundo golo dele sempre foi mais interessante: um livre direto, mesmo à entrada da grande área. Uma vez mais, o guarda-redes conseguiu tocar na bola, outro se calhar conseguiria defender. Ou talvez não, foi um remate bastante potente.
Parece irreal. O tempo vai passando, tanta coisa vai mudando, mas o Ronaldo continua a fazer aquilo que faz há dezoito anos: a marcar pela Seleção. Continua a ser uma constante na nossa vida, mesmo numa altura em que muitos já teriam pendurado as chuteiras. Uma pessoa começa a pensar…
Regressando ao jogo com o Liechtenstein, infelizmente não houveram mais golos depois deste – por muito que fôssemos pedindo “Só mais um! Só mais um!” – nem aconteceu nada mais de assinalável. Não vou falar dos assobios a João Mário – quem acompanhe este blogue ou a sua página no Facebook já sabe o que penso sobre clubites, não tenho nada a acrescentar. Destaco apenas as declarações de João Palhinha sobre o assunto – esteve muito bem.
Por outro lado, tenho de assinalar este momento, que tive o privilégio de ver com os meus próprios olhos. Grande Cancelo!
Em suma, um resultado perfeitamente aceitável para este adversário – e uma noite bem passada, pela parte que me toca. No dia seguinte, doía-me tudo e tinha a voz um pouco rouca – prova de que tinha aproveitado bem. Podia ter sido uma vitória mais volumosa mas pronto. Sempre foi o nosso primeiro jogo com este Selecionador, que só tinha feito dois treinos. Longe de ser grave.
Sabíamos que as coisas não seriam tão fáceis perante o Luxemburgo. Também uma seleção de microestado, mas uns furos acima do Liechtenstein. Só perdera dois dos nove jogos que disputara antes e as nossas últimas visitas não foram muito fáceis. Estávamos todos cautelosos.
Tais preocupações esfumaram-se ao fim de vinte minutos e três golos.
O primeiro foi marcado aos nove minutos. Bruno Fernandes assistiu para Nuno Mendes, em cima da linha de fundo. Este cabeceou para os pés de Cristiano Ronaldo. Acho que este último não estava à espera de receber a bola, mas a confusão só durou uma fração de segundo. Depressa a bola foi parar às redes.
Os portugueses estavam bem representados no Estádio do Luxemburgo e fizeram-se ouvir neste momento: gritando “SIIII!!” em coro com Ronaldo, cantando o nome dele. Aqui entre nós, foram um público ainda mais efusivo que nós, em Alvalade. Não tendo tantas oportunidades para verem a Seleção jogar, os emigrantes aproveitam bem quando conseguem.
Só tivemos de esperar mais cinco minutos pelo segundo golo. Uma grande assistência de Bernardo Silva e eu adorei o salto de João Félix, cabeceando para as redes luxemburguesas.
E a pose que ele fez nos festejos.
Foi bastante comentado o facto pouco habitual de a Seleção ter marcado três golos de cabeça. Algo que acho ainda mais engraçado é o facto de terem sido todos marcados por “baixinhos”. O terceiro golo, aos dezassete minutos, veio depois de outra grande assistência, desta vez de João Palhinha, para a cabeça de Bernardo Silva.
Finalmente – pelo menos no que toca à primeira parte – em cima da hora de jogo, foi a vez de Bruno Fernandes isolar Ronaldo para que este bisasse.
Por esta altura, todas as oportunidades de Portugal tinham sido convertidas a golo – tirando uma de Danilo, anulada por fora-de-jogo, e uma bola na trave de Félix, em cima do intervalo. A Seleção eficaz? Que coisa tão estranha!
A segunda parte do jogo não foi tão bem conseguida. Portugal desacelerou um pouco e o Luxemburgo começou a dar mais luta – sem consequências práticas. Portugal melhorou com as substituições, sobretudo com as entradas de Otávio e Rafael Leão. O primeiro foi outro “baixinho” a marcar de cabeça aos 76 minutos. Nuno Mendes e Rafael Leão meteram-se pela esquerda, o último centrou para Otávio, que teve de saltar para cabecear para as redes.
Pelo meio, Rúben Neves cobrou um livre mas a bola bateu com estrondo na trave. Aos 85 minutos, o árbitro assinalou um penálti a nosso favor. Como todos os habituais conversores já tinham saído, foi Leão bater… mas não correu bem. Parece que foi o primeiro penálti que ele cobrou enquanto sénior. E como já estávamos a ganhar por muito… aceita-se. A defesa do guarda-redes serve de momento de honra para o Luxemburgo, no meio da goleada.
