Na próxima quinta-feira, dia 31 de agosto, a Seleção Portuguesa de Futebol recebe a sua congénere (*consulta o Google*) faroense no Estádio do Bessa. Três dias depois, desloca-se ao Groupama Arena, em Budapeste, para defrontar a seleção húngara. Ambos os jogos contam para a Qualificação para o Mundial 2018.
Os Convocados para esta dupla jornada foram Divulgados na passada quinta-feira e incluíram uma mão-cheia de novidades. Não temos propriamente estreias, antes regressos após ausências prolongadas.
Um dos destaques, pelo menos para mim, é Fábio Coentrão. O lateral esquerdo esteve quase dois anos ausente. Tendo em conta que estes últimos dois anos incluíram a vitória no Euro 2016, estes equivalem a uma eternidade.
Quem já acompanhe o meu blogue há uns anos saberá que sempre gostei do Coentrão. Pelo talento, pela entrega, pelo inconformismo. Ele, contudo, passou estes últimos dois anos quase sempre lesionado e, a partir de certa altura, perdi a paciência – já não sabia se era lesão mesmo ou se era desleixo. E como, entretanto, tivemos o meu menino de ouro, Raphael Guerreiro, e mesmo Eliseu foi subindo de rendimento, não se pode dizer que Coentrão tenha feito falta.
As coisas parecem estar a mudar, no entanto. Um pouco à semelhança do que fez Nani há três anos, quando regressou ao Sporting por uma época, Fábio Coentrão voltou à tutela de Jorge Jesus, o treinador que o descobriu. Por outras palavras, está a dar um passo atrás para tentar reencontrar-se a si mesmo.
E parece que está a resultar: consta que fez uma bela exibição no outro dia, perante o Steaua de Bucareste.
Ainda é cedo para se saber se o Fábio Coentrão que conhecíamos e adorávamos está mesmo de volta. Mas os primeiros sinais são encorajadores.
Que continue assim: talentos como o de Coentrão nunca são demais.
O caso de Bruma é diferente. O jovem já tinha sido Chamado algumas vezes à Seleção, sem nunca chegar a vestir a camisola das Quinas. Acho que a última vez foi em 2014, na última Convocatória de Paulo Bento. Bruma acabaria por ser excluído antes do jogo com a Albânia – e, se bem me recordo, não reagiu muito bem.
Essa é, aliás, um dos motivos pelos quais nunca gostei muito do Bruma: pode ser muito talentoso, mas o seu carácter deixa muito a desejar. A confusão com o Sporting, durante o verão de 2013, é um bom exemplo. E ainda há bem pouco tempo, um dos seus antigos treinadores no Galatasaray deixou-lhe críticas há uns meses.
Dito isto, parece que a época passada lhe correu bem – segundo a sua página na Wikipédia, Bruma contou onze golos e oito assistências. Foi, também, um dos destaques da Seleção de Sub-21 no Europeu deste ano: dois dos seus golos estão entre os dez melhores da prova. E hoje fez isto. Pode ser que ele tenha ganho juízo e que seja desta que ele se estreie com a Camisola das Quinas.
Não tenho nada a apontar aos regressos de Bruno Varela e Nélson Oliveira. João Cancelo, por sua vez, volta a ser Convocado após a sua fífia no jogo contra a Suécia. Se bem se recordam, ele marcou três golos em quatro jogos, há um ano – um bom registo para um lateral direito. Confesso que gosto mais dele do que do Nélson Semedo – que não deixou grande impressão na Taça das Confederações e ainda foi expulso no jogo do terceiro lugar.
É possível, no entanto, que volte a ser Convocado daqui a um mês, quando não estiver castigado.
Fernando Santos, de resto, afirmou que existem vários jogadores “à porta” da Seleção – como Ricardo Pereira e Bruno Fernandes. (A minha irmãzinha sportinguista tem, aliás, refilado com a exclusão deste último. Eu mesma também estranho que ele nem sequer tenha sido Chamado aos Sub-21, tendo em conta o que fez nos últimos dois jogos do Sporting.) Disse mesmo que essa porta não tem chave, que tanto dá para entrar como para sair.
Eu, pelo menos, imagino-a como uma porta giratória.
Estamos, então, na penúltima jornada desta Qualificação. Praticamente nada mudou desde há quase um ano: Portugal está em segundo lugar, a três pontos da Suíça. Um braço-de-ferro entre portugueses e suíços, sem que nenhuma das partes ceda. Nesta altura do campeonato, toda a gente sabe que a Qualificação só se decidirá a 10 de outubro. Estamos apenas a fazer tempo até esse jogo. Só não digo que estamos apenas a cumprir calendário porque temos de ganhar os jogos. Caso contrário, tudo isto se complica.
E sem necessidade. Temos tudo para ganhar o jogo em casa, com as Ilhas Faroé – se possível com muitos golos, para não ficarem dúvidas para o eventual desempate com a Suíça.
O jogo com a Hungria, por sua vez, será um pouco mais complicado. Para além de os húngaros estarem uns quantos furos acima dos faroenses, eles jogarão em casa. Em teoria, seria um dos jogos mais difíceis desta Qualificação. Na prática – na minha opinião, pelo menos – os húngaros não são tão ameaçadores como no ano passado. Pouca luta deram no jogo da Luz, este ano, e ainda perderam com a Andorra, em junho.
Preocupa-me mais o facto de o jogo decorrer apenas três dias depois do jogo no Bessa, com uma viagem pelo meio. Tirando isso, não temos desculpas. Somos Campeões Europeus, não somos?
Não, não acredito que percamos pontos nesta dupla jornada. Como disse o Selecionador, vamos ganhar estes três jogos e depois, no dia 10, vamos dar uma prenda de aniversário a Fernando Santos (adorei que ele tenha disto isto!).
Continuem a acompanhar o braço-de-ferro que está a ser esta Qualificação, quer através deste blogue, quer através da sua página no Facebook.
