Pois é. Eis-me de volta, pouco mais de um ano após a última vez. Quando nos despedimos depois do Euro 2024, o plano não era parar por completo… mas acabou por ser isso o que aconteceu.
A verdade é que perdi um pouco de interesse na Seleção neste último ano. Não por completo – tanto quanto mais me recordo, vi todos os jogos. Fui inclusivamente ao jogo contra a Escócia no Estádio da Luz, há quase um ano. Mas deixei de me ralar com quem é Convocado ou não, deixei de tentar distinguir entre críticas legítimas e vieses clubísticos, deixei de defender ou criticar o Selecionador.
Isto pela primeira vez em mais de quinze anos! Aqui entre nós, foi libertador. Houveram alturas em que mal atualizava a página de Facebook, em que quase me esquecia de que haviam jogos. Quando os via desfrutava, no momento, ignorando o barulho. E quando as coisas não corriam tão bem… não me ralava. Como escrevi antes, o tempo e a paciência já não são os mesmos.
E a verdade é que me fartei do ciclo vicioso dos últimos anos: promessas, marketing, imenso apoio por parte da massa adepta, garantias de que temos a melhor geração de jogadores de sempre – para depois, na prática, não se verem resultados. Ou melhor, vermos resultados suficientes para se justificar que nada mude, mas que não satisfazem ninguém.
Dito isto, este último ano não foi nada mau em termos de desempenho da Seleção. Aliás, quando dei por mim, tínhamos vencido a Liga das Nações pela segunda vez. Foi o nosso terceiro título.
Antes da final four, não tinha fé quase nenhuma. Tínhamos tido uns quartos-de-final dramáticos, como era a norma perante a Dinamarca há coisa de quinze anos – à grande e à dinamarquesa, como escrevia eu na altura. Estivemos a quatro minutos da eliminação. Foi uma reviravolta emocionante mas, para sermos sinceros, a Dinamarca não é propriamente um tubarão, com o devido respeito. E quando se soube que o nosso primeiro adversário na final four seria a Alemanha – uma das nossas maiores bestas negras, ainda por cima a jogar em casa – pensei “esqueçam…”
Houve gente a dizer que preferiam que Portugal perdesse na final four, só mesmo para podermos correr com Roberto Martínez. Eu não concordava – nunca torcerei contra a Seleção – mas, aqui entre nós, se Martínez saísse, não me queixaria. O meu entusiasmo e crença eram tão poucos que, quando chegou junho, mal me recordava que haveriam jogos da Seleção.
Não digo que não acreditava de todo. Mas era quase só por princípio, numa de “até ao lavar dos cestos é vindima”.
Pois bem. Os Marmanjos resolveram ganhar-me à Alemanha, vinte e cinco anos e várias derrotas dolorosas depois da última vez. Foi preciso esperar uma geração inteira por outro Conceição – bastaram cinco minutos de Francisco em campo para catalisar a reviravolta.
A final foi perante a Espanha – outra besta negra, que não vencíamos em jogos oficiais há vinte e um anos, que se sagrou Campeã Europeia no ano passado, merecidamente. Outro jogo intenso. Estivemos por duas vezes em desvantagem, Cristiano Ronaldo voltou a sair mais cedo do jogo por problemas físicos (é fim de época, o homem tem quarenta anos! Ao menos conseguiu marcar pela primeira vez em finais). Houve prolongamento, houve penáltis.
Já estou nisto há mais de duas décadas. Nos meses anteriores, garantiria a pés juntos que não me ralaria da mesma forma. Não foi isso que aconteceu nesse dia. Não se torna mais fácil com o tempo, antes pelo contrário. O Ronaldo nem foi capaz de ver os penáltis – I feel you, bro. Nuno Mendes fez uma exibição monstruosa – ele e os colegas do PSG, Vitinha e João Neves, ganharam dois títulos europeus no espaço de uma semana. Nas grandes penalidades, Diogo Costa defendeu o penálti de Morata. No fim, a Taça veio para Portugal.
Como disse acima, isto dura há mais de vinte anos e a Seleção continua a surpreender-me. Passo por fases de maior pessimismo e aqueles Marmanjos arranjam maneira de dar a volta por cima. Daquelas lições que estou sempre a aprender.
Já lá vai quase uma década desde o primeiro título da nossa Seleção. Até agora nenhum soube tão bem como esse, admito. Mas ainda me recordo de quando ainda não tínhamos ganho nada – anos e anos em que só levantávamos um troféu nos meus sonhos. Agora já aconteceu três vezes na vida real. Não deixo de dar valor a isso. E podem dizer o que quiserem sobre a Liga das Nações, mas tivemos de derrotar dois tubarões, dois adversários contra quem raramente ganhamos, para conquistarmos este título.
Felizmente, sinto que desta vez as pessoas deram mais valor que em 2019. Para além da questão dos adversários que enfrentámos, a prova já tem uns anos, já tem algum prestígio. Quem desdenha quer comprar.
À boa maneira tuga, o povo foi do oito ao oitenta. Dias antes estavam à espera da desculpa para correr com Martínez. Depois desta, já se fala do título mundial. Claro.
Acho que ainda é muito cedo para se determinar se já saímos do ciclo vicioso. Até porque nem tudo depende diretamente dos jogadores e/ou do treinador – continuamos a ter calendários muito pesados, não sabemos em que forma os Marmanjos estarão no verão do próximo ano.
Além disso, estamos a falar de um Mundial. Se fosse um Europeu, até alinharia um pouco no otimismo. Mas historicamente Portugal dá-se pior em Mundiais. Apontar ao título poderá não ser muito realista.
Uma coisa é certa, no entanto: depois deste título, Martínez, o resto da equipa técnica, a própria Seleção atual merecem o fim do barulho, do cepticismo, merecem a nossa confiança. Ao mesmo tempo, temos o direito de pedir – para não dizer exigir – mais exibições assim. A Qualificação começa na próxima semana – acho que podemos assumir que não a falharemos. Depois disso, na hora da verdade, se não der para pedir o título, pedimos no mínimo que apontem nessa direção. Que façam uma exibição digna de uma das melhores seleções da Europa. Algo que não acontece em Mundiais há… quase vinte anos, no momento desta publicação.
Agora vamos passar a um registo bem mais triste – o mais triste aqui no blogue até agora. Vocês sabem do que se trata.
Soube da notícia de manhã cedo, quando estava no trabalho. Foi um choque – fiquei sem conseguir respirar.
Nunca considerei Diogo Jota um dos meus jogadores preferidos. Nem sequer sabia que ele tinha um irmão mais novo, também ele futebolista. Era regular na Seleção, no entanto, durante os últimos seis anos. Houve uma altura em que era um dos nossos melhores marcadores. Era uma personagem recorrente aqui no blogue.
Não sei se alguma vez o disse aqui com todas as letras, mas sempre me afeiçoei a jogadores da Seleção – em graus diferentes. Vou acompanhando as carreiras deles, as vidas pessoais (quando se casam, quando se separam, quando têm filhos), ainda que de longe. Vejo-os crescer comigo. São os meus Marmanjos, os meus meninos, as minhas musas.
E do dia para a noite fiquei sem um deles.
