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O Meu Clube É a Seleção!

Mulher de muitas paixões, a Seleção Nacional é uma delas.

Vendo o mesmo filme

01.pngNo passado dia 17 de junho, a Seleção Portuguesa de Futebol venceu a sua congénere bósnia por três bolas sem resposta, no Estádio da Luz… e eu estive lá. Três dias depois, a Seleção venceu a sua congénere islandesa por uma bola sem resposta. Ambos os jogos contaram para a Qualificação para o Euro 2024. Com estes resultados, Portugal encontra-se em primeiro lugar no grupo J com doze pontos.

 

Comecemos pelo primeiro jogo, perante a Bósnia-Herzegovina. Um fim de dia bem passado, como acontece sempre que vejo a Seleção. A entrada no Estádio da Luz foi demorada, mesmo faltando cerca de uma hora para o apito final. Nesta tenho de concordar com a minha irmã: os acessos ao Estádio da Luz deixam muito a desejar, sobretudo quando comparados com os do Estádio de Alvalade – quando fomos ao jogo com o Liechtenstein, chegámos em cima da hora mas a entrada até foi rápida. Passar pelo túnel da Luz demora sempre imenso tempo – e consta que, desta vez, houve um problema qualquer com alguns bilhetes, o que atrasou tudo ainda mais.

 

Talvez a coisa tivesse demorado menos se eu não tivesse querido ir às roulottes. Foram mais uns vinte minutos na fila, se calhar sem necessidade. Ainda assim, não me arrependo – a bifana com ovo, bacon, cebola frita, queijo, cenoura ralada, batata frita e alface soube-me pela vida. 

 

E, mesmo tendo custado, ainda deu para chegar à bancada quando as equipas estavam a aquecer. Não foi grave. 

 

Eu é que, como poderão ver na foto, escolhi muito mal o meu lugar. Passei o jogo quase todo encostada para a frente, com a cabeça entre as traves. Fica a lição para o futuro: é preferível escolher filas mais acima.

 

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Ainda assim, até se via bem. Estava à espera de pior.

 

Uma palavra para a animação antes do jogo, melhor que o costume. A Galp deve andar a investir forte no patrocínio à Seleção: todos os lugares tinham um bate-palmas para fazermos barulho. Adiantando-me ligeiramente, usei-o muito em certos momentos do jogo, a ver se os Marmanjos acordavam. 

 

O melhor de tudo foi quando o animador pôs a tocar o refrão do Menos Ais. Não antes de explicar o que era, claro, pois 2004 já lá vai – uma grande fatia do público e mesmo parte da Seleção atual será demasiado jovem para se recordar. Consegui filmar o momento (sei que a minha vozinha é irritante, mas não peço desculpa por cantar). Seria sempre especial para mim, ainda o foi mais agora, depois de eu mesma ter recuperado este hino há pouco tempo, como expliquei no texto anterior. Agora estou com esperanças de que criem uma nova versão para 2024, a propósito dos vinte anos. 

 

Uma coisa um bocadinho chata foi os dados móveis terem-me falhado no estádio – às vezes acontece-me no meio de multidões. Não deu para ir atualizando a página, como costumo fazer, nem criar stories para os Instagrams desta vida. A vantagem foi ter podido estar presente, ter prestado a devida atenção ao jogo, sem a Internet para me distrair.

 

Não que o que se passou dentro de campo tenha sido muito estimulante. Como toda a gente tem assinalado, o futebol das Quinas não entusiasmou ninguém nesta dupla jornada. A Bósnia entrou por cima no jogo, algo de que eu não estava à espera. A primeira oportunidade foi deles, aos vinte e dois minutos. Na altura não consegui ver bem – a minha bancada era na outra ponta do campo. Vendo no resumo, não dá para ver se Barisic estava a centrar ou a fazer um belo remate. Só sei que Diogo Costa teve de se esmerar para impedir a bola de entrar mesmo pelo cantinho da baliza.

 

O miúdo é tão bom!

 

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No minuto seguinte, João Cancelo fez um belo cruzamento para Cristiano Ronaldo cabecear para as redes. Infelizmente, encontrava-se em fora-de-jogo.

 

Confesso que, nos minutos antes do golo de Bernardo Silva, já estava a pôr muitas coisas em causa. Concordo com o que o selecionador da Bósnia diria mais tarde: os nossos três golos foram marcados nas alturas certas. Este primeiro sobretudo, mesmo em cima do intervalo. 

 

A jogada começou em Raphael Guerreiro. Este passou para Cristiano, que acabou por ir ao chão depois da entrada de um sérvio. Ainda assim, fez a bola chegar a Bruno Fernandes. Este último fez a bola atravessar uma linha de quatro sérvios, para Bernardo Silva rematar certeiro.

 

Este golo trouxe-me alívio, euforia e preocupação em partes iguais – porque Ronaldo demorou um momento a levantar-se. Na idade dele, uma pessoa fica sempre com medo. Felizmente acabou por se erguer de novo e por se juntar aos festejos, ainda que coxeando – já depois de alguns colegas o terem abraçado. 

 

Ainda tive esperanças de que o golo servisse para desbloquear o jogo na segunda parte, mas não tive sorte. Os primeiros vinte minutos foram igualmente pastosos. A invasão do adepto foi o episódio mais excitante da segunda parte até esse momento.

 

Já agora, umas palavras sobre isso. De acordo com as autoridades do futebol – e não discordo – devíamos todos ignorar o que aconteceu para não dar ideias a outros, mas este momento foi demasiado delicioso. Nomeadamente a parte em que o moço pegou em Ronaldo e o elevou no ar. O safadinho deve ter tido um pico de adrenalina, daqueles que dão forças a uma pessoa para levantar um carro para salvar um filho.  

 

 

E infelizmente esta foi a única ocasião em que o estádio inteiro gritou “SIII!!” – o invasor pediu a Ronaldo para recriar o festejo. 

 

Não vou mentir: fiquei com uma pontinha de inveja.

 

Uma palavra agora para os adeptos da Bósnia. Não estava muito longe deles na bancada. Não sei se deu para ouvir em casa, mas eles passaram o jogo todo a cantar e a puxar pela sua equipa, mesmo depois de estarem a perder. Tenho sempre imenso respeito por adeptos assim. No fim do jogo, ainda troquei olhares com um par deles e fiz um gesto a aplaudir.

 

O jogo animou a partir dos setenta minutos, mais coisa menos coisa – quando Rúben Neves entrou. Ele mesmo fez uma assistência teleguiada para um grande cabeceamento de Bruno Fernandes para as redes. 

 

Ainda houve tempo para Diogo Jota desperdiçar uma excelente assistência de Ronaldo. Pelo meio, aos oitenta e oito minutos, Rúben Neves perdeu a bola errada, Hamulic rematou e Diogo Costa voltou a brilhar. Desta vez a defesa foi do meu lado, pude ver bem. E naturalmente gritei:

 

– Grande Diogo! Grande Diogo!

