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O Meu Clube É a Seleção!

Mulher de muitas paixões, a Seleção Nacional é uma delas.

Portugal 1 Holanda 0 – Quebrando mais algumas maldições

-la-nations-league-al-portogallo-hin1.jpgNo passado domingo, dia 9 de junho, a Seleção Portuguesa de Futebol venceu a sua congénere holandesa por uma bola sem resposta, em jogo a contar para a final da Liga das Nações, no Estádio do Dragão, no Porto… e eu estive lá! A Seleção Nacional tornou-se, deste modo, a primeira a levantar o troféu da Liga das Nações.

 

Sem mais nem menos, quase sem darmos por ela, ganhámos o nosso segundo título em seleções A. Apenas o nosso segundo título de sempre e apenas três anos após ganharmos o primeiro.

 

Aviso desde já, este texto focar-se-á mais na minha experiência indo para o Porto, vendo o jogo e celebrando a vitória depois do que o jogo em si.

 

Eu e a minha irmã fomos de comboio até à Invicta durante a tarde de domingo. O nosso hotel – que era mais uma espécie de Airbnb do que propriamente um hotel – ficava perto da estação de São Bento. Deu para ver desde o início que a cidade estava convertida num estádio: em todo o lado, pessoas equipadas não só com as cores de Portugal mas também da Holanda e da Inglaterra. Mal saímos em São Bento, aliás, vimos um grupo de adeptos ingleses em cânticos – talvez celebrando a vitória perante a Suíça, no jogo pelo terceiro lugar.

 

Era um ambiente agradável: futebolístico, mas sem a tensão associada a adeptos mais fanáticos. É uma das melhores partes de organizarmos um campeonato de seleções.

 

Infelizmente, eu e a minha irmã saímos para o Estádio um bocadinho tarde demais. Tínhamos pensado apanhar um autocarro na Praça da Liberdade, perto dos Aliados. No entanto, depois de uns dez, quinze minutos à espera – juntamente com uns quantos adeptos ingleses, também tentando chegar ao Dragão – disseram-nos que, como várias ruas estavam cortadas ao trânsito, a circulação dos autocarros estaria condicionada. O melhor seria apanharmos o Metro.

 

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Esta devia ter sido a nossa primeira opção (erro de amadoras…) e, agora, já eram sete da tarde. Vimos no Google Maps que o trajeto mais rápido seria através da estação do Bolhão, a uns dez minutos a pé. Umas raparigas inglesas, ainda mais desorientadas do que nós, pediram-nos para nos acompanharem e lá fomos, em passo acelerado. No Metro do Bolhão, estavam filas consideráveis nas bilheteiras, mas os funcionários junto às máquinas, ajudando os adeptos estrangeiros, aceleraram bastante o processo. Nem sequer tivemos de esperar muito pelo Metro, depois de comprarmos os bilhetes.

 

Ainda assim, chegámos ao Estádio do Dragão em cima da hora. Até esse momento, o atraso era exclusivamente nossa culpa. O que aconteceu a seguir não foi.

 

Os bilhetes foram comprados vários meses antes da fase final, através do site da UEFA. Para ter acesso aos mesmos, no entanto, tive de sacar uma aplicação especial para o efeito e preencher os meus dados pessoais para associar ao bilhete. Tinha a opção de ficar com os dois bilhetes, mas achei por bem transferir o segundo para a minha irmã, caso nos separássemos no caminho para o Estádio, por um motivo qualquer – e ela teve também de preencher com os seus dados.

 

Isto foi tudo muito bonito até chegarmos ao Dragão. Haviam dois checkpoints onde tínhamos de mostrar os bilhetes. No primeiro não houve problemas. No segundo, a minha irmã não conseguiu entrar. Pelo que eu percebi (posso estar errada), no caminho entre o primeiro e o segundo checkpoint, os dados do bilhete dela desapareceram. Enquanto esperávamos que se resolvesse a situação, ouvimos o hino do lado de fora (o que em retrospetiva não foi grave, teríamos nova oportunidade para cantá-lo nessa noite) e perdemos os primeiros cinco minutos do jogo.

 

 

Porque é que a UEFA não emitiu os bilhetes em PDF, como noutros sítios? Qual é a vantagem em pôr-se com mariquices tecnológicas que, em pelo menos metade dos casos, complicam em vez de facilitarem?

 

Enfim, fica a minha reclamação.

 

No meio disto tudo, houve tempo, ao menos, para entrar naquilo que me pareceu ser um vídeo de apanhados: um francês qualquer pediu-me para fazer a celebração do Ronaldo, com o “SI!!!!”. Quando a fiz, eles pegaram numa bola e fizeram-me uma cueca.

 

Se por acaso alguém der com o vídeo, publiquem o link nos comentários.

 

Finalmente chegámos aos nossos lugares, já com o jogo em curso. O Estádio do Dragão é lindo – e existe algo especial em ver jogos à luz do dia. 

 

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O ambiente estava fantástico. Ficámos sentadas perto da claque, que passou o jogo todo a cantar, puxando tanto pelo resto do público como pelos Marmanjos.

 

Também ajudava o facto de a Seleção estar a jogar bem – melhor do que eu estava à espera, melhor do que se via há algum tempo. Rúben Dias, por exemplo, teve uma exibição imperial – um adjetivo que costuma estar reservado para Pepe. É sempre uma delícia ver Bernardo Silva conseguindo linhas de passe entre adversários com o dobro do tamanho dele – estou cada vez mais rendida ao miúdo.

 

Por sua vez, Bruno Fernandes estava cheio de ganas. Só na primeira parte fez oito dos doze remates portugueses na primeira parte (como diziam no resumo da RTP, ele “tentou de todo o lado”). A Holanda só rematou uma vez.

 

Um pormenor engraçado: durante a primeira parte, a baliza holandesa estava do lado oposto ao nosso. Quando os portugueses atacavam, conseguíamos ver o público atrás da baliza levantando-se em massa, para o caso de haver golo.

 

Na segunda parte, a superioridade de Portugal transbordou finalmente para o marcador. A jogada do golo começou em Raphael Guerreiro, que fez um belo passe para Bernardo Silva. O miúdo consegue evitar os centrais holandeses, diz que ouviu Guedes a gritar “Bernardo!” nas costas dele. Fez o passe para trás, sem sequer saber ao certo onde estava o Gonçalo. Este, de qualquer forma, apodera-se da bola e não perdoa: dispara sem piedade para as redes holandesas.