Eu sabia – ou melhor, devia ter sabido – que chegaria o dia em que veria um deles partir. E que era possível que um deles partisse demasiado cedo. Não estava preparada.
Aqui entre nós, não me interpretem mal, mas não estava à espera que tanta gente se ralasse com a morte do Diogo. Pelo menos não em Portugal. Ele não era um jogador particularmente mediático por cá. Mas, nessa quinta-feira maldita, fui vendo a consternação espalhando-se entre os meus colegas, entre outras pessoas, pelos meus grupos no WhatsApp, pelo resto da Internet.
Calculo que seja pela dimensão da tragédia. Outros já a descreveram melhor do que eu: dois rapazes novos, com a vida toda pela frente, que deixaram os pais órfãos dos únicos filhos que tinham. O Diogo tinha três filhos pequenos, estava com a mãe deles desde adolescente, tinha acabado de se casar. Duas vidas que se esfumaram num instante. Uma coisa estúpida, aleatória, cruel, Nem o Diogo, nem o André, nem aqueles que os amavam mereciam isto.
Por outro lado, sei de meia dúzia de pessoas, em particular um certo presidente do outro lado do oceano, que mereciam muito mais este destino.
Claro que, pelo menos cá em Portugal, as homenagens e manifestações de pesar acabaram por resvalar para o exagero. Não adoro a cultura portuguesa no que toca ao luto: há uma tendência para o exibicionismo, para a histeria, quase para o tétrico. Não pretendo tecer juízos de valor sobre a forma como cada um lida com a perda – tirando quando interfere com o luto dos outros, quando magoa ainda mais quem já está a sofrer.
Dou alguma legitimidade a quem questionou a ausência de Cristiano Ronaldo do funeral. No entanto, aqui entre nós, de que serviu a polémica? Não aliviou a dor dos entes queridos, pois não? Em relação às críticas à viúva pelo vestido que usou numa das homenagens e aos meios de Comunicação Social sem noção dos limites, só tenho repúdio.
Tirando isso, têm sido feitas homenagens lindíssimas a Diogo Jota – homenagens essas que duram até agora. Havemos de voltar aí – antes, tenho de falar sobre outra perda: Jorge Costa.
Confesso: não estava tão afeiçoada a ele. Mal me lembro dele na Seleção – ele já era “velho” quando comecei a interessar-me por futebol. Ainda assim, tenho uma imagem muito específica dele gravada na memória: levantando a Taça UEFA pelo F.C.Porto em 2003. A RTP incluiu o momento numa montagem de autopromoção que transmitiram inúmeras vezes nos meses que se seguiram – nunca consegui esquecê-la.
De resto, o Jorge fazia parte da Geração de Ouro, à qual pertencem nomes como Rui Costa e Luís Figo. Custa começar a perdê-los.
Esta foi uma morte por causas naturais – infelizmente, o Jorge tinha um histórico de problemas cardíacos. Ainda assim, estava a ter um dia de trabalho normal no F.C.Porto. Deu uma entrevista falando sobre o jogo seguinte, a nova época, as movimentações de mercado. Ter-se-á sentido mal logo depois disto. Passadas umas duas horas, se tanto, já não estava entre nós.
Já viram a maneira como os nossos planos e preocupações do dia-a-dia rapidamente se tornam irrelevantes? Já viram o quão frágeis e insignificantes somos?
Dizia eu que não têm faltado manifestações de carinho e saudade, tanto relativas ao Diogo como ao Jorge. Por outro lado, regra geral, homenagens fúnebres sempre me deixaram dividida. São bonitas, são comoventes, são um consolo para os entes queridos, mas… não teria sido melhor fazê-las quando a pessoa está cá para as ver? Sou daquelas que acredita que homenagens fazem-se em vida.
Nesse aspeto, no que toca à morte do Diogo, foi um pequeno consolo pesquisar este blogue e escrever o que fui escrevendo sobre ele ao longo dos anos. Este é apenas o meu cantinho da Internet, duvido que o Diogo alguma vez tenha dado com ele, mas ao menos deixei-lhe elogios em vida.
Essa é uma das funções da minha escrita, na verdade – deste blogue e não só. Falar sobre as minhas coisas favoritas, cimentar recordações, escrever a História da Seleção segundo o meu humilde ponto de vista, deixar provas da minha afeição pela Equipa das de Todos Nós e pelos seus protagonistas, contribuir para a imortalização.
Tendo tudo isto em conta… será correto continuar a deixar o blogue ao abandono?
Pois. Acho que não.
Não me interpretem mal, não vou regressar aos moldes de antigamente. Mas quero tentar deixar pontos de situação semelhantes a este de longe a longe. Mínimo dos mínimos, quero deixar um antes do Mundial. Ao mesmo tempo, vou fazer um esforço para, pelo menos, ir atualizando a página do Facebook quando há jogos.
Na sexta-feira passada, foram Divulgados os Convocados para a primeira dupla jornada da Qualificação. Esta não vem numa boa altura para mim: tenho planos em ambos os dias de jogo. Mas devo conseguir acompanhar, nem que seja apenas na rádio ou em sites de atualizações. Depois, quero tentar ir a pelo menos um dos jogos de Outubro, no Estádio de Alvalade. Como já terão concluído, a vida é curta, temos de agarrar todas as oportunidades – sabemos lá quantas teremos.
Ainda a propósito disso, Roberto Martínez revelou que, a partir de agora, a Seleção terá sempre um Convocado extra: o Diogo. Ele servirá de motivação, de inspiração, para lutar pelo título no Mundial do próximo ano. Adicionalmente, Rúben Neves, o melhor amigo do Diogo, herdará a camisola 21. Eu quase me desfiz em lágrimas quando vi a notícia.
Mesmo que a minha disponibilidade, quer externa quer interna, seja menor, mesmo que escreva menos e que me rale menos com as miudezas, o meu vínculo com a Seleção Nacional sobrevive e quero cultivá-lo. A vida é tão difícil, têm acontecido tantas coisas horríveis. Se temos algo de bom, há que valorizá-lo.
Como sempre, obrigada pela vossa visita. Até à próxima.
No passado dia 4 de junho, a Seleção Portuguesa de Futebol venceu a sua congénere finlandesa por quatro bolas contra duas, no Estádio de Alvalade. Quatro dias depois, foi derrotada pela sua congénere croata por duas bolas contra uma, no Estádio Nacional, no Jamor. Finalmente, três dias mais tarde, a Seleção venceu a sua congénere irlandesa por três bolas sem resposta.
Todos estes jogos foram de carácter amigável. E hoje estreia-se no Euro 2024 perante a Chéquia.
Como já tinha referido no texto anterior, estive em dois destes três amigáveis: os dois que tiveram lugar na zona de Lisboa, ambos muito diferentes em termos de acessos.
O primeiro, contra a Finlândia, foi tranquilo. Como estava de folga nessa tarde e ia sozinha, não estava condicionada, pude ir cedo para o estádio. Tive tempo para comprar um boné – o vermelho, da nova coleção. Andava há mais de uma década à espera que lançassem um boné oficial de que gostasse.
