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O Meu Clube É a Seleção!

Mulher de muitas paixões, a Seleção Nacional é uma delas.

O primeiro dia de verão

Cá vamos nós outra vez. Amanhã, dia 19 de maio, Paulo Bento, o Selecionador Nacional de Futebol
anunciará os Convocados para representar Portugal no Campeonato do Mundo da modalidade, que se terá início dentro de pouco menos de um mês, no Brasil.

Quem acompanha este meu blogue há algum tempo saberá, certamente, que para mim este é sempre um dia especial, o dia em que o Mundial começa. Já usei várias metáforas para explicá-lo, hoje usarei mais uma - que poderão já ter visto na minha página. Uma vez que, durante os períodos em que a Seleção Nacional se encontra reunida, quebra-se um pouco a monotonia da rotina, a vida ganha mais cor, como se o Sol brilhasse mais. Daí que sinta que o verão começa, não daqui a um mês, e sim já amanhã. 

Há pouco menos de uma semana, no dia doze, este blogue, O Meu Clube é a Seleção, completou seis anos online. Pena o Anúncio dos Convocados não ter ocorrido naquele dia, como pensei que ocorreria da primeira vez que olhei para o calendário de 2014, para o aniversário ser perfeito. Mas não faz mal, porque assim vai ocorrer exatamente seis meses após a épica segunda mão dos playoffs com a Suécia. Não tenho nada a dizer sobre estes seis anos que não tenha dito anteriormente, tirando apenas que nunca, por um único momento, me arrependi de ter criado este blogue nem senti vontade de desistir, nem mesmo quando me apercebo da fraca audiência. Enquanto tiver disponibilidade, manterei o blogue. Disponibilidade, essa, que já será um problema ao longo deste Mundial. Há dois anos, no Euro 2012, quase nunca me faltou tempo para atualizar a página nem ara escrever no blogue. Agora, no entanto, conforme já disse aqui, estou a fazer estágio das nove às seis, logo, não tenho tanto tempo. Não se admirem, portanto, se as crónicas forem reduzidas e/ou demorarem a ser publicadas.

Não acredito que isso seja muito grave, pelo menos durante as primeiras semanas - se for como há dois anos, esse será um período mais morno. O pior será o facto de, por causa do meu horário, ir perder a primeira parte dos jogos com a Alemanha e o Gana. Hei de arranjar maneira de ir acompanhando, dentro do que me for possível, o que acontecer durante esses quarenta e cinco minutos. Mas chateia-me não poder vê-los como deve ser. Afinal de contas, o Mundial só vem de quatro em quatro anos. 


Este ano, para além de se comemorar o centenário da Federação Portuguesa de Futebol, faz dez anos desde o Euro 2004. O que significa que acompanho de perto a Seleção há pelo menos uma década. Dez ano de alegrias e tristeza, triunfos e desilusões, sonhos, esperanças. Três selecionadores, cinco fases finais, cinco Apuramentos, inúmeros Marmanjos, muitos que chegaram e partiram passando quase despercebidos, muito que se destacaram, ou por fases, ou a título quase constante, centenas de jogos. A Seleção entranhou-se de tal maneira em mim que já faz parte, de certa forma, dos meus ritmos biológicos, já se tornou quase uma dependência física - ao ponto de, conforme já o referi várias vezes aqui no blogue, desenvolver sintomas de abstinência em períodos de poucas notícias sobre a Equipa de Todos Nós. E, por muito que certos aspetos venham a tornar-se repetitivos, cada jogo é único, com os seus próprios protagonistas, as suas próprias peripécias, pelo que ainda não me canso deles.

Esta é a quarta fase final que acompanho neste blogue e, apesar de cada um dos três campeonatos anteriores ter tido a sua própria história, hoje sinto-me mais ou menos da mesma maneira que me sentia no início de cada uma das fases finais anteriores: com algumas dúvidas, sem me atrever a sonhar demasiado alto, mas entusiasmada, esperançosa, decidida a encarar um jogo de cada vez, a saborear cada momento.

