Na passada segunda-feira, dia 16 de junho, a Seleção Portuguesa de Futebol estreou-se no Campeonato do Mundo da modalidade, em Salvador da Bahia, com uma pesada derrota frente à sua congénere alemã, por quatro bolas sem resposta.
Devo dizer que este é, provavelmente, o pior jogo da Seleção que testemunhei, e eu já acompanhei uma série de encontros medíocres: o jogo com os Estados Unidos e com a Coreia do Sul em 2002, vários das Qualificações para o Mundial 2010 e 2014, e estes são apenas dos exemplos de que me recordo neste momento. Só para terem uma ideia, nas primeiras vinte e quatro horas que se seguiram ao jogo, quando recordava os pormenores do encontro ficava com vontade de vomitar. Desejei, desesperadamente, ua maneira de fazer “reset” ao jogo, uma maneira de, como na série Tru Calling/O Apelo, rebobinar aquele dia, arranjar maneira de avisar a Seleção para que evitasse os erros que tão caro nos custaram. No entanto, isto é o Mundial, há muio mais coisas em jogo do que num particular ou num jogo de Qualificação; tal como disse na crónica anterior, estes encontros ficam gravados na História, para o melhor e para o pior, e temos de lidar com toda a repercussão do jogo – que, obviamente, não foi a mais simpática para o nosso lado.
Durante a primeira parte do jogo, pude, felizmente (ou infelizmente) ir acompanhando a nível quase constante o relato radiofónico. Adicionalmente, tinha as mensagens que a minha irmã me ia enviando e o site do jornal A Bola, consultado regularmente pelos meus colegas, que se ia atualizando com as incidências do jogo. Logo nos primeiros minutos, Rui Patrício fez um passe infeliz para Khedira, estilo o que fizera no último jogo com Israel. Khedira não soube aproveitar a prenda que o guarda-redes português lhe ofereceu, mas agora percebe-se que este deslize de Patrício era um indício trágico do que aí vinha.
Eu não desanimei demasiado com o penálti convertido a golo, poucos minutos depois. Esperava um efeito semelhante ao do jogo com a Holanda, há dois anos: que o golo sofrido os acordasse e os fizesse correr atrás do empate. Não foi isso o que aconteceu, aliás, a Turma das Quinas desfez-se em pedaços por completo e nunca mais recuperou.
Ficou claro que, psicologicamente, os portugueses estavam em farrapos. Um belo exemplo disso foi Pepe. Foi uma sorte um estar sozinha quando ouvi no relato sobre a sua expulsão, pois na altura tapei o rosto com as mãos, com elas abafando as pragas que me saíam dos lábios. Pelo relato, percebi que o vermelho direto resultara de uma infantilidade, mas não me inteirei dos pormenores. Pouco depois, a minha irmã disse-me, por mensagem, que fora um dejá-vu do vermelho de Hélder Postiga na Irlanda do Norte, no ano passado. Não é preciso dizer mais nada.
Para a segunda seleção mais velha deste Mundial, os portugueses mostraram demasiada imaturidade no Arena Fonte Nova. Pior, mostraram ser incapazes de aprender com os erros. O caso de Pepe é particularmente preocupante, ele que já se viu envolvido em demasiadas situações semelhantes a esta.
Nesta altura, já tínhamos sofrido o segundo golo e já Hugo Almeida tinha saído, por lesão. Paulo Bento terá demorado a reorganizar a defesa – já frágil, mesmo antes da perda de Pepe – o que nos custou o terceiro golo. Nesta fase, percebi que dificilmente empataríamos, quanto mais ganhar, e só desejei que Portugal marcasse pelo menos um ou dois golos, só para recuperarmos uma fração que fosse da nossa dignidade.
Foi mais uma esperança vã. Nesta altura, já eu tinha saído do trabalho e ido para a esplanada de que falei anteriormente, com wi-fi. Aqui, havia-se juntado uma pequena e, naquela altura, insatisfeita multidão a ver a tristeza que estava a ser o jogo. Portugal só não sofreu muitos mais golos porque – e isto é, talvez, o mais humilhante de tudo – os alemães tiveram pena de nós e baixaram o ritmo.
Houve tempo para o árbitro nos negar um penálti, que parecia verdadeiro. Ao ver Ronaldo correndo atrás do árbitro, temi que ele desse uma de João Pinto, e gemi:
- Alguém o agarre! Alguém o agarre!
Felizmente, ter-lhe-á sobrado um fragmento de sensatez para parar de correr e ficar a refilar para si mesmo. Ainda bem; já estávamos a deixar uma péssima imagem da nossa Seleção, a última coisa de que precisávamos era de ter o nosso Capitão a agredir o infeliz do árbitro.
Os portugueses bem se queixariam, mais tarde, do juiz da partida, queixas que tinham a sua legitimidade, mas nem eles podem dizer que o árbitro foi o único culpado pelo descalabro - aquele penálti por marcar sobre Éder pouco faria por nós. Mais, muito antes de o encontro entre Portugal e Alemanha ter começado, já muitos jogos do Mundial tinham sido marcados por arbitragens polémicas. Eu já antes sabia que, se nos calhasse também um árbitro de imparcialidade duvidosa, as vítimas não seriam os alemães. Não vou dizer que os portugueses tinham obrigação de saber isso - se o árbitro estivesse firmemente apostado em prejudicar-nos (não vou dizer que estava), pouco se poderia fazer - mas atitudes como as de Pepe em nada ajudam nestas situações.
O pior do jogo foi mesmo a perda de Fábio Coentrão, que foi obrigado a abandonar o Mundial. Ele que - todos concordam, apesar de continuarem a insistir no Ronaldo-mais-dez - é insubstituível e definitivamente não merecia isto. Não quando sempre foi, praticamente desde que se estreou com a Camisola das Quinas, um dos que mais dá pela Seleção, independentemente do seu momento de forma. Logo agora, que parecia atravessar uma fase tão promissora. O destino foi-lhe cruel.
É, de resto, um dos aspetos que mais me aflige: o número elevado de lesionados ou de candidatos a sê-lo. Não é um problema exclusivo de Portugal; é bem conhecida a lista de grandes jogadores que falharam este campeonato. No entanto, pelo menos no que toca à Seleção Portuguesa, não me lembro de outro Europeu ou Mundial em que tivéssemos tido tantas baixas ou tantos riscos de inaptidão para os jogos. Toda a gente fala do calendário pesado da temporada, há quem aponte isso como motivo para os recentes e surpreendentes fracassos de Inglaterra e, sobretudo, Espanha, mas, tanto quanto me lembro, é a primeira vez que isto acontece. Porquê este ano em particular?