Pelo menos é essa a desculpa que dou a mim mesma pelo dinheiro que gastei. Não foi uma compra por impulso, era algo que desejava há muito tempo.
Deu também para acompanhar a animação pré-jogo. Até consegui escrever um bocadinho no meu lugar, enquanto esperava pelo início do jogo. Este foi o melhor lugar que consegui em anos: na central, com boa vista para ambas as balizas. A única desvantagem foi ter ficado ao Sol antes do início do jogo.
Algo que, mesmo assim, aceitei de bom grado. Já não é a primeira vez que o digo: adoro ver jogos de futebol à luz do dia. Sobretudo em dias tão bonitos como aquele.
O Estádio não estava cheio, mas estava bom ambiente. Fiquei sentada ao lado de uma menina de cerca de quatro anos e do pai dela. Pela maneira como o pai passou uma grande parte do jogo explicando à filha as regras do futebol – o bê-á-bá do desporto, por exemplo, “o objetivo é enfiar a bola na baliza do adversário” – calculo que aquela tenha sido o primeiro jogo da menina ao vivo, quiçá um dos primeiros jogos de futebol que ela viu.
Foi amoroso. Recordou-me de quando eu mesma era pequena e fazia perguntas ao meu pai enquanto ele via futebol na televisão. Além de que sempre gostei de crianças e, ainda por cima, tenho uma sobrinha que deverá nascer nas próximas semanas (durante o Europeu… como se eu precisasse de mais emoções, sobretudo se nos mantivermos em prova durante muito tempo). Já me imaginei levando-a a jogos e/ou falando-lhe de futebol, contando-lhe histórias de feitos anteriores da Seleção. Eu mesma respondi a uma ou outra pergunta da menina ao meu lado – teria respondido a mais, mas não estava à vontade para isso.
Quanto ao jogo em si, foi uma exibição agradável – melhor do que estava à espera para um particular no terceiro dia de estágio. Algo que me chamou a atenção foi a altura dos finlandeses – mais ou menos o dobro da altura dos portugueses. Aliás, saiu um artigo há pouco tempo dizendo que Portugal é a segunda Seleção com menor média de alturas neste Europeu. Poucos dos nossos conseguiam competir.
Por outro lado, talvez seja eu que estou a ficar velha, mas por estes dias metade da Seleção parece tão novinha! O João Neves, o Francisco Conceição… eu podia ter andado com eles ao colo! E eles têm cara disso!
Não surpreendeu que o primeiro golo, aos dezassete minutos, tivesse vindo de Rúben Dias, um dos mais altos. Vitinha bateu um canto e assistiu diretamente para a cabeça do central. Depois dessa, em cima do intervalo, Francisco Conceição foi derrubado na área, o árbitro marcou penálti e Diogo Jota converteu.
Para a segunda parte, Martinez trocou metade da equipa – algo que fazia sentido em termos de gestão física, mas que mesmo assim achei estranho. Em todo o caso, depressa o marcador se dilatou ainda mais, cortesia de Bruno Fernandes. A jogada começou em Diogo Dalot e passou por Gonçalo Ramos. Mas a assistência foi de Francisco Conceição para Bruno rematar de fora da área. Lembro-me de uma altura, há uns anos, em que a minha irmã se queixava da suposta mania de Bruno rematar de fora da área.
Mal sabíamos nós que ele se tornaria um dos melhores da Seleção Portuguesa.
Infelizmente, íamos deixando a coisa descambar: o finlandês Pukki marcou dois golos em cinco minutos. Felizmente, Bruno tornou a intervir para dilatar de novo a vantagem. Nova assistência de Conceição, que enganou dois finlandeses e Bruno nem sequer precisou de rematar com muita força. Ficou feito o resultado.
No fim, sentia-me satisfeita, mesmo com todos os senãos e atenuantes. Choviam elogios a Francisco Conceição – ou Chico Conceição, como toda a gente lhe chama – um dos melhores em campo. Também fiquei contente com o miúdo, mas não lhe quero elevar demasiado a fasquia. Não seria a primeira vez que um jovem mostrava potencial nos jogos particulares antes de uma grande competição – para, depois, não conseguir corresponder na hora da verdade.
Mas espero que o Chico continue a crescer na Equipa de Todos Nós. Se a grande explosão não acontecer neste Europeu, que aconteça num futuro próximo.
O particular seguinte não foi tão tranquilo: nem o jogo em si nem a viagem de ida e volta. Vim com uma amiga, mas cada uma trouxe o seu próprio carro… um erro. Até saí de casa relativamente cedo e mesmo assim apanhei os acessos ao estádio completamente entupidos. Demorei eternidades a estacionar, num lugar muito questionável: a margem de um percurso pedonal num parque nas redondezas.
E mesmo assim consegui chegar cedo ao meu lugar no estádio, ainda durante o aquecimento. A minha amiga, que saiu de casa mais tarde (apesar de eu a ter avisado para vir cedo), só se conseguiu juntar a mim na bancada já a primeira parte ia adiantada.
Ainda mais difícil foi o trânsito para sair do estádio. Demorei à vontade uma hora só para sair das redondezas do Jamor. Não foi tão stressante quanto poderia ter sido – tive o bom senso de comer e ir à casa de banho no estádio (não que recomenda esta última parte…) e não estava com pressa.
Ainda assim, talvez tivesse sido melhor ir de comboio. O que também não seria fácil, penso eu – até porque houve concerto das bandas dos Morangos com Açúcar nessa mesma noite, no Passeio Marítimo de Algés.
Nesse aspeto, os Estádios da Luz e de Alvalade são bem mais práticos, com melhores acessos. Eu então consigo ir a pé para ambos a partir da casa dos meus pais.
Dito isto… estou contente pela oportunidade de ver um jogo no Jamor. É místico, é lindo. E o ambiente esteve tão bom durante o jogo, mesmo que este em si não tenha sido grande coisa. Estava com medo de que chovesse durante o jogo – tinha chovido nessa manhã – mas não chegou a acontecer. Aliás, o sol até espreitou durante a segunda parte, dando uma nova luminosidade ao Jamor.
De facto, a certa altura, a meio da segunda parte, dei por mim a sentir o momento. Estava ali, num Estádio Nacional cheio, repleto de gente vestida de verde e vermelho, vendo a Seleção a jogar. Há poucos cenários mais belos do que aquele.
Mas falemos do jogo em si – a parte menos boa dessa tarde. Exibição muito fraquinha, sobretudo na primeira parte. A Croácia marcou cedo, conversão de um penálti que dizem questionável (como não foi do meu lado, não consegui ver bem eu mesma). Não se pode dizer, no entanto, que o resultado era injusto. Portugal ia atacando sem grande intensidade – Gonçalo Ramos e João Félix pareceram-me particularmente desinspirados naquela tarde.
A segunda parte correu melhor, depois de nova mini-evolução ao intervalo. Conseguimos empatar o jogo logo nos primeiros minutos da segunda parte: Nélson Semedo assistiu para o remate certeiro de Diogo Jota. Fico contente por o Diogo ter assinado dois golos nestes jogos, depois de ter passado tanto tempo lesionado.
