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O Meu Clube É a Seleção!

Mulher de muitas paixões, a Seleção Nacional é uma delas.

Um estranho empate, a vitória de que precisávamos

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No passado dia 2 de junho, a Seleção Portuguesa de Futebol empatou a uma bola com a sua congénere espanhola. Três dias mais tarde, venceu a sua congénere suíça por quatro bolas sem resposta. Estes dois jogos contaram para a fase de grupos da terceira edição da Liga das Nações. 

 

Antes de mais nada, um pequeno pedido de desculpas por não ter publicado aqui no blogue antes destes jogos. Tenho tido umas semanas complicadas, em grande parte porque apanhei Covid e este não foi meigo comigo. Não é a primeira vez que salto uma crónica pré-jogo e não será a última. Mas não o devia ter feito desta vez. 

 

Nestas crónicas gosto de fazer uma rápida análise aos nossos adversários, o historial recente deles, o nosso histórico de confrontos com eles – para depois fazer prognósticos. Isso fez-me falta nesta jornada. Quando esta jornada começou, senti-me como se estivesse numa aula prática da faculdade sem a ter preparado.

 

Enfim, acontece. Mas vou tentar não repetir no futuro.

 

No dia do jogo com a Espanha, saí tarde do trabalho e acabei por perder os primeiros vinte e cinco minutos do jogo. Bem, mais ou menos. Ia consultando aqueles sites de atualizações de jogos quando podia até sair, depois ouvi o relato na rádio. Dava para perceber que a Espanha estava claramente por cima, ainda que Portugal fosse conseguindo defender-se dos ataques deles. 

 

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Mas não por muito tempo. Na verdade, entrei em casa precisamente no momento em que Álvaro Morata marcou. Rafael Leão tentou passar para trás, João Cancelo (foi ele, não foi?) deixou a bola fugir e ir parar aos pés de Gavi. Os Marmanjos foram basicamente apanhados com as calças na mão enquanto Gavi galgava o campo. Por fim, este passou a Sarabia que assistiu para Morata.

 

Tenho de admitir, foi uma bela jogada. Os portugueses só se podiam culpar a si mesmos.

 

Agora que já tinha acesso a uma televisão, conseguia ver com os meus próprios olhos que a Espanha estava a jogar muito melhor do que nós. Os portugueses na comparação quase pareciam amadores, dependentes da inspiração dos mais criativos. Não era tanto um “fia-te na virgem e não corras”, era mais um “fia-te no Rafael Leão e deixa os espanhóis correrem”. Em teoria isto não devia ser eficaz. Na prática, com Fernando Santos tem resultado muitas vezes.

 

Infelizmente, Rafael Leão – que jogou no lugar de Cristiano Ronaldo e é um dos Marmanjos do momento – não estava nos seus dias. Ou isso, ou se calhar ainda não estava preparado para este papel – ainda tem pouca experiência na Seleção.

 

Aproveito para falar já numa das questões-chave do jogo: a ausência de Cristiano Ronaldo do onze inicial. O assunto fez correr muita tinta – mais do que devia, na minha opinião. Ronaldo tem trinta e sete anos, vai completar em breve vinte anos como jogador profissional (!). Não podemos ficar dependentes dele para sempre, temos de ir fazendo o desmame. Pessoalmente, eu não o deixava no banco neste jogo – o mais difícil da fase de grupos. Mas temos de encarar com naturalidade quando ele não joga de início. 

 

A nossa melhor fase foi no início da segunda parte, quando entrou Rúben Neves para o lugar de João Moutinho. Infelizmente o ímpeto não durou muito. Ainda assim, Ricardo Horta – estreante e outro dos Marmanjos do momento – entrou aos setenta e poucos minutos e só precisou de mais dez para empatar a partida. Pode ter sido um golo contra a corrente do jogo, mas foi uma jogada bonita: a troca de bola entre Cancelo e Gonçalo Guedes, a assistência do primeiro para o remate de Horta.

 

 

Por alturas do fim do jogo, eu mal acreditava. Como é que tínhamos conseguido não perder aquele jogo? Quase senti pena dos espanhóis, que tinham feito muito mais por merecer a vitória. Quase… porque duvido que nuestros hermanos pensassem o mesmo se fosse ao contrário – não tanto os jogadores, mais os adeptos. Eles que não nos deram pontos na Eurovisão e, pior ainda, assobiaram o nosso hino. 

 

Por isso sim, que se danem. Este pontinho é nosso. E talvez venha a ser precioso.

 

Por outro lado, tenho de ser sincera: este empate não entusiasmou ninguém. Foi um típico jogo à Fernando Santos, sobretudo neste último ano, ano e meio. Um estranho empate, como disseram nos Memes da Bola. Parafraseando um monólogo de uma personagem de Ted Lasso, o equivalente futebolístico a um quadro de quarto de hotel: cumpre a sua função, mas está longe de ser uma obra de arte, está longe de comover. 

 

É por estas e por outras que, nesta altura do campeonato, muitos de nós não conseguem estar a cem por cento com Fernando Santos – eu incluída. Foi por muitos jogos assim que o ano passado foi tão frustrante. É certo que uma coisa é termos estes estranhos empates perante adversários como a Espanha – historicamente uma das nossas maiores bestas negras. Outra coisa era quando tínhamos estes estranhos empates ou estranhas vitórias perante adversários como a República da Irlanda ou o Azerbaijão

 

E de qualquer forma, no que toca a entretenimento e obras de arte, fomos bem compensados no jogo seguinte.

 

Este decorreu no Estádio de Alvalade e eu estive lá, com a minha irmã – que não ia a um jogo da Seleção desde antes da pandemia, desde… desde a final da Liga das Nações no Porto há precisamente três anos, vejo agora. 

 

Chegámos cedo, sem grandes complicações – o facto de já não precisarmos de certificados de vacinação e afins ajuda – assistimos a parte do aquecimento. Como sempre, estava um ambiente fantástico, com lotação esgotada – nunca me farto disso. E como era o Estádio de Alvalade, a Seleção vestia um equipamento verde e vermelho e ainda tínhamos a luz do dia, lembrei-me do meu primeiro jogo.

