Equipamentos da Seleção Nacional (2004-2018): do pior ao melhor
É este o texto diferente do costume de que ando a falar há algum tempo. Hoje vamos falar sobre equipamentos da Seleção Nacional.
Como toda a gente sabe, em anos pares (regra geral, por volta dos particulares de março/abril), a Equipa de Todos Nós recebe um conjunto novo de equipamentos. Esses equipamentos servem para todo o ciclo bianual, que inclui um Mundial ou um Europeu, a fase de Qualificação para o Mundial ou Europeu seguinte e, mais recentemente, a Liga das Nações. Neste texto, quero pegar nos diferente equipamentos que a Seleção envergou desde 2004 a esta parte (escolho este ano porque foi quando comecei a acompanhar ativamente a Equipa das Quinas) e ordená-los de acordo com as minhas preferências.
Aviso desde já que estou longe de ser uma especialista em moda, ainda menos do que em futebol. Este é apenas o meu gosto pessoal, estão à vontade para discordar.
Nesta lista vou só considerar os equipamentos principais. Ainda pensei incluir os alternativos, mas ficaria demasiado confuso. Os alternativos terão o seu próprio texto, um dia. Não a curto prazo, talvez daqui a um ano ou dois. Os que forem lançados este ano já entrarão nessa lista.
Antes de começar, queria deixar bem explícito que, deste conjunto, não existe nenhum equipamento principal de que eu não goste nem um bocadinho. A Seleção teve alguns equipamentos “parolos” no seu passado, como descrevem neste artigo, mas a qualidade melhorou muito de 2000 para a frente. Com os alternativos a história é outra mas, regra geral, não tenho tido razão de queixa em relação aos equipamentos principais nestes últimos dezasseis anos.
Ou melhor até tenho, mas não tem a ver com a qualidade estética do equipamento. Tem a ver com o facto de, pelo menos nas fornadas de 2016 e 2018, os equipamentos produzidos pela Nike seguirem quase todos o mesmo modelo. Basta olharmos para imagens da final de Paris: o equipamento português e o francês são iguais, tirando a cor!
E depois temos fenómenos como, por exemplo, o equipamento alternativo da Inglaterra em 2016 ser igual ao nosso principal do mesmo ano e o nosso equipamento alternativo de 2018 ser igual ao da Polónia (com o mesmo tipo de letra nos nomes e tudo). Irrita-me tanto… Que é feito da imaginação?
No que toca a equipamentos principais, o vermelho tem sido, naturalmente, a cor predominante. Eu diria que é a minha segunda cor preferida, atrás do azul. Em parte por estar associada à Turma das Quinas. O meu tom preferido não é tanto o clássico vermelho vivo, é um tom um bocadinho mais escuro, como o que escolhi para o fundo deste blogue (consta que o nome oficial é vermelho persa). É uma cor rica, elegante, sobretudo nestes tons menos agressivos.
Também gosto do vermelho cor de vinho tinto para vestir, sobretudo no outono/inverno.
Curiosamente, já foram feitos estudos sobre a influência da cor vermelha em equipamentos desportivos. É uma cor que simboliza paixão, energia, testosterona, vitalidade, dominância. Uma cor emotiva, que entusiasma e motiva os aliados e intimida os adversários. Está provado que dá vantagem.
É claro que essa vantagem pesa menos que fatores como o talento e a técnica. Se não fosse assim, teríamos muito mais que apenas dois títulos. Em todo o caso, o vermelho é uma cor que já faz parte do carácter da Seleção.
Dito isto, gostava de ver mais verde nos equipamentos das Quinas. Afinal de contas, sempre representa cerca de quarenta por cento da nossa bandeira. Além de que é uma cor menos agressiva, que representa esperança, harmonia, compaixão, segurança – características que também fazem parte do ADN da Equipa de Todos Nós, a meu ver. Contrabalançam com as emoções extremas do vermelho e também com a hostilidade endémica do futebol de clubes, sobretudo em Portugal.