 

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Tivemos a sorte, não só de o golo ter sido marcado quando a baliza holandesa estava do nosso lado, mas também de Guedes e o resto da equipa ter vindo festejar para perto da nossa bancada. Guedes tem tido desempenhos inconsistentes na Seleção – por exemplo, desiludiu um pouco durante o Mundial 2018, apesar de ter tido boas exibições em particulares anteriores. Mas já tinha estado bem no jogo com a Suíça, ao assistir para o terceiro golo, e agora deixou a sua marca na História da Seleção, ao lado do eterno Éder.

 

Na última meia hora, a Holanda tentou, naturalmente, anular a vantagem. Foco em “tentou”. Tive algum receio de que, de facto, houvesse empate, mas Portugal defendeu bem o resultado. Meia hora depois do golo, o árbitro apitou três vezes e sagrámo-nos campeões da Liga das Nações.

 

Como seria de esperar, houve festa no Dragão. Como poderão ver nos vídeos, filmei parte dos festejos (peço desculpa desde já se estraguei o segundo vídeo com os meus dotes vocálicos – ou a falta deles). Felizmente a entrega da Taça foi no relvado e não na tribuna, como no Europeu. Conseguimos vê-la nas bancadas.

 

Só não deu para ver a careta de “bitch, please” de Ronaldo.

 

 

Não ficámos por aqui. Pouco depois de sairmos do Estádio, descobrimos que a celebração continuaria nos Aliados, junto à Câmara Municipal. Eu e a minha irmã fomos, claro – ficava de caminho para o nosso hotel e, já que tínhamos vindo até ao Porto, aproveitávamos a festa até ao fim.

 

Uma das melhores partes da noite foi andar pelas ruas da Invicta com uma bandeira (fornecida no Dragão) aos ombros. Se pudesse andaria assim todos os dias – ou, vá lá, quando fosse assistir a jogos da Seleção. A bandeira em si veio para Lisboa, o cabo ficou – não cabia na mala e não dava jeito trazê-lo. Talvez arranje outro…

 

Tal como Cristiano Ronaldo, esta foi a minha primeira vez nos Aliados. Não fiquei desiludida. Veio muita gente mas não houve confusão. Enquanto esperávamos pela Equipa de Todos Nós – e eles ainda demoraram um bocadinho – entretive-me dançando, apesar de odiar metade das músicas. Só as danço mesmo quando o rei faz anos… ou quando a Seleção ganha um troféu.

 

Eles finalmente chegaram e fizeram discursos. Confesso que me senti um bocadinho intrusa quando Cristiano Ronaldo, Fernando Santos e os outros dirigiram as palavras à cidade do Porto. No entanto, também eu estou grata à Invicta. Eles fizeram um ótimo trabalho organizando a Liga das Nações, bem como Guimarães. Mereciam aquela homenagem.

 

E, claro, houve hino. Não podia faltar. Compensou tê-lo perdido na final.

 

 

Em suma, foi uma das melhores noites da minha vida – por ter tido a oportunidade de ver a Seleção ganhar um título ao vivo, por ter podido festejar com eles. Um aspeto curioso: estive tanto no início da nossa jornada na Liga das Nações como na conclusão da mesma.

 

Faz-me pensar noutras ocasiões em que estive assim, com a Seleção. Antes a final do Euro 2004, debaixo de um viaduto perto da Ponte Vasco da Gama, acenando ao autocarro da Seleção. Depois do Mundial 2006, no Jamor, Luiz Felipe Scolari prometendo-nos que um dia celebraríamos uma grande vitória. Depois das meias-finais do Euro 2012, quando fui ao aeroporto para tentar consolar tanto os jogadores como a mim mesma por termos falhado a final. Quatro anos depois, no mesmo aeroporto, desta feita para celebrar o primeiro título, o primeiro final feliz.

 

Começam a ser muitos anos apoiando a Seleção, muitas recordações, tanto boas como más. E ainda nem fiz trinta anos. Tenho uma vida inteira com a Equipa de Todos Nós à minha frente.

 

Se fiquei tão feliz com este troféu como com a conquista do Europeu, há três anos? Com algo semelhante àquele êxtase incrédulo que durou semanas, se não tiver durado meses? Não. Ninguém está.

 

Compreende-se. Esta é a primeira edição da Liga das Nações. Tenho a impressão que há muita gente por aí, cá em Portugal e lá fora, que ainda não percebeu ao certo como isto funciona e/ou não lhe dá importância. É normal. Na primeira edição do Europeu, há quase sessenta anos, países como Inglaterra, Alemanha Ocidental e Itália recusaram-se a participar precisamente por não levarem a prova a sério.

 

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Além disso, o 10 de julho foi a nossa primeira vitória após décadas e décadas de tentativas falhadas. Com a Liga das Nações conseguimos à primeira.

 

Em suma, isto é uma espécie de Taça da Liga para seleções europeias. Não é o mesmo que ganhar um Europeu ou Mundial, mas um título é um título. O prestígio virá com o tempo.

 

Na verdade, a melhor parte desta vitória é o facto de, à semelhança do que aconteceu com Euro 2016 em maior escala, quebrar alguns mitos (cheguei a acreditar um bocadinho nalguns deles). Nestes três anos, tanto cá em Portugal como lá fora, tem havido quem defenda que a conquista do Europeu foi um mero golpe de sorte, Deus Nosso Senhor presenteando Portugal através de Éder, um milagre que não se tornará a repetir.

 

Bem, estavam enganados – ficou provado. Tornámos a vencer uma final europeia. Por muito que isso custe a alguns, somos uma das melhores seleções da Europa, se não formos a melhor – pelo menos quando fazemos as coisas bem. E Fernando Santos contribuiu para isso – por muito que isso custe a alguns, mais uma vez.

 

Ficou também provado que não tem de ser sempre Ronaldo a decidir. Mais, a propósito do meu dilema no texto anterior: é possível conjugar os super-poderes do Capitão com os talentos desta geração mais jovem.

 

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Dito isto, não retiro as críticas que fiz anteriormente a Fernando Santos e à Seleção em geral – sobretudo após os jogos da Qualificação para 2020. Fernando Santos nem sempre acerta – como qualquer ser humano. Mas já fez mais do que qualquer um dos seus antecessores. Merece a nossa confiança e, sobretudo, a nossa gratidão.

 

À semelhança de muita gente, sinto-me fortemente tentada a falar já na renovação do título europeu, daqui a um ano. Afinal de contas, esta Liga das Nações é um campeonato europeu jogado de outra forma. Se já ganhámos ambas as versões… Mas ainda é cedo para pensarmos nisso – até porque começámos o Apuramento com o pé errado e temos de corrigi-lo.