 

 

Como já toda a gente assinalou, Portugal não entrou bem na partida. Os suíços dominaram durante os primeiros dez minutos, culminando com o golo de Seferovic, aos seis minutos. Comecei logo a fazer contas à vida, naturalmente – ao mesmo tempo, estranhei que o marcador não se alterasse nos ecrãs gigantes. Acabou por aparecer a indicação de consulta do VAR por mão na bola. Pouco depois obtivemos confirmação e o golo foi anulado. Suspiro coletivo de alívio, festejos nas bancadas.

 

– Que sirva de lição – disse eu, na altura. Estava apenas falando para o ar, claro, parecido com os meus gritos ocasionais de “Vai! Vai! Vai!”, “Corre!”, “Chuta!”. Mas a verdade é que os jogadores pensaram o mesmo – vários admitiram-no mais tarde. O golo anulado foi uma “wake up call”. Depois dele, Portugal tomou conta do jogo. 

 

Começando logo aos quinze minutos, na nossa primeira ocasião. Cristiano Ronaldo cobrou o livre direto, o guarda-redes Gregor Kobel defendeu para a frente, William Carvalho marcou na recarga. Adoro ver os festejos deste golo – se me permitem a nota menos futebolística, William tem um sorriso lindo.

 

Isto na verdade foi apenas o começo para William. Ele fez um jogo espetacular, catalisando vários lances de ataque. Não foi o único. Adiantando-me um pouco, Portugal num todo jogou bem. Jogou “bonito”, como Fernando Santos insiste em dizer. O talento que todos reconhecem nos nossos Marmanjos estava finalmente a vir ao de cima. Otávio estava em todo o lado – neste jogo reparei que ele é baixinho mas corre muito. Nuno Mendes teve vários rasgos de inspiração. Diogo Jota não esteve nas suas melhores noites – aparentemente ele só consegue marcar de cabeça – mas sempre contribuiu para os dois golos de Cristiano Ronaldo. João Cancelo foi pura e simplesmente imperial. Rúben Neves também esteve bem, à semelhança de Bruno Fernandes, que também esteve nos golos de Ronaldo. Eu podia continuar…

 

Mas regressemos à primeira parte do jogo. Os últimos quinze minutos foram absolutamente avassaladores da nossa parte, com dois golos e uns quantos desperdícios. Ambos os golos foram assinados por Ronaldo. 

 

A jogada do primeiro começou em Rúben Neves, Otávio desviou de cabeça, Bruno Fernandes passou para Diogo Jota. Pensava-se que este iria rematar – em vez disso, este desarmou dois suíços e assistiu para o remate certeiro de Ronaldo. 

 

No segundo golo, Bruno Fernandes fez uma cueca a um dos suíços (que boss…), a bola chegou a Nuno Mendes que assistiu para Diogo Jota. Este aparentemente não estava à espera e tentou um remate atrapalhado. Kobel defendeu de novo para a frente (a sério? Um remate tão fraquinho e ele defende para a frente? Acho que até eu teria conseguido agarrar esta bola!) e desta vez foi Ronaldo a aproveitar. 

 

 

Não sei como é com vocês, mas eu nunca me cansarei de ouvir multidões gritando “SIIII!!!!” em coro com Cristiano, cantando o nome dele. As imagens de uma D. Dolores em lágrimas no rescaldo dos dois golos correram mundo. Por um lado é caricato: o filho é recordista em golos de seleções (e em vários outros tipos de golos). A senhora chora de todas as vezes que Ronaldo marca?

 

Por outro lado, são imagens bonitas, ninguém o nega. E compreende-se. Era uma ocasião especial, os gémeos de Ronaldo faziam cinco anos – o pai marcou um golo para casa. Além disso, há que recordar, a família tem passado por tempos difíceis.

 

Já que falo nisso, queria destacar outro momento. Conforme referimos antes, tivemos vários desperdícios nos últimos quinze minutos da primeira parte. Um deles foi de Ronaldo, um lance de caras. O Capitão teve uma reação um pouco mais desalentada do que eu esperava. Logo a seguir, nas bancadas, aplaudimos e cantámos o nome dele, em jeito de consolo.

 

A minha irmã já tinha comentado que nós tratamo-lo bem, que o mimamos. Ninguém nega que ele o merece, sobretudo neste momento. Não só por tudo o que tem feito por nós, mas também depois da perda que ele e a família sofreram há pouco tempo.

 

O futebol é isto. A Seleção é isto.

 

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Chegámos, assim, ao intervalo com uma vantagem de três golos. Eu queria ainda mais na segunda parte – até porque a baliza da Suíça ia ficar do nosso lado. Na prática, sabia que seria difícil mantermos o ímpeto, com todas as condicionantes à forma física dos jogadores. Eu, aliás, estava à espera que Ronaldo saísse ao intervalo ou por volta do momento sessenta. Isso não aconteceu, ele jogou até ao fim – uma vez mais eu teria feito diferente, mas pronto.

 

Ainda assim, a segunda parte não foi má. Ronaldo chegou a enfiar a bola na baliza aos cinco minutos, mas o golo foi anulado por fora de jogo. Pena. Ficou por repetir o hat-trick de há exatamente três anos antes. E não pude festejar um golo de Ronaldo do meu lado do campo.

 

O momento de brilho ocorreu perto dos setenta minutos, numa jogada de João Cancelo e Bernardo Silva (que acabara de render Bruno Fernandes). Cancelo abriu caminho pela direita sem dificuldades. O passe de Bernardo escapou a três suíços, Cancelo fintou o guarda-redes com imensa classe e rematou certeiro para as redes.

 

Tal como já me tinha acontecido no jogo com a Sérvia, o telemóvel voou-me do bolso durante os festejos (o casaco que uso com a camisola da Seleção tem os bolsos muito grandes, eu esqueço-me sempre…). Desta feita, dois senhores (pai e filho?) que estavam no banco da frente apanharam-no e viraram-se para trás. Eu estava ainda de olhos nos jogadores a festejar, sorrindo como uma tola. Demorei vários segundos a perceber que o telemóvel que tinham na mão era o meu. 

 

Enfim…

 

Não aconteceu mais nada de assinalável durante o resto dp jogo, ainda que nós nas bancadas fôssemos gritando “Só mais um! Só mais um!”. Tirando o momento em que João Palhinha se ia virando a Embolo. Noutras circunstâncias eu diria que ele não devia perder a cabeça por “dá cá aquela Palhinha” (não, não peço desculpa) mas, em defesa dele… aquilo foi uma falta demasiado dura e completamente desnecessária, talvez merecesse mesmo o cartão vermelho. 