Ainda tive esperanças de que conseguíssemos dar a volta ao resultado, ou de que pelo menos mantivéssemos o empate. Mas os croatas chegaram de novo à vantagem, numa das poucas oportunidades que tiveram. A bola foi à trave e, na recarga, Budimir marcou de cabeça.
Nunca mais conseguimos sair desta. A certa altura, o público começou a cantar por Cristiano Ronaldo. Eu mesma me juntei ao coro – sabe-se lá quantas mais ocasiões teremos para isso. Não tenho a certeza do que é que o motivou. Se foi uma continuação dos aplausos antes do jogo, sempre que ele aparecia em campo durante o aquecimento. Se o povo pura e simplesmente queria vê-lo a jogar. Ou se esperavam que Ronaldo entrasse e salvasse a honra do convento, como tantas vezes antes. Talvez tenha sido uma mistura das três hipóteses.
Claro que Martínez não ia pôr Ronaldo a jogar só porque estávamos a perder um jogo amigável. O Capitão tinha-se juntado à concentração poucos dias antes e, como jogador geriátrico, é preciso cuidado com a gestão da sua forma.
E também há muita hipocrisia. Tão depressa se diz que Ronaldo está a mais, que a Seleção joga melhor sem ele, como começamos literalmente a clamar por ele assim que as coisas começam a correr mal.
Suspeito que esta última parte irá acontecer muito quando Ronaldo se reformar.
Em todo o caso, o Capitão teve oportunidade de ser herói no jogo seguinte: o particular perante a República da Irlanda, no Estádio de Aveiro. Desta feita não estive lá – aliás, estive a trabalhar durante a primeira parte. Foi uma tarde tão agitada no trabalho que cheguei a esquecer-me que havia jogo da Seleção (estou a perder qualidades). Consegui dar uma espreitadela ao resultado quando já estava 1-0, mais nada – e já aí pensei que 1-0 era pouco.
E de facto consta que a Irlanda esteve muito fechada à defesa e foi preciso algum esforço para abrir o marcador, num lance de bola parada. Um canto batido à maneira curta e assistência de Bruno Fernandes para o belo remate de João Félix.
Ainda houve ocasião para Ronaldo bater um livre – depois de essencialmente dizer a si mesmo “Tu bates bem” – que infelizmente chocou com a trave.
Felizmente consegui ver a segunda parte, que todos garantem que foi melhor – e eu de facto achei agradável. Logo aos cinco minutos, após uma assistência teleguiada típica de Rúben Neves, Ronaldo marcou aquele que muitos consideram um dos melhores golos dele pela Seleção. Cerca de dez minutos depois, veio o segundo, após assistência de Diogo Jota. E ficou feito o resultado.
E hoje estreamo-nos no Europeu, perante a Chéquia. Tenho gostado imenso de ver imagens da Seleção sendo paparicada em Marienfeld. Imensas recordações do Mundial 2006, tal como previ. Gosto em particular das histórias de pessoas que eram bebés há dezoito anos, quando estiveram com a Seleção, e agora são jovens adultos.
Espero que não lhes faltem oportunidades para estarem com a Equipa de Todos Nós nas próximas semanas.
Estes particulares não mudaram radicalmente a minha opinião sobre as nossas hipóteses neste Europeu. Continuo mais otimista que nas últimas ocasiões – o que mesmo assim não é muito muito. Não acho que somos os maiores porque vencemos a Finlândia e a Irlanda, nem acho que deixamos de ser candidatos por termos perdido contra a Croácia.
Dito isto, não fiquei muito descansada com Martínez e alguns dos jogadores desvalorizaram a derrota no Jamor. Naquela fase, um bocadinho de dramatização seria saudável – quando havia tempo para fazer as correções necessárias.
Claro que era apenas conversa. Nada me garante que eles não estavam mais preocupados do que deram a entender e que não agiram de acordo nesta última semana e picos.
Parte de mim quer manter as expectativas baixas. Outra parte, no entanto, vê conversas como esta, de Ronaldo, e pensa: meias-finais é pouco. Quero chegar à final.
Diria que o mínimo aceitável são mesmo as meias-finais. Posso eventualmente mudar de ideias, dependendo da maneira como correr a fase de grupos – e concordo com Martínez quando diz que a Seleção irá continuar a crescer e que atingirá o nível máximo depois da fase de grupos. A verdade é que estou farta de ver esta geração desperdiçar oportunidade atrás de oportunidade. Já chega! Quero voltar a ganhar um título!
Mas pronto. Como sempre, falar é fácil, escrever é fácil. Quando a bola começar a rolar, logo à noite, é que a história começará a ser escrita, é que saberemos qual é o nosso verdadeiro valor.
Venha então o jogo com a Chéquia. Força Portugal! Vamos a eles!
No passado dia 8 de setembro, a Seleção Portuguesa de Futebol venceu a sua congénere eslovaca por uma bola sem resposta. Três dias depois, a Seleção venceu a sua congénere luxemburguesa por nada menos que nove bolas sem resposta. Ambos os jogos contaram para a Qualificação para o Euro 2024.
Tenho muito pouco a dizer sobre o jogo com a Eslováquia. Não lhe prestei muita atenção. Para além de andar distraída com outras coisas, fui jantar fora nessa noite. Ainda consegui ver uma parte generosa do jogo na televisão, no restaurante, o resto acompanhei pela rádio.
Mesmo quando podia ver, o jogo não me cativava – nem a mim nem a ninguém. Como muitos assinalaram, Portugal não entrou bem no jogo, atacando sem eficácia, cometendo erros defensivos que, felizmente, os eslovacos não conseguiram aproveitar.
O maior exemplo foi quando um deles rematou ao poste, aos quarenta e dois minutos. Deve ter servido de alerta – no minuto seguinte, chegámos finalmente ao golo.
Bruno Fernandes fez tudo sozinho nesta. Estava mais de metade da seleção eslovaca na grande área. O Marmanjo entrou pela direita, rematou de um ângulo difícil mas a bola entrou.
Este golo tem sido comparado com um de Eusébio à seleção da antiga Checoslováquia em 1965. Terá um dos jogos mais marcantes da Qualificação para o inesquecível Mundial de 66 – os checos eram vice-campeões do Mundo em título na altura. Na minha opinião, o golo do Eusébio foi melhor. Ele pegou na bola mesmo na minha do meio-campo e galgou até quase à linha do fundo. Num terreno de péssima qualidade.
É por estas e por outras que acredito que nunca ninguém ultrapassará Eusébio. Porque ele foi o Melhor do Mundo em circunstâncias bem mais agrestes.
Regressando ao passado recente, como toda a gente disse, Bruno era o menino dos anos, mas fomos nós que recebemos a prenda. Terá sido o nosso melhor em campo – em parte por demérito dos restantes. Tal como tem acontecido várias vezes nos últimos anos, Portugal com um desempenho assim-assim durante a maioria do jogo, conseguindo a vitória graças a um lampejo de inspiração de uma das nossas grandes figuras.