No passado domingo, dia 29 de março, a Seleção Portuguesa de Futebol venceu a sua congénere sérvia por duas bolas a uma, em jogo a contar para o Campeonato Europeu da modalidade, que terá lugar em França, no próximo ano. Este jogo teve lugar no Estádio da Luz... e eu estive lá.
Vim ao Estádio da Luz acompanhada apenas pela minha irmã. Já estamos habituadas a ir juntas ao futebol - esta época temos ido a vários do Sporting. Ainda que até aprecie estes jogos (gosto de ouvir a claque a cantar), não os vejo (nem esses, nem nenhum outro jogo) com a mesma paixão com que vejo o meu clube. Foi o que aconteceu no domingo, mais de quatro meses depois da última vez.
Felizmente conseguimos chegar cedo, sem grande stress. Conforme tinha dito antes, ficámos no terceiro anel, mas via-se melhor do que eu esperava. Chegámos a tempo de assistir ao anúncio oficial (?) dos onzes titulares. A leitura dos nomes de Matic, Markovic e outros jogadores ou antigos jogadores do Benfica motivaram mais ovações do que se esperaria como reação a adversários. Eu sabia que uma boa parte dos quase sessenta mil espetadores na Luz tinham vindo, pelo menos em parte, para ver os antigos benfiquistas. Não me interpretem mal, eu gosto do fair-play. No entanto, espero que, aquando do golo da Sérvia, os que aplaudiram Matic se tenham sentido, pelo menos, um bocadinho culpados.
Houve também tempo para cantarmos os parabéns ao grande Rui Costa, o eterno Maestro, que completou quarenta e três anos naquele dia. Foi um momento bonitinho, num Estádio que tanto significa para ele. Como sempre, o hino foi um momento especialíssimo - conforme comprovam os inúmeros vídeos na minha timeline do Facebook, o meu incluído.
Portugal dominou durante praticamente o jogo todo, ainda que com mais pragmatismo que brilhantismo (que parece ser a imagem de marca do reinado de Fernando Santos). Para uma equipa com apenas um ponto na Qualificação, os sérvios engonharam demasiado nos primeiros minutos, o que irritou.
Felizmente marcámos cedo, a partir de um pontapé de canto. Foi um canto batido "à bola curta", o segundo batido assim naquele jogo. Eu e a minha irmã estranhámos. Estávamos precisamente a comentá-lo quando o Fábio Coentrão fez um centro perfeito para Ricardo Carvalho, que rematou de cabeça para as redes sérvias. Nesse momento, parámos imediatamente com as queixas. (Mais tarde, descobriríamos que aquela maneira peculiar de bater o canto tinha, provavelmente, sido ensaiada ao longo da semana. Fernando Santos chegou mesmo a dá-lo a entender na Conferência de Imprensa).
Este golo de Ricardo Carvalho fez-me recordar outro dele, noutro jogo a que assisti: Portugal x Luxemburgo, em 2005, no Estádio do Algarve. Também nesse Ricardo Carvalho inaugurou o marcador com um remate de cabeça. Nesse jogo, ele e os outros jogadores vieram festejar mesmo para perto de nós (estávamos sentados mesmo junto ao campo, atrás da bandeirola de do canto), alguns deles poderão mesmo ter olhado para nós. No jogo de domingo, eles também vieram festejar para a nossa zona, mas nós estávamos muito lá em cima.
O golo relativamente madrugador não me tranquilizou uma vez que, agora que estavam a perder, os sérvios ficaram obrigados a mexer-se. Não chegaram a ameaçar verdadeiramente, mas conseguiram enervar-me. Também não ajudou o facto de Portugal ter abrandado demasiado para o meu gosto - pragmatismo a mais. Recordava-me de vários outros jogos anteriores, em que também tínhamos chegado à vantagem relativamente cedo para, mais tarde, a perder e não conseguir recuperar: os dois jogos anteriores com a Sérvia, bem como os dois jogos contra Israel, incluindo aquele a que assisti ao vivo.
A anulação da vantagem que eu receava ocorreu pouco após o intervalo, com um espetacular pontapé de bicicleta de Matic. Apesar de ter andado a recear este percalço, quando este se concretizou não desanimei demasiado. Ainda tínhamos meia hora, provavelmente o Quaresma entraria em breve, ele resolveria. O resto do público, aparentemente, concordava pois, passado o choque do golo, toda a Luz vibrou com os gritos em coro de "POR-TU-GAL! POR-TU-GAL!". E, cerca de dois minutos mais tarde, Portugal regressaria à vantagem no marcador, cortesia de Fábio Coentrão.
Mais tarde, Fernando Santos agradecer-nos-ia esta e outras manifestações de apoio, chegando mesmo a dar-nos mérito pela vitória. Eu fico feliz por isso, fico orgulhosa por ter cumprido o meu papel, mas a verdade é que o mesmo aconteceu em 2013, no tal jogo com Israel a que fui assistir: o público gritando pela equipa após o golo sofrido. A diferença é que a Seleção que jogou na Luz, no domingo, teve bem mais maturidade do que a que jogou nesse encontro, em Alvalade. Nesse encontro e em muitos outros dos últimos anos.
Mas regressemos ao segundo golo do jogo de domingo. Muitos dão, justamente, maior mérito a João Moutinho, que construiu a jogada praticamente toda - Coentrão teve apenas de encostar após o centro magistral de Moutinho. No entanto, na minha opinião, Coentrão mereceu assinar um golo, pelo que tinha vindo a fazer durante o jogo. Gostei de vê-lo mais adiantado do que o costume, acho que combina com o seu hábito de nunca se conformar, de puxar a equipa para a frente. Esteve em ambos os golos, tendo sido ele, inclusivamente, a oferecer o canto onde marcámos o primeiro - depois de ter feito pressão sobre o sérvio Basta, obrigando-o a atirar para fora. Durante os festejos do segundo golo, cheguei mesmo a gritar "Coentrão do meu coração!", roubando a frase a este relato de Nuno Matos.