Antes do fim da agonia, ainda houve tempo para o quarto golo alemão, resultante de mais uma falha na defesa, em que Rui Patrício tornou a ficar mal na fotografia. Estava feito o resultado.
Não é a primeira vez, nem a segunda, que nos estreamos a perder num campeonato de seleções. Eu acreditem nas palavras otimistas de Cristiano Ronaldo, na véspera do jogo (e nem falo do camelo...), mas aceitaria perder por 1-0, 2-1, 2-0 ou mesmo 3-1. Afinal de contas, em 2004 e 2012, as derrotas iniciais não impediram bons desempenhos nos respetivos Europeus. E em 2012 até não fizemos má figura, nem mesmo em 2008, apesar de esse jogo ter ditado a nossa expulsão do Euro. Mas nunca foi assim tão expressivo, tão humilhante. O único jogo que se compara é o da nossa estreia no Mundial 2002 com os Estados Unidos - e toda a gente sabe como essa história acabou. O pior é que ando a ver semelhanças com 2002: lesão da maior figura da equipa, dúvidas sobre a adequabilidade das condições em que decorreu o estágio, sobre a estabilidade emocional dos jogadores.
É claro que, quando a Seleção passa por crises semelhantes a esta, se coloque tudo em causa, que venham a lume teorias da conspiração. Carlos Queiroz, por exemplo, não deixou de meter a sua farpa, como é habitual. O provérbio "em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão" nunca fez tanto sentido, ainda que muitas das críticas tecidas tenham a sua legitimidade.
Para mim, o pior não é a derrota em si, nem mesmo o resultado. O pior foi o fracasso do espírito de Seleção, da garra, da entreajuda, em suma, daquilo que falei, daquilo que exaltei, na última e outras crónicas neste blogue, no artigo que enviei para o Record Online. Essa é que foi a verdadeira desilusão. Com que cara fico eu quando, depois de ter garantido que cada um dos jogadores é melhor quando joga na Seleção do que sozinho, não se viu nada disso no Arena Fonte Nova?
Não percebo o que aconteceu, sinceramente. A "equipa" que jogou com a Camisola das Quinas em Salvador não é a Seleção que eu conheço, não é nada.
Algo vai ter de mudar. Paulo Bento tem ideias fixas (por outras palavras, é casmurro que nem uma mula), mas terá de alterar alguma coisa. Que mais não seja porque tem quatro jogadores indisponíveis para o jogo com os Estados Unidos. Se antes se podia tolerar os seus implicanços com a Comunicação Social - porque até tinha razão nalgumas coisas e, de resto, não se podia apontar-lhe muito, pois tinha vindo a cumprir os objetivos, com maior ou menor dificuldade - agora não tem o direito de ser tão arrogante como tem sido. Com alguma sorte, acontecerá o mesmo que aconteceu a Luiz Felipe Scolari, após a primeira derrota com a Grécia no Euro 2004.
Portugal está agora obrigado a ganhar tanto aos Estados Unidos como ao Gana para poder passar a fase de grupos. Parece que, já que o Gana e a Alemanha empataram (como é que o Gana conseguiu fazer frente aos alemães e nós não?), a nossa atual diferença de quatro golos não deverá ser um problema. Em circunstâncias normais, eu diria que é assim que, de resto, a Seleção "gosta" de jogar: com margem de erro reduzida, sempre no caminho mais difícil. Eu mesma calculava que, muito provavelmente, seria assim que a fase de grupos se desenrolaria, cheguei mesmo a considerá-lo desejável (não torno a dizer que uma derrota pode ser "boa"; tal como no lugar-comum, vou ter mais cuidado com o que desejo). Mas, ao longo destes dias, tenho tido medo das sequelas anímicas do nosso primeiro jogo do Mundial, de que a forma física dos jogadores, as condições climatéricas, sejam mais fortes que a vontade de fazer bem, de que os mais pessimistas tenham razão. Esta derrota desanimou-me imenso. Não foi para isto que esperei estes meses todos, para não dizer quase dois anos. Agora, que estamos a menos de vinte e quatro horas do jogo com os Estados Unidos, já recuperei uma boa parte desse ânimo, mas continuo com muitas dúvidas.
Eu já devia estar habituada, já devia saber que não é fácil saber que é fácil ser-se adepto incondicional da Seleção. É muito mais fácil ser-se daqueles que se vestem com as cores nacionais sempre que a Seleção está em alta mas que, nos momentos difíceis como este, desatam de imediato a criticar tudo e todos. Eu já devia tê-lo interiorizado mas, pelos vistos, padeço do mesmo mal que os Marmanjos: nunca aprendo.
Eu não quero ser desses adeptos hipócritas. Ainda que, ultimamente, ande a pensar que, um dia destes, vou pura e simplesmente desistir, deixar de me ralar com as desventuras da Seleção, parar de tentar constantemente, puxar por eles, encorajar as outras pessoas a apoiá-los como eu apoio, porque eles nem sempre o merecem, não será para já. Pelo menos não enquanto houver uma hipótese de fazermos um bom Mundial. Como já aconteceu antes, não é tanto por convicção, é mais por desespero. Não quero que isto acabe assim, não quero que 2002 se repita. Quero acreditar que nós somos mais do que fomos segunda-feira, que aquilo foi a exceção, não a regra, que a Seleção vai levantar-se outra vez, tal como o tem feito várias vezes nos últimos anos - incluindo em alturas em que nem eu já quase acreditava. Paulo Bento conseguiu ressuscitar a Seleção depois do caso Queiroz, tem de conseguir fazer o mesmo agora. Isto não pode acabar assim.
Mostrem que somos mais do que isto. Mostrem que somos a Seleção.
Na madrugada de sexta, dia 6 de junho, para sábado, dia 7, a Seleção venceu a sua congénere mexicana por uma bola sem resposta, num jogo amigável que teve lugar no Gillette Stadium, em Boston. Quatro dias depois, no Met Stadium, em Nova Iorque, a Seleção enfrentou a sua congénere irlandesa e tornou a vencer, desta feita mais expressivamente, por cinco bolas contra uma.