Com o tempo vou, também, tendo cada vez menos ilusões, vou tendo mais noção de que a equipa atual não é tão forte - ou pelo menos não tão consistente - como equipas anteriores. Por muito que me custe admiti-lo, em 2004 e 2006 tínhamos - adotando uma metáfora que ouvi recentemente - uma Seleção de Liga dos Campeões, hoje temos, mais do que "Ronaldo mais dez", uma Seleção de Liga Europa. Num campeonato como o Mundial, esses detalhes podem fazer a diferença. O período compreendido entre o Euro 2004 e o Mundial 2006 foi o mais consistente de que me recordo na Seleção - os meus dois primeiros anos acompanhando a Equipa das Quinas, daí que me tenha habituado mal. Todas as fases de Qualificação que se seguiram foram um drama, ainda que por motivos diferentes. A falta de opções para além do núcleo duro foi um dos factores que contribuiu para as dificuldades do nosso último Apuranmento. As circunstâncias em 2004 e 2006 eram-nos mais favoráveis que agora.


No entanto, a verdade é que tais circunstâncias não foram suficientes para levantarmos a Taça. E embora continue a achar que tais títulos foram injustamente atribuídos, ando a aprender que a justiça no futebol nem sempre é clara. Não ganha quem joga bem, ganha quem marca e sofre o menos possível, quer isso aconteça por mérito próprio ou por mera sorte. Isto para não falar da cumplicidade de árbitros e dirigentes da alta hierarquia do futebol.

Por outro lado, a Seleção tem vícios quase congénitos, sobretudo no que toca à tendência para sermos o nosso próprio maior adversário, de nos boicotarmos a nós mesmos, perante opositores que, em muitos casos, não nos causariam grandes problemas. Foi algo que se repetiu ao longo deste último Apuramento mas que, na verdade, também aconteceu no mítico Portugal x Coreia do Sul, do Mundial de 66 - pude testemunhá-lo quando o jogo foi transmitido pouco após a morte de Eusébio. Portugal facilitou, enfiou-se num buraco, ficando obrigado a superar-se de uma forma quase milagrosa, liderado pelo Pantera Negra - à semelhança do que aconteceu nos playoffs frente à Suécia, desta feita liderado por Cristiano Ronaldo. Dessas vezes, a coisa correu bem. No Mundial, perante seleções de calibre elevado, contudo, tal complacência pode muito bem representar a morte do artista.

Além disso, não basta uma mão-cheia de individualidades para se fazer uma equipa. Um bom exemplo é o Mundial 2002, que tinha nomes como Figo, Pauleta, Rui Costa, Fernando Couto, João Pinto, Vítor Baía, Sérgio Conceição, mas que teve um desempenho para esquecer, nesse campeonato. Em oposição, temos o Euro 2012, com uma equipa com "mais vulgaridade que qualidade", nas palavras de pessoas certamente bem mais sábias do que eu, que chegou a onde todos sabemos.

Eu quero acreditar que tal não aconteceu por acaso, por sorte, que aquilo foi a regra e não a exceção. Que é possível tal acontecer de novo. Que Paulo Bento tem razão quando diz que, mesmo não sendo favorito, Portugal tem condições para competir com os candidatos ao título (Brasil, Espanha, Argentina, Alemanha...) e mesmo vencê-los. Se por um lado considero que as premissas já nos foram mais favoráveis, por outro receio não tornar a ter uma oportunidade tão boa. Irrita-me o nosso historial de chegarmos a todos os campeonatos de seleções sob o estatuto, mais ou menos assumido, de candidatos ao título quando, na verdade, nunca ganhámos nada, falta-nos sempre aquele "quase". Dez anos depois do primeiro Menos Ais, está na altura de "passarmos à próxima fase", de uma vez por todas. Pode ser até que nos aconteça o mesmo que aconteceu à Espanha, que, depois de tantos anos numa situação semelhante à nossa, ganhou três títulos de seguida... mas não me atrevo a sonhar tão alto. A solução acaba por ser a mesma de sempre: abordar um jogo de cada vez e esperar que Deus, ou a Sorte, ou outra qualquer entidade sobrenatural em que acreditem, seja generoso(a) para connosco.