Marcado este golo, o resto do jogo desenrolou-se sem sobressaltos de maior. Fiquei à espera do terceiro golo, um golo que nos desse tranquilidade mas, mais uma vez, os portugueses foram demasiado pragmáticos. Além de que não seria a Seleção se não ficássemos até ao último minuto à beira dos nossos assentos, com o coração na garganta - o patrocínio secreto por parte de alguma sociedade de cardiologistas, de que eu suspeito que a Turma das Quinas beneficie há muito tempo, ia ao ar. De qualquer forma, não houveram mais deslizes, os três pontos foram obtidos, o primeiro lugar do grupo I foi conquistado - por agora.
Confirme disse anteriormente, gostei muito de ver Coentrão frente à Sérvia. Para mim, esteve tão bem como João Moutinho, eterno formiguinha, por muitos considerado o Homem do Jogo. Deu-me particular gozo vê-lo fazendo o que queria dos nossos adversários, a sua baixa estatura contrastando com os corpulentos sérvios. Cristiano Ronaldo foi influente de uma maneira mais discreta do que o habitual: não marcou, mas vimo-lo várias vezes chamando a equipa para o ataque, indicando o caminho. Praticamente todos estiveram bem, tirando Nani e Eliseu, na minha opinião. O primeiro pode estar a ser feliz de novo no Sporting, eu fico também feliz por ele, mas, na Seleção, continua algo apagado. No domingo esteve sem jeito, pelo menos. Quanto ao Eliseu, pode estar a sair-se bem no Benfica (ou talvez não, não sei...) mas, pela Turma das Quinas, tem atrapalhado mais do que ajudado (volta, Raphael Guerreiro!!).
Fico, sobretudo, satisfeita por, para além de termos somado mais três pontos e de estarmos em primeiro no grupo, marcámos mais do que um golo por jogo e nem precisámos do Quaresma! É um progresso relativamente aos últimos jogos. Confesso, no entanto, que estaria mais descansada caso tivéssemos marcado mais um golo na Luz. Afinal de contas, euforias à parte, tornámos a vencer apenas pela margem mínima, ainda que tenhamos jogado um pouco melhor.
Isso, contudo, não altera o facto de estarmos em ascensão. Tal como assinalou Fernando Santos na Conferência de Imprensa após o jogo, nesta fase " As coisas estão a correr bem. Ganhámos na Dinamarca, onde já não o conseguíamos há muitos anos. Ganhámos à Argentina, o que também não acontecia há quarenta anos, e agora ganhámos à Sérvia, adversário que, também, nunca tínhamos batido". Estivemos frequentemente em piores situações ao longo dos últimos anos, com destaque para o pós-Mundial 2014 - conforme disse antes, é-me estranho estar numa posição relativamente desafogada no Apuramento. Não que a situação seja perfeita, porque não o é. Algumas críticas feitas têm legitimidade. Eu também estou insegura com a nossa dependência em jogadores com mais de trinta anos, eu também, a certa altura, posso fartar-me do pragmatismo e começar a suspirar pelo futebol alegre como o Waka Waka de outros tempos. No entanto, se todos os jogos oficiais deste ano terminarem com vitórias pela margem mínima, como as mais recentes, considerá-lo-ei um sucesso.
Antes de terminar esta entrada (isto deve ser um recorde neste último ano, uma crónica publicada apenas dois dias após o respetivo jogo...), queria apenas referir que, por estes dias, tenho lido algumas opiniões que defendem que, com a pausa internacional, houve igualmente um pausa na verdadeira emoção do futebol. Talvez isso seja verdade para certos fanáticos clubistas e/ou "intelectuais" do futebol. No entanto, se aquilo a que assisti no Estádio da Luz (os parabéns a Rui Costa, o Hino Nacional, os gritos de incentivo após o golo que sofremos, entre outros momentos) não é emoção, não sei o que será. Se quiserem algo mais objetivo como prova, basta-me dizer (ou melhor, recordar, que estiveram mais de 58 mil na Luz e a transmissão do jogo foi o programa televisivo mais visto do ano, até ao momento. O que contradiz a tese de que o povo só quer saber da Seleção aquando de Europeus e Mundiais.
Quanto a mim, sinto-me feliz por ter podido experimentar de novo essa emoção ao vivo e por, ao contrário dos meus últimos dois jogos ao vivo, termos tido um final feliz. Por, depois de uma eternidade sem Seleção, o primeiro jogo ter corrido bem, tendo-me proporcionado um dos meus melhores fins de tarde/princípio de noite dos últimos tempos. O meu desejo agora é que o percurso continue a decorrer sem percalços de maior e que, claro, culmine com o Apuramento para o Europeu de França.
E não se esqueçam que, daqui a duas horas, temos o particular contra Cabo Verde.
No passado domingo, dia 7 de setembro, a Seleção Portuguesa de Futebol recebeu a sua congénere albanesa no Estádio de Aveiro, no seu primeiro encontro a contar para a Qualificação para o Campeonato Europeu da modlaidade, que terá lugar em França em 2016. Tal embate terminou com uma derrota para a equipa da casa por uma bola sem resposta.
Entretanto, na passada quinta-feira, dia 11, Paulo Bento deixou o cargo de Selecionador Nacional "por mútuo acordo" com a Federação Portuguesa de Futebol que se encontra, neste momento, à procura de um substituto.
Antes de avançarmos para aí, falemos do jogo com a Albânia. Eu pensava que estava a ser pouco ambiciosa e a revelar pouca fé na Seleção quando, antes do jogo, contentar-me-ia com uma vitória pela margem mínima, mesmo com uma exibição fraca. Pelos vistos não, fui ingénua. Ao contrário de alguns discursos que circularam na Imprensa, em jeito de publicidade a este jogo, eu não estava à espera que este encontro fizesse esquecer o fracasso do Mundial. Esperava apenas um passo em frente, por minúsculo que fosse. Não esperava, de todo, que a Seleção se enterrasse de novo. Não nesta altura do campeonato, pelo menos.