 

Por outro lado, quando revi o lance na televisão, deu para ver e ouvir claramente Fernando Santos gritando a Palhinha para ter calma. 

 

Em todo o caso, a Suíça nunca chegou a ameaçar verdadeiramente. A vitória manteve-se. 

 

Arrisco-me a dizer que este foi o nosso melhor jogo nos últimos tempos. Talvez mesmo desde 2020. É certo que houve demérito da Suíça – acho que vi nalgum lado que eles andam com problemas internos – mas isso não é culpa nossa. Eles tinham a obrigação de fazer melhor, depois dos bons resultados que tiveram no último ano. E eu não me esqueço que eles se bateram taco a taco connosco na Qualificação para o Mundial 2018.

 

Por nosso lado, como referi antes, finalmente vimos Portugal a jogar bem, aproveitando o talento dos seus jogadores. É assim que nós gostamos! Depois de demasiadas pinturas de quarto de hotel, finalmente fizemos uma obra de arte. Era a vitória de que precisávamos há muito tempo, algo que nos desse argumentos contra os críticos da Seleção – incluindo aquele que vive dentro da minha cabeça. 

 

Além de que eu não podia ter pedido mais de um jogo a que assisti ao vivo. Foi uma das minhas noites mais felizes dos últimos tempos. 

 

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A questão agora é saber se conseguimos repetir a proeza. Começando já hoje, com o jogo com a Chéquia. Vai ser difícil: os checos têm um estilo de jogo diferente da Suíça, empataram com a Espanha e igualam-nos em pontos. Não podemos esperar facilidades.

 

Eu naturalmente quero mais daquilo que tivemos no domingo, mas sei que será difícil. Para além de ser um adversário mais complicado, estamos em fim de época, são quatro jogos em onze dias, Fernando Santos tem de rodar a equipa, como tem sido amplamente comentado. Com todas as atenuantes, só peço a vitória. O fator artístico será secundário. Pelo menos no que toca aos próximos dois jogos.

 

Que ganhemos então. Hoje faz três anos desde que vencemos a Liga das Nações. Eu quero regressar a uma final four e, se possível, repetir esse feito. 

 

Como sempre, obrigada pela vossa visita. Espreitem a página de Facebook daqui do blogue. E tendo em conta que há jogo logo à noite… força Portugal!

Alegria e tristeza, saúde e doença

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No passado domingo, dia 11 de outubro, a Seleção Portuguesa de Futebol empatou sem golos contra a sua congénere francesa, em jogo que decorreu no Stade de France, em Paris. Três dias depois, a Seleção venceu a sua congénere sueca por três bolas sem resposta. 

 

Antes de falarmos sobre os jogos, receio que tenhamos de falar sobre o Coronavírus, que pelo menos para mim arruinou esta jornada tripla. Bem, na verdade tem arruinado a vida de toda a gente este ano, de múltiplas maneiras. Este foi apenas mais um exemplo. Isto numa fase em que eu pensava que estávamos preparados, que sabíamos com que contar, que já estaríamos capazes de evitar baldes de água fria. Mas não.

 

Na véspera do jogo com a Suécia, Cristiano Ronaldo acusou positivo no rotineiro teste à Covid. Reagi um bocado mal à notícia – o Ricardo Araújo Pereira deixou-me com as orelhas a arder um bocadinho, no seu monólogo de abertura no domingo passado (Ah, doença cruel! Oh, maleita inclemente!).

 

Não que tenha ficado muito preocupada com a saúde de Ronaldo – ele é jovem, é saudável, aparentemente tem estado assintomático. Na pior das hipóteses, batam na madeira, ele tem dinheiro para pagar tratamentos de luxo, semelhantes aos que o execrável presidente dos Estados Unidos recebeu. Eu até alinhei nas piadas que se fizeram na altura – embora mais na onda de rir para não chorar. 

 

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Vou desde já admitir a minha hipocrisia: isto só se tornou um problema a sério para mim quando foi Cristiano Ronaldo a acusar positivo – não me preocupei tanto quando José Fonte e Anthony Lopes acusaram, dias antes. É inútil negá-lo, Ronaldo tem um mediatismo que nenhum dos outros tem – e provavelmente nunca terão. 

 

Por outro lado, isto aconteceu uma semana depois do início da concentração. Aquilo que mais me afligiu foi o facto de, de repente, quase tudo o que Ronaldo no seio da Seleção, teve de ser questionado, assinalado como possível risco de contágio. A foto que ele tirou com Pepe e Sergio Ramos, depois do jogo com a Espanha, aludindo aos anos em que foram colegas no Real Madrid; o momento com Kylian Mbappé, seu admirador, a troca de camisolas com o jovem Eduardo Camavinga; a fotografia da Seleção à mesa do jantar. Bolas, só o facto de ter treinado e jogado futebol sem máscara.

 

Fernando Santos garante que não foi durante a concentração que Ronaldo contraiu o vírus – mas o Selecionador, com o devido respeito, não é uma autoridade de saúde. De qualquer forma, independentemente do momento em que se contaminou, se Ronaldo deu positivo, é possível que já carregasse o vírus há uns dias, correndo o risco de o ter passado aos colegas. Colegas esses que, depois desta jornada tripla, regressaram aos seus clubes, às suas famílias. Toda uma cadeia de transmissão que pode ter começado na Equipa de Todos Nós.



Como é que acham que eu me senti ao saber que um compromisso da Seleção, uma das coisas que mais alegria traz à minha vida, pode ter servido de foco de infeção? Quase que mais valia a Turma das Quinas ter continuado em hiato. Se os Marmanjos não podiam festejar um golo sem que eu receasse que se estavam a contaminar uns aos outros, para quê?

 

Não culpo os jogadores. Acredito quando dizem que tem cumprido os protocolos todos o melhor que podem. E, que diabo, segundo Fernando Santos fizeram sete testes ao Covid em uma semana (um momento de silêncio pelas suas fossas nasais). Não sei se os protocolos definidos em junho, quando o futebol recomeçou, ainda estão em vigor mas, se estiverem, os jogadores praticamente só saem de casa para os treinos e jogos. Que mais podem fazer?

 

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À hora desta publicação, tanto quanto sei, mais nenhum Marmanjo acusou positivo à Covid 19. Nem nenhum jogador francês, sueco ou espanhol, nem mesmo Mbappé ou Sergio Ramos ou Camavinga. Pode ser que Ronaldo não tenha contaminado ninguém. Não há nada que possamos fazer agora. Mais vale falarmos sobre os jogos.