Não escrevi entradas individuais para cada um destes jogos, como costumo fazer, essencialmente por falta de tempo e de material. Quando falo em material, refiro-me à análise ao jogo por parte de um jornal desportivo, no dia seguinte, na qual me baseio para escrever as crónicas. Devido à hora tardia destes últimos encontros, não foi possível aos jornais fazerem uma análise completa aos mesmos, logo, faltaram-me as bases para escrever mais exaustivamente sobre eles.
O jogo com o México, de resto, pouca história teve, assemelhando-se ao do Jamor, contra a Grécia. Neste, o nosso domínio não foi tão constante, os mexicanos estiveram várias vezes por cima, o jogo poderia ter dado para ambos os lados. Só não virou a favor dos mexicanos graças a Eduardo, que fez uma mão cheia de belas defesas, provando merecer estar entre os Convocados - em termos de guarda-redes, a Seleção está bem servida. Numa altura em que aquilo já me parecia uma repetição do sábado anterior, em que considerava que aquelas quase duas horas teriam sido melhor empregues a dormir, João Moutinho bateu um livre, assistindo Bruno Alves para o único golo da partida. Para um defesa, o Bruno anda a marcar bastante pela Seleção. Foi um triunfo pela margem mínima, ao cair do pano, mas que sempre serviu para levantar um pouco a moral.
O jogo com a República da Irlanda foi melhor, esse sim valeu as horas e sono perdidas. É claro que ajudou o facto de os irlandeses estarem uns furos abaixo dos gregos e dos mexicanos, mas os portugueses não deixaram de proporcionar bons momentos de futebol - e não foi apenas o recuperado e regressado Cristiano Ronaldo a brilhar. A partida começou logo bem, com um golo do (para muitos) improvável Hugo Almeida, assistido por Varela. O resto do jogo desenrolou-se mais ou menos da mesma forma, com Portugal em claro domínio. Fábio Coentrão marcou um meio golo, assistindo um infeliz irlandês, que marcou na sua própria baliza. Mais tarde, Ronaldo tentou a sua sorte, falhou, Hugo Almeida foi à recarga e conseguiu marcar.
Muitos podem ter ficado surpreendidos com o desempenho do ponta-de-lança, mas eu não, pelo menos não tanto. Ele já não marcava pela Seleção há um ano, é certo, e chegou a fazer um par de jogos infelizes no passado recente. Eu, no entanto, lembro-me que há uns anos ele marcava com regularidade pela Seleção. Fico satisfeita por esse Hugo Almeida estar, aparentemente, de regresso a tempo do Mundial.
Ao início da segunda parte, eu receava (e quase esperava, pois sempre me daria uma desculpa para parar de ver o jogo e ir dormir) que o rendimento decaísse, sobretudo quando se processassem as substituições. Tal não chegou a acontecer, tirando o golo que sofremos. Para quase toda a gente, tal golo nasceu de uma falha de concentração. A minha irmã, contudo, alega que o livre foi batido antes do tempo, quando os portugueses ainda organizavam a barreira. Quanto a isso, não consigo chegar a nenhuma conclusão, nem mesmo depois de rever as imagens do golo. Apenas dá para ver que, independentemente do motivo, os Marmanjos estavam de facto distraídos durante esse lance.
Muitos esperariam que a saída de Cristiano Ronaldo tirasse qualidade ao jogo. Não foi isso que aconteceu pois, quando saiu Ronaldo, entrou Nani, cheio de ganas, que rapidamente assistiu para os dois últimos golos da Seleção Portuguesa, um de Vieirinha, outro de Fábio Coentrão (que também anda mais goleador do que o habitual, se considerarmos o seu meio golo na primeira parte). Pelo meio, ainda viu um golo anulado após uma linda jogada de tiki-taka por ele protagonizada. Nani dá-nos, deste modo, sinais de que poderá fazer um bom Mundial, algo que, há escassas semanas, me parecia altamente improvável.
Depois de, anteriormente, ter defendido que o empate frente à Grécia não provava nada, seria hipócrita estar agora a dizer que estes dois últimos particulares provam muito mais. Se é de esperar que, numa fase mais avançada da preparação do Mundial, os jogos corram melhor, a verdade é que, há dois anos, Portugal perdeu de forma ridícula com a Turquia mas não deixou de fazer um belo Euro 2012. Viu-se que os portugueses pelo menos parecem empenhados, motivados. No entanto, todos sabemos que, quando for a doer, tudo será diferente.
Será a doer já amanhã, segunda-feira, pelas cinco da tare, hora portuguesa, no Arena Fonte Nova, em Salvador da Bahia, frente à Alemanha. É o segundo campeonato de seleções consecutivo em que nos estreamos com os nossos amigos alemães, que de resto também defrontámos no Mundial 2006 e no Euro 2008. Não guardamos boas recordações de nenhum desses jogos, embora talvez pudéssemos ter guardado do último.
Há uns meses, diria que seria pouco provável ganharmos. Hoje, contudo, não acho que seja assim tão improvável. O jogo do Euro 2012 podia ter-se virado a nosso favor, bastaria aquela bola ao poste do Pepe ter entrado, ou o remate de Varela na segunda parte. Além do mais, o futebol alemão não parece tão ameaçador agora, já que este ano nenhuma equipa alemã atingiu a final da Liga dos Campeões. Também me soa animador o facto de os portugueses do Real Madrid terem sido bem sucedidos frente às várias equipas alemãs que lhes saíram na rifa. Alguns adeptos alemães não parecem, igualmente, muito confiantes na sua seleção. Por fim, os alemães deram a entender em algumas declarações que nos subestimam, com destaque para aquela em que nos comparavam com a Arménia.
Tudo isto, no entanto, não passa de conjeturas, se não forem ilusões. Não alteram o facto de a Alemanha ser, a par da Espanha (isto é, depois do jogo com a Holanda não sei...), Brasil e Argentina, uma das seleções candidatas ao título mundial, tal como o era há dois anos. Portugal pode vencer a Alemanha, mas terá de suar para fazê-lo. Por um lado, gostava mesmo de ganhar este jogo, ou pelo menos de empatar, para não ter de escrever uma crónica intitulada "22 homens atrás de uma bola, a trilogia" e também porque, se conseguíssemos vencê-los, seria um sinal de que até poderíamos ser candidatos ao título. Por outro lado, eu conheço a maneira como a Seleção Portuguesa funciona. Sei que se sai melhor sobre pressão, perante adversários mais fortes ou situações de aperto em termos de classificação. Os Estados Unidos já nos apanharam de surpresa uma vez, o mesmo pode acontecer caso entremos em campo com eles com a atitude descontraída de quem já tem três pontos amealhados. Daí que quase prefira o empate, ou mesmo a derrota.