Como seria de esperar (ao ponto de, segundo consta, os próprios o terem afirmado antes do jogo), a equipa albanesa estacionou o autocarro no seu meio-campo. Portugal dominava mas eram raras as oportunidades de golo. João Moutinho era o melhor português, Nani e Fábio Coentrão demonstravam o inconformismo que os caracteriza, mas não era suficiente. A agressividade dos albaneses não ajudava, faziam entradas duras a torto e a direito e eu, com o trauma do Mundial, assustava-me sempre que os nossos caíam. A partir de certa altura, já um pouco desesperada, comecei a desejar que algum albanês acabasse por ver o segundo amarelo, a ver se assim conseguíamos marcar.
Devíamos termo-nos lembrado que quem não marca, sofre, até mesmo perante equipas modestas, como a Albânia. A nossa defesa ficou a dormir na forma, deixando Balaj isolado, e este, na sequência de um centro, teve um rasgo inusitado de inspiração e rematou acrobaticamente para as redes portuguesas, sem que Rui Patrício pudesse fazer nada para evitar o golo.
É claro que, depois daquele balde de água fria, os nossos desataram a correr desesperadamente atrás do resultado, em vão. Nem faltou a tradicional bola ao poste. Perto do fim do jogo já se viam lencinhos brancos nas bancadas - algo que já não se via há algum tempo em jogos da Seleção - e ouviam-se assobios.
Como já vai sendo habitual, eu compreendo tais manifestações de descontentamento, mesmo que, caso estivesse lá, não alinhasse nelas. No caso deste jogo e de tudo o que o envolve, eu concordo com muitas das críticas feitas e, no rescaldo do jogo, cheguei a defender precisamente a demissão de Paulo Bento. Tinha demonstrado alguma boa vontade após o Mundial, mas perdermos o primeiro jogo da Qualificação para o Europeu perante uma equipa como a Albânia? São demasiadas desilusões seguidas e a nossa paciência tem limites. Como se tal não bastasse, as desculpas esfarrapadas que temos recebido, a condescendência, a arrogância que têm marcado as declarações dos protagonistas ("Colocar já tudo em causa não me parece o melhor caminho", como se o Mundial ainda não estivesse fresco na memória; "É difícil virar a página porque estão sempre a falar do Mundial", porque será que estamos sempre a falar do Mundial?) não ajudam. Senti, naquela noite, que fora a gota de água.
Ainda assim, quando Paulo Bento rescindiu, na quinta-feira passada, não deixei de ficar em choque e um bocadinho triste. Afinal de contas, ainda que muitos o tenham esquecido depressa, este foi o homem que devolveu o rumo a uma Seleção fragilizada por uma crise com o técnico anterior, que a colocou de novo na rota do Euro 2012 (que alguns julgavam já perdida) onde atingiu as meias-finais, só sucumbindo nos penálties frente a uma poderosa Espanha. Lembro-me particularmente bem da noite do primeiro jogo de Paulo Bento como Selecionador, da inesperada vitória e boa exibição, da felicidade que senti por, depois de todo aquele drama, a Equipa de Todos Nós nos ter dado uma alegria de novo. Por tudo isso estarei sempre grata a Paulo Bento.
É uma triste ironia do destino que Paulo Bento deixe a Turma das Quinas numa situação semelhante àquela em que a encontrou, embora a de 2010 tenha sido pior. E não me parece que, desta feita, a coisa se resolva tão "facilmente". Há quatro anos, Carlos Queiroz era o principal problema (para não dizer o único). Hoje, toda a gente concorda que a saída de Paulo Bento não resolve tudo, sobretudo a médio e longo prazo.
Nunca se falou tanto da falta de opções para a Seleção. O problema já vem de trás, da Qualificação para o Mundial 2014 ou mesmo antes. Há um ou dois anos tínhamos o onze-base do Euro 2012 e muito pouco mais. Hoje já nem esse onze temos. Metade deles está velha (e pensar que eu acompanho alguns deles desde jovens...), sem ritmo e/ou lesionada. Durante algum tempo em particular nos dois últimos anos, convenci-me que os fracassos da Seleção se deviam a desleixo. Agora estou a cair na real: nós, pura e simplesmente, não temos capacidade para fazer melhor. E somente mudarmos de treinador não vai resolvê-lo. Não vai disfarçar o facto de não termos um leque assim tão grande de escolhas, de muitas dessas escolhas não serem mais que medianas. Temos os sub-21 e os sub-19, que andam a passar por bons momentos - nunca o rótulo de "esperanças" fez tanto sentido - mas nada nos garante que essa geração consiga singrar no futebol profissional.
Um aparte só para me interrogar, no entanto, como é que passámos de golear os Camarões, vencer o México pela margem mínima e dar cinco à República da Irlanda (e nenhuma destas equipas é assim tão fraca) a sermos incapazes de vencer a Albânia. Daí que acredite que o trauma do Mundial é mais grave do que se suponha e tenha jogado contra nós no domingo passado.
Como "em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão", como já vai sendo habitual, as criticas têm-se multiplicado, quer antes quer depois da demissão de Paulo Bento. Alguns têm mesmo aproveitado a desculpa para atacarem indiscriminadamente a Federação e outras fundações do futebol português, incluindo pessoas que, apesar de ter cometido erros recentemente, possibilitaram a boa campanha portuguesa no Euro 2012. E enquanto uns exigiam a cabeça a demissão do Selecionador, outros, após a saída de Paulo Bento, acusam a FPF de terem feito de Paulo Bento um bode expiatório. Quanto a Carlos Queiroz, que se inclui nesse grupo, ainda que reconheça a legitimidade das suas críticas, sobretudo no caso dele, relembro ao Professor que existe uma diferença entre sair pelo próprio pé e ter de ser arrastado para fora.
Agora aguardamos a escolha do próximo Selecionador. Têm sido avançados vários nomes. Eu gostava que o lugar fosse atribuído a Fernando Santos, aquele castigo parvo da FIFA é que estraga tudo. Assim sendo, outro dos meus favoritos é Jesualdo Ferreira. Em todo o caso, não tenho nada contra a eventual escolha de José Peseiro ou Vítor Pereira. A ver vamos. Seja quem for, pode contar desde já com o meu apoio.