Já se volta a esse assunto, para já falemos dos Convocados. Este ano, a habitual polémica começou mais cedo, já que, desta feita, a pré-Convocatória foi divulgada pouco menos de uma semana antes da Lista Final. Jogadores como Carlos Mané, Adrien e Cédric foram já excluídos desta primeira Escolha, ao passo que jogadores como André Gomes e Ivan Cavaleiro, que tanto quanto sei jogaram pouquíssimas vezes pelo Benfica esta temporada, foram incluídos na Lista. Ninguém é capaz de compreender tais opções, nem mesmo eu, que nestas coisas, como sabem, tenho sempre muito boa vontade, até demais por vezes. A diferença deste ano em relação a campeonatos anteriores é que, por desde o Euro 2012 andar a acompanhar o futebol de clubes mais de perto, tenho uma ideia mais clara de quem, na minha opinião, merece ser Convocado ou excluído. Admito que não sou cem por cento isenta, à semelhança da maioria das pessoas - afinal de contas, tenho uma sportinguista ferrenha em casa - mas até adeptos de outros clubes contestam a exclusão de, pelo menos, Adrien. Ele e Cédric foram titulares de forma quase constante ao longo da época pelo seu clube, que até não se saiu mal este ano, tendo contribuído mais para o sucesso dele que, por exemplo, André Gomes, André Almeida e Ivan Cavaleiro contribuíram para a bela época que o Benfica fez. E se Ivan Cavaleiro até teve bons momentos - ainda assim, na minha modesta opinião, insuficientes para determinar que ele merece ir ao Mundial - e André Almeida até jogou na reta final do Apuramento, não me recordo de nada particularmente positivo sobre André Gomes, pelo menos não ao ponto de o incluírem na Convocatória. Aliás, durante a final da Liga Europa, não o vi dar uma para a caixa, antes pelo contrário, fartava-se de perder bolas comprometedoras.

Paulo Bento falou, em entrevistas recentes, de jogadores que poderiam ser excluídos por não se encaixarem no plano que ele tem traçado para a Seleção, ou por ele considerar que não têm perfil para vestirem as Quinas. Em contrapartida, referiu também jogadores que se saem melhor pela Seleção do que pelos clubes - não é difícil pensar em exemplos. No entanto, tanto Cédric como Adrien apenas foram Convocados uma vez e, se não estou errada, apenas para substituir habituais titulares ausentes por lesão. Não chegaram a ser utilizados, sequer. Como é que Paulo Bento conseguiu, desta forma, recolher dados suficientes para concluir que estes jogadores não tinham perfil para a Seleção?

A única explicação que me ocorre é André Gomes, Almeida e Cavaleiro já terem percurso nas seleções de formação, percurso esse que Paulo Bento, às tantas, considerou mais relevante que o desempenho de Cédric, Adrien e, também, o guarda-redes Ricardo da Académica - um critério discutível. Até porque o percurso dos rejeitados não deve ser assim tão diferente. Eu não quero entrar no campo das teorias da conspiração, como as que dizem respeito a um qualquer ressentimento de Paulo Bento contra o Sporting ou a um conluio com Jorge Mendes. No entanto, não deixo de achar que o Selecionador deve uma explicação. Estou certa, até, que lha vão pedir (se não exigirem) já no Anúncio dos Convocados.


Por outro lado, admito que, independentemente dos muitos sites por aí que nos permitem brincar aos Selecionadores e fazermos as nossas próprias Listas de Convocados, nenhum de nós é Paulo Bento. Nenhum de nós, tirando evidentemente o resto da equipa técnica, conhece os jogadores, o funcionamento das Seleções - tanto a principal com as de formação - como ele. Nenhum de nós conhece a forma como ele pretende abordar o Mundial. Mesmo com as minhas dúvidas e as de toda a gente, perfeitamente legítimas, acredito que o Selecionador saberá usar os jogadores que escolheu, saberá extrair o melhor de cada um e colocá-lo ao serviço da Seleção, de modo a que façamos um bom Mundial. Nem sequer sabemos quais dos trinta pré-Convocados sobreviverão até à Convocatória. Contestação existiria sempre, em maior ou menor grau, independentemente da Lista Final. De outra forma, eu não teria nada sobre que escrever na entrada pós-Convocatória - e já me preocupa que a polémica esteja a ocorrer agora, antes do Anúncio dos Convocados. Podem existir por aí muitos fanáticos do Sporting a dizer que, por causa disto, não vão torcer pela Turma das Quinas. Eu sei que, caso o Mundial corra bem, muitos deles, se não todos, esquecerão tais promessas e juntar-se-ão à alegria coletiva.