 

Quero concluir deixando um agradecimento à cidade do Porto, a Fernando Santos, aos Marmanjos e a toda a estrutura da Seleção por mais um título, mais uma noite inesquecível. E, claro, às pessoas que têm seguido tanto este blogue como a sua página no Facebook. Tenho tido alturas nos últimos anos em que me sinto menos motivada para este blogue, mas é sempre um prazer escrever sobre vitórias como esta. E, apesar de estar a tentar manter os pés na Terra, quer-me parecer que, a médio/longo prazo, nos esperam mais noites como esta.

 

Mal posso esperar.

 

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Tanque de tubarões

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Na próxima quarta-feira, dia 5 de junho, a Seleção Portuguesa de Futebol defronta a sua congénere suíça no Estádio do Dragão, em jogo a contar para- a final four da Liga das Nações. Se vencer, disputará a- final no mesmo estádio no próximo domingo, dia 9 de junho. Se perder, disputará o terceiro lugar na prova no mesmo dia, no Estádio Afonso Henriques. Seja qual for o jogo de domingo, eu estarei lá!

 

Este é o quarto ano consecutivo em que Portugal participa numa fase final de um campeonato de seleções. Sabe bem, não haja dúvida. É uma competição curtinha, apenas dois jogos, no entanto. Não difere muito das habituais jornadas de Qualificação desta altura do ano,  na prática.

 

Isto é, se  não tivermos em conta que, nessas jornadas, encontramos equipas como a Rússia ou o Azerbaijão. Nesta fase final temos a Suíça, a Inglaterra e a Holanda. Um nível completamente diferente.

 

Além de que há um troféu que podemos ganhar. E que é uma prova organizada por nós – a primeira desde o Euro 2004.

 

Já tinha referido antes que tenho bilhetes para a Liga das Nações, para mim e para a minha irmã. Temos bilhetes Super Sunday – ou seja, ou para a final ou para o jogo de atribuição do terceiro e quarto lugares, consoante o resultado de Portugal perante a Suíça.

 

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Ora, inteligente como sou, só no outro dia, quando estava a preparar esta crónica é que percebi que o jogo do terceiro lugar será no Estádio Afonso Henriques, em Guimarães. Pensava que ambos os jogos seriam no Dragão! Já tinha marcado a estadia no Porto, para a noite de 9 para 10! Tive um mini-ataque de pânico, confesso. 

 

Na prática, não faria grande diferença se tivesse descoberto mais cedo. Não dá para saber onde jogará a Seleção no domingo até à noite de 5 de junho. Ninguém no seu juízo perfeito iria esperar até essa altura para marcar estadia: a menos que estivessem dispostos a pagar fortunas ou a arriscar não encontrarem sítio onde dormir. Iríamos sempre passar a noite no Porto. O  jogo do terceiro lugar começa às duas da tarde. É preferível ir de Guimarães para o Porto depois desse jogo do que fazer o percurso inverso depois da final – que, se tiver prolongamento e penáltis, poderá terminar perto das onze da noite.

 

A única coisa que faria de diferente, se tivesse sabido antes, seria pôr a hipótese de marcar estadia para a noite de 8 para 9 – mesmo assim, não dava jeito à minha irmã passar duas noites fora.

 

Dará para gerir se formos ao jogo do terceiro lugar. Teremos de levar o carro (em vez de irmos de comboio ou autocarro), pois não teremos tempo de deixar a(s) mala(s) no hotel, no Porto. Se saírmos cedo de Lisboa, temos tempo para chegar a Guimarães.

 

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Será muito mais fácil, no entanto, se Portugal for à final. O jogo será só ao fim da tarde. Poderemos ir tranquilamente de autocarro ou de comboio de manhã. À tarde, haverá tempo para, talvez, dar uma volta pela cidade ou para descansar antes do jogo. E, confesso, gostava um bocadinho mais de ir ao Dragão do que ao Afonso Henriques. 

 

É por isso que espero que a Seleção se Qualifique para a final: dá-me mais jeito. E também porque, indo à final, podemos lutar pelo título, apenas o segundo da nossa História, blá blá blá, aspetos secundários.

 

Fernando Santos anunciou os Convocados para esta prova na semana passada. A Lista não difere radicalmente da anterior. André Silva ficou de fora pois, segundo consta, tem andado lesionado. Não há muito mais a dizer.

 

Como já aconteceu algumas vezes antes, estes primeiros dias da preparação decorreram em regime aberto, como nos clubes. Só hoje (domingo) começa a concentração a sério, em Espinho. Tenho pena que Cristiano Ronaldo não tenha participado na final da Liga dos Campeões, após três seguidas, mas, aqui entre nós que ninguém nos ouve, estou um bocadinho aliviada. Imaginem! Jogar a final da Liga dos Campeões num sábado e, na quarta-feira seguinte, jogar uma meia-final, também de nível europeu? E uma final ou jogo de terceiro lugar no domingo seguinte?

 

O mais certo era Ronaldo pedir para ficar de fora. Eu não o censuraria – ele já vai a caminho dos 35 (!!!!). Além disso, nem sequer participou na fase de grupos. Poderia haver quem o considerasse justo.

 

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Nesse aspeto, os nossos amigos ingleses estão tramados, já que sete dos seus Convocados jogaram a final da Liga dos Campeões. Mas com o mal dos nossos adversários posso eu bem – e não acho que seja garantia de facilidades. Mais sobre isso adiante.

 

Aliás, sendo esta uma fase final com apenas quatro participantes, não é de todo razoável esperar facilidades, de maneira nenhuma. Dito isto, acho que tivemos um bocadinho de sorte ao apanharmos a Suíça das meias-finais – só mesmo porque disputámos a Qualificação anterior com eles, logo, conhecêmo-los relativamente bem. Ainda assim, a Suíça é uma das duas únicas equipas que nos venceram em jogos oficiais no mandado de Fernando Santos. É certo que conseguimos vencê-los quando os enfrentámos em casa… mas mesmo assim.

 

Na Liga das nações, os suíços ficaram no grupo com a Bélgica. Conseguiram o apuramento no último jogo da fase de grupos, precisamente perante os belgas: estiveram a perder por 2-0, mas viraram o resultado para 5-2. Haris Seferovic, do Benfica, assinou um hat-trick. Não vai dar para brincar perante eles.

 

Já agora, aproveitamos a boleia e falamos já da Inglaterra e da Holanda. Afinal de contas, iremos enfrentar um deles no jogo de domingo, mais vale.