Mas passemos ao cerne deste texto: os equipamentos da Seleção nos últimos dezasseis anos, do pior para o melhor. Vamos começar com…
8) 2008
Admito-o desde já: o equipamento criado para o Euro 2008 só está no fundo da lista por, usando o termo técnico, picunhices. Em termos gerais, este equipamento não é pior do que os outros desta lista. Como quase todos, é todo em vermelho (embora eu não adore este tom particular), com letras e números dourados.
Aquilo de que não gosto neste equipamento é do feitio da gola (estiveram ali a inventar sem necessidade) e a camisola mais justa que o habitual. Na altura, acho que li em algum lado que isto foi deliberado, era para melhor absorver a transpiração ou algo do género. No entanto, do ponto de vista estético não ficou muito bem, na minha opinião. Prefiro camisolas mais largas.
7) 2012
O equipamento apresentado para o Euro 2012 não difere radicalmente do de 2008. Também ele é todo vermelho, um vermelho vivo, clássico. Desta vez, no entanto, não se puseram a inventar: a gola tem um feito normal, a camisola não parece nem demasiado larga nem demasiado justa.
Na verdade, o ponto fraco deste equipamento é precisamente o facto de não terem inventado nada. É um equipamento simples, uma aposta segura, que não é feio mas também não deslumbra. É pouco imaginativo. Parece-se mais com o modelo básico com que os designers (estilistas?) da Nike começam na hora de conceber um equipamento novo.
É por isso que está tão baixo nesta lista: falta-lhe carácter.
6) 2018
Este é o equipamento mais recente desta lista. Criado para o Mundial 2018, mas que também foi usado durante a conquista do nosso segundo título, na Liga das Nações. Tem algumas semelhanças com o de 2008: todo vermelho, letras e números dourados. Está melhor conseguido, no entanto: gosto do estilo dos múmeros e do discreto efeito “riscado” nos ombros e braços – mais proeminente em outras peças desta coleção, como o equipamento de treino.
Pode ser o mesmo modelo que a Nike aplicou a todos os seus equipamentos se seleções, mas ao menos é bonito.
5) 2006
O equipamento criado para o Mundial 2006 é todo vermelho, como vários outros desta lista. Este, no entanto, é um vermelho diferente, bastante curioso. Varia consoante a luz. Sob a luz artificial é um vermelho mais perto do vinho tinto (parecido com o vermelho das camisolas dos finais dos anos 90, início dos anos 2000). Sob a luz do sol transforma-se num vermelho mais vivo, cor de sangue seco.
É um efeito muito giro e único. Tive várias oportunidades de vê-lo, pois cheguei a ter o boné desta coleção, da mesma cor. Infelizmente perdi-o.
O único problema é que, apesar de ser uma cor original e bonita, é um bocadinho escura demais, que se torna demasiado quente e pesada. Tendo em conta que os grandes campeonatos de seleções se realizam durante o verão, esta é uma desvantagem significativa. É só mesmo por este motivo que este equipamento não está mais acima na classificação.
4) 2010
Nesta parte da lista, as diferenças entre os equipamentos em termos de preferência não são muito grandes. Foi difícil de definir a ordem nesta parte. Se estivesse a escrever este texto há um ano, a ordem se calhar seria diferente. Hoje fica assim.
Finalmente um equipamento que não é todo em vermelho: o criado para o Mundial 2010. A camisola é vermelha, mas possui uma faixa verde horizontal, na zona do peito. Inicialmente os calções eram brancos – eu gostava assim, mas admito que fica demasiado parecido com o equipamento do Manchester United.
Talvez seja por isso que, em muitos jogos (talvez na maior parte deles), a Seleção tenha usado calções vermelhos. Também ficam bem, não me interpretem mal – a faixa verde distingue-os dos vários equipamentos-todos-vermelhos – mas eu preferia os calções brancos. Mais: este seria o equipamento ideal para recuperar a tradição dos calções verdes. Uma oportunidade desperdiçada, na minha opinião.
3) 2016
Este equipamento tem o grande viés de ter sido o equipamento com que ganhámos o nosso primeiro título. Eu mesma tenho a camisola – há anos que queria uma da Seleção e optei pela camisola de Campeões Europeus.