Só espero que, depois do início deste novo mandato, não tenhamos nunca de suspirar "Volta Paulo Bento, estás perdoado."
O futuro é incerto para a Seleção. Se já o era antes do início do Apuramento, agora, que ainda por cima perdemos o Selecionador, é-o mais ainda. Não digo que esteja já tudo perdido no que toca a esta Qualificação. O Ronaldo sempre pode continuar a tapar buracos, coitado, parece ser esse o destino dele, carregar equipas às costas. Os outros ainda podem, eventualmente, melhorar com o tempo, o novo Selecionador poderá fazer Escolhas mais acertadas. E, que diabo, temos sempre o playoff através do terceiro lugar. Em teoria isto ainda pode acabar bem. Na prática, a hipótese de não nos Qualificarmos é real, sobretudo se os jogadores continuarem desnorteados com o que aconteceu no Brasil.
Eu ainda não perdi a esperança, contudo. Como sempre, acredito que a Seleção, mais cedo ou mais tarde, regressará à sua melhor forma. Venha o que vier, venha quem vier, eu continuarei aqui, como sempre estive e como, provavelmente, sempre estarei.
Na passada segunda-feira, dia 16 de junho, a Seleção Portuguesa de Futebol estreou-se no Campeonato do Mundo da modalidade, em Salvador da Bahia, com uma pesada derrota frente à sua congénere alemã, por quatro bolas sem resposta.
Devo dizer que este é, provavelmente, o pior jogo da Seleção que testemunhei, e eu já acompanhei uma série de encontros medíocres: o jogo com os Estados Unidos e com a Coreia do Sul em 2002, vários das Qualificações para o Mundial 2010 e 2014, e estes são apenas dos exemplos de que me recordo neste momento. Só para terem uma ideia, nas primeiras vinte e quatro horas que se seguiram ao jogo, quando recordava os pormenores do encontro ficava com vontade de vomitar. Desejei, desesperadamente, ua maneira de fazer “reset” ao jogo, uma maneira de, como na série Tru Calling/O Apelo, rebobinar aquele dia, arranjar maneira de avisar a Seleção para que evitasse os erros que tão caro nos custaram. No entanto, isto é o Mundial, há muio mais coisas em jogo do que num particular ou num jogo de Qualificação; tal como disse na crónica anterior, estes encontros ficam gravados na História, para o melhor e para o pior, e temos de lidar com toda a repercussão do jogo – que, obviamente, não foi a mais simpática para o nosso lado.
Durante a primeira parte do jogo, pude, felizmente (ou infelizmente) ir acompanhando a nível quase constante o relato radiofónico. Adicionalmente, tinha as mensagens que a minha irmã me ia enviando e o site do jornal A Bola, consultado regularmente pelos meus colegas, que se ia atualizando com as incidências do jogo. Logo nos primeiros minutos, Rui Patrício fez um passe infeliz para Khedira, estilo o que fizera no último jogo com Israel. Khedira não soube aproveitar a prenda que o guarda-redes português lhe ofereceu, mas agora percebe-se que este deslize de Patrício era um indício trágico do que aí vinha.
Eu não desanimei demasiado com o penálti convertido a golo, poucos minutos depois. Esperava um efeito semelhante ao do jogo com a Holanda, há dois anos: que o golo sofrido os acordasse e os fizesse correr atrás do empate. Não foi isso o que aconteceu, aliás, a Turma das Quinas desfez-se em pedaços por completo e nunca mais recuperou.
Ficou claro que, psicologicamente, os portugueses estavam em farrapos. Um belo exemplo disso foi Pepe. Foi uma sorte um estar sozinha quando ouvi no relato sobre a sua expulsão, pois na altura tapei o rosto com as mãos, com elas abafando as pragas que me saíam dos lábios. Pelo relato, percebi que o vermelho direto resultara de uma infantilidade, mas não me inteirei dos pormenores. Pouco depois, a minha irmã disse-me, por mensagem, que fora um dejá-vu do vermelho de Hélder Postiga na Irlanda do Norte, no ano passado. Não é preciso dizer mais nada.
Para a segunda seleção mais velha deste Mundial, os portugueses mostraram demasiada imaturidade no Arena Fonte Nova. Pior, mostraram ser incapazes de aprender com os erros. O caso de Pepe é particularmente preocupante, ele que já se viu envolvido em demasiadas situações semelhantes a esta.
Nesta altura, já tínhamos sofrido o segundo golo e já Hugo Almeida tinha saído, por lesão. Paulo Bento terá demorado a reorganizar a defesa – já frágil, mesmo antes da perda de Pepe – o que nos custou o terceiro golo. Nesta fase, percebi que dificilmente empataríamos, quanto mais ganhar, e só desejei que Portugal marcasse pelo menos um ou dois golos, só para recuperarmos uma fração que fosse da nossa dignidade.
Foi mais uma esperança vã. Nesta altura, já eu tinha saído do trabalho e ido para a esplanada de que falei anteriormente, com wi-fi. Aqui, havia-se juntado uma pequena e, naquela altura, insatisfeita multidão a ver a tristeza que estava a ser o jogo. Portugal só não sofreu muitos mais golos porque – e isto é, talvez, o mais humilhante de tudo – os alemães tiveram pena de nós e baixaram o ritmo.
Houve tempo para o árbitro nos negar um penálti, que parecia verdadeiro. Ao ver Ronaldo correndo atrás do árbitro, temi que ele desse uma de João Pinto, e gemi:
- Alguém o agarre! Alguém o agarre!
Felizmente, ter-lhe-á sobrado um fragmento de sensatez para parar de correr e ficar a refilar para si mesmo. Ainda bem; já estávamos a deixar uma péssima imagem da nossa Seleção, a última coisa de que precisávamos era de ter o nosso Capitão a agredir o infeliz do árbitro.