 

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A Holanda é teoricamente nossa freguesa, como dizia Luiz Felipe Scolari. Na prática, da última vez que nos cruzámos com eles, num particular, a coisa coisa não correu bem para o nosso lado. Apesar de terem falhado tanto o Euro 2016 como o Mundial 2018, os holandeses têm estado em ascensão no último ano. Partilharam o grupo da Liga das Nações com a França e a Alemanha e sobreviveram. Venceram a França por 2-0 na penúltima jornada. Aos 84 minutos do último jogo estavam a perder por 2-0 com a Alemanha. No entanto, conseguiram empatar, Qualificando-se para a fase final à frente dos nossos amigos franceses.

 

Nada mau, tendo em conta o seu histórico nos anos anteriores.

 

Por fim, vale a pena recordar que quatro dos seus Convocados jogam no Ajax, a equipa sensação desta época na Liga dos Campeões.

 

Por sua vez, os ingleses são, a meu ver, os grandes favoritos a vencer esta competição. São igualmente uma equipa em rumo ascendente, jovem e talentosa. Ficaram em quarto no Mundial 2018 e qualificaram-se para esta final four num grupo que incluiu a Espanha e a Croácia. O facto de a Premier League ter tido quatro equipas nas finais europeias de clubes – e de sete dos seus Convocados terem sido finalistas da Liga dos Campeões, como referi acima – é um bom indicador da qualidade do futebol inglês.

 

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Em suma, temos adversários de qualidade, que para cá chegarem deixaram pelo caminho os três primeiros classificados no Mundial 2018. Na comparação, nós deixámos pelo caminho “só” a Itália, que já viu melhores dias, e a Polónia que, com o devido respeito, não é propriamente um dos grandes da Europa.

 

Não tenham ilusões, nós não somos favoritos. A única coisa que temos a nosso favor é o facto de sermos Campeões Europeus (há quase três anos… muita água já correu entretanto) e de jogarmos em casa. Vamos estar a nadar num tanque de tubarões (isto não era o nome de um reality show qualquer?). Apenas três, mas não deixam de ser perigosos.

 

Devo dizer que podia estar mais confiante. Como se o calibre dos nossos adversários não fosse suficiente para nos intimidar, não me esqueci do que aconteceu nos nossos últimos dois jogos. Estou com um bocadinho de medo que façamos exibições fraquinhas outra vez, que Fernando Santos se ponha a inventar, que as estratégias se centrem demasiado em Cristiano Ronaldo e prejudiquem os outros Marmanjos. Sei que temos jogadores de qualidade suficiente para lutarmos pelo título – mas tenho medo que essa qualidade não venha ao de cima.

 

Pode ser que até venha. Pode ser que, de uma maneira tipicamente nossa, nos superemos perante o calibre destes adversários e o contexto de mata-mata. Quem sabe? Ainda somos Campeões Europeus. E vamos jogar em casa – da última vez que organizámos uma fase final europeia, a coisa não correu mal.

 

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Apesar da minha pouca confiança, não deixo de acreditar. Não enquanto for possível. Espero que consigamos, pelo menos, ir à final. E vou querer desfrutar – não é todos os dias que vemos a nossa Seleção jogar contra os grandes da Europa. Ao vivo, no meu caso.

 

Acompanhem comigo o nosso percurso neste mini-tanque de tubarões tanto neste blogue como na página do Facebook.

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Na passada segunda-feira, dia 26 de março, a Seleção Portuguesa de Futebol perdeu contra a sua congénere egípcia por três bolas sem resposta, em jogo de carácter amigável no Estádio de Genebra, na Suíça.

 

Quem foi a parva que pensou “Ai e tal, eles são nossos fregueses, não há de ser muito difícil”, quem foi?

 

Em minha defesa, a atitude dos Marmanjos, sobretudo no início do jogo, não terá sido muito diferente.

 

Voltei a perder a primeira parte do jogo, mas desta feita não me importei nadinha. Segundo a minha irmã, os jogadores estiveram por ali a brincar, até que, quando deram por ela, tinham levado três. Eu mesma vi, no resumo em vídeo, os portugas ali especados a olhar, nas jogadas que resultaram nos golos. Sinceramente, WTF?!?!

 

Agora que penso nisso, não me posso queixar da minha sorte. Da última vez que levámos com três golos sem resposta em quarenta e cinco minutos, também não tive de ver, por causa do trabalho. Ou será que é a minha “presença” que evita desgraças como esta?

 

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Havemos de voltar a falar do nosso último jogo com a Alemanha mais à frente. Regressando a este particular, depois de uma primeira parte mesmo muito má, a segunda parte terá sido melhorzita. Não que tenha sido alguma coisa de especial, mas sempre deu para não sofrer mais golos. Podíamos, até, ter conseguido reduzir a desvantagem… se o João Cancelo não se tivesse feito expulsar sem necessidade.

  

Depois desta, e de já ter tido culpas no cartório da última vez que tínhamos perdido, há um ano, Cancelo deve perder o comboio para o Mundial. É uma pena, o miúdo parecia ter tanto potencial no início da Qualificação… Mas talvez seja melhor Chamar Nélson Semedo ou Ricardo Pereira para aquela posição. Ou mesmo André Almeida.

 

Voltando ao jogo, com apenas dez em campo, só dava mesmo para manter o resultado. Ainda assim, Gonçalo Guedes e André Silva tiveram cada um uma oportunidade de chegar ao golo de honra.

 

Na verdade, a parte mais interessante destes quarenta e cinco minutos foi a invasão de campo. Veio-se a descobrir mais tarde que os adeptos em questão eram um humorista/YouTuber e o seu assistente e que aquilo fora tudo planeado. Tudo muito giro e tal… se não fosse a parte do beijo. Não sejamos hipócritas, se o Cristiano fosse uma mulher ninguém acharia piada. Em tempos de #MeToo, chamemos os bois pelos nomes: aquilo foi assédio.

 

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Mas admito que a cara de frete do Ronaldo teve piada.

 

Tirando esta situação, no entanto, os Marmanjos não se podem queixar dos adeptos portugueses no Estádio de Genebra: mesmo a perder por 3-0, não deixaram de puxar por Portugal e de cantar, inclusivamente o Pouco Importa (o que é, no mínimo, estranho num jogo como aquele…). Compreende-se: não é todos os dias que os emigrantes têm a hipótese de ver a sua Seleção ao vivo, é claro que eles vão aproveitar.

 

A Seleção em si é que fez muito pouco por merecer esse apoio.