 

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Nós de facto somos abençoados. Nos últimos doze anos tivemos dois guarda-redes deste calibre de seguida: primeiro Rui Patrício e agora Diogo Costa.

 

Suponho que tenha de falar sobre os assobios a Otávio – algo de que, infelizmente, eu já estava à espera. Por um lado, irritou-me um bocado a atenção que se deu ao episódio. Uns quantos idiotas que assobiaram durante trinta segundos receberam mais atenção que os milhares que criaram o excelente ambiente na Luz durante o jogo todo.

 

E, sejamos sinceros, ao contrário de João Mário, o comportamento do Otávio em relação ao Benfica tem sido censurável. O que por sua vez só sublinha a hipocrisia dos adeptos – os que assobiaram são exatamente o tipo de pessoas que, como Otávio, insultam clubes rivais. 

 

Por outro lado, acho bem que este tipo de comportamentos – que não são uma novidade, infelizmente, sempre existiram – seja cada vez menos tolerado. É um primeiro passo para mudar mentalidades.

 

E de resto, parafraseando o que o Pepe disse, a realidade podia ser outra há trinta ou quarenta anos, mas desde que me lembro os jogadores entre eles, no seio da Seleção, não olham a clubes, dão se todos bem uns com os outros. Aliás, mesmo passados estes anos todos, poucas coisas me aquecem o coração tanto como ver os Marmanjos sendo afetuosos uns com os outros. É uma das melhores coisas, não apenas da Seleção, mas também do futebol em geral. Um exemplo a seguir. 

 

Finalmente, já em tempo de compensação e numa altura em que, nas bancadas, pedíamos “Só mais um!”, uma bola interceptada por um bósnio foi parar a Bruno Fernandes, em cima do limite da grande área. Este rematou de primeira, assinando o seu segundo golo. Estava feito o resultado. 

 

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Foi mais um fim de dia bem passado, como costuma ser o caso sempre que vou à Seleção – mesmo que o jogo em si não tenha sido muito apelativo, tirando na parte final. Se me dissessem antes do jogo que ganharíamos por 3-0, imaginaria uma exibição mais cativante. Por outro lado, depois de ter passado cerca de sessenta por cento da primeira parte receando um empate, para ser sincera, por alturas do apito final estava bastante satisfeita com o resultado.

 

Havemos de regressar a esse tema. Para já, temos de falar sobre o jogo com a Islândia. Não que eu tenha muita coisa a dizer. Estive a trabalhar durante a primeira parte – espreitando sites de atualizações quando podia – e acompanhei os primeiros quinze minutos da segunda parte via rádio. 

 

Parece que não perdi nada.

 

Do pouco que vi, os islandeses jogaram com mais garra do que eu esperava, depois daquilo que descobri acerca do seu historial recente. Recordou-me um pouco o nosso primeiro jogo no Euro 2016, na verdade. 

 

Um aspeto curioso foi o facto de todo o jogo ter decorrido à luz do dia. Uma coisa rara por cá, o que é pena, pois sempre gostei mais assim. O jogo decorreu na véspera do solstício de verão, um dos dias em que se observa o sol da meia-noite em países perto do Pólo Norte, como a Islândia. Bonito, mas Pepe e Ronaldo, coitados, queixaram-se de não conseguirem dormir com a luz – eu acho que também não conseguia. 

 

Para ver o jogo, no entanto, foi agradável. E pude ver o mais importante com os meus próprios olhos, pela televisão: o golo de Ronaldo ao cair do pano. Não consigo descobrir quem faz o excelente primeiro passe para Gonçalo Inácio. O jovem central, depois, assistiu de cabeça para Ronaldo enfiar a bola no estreito intervalo entre o guarda-redes e a trave. 

 

 

A festa ficou em stand-by pois o árbitro assistente assinalou fora-de-jogo a Gonçalo Inácio e o VAR foi chamado a intervir. Estivemos minutos em suspenso, mas no fim o árbitro tomou a decisão correta (ainda que os islandeses não concordem). Os Marmanjos festejaram como se a bola tivesse acabado de entrar – não sei como conseguem, para mim o VAR corta sempre o momento. E, uma vez mais, depois de uma exibição tão fraquinha, foi um alívio levarmos os três pontos à mesma.

 

A ideia com que fico – e a minha opinião vale o que vale, pois só vi uma parte do jogo – é que foi pior que perante a Bósnia. No jogo anterior sempre marcámos três golos e não foi necessário os bósnios terem ficado reduzidos a dez.

 

Nada disto é novo, temos visto este filme muitas vezes nos últimos anos. Só acho estranho ainda estar em exibição mesmo com um novo Selecionador. Como em muitas ocasiões durante o mandato de Fernando Santos, há atenuantes e/ou desculpas. Estamos no fim de uma época longa e estranha – por exemplo, uma semana antes do jogo com a Bósnia, Bernardo Silva e Rúben Dias estavam a jogar a final da Champions. Martínez fartou-se de falaram em “fadiga mental” ao longo desta jornada – não acho que esteja errado. E, se falarmos estritamente de resultados, as coisas até estão a correr bem.

 

Mais do que bem, até: quatro vitórias em quatro jogos, catorze golos marcados, nenhum golo sofrido. Uma Qualificação imaculada até agora, algo inédito nas mais de duas décadas em que acompanho futebol, algo que sempre desejei. E claro que nem sempre é possível fazer exibições de encher o olho, sobretudo nesta altura do campeonato.

 

O problema é a longo prazo, quando deixa de ser suficiente. É o que tem acontecido inúmeras vezes de 2016 para cá. Serviços mínimos exibicionais, dependendo menos da equipa como um todo e mais de lampejos de inspiração das nossas maiores figuras, conseguindo os resultados, conseguindo os resultados… até não conseguir. Pouco importa pouco importa… até ao dia em que importa muito: no Mundial 2018, no grupo da Liga das Nações em 2020, na Qualificação para o Mundial 2022, no grupo da Liga das Nações em 2022, no Mundial desse mesmo ano. 

 

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Não quero apontar já armas a Martínez. O senhor acabou de chegar, ainda não teve assim tantas ocasiões para trabalhar com os Marmanjos. E, mal por mal, está a conseguir resultados com a Seleção que ninguém consegue há pelo menos duas décadas. O tempo dirá se estas mais exibições foram ocasionais ou se isto é um problema sistemático que nos leve a desperdiçar oportunidades… outra vez. 