Não adianta concentrarmo-nos demasiado nestes aspetos, nas comparações com as seleções do passado - afinal de contas, o slogan escolhido para o autocarro da Equipa de Todos Nós diz precisamente que "O passado é história, o futuro é a vitória." - nos jogadores que estarão ou não na Convocatória. Interessa concentrarmo-nos no presente, no momento, empenharmo-nos em fazer o melhor Mundial possível, em escrevermos novas páginas da História do futebol português. Por muitas dúvidas que tenha, nenhuma delas mancha a felicidade que sinto por, tirando a final da Liga dos Campeões, a temporada clubística ter finalmente terminado (só aguento o futebol de clubes até certo ponto, as clubites continuam a irritar-me) e a a preparação do Campeonato do Mundo estar prestes a começar. Estou ansiosa por tudo o que aí vem - os Convocados, o estágio de preparação, com as respetivas notícias, fotografias, eventuais publicações nas redes sociais por parte dos Marmanjos, os particulares preparatórios, a cobertura mediática, as campanhas publicitárias e, claro, os jogos "a sério" - e por escrever sobre isso aqui no blogue. Ou seja, por tudo o que está ligado àquela que é a festa suprema do futebol e por deixar aqui o meu testemunho daquilo que se espera ser uma épica aventura. Que começa já amanhã.

Portugal 5 Camarões 1 - Momentos Brilhantes

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Na passada quarta-feira, dia 5 de março, a Seleção Portuguesa de Futebol recebeu a sua congénere camaronesa no Estádio Magalhães Pessoa, em Leiria, num encontro de carácter particular. Encontro, esse, que terminou com uma vitória da seleção da casa por 5-1.

 
Muito pela experiência da última fase de Qualificação, bem como de outros particulares no passado mais ou menos recente, as minhas expectativas eram baixas. Daí que o resultado final e o jogo - sobretudo a segunda parte - me tenham apanhado de surpresa, pela positiva. 
 
Portugal até entrou bem no jogo, com o seu equipamento novo. Este, já agora, não é feio. Gosto da ideia da gradação de cor, embora o tom mais claro se aproxime demasiado do cor-de-rosa para o meu gosto, pelo menos na transmissão televisiva (nas fotografias do jogo não parece tanto). Além disso, não sou grande fã dos equipamentos monocromáticos: afinal, cerca de quarenta por cento da bandeira portuguesa é verde. Tirando isto, eu aprovo.
 
Dizia eu que Portugal entrara bem no jogo. Muito graças ao estreante Rafa, que parecia empenhado em mostrar o seu valor. Cedo, contudo, os camaroneses deram um ar de sua graça, chegando a pregar-nos alguns sustos. O golo de Ronaldo acabou por surgir precisamente numa altura de ameaça por parte dos Camarões. Belo trabalho de João Moutinho, trazendo a bola para perto da grande área camaronesa, passando a João Pereira e este, por sua vez, colocando a bola em Ronaldo num passe diagonal, permitindo ao Capitão marcar o primeiro golo da Equipa de Todos Nós em 2014 (o primeiro de muitos, esperemos), e ultrapassar Pedro Pauleta na tabela de melhores marcadores da Seleção.
 
 
Agora que penso nisso, em menos de dez anos tivémos dois novos recordes em golos. O que é incrível. Quem sabe quem irá quebrar o recorde que Ronaldo, eventualmente, estabelecerá...
 
Adiante, o golo de Ronaldo não abalou demasiado os camaroneses. Pelo contrário, pareceu motivá-los ainda mais. Por fim, em cima do intervalo, Aboukabar aproveitou uma desatenção da defesa portuguesa para igualar o marcador.
 
Nos resumos não mostram - só a meio da segunda parte é que as imagens passaram - mas o marcador camaronês, após o golo imitou a meia pirueta, ilustrada em cima, com que Ronaldo tem celebrado os golos. Gostei. Pontos para a lata.
 
Bipartida como foi a primeira parte em termos exibicionais, o empate ao intervalo era justo. A Seleção entrou bem melhor na segunda parte, já que regressava a um esquema táctico mais próximo do costumeiro. Tivemos uma série de oportunidades até, finalmente, o nosso barbudo preferido, Raul Meireles - que até já tinha marcado aos Camarões em 2010, duas vezes - aproveitou um passe infeliz entre o guarda-redes camaronês e um defesa para roubar a bola e marcar o segundo golo português.
 