 

E é isto. Não digo que foi uma noite para esquecer, porque temos mesmo de aprender com os erros que cometemos. Nem que as únicas coisas que tenhamos aprendido sejam, como diria Thomas Edison, aquilo que não resulta. Está visto, por exemplo, que a maneira como jogámos nesta dupla jornada, sobretudo no jogo com a Holanda, não resulta. Ainda menos resultam as invenções de Fernando Santos neste jogo, conforme explicam aqui (no que toca a estes aspetos mais técnicos, prefiro dar a palavra a outros).

 

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O Selecionador, de resto, assumiu a responsabilidade pela derrota, afirmando mesmo que Portugal tem de “voltar a ser a equipa rigorosa do Euro”. Eu concordo por completo até porque fiquei um bocadinho apreensiva com a goleada que os espanhóis impuseram aos argentinos.

 

Admito, no entanto, que isso vem um pouco influenciado pela onda de pessimismo entre os adeptos portugueses, após o jogo com a Holanda (a Argentina não tinha muitas das suas maiores estrelas, como Lionel Messi, Di Maria e Aguero, a jogar). É um bocadinho hipócrita e tipicamente português: como reza aquele meme do Joker, fazemos a nossa melhor Qualificação em números e uns quantos particulares aceitáveis, ninguém liga. Fazemos um particular mau, cai o Carmo e a Trindade.

 

Ainda no outro dia comentei que estes particulares raramente espelham o verdadeiro valor de uma equipa – tanto o nosso como o de Espanha e o do Irão, que também teve um bom resultado num particular. Além disso (conforme já disse noutra ocasião, acho eu), depois de ter sobrevivido ao nosso desempenho no Mundial 2014, destaque para o jogo com a Alemanha (essa sim, uma derrota verdadeiramente destrutiva e traumática), não será um mísero particular a tirar-me o sono.

 

Mas fico chateada. Estivemos quatro meses sem jogos da Seleção. Hoje em dia lido melhor com a espera do que há uns anos e, como referi antes, já não me entusiasmo muito com jogos como estes. Mesmo assim, estava à espera de um bocadinho mais do que as exibições sofríveis nesta dupla jornada.

 

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Em todo o caso, é bom que isto tenha acontecido agora, a setenta e cinco dias do Mundial, quando ainda há tempo de corrigir. Estou disposta a levar com um par de jogos maus nesta altura do campeonato, em troca de jogos bons quando for a doer. Fernando Santos sai desta dupla jornada com imenso trabalho para casa. Se ele tem por objetivo ganhar o Mundial, tal como tem pregado, vamos precisar de mais.

 

Entretanto, eu mesma já ando a preparar o Mundial à minha maneira. Este blogue vai completar dez anos online em Maio e não vou deixar a ocasião passar em branco. Já alinhavei o primeiro rascunho dessa publicação. Da mesma forma, estou a pensar começar a escrever a habitual crónica pré-Convocados algures nos próximos dias. Eu sei que ainda falta cerca de um mês e meio para a Convocatória e início do estágio, mas ando com menos tempo para escrever e, com dois blogues para gerir, acho melhor deixar isto adiantado.

 

Saio desta jornada dupla um bocadinho desiludida, mas não é grave. Tenho as minhas reservas relativamente ao Mundial, como lerão num texto futuro, mas isso não significa que não acredite. Há tempo suficiente para corrigirmos as falhas e prepararmo-nos. Estes dois últimos jogos dificilmente ficariam na História, tal como vimos antes. Que ao menos nos ajudem a preparar-nos para fazermos História, a partir de junho.

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Na próxima sexta-feira, dia 23 de março, a Seleção Portuguesa de Futebol enfrenta a sua congénere egípcia no Stade Letzigrund, em Zurique, na Suíça. Três dias mais tarde, enfrentará a sua congénere holandesa, no Stade de Geneve, em Genebra, também na Suíça. Ambos serão jogos de carácter particular.

 

Fernando Santos Divulgou os Convocados para esta dupla jornada de amigáveis na passada quinta-feira, dia 15. A principal novidade é a estreia do central do Benfica, Rúben Dias – um jovem de vinte anos, que poderá rejuvenescer um setor cheio de trintões. Um deles, por sinal, é Rolando, que foi Chamado pela primeira vez desde 2014. Pepe está lesionado, mas Bruno Alves e José Fonte voltaram a ser Convocados.

 

O que acho um bocadinho estranho, confesso – sobretudo o segundo, que foi jogar para a China. Não valeria a pena chamar outro jovem, como Ricardo Ferreira por exemplo?

 

Fernando Santos, contudo, não parece preocupado com a idade. No seu estilo habitual disse mesmo: “Velhos são os trapos. Não tenho jogadores velhos cá. Eu não me sinto velho e tenho 63 anos, quanto mais alguém com 34 ou 35.”

 

Enfim, ele lá saberá.

 

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Infelizmente, o Rúben sofreu um toque no jogo entre o Benfica e o Feirense, ontem, e teve de ser substituído. Consta que não será nada de grave, mas não dá para ter a certeza. À hora desta publicação, ainda não se sabe se ele terá de falhar estes particulares. Façamos figas para que não tenha.

 

Se tiver mesmo de falhar, que o anunciem depois de publicar este texto, para eu não ter de reescrever os parágrafos anteriores…

 

Não há muito mais a assinalar sobre esta Convocatória – era mais ou menos o que eu esperava. Fernando Santos diz que, nesta, estará “setenta por cento daquela que será a lista final. Se juntarmos esta à de novembro, então sim, diria que estamos muito próximos.” Não deveremos ter grandes surpresas em maio (deverão anunciar a 14 ou 15).

 

Segundo Fernando Santos, os adversários desta dupla jornada foram escolhidos por terem semelhanças com os novos adversários da fase de grupos do Mundial. O Egito, para começar, terá sido escolhido para simular o jogo com Marrocos.

 

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Uma das semelhanças entre os marroquinos e os faraós (congnome da seleção egípcia) é o facto de… quase nunca termos jogado contra eles, antes. Houve um jogo em 1955, em que ganhámos 4-0, mas isso foi há mais de sessenta anos. Para além desse, só houve mais um, em agosto de 2005. Ganhámos 2-0, golos de Fernando Meira e Hélder Postiga… mas, apesar de já seguir a Seleção nessa altura, não me lembro de nada desse jogo. E vocês sabem que eu tenho boa memória para estas coisas.

 

O jogo não deve ter sido muito interessante.

 

Outra semelhança entre o Egito e Marrocos é o facto de ambos se terem Qualificado para o Mundial pela primeira vez em muito tempo – vinte e oito anos (a minha idade) no caso dos faraós. Segundo este artigo, os egípcios também parecem jogar muito à defesa, raramente sofrendo mais do que um golo. Tal como referi antes, um género de estratégia perante o qual os portugas não costumam dar-se muito bem.