Os portugueses bem se queixariam, mais tarde, do juiz da partida, queixas que tinham a sua legitimidade, mas nem eles podem dizer que o árbitro foi o único culpado pelo descalabro - aquele penálti por marcar sobre Éder pouco faria por nós. Mais, muito antes de o encontro entre Portugal e Alemanha ter começado, já muitos jogos do Mundial tinham sido marcados por arbitragens polémicas. Eu já antes sabia que, se nos calhasse também um árbitro de imparcialidade duvidosa, as vítimas não seriam os alemães. Não vou dizer que os portugueses tinham obrigação de saber isso - se o árbitro estivesse firmemente apostado em prejudicar-nos (não vou dizer que estava), pouco se poderia fazer - mas atitudes como as de Pepe em nada ajudam nestas situações.
O pior do jogo foi mesmo a perda de Fábio Coentrão, que foi obrigado a abandonar o Mundial. Ele que - todos concordam, apesar de continuarem a insistir no Ronaldo-mais-dez - é insubstituível e definitivamente não merecia isto. Não quando sempre foi, praticamente desde que se estreou com a Camisola das Quinas, um dos que mais dá pela Seleção, independentemente do seu momento de forma. Logo agora, que parecia atravessar uma fase tão promissora. O destino foi-lhe cruel.
É, de resto, um dos aspetos que mais me aflige: o número elevado de lesionados ou de candidatos a sê-lo. Não é um problema exclusivo de Portugal; é bem conhecida a lista de grandes jogadores que falharam este campeonato. No entanto, pelo menos no que toca à Seleção Portuguesa, não me lembro de outro Europeu ou Mundial em que tivéssemos tido tantas baixas ou tantos riscos de inaptidão para os jogos. Toda a gente fala do calendário pesado da temporada, há quem aponte isso como motivo para os recentes e surpreendentes fracassos de Inglaterra e, sobretudo, Espanha, mas, tanto quanto me lembro, é a primeira vez que isto acontece. Porquê este ano em particular?
Antes do fim da agonia, ainda houve tempo para o quarto golo alemão, resultante de mais uma falha na defesa, em que Rui Patrício tornou a ficar mal na fotografia. Estava feito o resultado.
Não é a primeira vez, nem a segunda, que nos estreamos a perder num campeonato de seleções. Eu acreditem nas palavras otimistas de Cristiano Ronaldo, na véspera do jogo (e nem falo do camelo...), mas aceitaria perder por 1-0, 2-1, 2-0 ou mesmo 3-1. Afinal de contas, em 2004 e 2012, as derrotas iniciais não impediram bons desempenhos nos respetivos Europeus. E em 2012 até não fizemos má figura, nem mesmo em 2008, apesar de esse jogo ter ditado a nossa expulsão do Euro. Mas nunca foi assim tão expressivo, tão humilhante. O único jogo que se compara é o da nossa estreia no Mundial 2002 com os Estados Unidos - e toda a gente sabe como essa história acabou. O pior é que ando a ver semelhanças com 2002: lesão da maior figura da equipa, dúvidas sobre a adequabilidade das condições em que decorreu o estágio, sobre a estabilidade emocional dos jogadores.
É claro que, quando a Seleção passa por crises semelhantes a esta, se coloque tudo em causa, que venham a lume teorias da conspiração. Carlos Queiroz, por exemplo, não deixou de meter a sua farpa, como é habitual. O provérbio "em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão" nunca fez tanto sentido, ainda que muitas das críticas tecidas tenham a sua legitimidade.
Para mim, o pior não é a derrota em si, nem mesmo o resultado. O pior foi o fracasso do espírito de Seleção, da garra, da entreajuda, em suma, daquilo que falei, daquilo que exaltei, na última e outras crónicas neste blogue, no artigo que enviei para o Record Online. Essa é que foi a verdadeira desilusão. Com que cara fico eu quando, depois de ter garantido que cada um dos jogadores é melhor quando joga na Seleção do que sozinho, não se viu nada disso no Arena Fonte Nova?
Não percebo o que aconteceu, sinceramente. A "equipa" que jogou com a Camisola das Quinas em Salvador não é a Seleção que eu conheço, não é nada.
Algo vai ter de mudar. Paulo Bento tem ideias fixas (por outras palavras, é casmurro que nem uma mula), mas terá de alterar alguma coisa. Que mais não seja porque tem quatro jogadores indisponíveis para o jogo com os Estados Unidos. Se antes se podia tolerar os seus implicanços com a Comunicação Social - porque até tinha razão nalgumas coisas e, de resto, não se podia apontar-lhe muito, pois tinha vindo a cumprir os objetivos, com maior ou menor dificuldade - agora não tem o direito de ser tão arrogante como tem sido. Com alguma sorte, acontecerá o mesmo que aconteceu a Luiz Felipe Scolari, após a primeira derrota com a Grécia no Euro 2004.
Portugal está agora obrigado a ganhar tanto aos Estados Unidos como ao Gana para poder passar a fase de grupos. Parece que, já que o Gana e a Alemanha empataram (como é que o Gana conseguiu fazer frente aos alemães e nós não?), a nossa atual diferença de quatro golos não deverá ser um problema. Em circunstâncias normais, eu diria que é assim que, de resto, a Seleção "gosta" de jogar: com margem de erro reduzida, sempre no caminho mais difícil. Eu mesma calculava que, muito provavelmente, seria assim que a fase de grupos se desenrolaria, cheguei mesmo a considerá-lo desejável (não torno a dizer que uma derrota pode ser "boa"; tal como no lugar-comum, vou ter mais cuidado com o que desejo). Mas, ao longo destes dias, tenho tido medo das sequelas anímicas do nosso primeiro jogo do Mundial, de que a forma física dos jogadores, as condições climatéricas, sejam mais fortes que a vontade de fazer bem, de que os mais pessimistas tenham razão. Esta derrota desanimou-me imenso. Não foi para isto que esperei estes meses todos, para não dizer quase dois anos. Agora, que estamos a menos de vinte e quatro horas do jogo com os Estados Unidos, já recuperei uma boa parte desse ânimo, mas continuo com muitas dúvidas.