De qualquer forma, a partir de amanhã, acabarão as teorias, os prognósticos, as apostas. O que quer que aconteça durante o jogo, cada golo, cada falta mal cobrada, cada cartão injustamente atribuído, ficará escrito a tinta-da-china na História. Poderemos, depois, olhar para eles da maneira que quisermos, mas não haverá maneira de mudá-los. Só aí saberemos quem estava certo ou errado, só aí será determinado o verdadeiro valor da nossa Seleção. Já sinto o "bichinho" a morder, a típica mistura de nervosismo e excitação, quando olho para os jogos já ocorridos do Mundial e respetiva repercussão nos media e redes sociais, e me apercebo que, na segunda-feira, seremos nós o objeto das notícias, análises, comentários e piadas.
Conforme tenho repetido inúmeras vezes nos últimos tempos aqui no blogue, não vou poder ver a primeira parte do jogo. Agora que estamos mais perto do mesmo, calculo que poderei ir estando a par d que for acontecendo, quer através do relato radiofónico, quer através de um daqueles sites, que se vão atualizando com os lances, quer, se tivermos sorte, através das das exclamações das pessoas que estiverem a ver os jogos nos cafés da zona. Quando sair, por volta das seis, corro para um desses cafés para ver a segunda parte. Em princípio, será um com wi-fi, por isso, talvez consiga levar o meu computador e ligar-me às redes sociais.
Embora não considere "desonestidade intelectual" pensar o contrário, não acho que Portugal seja candidato ao título, por diversos motivos, alguns dos quais estão listados num artigo que enviei para o Record Online. Contudo, no mesmo também recordo que, no futebol, não há impossíveis, tudo pode acontecer, e Portugal, de resto, possui meios para fazer mais do que esperar por um milagre, possui meios para, como costuma dizer Paulo bento, competir com qualquer equipa, para dar luta. Conforme afirmei no artigo, e já várias vezes aqui no blogue, Portugal pode não ter os melhores jogadores do Mundo, tirando uma exceção bem conhecida, mas estes, quando vestem a Camisola das Quinas - sobretudo em momentos decisivos - funcionam bem uns com os outros, como uma equipa, como um só, elevam-se acima do valor que lhes é cotado. E, conforme afirmei no artigo, chego a depositar mais fé nesse espírito, na garra e determinação dos jogadores, na união entre eles, na sua vontade de fazer bem, que propriamente na sua qualidade técnica ou momento de forma. Esta minha convicção aplica-se tanto à tendinose rotuliana e Cristiano Ronaldo, à falta de ritmo de Nani, à forma duvidosa de Hélder Postiga, às reservas da opinião pública relativamente a jogadores como Vieirinha ou André Almeida.
Encaro este Mundial da mesma forma como tenho encarado os últimos campeonatos de seleções: com as minhas reservas, mas convicta de que tudo é possível, com a esperança de que a coisa corra bem para o nosso lado, de preferência com o título mundial à mistura. A preparação encontra-se à beira do fim, a partir de amanhã é a doer. A ver o que o destino nos reserva. Para já, não tenho mais nada a dizer senão: força Portugal!
Na passada terça-feira, 19 de Novembro, depois de uma fase de Qualificação atribulada e, em certos momentos, parva, a Seleção Portuguesa de Futebol garantiu a presença no Campeonato do Mundo da modalidade, que terá lugar no Brasil no próximo ano. Fê-lo derrotando a sua congénere sueca por três bolas a duas no Estádio Friends Arena em Solna, nos arredores de Estocolmo.
Tal como aconteceu há dois anos, foi uma épica segunda mão de playoff que transformou a festa de aniversário da minha irmã em algo inesquecível. Tivemos em nossa casa quatro amigos dela, a nossa avó, a nossa tia, estavam cá os nossos pais, o nosso irmão. Assistimos todos ao jogo. Os amigos dela chegavam a ser mais histéricos do que eu, pelo que não me inibi tanto nos gritos de treinadora-de-sofá-de-sala, como faria normalmente na presença dos meus pais. Um dos amigos da minha irmã, ao encontrar um chapéu de bobo que o meu irmão usou quando fomos ao Portugal x Espanha do Euro 2004, revelou-nos uma superstição que tem com um chapéu parecido do Benfica. Ele pendura-o do lado da televisão correspondente à baliza do adversário. A ideia seria o chapéu funcionar como um íman para a bola. Como poderão ver abaixo, fizemos o mesmo, só pela graça.
Na minha opinião, não entrámos da melhor maneira no jogo, falhando imensos passes, às vezes quase de propósito. De uma forma menos politicamente correta, estávamos a engonhar. Não que os suecos estivessem a tirar partido disso, de resto. A nossa primeira oportunidade acabou por surgir de uma bola parada, de um livre. Depois desta, acabámos por melhorar cada vez mais à medida que o tempo passava, embora não nos tenhamos livrado de uns quantos sustos provocados pelos suecos nos minutos finais da primeira parte, com destaque para um remate de Ibrahimovic.
Aos cinco minutos da segunda parte, Rui Patrício não se deixa levar por uma simulação de Ibrahimovic e defende um remate de Larsson. Calculo que nem o guardião saiba como é que aquilo aconteceu, como é que defendeu aquela. De qualquer forma, um minuto mais tarde, o Moutinho faz um passe de génio para um Ronaldo isolado que galga quase todo o meio campo sueco, ganhando a corrida a Olson, e remata de pé esquerdo, colocando o marcador a funcionar.
Dizer, só, que as celebrações de Paulo Bento, em que este quase choca com um tipo qualquer de tablet na mão, partiram tudo.