 

É uma boa ideia usarmos um destes particulares para trabalharmos nesse aspeto.

 

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Por essa lógica, a Holanda foi escolhida por ser parecida com a Espanha? Não sei, é possível que hajam semelhanças táticas entre as duas seleções. Os seus historiais perante nós, no entanto, não podiam ser mais diferentes. À Espanha só ganhámos uma vez em jogos oficiais, mas, como dizia Luíz Felipe Scolari, a  Holanda é nossa freguesa. A nossa vitória mais recente perante eles foi no Euro 2012. Um ano mais tarde empataríamos com eles num particular.

 

Como se isso não bastasse, a Holanda não atravessa uma boa fase, como é do conhecimento geral. Não esteve no Euro 2016 e também não vai estar no Mundial 2018. Não estou à espera que nos coloquem muitas dificuldades, portanto. Mas nunca é boa ideia subestimar o adversário – os franceses que o digam!

 

Ao contrário de outros anos pares, nesta altura do campeonato ainda não tenho pensado por aí além acerca do Mundial. Não existe nenhum motivo especial para isso tirando, talvez, o facto de andar ocupada com outras coisas. Talvez me sinta mais entusiasmada quando faltar menos tempo e começar a trabalhar a sério nos textos que quero publicar em maio – hei de falar melhor sobre eles depois destes jogos.

 

Por outro lado, as coisas no futebol, sobretudo cá em Portugal, andam… esquisitas. Às vezes vou comentando uma ou outra notícia na página, mas na maior parte do tempo marimbo-me para o que se passa. Sinceramente, tenho mais que fazer.

 

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Dito isto, talvez faça bem ao futebol português que o campeonato pare por duas semanas – a ver se os ânimos acalmam um bocadinho.

 

Tirando isso, bem como a possibilidade de ver a Seleção reunida e a jogar de novo, aqui entre nós, já não acho muita piada a jogos particulares como estes. Quando escrevo sobre eles, sobretudo crónicas pré-jogo como esta, faço-o quase em piloto automático – passadas semanas, esqueço-me de uma boa parte do que escrevi. Aconteceu com os jogos de novembro, tenho medo que aconteça o mesmo com estes.

 

A verdade é que, nove em cada dez casos, particulares como estes são irrelevantes – ao fim de dez dias, já toda a gente se esqueceu deles. É por estas e por outras que dou graças pela Liga das Nações – por diminuir o número de amigáveis secantes e por alterar os calendários habituais das seleções. Será menos provável voltar a sentir-me desgastada com o blogue, como aconteceu antes.

 

Enfim, como julgo ter dito antes em circunstâncias parecidas, se tudo isto ajudar a Seleção a ter um bom desempenho no Mundial, não me importo. Nesta altura, estou ansiosa pelo início da concentração, por ver os Marmanjos juntos de novo – por uma amostra daquilo de nos espera a partir de meados de maio.

 

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Ainda não sei se escreverei sobre os dois jogos numa única crónica. Nesta jornada dupla, queria tentar escrever um texto para cada um deles. Não garanto que consiga fazê-lo – ou que não decida que o jogo com o Egito não foi assim tão interessante para ter uma entrada dedicada só a ele. Já sabem como sou. Mas quero tentar, pelo menos.

 

Em todo o caso, já sabem, sigam a minha página para atualizações sobre os meus planos para o blogue, bem como para notícias e comentários rápidos sobre a Seleção e o futebol em geral. Obrigada pela vossa visita.

 

Especial Aniversário: Top 10 Jogos da Seleção Portuguesa #2

Segunda parte do meu top 10 de jogos da Seleção. Primeira parte aqui.

 

4) Portugal x Dinamarca (2012)

 

 

Este é outro jogo de que estou sempre a falar. Para começar, foi o primeiro jogo em anos que, na minha opinião, esteve ao nível dos grandes jogos da história da Equipa de Todos Nós em termos de epicidade. Foi um dos jogos em que gritei mais vezes ao longo dos noventa minutos. Foi o jogo em que assustei a minha irmã com a minha reação ao golo de Hélder Postiga. Foi o jogo em que nos deixámos empatar, ficando em risco de… bem, aquilo que acabaria por acontecer no Mundial 2014. Foi o jogo em que Silvestre Varela saltou do banco, qual representante do Instituto de Socorro a Náufragos (ainda hoje me faz rir…), e nos salvou a todos a poucos minutos do fim. Foi esse o golo que eu e a minha irmãzinha celebrámos à gritaria durante pelo menos cinco minutos e que a Seleção celebrou atirando-se em peso (jogadores e técnicos incluídos) para cima do Varela. Foi uma montanha-russa de emoções que eu nunca esquecerei.

 

3) Portugal x Holanda (2004)

 

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O pódio deste top é composto exclusivamente por jogos do Euro 2004. Este campeonato foi, até agora, o melhor campeonato futebolístico de que me recordo. Para começar, realizou-se cá em Portugal, o que só de si foi excitante (pena é os envelopes debaixo da mesa e a má gestão dos estádios todos…). Em segundo, o povo uniu-se em torno da Seleção de uma maneira nunca antes vista: as bandeiras nas janelas, os cortejos de adeptos seguindo a Seleção para onde quer que fosse, os festejos nas ruas após as grandes vitórias, a eterna Força da Nelly Furtado, entre muitas outras coisas. No dia da final, eu e a minha família fomos até Alcochete para ver o autocarro passar, no caminho para a Luz. O único protagonista que me lembro ao certo de vislumbrar, quando o autocarro finalmente passou, é o Simão. Talvez tenha visto também o guarda-redes Quim (que é feito dele?). O meu irmão na altura disse que viu Luiz Felipe Scolari.

 

Há uns anos ouvi Manuel José (penso que era ele) dizendo, num qualquer programa de comentário/debate desportivo, que não gostara de todo esse “circo”, que este terá sido a causa da derrota na final. Sinceramente, eu duvido. Aquele “circo” todo não era mais do que uma versão alargada do que acontece nos estádios: milhares de adeptos marcando presença, vestidos a rigor, aplaudindo a sua equipa. Desde quando é que isso é prejudicial? Além do mais, conforme já escrevi antes, o futebol é acima de tudo um entretenimento, um espetáculo, é para ser vivido com paixão.

 

Por isso não, não me arrependo de ter ido a Alcochete ver a Equipa de Todos Nós, tal como nunca me arrependi de nenhuma manifestação de apoio que seja. Foi, aliás, no Euro 2004 que aprendi o que é verdadeiramente ser adepta da Seleção, todos os aspetos do cargo: a euforia e a felicidade das grandes vitórias, o desgosto e a frustração das derrotas. Lições que permanecem até hoje.