Dito isto, é bom que Leão vá praticando penáltis. A médio/longo prazo poderemos ter desempates por grandes penalidades, precisamos de gente que saiba batê-los.
Na jogada seguinte deu-se um momento caricato, quando Otávio rematou e Gonçalo Ramos fez de central luxemburguês. Não seria a Seleção sem uma dose saudável de parvoíce.
Felizmente, Leão conseguiu redimir-se. Rúben Neves fez-lhe o passe, Leão seguiu pela esquerda, passou por vários luxemburgueses e, no fim, rematou certeiro.
Foi assim a nossa dupla jornada inaugural da Qualificação: seis pontos (o que não acontecia desde 2012), dez golos, nenhum sofrido. Somos líderes do grupo. Não vou mentir, sabe bem depois da inconsistência dos dois últimos Apuramentos. Sobretudo o segundo jogo – um progresso em relação às três visitas anteriores ao Luxemburgo. Ronaldo marcou quatro golos, quando alguns de nós pensavam que o tempo dele na Seleção já tinha terminado. Ele e os outros Marmanjos parecem contentes com Roberto Martínez.
Aliás, tenho gostado das palavras dos jogadores em relação à mudança de técnico: elogiando Martínez, sem deixar de mostrar respeito e gratidão pelo trabalho de Fernando Santos. Isto é, tirando Cristiano Ronaldo – Fernando Santos contrariou o menino, logo, virou persona non grata. O Capitão parece estar numa fase melhor que durante o Mundial, mas pelos vistos continua a só querer “yes men” na sua vida.
Em todo o caso, apesar das dúvidas que permanecem em relação a Roberto Martínez, nota-se que este está a fazer um esforço. Tem estado a aprender português, já canta o hino (ainda que a minha irmã torça o nariz), rodeou-se de gente, como Ricardo Pereira (o antigo guarda-redes) e Ricardo Carvalho, que conhece bem a Seleção e o futebol português e diz que quer falar com Fernando Santos em breve. Como disse antes, respeito a humildade e o compromisso.
Dito isto… estes jogos não provam quase nada (e isto é válido tanto para Martínez como para Ronaldo neste momento). É quase para dizer: perante estes adversários e com os jogadores que temos hoje em dia, até as nossas avozinhas conseguiam. Até eu conseguia. Isto foi pouco mais que a nossa obrigação. Estou contente mas não alinho em euforias. Isto foi apenas o nível um.
Claro que dá imenso jeito termos uma fase de Apuramento com uma progressão relativamente linear em termos de dificuldade. A próxima dupla jornada não será tão fácil… mas falamos sobre isso na altura. Gostava de ir ao jogo com a Bósnia, mas os bilhetes estão “temporariamente” esgotados. A ver se consigo comprá-los quando os puserem à venda de novo.
Como sempre, obrigada pela vossa visita. Até à próxima.
No passado dia 9 de junho, a Seleção Portuguesa de Futebol venceu a sua congénere checa por três bolas sem resposta. Três dias mais tarde, no entanto, perdeu perante a sua congénere suíça por uma bola sem resposta. Estes jogos contaram para a fase de grupos da Liga das Nações e, com este resultado, Portugal fica em segundo lugar, com menos um ponto que a líder Espanha.
Estava a correr demasiado bem, não estava?
Um jogo de cada vez. O jogo com a Chéquia decorreu em Alvalade, à semelhança do primeiro jogo com a Suíça. Eu podia ter estado lá. Quando soubemos que íamos ter estes dois jogos perto de nós, a minha irmã sugeriu irmos aos dois. Eu no entanto tinha começado um emprego novo, achava que ainda não estaria à vontade para pedir para sair mais cedo – sobretudo na véspera de um fim-de-semana prolongado. Eu já iria ao jogo com a Suíça. Não precisava de ir ao outro com a Chéquia, certo? Certo?
Errado.
A minha irmã acabou por arranjar bilhetes para ela e para os amigos. Claro que me arrependi de ter decidido não ir. Sobretudo depois de ter tido uma experiência fantástica no domingo anterior, que me deixou a chorar por mais, e de me ter recordado que a Seleção não tornará a jogar perto de mim este ano – o jogo em casa com a Espanha será em Braga e acho que não haverão particulares antes do Mundial. Agora que já estou um pouco mais à vontade no meu emprego, sei que podia perfeitamente ter pedido para sair mais cedo: mesmo que tivesse de ir diretamente do trabalho para o estádio, mesmo que chegasse atrasada.