 

Uma palavra para Cristiano Ronaldo antes de terminarmos. A meu ver, o Marmanjo voltou a justificar a sua Convocatória nesta dupla jornada. Todos assinalaram o seu altruísmo durante o jogo com a Bósnia. Perante a Islândia, por sua vez, fez de Deus Ex Machina, como tem feito inúmeras vezes nos últimos vinte anos. E agora atingiu o número redondo de duzentas internacionalizações – é o futebolista masculino que mais vezes representou a sua Seleção. 

 

E diz que quer continuar.

 

Já partilhei o que penso e sinto em relação a isso na página do Facebook. Em suma, a minha cabeça tem inúmeras objeções mas o meu coração terá sempre, no mínimo, uma porta semi-aberta para Cristiano. 

 

A ver o que acontece daqui a um par de meses. Para já, aproveitemos as férias – estamos todos a precisar – e rezemos para que os Marmanjos não migrem todos para a Arábia Saudita.

Triste espetáculo

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No passado dia 14 de novembro, a Seleção Portuguesa de Futebol perdeu contra a sua congénere sérvia por duas bolas contra uma e eu estive lá. Infelizmente. Com este resultado, a Seleção falha o Apuramento direto para o Mundial 2022, ficando obrigada a tentar a Qualificação via play-offs.

 

Nunca pensei que viríamos parar aqui. Nem mesmo nas minhas previsões mais pessimistas.

 

Comecemos pelo princípio. Como tinha explicado em textos anteriores, fui ao jogo com a minha tia. Ao contrário do que tinha acontecido nas vezes anteriores em que fui à Seleção, chegámos cedo ao Estádio. Já estávamos nos nossos lugares uma hora antes do apito inicial. Deu para assistir à apresentação dos onzes iniciais e o resto dos plantéis, ao aquecimento e aos outros eventos pré-jogo. Muito bom ambiente.

 

Que desperdício. 

 

 

Depois do apito inicial, o jogo até correu bem para o nosso lado… durante três minutos. Logo no início, Bernardo Silva roubou uma bola ao sérvio Gudelj à entrada da grande área e deixou-a para Renato Sanches. Este finalizou de primeira para as redes. Na explosão de alegria, o telemóvel saltou-me do bolso do casaco (os bolsos eram largos…). Sem danos, felizmente.

 

Isto foi mesmo a única coisa boa a acontecer no jogo. O resto foi uma tristeza. Uma das lições que sai deste encontro é que é melhor marcar a poucos minutos do fim do que poucos minutos depois do início. Estes golos muito cedo podem ser traiçoeiros. Podem levar uma equipa a acomodar-se. E tendo em conta que Portugal só precisava de empatar…

 

Ainda assim, não dá para saber se os portugueses jogariam da mesma forma se não tivessem marcado cedo. Eu infelizmente suspeito que sim.

 

Uma vez mais, o futebol de Portugal foi uma lástima. Sempre foi um bocadinho melhor que frente à Irlanda, graças a Renato e sobretudo a Bernardo Silva. Este punha-se a driblar vários jogadores de vez em quando, como tem feito algumas vezes nos últimos tempos, no City. Tirando isso, Portugal não entretinha ninguém, perdia bolas, raramente saía do seu meio-campo. Era deprimente.

 

Em contraste, os sérvios controlavam o jogo, ameaçavam muito mais, via-se que queriam ganhar. A minha tia apontou muitas vezes para “o número dezassete” – Kostic. Ao mesmo tempo, os adeptos sérvios conseguiam fazer-se ouvir, de vez em quando. 

 

Os sérvios acabaram por chegar à igualdade. Do nosso lugar não conseguíamos ver muito bem a jogada, mas eu pelo menos vi a atrapalhação de Rui Patrício. Gritei "Agarra! Agarra!", mas a bola acabou mesmo por entrar. Minutos mais tarde, um amigo meu enviou-me uma mensagem a confirmar o que eu já suspeitava: aquilo fora "frango" de Patrício. 

 

 

Bem, acontece aos melhores. Não quero ser aquela pessoa que dá mais importância às falhas dos guarda-redes do que às suas defesas. Até porque Patrício já nos salvou de muitas. E não era só por culpa dele que tínhamos consentido o empate. 

 

Na segunda parte, o nível português melhorou, mas só um bocadinho, longe do suficiente. A coisa nunca deixou de estar tremida, estivemos sempre de coração nas mãos, sobretudo à medida que o tempo passava. Íamos comentando com os nossos vizinhos que “eles ainda iam marcar”. Quando já não faltava muito para o final, cheguei a dizer que, se os sérvios marcassem, seria “a morte do artista” – porque teríamos pouco tempo para dar a volta.

 

Eu devia ir para vidente…

 

Acho que foi a primeira vez que ouvi a minha tia a praguejar – ou, pelo menos, a primeira vez em muito tempo. Eu fui criada com tolerância zero a palavrões e, mesmo hoje, não sou muito de usá-los. Mas neste jogo não deu para contê-los. Já tinha soltado uns quantos na primeira parte, quando parecera que a Sérvia chegara à vantagem – e pedira à minha tia, meio a brincar meio a sério, para não dizer aos meus pais. 

 

Mas agora fora ela quem não mordera a língua. E não era para menos.

 

Como previ, não sobrou muito tempo depois deste golo. Os sérvios marcaram mesmo em cima dos noventa e o árbitro deu quatro minutos de compensação. Confesso, pensei na música da Madonna: “I’m outta time and all I got is four minutes, four minutes”; “Time is waiting, we only got four minutes to save the world”. Mas tínhamos tido noventa minutos para acordar para a vida, agora era tarde demais. 

 

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Outro jogo deprimente. Ainda por cima em casa, um Estádio cheio, o regresso da Seleção à Luz depois das restrições da pandemia. Cheguei a pedir desculpa à minha tia por a ter convidado para aquele triste espetáculo. É claro que ela não me culpou, mas fez-me saber que, depois desta, tão cedo não volta ao futebol.

 

O que é capaz de ser o mais triste de tudo. Quantos não terão tomado uma decisão semelhante depois deste jogo?

 

Foi parecido ao que aconteceu em Dublin. De um lado uma dúzia de gatos-pingados, que não deram uma para a caixa durante noventa minutos, apesar de vários estarem entre os melhores do Mundo. A maior figura não fizera nada que se visse, mas no fim pusera-se a barafustar a propósito de um golo mal-anulado meia dúzia de jogos antes. O seu treinador teve de ir acalmá-lo. Quase vinte anos depois, Cristiano Ronaldo ainda não aprendeu a perder.

 

Do outro lado, estava uma equipa de underdogs, que fizera tudo para ganhar e conseguira-o. Quando marcaram o golo da vitória, suplentes e equipa técnica invadiram o campo para os festejos (como nós fizemos no golo do Éder). Tornaram a fazê-lo minutos mais tarde, depois do apito final. Mais tarde, quando já praticamente todos os adeptos portugueses tinham ido para casa, Mitrovic subiu de novo ao campo, em cuecas, para festejar com os adeptos sérvios. Ainda mais tarde, doaram o prémio de um milhão de euros (dado pelo presidente sérvio, pela vitória) a uma instituição que trata de crianças doentes. 