 
Este, sim, quebrou o gelo. A partir daí o jogo foi todo nosso. Nem dois minutos tinham passado e já Fábio Coentrão marcava o terceiro para Portugal e dedicava - digo eu - ao pai falecido e ao filho(a) que tem por nascer. Ele que estava a fazer um belo jogo, ele que na Seleção joga quase sempre bem, mesmo que não esteja a passar por um bom momento no seu clube.
 
Dez minutos mais tarde, Meireles isola Ronaldo, que faz das suas arrancadas em direção à baliza adversária, estilo as da segunda mão dos playoffs, que desaguavam todas em golo. Desta feita, como ele estava muito perto da linha lateral, não me pareceu que conseguisse marcar, apenas assistir. E foi o que aconteceu, mais ou menos. O guarda-redes fez uma defesa incompleta e Edinho aproveitou para fazer o quarto.
 
Ainda houve tempo para Ronaldo fazer, de novo, o gosto ao pé. É, de novo, ele a trazer a bola para junto da grande área camaronesa, passa a Antunes, que a devolve, quando o Capitão já está dentro da grande área, com Miguel Veloso ao lado. Durante momentos hesita, como se ele e Miguel estivessem a decidir quem remataria mas, no fim, ele finta os camaroneses, remata e marca, encerrando o marcador.
 
 
Foi sem dúvida um belo jogo, uma bela maneira de arrancar o ano com a Seleção Nacional. Arriscando cair em exageros, foi um dos melhores particulares dos últimos anos. E, embora os Camarões não sejam propriamente uma grande potência do futebol, também não são um Luxemburgo ou umas Ilhas Faroé, eles Qualificaram-se para o Mundial. Não convém, igualmente, esquecer a tristeza que foram os particulares pré-Euro 2012, o jogo com o Equador no ano passado. Não que a Seleção esteja hoje muito melhor do que estava na altura. Pura e simplesmente, levou o jogo mais a sério, cometeu menos erros (aliás, foi mais o outro lado a cometê-los.
 
Apesar de a grande estrela do encontro ter sido, para a Comunicação Social, Cristiano Ronaldo e a sua conquista do primeiro lugar na classificação dos marcadores portugueses, para mim é um particular alívio saber que há gente na Seleção capaz de marcar golos para além de Ronaldo. Depois de ele ter sido o único a marcar nos playoffs, tendo um dos golos corrigido duas argoladas cometidas pelos companheiros de equipa, eu estava a ficar preocupada. É verdade que a defesa camaronesa tinha as duas fragilidades, mas mesmo assim... 
 
Uma das coisas de que mais gostei neste jogo foi o facto de quase todos os que entraram em campo terem tido o seu momento brilhante, mesmo sem terem um desempenho uniforme. Começando pelos novatos, uns mais do que outros, certamente os mais motivados: William Carvalho, uma das sensações do campeonato português atual, que parece já estar integradíssimo na família, a todos os niveis; Rafa que, tal como disse antes, entrou muito bem no jogo; Ivan Cavaleiro, que teve um desempenho mais discreto mas a sua assistência para o golo de Fábio Coentrão valeu bem toda a polémica em torno da sua Chamada; Edinho, que marcou o quarto golo, e antes já tinha feito uma acrobaciazinha, seguida de um remate falhado. Pelo meio, João Moutinho foi, como sempre, o motor da Seleção; João Pereira mostrou o motivo pelo qual é considerado um dos melhores laterais-direitos da Europa; Fábio Coentrão, tal como disse acima, esteve num bom nível; Raul Meireles marcou o segundo golo e esteve na origem do quarto.
 
 
Como tal, tem-me irritado o destaque que a Comunicação Social têm dado a Cristiano Ronaldo a propósito deste jogo, quase ignorando os companheiros da Seleção. Quando o fizeram aquando dos playoffs frente à Suécia, eu aceitei porque, na verdade, foi ele o único a marcar mas, na quarta-feira, marcaram outros também. É certo que ele é, de facto, melhor do que os colegas em vários aspetos, merece ser reconhecido por isso, mas agir como se a Turma das Quinas fosse apenas "Ronaldo e mais dez" não e bom nem para os companheiros de Seleção, nem para o próprio Ronaldo. Os primeiros, por não verem os seus esforços devidamente valorizados. O último, porque leva com a pressão toda e se, por acaso, tiver um jogo menos conseguido, cai tudo em cima dele, injustamente - tal como aconteceu no jogo contra a Dinamarca, nos grupos do Euro 2012.
 