A segunda parte foi melhorzinha, mas continuou sem entusiasmar. O único evento assinalável foi o cartão amarelo de Cristiano Ronaldo, que o excluiu do jogo com o Luxemburgo. O Capitão não estava nos seus dias, mas parecia desesperado por marcar. O meu pai acha que ele tem noção de que a sua carreira está na fase do ocaso, logo, quer agarrar todas as oportunidades de golo como se fossem as últimas. No seu ímpeto, o pobre guarda-redes eslovaco levou com os pitons de Ronaldo.
Toda a gente viu que não foi com más intenções. Até porque Ronaldo fez logo gestos pedindo desculpa. Mas o cartão amarelo foi bem mostrado. Foi uma jogada perigosa e, de qualquer forma, o guarda-redes na grande área é intocável.
Cristiano Ronaldo falhou, assim, o jogo com o Luxemburgo. Jogo é como quem diz… aquilo foi mais chuva de golos que outra coisa qualquer.
Sou muito apologista do respeito pelo adversário e de só fazer prognósticos no fim do jogo. Mas, aqui entre nós, todos sabíamos que o mais certo era sairmos do Estádio do Algarve com uma goleada no bolso.
Não que achasse que o Luxemburgo não fosse capaz de dar luta. Pelo contrário, eles estão em terceiro no grupo, na corrida para se Qualificarem para o Europeu. Se não marcássemos cedo, o jogo poderia complicar-se sem necessidade.
Como se poderá concluir do resultado final, não havia motivo para preocupações.
Nos últimos anos de blogue, uma das minhas partes preferidas nestes textos tem sido descrever os golos da Seleção. É pura auto-indulgência, desnecessário, sobretudo agora que os vídeos vêm logo parar aos YouTubes desta vida. Mas eu gosto. Sou eu aplicando o meu filtro pessoal. É a minha maneira de romantizar, de imortalizar.
E, sejamos sinceros, noventa por cento deste blogue é auto-indulgência.
No que toca a este jogo, no entanto, temos nove golos. Vou descrevê-los, mas com diferentes graus de detalhe – são muitos!
Houve nota artística logo no primeiro golo. Bruno Fernandes fez uma assistência de trivela e Gonçalo Inácio estreou-se a marcar de cabeça. A jogada do segundo também começou com Bruno, passou por uma assistência de Bernardo Silva e terminou com um tiro de Gonçalo Ramos.
O terceiro golo teve a mesma assinatura, mas uma assistência diferente: uma arrancada de Rafael Leão à moda antiga, pela esquerda. Adorei a meia-volta que Ramos deu ao receber a bola – antes de passar entre dois luxemburgueses e rematar.
Eu também já faço as pistolas com os dedos quando ele marca.
O quarto golo, em cima do intervalo, foi idêntico ao primeiro: Bruno Fernandes com uma assistência ligeiramente menos artística para a cabeça de Gonçalo Inácio.
Acho que todos concordamos que este miúdo provou que merece vir mais vezes à Seleção.
Não esperava que os Marmanjos mantivessem o mesmo ímpeto durante a segunda parte. E, de facto, eles abrandaram durante os primeiros quinze minutos. Mas depois o marcador tornou a funcionar e, uma vez mais, tudo começou com Bruno Fernandes. O Marmanjo esteve em todas! Desta feita, foi uma daquelas à distância, teleguiada, isolando Diogo Jota. Este, depois de ter falhado umas quantas na primeira parte, finalmente marcou.
Jota também esteve no golo seguinte: uma assistência para o remate potente do recém-lançado Ricardo Horta – que, pelos vistos, não precisa de muitos minutos para marcar. Depois desse, Jota tornou a marcar. Entrou na grande área pela esquerda. Pareceu-me que queria passar a Otávio, mas a assistência acabou por vir de um jogador luxemburguês, simpático ao ponto de devolver a bola a Jota para que este rematasse.
E depois de ter oferecido tantas aos colegas, foi a vez de Bruno Fernandes assinar um golo. A assistência foi de Ricardo Horta – os luxemburgueses não fizeram nada para os travar. Arrisco-me a dizer que, neste momento, Bruno Fernandes é o melhor jogador da Seleção.
Nesta dupla jornada, pelo menos.
Foi depois deste golo, se não me engano, que o selecionador do Luxemburgo abandonou o banco – perdendo de imediato o meu respeito. O mínimo que se exige a um treinador é que fique com a sua equipa aconteça o que acontecer – o mínimo!
É certo que o selecionador luxemburguês não se ausentou durante muito tempo. Pode dar a desculpa de ter ido ao WC. A minha mãe disse que ele foi vomitar.Ainda assim, não ficou bem.
João Félix encerrou a conta com um tiro bem jeitoso. Alguns de vocês terão reparado que alguém no Twitter prometera correr nu à volta do Marquês de Pombal caso Félix marcasse. Pois bem, o Marmanjo fez retweet, colocando o autor na berlinda.
Fiquei com uma certa pena por não termos chegado aos dois algarismos. Tirando isso, nada a apontar. Nove a zero, o nosso resultado mais dilatado de sempre. Sim, era o Luxemburgo, que nunca foi um tubarão. Mas era um Luxemburgo que está na luta pelo Apuramento. Esperava-se melhor. A nossa Qualificação continua imaculada – mais do que isso, está a ser fértil. Vinte e quatro golos marcados, nenhum sofrido. Nenhuma seleção se tem saído tão bem neste Apuramento.
Pode-se argumentar que Portugal não está a fazer mais do que a sua obrigação, tendo em conta o calibre dos adversários e o talento de que dispõe. Mas, da minha experiência, Portugal muitas vezes tem dificuldades em cumprir obrigações. Não é a primeira vez que nos calha um grupo fácil, mas é a primeira vez que temos um desempenho assim.
Roberto Martínez dá o crédito aos jogadores por este feito, elogiando “a concentração e o compromisso”. Por exemplo, Martínez gostou do facto de Portugal ter mantido o ritmo na segunda parte. Eu também. Não levaria mal se tivessem abrandado – não era por mais golo ou menos golo – mas gostei que isso não tivesse acontecido.
Ora, à boa maneira tuga, passámos logo do oito ao oitenta. Depois do jogo com a Eslováquia, toda a gente criticava a qualidade de jogo da Equipa de Todos Nós. Com razão, regra geral. Três dias depois, no entanto, já estava tudo cor-de-rosa. Nomeadamente no que toca à questão Cristiano Ronaldo, se estamos melhor com ele ou sem ele.
É possível que tivéssemos uma vitória menos dilatada caso Ronaldo tivesse jogado. Com ele em campo, em vez de tentarem marcar eles mesmos, talvez os outros sentissem a tentação de lhe passar a bola. “Deixa o avozinho tentar marcar, coitado, enquanto ainda tem pernas para isso.” Mas pronto, seria a diferença entre ganhar nove a zero ou ganhar seis a zero, como em março. O recorde batido soube bem, mas a vantagem foi só essa.
Além disso, o Luxemburgo não é a Suíça. Não se podem tirar grandes ilações de um jogo em que o adversário praticamente não existiu.
E depois temos o extremo oposto. “Pois, perante o Luxemburgo até a minha avozinha! O que vamos fazer quando levarmos com um peso pesado?” Não me interpretem mal, é uma dúvida legítima, algo em que eu mesma tenho pensado.