Eu já devia estar habituada, já devia saber que não é fácil saber que é fácil ser-se adepto incondicional da Seleção. É muito mais fácil ser-se daqueles que se vestem com as cores nacionais sempre que a Seleção está em alta mas que, nos momentos difíceis como este, desatam de imediato a criticar tudo e todos. Eu já devia tê-lo interiorizado mas, pelos vistos, padeço do mesmo mal que os Marmanjos: nunca aprendo.
Eu não quero ser desses adeptos hipócritas. Ainda que, ultimamente, ande a pensar que, um dia destes, vou pura e simplesmente desistir, deixar de me ralar com as desventuras da Seleção, parar de tentar constantemente, puxar por eles, encorajar as outras pessoas a apoiá-los como eu apoio, porque eles nem sempre o merecem, não será para já. Pelo menos não enquanto houver uma hipótese de fazermos um bom Mundial. Como já aconteceu antes, não é tanto por convicção, é mais por desespero. Não quero que isto acabe assim, não quero que 2002 se repita. Quero acreditar que nós somos mais do que fomos segunda-feira, que aquilo foi a exceção, não a regra, que a Seleção vai levantar-se outra vez, tal como o tem feito várias vezes nos últimos anos - incluindo em alturas em que nem eu já quase acreditava. Paulo Bento conseguiu ressuscitar a Seleção depois do caso Queiroz, tem de conseguir fazer o mesmo agora. Isto não pode acabar assim.
Mostrem que somos mais do que isto. Mostrem que somos a Seleção.
Na madrugada de sexta, dia 6 de junho, para sábado, dia 7, a Seleção venceu a sua congénere mexicana por uma bola sem resposta, num jogo amigável que teve lugar no Gillette Stadium, em Boston. Quatro dias depois, no Met Stadium, em Nova Iorque, a Seleção enfrentou a sua congénere irlandesa e tornou a vencer, desta feita mais expressivamente, por cinco bolas contra uma.
Não escrevi entradas individuais para cada um destes jogos, como costumo fazer, essencialmente por falta de tempo e de material. Quando falo em material, refiro-me à análise ao jogo por parte de um jornal desportivo, no dia seguinte, na qual me baseio para escrever as crónicas. Devido à hora tardia destes últimos encontros, não foi possível aos jornais fazerem uma análise completa aos mesmos, logo, faltaram-me as bases para escrever mais exaustivamente sobre eles.
O jogo com o México, de resto, pouca história teve, assemelhando-se ao do Jamor, contra a Grécia. Neste, o nosso domínio não foi tão constante, os mexicanos estiveram várias vezes por cima, o jogo poderia ter dado para ambos os lados. Só não virou a favor dos mexicanos graças a Eduardo, que fez uma mão cheia de belas defesas, provando merecer estar entre os Convocados - em termos de guarda-redes, a Seleção está bem servida. Numa altura em que aquilo já me parecia uma repetição do sábado anterior, em que considerava que aquelas quase duas horas teriam sido melhor empregues a dormir, João Moutinho bateu um livre, assistindo Bruno Alves para o único golo da partida. Para um defesa, o Bruno anda a marcar bastante pela Seleção. Foi um triunfo pela margem mínima, ao cair do pano, mas que sempre serviu para levantar um pouco a moral.
O jogo com a República da Irlanda foi melhor, esse sim valeu as horas e sono perdidas. É claro que ajudou o facto de os irlandeses estarem uns furos abaixo dos gregos e dos mexicanos, mas os portugueses não deixaram de proporcionar bons momentos de futebol - e não foi apenas o recuperado e regressado Cristiano Ronaldo a brilhar. A partida começou logo bem, com um golo do (para muitos) improvável Hugo Almeida, assistido por Varela. O resto do jogo desenrolou-se mais ou menos da mesma forma, com Portugal em claro domínio. Fábio Coentrão marcou um meio golo, assistindo um infeliz irlandês, que marcou na sua própria baliza. Mais tarde, Ronaldo tentou a sua sorte, falhou, Hugo Almeida foi à recarga e conseguiu marcar.
Muitos podem ter ficado surpreendidos com o desempenho do ponta-de-lança, mas eu não, pelo menos não tanto. Ele já não marcava pela Seleção há um ano, é certo, e chegou a fazer um par de jogos infelizes no passado recente. Eu, no entanto, lembro-me que há uns anos ele marcava com regularidade pela Seleção. Fico satisfeita por esse Hugo Almeida estar, aparentemente, de regresso a tempo do Mundial.
Ao início da segunda parte, eu receava (e quase esperava, pois sempre me daria uma desculpa para parar de ver o jogo e ir dormir) que o rendimento decaísse, sobretudo quando se processassem as substituições. Tal não chegou a acontecer, tirando o golo que sofremos. Para quase toda a gente, tal golo nasceu de uma falha de concentração. A minha irmã, contudo, alega que o livre foi batido antes do tempo, quando os portugueses ainda organizavam a barreira. Quanto a isso, não consigo chegar a nenhuma conclusão, nem mesmo depois de rever as imagens do golo. Apenas dá para ver que, independentemente do motivo, os Marmanjos estavam de facto distraídos durante esse lance.
Muitos esperariam que a saída de Cristiano Ronaldo tirasse qualidade ao jogo. Não foi isso que aconteceu pois, quando saiu Ronaldo, entrou Nani, cheio de ganas, que rapidamente assistiu para os dois últimos golos da Seleção Portuguesa, um de Vieirinha, outro de Fábio Coentrão (que também anda mais goleador do que o habitual, se considerarmos o seu meio golo na primeira parte). Pelo meio, ainda viu um golo anulado após uma linda jogada de tiki-taka por ele protagonizada. Nani dá-nos, deste modo, sinais de que poderá fazer um bom Mundial, algo que, há escassas semanas, me parecia altamente improvável.