 

No dia do jogo com a França, cheguei a casa um bocadinho tarde. Quando liguei a televisão, já tinham decorrido os primeiros minutos da partida. Rúben Dias já contava um cartão amarelo, aparentemente após uma cotovelada a Olivier Giroud. O jogador francês ficou a sangrar e tiveram de lhe ligar a cabeça.

 

Havia necessidade disto tão cedo no jogo? Acho que não. Um árbitro mais duro teria mostrado logo o vermelho, o que ia estragar-nos o jogo por completo. Mas tenho de confessar, depois de Dimitri Payet nem sequer ter levado falta quando lesionou o Ronaldo na final de Paris, c’est le karma. O Giroud individualmente não teve culpa, coitado, mas é bem feita para a seleção francesa em geral. 

 

Parece que, em relação aos franceses, vou ser sempre algo mesquinha. O facto de lhes termos roubado o título de Campeões Europeus não foi suficiente. Em minha defesa, os franceses continuam igualmente mesquinhos: vejam-se as notas que a France Football deu aos Marmanjos.

 

Mas estou a desviar-me. 

 

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À parte esse pormenor, foi um jogo muito equilibrado. Caricatamente equilibrado, como se pode ver no meme acima. Na primeira parte, Portugal esteve por cima – muito graças ao excelente trabalho dos nossos médios, sobretudo de William Carvalho e Danilo. William, então, foi uma das estrelas desta jornada tripla.

 

Ainda assim, não dispusemos de muitas oportunidades. Tivemos um lance caricato em que, após um belo passe, Bernardo Silva tentou esticar-se mas acabou por cair com espalhafato. Houve também uma oportunidade de Bruno Fernandes, de Cristiano Ronaldo (boa intervenção de Lucas Hernandez) e pouco mais.

 

Na segunda parte, os franceses entraram mais afoitos. Desta feita, os nossos médios tiveram mais dificuldade em contê-los – em parte por causa do cansaço. O jogo tornou-se mais partido, menos seguro. Ainda assim, mesmo tomando mais as rédeas da partida, os franceses nunca obrigaram Rui Patrício a esmerar-se, tirando um momento ou outro.

 

Por seu lado, Fernando Santos lançou Diogo Jota e Francisco Trincão, a ver se não ficávamos pelo empate. Não resultou, infelizmente. Pepe até conseguiu enfiar a bola na baliza, na sequência de um livre. Ainda festejei, mas o golo foi anulado por fora-de-jogo.

 

O marcador permaneceu por abrir até ao apito final. Tínhamos vindo a dizer, nos dias anteriores, que um empate não seria um mau resultado – e de facto não o foi. Afinal de contas, era uma das melhores seleções do Mundo e um adversário tradicionalmente difícil para nós.

 

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Ao mesmo tempo, empatámos perante uma das melhores seleções do Mundo e um adversário tradicionalmente difícil para nós… e mesmo assim Fernando Santos queria mais. Queixou-se que os jogadores de ambas as equipas foram “demasiado cautelosos”... mas quem pode censurá-los? Éramos nós contra os Campeões do Mundo e nossas maiores bestas negras. Eram eles contra os Campeões da Europa e Liga das Nações e que já lhes tinham causado dissabores.

 

Além disso, é possível que, tivéssemos sido menos cuidadosos, corrríamos o risco de sofrermos golos, o que não era desejável.

 

Depois do jogo, toda a gente fez a piada de que faltou o Éder para repetir o feito do 10 de julho. A brincar a brincar, eu até concordo, faltou o Éder. Não o jogador em si, antes aquilo que ele representou na final de Paris: a estrelinha, aquele rasgo inesperado de inspiração, de talento, para marcar o golo da vitória (não confundir com sorte). Ronaldo fá-lo inúmeras vezes, mas podia ter vindo de qualquer um. 

 

Desta vez não deu.

 

Cheguei a ter medo de que esta jornada tripla terminasse sem que a Seleção marcasse um golo. Felizmente, o jogo com a Suécia deu-nos ocasiões para matar essa sede. 

 

Portugal entrou em jogo com a “pica” toda – fazendo lembrar um pouco a Espanha, uma semana antes. Tivemos oportunidades logo aos primeiros minutos, uma de Diogo Jota (que substituiu Ronaldo), outra de William Carvalho (já disse aqui que o William foi espetacular nestes jogos?). Finalmente, aos vinte minutos, Bruno Fernandes isolou Jota, este driblou um pouco e assistiu para o golo de Bernardo Silva.

 

 

Estava aberto o marcador – e a Seleção pôde festejar este golo com público!

 

Apesar da entrada em grande de Portugal, a Suécia não se deixou dominar. Pelo contrário, este foi um jogo muito partido, atípico para o estilo de Fernando Santos. Conforme mencionaram aqui na vizinhança, os suecos esticaram o campo em vez de encolhê-lo. Portugal nunca conseguiu ter o jogo controlado por completo.

 

Felizmente, a Seleção conseguiu não sofrer golos – uma vez mais, graças ao trabalho de Rui Patrício (um dos melhores guarda-redes do Mundo), Danilo e Pepe. Este último está numa fase excelente apesar a idade. É o mestre da defesa portuguesa – e Rúben Dias, que combina muito bem com ele, é o seu aprendiz, talvez o seu sucessor.

 

Eram Pepe, Patrício e Danilo brilhando atrás, era Diogo Jota brilhando à frente. Poucos minutos antes do intervalo, João Cancelo fez um passe espetacular, como que guiado por GPS. A bola encontrou Jota cara a cara com a baliza e o miúdo não desperdiçou. 

 

As coisas não mudaram muito na segunda parte. Aos sessenta e sete minutos, Bruno Fernandes recuperou a bola, arrancou em direção ao meio-campo da Suécia, isolou João Félix à entrada da área, só o guarda-redes à sua frente. Infelizmente, o miúdo deve ter-se enervado e rematou por cima. 

 

Pobre Félix. Ainda não está lá.

 

 

Finalmente, dez minutos depois, Jota fez quase tudo sozinho no último golo. O passe foi de William, Jota conduziu a bola para dentro da grande área, indiferente aos quatro suecos lá, e rematou para as redes.