Por outro lado… de que adianta falar sobre isso agora? Este foi o grupo que nos calhou, temos um calendário para cumprir. Não nos preocupemos: quando garantirmos um lugar no Euro 2024, é só uma questão de tempo até nos cruzarmos com um tubarão. Aí poderemos tirar as dúvidas todas.
Aliás, Martínez já disse que quer garantir matematicamente o Apuramento o mais depressa possível. Os restantes jogos servirão para treinar.
Vai em linha com o que já disse antes. Com um grupo de Apuramento fácil como este e fazendo tudo bem, como Portugal tem feito até agora, 2023 seria sempre um ano de transição, um ano de adaptação para Martínez antes dos desafios de 2024. Pouco interessante em certos momentos, sim. Como disse o Gonzaal no outro dia, em linguagem de anime ou mesmo de séries de televisão, estamos a meio de um arco filler. Os guionistas estão a encher chouriços, a fazer tempo até à parte gira da história – neste caso, o Euro 2024.
Sim, costuma ser uma seca. Mas, como deu para ver com o jogo com o Luxemburgo, de vez em quando apanhamos pedaços saborosos no meio destes enchidos.
Havemos de continuar à espera deles deste lado. Bem, mais ou menos. Não se admirem se, antes da próxima dupla jornada, não houver crónica pré-jogos. São adversários repetidos, não devemos ter muito sobre que falar. A menos que haja alguma grande polémica na Convocatória – e mesmo assim. Em todo o caso, como habitual, vou deixando as minhas impressões na página do Facebook.
Na passada quinta-feira, a Seleção Portuguesa de Futebol venceu a sua congénere turca por três bolas contra uma, em jogo a contar para as meias-finais dos play-offs de acesso ao Mundial 2022. Graças a este resultado, a Seleção irá disputar a final dos play-offs perante a Macedónia do Norte – que surpreendeu o mundo do futebol ao vencer a Itália por 1-0.
Aquela noite foi o culminar de meses de apreensão latente. Estava uma pilha de nervos antes do apito inicial, cantarolando partes de músicas da minha playlist da Seleção – a minha preferida neste momento é 1 Lugar ao Sol, dos Delfins – como se fossem orações.
Fernando Santos apresentou um onze com algumas novidades. Otávio a titular e, para meu choque, Diogo Costa. Rui Patrício ficou no banco. Ninguém se lembra da última vez que Patrício ficou no banco por opção técnica num jogo oficial. De tal forma que, na Conferência de Imprensa após o jogo, perguntaram a Fernando Santos se Patrício estava lesionado. O Selecionador disse que não e basicamente queixou-se de ser preso por ter cão e preso por não ter no que toca a renovações.
É difícil argumentar contra isso – até porque Diogo Costa nem se saiu mal. Mas se isso significa que o ciclo de Rui Patrício está à beira do fim… eu fico triste.
O início do jogo até correu bem para o nosso lado. Gostei de ver o ataque da Seleção nos primeiros vinte minutos. Otávio marcou o primeiro golo das Quinas em 2022, aproveitando uma bola que Bernardo Silva enviara ao poste. Mais tarde, em cima do intervalo, Otávio contribuiria para o nosso segundo golo, assistindo para a cabeça de Diogo Jota – um remate delicioso.
Se as coisas no ataque não estavam a correr mal, o mesmo não se pode dizer da defesa. Com João Cancelo cancelado castigado, Rúben Dias lesionado, Pepe covidado e Gonçalo Inácio inexplicavelmente nem no banco, tivemos de nos desenrascar com Diogo Dalot, José Fonte e Danilo. E, infelizmente, estes viram-se atrapalhados demasiadas vezes para o nosso gosto – sobretudo quando o fulgor atacante começou a diminuir. Na primeira parte isso não teve consequências. O pior foi mais tarde.
Ao intervalo eu estava satisfeita, com esperanças de que Portugal fosse capaz de gerir a vantagem. Mas também me recordei do que aconteceu no jogo com a Sérvia há um ano: não conseguimos segurar uma vantagem de dois golos e estamos a pagar por isso nestes play-offs. Não podíamos cometer os mesmos erros de novo.
Infelizmente cometemos. A coisa não podia ficar demasiado tranquila, qual seria a piada? A reentrada em jogo nem sequer foi má, com três oportunidades em dez minutos. No entanto, aos sessenta e cinco minutos, o turco Cengiz Ünder passa a bola entre Moutinho e Danilo para Burak Yilmaz, que não perdoou. Vinte minutos depois, José Fonte fez falta para penálti.
Estávamos todos a pensar no mesmo: à boa maneira de Fernando Santos íamos resvalar para o empate, mesmo contra a corrente do jogo. Eu não queria de todo ir a prolongamento – um desgaste emocional para mim, um desgaste físico para os jogadores. E também emocional. Sobretudo se tivéssemos de ir a penáltis.
Assim, quando Yilmaz enviou a bola para a VCI, festejámos todos como se fosse um golo. Deem-nos um desconto: lembrem-se do que disse acima sobre meses de sofrimento “low-key” – que ainda não terminou. Os próprios jogadores estavam intranquilos – não devia acontecer, mas não tenho lata para criticá-los.
Diogo Costa diria mais tarde que o falhanço de Yilmaz poderá ter sido influência dele. Sim querido, deve ter sido… Estou a brincar. Deixem-no pensar assim, se isso lhe der uma recordação feliz da sua estreia a titular.
O golo da tranquilidade viria já nos descontos, obra de dois suplentes. Rafael Leão isolou Matheus Nunes que, frente ao guarda-redes, fechou o marcador. Dois luso-brasileiros que até jogam na mesma posição foram responsáveis pelos golos nesta partida.
Mais ou menos ao mesmo tempo que nós consolidávamos a nossa vitória, a Macedónia do Norte marcava um golo à Itália, carimbando a sua passagem à final do play-off. Os macedónios foram mais italianos que os próprios italianos, pois contaram apenas uma mão-cheia de oportunidades, quando a Itália somou umas trinta, todas falhadas. Perante este desfecho, eu soltei algumas gargalhadas algo maníacas. Depois de meses e meses em semi-pânico com a ideia de enfrentarmos os Campeões Europeus com o nível de jogo de 2021, os macedónios despacharam os italianos por nós. Deus Nosso Senhor terá passado os últimos quatro meses a rir-se de mim.
Muito se tem falado sobre a “vaca” de Fernando Santos por estes dias – ele que, ainda por cima, se transformou num meme ao tentar acender um cigarro ainda em campo. Estes lampejos aleatórios de sorte que levam a fenómenos como o penálti falhado por Yilmaz e a vitória da Macedónia. É discutível se Fernando Santos e, por associação, a Equipa das Quinas, tem tido assim tanta sorte, mas pronto.
E, lá está, não vou dizer que não compreendo. Há muita gente por aí que está farta de Fernando Santos, eu mesma me tenho incluído nesse grupo. Depois desta vitória, contudo, estou disposta a dar-lhe o benefício da dúvida. Sim, outra vez mas, que diabo, o homem deu-nos os nossos dois primeiros e únicos títulos!