 

Perante isto tudo, sou a única aqui que preferia ter torcido pela Sérvia?

 

É por isto que cheguei ao fim da linha com Fernando Santos. Já não reconheço o meu clube nesta Seleção, sobretudo nesta desastrosa dupla jornada. Não há paixão, não há garra, não há inconformismo, nada. Isto para não falar de todas as coisas que referi quando escrevi sobre a expulsão do Europeu – o que só agrava a opinião que tenho de Fernando Santos. Nada se aprendeu com o que se passou no Euro 2020. 

 

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Aliás, só piorou. Uma coisa é ter maus resultados com a Alemanha e a Bélgica. Outra coisa é tê-los com a República da Irlanda e a Sérvia.

 

Na Luz viram-se lencinhos brancos. Eu se calhar também os mostrava, se os tivesse. Acho que nunca apoiei tanto uma chicotada psicológica (só aquando de Paulo Bento?). Pode ser por já contar muitos anos disto e já não conseguir iludir-me. Pode ser porque, pelo menos nesta situação, o problema parece ser mesmo Fernando Santos. Com Paulo Bento ainda podia falar em fatores como falta de opções. Hoje não. Pelo contrário.

 

Aliás: como se tem dito, é inadmissível que uma Seleção que inclui Cristiano Ronaldo, Bernardo Silva, João Cancelo, Bruno Fernandes, Rúben Dias, mesmo Renato Sanches, João Félix, Pepe, Rui Patrício, entre outros, tenha falhado a Qualificação direta. O nosso grupo de Apuramento nem sequer era difícil!

 

Por mim, rescindia-se já com Fernando Santos. Tem-se dito que esta não é a melhor altura para se trocar de Selecionador e talvez tenham razão, mas… é preferível arriscar falhar o Mundial? E mesmo que consigamos o Apuramento – o que é um “se” considerável – queremos Fernando Santos a orientar-nos no Catar? Para fazermos campanhas fraquinhas, estilo Mundial 2018 e o Euro 2020?

 

Havemos de regressar a esta questão. Para já, Fernando Santos continuará ao leme até pelo menos aos play-offs. Já prometeu sair pelo próprio pé caso falhe o Apuramento – mais do que razoável. Ele devia aproveitar estes quatro meses para pensar no que está a fazer com a Seleção, fazer um esforço genuíno para compreender o que está a correr mal, e procurar corrigir. Mesmo que isso implique falar com a restante equipa técnica, com os jogadores, mesmo com pessoas de fora.

 

Mas alguém acredita que Fernando Santos fará isto? Veja-se a reação dele quando lhe perguntaram, com todas as letras, porque é que não punha uma equipa com tanto talento a render. E mesmo a entrevista que deu, dias mais tarde, esclareceu pouco. Como muitos comentaram, Bernardo Silva e João Palhinha analisaram muito melhor a situação. Quanto a Ronaldo, este escondeu-se atrás de palavras vazias (que ninguém acredita que foram escritas por ele) nas redes sociais. 

 

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Agora virão os play-offs, que decorrerão em moldes diferentes àquilo a que estávamos habituados, há coisa de dez anos. Se acredito na Qualificação? Não sei, dependerá muito dos adversários. Continuo a querer ir ao Mundial, mesmo que tenhamos um desempenho fraquinho. Mais porque será, quase de certeza, o último Mundial de Cristiano Ronaldo, Pepe e João Moutinho. Quero que Ronaldo tenha mais uma oportunidade para marcar alguns golos, quebrar mais alguns recordes.

 

Além disso, vocês sabem que eu gosto do ritual destes campeonatos. Da Divulgação dos Convocados, do estágio de preparação, das campanhas publicitárias. Mas se conseguirmos a Qualificação sem que nada mude em termos de qualidade de jogo, não sei se conseguirei iludir-me ao ponto de saborear isto tudo. 

 

Não me interpretem mal, estarei sempre disponível para empunhar o cachecol. Se nos pedirem para irmos ao Estádio apoiar Portugal no primeiro jogo do play-off, se calhar até vou. Em parte porque a minha irmã não pôde vir a estes dois jogos a que fui e já disse que quer ir ao próximo. Mas não serei capaz de apoiar a cem por cento. 

 

Aproveito para dizer que vou voltar a saltar a revisão do ano, ainda que por motivos diferentes dos do ano passado. A parte referente ao pior deste ano seria redundante depois deste texto. 2021 não correu bem para a Seleção. O trabalho de Fernando Santos tem deixado a desejar há algum tempo, mas os outros anos tinham aspetos redentores. 

 

Em 2018 o Mundial foi pobrezinho, mas na altura não me importei muito. Ainda tinha o desastre de 2014 na memória e, se formos a ver, todos os nossos Mundiais têm sido fraquinhos, tirando o de 1966 e o de 2006. Já considerava uma vitória não ter havido um caso Saltillo ou um caso Queiroz em 2018. Além disso, fizemos uma boa fase de grupos na Liga das Nações.

 

Em 2019, a Qualificação para o Euro 2020 foi algo desastrada, com aqueles empates ao início e a derrota frente à Ucrânia, mas pelo meio ganhámos a Liga das Nações. Em 2020 só houve fase de grupos da segunda edição da Liga das Nações. Não conseguimos chegar à final four, mas apenas por causa de uma única derrota. Os restantes jogos não foram nada maus. 

 

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Em 2021 não houve nada que redimisse tudo o que aconteceu de mau – outro argumento a favor da saída de Fernando Santos. Estou grata pelo jogo com o Luxemburgo no Estádio do Algarve – uma noite feliz, mesmo que não nos tenha valido de muito. Também estou grata pela vitória frente à Hungria e, de uma maneira retorcida, por todas as reviravoltas durante o jogo contra a França. Mais nada. 

 

E agora entramos em hiato até março. O que até calha bem – eu pelo menos preciso de algum tempo para recuperar desta. Como o costume, muito obrigada por terem estado desse lado, mesmo nesta triste jornada. O blogue ficará em pausa, mas a página do Facebook continuará ativa – embora talvez um bocadinho menos do que o costume, depois desta desilusão. 

 

E como já estamos na época, boas festas para todos, sem Covid, e que 2022 corra melhor para a Seleção.

Um problema com inícios

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No passado dia 22 de março, a Seleção Portuguesa de Futebol empatou sem golos com a sua congénere ucraniana. Eu estive lá. Três dias depois, empatou a uma bola com a sua congénere sérvia. Ambos os jogos tiveram lugar no Estádio da Luz e ambos contaram para a Qualificação para o Europeu de 2020. Ou seja, em seis pontos possíveis, a Seleção Nacional conseguiu dois.