Cheguei mesmo a ler no outro dia um artigo de opinião na linha do "mais vulgaridade que qualidade" na Equipa de Todos Nós. Uma opinião que corria antes do Euro 2012, campeonato em que... chegámos às meias-finais, só falhando a final nos penálties com... a Espanha. Como podem ver, tais opiniões valem o que valem. E este artigo ainda tem a desculpa de ter sido escrito antes deste jogo. Com todas as condicionantes, este particular provou, uma vez mais, que a Seleção funciona bem como equipa, que existe um não-sei-quê na Equipa de Todos Nós que, quando está para aí virada, faz com que os jogadores escolhidos se superem a si mesmos, contrariando momentos de forma, tempo de utilização pelos respetivos clube, juízos da opinião pública. Continuo a achar que há por aí muito jogador a merecer lugar na Lista Final para o Brasil, para além daqueles que têm sido Convocados, mas a verdade é que, de uma maneira geral, as escolhas de Paulo Bento têm dado bons resultados. Mais do que isso, o Selecionador - bem como certamente, a restante equipa técnica, os outros jogadores, talvez mesmo a estrutura federativa - tem-se revelado capaz de, nos momentos decisivos, extrair o melhor dos Marmanjos. 
 
 
O maior mérito deste particular foi, precisamente, aumentar-me a esperança para o Mundial, dentro dos limites do realismo. Fazer-me acreditar que, qualquer que seja a Lista Final para o Brasil, independentemente das inevitáveis polémicas, Paulo Bento saberá fazê-la funcionar, tal como funcionou no Euro 2012. Que tudo pode acontecer. Mas não quero entrar muito por aí, não para já. Por enquanto, é dar graças por termos tido mais uma bela noite de Seleção, com todos os efeitos benéficos a ela associados. 
 
De resto, já que é quase meia-noite à hora em que publico isto, podemos considerar que faltam setenta e um dias para a Convocatória Final para o Campeonato do Mundo - altura em que a verdadeira diversão vai começar!
 
P.S. Esta é a centésima quinquagésima entrada deste blogue. Teria calhado melhor se fosse a próxima, se a número cento e cinquenta fosse a antevisão à Lista Final para o Brasil. Seria por volta do aniversário do blogue, perfeita para uma retrospetiva... Enfim. A mais cento e cinquenta publicações!
 

Em mares conhecidos

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Primeira entrada de 2014! Bom ano a todos os meus seguidores. Na próxima quarta-feira, Portugal receberá, no Estádio Magalhães Pessoa em Leiria, a sua congénere cama... camaronesa, num jogo de carácter particular.

 
Os Convocados para este embate foram divulgados ontem, sexta-feira. Entre as novidades, encontram-se a ausência dos habituais titulares Nani, Hélder Postiga e Rui Patrício. Os dois primeiros por lesão, sendo que Postiga pode mesmo falhar o Mundial (snif, snif). Vai custar-me ver a Seleção amputada de dois dos meus jogadores preferidos mas, para ser sincera, há já algum tempo que tenho vindo a reparar que nem o Nani nem o Hélder têm estado ao nível de antes, existindo melhores opções para os lugares deles neste momento. Mas espero que não falhem o Brasil, mesmo que não sejam titulares.
 
O pior é que Hugo Almeida, que até tem estado a fazer uma bela época, lembrou-se de contrair uma lesão na sexta-feira passada. Ainda não há confirmação oficial, mas é possível que falhe o jogo com os Camarões. É preciso azar...
 
Rui Patrício, por sua vez, ficou de fora por opção. Algo que até tem uma certa lógica: nos particulares, Paulo Bento costuma pôr um dos guarda-redes suplentes na baliza, não fazia sentido estar a Chamar Patrício - que tive a sorte de encontrar recentemente - só para aquecer o banco, quando se podia observar um guarda-redes novo. 
 
Pena é esse guarda-redes não ter sido o Ricardo, da Académica.
 
 
 
Esta Convocatória não me convence muito, aliás. Acho que existem melhores alternativas para algumas das posições. Não consigo, por exemplo, compreender a chamada de Ivan Cavaleiro (tem um nome engraçado), em detrimento de outros jogadores mais regulares. Paulo Bento justificou Escolhas como esta com o desejo de "conhecer melhor" certos jogadores antes da Convocatória Final para o Brasil. Tem a sua lógica e, de certa forma, explica a ausência de Ricardo Quaresma.
 