 

Muito entusiasmada com este miúdo. Se se mantiver no caminho certo e tiver sorte, será um grande jogador.

 

Ficou feito o resultado. Talvez demasiado dilatado para um jogo em que Portugal nunca teve mão no jogo por completo. Não é grave. O que interessa são os três pontos e os golos numerosos, que poderão vir a da jeito em caso de empate pontual com a França, mais à frente.

 

Se não fossem todos os problemas causados pelo Coronavírus, hoje estaria muito feliz com o momento atual da Seleção. A Equipa de Todos Nós não fez um único jogo mau nesta edição da Liga das Nações, mesmo com adversários deste calibre. O longo hiato pode ter feito bem à Seleção – nos últimos jogos antes da pausa, tinhamos concluído uma Qualificação para o Euro 2020 com dificuldade, deixando muito a desejar. Depois disso, eu não esperava um desempenho tão consistente nesta prova.

 

Ou então, é a nossa mania de jogarmos melhor perante equipas difíceis. Nesse sentido, a Liga das Nações é uma competição à nossa medida (mesmo que muito boa gente como Arsène Wegner não lhe ache piada). Não admira que tenhamos sido os primeiros vencedores.

 

Neste momento, sobramos nós e a França na luta pela passagem às meias-finais. A maneira menos stressante de carimbarmos o passaporte é vencendo os franceses no próximo mês, em casa. Uma tarefa difícil em qualquer circunstância. No entanto, acredito que a Seleção atual, da maneira como tem jogado, é a melhor preparada para este desafio.

 

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Falaremos melhor sobre isso na altura.

 

Esperemos que Ronaldo elimine o vírus depressa e que mais ninguém na Seleção se contamine. Obrigada por lerem. Tenham cuidado convosco, para não se virem na mesma situação. Continuem a acompanhar a Equipa de Todos Nós comigo, quer aqui no blogue, quer na sua página de Facebook.

Portugal 0 Espanha 0 – Rui Patrício de um lado, trave do outro

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Na passada quarta-feira, 7 de outubro, a Seleção Portuguesa de Futebol empatou sem golos com a sua congénere espanhola, no Estádio de Alvalade, em jogo de carácter particular.

 

Este jogo ficou marcado pelo regresso do público a um estádio de futebol, em Portugal Continental – pela primeira vez após o início da pandemia. Não foram colocados bilhetes à venda, apenas convites. Na quinta-feira descobri que eu fora uma das felizes contempladas, por estar inscrita no Portugal +. O convite duplo fora-me enviado na manhã do dia do jogo – mas eu só vi o e-mail mais de vinte e quatro horas depois. 

 

Em minha defesa, eles podiam ter enviado o convite mais cedo – uns dias antes ou, no mínimo, de véspera. Eu por acaso estava livre nesse fim de tarde, podia ter ido ao jogo – mas não teria companhia. 

 

Bem, pode ser que volte a receber convites para o jogo com a Suécia. Agora sei que tenho de estar atenta ao e-mail.

 

De qualquer forma, foi bom ver um jogo de futebol com público, ainda que reduzido. Eram apenas duas mil e quinhentas pessoas, cinco por cento da capacidade do Estádio de Alvalade, mas eram audíveis. Ouviam-se os aplausos, as exclamações, os assobios. Viam-se mãos nas cabeças nas repetições dos remates falhados. Os Marmanjos não estavam sozinhos.

 

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O futebol não é o mesmo sem isto.

 

Portugal não entrou nada bem no jogo. Não prestei muita atenção à primeira meia hora, pois estava a fazer o jantar, mas até eu reparei que nuestros hermanos encostaram-nos às cordas. Como dá para ver neste vídeo, os espanhóis fizeram sete remates antes dos vinte minutos de jogo, quatro deles nos primeiros dez minutos da partida. Nós mal conseguíamos sair do nosso meio-campo – o guarda-redes espanhol, Kepa, devia ter aproveitado para fazer uma siesta.

 

Este domínio só não se traduziu em golos graças a uma boa intervenção de Raphael Guerreiro, intercetando uma possível assistência de Sergio Canales para Gerard Moreno. Mas sobretudo graças a Rui Patrício. 

 

Já tinha saudades de vê-lo a este nível: imperial perante equipas grandes, um dos melhores guarda-redes da Europa, se não for do Mundo. Não me lembro da última vez que ele teve uma exibição assim. Mas sabem como é que é, quando o guarda-redes se destaca demasiado…

 

Fernando Santos sabia. Os seus gritos eram bem audíveis. E a transmissão televisiva chegou a mostrá-lo no banco, com a mão na testa.

 

Quem nunca?

 

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Felizmente, a partir dos vinte e cinco minutos, Portugal começou a entrar mais nos eixos, a criar oportunidades de perigo. Trincão, por exemplo, assistiu para Raphael Guerreiro aos quarenta e três minutos. Este, no entanto, desperdiçou, chutando para as nuvens. 

 

Em defesa dele, Raphael chutou com o seu pior pé, o direito. Era o que estava mais à mão. Se tivesse podido usar o pé esquerdo, o resultado podia ter sido outro.

 

Ainda houve tempo para Cristiano Ronaldo cabecear ao lado. Portugal terminou a primeira parte em crescendo – crescendo esse que se manteve na segunda parte, depois de Fernando Santos ter trocado João Moutinho, Pepe e André Silva (nem me lembro de ver este último em campo) por William Carvalho, Ruben Dias e Bernardo Silva. 

 

Tivemos um par de lances caricatos, em que a bola bateu na trave e caiu exatamente da mesma forma: em cima da linha de baliza, sem a cruzar. O primeiro foi aos cinquenta e dois minutos: William assistiu, de uma distância considerável, para Ronaldo disparar. Quinze minutos depois, foi Ronaldo quem assistiu, em grande estilo, um belo passe curvo (fez-me lembrar a assistência de Nani para o segundo golo de Ronaldo frente à Holanda, no Euro 2012). Renato Sanches enviou o míssil que atingiu a barra. Como diziam no Facebook das Seleções de Portugal, a trave ainda deve estar a tremer. 

 

 

Eu neste momento só me ria e comentava “Só podem estar a gozar…”. Isto era a maldição dos postes a outro nível. E nem sequer era a primeira vez que a trave ficava do lado de nuestros hermanos, impedindo mais golos que o guarda-redes espanhol. A minha mãe dizia que a baliza tinha um escudo invisível – não vi provas em contrário!