 

Estes Marmanjos dão cabo de mim.

 

Conforme expliquei no texto anterior, fui ver o jogo com a Ucrânia à Luz, com os meus pais e a minha irmã. O problema de ir ao futebol com várias pessoas, sobretudo os meus pais, é ser difícil resolvermos todos os compromissos a tempo de sairmos para o Estádio a horas. Também não ajuda o facto de, hoje em dia, ser raríssimo termos jogos da Seleção ao sábado ou ao domingo.

 

Este jogo, infelizmente, não foi exceção. A Federação e o próprio Fernando Santos tinham apelado ao público para que chegasse antes das sete e meia. Não deu. Se houve alguma cena especial a acontecer no estádio a essa hora, nós não vimos.

 

Outra coisa que não ajudou foi o facto de ser sempre difícil entrar naquele estádio. A minha irmã queixa-se disso de todas as vezes que vamos à Luz. Eu costumo dar-lhe um desconto porque ela é sportinguista, mas começo a achar que tem razão.

 

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O estádio é enorme, tem uma data de portas, e no entanto, só se consegue aceder ao perímetro por três ou quatro sítios. Nós costumamos entrar pelo túnel à frente do Colombo, onde há sempre engarrafamentos. O Estádio de Alvalade é mais pequeno e só tem quatro portas, mas é mais fácil entrar no perímetro, pelo norte, ou pelo sul.

 

O problema do Estádio da Luz foi ter sido construído demasiado em cima da Segunda Circular, na minha opinião. Acho que não dava para ser de outra maneira.

 

Só conseguimos chegar à nossa bancada, no terceiro anel, quando já soava “A Portuguesa”. “Cantei” o hino enquanto tentava recuperar o fôlego e não cair para o lado, depois de ter subido não sei quantos lanços de escadas a correr.

 

Valeu pelo exercício.

 

Este foi um daqueles jogos em que o adversário se mete à defesa, a Seleção ataca, ataca, mas não consegue concretizar. Ambos os jogos da dupla jornada foram assim, na verdade, mas neste nem sequer conseguimos criar muitas ocasiões. Ainda assim, Pepe fez um belo remate aos quinze minutos, que infelizmente foi defendido pelo guarda-redes, Pyatov.

 

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William Carvalho conseguiu mesmo enfiar a bola na baliza aos dezasseis minutos, após assistência de Rúben Neves. Nós, na bancada, ainda festejamos durante um minuto ou dois antes de repararmos que o marcador não se mexera. O O golo fora anulado por fora-de-jogo.

 

Consta que o William pediu vídeo-árbitro, esquecendo-se que este não estava implementado no Apuramento (mais sobre isso adiante). Não que fosse servir de alguma coisa – acho que ele estava mesmo adiantado.

 

O jogo e talvez mesmo toda a jornada dupla poderiam ter decorrido de maneira muito diferente se o golo fosse válido. Mas não foi. Limitou-se a ser o único festejo a que tivemos direito nessa noite.

 

Ainda houve tempo na primeira parte para Cristiano Ronaldo rematar, em cima dos vinte e cinco minutos. Mais uma vez, Pyatov defendeu.

 

A segunda parte foi melhorzita. Como a baliza da Ucrânia ficava do nosso lado, deu para ver a ação quase toda.

 

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Não que tenha sido particularmente excitante. Portugal instalou-se no meio campo ucraniano, fartava-se de cruzar para a grande área – João Cancelo, em particular – de marcar cantos, não serviu de nada. O meu pai a certa altura comentou que nem Camões fez tantos cantos n’Os Lusíadas.  

 

Há que dizer que um dos principais culpados foi Pyatov. De todas as vezes que os portugas conseguiam boas oportunidades, ele estava lá. Defendeu duas de André Silva e, mais tarde, uma de Dyego Sousa.  

 

Uma chatice quando os guarda-redes fazem o seu trabalho.

 

As coisas animaram quando Rafa e Dyego Sousa entraram em campo. O primeiro deu velocidade ao jogo e o segundo teve um par de oportunidades. Mas já não foram a tempo.

 

No meio disto tudo, os ucranianos conseguiram uma ocasião de perigo para a nossa baliza, perto do fim do jogo. Todos nós tivemos um mini-ataque cardíaco quando vimos Rui Patrício defender para a frente. Graças a Deus, a bola foi parar às nuvens. Na altura, na nossa bancada, pensámos que tivesse sido aselhice de Júnior Moraes – só mais tarde é que soubemos que fora intervenção de Rúben Dias.

 

Espero que tenham dado uns quantos high-fives ao miúdo. Se aquela tivesse entrado…

 

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O resultado manteve-se nulo até ao fim. Não nego que saí da Luz um bocadinho chateada. Não gosto de ir ao futebol e não festejar um golo, pelo menos. E o facto de estarmos a começar outra Qualificação com o pé errado não ajudou.

 

Mesmo assim, soube bem ir ao jogo, ainda por cima com os meus pais que não vinham ao futebol há anos. Desde 2007, no caso do meu pai. Gostávamos de voltar a ir, no jogo contra o Luxemburgo, no Estádio de Alvalade. Foram precisos dois empates de seguida na Luz para a Federação se lembrar que existem outros estádios em Portugal.

 

É possível, no entanto, que eu tenha de trabalhar outra vez. Talvez eles e a minha irmã vão sem mim – será chato, mas eu vou à Liga das Nações. Não me posso queixar.

 

Nesta fase, eu estava desapontada mas não alarmada. A Seleção tem um problema crónico com inícios, está mais do que provado. Tem-se falado de inícios de Qualificações, mas isto também acontece com fases finais, conforme vimos antes (A fase de grupos da Liga das Nações foi a exceção). Não sei se é por sermos incapazes de jogar sem, como diz a minha irmã, sentirmos o rabinho a arder.

 

Ainda assim, fora só um empate, não uma derrota, como nos Apuramentos anteriores. Estava longe de ser grave.

 

Mas depois veio o jogo com a Sérvia.

 

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Conforme referi antes, estive de serviço nesse dia. Como costumo fazer quando trabalho de noite, tomei um café antes de entrar no trabalho. Vejo agora que não foi boa ideia: eu já estava algo nervosa, tanto com o serviço como com o jogo. A dose de cafeína fora do habitual deitou mais achas para a fogueira.

 

Passei, assim, o jogo quase todo numa vertigem de nervos. Arranjar maneira de ver o jogo no telemóvel, interromper para atender utentes e fazer outras coisas do trabalho e todas as atribulações do jogo: começando pelo penálti contra nós e convertido a golo, a lesão de Ronaldo, os muitos – mesmo muitos – remates falhados por parte dos portugas, o episódio ridículo do penálti.