Por outro lado, ainda nada está ganho. Agora temos de vencer a Macedónia. Como referi no texto anterior, eles venceram os alemães há um ano e, agora, despacharam os italianos. O nosso historial com eles é reduzido – o próprio Bernardo Silva admitiu que ninguém sabe muito bem o que esperar. Por fim, eles não têm nada a perder e vêm motivados.
Por outras palavras, amanhã vou estar tão nervosa como estava na quinta-feira.
Recordo que quero estar no Mundial. Há por aí muita gente quase desejando o fracasso à Equipa das Quinas só para nos podermos livrar de Fernando Santos. Posso compreender e até concordar com críticas ao Selecionador, mas não a este ponto. Nunca torcerei contra a Seleção.
Além disso, como escrevi antes, neste momento as nossas opiniões sobre Fernando Santos são irrelevantes. Se perdermos contra a Macedónia do Norte – três vezes na madeira – haverá imenso tempo para autópsias. Se vencermos, haverá imenso tempo para nos preocuparmos com o futuro imediato da Seleção. Mas, para já, só nos interessa o jogo de amanhã. Que é para ganhar.
No passado dia 1 de setembro, a Seleção Portuguesa de Futebol venceu a sua congénere irlandesa por duas bolas contra uma. Três dias mais tarde, venceu a sua congénere catari por três bolas contra uma. Três dias depois desse jogo, venceu a sua congénere azeri por três bolas sem resposta. O primeiro e o último jogo contaram para a Qualificação para o Mundial 2022. O outro foi apenas um particular.
Esta foi uma jornada tripla estranha, pelo menos para mim. Como tinha referido no texto anterior, estava menos entusiasmada que o costume. O jogo com a Irlanda e o jogo com o Catar não ajudaram nesse sentido. O terceiro foi melhor… mas deixou-me numa posição confusa.
Hei de explicar melhor já a seguir.
Uma coisa de cada vez. Longe de me animar, a exibição dos portugas perante a República da Irlanda apenas piorou o meu estado de espírito. Começando pelo penálti desperdiçado.
Para ser justa, não me surpreendeu que Cristiano Ronaldo tivesse falhado. Primeiro, o penálti demorou imenso tempo a ser validado. A UEFA (ou terá sido a FIFA?) finalmente ganhou juízo e introduziu o vídeo-árbitro nos jogos de Qualificação. No entanto, nestas circunstâncias torna-se contraproducente: a demora aumenta os nervos.
VAR. Sabotando-nos, quer estando lá quer não.
Os irlandeses também não ajudaram, com as suas picardias a Ronaldo durante a espera. Ele que, apesar de quase duas décadas nestas andanças, no que toca a resistência a provocações, é apenas pouco melhor que Sérgio Conceição e os seus filhos.
Aliás, tanto Ronaldo como o irlandês Dara O’Shea podiam ter visto cartões, se o árbitro não estivesse distraído. O primeiro ajustava a bola na marca de grande penalidade, o segundo pontapeou a bola, Ronaldo respondeu com uma palmada leve no braço do outro.
Uma cena saída de um recreio da Primária.
Juntando-se a isto, estava toda a gente a suster a respiração para o “momento histórico” em que Ronaldo quebraria o recorde de Ali Dalei.
É claro que ia correr mal.
O momento histórico acabou por ir para Gavin Bazunu, o guarda-redes irlandês de apenas dezanove anos. O miúdo tinha cinco meses de idade quando Ronaldo subiu aos séniores!
Acho que o penálti falhado afetou os portugueses durante a maior parte do jogo. E como quem não marca sofre, após termos falhado mais um par de tentativas, os irlandeses inauguraram o marcador em cima do intervalo.
Eu tinha vindo para este jogo com pouco entusiasmo e mesmo assim estava a apanhar uma desilusão. Com o devido respeito pelos irlandeses, como é que estávamos a perder com o último classificado do grupo?!
A coisa acabou por se resolver literalmente nos últimos cinco minutos da partida. Com um Ronaldo Ex Machina, como em muitas outras ocasiões. Ambos os golos foram marcados de cabeça. O primeiro teve assistência de Gonçalo Guedes, o segundo de João Mário.
Nesta altura estava demasiado desiludida ainda para celebrar os golos como deve ser. No entanto, já aí reconhecia que as bancadas do Estádio do Algarve merecera aqueles golos. Fora o regresso do público aos jogos da Seleção e este fez-se ouvir durante o jogo todo – mesmo com um jogo medíocre durante oitenta e oito minutos. Seria demasiado ingrato levarem com uma derrota.
Adoro em particular os festejos do segundo golo. Ronaldo tirou a camisola – o que, pelo menos a mim, recordou-me o seu segundo golo com as Quinas, no Euro 2004. Acabaria por ver o amarelo e ser excluído do jogo seguinte, mas acho que ninguém se importou.
Momento engraçado quando os Marmanjos foram para junto do público e um dos stewards foi apanhado nos abraços. Terá mesmo havido contacto entre os jogadores e elementos da audiência, o que não é aconselhável em tempos de pandemia. Mas sinceramente? Não tenho alma para criticar. Estivemos muito tempo sem ir aos jogos, queremos este calor humano.
Além disso, os envolvidos estarão quase de certeza todos vacinados.
Depois do jogo ninguém se calava com o recorde quebrado por Cristiano Ronaldo. Não que não fosse merecido – são cento e onze golos! Acho que não é a primeira vez que escrevi isto aqui no blogue, tanta Ronaldomania às vezes enjoa mas, se formos olhar os factos… ele merece. Ele merece todos os elogios! Veja-se por exemplo esta infografia da SportTV. Vejam-se os recordes que o homem quebrou!
Quer-me parecer que as gerações futuras, que nunca verão Ronaldo jogar, não vão acreditar que ele existiu mesmo.
Dito isto, irritou-me que, entre os louvores a Ronaldo, muitos tivessem esquecido tão depressa que foram os primeiros oitenta e oito minutos do jogo. Sim, os jogadores não deram o jogo como perdido, deram a volta ao resultado, persistência, garra, inconformismo, outras palavras bonitas. No entanto… era o último classificado do grupo! Dar a volta a um resultado desfavorável perante a uma equipa como esta (com o devido respeito pelos irlandeses) não é um grande feito, é uma obrigação.
Acabou por ser mais ou menos como eu previra no texto anterior: exibições fraquinhas, mas suficientes para conseguir os resultados. Não satisfazia, mas sempre era um passo em frente.
Havemos de regressar a isto.
Não tenho muito a dizer sobre o jogo do Catar – em parte porque não lhe prestei grande atenção. Para além da mesma falta de entusiasmo, tinha estado a conduzir durante cerca de duas horas nessa tarde e ficara exausta.
E uma vez mais, o jogo em si não me animou por aí além.
Não que estivesse à espera que o fizesse. Era apenas um particular, com um onze bem diferente do habitual. O Ronaldo já tinha deixado a Seleção e tudo. Ninguém esperava uma festa do futebol.