 

Os espanhóis tiveram mais uma oportunidade ou outra, na segunda parte – uma delas obrigou Rui Patrício a mais um momento imperial, defendendo com o joelho. Se a memória não me falha, imediatamente a seguir o recém-lançado João Félix, que substituiu Ronaldo, foi colocar a braçadeira de Capitão no braço de Patrício. Achei apropriado – teria sido melhor se fosse uma coroa. 

 

Ainda assim, se não me engano, foi Portugal quem teve mais oportunidades em toda a segunda parte – pena nenhuma delas se ter concretizado. Perto do fim do jogo, Félix assistiu para Trincão, mas Kepa meteu-se à frente. Mesmo no sopro final da partida, na sequência de um canto, a bola chegou a Félix, mesmo junto à linha da baliza. O jovem podia ter encostado para golo e conseguido a vitória, mas a bola passou-lhe entre as pernas. 

 

O jogo terminou assim, com o marcador teimosamente fechado. O que é chato para o público. Eu teria ficado desiludida por não ter podido gritar “GOLO!” – já aconteceu antes. Mas o que se podia fazer? Na nossa baliza estava Rui Patrício, na baliza dos espanhóis estava um escudo invisível. Estava a trave.

 

Tirando isso, não tendo sido um jogo especialmente memorável, não foi mau para um particular. Teve os seus momentos. O empate foi um resultado justo tendo em conta o que ambas as equipas fizeram. Portugal podia ter feito mais: podia não ter entrado com vinte e cinco minutos de atraso, podia não ter tido pontaria a mais. Mas se é para entrar mal num jogo, se é para ter azar, que o faça quando é a feijões, em vez que fazê-lo quando é a doer. 

 

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Como hoje, frente à França. 

 

França essa que, no mesmo dia do nosso jogo com a Espanha, venceu a Ucrânia, também num jogo particular, por nada menos que sete bolas contra uma. Contra a Ucrânia! Não é propriamente um tubarão, mas sempre está na primeira divisão da Liga das Nações – e venceu-nos no ano passado.

 

Creio que, neste momento, a França é a seleção mais perigosa, mais letal, do momento. Mesmo a Alemanha não parece estar ao nível de há uns anos – empataram com a Turquia num jogo particular (o que também vale o que vale). Não vai ser nada fácil. É bom que Rui Patrício esteja preparado para ser imperial outra vez – palpita-me que vamos precisar.

 

É engraçada a forma como as circunstâncias são tão parecidas com o 10 de julho. O estádio é o mesmo, a hora é a mesma, é também um domingo. Vamos voltar a um sítio onde já fomos felizes. Fernando Santos podia ter Convocado o Éder só para ele estar lá no banco, só para gozar com os franceses. 

 

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Dito isto… isto não é uma final. É apenas um jogo da fase de grupos. Nem sequer é particularmente decisivo – quem ganhar passa para o topo da tabela, mas tem de manter-se lá durante mais três jogos. Um empate não seria um mau resultado mas, como referi antes, todos queremos ganhar. 

 

Vou preparar-me para um jogo de sofrimento – aconselho-vos a fazerem o mesmo. Estou contente por ter conseguido publicar este texto antes do jogo com a França. O próximo cobrirá, então, a partida de hoje e da de quarta-feira, com a Suécia. 

 

Como o costume, obrigada por estarem desse lado. Acompanhem o resto desta jornada tripla comigo, quer aqui no blogue quer na sua página no Facebook

Portugal 0 França 1 - A maldição continua, parte 2

IMG_20150904_193912.jpgNa passada sexta-feira, dia 4 de setembro, a Seleção Portuguesa de Futebol recebeu, no Estádio de Alvalade a sua congénere francesa, em jogo de carácter particular. Eu estive lá. Este encontro terminou com uma vitória pela margem mínima para a seleção visitante.

 

Chegámos ao estádio um bocadinho em cima da hora - por minha vontade chegaríamos pelo menos meia hora antes, sem grande stress, com tempo para absorver o ambiente. Indo com várias pessoas, sobretudo num dia de semana, é difícil isso acontecer... Ao menos chegámos a tempo do hino, que é sempre um dos momentos mais icónicos de um jogo de Seleção.

 

Estava uma casa bem composta - pouco menos de quarenta mil espectadores - com uma quantidade considerável de franceses, bastante barulhentos por sinal. Passaram o jogo quase todo a cantar, tendo sido poucas as alturas em que nós, portugueses, conseguimos abafar-lhes as vozes. O queme faz pensar de novo na questão dos cânticos para a Equipa de Todos Nós. Já se tentou, mas a única maneira que vejo para um potencial cântico pegar seria se a Seleção tivesse uma claque - algo que seria difícil de pôr em prática.

 

Mas fechemos este àparte. 

 

 

 

Este é capaz de ter sido um dos jogos da Seleção mais secantes a que assisti ao vivo - mesmo que não tenham sido muitos - sobretudo por ter sido o primeiro em que a Turma das Quinas não marcou. A primeira parte não foi má, teve equilíbrio. Os franceses atacavam com mais frequência, mas iam-nos valendo Pepe, Ricardo Carvalho (antes de ser substituído) e, sobretudo com o jogo já avançado, Rui Patrício. A segunda parte da Seleção Portuguesa foi pior, como costuma acontecer nos particulares - nesta altura, estávamos sentados do lado do meio-campo francês e, durante os primeiros quinze minutos, pouco ou nada se viu do nosso lado. A equipa portuguesa suibiu de rendimento após as substituições, mesmo assim, embora continuasse a produzir pouquíssimas ocasiões de golo. O tento da França acabou por surgiu um pouco contra a corrente da partida, numa altura em que eu já preparava mentalmente a reação a um empate sem golos. É claro que, depois de sofrer,a Seleção teve de correr atrás do empate. Mais uma vez, poucos minutos após o golo sofrido, todo o Estádio se pôs a gritar por Portugal, sobretudo aquando de uma série de cantos a nosso favor. Mais uma vez, Fernando Santos agradeceu-nos por isso. No entanto, desta feita, a Seleção não acordou a tempo.

 

É evidente que as duas equipas disputaram o jogo com motivações diferentes. Os franceses vinham de uma série de maus resultados, precisavam de uma vitória. Por nossa vez, ao contrário dos nossos amigos bleu, nós temos uma Qualificação com que nos preocuparmos, estávamos a três dias de um jogo difícil. Aquele foi um particular mais importante do que o costume, mas menos do que o jogo com a Albânia, ainda assim.