- Bem, o Adrien é uma pessoa adorável de se conhecer! - barafustou a minha irmãzinha sportinguista - E o Cédric!
 
Eu também concordo que alguns jogadores do Sporting mereciam mais oportunidades do que aquelas que lhes têm sido dadas mas, lá está, com uma sportinguista ferrenha em casa não garanto imparcialidade. Eu, na verdade, não percebo assim tanto de futebol para verdadeiramente questionar a Convocatória. É claro que tenho lido reclamações pela Internet, umas mais racionais do que outras, mas não me parece haver motivo para grande polémica. É só um particular, um mísero particular, que muito boa gente ignorará, a Convocatória Final será diferente. Ou acham mesmo que Paulo Bento deixaria Patrício de fora do Mundial?
 
Que o diabo seja cego, surdo, mudo e não tenha wi-fi, mesmo assim...
 
 
Entretanto, no domingo passado, realizou-se o sorteio que determinou a constituição dos grupos do Apuramento para o Euro 2016. Portugal ficou no grupo I, com a Albânia, a Arménia, a Sérvia e a Dinamarca. E a França, embora esta, na condição de equipa-anfitriã, não tenha de passar pela fase de Qualificação.

Devo dizer que acho interessante esta nova regra que determina que a seleção-anfitriã fique "colocada" no grupo de Qualificação mais pequeno, realizando jogos particulares com as outras equipas.

Uma das vantagens do grupo que nos calhou em sorte é o facto de - tirando a França, e mesmo assim - termos defrontado todas as equipas há relativamente pouco tempo. Vamos navegar em mares conhecidos. A Arménia e a Sérvia estiveram também no nosso grupo de Qualificação para o Euro 2008. A Albânia esteve connosco na Qualificação para o Mundial 2010. E a nossa velha amiga Dinamarca, então... Qualificação para o Mundial 2010, para o Euro 2012 e grupo da fase final desta última competição.

A desvantagem é que todas essas equipas nos roubaram pontos nas correspondentes Qualificações. Para o Euro 2008, empatámos 1 a 1 com a Arménia no jogo fora e, no jogo em casa, ganhámos apenas por 1-0, cortesia de Hugo Almeida - não me recordo de mais pormenores desse encontro, tirando o facto de ter sido o último em que Luiz Felipe Scolari esteve castigado - e empatámos ambos os jogos com a Sérvia. Foi até no jogo em Alvalade, a que assisti ao vivo, que se deu aquele triste episódio com Scolari e Dragutinovic. Com a Albânia, empatámos a  zero no jogo em casa, da Qualificação para o Mundial 2010 - outro jogo de má memória - e ganhámos o jogo fora com muita dificuldade. E depois, temos a Dinamarca. Provavelmente a adversária de que mais tenho falado aqui no blogue, com quem não tem sido possível termos um jogo tranquilo.


Para além destes, temos ainda aqueles particulares com a França, com quem não jogamos desde as malfadadas meias-finais o Mundial 2006. Não nego que ando há muitos anos com uma raivazinha de estimação para com os nossos amigos franceses. Eles que nos expulsaram, se não me engano, de três campeonatos de seleções e que, ao longo dos últimos anos, têm sido frequentemente levados ao colo pelas mais altas instâncias do futebol. E apesar de sentir um certo desconforto por irmos defrontar uma seleção com quem não temos sido capazes de atinar, eu agradeço a oportunidade de exorcizarmos este demónio. Eu sei que o jogo não conta para nada, mas até é bom, será menos provável que se puxem cordelinhos a favor dos franceses.

O grupo em si pode ser complicado. No entanto, a alteração das regras atenuam as dificuldades: agora apuram-se diretamente os dois primeiros classificados em cada grupo e o melhor terceiro classificado de cada grupo. Os outros terceiros classificados vão a playoffs. Não posso dizer que estas regras me agradem. Para já, por recear que o facilitismo tenha consequências na qualidade dos jogos: sendo mais fácil uma equipa Qualificar-se, os jogadores não se esforçam tanto. O caso de Portugal, então, é particularmente preocupante porque a Seleção não se dá bem com facilidades. O melhor exemplo é o mais recente: um grupo de Qualificação para o Mundial 2010 teoricamente fácil mas que, na prática, ia dando cabo de mim.