Por entre todo o pessoal aos pulos, à frente do sofá, celebrando o golo e o pé e meio no Mundial do Brasil, arranjei maneira de abraçar e beijar a minha irmã, dar-lhe os parabéns, não apenas pelo aniversário mas também por aquele belo presente Todos nós, adeptos e Seleção, pensámos que eram favas contadas, que dificilmente os suecos dariam a volta ao texto. E, refletindo bem o que amiúde se passou ao longo a fase de Apuramento, desleixámo-nos. Esquecemo-nos que aquela era a equipa que conseguira anular uma desvantagem de 4 - 0 perante a Alemanha.
Os portugueses tiveram culpa em ambos os golos de Ibrahimovic. No primeiro, ninguém se mexeu. O segundo surgiu de um livre perigosíssimo, provocado por uma desnecessária falta de Miguel Veloso. Chega a ser caricata esta mania de complicarmos desnecessariamente as coisas, de só saber jogar sob o efeito da adrenalina. O resultado ainda nos era favorável mas ainda faltavam quinze minutos para o jogo acabar. Nada nos garantia que os suecos não marcassem de novo. Calculo que todos nós, apoiantes de Portugal, chegámos a temer um descarrilamento, uma morte na praia - isto quando, dez minutos antes, já nos víamos aportando em terras brasileiras.
Mas Ronaldo estava lá, tal como ele fazia questão de assinalar após cada golo. Depressa colocou Portugal de novo aos pulos, aos gritos, com dois golos quase seguidos. O primeiro após passe de Hugo Almeida - o pessoal, eu incluída, tem andado a implicar com o Marmanjo nos últimos tempos, mas temos todos de lhe tirar o chapéu depois desta - o segundo, assistido uma vez mais por João Moutinho. Nas celebrações deste último, a Seleção em peso atirou-se para cima do herói da noite, enterrando-o vivo, recordando-me as igualmente inesquecíveis celebrações do golo de Varela à Dinamarca, no Euro 2012. Por nossa vez, em casa, estávamos todos aos pulos, aos abraços uns aos outros, houve até quem agitasse uma bandeira. Os únicos que não saltaram foram a minha avó - que tem oitenta e muitos anos mas não estava menos feliz - e o meu irmão, que é demasiado bom para estas coisas.
O Cristiano ainda teve uma oportunidade para fazer o póquer antes dos noventa. Eu não percebia, sinceramente, como é que os suecos ainda o deixavam correr sozinho, em direção à baliza...
Foi assim que se descobriu o caminho futebolístico para o Brasil. Foi assim que a minha irmã teve a melhor festa de aniversário de sempre, recebeu o melhor presente: um lugar no Mundial e um hat-trick de Ronaldo. Tal como aconteceu com a segunda mão dos playoffs de 2011, este jogo foi um bom reflexo da fase de Apuramento que o antecedeu: um começo relativamente calmo, sem fazer prever a atribulação em que, em breve, se transformaria. A vantagem posteriormente anulada por desleixo, quase sem darmos por ela, a fase do "Ai Jesus!", a resolução que ganha contornos de brilhantismo mas que podia, perfeitamente, ter envolvido muito menos stress. O jogo foi muito mediatizado, talvez mesmo excessivamente, como se fosse já um encontro do Mundial - embora até se justifique, visto que estávamos a enfrentar uma seleção com prestígio considerável e o Ronaldo foi, de facto, estratosférico. Muita gente parece ter-se esquecido de que, afinal de contas, não fizemos mais do que a nossa obrigação, que até podíamos ter conquistado este desfecho mais cedo.
É também aqui que a porca torce o rabo: não vou negar que sabe muito melhor conquistarmos o nosso lugar no Mundial assim - no aniversário da minha irmã, perante um adversário que deu luta, com um hat-trick de Cristiano Ronaldo - do que saberia se o tivéssemos conquistado após uma série de vitórias tranquilas, selando-o no jogo com o Luxemburgo ou Israel. Tem muito mais piada ver a azia de Ibrahimovic enquanto celebramos o Apuramento debaixo do seu famoso nariz, do que fazê-lo em frente a luxemburgueses que nunca foram candidatos à Qualificação. Fica mais do que provado que, para o melhor e para o pior, a Seleção Portuguesa encontra-se talhada para jogos de vida ou de morte.
Para ser franca, tão cedo tal não será motivo de preocupação. Só temos nova fase de Apuramento daqui a dez meses. Antes disso temos um Mundial.
Aquilo que, neste momento, me preocupa é toda esta focalização em Ronaldo. Não que ache que a Seleção se tenha transformado em Ronaldo mais dez. Aliás, se há coisa que a Suécia provou é que não basta uma grande figura futebolística na proa para se fazer uma equipa. Ronaldo pôde brilhar porque os colegas o ajudaram - com destaque para Moutinho. No entanto, não sei se isso será suficiente quando, no Mundial, enfrentarmos equipas do calibre da Argentina, da Alemanha, da Espanha. Há dois anos, sentia que tínhamos mais equipa. Não foi só Ronaldo a marcar frente à Bósnia, também houve Nani, Hélder Postiga, Miguel Veloso. Eu sei que era um adversário de outro calibre mas, mesmo assim, há jogadores que, nessa altura, estavam melhor que agora. Nani é claro exemplo disso. Hugo Almeida também já viu melhores dias. Postiga não se deu bem com os suecos sexta-feira e, na segunda mão, nem sequer entrou em campo. Fábio Coentrão anda lesionado e também nem sempre tem sido regular no seu clube, o mesmo acontecendo com Meireles. Está bem, eles jogaram melhor do que se esperava neste playoff, mas não podemos fiar-nos para sempre na capacidade de superação dos jogadores portugueses. Da mesma maneira que não podemos a exigir a Ronaldo que resolva em todos os jogos.
Talvez o onze-base do Euro 2012 já não seja o melhor para a Seleção. Penso que é importante pensar-se seriamente em ir renovando a equipa. Não podemos alegar falta de alternativas, já não estamos como há dois ou três anos. As equipas B começam a dar os seus frutos, os recentes bons resultados dos Sub-21 são prova disso - por algum motivo chamamos "Esperanças" à Seleção dos miúdos. Nomes como Bruma, André Martins, William Carvalho, Wilson Eduardo, Adrien, Cedric, André Gomes, entre muitos outros. Jogadores como este possibilitarão a criação de uma Seleção pelo menos com potencial para uma boa campanha no Campeonato do Mundo em 2014.