 

De qualquer forma, mesmo que Portugal não tenha jogado muito bonito, não achei que tivéssemos jogado propriamente mal. Podem dizer o que quiserem da capacidade finalizadora de Portugal (e não estão errados), mas a França só conseguiu marcar a partir de uma bola parada, aos oitenta e cinco minutos. Isso também é importante. Tenho, aliás, vindo a dar cada vez mais valor à capacidade defensiva, de baixar as linhas, jogar na expectativa. Começo a achar cada vez mais que o futebol é uma maratona, não uma prova de cem metros e muito menos ballet. É importante saber gerir o esforço, que eu estou convencida que foi isso que custou a final do Europeu aos sub-21 - os jovens portugueses cansaram-se mais que os suecos durante os cento e oitenta minutos e não bateram os penálties devidamente. Tambem não me surpreenderia se o cansaço tivesse, igualmente, sido fator nas meias-finais do Euro 2012.

 

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No entanto, este jogo também para provar que não chega jogar com linhas baixas, sobretudo perante equipas como a França. Equipas grandes que, ao contrário da Argentina e de Itália, querem mesmo ganhar. Como tenho vindo a dizer, as coisas estão a correr bem na Qualificação, ao contrário do que acontecia há dois anos. O futebol que temos praticado tem chegado para isso. No entanto, o jogo de sexta provou que o futebol atual não vai chegar para as seleções que encontraremos no Euro 2016. Fernando Santos diz que quer ser campeão da Europa, mas ainda existe muito a fazer antes de podermos realisticamente aspirar a tal.

 

De qualquer forma, nesta altura do campeonato, a primeira preocupação será sempre o Apuramento. Que poderá ser conseguido ainda hoje se ganharmos e se a Dinamarca perder contra a Arménia. Eu acho pouco provável os dinamarqueses perderem, mas não nego que me agradaria a possibilidade de ficarmos com a questão do Apuramento arrumada já hoje, mais de dois meses antes da altura habitual. Fazê-lo frente à Albânia, a Seleção que, há precisamente um ano, nos lançou numa crise, quase nos fez perder a esperança no Apuramento, seria particularmente poético.

 

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Com Apuramento imediato ou não, a vitória será sempre essencial para ficarmos mais perto do Europeu. Tal como afirmei na entrada anterior, não vai ser fácil. Continuo convicta de que não tenhos nenhum motivo para não conseguir, mesmo que tenhamos um histórico de complicar o que é fácil. No entanto, como podem ver, Fernando Santos revelou ontem a mensagem acima, que tem deixado à vista aquando das concentrações da Seleção, desde o seu primeiro dia. Tal mensagem terá catalisado as nossas quatro vitórias seguidas nesta Qualificação, há de catalisar uma quinta, hoje. Que consigamos, então, o Apuramento o mais cedo possível, para que depois possamos focarmo-nos em tornar a Equipa de Todos Nós numa candidata a campeã da Europa.

Portugal 1 Israel 1 - Quem merece?

Na passada sexta-feira, dia 11 de outubro, a Seleção Portuguesa de Futebol recebeu no Estádio de Alvalade a sua congénere israelita em jogo a conta para a Qualificação para o Mundial 2014. Eu estive lá e assisti ao vivo ao triste jogo que terminou com um empate a uma bola. Um triste resultado e uma triste exibição que, ainda assim, nos valeram um ponto que nos coloca praticamente nos playoffs. 

Foi o primeiro jogo da Seleção a que assisti ao vivo em mais de seis anos. Já tinha dito na última crónica que não guardava muitas boas recordações do último jogo (contra a Sérvia em setembro de 2007). No entanto, também não ficarei com grandes recordações deste. A única melhoria em relação ao último jogo, para além do ponto que nos coloca mais perto dos playoffs, foi o facto de, desta vez, ninguém ter andado aos murros dentro do campo.

Em todo o caso, ir a um jogo de futebol, em particular da Seleção, é sempre uma experiência inesquecível. Inesquecível é como quem diz... as recordações que eu tinha não faziam de todo justiça ao que é ir a um jogo da Seleção. Habituada como estava a ver o jogos pela televisão, a proximidade ao campo, aos jogadores, parecia irreal. Além de que as corres parecem ainda mais alegres - talvez seja a combinação do verde e vermelho das bandeiras, cachecóis e camisolas com os bancos de várias cores do Estádio de Alvalade. A casa estava praticamente cheia e o ambiente fantástico - incluindo uma pequena banda, com tambor e instrumentos de sopro que, ao longo do jogo, ia tocando ou músicas pimba ou o clássico "Portugal Olé!" ou, mais frequentemente, o "Cheira Bem, Cheira a Lisboa", que o público ia acompanhando com palmas e cantoria. 


Chegámos um bocadinho em cima da hora mas a tempo do hino que, naturalmente, foi um dos momentos da noite. Os nossos lugares ficavam no comprimento do campo, junto à baliza sul. Durante a primeira parte, essa baliza era ocupada por Rui Patrício. Muitos se têm queixado de aborrecimento durante o jogo - para mim, contudo, um jogo destes nunca é aborrecido por causa dos nervos. Alem de que estava no Estádio. O que sentia, portanto, era mistura de nervosismo e entusiasmo: tornava-se difícil tomar notas com as mãos a tremer, bater palmas com os dedos cruzados, gritar por Portugal sentindo o coração na garganta. Eu e a minha irmã não tínhamos olhos suficientes, ambas queríamos em simultâneo ver a bola, ver as reações de Patrício, as de Paulo Bento.

Devo dizer que, sempre que olhava, este último encontrava-se sempre no mesmo sítio: no canto superior esquerdo do rectângulo que delimitava o banco português. Por seu lado, o técnico israelita fartava-se de gesticular, de instruir os seus pupilos.


Ao longo de praticamente todo o jogo, Portugal dominava mas era exasperante a maneira como não conseguia chegar à baliza israelita. O golo português aliviou tais nervos. Infelizmente, ocorreu na baliza norte, pelo que não pudemos vê-lo como devia ser. Pouco após o grito do "GOLO!", que colocou todo o Estádio de pé, eu perguntava a todos os que me rodeavam:

- Quem é que marcou? Quem é que marcou?