 

E perdi o fantástico golo do Danilo – o nosso único golo nesta dupla jornada – porque fui à casa de banho. Sinceramente…

 

A última meia hora, quinze minutos do jogo foi um festival de oportunidades desperdiçadas, cada uma delas acrescentando dez milímetros de mercúrio à minha tensão arterial. Quando o árbitro apitou três vezes, eu estava assim:

 

 

Admito que sessenta por cento desta reação era a cafeína. Ainda assim há anos que não me sentia tão zangada com a Seleção. Já me acalmei entretanto, mas a desilusão continua.

 

Quer dizer, como é que isto é possível? Este tipo de coisas era de esperar há cinco, seis anos, não nesta altura! Somos Campeões Europeus, temos um plantel cheio de individualidades que dão cartas lá fora. Como é que deixamos quatro pontos voar, numa dupla jornada em casa, na nossa arena talismã?

 

São os adversários mais fortes do grupo, sim, mas, com o devido respeito, estão longe de ser tubarões do futebol europeu. Azar e, no caso do jogo com a Sérvia, má arbitragem não explicam tudo. Dava para mais.

 

Começo a achar que pelo menos algumas das críticas feitas a Fernando Santos ao longo dos anos – algumas ainda durante o Euro 2016 – até fazem sentido: demasiado resultadismo, demasiado pontapé para a frente, ausência de ideias de jogo concretas. Não sou a melhor pessoa para opinar sobre o assunto, mas até eu percebo o suficiente para saber que o que aconteceu nesta dupla jornada não é normal, que temos qualidade para mais. Não serve de nada termos uma mão cheia de trunfos se não sabemos pô-los a uso.

 

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(fonte: Memes da Bola)

 

Agora temos de ganhar todos os jogos que nos faltam no Apuramento. Porque claro que tempos, existe outra maneira de disputarmos Qualificações? Não me interpretem mal, não quero com isto dizer que não acredito que nos apuremos. Já nos conseguimos safar em situações parecidas ou piores. Mal por mal, temos os playoffs garantidos.

 

Mas será um rude golpe no orgulho sermos relegados para a repescagem num grupo como este. Já é suficientemente mau estarmos atrás do Luxemburgo na tabela classificativa, neste momento.

 

Até calha bem o Apuramento ficar em pausa até setembro. Talvez nos ajude a aclarar as ideias – até porque tenho medo que se dê um efeito de bola de neve nos problemas de finalização desta dupla jornada.

 

Havemos de sair de (mais) este buraco. Antes disso temos uma final four para disputar. Há tempo até lá para ultrapassar esta desilusão e começarmos a pensar em ganhar a Liga das Nações.


Acompanhem a contagem decrescente comigo na página de Facebook deste blogue.

Entrando no futuro

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Na passada quinta-feira, 6 de setembro, a Seleção Portuguesa de Futebol empatou a uma bola com a sua congénere croata, no Estádio do Algarve, em jogo de carácter particular. Quatro dias mais tarde, venceu a sua congénere italiana, no Estádio da Luz, em jogo a contar para a fase de grupos da primeiríssima edição da Liga das Nações… e eu estive lá!

 

Comecemos pelo jogo com a Croácia. O onze inicial português incluiu muitas novidades – só se repetiram quatro titulares relativamente ao jogo com o Uruguai. Resultou bem, ao princípio, com bastantes iniciativas por parte dos portugas. Bruma, em particular, teve uma oportunidade logo aos três minutos.

 

A Croácia, no entanto, quando tinha a bola, criava perigo. Foi assim que surgiu o primeiro golo da partida, aos dezoito minutos, após um erro de Rúben Neves – que, por sinal, tinha acabado de cobrar um livre com muito perigo.

 

Felizmente, Portugal não se deixou abalar demasiado, começou logo à procura da igualdade. E conseguiu-a. Pouco após a meia hora de jogo, na sequência de um canto em que o centenário Pepe cabeceou para as redes, após um cruzamento de Pizzi.

 

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Eu ia no carro ouvindo o relato na rádio, quando o Pepe marcou. Aproveitei para cumprir, pelo menos em parte, um desejo antigo da minha bucket list: comemorar um jogo da Seleção com uma buzinadela. Na verdade, a minha ideia era comemorar assim um golo mais “importante” (isto é, num Europeu ou Mundial), por isso, foi uma buzinadela rápida.

 

E de qualquer forma, o problema desse desejo é que, se há um jogo da Seleção num campeonato desses, vou querer estar em frente a uma televisão, não a conduzir.

 

Em todo o caso, fiquei feliz por Pepe ter marcado na sua centésima internacionalização. Eu assino por baixo de todas as homenagens que lhe têm feito – a que lhe fizeram antes do jogo com a Itália deu-me arrepios. Portugal deve muito a um cada vez mais imperial Pepe – sobretudo por causa do seu papel no nosso primeiro título.

 

Mesmo que ele nem sempre tenha sido exemplar, nunca se pôs em causa o seu camisola. Custa a acreditar que já lá vão quase dez anos – mas por outro lado, ele tem sido um dos pilares, uma das constantes da Seleção. Vai ser estranho quando ele se retirar (espero que ainda estejamos longe disso).

 

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Por outro lado, quando vimos repetições do golo, a minha irmã perguntou se os polegares na boca eram para as filhas ou para os miúdos da Seleção. Fica o mistério.

 

Durante o resto do jogo, Portugal não deixou de dominar. Nem mesmo depois das substituições, que baixaram a média das idades da equipa para pouco mais de 22 anos – é uma delícia olhar para este grupo e ver tanto talento. Desde Bernardo Silva, claro, passando por Rúben Neves, Bruma (que esteve em grande nestes jogos, numa altura em que eu mal pensava nele), Rúben Dias, Mário Rui, João Cancelo (de novo com boas exibições, após um par de jogos infelizes pela Seleção), Gelson Martins, Bruno Fernandes (a minha irmã “ralhando” com ele, por querer sempre fazer bonito e rematar de longe)... e uns quantos que ainda não foram Convocados.

 

Infelizmente, o domínio não chegou para marcar mais golos.

 

É algo que acontece com alguma frequência com equipas jovens e relativamente inexperientes: muita parra e pouca uva, muito domínio e pouco bolo. Equipas mais experientes são mais afinadas, sabem ser cínicas quando é necessário. É nestes momentos que Ronaldo ainda faz falta à Seleção.

 

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Em todo o caso, chegou para o empate e foi apenas um particular. Não foi mau, tendo em conta que, no outro lado, estavam os atuais vice-campeões do mundo.

 

Por outro lado, poucos dias depois, a Croácia seria goleada pela Espanha. Talvez tenha havido demérito dos croatas.