Haverá tempo para isso ao longo dos próximos meses. Antes disso, ainda teremos o sorteio da fase de grupos, dia 6 de dezembro. Não vou perder tempo especulando quais seriam os melhores e piores adversários para nós pois a decisão não está em mãos humanas - no entanto, em princípio, analisarei os resultados do sorteio aqui no blogue, tal como fiz anteriormente.
Para já, saboreemos mais um pouco esta épica vitória, este momento de glória de Portugal, com óbvio destaque para Cristiano Ronaldo. O mundo inteiro ficou rendido, não apenas a Cristiano Ronaldo, o Melhor do Mundo a jogar futebol, mas também a Nuno Matos, o Melhor do Mundo a relatar futebol. Sem supresa. Já tenho vindo a elogiar o locutor há muito tempo, ainda antes de saber como ele se chamava. E o jogo de terça-feira foi, de facto, lendário.
Joseph Blatter foi obrigado, certamente, a engolir um sapo do tamanho do Mundo e a congratular Portugal e Ronaldo pela vitória. Quando a mim, ando tentada a enviar um ramo de flores ao senhor por este ter contribuído, não apenas para espicaçar o Ronaldo, catalisando-o para uma das melhores fases da sua carreira mas também por ter relembrado os portugueses que o madeirense merece, afinal de contas, o nosso carinho. Isto para não falar das suas hipóteses aumentadas de ganhar a Bola de Ouro este ano. Foi também nesse espírito que não me deixei irritar pelas tentativas baixas dos suecos de nos destabilizar, incluindo as da Pepsi sueca. Eles já foram suficientemente castigados em campo. Quanto ao Ronaldo, que quase se ia esquecendo de levar a bola para casa ("Ó Onofre, pede a bola do jogo!") faço minhas as sábias palavras de (dizem que é) Beto:
Não é preciso acrescentar mais nada.
No meio desta onda de amor a Cristiano Ronaldo, muitos têm-se afirmado orgulhosos por, no futuro, serem capazes de dizer aos filhos e netos que viram Ronaldo jogar. Eu direi mais do que isso, muito mais do que isso. Que vi Luís Figo, Rui Costa, Pedro Pauleta, Deco, Maniche representando a nossa Seleção. Vi e sofri com os penálties de Inglaterra, vi o Figo a chorar nos braços de Rui Costa, o Scolari apertando as bandeiras portuguesa e brasileira junto ao coração, os golaços de Maniche frente à Holanda, a Nelly Furtado a cantar na cerimónia de encerramento do Euro 2004, as lágrimas de Ronaldo poucas horas depois e, dois anos mais tarde, gritando "Estou aí!" em direção ao Céu, no final do jogo com Inglaterra. Pelo meio, já tinha sido apenas aquele miúdo do Sporting, com o nome de um grande jogador brasileiro, que um ano mais tarde se transferiu para o Manchester United. Fui vendo-o crescendo como jogador, estreando-se na Seleção, marcando pela Seleção, assisti ao vivo ao seu primeiro jogo como titular pelas Quinas. Vi-o marcar golo atrás de golo, fazer assistência atrás de assistência, sucedendo naturalmente a Luís Figo. Vi os ingleses exigirem a cabeça dele após o jogo com Inglaterra de 2006 e, meses mais tarde, renderem-se a ele após uma época fenomenal no Manchester United. Sempre melhorando até se transformar na máquina que é hoje.
Ao mesmo tempo, vi o Nani marcando um golo de pontapé de canto no seu jogo de estreia pela Seleção, celebrando golos com mortais. Vi o Quaresma marcando um golo de trivela. Vi o Hélder Postiga marcando, incansavelmente, com a camisola das Quinas, quase sem que ninguém reparasse. Vi o Miguel correndo como louco pelo campo. Admirei a garra daquele novato Fábio Coentrão no Mundial 2010. Vi Costinha, Ricardo Carvalho, Pepe, Eduardo, Rui Patrício salvando o couro nacional com as suas defesas.
Vi a Seleção em pedaços após o caso Queiroz e surgir, renascida, reconstruída em poucos dias por Paulo Bento, num épico jogo com a Dinamarca, no Dragão. Vi-os ganharem 4-0 à Espanha. Um ano mais tarde, noutro épico jogo, contra todas as expectativas de um ano e poucos meses antes, vi-os Qualificando-se para o Euro 2012. Vi-os saltarem todos para cima do Varela após ele salvar o jogo com a Dinamarca, enquanto eu e a minha irmã gritávamos como nunca na vida. Vi o Ronaldo dedicando os dois golos frente à Holanda ao filho que fazia anos nesse dia. Vi-os enconstando a campeã europeia e mundial Espanha às cordas. E, na passada terça-feira, vi Ronaldo selando a nossa Qualificação para o Mundial 2014 com um hat-trick, vi o Paulo Bento, que tantas vezes parece tão sossegado, a celebrar que nem um louco, vi a Seleção em peso enterrando Ronaldo vivo e ouvi Beto gritar-lhe:
- És o melhor do mundo, cara**o!
Digo tudo isto com muito orgulho, sentindo-me enormemente abençoada por ter nascido na altura certa, de modo a poder testemunhar e recordar tudo isto. Por ser adepta destes homens, os mencionados nesta entrada e os outros todos. É por isso que escrevo este blogue, que tenho a minha página, que coleciono fotos, que monto vídeos. Para poder recordar melhor, para poder encher os ouvidos dos meus filhos e netos com os grandes feitos da Seleção Portuguesa. E agora que estamos, finalmente garantidos no Mundial 2014, é meu desejo que este nos traga muitas mais histórias que mereçam ser recordadas e contadas.
Na passada terça-feira, dia 26 de março, a Seleção Portuguesa de Futebol defrontou, em Baku, no Azerbaijão, a congénere da casa. O jogo terminou com dois golos de vantagem para a equipa visitante, cortesia de Bruno Alves e Hugo Almeida, permitindo a Portugal amealhar três pontos que nos mantêm na corrida por um lugar no Mundial 2014.
Finalmente.
Mais uma vez, vi-o em casa, com a minha irmã. Desta feita, não se encontrava mais ninguém connosco, pelo que não nos contivemos nos gritos de treinadoras-de-sofá-de-sala (desta vez, não houve necessidade de chamar nomes feios aos jogadores). Os vizinhos que nos perdoassem mas não é todos os dias que temos jogos da Seleção.