Não vou mentir, doeu. Sobretudo quando uma das amigas da minha irmã apanhou Covid e se colocou a hipótese de eu ir no lugar dela… mas o bilhete foi para outro amigo.
Fica a lição para mim. Por outro lado, mais tarde a minha irmã contou-me que os amigos dela nunca tinham ido a um jogo da Seleção e adoraram a experiência. O que me fez sentir muito melhor. Afinal, já conto uma mão-cheia de jogos da Turma das Quinas. Posso ter perdido uma oportunidade mas, se isso contribuiu para converter outros à Equipa de Todos Nós, valeu a pena.
Por outro lado, a minha irmã levou a minha camisola da Seleção, que sempre invejou, emprestada. A camisola tem o meu nome impresso nas costas, mas ela não se importou. As pessoas confundem-nos tantas vezes que ela já está habituada a que lhe chamem Sofia.
E vice-versa, na verdade. Quem tem irmãos sabe como é. Sobretudo se forem tão parecidos fisicamente como eu e a minha irmã.
Já lhe prometi que, se ela gostar do próximo equipamento da Seleção, compro-lhe uma camisola pelos anos ou pelo Natal. De qualquer forma, no caso deste jogo, fiquei contente por pelo menos a minha camisola ter estado em Alvalade – foi como se uma parte de mim tivesse estado lá.
Uma parte de mim está sempre lá quando joga a Seleção, no entanto.
A verdade é que foi uma tarde complicada no meu emprego. Voltei a sair às oito da noite, mas desta feita não consegui sequer ver (e muito menos partilhar na página) o onze inicial.
Depois de sair, contudo, liguei-me logo ao relato da rádio. Fiquei a saber que Portugal estava por cima, com várias oportunidades falhadas. Na rádio disseram que isso não era garantia de nada, que o mesmo acontecera com os espanhóis quando estes jogaram com a Chéquia – e acabaram correndo atrás do empate. Iria acontecer-nos o mesmo?
Felizmente não. Curiosamente, aconteceu-me o exato oposto do que acontecera no jogo com a Espanha: cheguei a casa no preciso momento em que marcámos o nosso primeiro golo. Bem, mais ou menos: foi quando estava a entrar no elevador, com o Nuno Matosnos headphones. Não resisti a dar um pequeno grito de golo. Espero não ter incomodado nenhum dos meus vizinhos – suponho que, para eles, seria indiferente se eu gritasse no elevador ou no meu apartamento.
Este primeiro golo resultou de mais uma colaboração entre Bernardo Silva e João Cancelo. O primeiro fez um passe excelente para o segundo, escapando a três checos. Cancelo depois seguiu pela direita e rematou certeiro.
Momento engraçado quando um apanha-bolas se veio abraçar a Cancelo durante os festejos. Admiro o atrevimento (penso que terá sido o mesmo que roubou um high-five a Ronaldo). Espero que não tenham ralhado com ele.
O segundo golo veio cinco minutos depois e teve de novo Bernardo. Uma vez mais, passe magistral, desta feita para a finalização de Gonçalo Guedes. Um belo golo, nova colaboração entre Bernardo e Guedes exatamente três anos após a primeira final da Liga das Nações.
Não há muito mais a dizer sobre este jogo. Uma exibição pouco excitante, mas consistente (ao contrário do que acontecera uma semana antes, em Madrid), suficiente para garantir e merecer a vitória. No fim, estávamos todos contentes. Tínhamos feito um jogo mau perante a Espanha mas com um resultado aceitável, tínhamos duas vitórias seguidas com boas exibições. Estávamos em primeiro no grupo. As coisas estavam a correr bem para o nosso lado.
Não durou.
Ainda não se tinha completado um minuto do jogo com a Suíça, em Genebra, e já tínhamos consentido um golo do nosso conhecido Haris Seferovic. Desta feita contou.
Esperava-se que este golo servisse de “wake up call” – esse e o penálti anulado pelo VAR. Não foi assim, pelo menos não no imediato. Foi uma primeira parte muito pastosa e desinspirada – tanto da nossa parte como dos suíços. É possível que os jogadores estivessem a sentir os quatro jogos em dez dias, que já estivessem a pensar nas férias. Por outro lado, tínhamos jogadores menos experientes em campo – Rafael Leão, que ainda não se adaptou bem à Turma das Quinas; Vitinha, pela primeira vez a titular. Quando nomes mais habituais, como Gonçalo Guedes e Bernardo Silva, entraram, a qualidade do nosso jogo melhorou.