 

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Regressando ao top, em terceiro lugar temos o jogo que nos colocou na nossa primeira – e até agora única – final. Lembro-me de ver o golo do Cristiano Ronaldo (o seu segundo pela Turma das Quinas) a partir da televisão da minha cozinha. Não me lembro tão bem de ver o golo do Maniche em direto, mas há dois anos, no programa Heróis do Mundial da RTPN (tristíssima por não termos um programa equivalente para o Europeu), recordei a forma possante, majestosa, como ele corria pelo campo.

 

No livro “Os alegres dias do país triste”, de Afonso de Melo – o mesmo autor d‘“A Pátria Fomos Nós” – vêm algumas palavras de Maniche sobre este golo:

 

 - “Que aconteceu? Estavas possesso?

 

- Olha, o que digo é que foi completamente intencional. E isso nota-se pela forma como inclino o corpo para a frente. A minha vontade era marcar golo, mas também admito que foi mais bonito do que aquilo que eu esperava.

 

- Recebes um passe do Ronaldo.

 

- Ele toca num canto de forma muito rápida e eu chutei com muita força e colocado. Também beneficiei do facto de o Davids ter deixado aquele poste junto ao qual se posicionava nos cantos. Foi aí que a bola entrou.”

 

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Também me recordo do auto-golo do Jorge Andrade – um belo chapéu na baliza errada – e de o Ricardo o consolar com uma palmada leve no rabo (?). Lembro-me de dizer à minha irmãzinha – que na altura tinha seis anos – que aquilo era o Jorge Andrade a levar tau-tau por se ter enganado na baliza.

 

No entanto, a imagem mais marcante daquele jogo foi o abraço entre Rui Costa e Luís Figo, no fim do jogo (não sei se o segundo não estaria a chorar). Afinal, naquele dia, treze anos antes, os dois tinham conquistado o Mundial de sub-20 e, agora, levavam a Seleção A à sua primeira final… e em casa! 

 

2) Portugal x Inglaterra (2004)

 

  

Tal como aconteceria no Mundial 2006, o jogo dos quartos-de-final do Euro 2004 foi o mais emocionante de toda a prova. Para além de eu ter um gosto especial por reviravoltas, por marcadores que oscilam rapidamente entre favoráveis e desfavoráveis, este jogo esteve cheio de momentos inesquecíveis, conforme explicarei a seguir.

 

Lembro-me de ter visto a primeira parte no instituto de línguas que frequentava na altura com um dos meus professores, curiosamente de nacionalidade inglesa. A segunda parte e o prolongamento vi em casa, no quarto do meu irmão. O jogo não começou bem para nós, os ingleses marcaram cedo e o resultado manteve-se assim até mais ou menos aos oitenta minutos. Quando se fala deste jogo, fala-se muito de Ricardo, claro, e mesmo de Rui Costa. Não se fala muito de Hélder Postiga – claro – apesar de ele ter sido fulcral para levar o jogo a prolongamento. Lembro-me da carranca de Luís Figo quando foi obrigado a dar o lugar a Postiga e de, alegadamente, ele ter ido logo para o balneário. Tal atitude daria polémica nos dias que se seguiram. Lembro-me de ouvir Figo dizer “Penso que não cometi nenhum crime” numa Conferência de Imprensa. Lembro-me também de o Selecionador Luiz Felipe Scolari ter dito que Figo estivera no balneário a rezar à Nossa Senhora de Fátima.

 

Por outro lado, quando pesquisei sobre este incidente, na preparação desta entrada, descobri mais esta declaração de Scolari: “[Figo] estava muito participativo e, segundo me contaram, numa jogada do Cristiano Ronaldo, no prolongamento, dizia 'vai miúdo'" Esta imagem derrete-me o coração.

 

  

Regressando a Postiga, tal como disse antes, foi ele quem repôs a igualdade, cabeceando após um centro perfeito de Simão, esticando o tempo de jogo para os cento e vinte minutos. Mais tarde, Postiga destacar-se-ia no jogo por, no desempate por penálties, ter batido o seu à Panenka – se a brincadeira tivesse corrido mal, o jogo poderia ter terminado de maneira diferente e o pobre Hélder seria ainda mais vilanizado do que é hoje. Mais uma vez, no livro “Os alegres dias do país triste”, ele falou da gracinha: “Saiu… Agora, vendo as coisas à distância, não repetia. Foi um ato de loucura, de inconsciência. Ficará para sempre na minha memória. Algo próprio da idade. Era um miúdo! Mas, atenção. Fazia aquilo muitas vezes nos treinos. Não devia era ter feito num momento daquela importância.”

 

Pois não. Segundo o que ouvi no programa Heróis do Mundial, quando foi do jogo com a Inglaterra em 2006, alguém foi dizer ao Hélder, aquando dos penálties:

 

- Postiga, tem juízo, à Panenka não!

 

Mas regressemos a outros heróis deste jogo. Como Rui Costa, que saltara do banco e deu um tiro espetacular, no prolongamento, colocando-nos pela primeira vez à frente no marcador (nunca me vou esquecer da cara de aziado de Sven-Göran Erikson, no banco inglês…). Não durou muito, contudo: cinco minutos mais tarde, Frank Lampard repunha a igualdade.

 

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Chegamos ao Ricardo, claro. Não se fala deste jogo sem falar do Ricardo, do penálti que ele quis defender sem luvas. Sobre este gesto inusitado ele disse, no mesmo livro referido acima: “Já disse várias vezes que foi instintivo. Vi que era Vassel a marcar e ele era o único cuja forma de chutar não tinha estudado em DVD. Pensei que era preciso fazer algo. Olhei para as minhas mãos e pensei: vai ser sem luvas! Mais tarde fui colega dele no Leicester, em Inglaterra (clube que, por sinal, está agora em alta por se terem sagrados campeões ingleses) e ele confessou-me que ficou intrigado. Que até perguntou ao árbitro se eu podia fazer aquilo.”

 

Também me recordo de ver Eusébio, de toalhinha branca no pulso, gritando para o guarda-redes. Durante algum tempo não soube ao certo o que gritara o Pantera Negra. Ouvi várias versões. Assumindo que o livro que temos referido fala verdade, ele gritava:

 

- Não te mexas! Não te mexas!