Depois de, anteriormente, ter defendido que o empate frente à Grécia não provava nada, seria hipócrita estar agora a dizer que estes dois últimos particulares provam muito mais. Se é de esperar que, numa fase mais avançada da preparação do Mundial, os jogos corram melhor, a verdade é que, há dois anos, Portugal perdeu de forma ridícula com a Turquia mas não deixou de fazer um belo Euro 2012. Viu-se que os portugueses pelo menos parecem empenhados, motivados. No entanto, todos sabemos que, quando for a doer, tudo será diferente.
Será a doer já amanhã, segunda-feira, pelas cinco da tare, hora portuguesa, no Arena Fonte Nova, em Salvador da Bahia, frente à Alemanha. É o segundo campeonato de seleções consecutivo em que nos estreamos com os nossos amigos alemães, que de resto também defrontámos no Mundial 2006 e no Euro 2008. Não guardamos boas recordações de nenhum desses jogos, embora talvez pudéssemos ter guardado do último.
Há uns meses, diria que seria pouco provável ganharmos. Hoje, contudo, não acho que seja assim tão improvável. O jogo do Euro 2012 podia ter-se virado a nosso favor, bastaria aquela bola ao poste do Pepe ter entrado, ou o remate de Varela na segunda parte. Além do mais, o futebol alemão não parece tão ameaçador agora, já que este ano nenhuma equipa alemã atingiu a final da Liga dos Campeões. Também me soa animador o facto de os portugueses do Real Madrid terem sido bem sucedidos frente às várias equipas alemãs que lhes saíram na rifa. Alguns adeptos alemães não parecem, igualmente, muito confiantes na sua seleção. Por fim, os alemães deram a entender em algumas declarações que nos subestimam, com destaque para aquela em que nos comparavam com a Arménia.
Tudo isto, no entanto, não passa de conjeturas, se não forem ilusões. Não alteram o facto de a Alemanha ser, a par da Espanha (isto é, depois do jogo com a Holanda não sei...), Brasil e Argentina, uma das seleções candidatas ao título mundial, tal como o era há dois anos. Portugal pode vencer a Alemanha, mas terá de suar para fazê-lo. Por um lado, gostava mesmo de ganhar este jogo, ou pelo menos de empatar, para não ter de escrever uma crónica intitulada "22 homens atrás de uma bola, a trilogia" e também porque, se conseguíssemos vencê-los, seria um sinal de que até poderíamos ser candidatos ao título. Por outro lado, eu conheço a maneira como a Seleção Portuguesa funciona. Sei que se sai melhor sobre pressão, perante adversários mais fortes ou situações de aperto em termos de classificação. Os Estados Unidos já nos apanharam de surpresa uma vez, o mesmo pode acontecer caso entremos em campo com eles com a atitude descontraída de quem já tem três pontos amealhados. Daí que quase prefira o empate, ou mesmo a derrota.
De qualquer forma, a partir de amanhã, acabarão as teorias, os prognósticos, as apostas. O que quer que aconteça durante o jogo, cada golo, cada falta mal cobrada, cada cartão injustamente atribuído, ficará escrito a tinta-da-china na História. Poderemos, depois, olhar para eles da maneira que quisermos, mas não haverá maneira de mudá-los. Só aí saberemos quem estava certo ou errado, só aí será determinado o verdadeiro valor da nossa Seleção. Já sinto o "bichinho" a morder, a típica mistura de nervosismo e excitação, quando olho para os jogos já ocorridos do Mundial e respetiva repercussão nos media e redes sociais, e me apercebo que, na segunda-feira, seremos nós o objeto das notícias, análises, comentários e piadas.
Conforme tenho repetido inúmeras vezes nos últimos tempos aqui no blogue, não vou poder ver a primeira parte do jogo. Agora que estamos mais perto do mesmo, calculo que poderei ir estando a par d que for acontecendo, quer através do relato radiofónico, quer através de um daqueles sites, que se vão atualizando com os lances, quer, se tivermos sorte, através das das exclamações das pessoas que estiverem a ver os jogos nos cafés da zona. Quando sair, por volta das seis, corro para um desses cafés para ver a segunda parte. Em princípio, será um com wi-fi, por isso, talvez consiga levar o meu computador e ligar-me às redes sociais.
Embora não considere "desonestidade intelectual" pensar o contrário, não acho que Portugal seja candidato ao título, por diversos motivos, alguns dos quais estão listados num artigo que enviei para o Record Online. Contudo, no mesmo também recordo que, no futebol, não há impossíveis, tudo pode acontecer, e Portugal, de resto, possui meios para fazer mais do que esperar por um milagre, possui meios para, como costuma dizer Paulo bento, competir com qualquer equipa, para dar luta. Conforme afirmei no artigo, e já várias vezes aqui no blogue, Portugal pode não ter os melhores jogadores do Mundo, tirando uma exceção bem conhecida, mas estes, quando vestem a Camisola das Quinas - sobretudo em momentos decisivos - funcionam bem uns com os outros, como uma equipa, como um só, elevam-se acima do valor que lhes é cotado. E, conforme afirmei no artigo, chego a depositar mais fé nesse espírito, na garra e determinação dos jogadores, na união entre eles, na sua vontade de fazer bem, que propriamente na sua qualidade técnica ou momento de forma. Esta minha convicção aplica-se tanto à tendinose rotuliana e Cristiano Ronaldo, à falta de ritmo de Nani, à forma duvidosa de Hélder Postiga, às reservas da opinião pública relativamente a jogadores como Vieirinha ou André Almeida.
Encaro este Mundial da mesma forma como tenho encarado os últimos campeonatos de seleções: com as minhas reservas, mas convicta de que tudo é possível, com a esperança de que a coisa corra bem para o nosso lado, de preferência com o título mundial à mistura. A preparação encontra-se à beira do fim, a partir de amanhã é a doer. A ver o que o destino nos reserva. Para já, não tenho mais nada a dizer senão: força Portugal!