Não digo que a minha opinião não seja nem um bocadinho enviesada mas, na minha opinião, mesmo colocando de lado o facto de ser a camisola da final de Paris, é um equipamento bonito por si mesmo. Na verdade, mais do que o fator Campeão Europeu, pesa mais o facto de eu ter um exemplar da camisola, que posso examinar ao pormenor.
Esta camisola tem os ombros e os braços num vermelho mais escuro – como poderão ver na fotografia abaixo, são na verdade riscas muito finas, alternando entre o vermelho-vinho-tinto e o vermelho do resto da camisola. Esse vermelho, aliás, é o tal vermelho-persa de que falei acima, o meu tom preferido (se não for exatamente esse o tom, está muito próximo).
É, em suma, um belo equipamento (mesmo que, mais uma vez, partilhe o modelo com várias outras seleções da Nike). Merece ser este a figurar nas fotografias do 10 de julho.
2) 2014
Este é capaz de ser o equipamento mais criativo e original desta lista (só o de 2010 é que compete com ele nesse capítulo). É todo em vermelho, mas a camisola possui um degradê (é esse o termo correto?). O peito e os ombros são num vermelho mais vivo que, depois, transita para um vermelho mais escuro, que ocupa a parte de baixo da camisola, os calções e as meias.
É uma pena este equipamento estar associado ao desastre que foi o Mundial 2014 porque eu gosto mesmo muito deste equipamento. Só prova que a beleza da camisola não serve de prognóstico.
E ainda bem, não é? Para estas coisas ninguém gosta de spoilers.
1) 2004
Como disse antes, tive algumas dificuldades em definir partes desta classificação, mas nunca tive dúvidas em relação ao primeiro lugar.
Admito que haja muita nostalgia nesta escolha. Como poderão ler aqui, muitos dos meus jogos preferidos de sempre da Seleção decorreram durante o Euro 2004. Ainda hoje, se reescrevesse essa lista, o Portugal-Espanha continuaria no primeiro lugar – porque foi onde tudo começou para mim. Se não fosse esse jogo, nenhum dos outros teria tido o mesmo impacto.
É difícil explicar a quem não se lembre desse campeonato ou tenha nascido depois dele (parecendo que não, gente de quinze anos incluem-se nesse grupo) o impacto que o Euro 2004 teve no povo. Fomos nós os anfitriões, uns anfitriões bastante entusiastas. A Seleção ia fazendo a sua parte, com jogos que se tornariam lendários. Todo o país esteve em festa como nunca se vira antes e não se tornaria a ver até agora.
Não, nem mesmo quando nos sagrámos Campeões Europeus. Não estou a dizer que tenha sido pior ou melhor, apenas que não foi a mesma coisa. Porque foi em França, não em Portugal.
O equipamento do Euro 2004 foi o último equipamento até agora a ter calções verdes. As cores, aliás, são mais vivas do que o costume, sem destoarem, com pormenores dourados – as faixas verticais, fininhas, de cada lado da camisola. À frente os números aparecem dentro de círculos, em homenagem ao equipamento da Seleção no Mundial de 1966.
Em suma, é um equipamento brilhante e festivo, diferente de qualquer outro, o que reflete na perfeição aquilo que o Euro 2004 representou para nós: um período feliz, brilhante, uma festa, algo irrepetível. O início da minha história de amor com a Seleção – e por isso estará sempre em primeiro.
E cá estão, os equipamentos das Quinas ordenados pelas minhas preferências. Devia ter calculado que dedicaria uma boa parte deste texto a comparar tons de vermelho mas olhem. Foi diferente. Foi divertido.
Agora estou ansiosa pela revelação do equipamento do Euro 2020. Provavelmente fá-lo-ão aquando dos jogos de março: o torneio da Qatar Airways, em que vamos jogar com a Bélgica e a Croácia. Espero que não se limitem a um equipamento liso, todo vermelho. Espero que sejam criativos, que lhe deem personalidade própria.
Não me peçam para decidir logo em que lugar ficaria nesta lista, ou mesmo para dar logo um parecer definitivo sobre o equipamento. Vou precisar de tempo para formar as minhas opiniões, de ver a Seleção envergando as novas camisolas em campo.
É esperar para ver. A contagem decrescente continua. Acompanhem-na connosco, na página de Facebook deste blogue.