Em todo o caso, o Catar até entrou no jogo por cima, mas foi Portugal a inaugurar o marcador – com dois golos de seguida! O primeiro foi de André Silva, após assistência de João Mário. O segundo foi mais especial, na minha opinião. Assistência de Gonçalo Guedes (está num bom momento, o Marmanjo) e o estreante Otávio deu um salto à Ronaldo e marcou de cabeça. Fico feliz por ele, que estava tão orgulhoso pela sua Convocatória.
Quando os cataris se viram reduzidos a dez, em cima do intervalo, pensei que teríamos a vida facilitada na segunda parte. Não foi bem assim. Os cataris, aliás, conseguiram reduzir a desvantagem na sequência de um canto, acentuando o problema recorrente dos múltiplos golos sofridos nos últimos tempos. (Para sermos justos, o jogo com a Alemanha terá desequilibrado ligeiramente essa estatística.)
Lá surgiu um penálti a nosso favor e Bruno Fernandes foi chamado a converter. O Marmanjo tinha de aproveitar, coitado – agora que tem Ronaldo como companheiro de clube, não terá muitas oportunidades.
Para este caso, Bruno pode ao menos gabar-se de não ter falhado, ao contrário do Capitão. Mas também, a pressão era bem menor.
Enfim, foi um particular aceitável, ainda que eu desejasse mais golos.
No dia do jogo com o Azerbaijão estava de melhor humor – isto apesar de, de início, parecer que o universo estava a conspirar contra mim. O jogo foi às cinco da tarde. Eu tentei trocar para sair às quatro, mas surgiu um imprevisto e tive de sair às cinco à mesma. Não não, nem isso porque apareceram pessoas em cima das cinco, obrigando-me a sair uns dez minutos depois da hora.
É sempre assim.
O que vale é que eu até gosto de ouvir o relato da rádio de vez em quando. Foi através dele que soube dos golos. O primeiro foi espetacular: uma grande assistência de Bruno Fernandes para Bernardo Silva, que conseguiu enfiar a bola num ângulo dificílimo.
O segundo golo foi menos artístico, mas resultou de uma boa jogada envolvendo João Cancelo, Bruno Fernandes, Diogo Jota, com André Silva a concluir. A cada golo, não resisti a buzinar um bocadinho.
Mais do que os golos até, aquilo que me deixava feliz eram os testemunhos que garantiam que a Seleção não jogava tão bem há muito tempo – desde o jogo com a França em Paris no ano passado, pelo menos. Eu pude vê-lo por mim mesma, quando cheguei finalmente a casa.
Por outro lado, também vi algumas falhas defensivas que podiam ter custado caro. Contei pelo menos duas fífias de Nuno Mendes, mas não digo que ele tenha sido o único a falhar. Valeu-nos o facto de os azeris não terem sido capazes de aproveitar estas oportunidades. Em todo o caso, esta é uma possível explicação para os golos que temos sofrido.
Pelo meio, na segunda parte, Diogo Jota marcou o nosso terceiro golo, de cabeça, após assistência de João Cancelo.
Uma palavra para os adeptos que invadiram o relvado, para tirarem fotografias com Bruno Fernandes. Hoje em dia estes momentos já não aparecem na televisão – por instruções das autoridades do futebol, para não encorajarem estes comportamentos. Pelos vistos a realização deste jogo não recebeu o recado. É sempre bom ver os nossos jogadores – não apenas o Ronaldo – sendo acarinhados.
Foram três golos, podiam ter sido mais. No final do jogo lamentámos não ter ganho por mais, por causa das contas do Apuramento. No entanto, mais tarde naquele dia, a Sérvia empatou com a Irlanda, deixando-nos isolados no primeiro lugar do grupo. A Qualificação continua a correr bem, melhor que as anteriores.
E agora, como bónus, tivemos uma boa exibição. É certo que estamos a falar de azeris, não de italianos, nem mesmo de sérvios. Mas já tínhamos jogado contra o Azerbaijão este ano e foi uma tristeza. De igual modo, tivemos jogos com equipas de nível semelhante ou pouco melhor – Luxemburgo, Irlanda – e jogámos pior.
Neste momento, estou numa posição estranha. Durante o jogo com a Irlanda, antes dos últimos cinco minutos, tive flashbacks do jogo com a Albânia há sete anos (!) e estava já com os lencinhos brancos a postos. Acho mesmo que, se não fosse o Ronaldo Ex-Machina, estaríamos hoje pelo menos a discutir essa possibilidade. Seria um escândalo demasiado grande perdemos perante o último classificado do nosso grupo, pouco tempo após um Europeu que deixou muito a desejar.
Quando o resultado virou, guardei os lencinhos, mas continuava insatisfeita. Pensava que iríamos ficar presos num ciclo vicioso de exibições fracas, de serviços mínimos. Conseguiríamos Qualificações, mas a estas seguir-se-iam participações tristes em fases finais: não suficientemente más para quase toda a gente querer chicotada psicológica, mas claramente aquém daquilo que somos capazes.
No entanto, perante o Azerbaijão ganhámos e jogámos bem. E agora estou com esperança? Afinal de contas, Fernando Santos consegue pôr a equipa a jogar. Porque não podemos jogar sempre assim (ou, vá lá, quase sempre)?
Vocês sabem que não sei o suficiente para opinar sobre estas matérias. Prefiro guiar-me pelo parecer de especialistas. Daquilo que tenho lido e ouvido, temos bons jogadores, mas nem sempre conseguimos encaixá-los uns com os outros. E poderá ser necessário deixar algum génio no banco.
Numa discussão num vídeo de António Tadeia, por exemplo, comentou-se que o melhor onze para a Seleção neste momento será o que jogou perante o Azerbaijão, com Ronaldo no lugar de Diogo Jota. Ou seja, mandaríamos um dos melhores marcadores da Seleção no pós hiato da pandemia para o banco.
E ainda temos de pensar em nomes como Renato Sanches, Pote, João Félix, que também têm de entrar nestas contas. E claro, gerir lesões e momentos de forma, adversários diferentes, etc.
É difícil ser-se Selecionador. Quem diria, hem?
Em todo o caso, acho legítimo darmos o benefício da dúvida a Fernando Santos. Por muitos defeitos que tenhamos a apontar-lhe no passado recente, ele continua a ser o único Selecionador que nos ganhou títulos. A parte boa de os próximos jogos serem de dificuldade média-baixa, e de estarmos isolados no primeiro grupo, é que permitirá a Fernando Santos praticar estas táticas novas. Pelo menos era o que eu faria.
Saio assim deste compromisso da Seleção um pouco mais animada e otimista do que estava no início dele. Uma parte de mim continua receosa de que voltemos às exibições pastosas nos próximos jogos. Mas, lá está, a esperança é a última a morrer e quem sabe? Talvez isto seja um início. Talvez seja agora que aprendamos, finalmente, a usar da melhor forma os trunfos de que dispomos.
Vamos ver. A Seleção reúne-se de novo daqui a algumas semanas. Ainda não sei se escreverei uma crónica pré-jogos: os adversários são o Luxemburgo e o Catar, com quem jogámos recentemente, não devo ter muito a dizer.
Em todo o caso, continuarei a cobrir as aventuras e desventuras da Seleção na página de Facebook deste blogue. Deem uma espreitadela. Para já, como sempre, obrigada pela vossa visita. Voltamos a falar em breve.