 

O que quer que tenha sido resultou, pois Ricardo defendeu. Depois desse penálti, quando foi a vez de marcar à Inglaterra, Ricardo quis executar e fê-lo sem hipótese de defesa. Muitas imagens me ficaram na retina desses momentos. O preciso instante em que a bola entra e o resto da Seleção desata a correm em direção ao Ricardo, atirando-se para cima dele. O Eusébio beijando o relvado da sua amada Luz. Ricardo nos braços do Selecionador. Finalmente, Scolari com a bandeira brasileira numa mão, a portuguesa na outra e encostando ambas ao coração, antes de recolher aos balneários.

 

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Eu tinha apenas catorze anos na altura do Euro 2004, na altura destes ou de outros jogos. Era demasiado jovem, demasiado inocente para compreender na totalidade o quão raro, o quão grandioso era o que estava a acontecer, o que a nossa Seleção estava a fazer, a maneira como o povo reagia a estes feitos. Só agora, passados estes anos todos, é que começo a compreender que isto que descrevi acima é a matéria da qual são feitas as lendas.

 

1) Portugal x Espanha (2004)

 

  

Tive alguma dificuldade em escolher os meus dez jogos favoritos e talvez ainda mais em definir a ordem de preferência. No entanto, não tive dúvidas nenhumas relativamente ao primeiro lugar. O Portugal x Espanha do Euro 2004 pode não ser o jogo mais emocionante ou tecnicamente melhor conseguido desta lista, mas é especial por vários motivos. Primeiro, este foi o jogo em que Cristiano Ronaldo se estreou a titular pela Seleção. Segundo, foi o primeiro jogo a que assisti ao vivo, no Estádio de Alvalade, com os meus pais e o meu irmão, algo que me marcou profundamente. Lembro-me da sensação de irrealidade, ao ver com os meus próprios olhos coisas que só via através de um ecrã de televisão – só o facto de não ouvir os comentadores era suficientemente estranho. Lembro-me de, a certa altura, ver pardais pousando no relvado durante o jogo e de ter achado graça na altura: uma coisa tão prosaica como pardais num palco onde lendas estavam sendo escritas!

 

Devo de resto dizer que os nossos amigos espanhóis criaram um ambiente amigavelmente provocador. Ainda antes de entrarmos no estádio, uns espanhóis meteram-se connosco, a propósito da camisola de Figo que o meu irmão vestia. Figo na altura ainda jogava no Real Madrid e os adeptos espanhóis tentaram provocar-nos, dizendo que Figo era espanhol. A minha mãe deu-lhes uma resposta à altura, em espanhol macarrónico.

 

- Figo no es español. Sus pesetas é que son españolas.

 

No estádio, apesar de termos chegado cerca de duas horas antes, conforme aconselhado pelas autoridades, já lá estavam imensos espanhóis, fazendo barulho. Nós, portugas, não íamos deixá-los sem resposta. Acho que chegámos a gritar “E quem não salta é espanhol, olé! Olé!”. Resultado: ainda o jogo não tinha começado e o meu irmão já estava sem voz.

 

Como estávamos mais para o lado da baliza sul, não conseguimos ver o golo de Nuno Gomes (eu pelo menos não me lembro de vê-lo), mas os festejos na bancada foram explosivos. Recordo-me de vislumbrar, por entre os braços erguidos, a Seleção toda abraçando Nuno Gomes (que depois seria rebatizado de Nuno Álvares Pereira Gomes). Os adeptos sentados à nossa frente fizeram questão de se virar para trás para trocar high-fives connosco – algo que tornariam a fazer no fim do jogo, quando a vitória já estava garantida.

 

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Nunca tínhamos ganho à Espanha em jogos oficiais antes daquele encontro e não voltaríamos a ganhar depois deste. No entanto, na minha opinião, mais do que qualquer outro jogo contra nuestros hermanos, aquele era o jogo em que tínhamos de vencer. Aquele era o meu primeiro jogo, era o nosso Europeu! A história não podia terminar na fase de grupos! (já foi suficientemente mau termos deitado tudo a perder na final…)

 

Digo-o com toda a franqueza: se não tivéssemos vencido este jogo, eu não estaria aqui, a escrever neste blogue, não seria a pessoa que sou hoje. Foi com aquela vitória que começou uma devoção que se mantém até hoje. Por ter sido o início da série brilhante neste Europeu, por ter sido o meu primeiro jogo de futebol ao vivo, algo que se tornaria uma das minhas experiências favoritas – mesmo os jogos do Sporting a que a minha irmã me leva. O Portugal x Espanha do Euro 2004 pode não ter sido o jogo mais brilhante ou emocionante, mas foi o início da minha paixão pela Equipa de Todos Nós. Por esse motivo, para mim será sempre o melhor jogo de todos os tempos.

 

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Dá para acreditar que já vamos em oito anos de “O Meu Clube é a Seleção”? A mim custa-me um bocadinho. Na verdade, este blogue acaba por receber menos atenção do que o meu outro blogue, o Álbum de Testamentos. Só inaugurei este último depois do Euro 2012, mas sendo um blogue mais genérico, sem um tema definido, posso escrever nele com mais frequência. Por sua vez, a Seleção joga em intervalos cada vez mais espaçados, pelo que este blogue fica muitas vezes inativo durante meses. Resultado, o Álbum já quase ultrapassa “o Meu Clube é a Seleção” em número de visualizações.

 

Por outro lado, tenho a página do Facebook, que atualizo quase todos os dias, o que sempre compensa a inatividade do blogue. De qualquer forma, agora que vem aí o Euro 2016 e vou deixar o Álbum um bocadinho mais de lado, talvez a tendência se inverta.

 

Conforme refiro de vez em quando aqui no blogue, o tempo passa mas o gozo de escrever sobre a Seleção não diminui. Tal como já referi antes, o futebol é uma história que nunca acaba, tem sempre novas personagens, novos enredos, novas reviravoltas. Eu sou cada vez mais apaixonada pela modalidade em si, já não desdenho assim tanto do futebol de clubes (não são os clubes em si que são corruptos, são as pessoas), mas continuo a não amar equipa nenhuma, só a Seleção. Foi para jogos como os que apresentei nesta lista que criei este blogue: para poder escrever sobre eles, para contribuir para a sua imortalização, para poder falar sobre eles aos meus filhos e netos. Sempre assumi que chegaria a uma altura em que deixaria de ter tempo para este blogue e para a respetiva página de Facebook, mas até agora essa altura ainda não chegou e, em princípio, tão depressa não chegará. Vamos continuar a ter “O Meu Clube é a Seleção!” por muitos anos ainda, com sorte.

 

E agora que já tirámos estas duas entradas para falar do passado, nas próximas falaremos do presente e do futuro mais próximo. Estamos a cinco dias do Anúncio dos Convocados para o Euro 2016!