A segunda parte foi, assim, melhor que a primeira. No entanto, foi um caso clássico de bola-não-quer-entrar. Uma conjugação de pouca sorte (“baliza benzida”, como ia dizendo António Tadeia), falta de pontaria, guarda-redes fazendo o jogo da vida dele (porque não jogou o mesmo que jogou em Alvalade? Aquele que defendia para a frente?) e, a partir de certa altura, bloqueio psicológico. A desvantagem no marcador manteve-se.
Esta derrota doeu e ainda terá doído mais aos milhares de portugueses no Estádio de Genebra. Pela maneira como estes se faziam ouvir – mesmo tendo Portugal passado noventa e nove por cento do jogo a perder – arrisco-me a dizer que estes estavam em maioria? Alegadamente o suíço Steffen ter-se-á a certa altura virado para as bancadas e pedido apoio – em vez disso recebeu assobios.
Quase tenho pena dos suíços. Eles supostamente estavam a jogar em casa. Ao mesmo tempo, é triste temos invadido casa alheia para ver Portugal fazer um jogo tão pobre.
Cristiano Ronaldo, João Moutinho e Raphael Guerreiro não jogaram em Genebra, nem sequer estiveram no banco. Fernando Santos já tinha anunciado na véspera que os dispensara. Na altura não me chocou – Cristiano e Moutinho estão entre os mais velhos do grupo e Raphael costuma lesionar-se com alguma frequência. E não há por aí quem ache que Portugal joga melhor sem Ronaldo?
Por outro lado, porque é que Ronaldo, com trinta e sete anos, teve direito a ir de férias mais cedo, quando Pepe, dois anos mais velho, teve de jogar os noventa minutos vezes quatro desta jornada? A resposta é simples, na verdade: Fernando Santos está mais à vontade para rodar o meio-campo e o ataque que a defesa. O Selecionador falou sobre isso há pouco tempo, em entrevista com António Tadeia, salientando a falta de jogos particulares para fazer experiências. E a verdade é que já tivemos experiências desagradáveis quando não pudemos usar os centrais do costume.
Regressando a Cristiano Ronaldo, é muito fácil dizermos agora que, se ele tivesse jogado em Genebra, teríamos ganho. É possível, não o nego – talvez este não falhasse tantos remates. Mas já tivemos outros jogos em que a bola não entrava com Ronaldo em campo, por isso, não há garantia de nada.
E agora? Agora ainda dependemos de nós mesmos para nos Qualificarmos para a final four da Liga das Nações. Temos “apenas” de ganhar os dois próximos jogos. É mais fácil escrevê-lo do que fazê-lo: um dos nossos adversários é a Espanha, a quem ganhámos um total de uma vez em jogos oficiais. Nada de especial.
Porquê, minha gente, porquê? Andava eu toda contente por estarmos a conseguir os resultados e, pelo menos até certo ponto, as exibições. Parecia que tínhamos aprendido com os erros de 2021 e que estávamos finalmente a aproveitar o talento dos nossos jogadores. Porquê?
Não podíamos ter terminado a jornada com o jogo com a Chéquia? Os jogadores até agradeciam o compromisso mais leve.
Uma das poucas coisas boas em relação à nossa derrota com a Sérvia foi o facto de a equipa técnica ter aprendido com os erros. Assim, conseguiram catalisar um melhor desempenho na maioria dos jogos em 2022 até agora. Seremos também capazes de aprender com esta derrota? Eu espero que sim.
Por outro lado, pelo menos na parte que toca à calendarização e gestão física, depois da pandemia e do Mundial no outono, é pouco provável que estas circunstâncias se repitam de novo.
Isto é, espero eu.
Agora temos outra vez um tubarão a bloquear-nos o caminho para uma fase final. É certo que, nos play-offs para o Mundial, os italianos fizeram-nos o favor de perderem com a Macedónia do Norte antes de se poderem cruzar connosco. Aqui, tudo o que podemos fazer é rezar para que os espanhóis percam pontos perante os suíços, para não ficarmos obrigados a vencê-los.
A brincar a brincar, eu não me admirava se isso acontecesse. As pessoas dizem que Fernando Santos tem uma vaca no que toca a estas coisas.
Temos o verão inteiro para pensarmos nisso, para lambermos as feridas (começando por mim mesma). Os Marmanjos que descansem e aproveitem as férias – esta foi uma época longa e dura, a próxima também o será. Em setembro regressaremos mais fortes e arranjaremos uma maneira de retificar esta situação.
Como sempre, obrigada pela vossa visita. Visitem também a página de Facebook associada a este blogue. Tenham um verão feliz, em setembro haverá mais.