Já que falo do último Apuramento, devo confessar que ando a sentir-me culpada por termos deixado Zlatan Ibrahimovic - jogador com quem tenho vindo a simpatizar - de fora do Mundial. Não que ache que Portugal devia ter perdido nos playoffs, claro que não. No entanto, se tivéssemos ficado em primeiro lugar no grupo, teríamos conseguido a Qualificação direta, a Rússia teria ido aos playoffs, talvez a Suécia conseguisse derrotá-los e Ibra poderia ir ao Brasil. Ele merecia...

Todos são unânimes em afirmar que, ainda que o grupo não seja dos mais acessíveis, só uma catástrofe impedirá Portugal de se qualificar, de uma maneira ou de outra. Muitos opinam mesmo que Portugal é a melhor equipa deste grupo, que o primeiro lugar é perfeitamente alcançável. Na prática, todos sabemos que as coisas nem sempre são assim tão lineares, que Portugal é o pior adversário de si mesmo. Há quem diga mesmo que a Turma das Quinas, mesmo nestas circunstâncias, há de arranjar maneira de ir aos playoffs. "É a nossa cena", diz mesmo a minha irmã. Eu, no entanto, não estou para isso. As coisas teriam de correr mesmo muito mal para a Sérvia e a Dinamarca ficarem à nossa frente na classificação. E eu não aguento outra Qualificação como a última, ou pior. Não, não, não. Quero o primeiro lugar, ainda posso admitir o segundo, porque a Dinamarca é traiçoeira, mas não menos do que isso.

De qualquer forma ainda é cedo para fazer prognósticos.


Nesta Qualificação estrear-se-á, também, um novo modelo de calendário. Teremos a chamada "Semana do Futebol", com jogos diários de seleções durante seis dias seguidos. Em vez do esquema habitual de jogos à sexta e à terça, agora estes podem ser em em duplas de quinta e domingo, sexta e segunda, sábado e terça. A óbvia vantagem deste calendário novo é o regresso dos jogos ao fim-de-semana. Algo que dará particular jeito quando estiver a estagiar ou, eventualmente, a trabalhar e/ou quando quiser ir assistir a um dos jogos.

A desvantagem é este calendário obrigar a estágios mais curtos. O exemplo mais gritante disso é a última dupla jornada da Qualificação: a concentração dos jogadores só deve ser na segunda-feira anterior. Na quinta-feira seguinte, jogamos em casa com a Dinamarca, um dos nossos principais adversários. Três dias depois, enfrentaremos a Sérvia o outro principal adversário, fora, obrigando a um voo de pelo menos umas cinco horas algures nesse intervalo de tempo. Paulo Bento foi particularmente duro nas críticas a este modelo de calendarização, na Conferência de Imprensa de ontem: "Convinha chamar os selecionadores para essas conversas e não serem alguns, que talvez nem deram um pontapé na bola, a decidir esse tipo de mudanças". E tem razão.


Antes da Qualificação para o Euro 2016, contudo, temos o Mundial. E este jogo de preparação com os Camarões. À semelhança do que acontecerá no Apuramento, vamos enfrentar um adversário com quem jogámos há relativamente pouco tempo. Mais especificamente, na preparação para o Mundial 2010. Na altura, ganhámos com golos de Raul Meireles e Nani, mas o facto de Eto'o se ter feito expulsar, desnecessariamente, pode ter ajudado. Julgo que é um bom adversário para este jogo, terá certamente algumas semelhanças com o Gana, pode ser suficientemente motivador para os portugueses fazerem por jogar bem. Não estou, no entanto, à espera de um grande jogo. Tal como já dei a entender acima, nesta altura do campeonato, ninguém se preocupa demasiado com a Seleção. O experimentalismo terá prioridade sobre a qualidade do jogo, talvez mesmo sobre o resultado. É compreensível.

No entanto, como o costume, desejo uma vitória. Mesmo que a exibição não seja brilhante. Para começar bem um ano que se espera que traga muitas felicidades à Seleção Portuguesa.

Na próxima semana entro em estágio. Posso demorar algum tempo a publicar a crónica pós-jogo. Peço-vos um pouco de paciência, tentarei publicar, máximo dos máximos, no próximo fim-de-semana. Por agora, faltam setenta e nove dias para a Convocatória Final.