É claro que, quando o nosso pai chegou a casa, decorria a segunda parte, tivemos de nos portar bem.
O jogo correu mais ou menos conforme eu previa. Foi outro dejá vu. Desta feita, repetiu-se o outro jogo com o Azerbaijão, em setembro do ano passado, em Braga. A nossa última vitória antes deste encontro. A Seleção entrou em campo solta, enérgica. Montou a tenda no meio campo azeri e lá permaneceu, atirando o barro à parede, manifestando os habituais problemas na finalização. A costumeira bola ao poste ("Porque isto não era um jogo da Seleção se não houvessem bolas ao poste!!!, disse a minha irmãzinha), os costumeiros falhanços do Hélder Postiga (mais sobre isso mais à frente). E eu ia perdendo cinco minutos de vida a cada ataque português, cada remate falhado. O mesmo acontecia com os contra-ataques azeris que, no entanto, nunca constituíram grande ameaça, tirando uma situação ou outra. A defesa portuguesa pareceu-me melhor neste jogo. Pelo meio, Pepe arranjou maneira de ver o segundo amarelo do Apuramento (Porquê, Pepe???? Porquê???), excluindo-se do jogo com a Rússia.
Às vezes penso que seria mais saudável fumar do que assistir a jogos da Seleção. Ao menos um cigarro, supostamente, acalma os nervos...
As coisas não mudaram muito na segunda parte. Eu sentia, contudo, que o golo português não tardaria. Mesmo que a equipa azeri não se tivesse reduzido a dez elementos (cortesia - uma boa parte, pelo menos - da fita que o Pepe fez). Em todo o caso, Paulo Bento não deu tempo aos azeris de se reorganizarem, fez Hugo Almeida entrar.
E os golos surgiram. Primeiro de Bruno Alves e depois de Hugo Almeida.
Depois de um golo e uma parvoíce em Israel, no Azerbaijão Bruno Alves foi, indiscutivelmente, o herói. Como, de resto, já havia sido no jogo de setembro. É, aliás, curioso: já em 2007, também em casa azeri, o Bruno Alves e o Hugo Almeida haviam sido os artilheiros de serviço. Bem como em julho de 2009, na Albânia. Contando com a de terça-feira, estas três vitórias constituíram um importante ponto de viragem para as respetivas Qualificações.
O Bruno Alves e o Hugo Almeida não foram, contudo, os únicos a ajudar a Equipa das Quinas. Moutinho também se destacou depois de "reaprender a jogar em três dias" - não, não me vou pôr aqui a debitar postas de pescada sobre a polémica entre Pinto da Costa e Paulo Bento. Bem como Danny e, sobretudo, Vieirinha, que honrou a camisola de Cristiano Ronaldo.
Há quem diga que se notou a falta de Ronaldo e Nani. Não notei assim muito, para ser sincera. Obviamente a velocidade do Ronaldo e o inconformismo do Nani fazem sempre falta e talvez nos tivessem facilitado a vida na terça-feira. Mas a verdade é que, como já afirmei antes, o jogo não diferiu muito do de setembro passado e nesse tivemos os nossos extremos habituais.
De resto, não posso deixar de louvar a atitude do nosso capitão que, apesar de ter ficado excluído do jogo de terça-feira, fez questão de permanecer com a equipa.
Apenas fiquei um bocadinho triste por o Postiga não ter marcado desta vez. E, claro, como neste jogo não marcou, já caiu tudo em cima dele.
Bem, caem sempre em cima dele, quer marque quer não, não será por aí...
Não vou dizer que esteja propriamente satisfeita com o desempenho do Hélder. Começo a achar que ele falha demasiadas oportunidades flagrantes mas ainda me irrita que as pessoas se esqueçam tão facilmente de tudo o que ele tem feito pela Seleção, em particular no passado recente.
A ver o que acontece quando ele deixar a Seleção sem que haja um ponta de lança de jeito para o substituir.
Em todo o caso, apesar de achar que o Hélder se deve manter na titularidade, pelo menos por enquanto, o Hugo Almeida provou merecer mais oportunidades de jogar. E talvez seja bom para o Postiga sentir-se um bocadinho ameaçado.
Foi, de resto, uma das questões desta dupla jornada: o conservadorismo de Paulo Bento, a sua relutância em recorrer a jogadores fora do seu núcleo duro habitual. Eu até compreendo, por um lado. Já antes falei aqui da nossa excessiva dependência do onze-base do Euro 2012. São jogadores que já deram provas de qualidade, que já se conhecem uns aos outros há vários anos, possuem uma rotina. Compreendo que o Selecionador tenha medo de arriscar, em particular em jogos desta importância. Deus escreveu direito em linhas tortas nesta dupla jornada: não fosse a lesão de Nani e a expulsão de Ronaldo, Vieirinha não teria uma oportunidade de mostrar o seu valor. Quem é que, no seu juízo perfeito, abdicaria voluntariamente de Ronaldo ou mesmo de Nani?
Por outro lado, não sou capaz de ignorar aquilo que vem sempre à baila em todos os debates sobre a Seleção: o prazo de validade da equipa atual, a ausência de alternativas. Os comentadores desportivos têm todos razão: precisamos de sangue novo ou, daqui a uns anos, não haverá Seleção para ninguém!
Não existe muito a fazer em relação a isso, pelo menos para já. Por agora, o mais importante é a Qualificação, o facto de termos vencido um jogo pela primeira vez desde setembro. Finalmente. Depois de cinco jogos sem ganhar, na maior parte das vezes com exibições roçando o medíocre, tivemos finalmente uma vitória. Pode não ter sido uma vitória brilhante mais foi uma vitória. Também não esperava muito mais, para ser sincera. Isto sim, isto é Portugal! Não tanto como noutras ocasiões mais mais do que tínhamos recebido nos meses anteriores. Estamos vivos de novo!
Cerca de duas horas antes do início do jogo, apareceram na Internet excertos de músicas do álbum novo dos Paramore, homónimo. Uma delas, Last Hope, é já uma das minhas preferidas. Há um verso que se destaca: "It's just a spark, but it's enough to keep going...". A tradução é algo tipo: "É apenas uma faísca mas chega para me fazer continuar". E, curiosamente, este verso traduz perfeitamente a maneira como me sinto relativamente à situação da Turma das Quinas.