 

Falemos do jogo com a Itália – desta feita a doer, o nosso primeiro jogo na novíssima Liga das Nações. Conforme disse antes, estive lá com a minha irmã – mais especificamente, atrás da baliza sul. A minha irmãzinha sportinguista pôde matar saudades de Rui Patrício.

 

Portugal repetiu o onze do jogo anterior e dominou ainda mais que perante a Croácia. A Itália pouco apareceu no jogo. As coisas começaram mais ou menos equilibradas, mas cedo o equilíbrio deslocou-se a favor dos portugueses. Infelizmente, estando nós atrás da baliza de Patrício, não conseguíamos ver muito bem a ação do outro lado do campo…

 

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Uma coisa em que deu para reparar, no entanto, foi que Portugal defendeu bem. Rui Patrício não precisou de se esforçar muito, mas os outros também não comprometeram. Eu, na altura, não me atrevi a comentá-lo em voz alta, não fosse dar azar. Enfim, superstições minhas…

 

Felizmente, o único golo da partida foi marcado na baliza sul, na segunda parte. Bruma fez uma de várias arrancadas, centrou, a bola de alguma forma foi parar a André Silva, que chutou para as redes.

 

Pelos vistos, a falta de inspiração do André, no jogo com a Croácia, não passou disso mesmo: de falta de inspiração.

 

Podíamos ter chegado ao 2-0 uns minutos mais tarde, com um remate de Bernardo Silva à entrada da área. O guarda-redes italiano teve de esmerar-se – Pepe e Rúben Dias (penso que era ele…) até foram dar-lhe os parabéns depois desta.

 

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Houveram várias outras oportunidades parecidas. Só perto do fim é que os italianos deram um ar de sua graça, embora apenas tiros de pólvora seca. Ainda assim, Portugal não chegou a matar o jogo. Não deu para ficar descansada. Mas o apito final veio e os três pontos ficaram garantidos.

 

Como tínhamos comentado antes, esta não era uma jornada dupla fácil, mas os Marmanjos passaram no teste. Podiam ter-se saído melhor, sim, mas ganharam um bom avanço para a fase final da Liga das Nações. Estou muito orgulhosa da Seleção, sobretudo dos mais novos, pelo que fizeram nesta dupla jornada.

 

Nesta altura do campeonato, sinto que estamos a entrar no futuro, com tudo o de bom e o de mau que vem com ele. Alguns começam a ser deixados para trás – constantes como João Moutinho, Bruno Alves, Nani. Mesmo Cristiano Ronaldo já esteve mais longe. Como em tudo na vida, os mais jovens acabarão, mais cedo ou mais tarde, tomar o lugar deles, os mais velhos.

 

Vou precisar de algum tempo para me habituar a essa inevitabilidade. Não vai ser fácil despedir-me de jogadores que acompanhei durante uma década, ou mais, que cresceram comigo, que conquistaram o primeiro título da Equipa de Todos Nós. Ao mesmo tempo, no entanto, estou ansiosa por ver o que estes miúdos podem fazer, por criar memórias com eles, escrever a história deles.

 

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Por outro lado, estou a tentar não “embandeirar em arco”, como diz Fernando Santos. Foram apenas dois jogos e existem atenuantes. Como vimos antes, a Croácia pode não estar assim tão bem, para perder daquela forma com a Espanha. E os italianos andam com crises existenciais desde que falharam o Mundial 2018 – o que não é de admirar.

 

Não, não vai ser fácil, isto ainda agora começou. Tal como Fernando Santos, quero muito chegar à final four (e, sobretudo, que esta decorra em Portugal) mas… um passo de cada vez.

 

Que venham os próximos!

 

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Na passada quinta-feira, dia 7 de junho, a Seleção Portuguesa de Futebol venceu a sua congénere argelina por três bolas sem resposta, em jogo de carácter amigável, no Estádio da Luz… e eu estive lá!

 

Nesse fim de tarde choveu sem parar durante horas. Não propriamente a cântaros, mas o suficiente para chatear. Este chuveirinho irritante durou as cerca de três horas que estivemos na Luz, encharcando-nos até aos ossos. Não me constipei (tenho um bom sistema imunitário), mas, claro, foi desagradável.

 

O que eu não faço por estes Marmanjos…

 

A consequência mais caricata dizia respeito à coreografia programada pela Federação. Quem assistia em casa deve ter visto as cartolinas verdes e vermelhas, iguais às do jogo com a Suíça. Só que a minha, pelo menos, estava completamente ensopada e, quando tentei erguê-la como pediram, esta desfez-se em farrapos nos meus dedos.

 

Enfim, ficou a intenção. Em defesa da FPF, quem poderia adivinhar que ia chover? Estávamos em junho! Eu estava mais agasalhada nesse dia do que estive no jogo com a Suíça, em outubro.

 

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Um dos motivos pelos quais a chuva me irritou, aliás, foi porque estava a estrear a minha camisola nova da Seleção e tive de usar um impermeável por cima dela. Mal-empregada… O que vale é que, com o passar do tempo, acabei por gostar do visual – em parte porque sempre gostei imenso daquele impermeável, que “roubei” ao meu irmão.

 

Mas não estamos aqui para falar de moda nem de meteorologia (desse último assunto já tivemos a nossa dose há quatro anos) e sim de futebol.

 

Portugal entrou muito bem no jogo  infelizmente para nós, que estávamos mais perto da outra baliza. Logo no primeiro minuto, Cristiano Ronaldo bateu um livre a nosso favor. A bola foi parar a João Moutinho, que tentou rematar, mas o guarda-redes argelino defendeu. Aos oito minutos, Bruno Fernandes assistiu para Ronaldo, mas o golo foi anulado por fora-de-jogo.

 

Finalmente, aos dezassete minutos o marcador funcionou. Foi uma jogada muito fixe: o William Carvalho estava na linha de meio-campo mas, não sei bem como, conseguiu colocar a bola em Bernardo Silva, que estava já na grande área argelina. Este, depois, assistiu de cabeça para Gonçalo Guedes rematar para as redes.

 

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Tirando a contribuição de William (que, mesmo assim, terá sido quarenta por cento do golo), este foi um tento de dois meninos da casa, o que é sempre giro – embora, na verdade, Bernardo Silva pouco tenha jogado na equipa principal do Benfica.

 

Há que recordar que a Argélia não atravessa uma boa fase, nem sequer vai ao Mundial. Não sendo uma seleção de micro-estado, daquelas que se convida para particulares quando queremos uma vitória fácil para aumentar a auto-estima dos jogadores, não estava em condições para dar grande luta. Só mesmo em momentos, como à volta dos trinta minutos, em que Portugal afrouxava a pressão.