O speaker do Estádio atribuiu, inicialmente, o golo a Pepe. Só vários minutos mais tarde, quando me pus a ouvir o relato radiofónico - naquela situação, o problema era o inverso do costumeiro: o relato estava atrasado em relação à imagem - é que soube que tinha sido o Ricardo Costa. Eu sempre fui um bocadinho cética em relação ao defesa do Valência mas devo admitir que ele tem tido boas exibições ultimamente, com óbvio destaque para o jogo de sexta-feira. Satisfeita por termos mais uma mais-valia.

Durante a segunda parte, desejei que marcássemos de novo em breve. Mas o maldito segundo golo nunca mais surgia. Agora reparava que os israelitas não estavam propriamente interessados em reverter a desvantagem - destaque para o guarda-redes, agora na baliza sul, que nos irritava a todos ao demorar eternidades a pôr a bola em jogo, nos pontapés de baliza. Mas nós também não tirámos proveito disso. Já estou como o Scolari, quem é o verdadeiro burro aqui? O Ronaldo estava em dia não, embora procurasse empurrar a equipa para a frente. O Nani ia-se esforçando mas sem consequências práticas. O Hugo Almeida parecia não saber jogar com os pés, só nas alturas, mas a bola nunca lhe chegava à cabeça - de uma das poucas vezes que chegou, o golo foi anulado. Nós ainda festejámos mas eu estranhei logo que ninguém fosse abraçá-lo. Só ai é que se reparou no fora-de-jogo assinalado.


Já se sabe que quem não marca , sofre, e foi isso que aconteceu. Pena é a vítima ter sido o Patrício, ele que tantas vezes tem salvo o couro nacional. Apesar da distância, eu e a minha irmã conseguimos ver o atraso de Ricardo Costa e o passe infeliz do guarda redes.

- Não! Não! Agarra! - gememos, levando as mãos à cabeça.

Mas o isreaelita não desperdiçou a oportunidade.

Teve uma certa graça ver os Marmanjos todos com a mesma postura: mãos nos quadris, a cara com que, provavelmente, todos ficámos após aquela fífia do Patrício. Não que o culpe - não me custaria elaborar uma lista de disparates, cometidos por guarda-redes e não só, que nos custaram caro. Alguns desses exemplos seriam bem recentes, até. E, conforme disse acima, nós colocámo-nos a jeito.

Devo dizer que, ainda que a reação imediata do público tenha sido uma assobiadela, ainda nem dois minutos tenham passado do golo e já estávamos, de novo, a gritar por Portugal. Como já é da praxe, os portugueses, ao verem-se aflitos, aumentaram a intensidade, a ver se recuperavam a vantagem. Como também é da praxe, acordaram tarde demais.


Em suma, foi mais um jogo parvo, um entre muitos jogos parvos com que temos sido brindados deste o Euro 2012 e até antes. Pena um deles ter calhado logo no dia em que fui ao Estádio. Não que fosse provável ser muito melhor. Já repararam que, ao longo deste Apuramento, não tivemos um único jogo em que fizéssemos uma boa exibição do princípio ao fim? Já não sei se isto é falta de talento, se é falta de atitude, qual das lacunas é a pior, se não será uma mistura de ambas. Cada coluna de opinião dá o seu diagnóstico e penso que nenhum deles está completamente errado. Não sei, sequer, se vale a pena tentar compreender, tentar descobrir qual é o problema. Ainda na véspera do jogo ouvi o comentador Jorge Baptista dizer que já acompanhava o futebol há muitos anos e continuava incapaz de prever a maneira como a Seleção encararia um jogo. Não há nada a fazer, eles são absolutamente imprevisíveis, caprichosos.

A única coisa que sei, sem dúvida, é que eles não merecem os adeptos que têm. Não me arrependo de ter ido ao jogo pois, conforme disse anteriormente, o ambiente estava fantástico - ainda que muitos digam que, noutros jogos, estive melhor. Estavam quarenta e oito mil pessoas no Estádio. Quarenta e oito mil! A larga maioria das quais terá, certamente, passado por transtornos de todos os tipos para poder estar lá. E os jogadores continuam incapazes de retribuir tal apoio, a casa cheia, os gritos de encorajamento nas piores alturas do encontro. 



Em todo o caso, ao menos ficámos com o playoff garantido. Não apaga a tristeza que foi o jogo mas a verdade é que, mesmo que tivéssemos ganho e vencêssemos o Luxemburgo amanhã, sempre seria improvável ganharmos o grupo - algo de que muitos parecem ter-se esquecido. Como se não soubéssemos há um ano que dificilmente nos Apuraríamos de outra maneira. Já o tinha dito anteriormente e este jogo confirmou-o: pela maneira como esta Qualificação se tem desenrolado, a Turma das Quinas não merece ganhar o grupo. É a velha questão de os portugueses escolherem sempre o caminho mais difícil. Talvez em termos práticos, no final, o resultado de sexta-feira não faça grande diferença. Mas, em termos anímicos, estaríamos bastante melhor agora caso tivéssemos conseguido pelo menos manter aquele 1-0.

Vou esforçar-me por me focar mais na parte prática da coisa. Se/quando (cada um escolhe a conjunção que considerar mais adequada) estivermos no Brasil, os tropeções dados no caminho serão irrelevantes, o que interessará será marcamos presença e fazermos um bom Mundial. Ainda que não tenhamos gostado do jogo de sexta, a verdade é que demos mais um passo - não tão grande como desejaríamos mas foi um passo em frente e não para trás. Continuamos na luta. Urge, no entanto, pararmos de cometer sempre os mesmos erros, aprendermos com eles.


Amanhã jogamos com o Luxemburgo. Pepe e Ronaldo, ausentes por castigo (ao menos, estes não falharão os playoffs) derão lugar, respetivamente, a Rolando e Bruma - estou particularmente ansiosa por ver este último estreando-se pela Seleção A. Penso que, pelo calibre do adversário e pelos requisitos necessários, este jogo pouco mais será que um particular. Em todo o caso, a vitória será sempre o cenário mais favorável. Já se diz que estes playoffs serão os mais duros de sempre mas eu prefiro não me preocupar demasiado com possíveis adversários antes de sabermos, de certeza absoluta, quem iremos enfrentar. Depois, logo analisaremos as nossas hipóteses.

Com tudo isto, a dívida que a Equipa de Todos Nós tem para connosco continua a crescer...