Ganhar aos azeris pode não ter sido mais do que a nossa obrigação para muitos mas, para mim, foi um pouco mais do que isso. Foi algo que nos devolveu a esperança. Com um pouco de sorte, será uma viragem de maré, será a faísca que nos incendiará para o resto da Qualificação. Começando pelo jogo com a Rússia, no Inferno da Luz.
Atenção! Quando falo aqui em fogo e incêndios é no sentido figurativo! O Estádio da Luz não precisa de mais incêndios!
A partir de agora temos de encarar um jogo de cada vez, como se estivéssemos numa fase final. Concentrarmo-nos em ganhar cada um à medida que forem chegando.
Mas haverá tempo para pensar nesses jogos. Faltam mais de dois meses para o próximo, até lá muita coisa pode mudar. Por agora, é-me suficiente o consolo de saber que a Seleção reaprendeu a ganhar, depois de todos estes meses de jejum. O que mais desejo, neste momento, é que não tenhamos outra desilusão tão cedo, que este consolo se prolongue o mais possível, que se torne mais forte em junho. Até lá...
Na passada quarta-feira, dia 14 de novembro, a Seleção portuguesa de futebol disputou no Estádio da Amizade, em Libreville, um jogo de carácter particular contra a seleçao local. O encontro terminou com o marcador assinalando dois golos para cada lado.
Nem o resultado, nem mesmo a exibição me surpreenderam, dadas as agravantes já listadas na entrada anterior e mais algumas. Como o estado do relvado, a humidade do ar e o facto de só se ter realizado um treino como preparar este jogo. Em praticamente todos os aspetos, foi um jogo de segunda linha, de qualidade menor. A equipa portuguesa era, tirando dois ou três jogadores, constituída por suplentes. Tal como já referi, o relvado assemelhava-se a um batatal. O árbitro, que até possuia cadastro nestas coisas, teve uma atuação desastrada.
Até o relato radiofónico era de segunda linha. Já vos tinha dito que só pude acompanhar o jogo desta forma. Só que o comentário não tinha a habitual emotividade rasando a histeria, que tanta graça empresta aos jogos mais aborrecidos. O jogo não dava azos a grandes entusiasmos, é certo, mas... A única coisa que se destacou neste relato foi o facto de, por ter confundido Éder com Edinho, o locutor insistir sempre em tratar o ponta-de-lança por Éderzito.
- O Éder que não leve a mal - chegou a dizer a certa altura.
Acho que vou também recorrer a esse diminutivo para me referir ao ponta-de-lança do Sporting de Braga aqui no blogue.
Foi um jogo deveras estranho. Os dois penálties, cobrados quase de seguida, foram um exemplo. Não sei se as três grandes penalidades que ajudaram a definir o resultado final eram todas legítimas. Já li todas as versões. Além do mais, o estado do terreno e a agressividade dos gaboneses estiveram a isto de atirar mais uns quantos Marmanjos para a já longa lista de lesionados. O comentador chegou a dizer coisas omo:
- Vítor Pereira deve ter ficado com os cabelos em pé com este lance.
Embora eu tivesse desejado a vitória, sobretudo depois do golo do Hugo Almeida, Portugal não a merecia. O empate acaba por ser o resultado mais justo. Tal como disse anteriormente, não estava à espera de muito melhor.
Pontos, contudo, para a estreia de Pizzi e de Éderzito.
Choveram críticas ao timing deste particular, numa altura intensa para aos clubes - apesar de há anos ser prática comum marcarem-se jogos da Seleção para meados de novembro, quer particulares, quer oficiais. Se Paulo Bento e/ou a Federação dispensassem esta data, não faltaria quem criticasse o desperdício de uma oportunidade para afinar armas. Isso aconteceu em agosto de 2010.
Há quem critique o facto de a Seleção ter aceite participar no jogo por dinheiro - é, de facto, uma área moralmente cinzenta. Contudo, ainda hoje se fala dos estádios do Euro 2004, supostamente pagos com o dinheiro dos contribuintes. A FPF arranja uma maneira alternativa de obter financiamento para projetos como a Casa das Seleções e atira-se tudo ao ar.
Uma das vozes mas sonantes neste coro de críticas pertence a Pinto da Costa. Sem surpresas. Só os mais ingénuos é que acreditaram nas palavras de apoio à Equipa de Todos Nós, saídas da boca deste senhor. Gostei da resposta de Paulo Bento, aconselhando-o a entender-se com a Federação e a não perturbar o seu trabalho de Selecionador. Nenhum dirigente de clube tem o direito de interferir na Turma das Quinas. Mas não percebi a referência à seleção colombiana...
De qualquer forma, apesar de isso me emprestar assunto para o blogue e página do Facebook, espero que a polémica não dure muito.
Eu própria não vejo grande utilidade neste particular, para ser sincera. Tirando o teste de alternativas e, lá está, o cachet. Preferia que o jogo se tivesse realizado mais perto de casa e em melhores condições. Há quem diga que os jogadores podiam ter-se esforçado um bocadinho mais, mas duvido que o fizessem caso tivessem de repetir o jogo.
Como tal, é bom que essa Cidade do Futebol seja mesmo espetacular, já que tivemos de levar com um jogo destes para financiá-la.
Paulo Bento afirmou, na Conferência de Imprensa de antevisão a este jogo, que as pessoas devem apoiar a Equipa de Todos Nós, não apenas durante as fases finais, mas também em jogos menores, como este. Eis algo que deveria ter sido dito há muito tempo. No entanto, jogos como o de quarta-feira não persuadem ninguém a apoiar a Seleção. Se até eu me senti entediada com o jogo, sendo como sou...
Em princípio, haverá outro particular dia 6 de fevereiro do próximo ano. Com um pouco de sorte, será frente a um adversário melhorzito. Chegou a falar-se da Espanha mas, pelo que percebi, ainda nada está confirmado. Outro adversário possível é o Brasil, visto que estão previstos dois particulares com eles no próximo ano. Espero bem que seja um adversário desse calibre, contra quem não se poderá falar de falta de motivação, desculpa tão invocada a propósito de jogos particulares. Espero, sobretudo, que, independentemente do adversário, seja um jogo que convença as pessoas, que me convença a mim, que vale a pena apoiar a Equipa de Todos Nós, independentemente do caráter do jogo, do adversário e da altura do ano.