 

Nesse aspeto, o golo de Bruno Fernandes veio no momento certo. Na altura não conseguimos ver muito bem, chegámos a pensar que o golo era do Bernardo – antes de o speaker anunciar o autor verdadeiro. Só mais tarde, com os resumos, é que vimos que fora Cristiano Ronaldo a assistir para a cabeça de Bruno. Segundo o próprio, foi o seu primeiro golo de cabeça enquanto profissional – mais sobre isso adiante.

 

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Na segunda parte, Portugal voltou a entrar em força – e desta feita pudemos ver como deve ser. Logo nos primeiros dez minutos, tivemos meia-dúzia de oportunidades. A bola entrou, finalmente, aos cinquenta e quatro minutos – Raphael Guerreiro assistiu para Gonçalo Guedes cabecear para a baliza. Tal como já acontecera com Bruno Fernandes, este era o seu primeiro golo de cabeça da carreira. Consegui vê-lo bem do meu lugar – tanto a jogada do golo como o abraço entre o Gonçalo e o Raphael.

 

Vocês sabem que estou muito afeiçoada aos veteranos da Seleção – aos jogadores que já vestiam a Camisola das Quinas quando criei este blogue, há dez anos. Mas, ao mesmo tempo, dá-me imenso gozo ver os mais novinhos a dar cartas, como neste jogo: não só o Guedes e o Bruno Fernandes, também o Raphael Guerreiro, o André Silva, o João Mário… Dá-me gozo vê-los crescer, ver a sua primeira internacionalização, o seu primeiro golo, o seu primeiro golo de cabeça – da mesma maneira como nos dá gozo ver uma criança dando os seus primeiros passos, dizendo as suas primeiras palavras.

 

Talvez seja isso… ou talvez goste pura e simplesmente de ver jogadores da Equipa de Todos Nós saindo-se bem, ponto. Tem sido uma constante desde os meus catorze anos.

 

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Regressando ao jogo, a pressão portuguesa continuou, mesmo depois do terceiro golo. Perdeu-se, no entanto, algum fulgor com as substituições, como o costume. João Mário, ainda assim, conseguiu enfiar a bola da baliza aos oitenta e dois minutos, mas o golo foi anulado pelo VAR. Decisão acertada – eu mesma vi a mãozinha marota de Guedes, durante a jogada.

 

A vantagem de três golos manteve-se até ao fim. Fica uma certa pena por não termos conseguido marcar mais golos. Tirando isso, foi um bom jogo, um bom ensaio para o Mundial, um fim de tarde feliz para mim (que não tivera um dia fácil), uma ótima maneira de os Marmanjos se despedirem de nós antes de partirem para a Rússia.

 

Um aparte rápido só para falar do que aconteceu depois do apito final. Quando o Estádio já estava meio vazio, eu e a minha irmã vimos que, na baliza oposta à nossa, andava um dos Marmanjos a jogar com duas crianças – debaixo dos aplausos do público que restava. Só quando nos aproximámos é que reconhecemos o Cristianinho e o seu velho.

 

Foram uns minutos giros. Eu já adoro crianças por elas mesmas e, sempre que Ronaldo e o filho aparecem juntos, acho-os adoráveis. Como se isso não bastasse… o miúdinho tem jeito!

 

 

Não que seja uma surpresa: o Cristianinho está na idade em que o pai é o seu herói. Sendo o seu alguém que sempre adorou futebol, que trabalha dia e noite para se tornar cada vez melhor, é natural que o filho esteja a seguir os seus passos.

 

Por agora, pelo menos. A ver se isso continua quando o Cristianinho chegar à adolescência e já não achar o seu cota assim tão fixe.

 

O Cristianinho é mais outro que temos visto crescer. É muito cedo para estar a fazer previsões, mas seria fantástico se, daqui a uns quinze, vinte anos, voltássemos a vê-lo no Estádio da Luz – envergando a Camisola das Quinas.

 

Fechemos o aparte.

 

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Fernando Santos ainda não estava completamente satisfeito no fim deste jogo, embora as coisas estivessem “mais perto daquilo que queria”. Também admitiu que será durante o mundial que a Seleção vai chegar ao nível que ele deseja – tal como aconteceu durante o Euro 2016, suponho eu.

 

Com isto tudo, estamos a menos de dois dias da nossa estreia no Mundial 2018 e… acho que estamos preparados. Se ainda não o estivermos, estaremos no momento em que entrarmos em campo. Como fui dando a entender aqui e ali, durante algum tempo, sobretudo depois dos primeiros particulares deste ano, estive um pouco apreensiva. No entanto, os progressos nestes últimos dois jogos e a atitude exigente de Fernando Santos deixam-me um pouco mais confiante. Não me esqueci que o Mundial são historicamente difíceis para Portugal, mas desta feita parece-me que estamos a dar os passos certos.

 

E mantenho o que disse antes: se é para tentar o título, esta é a nossa melhor oportunidade para fazê-lo.

 

Nada disso significa que vá ser fácil. Bem pelo contrário. É certo que a Espanha está a ter uma crise interna, com uma troca de selecionadores à última hora, mas é melhor não assumir que isto vai afetar a equipa. Não estou à espera de uma vitória. Já ficaria muito satisfeita com um empate. Mesmo uma derrota não seria grave… desde que não seja uma derrota pesada e destrutiva, como o último jogo com a Alemanha.

 

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Tenho de confessar uma coisa: dava-me jeito se passássemos aos oitavos-de-final em segundo lugar. Vou estar fora do país durante o fim de semana dos oitavos e, se passarmos em primeiro, o nosso jogo coincidirá com o meu voo de regresso, no domingo. Se passarmos em segundo, jogamos no sábado – a Seleção teria um dia a menos para se preparar, mas eu, em princípio, poderia ver o jogo.

 

Será egoísta da minha parte? Dar-nos-á azar não estar a torcer a cem por cento pelo melhor resultado possível para a Seleção?

 

Acho que, de qualquer forma, será muito difícil passarmos em primeiro, pelo que expliquei acima. Mesmo assim, se der para ganhar à Espanha e Qualificarmo-nos no topo da tabela, não me queixo. Porque, se conseguirmos ultrapassar a fase de grupos (algo que não aconteceu da última vez) e, quem sabe, ganhar os oitavos, os quartos, por aí fora até à final de Moscovo, que importância terão um par de horas de nervosismo nas nuvens?

 

Não há de ser nada…

 

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Recuando um bocadinho, entre o jogo com a Espanha e o jogo com Marrocos, o único dia em que não trabalho será o sábado e já tenho uma data de coisas programadas. Assim, como já tinha dito que ia fazer, a próxima análise virá por tópicos. Vai ter de ser.

 

Em todo o caso, já sabem, teremos sempre a página do Facebook. Agora, que venha a Espanha, Marrocos, Irão e o resto: estamos prontos!