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O Meu Clube É a Seleção!

Mulher de muitas paixões, a Seleção Nacional é uma delas.

Especial Aniversário: Top 10 Jogos da Seleção Portuguesa #2

Segunda parte do meu top 10 de jogos da Seleção. Primeira parte aqui.

 

4) Portugal x Dinamarca (2012)

 

 

Este é outro jogo de que estou sempre a falar. Para começar, foi o primeiro jogo em anos que, na minha opinião, esteve ao nível dos grandes jogos da história da Equipa de Todos Nós em termos de epicidade. Foi um dos jogos em que gritei mais vezes ao longo dos noventa minutos. Foi o jogo em que assustei a minha irmã com a minha reação ao golo de Hélder Postiga. Foi o jogo em que nos deixámos empatar, ficando em risco de… bem, aquilo que acabaria por acontecer no Mundial 2014. Foi o jogo em que Silvestre Varela saltou do banco, qual representante do Instituto de Socorro a Náufragos (ainda hoje me faz rir…), e nos salvou a todos a poucos minutos do fim. Foi esse o golo que eu e a minha irmãzinha celebrámos à gritaria durante pelo menos cinco minutos e que a Seleção celebrou atirando-se em peso (jogadores e técnicos incluídos) para cima do Varela. Foi uma montanha-russa de emoções que eu nunca esquecerei.

 

3) Portugal x Holanda (2004)

 

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O pódio deste top é composto exclusivamente por jogos do Euro 2004. Este campeonato foi, até agora, o melhor campeonato futebolístico de que me recordo. Para começar, realizou-se cá em Portugal, o que só de si foi excitante (pena é os envelopes debaixo da mesa e a má gestão dos estádios todos…). Em segundo, o povo uniu-se em torno da Seleção de uma maneira nunca antes vista: as bandeiras nas janelas, os cortejos de adeptos seguindo a Seleção para onde quer que fosse, os festejos nas ruas após as grandes vitórias, a eterna Força da Nelly Furtado, entre muitas outras coisas. No dia da final, eu e a minha família fomos até Alcochete para ver o autocarro passar, no caminho para a Luz. O único protagonista que me lembro ao certo de vislumbrar, quando o autocarro finalmente passou, é o Simão. Talvez tenha visto também o guarda-redes Quim (que é feito dele?). O meu irmão na altura disse que viu Luiz Felipe Scolari.

 

Há uns anos ouvi Manuel José (penso que era ele) dizendo, num qualquer programa de comentário/debate desportivo, que não gostara de todo esse “circo”, que este terá sido a causa da derrota na final. Sinceramente, eu duvido. Aquele “circo” todo não era mais do que uma versão alargada do que acontece nos estádios: milhares de adeptos marcando presença, vestidos a rigor, aplaudindo a sua equipa. Desde quando é que isso é prejudicial? Além do mais, conforme já escrevi antes, o futebol é acima de tudo um entretenimento, um espetáculo, é para ser vivido com paixão.

 

Por isso não, não me arrependo de ter ido a Alcochete ver a Equipa de Todos Nós, tal como nunca me arrependi de nenhuma manifestação de apoio que seja. Foi, aliás, no Euro 2004 que aprendi o que é verdadeiramente ser adepta da Seleção, todos os aspetos do cargo: a euforia e a felicidade das grandes vitórias, o desgosto e a frustração das derrotas. Lições que permanecem até hoje.

 

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Regressando ao top, em terceiro lugar temos o jogo que nos colocou na nossa primeira – e até agora única – final. Lembro-me de ver o golo do Cristiano Ronaldo (o seu segundo pela Turma das Quinas) a partir da televisão da minha cozinha. Não me lembro tão bem de ver o golo do Maniche em direto, mas há dois anos, no programa Heróis do Mundial da RTPN (tristíssima por não termos um programa equivalente para o Europeu), recordei a forma possante, majestosa, como ele corria pelo campo.

 

No livro “Os alegres dias do país triste”, de Afonso de Melo – o mesmo autor d‘“A Pátria Fomos Nós” – vêm algumas palavras de Maniche sobre este golo:

 

 - “Que aconteceu? Estavas possesso?

 

- Olha, o que digo é que foi completamente intencional. E isso nota-se pela forma como inclino o corpo para a frente. A minha vontade era marcar golo, mas também admito que foi mais bonito do que aquilo que eu esperava.

 

- Recebes um passe do Ronaldo.

 

- Ele toca num canto de forma muito rápida e eu chutei com muita força e colocado. Também beneficiei do facto de o Davids ter deixado aquele poste junto ao qual se posicionava nos cantos. Foi aí que a bola entrou.”

 

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Também me recordo do auto-golo do Jorge Andrade – um belo chapéu na baliza errada – e de o Ricardo o consolar com uma palmada leve no rabo (?). Lembro-me de dizer à minha irmãzinha – que na altura tinha seis anos – que aquilo era o Jorge Andrade a levar tau-tau por se ter enganado na baliza.

 

No entanto, a imagem mais marcante daquele jogo foi o abraço entre Rui Costa e Luís Figo, no fim do jogo (não sei se o segundo não estaria a chorar). Afinal, naquele dia, treze anos antes, os dois tinham conquistado o Mundial de sub-20 e, agora, levavam a Seleção A à sua primeira final… e em casa! 

 

2) Portugal x Inglaterra (2004)

 

  

Tal como aconteceria no Mundial 2006, o jogo dos quartos-de-final do Euro 2004 foi o mais emocionante de toda a prova. Para além de eu ter um gosto especial por reviravoltas, por marcadores que oscilam rapidamente entre favoráveis e desfavoráveis, este jogo esteve cheio de momentos inesquecíveis, conforme explicarei a seguir.

 

Lembro-me de ter visto a primeira parte no instituto de línguas que frequentava na altura com um dos meus professores, curiosamente de nacionalidade inglesa. A segunda parte e o prolongamento vi em casa, no quarto do meu irmão. O jogo não começou bem para nós, os ingleses marcaram cedo e o resultado manteve-se assim até mais ou menos aos oitenta minutos. Quando se fala deste jogo, fala-se muito de Ricardo, claro, e mesmo de Rui Costa. Não se fala muito de Hélder Postiga – claro – apesar de ele ter sido fulcral para levar o jogo a prolongamento. Lembro-me da carranca de Luís Figo quando foi obrigado a dar o lugar a Postiga e de, alegadamente, ele ter ido logo para o balneário. Tal atitude daria polémica nos dias que se seguiram. Lembro-me de ouvir Figo dizer “Penso que não cometi nenhum crime” numa Conferência de Imprensa. Lembro-me também de o Selecionador Luiz Felipe Scolari ter dito que Figo estivera no balneário a rezar à Nossa Senhora de Fátima.

 

Por outro lado, quando pesquisei sobre este incidente, na preparação desta entrada, descobri mais esta declaração de Scolari: “[Figo] estava muito participativo e, segundo me contaram, numa jogada do Cristiano Ronaldo, no prolongamento, dizia 'vai miúdo'" Esta imagem derrete-me o coração.

 

  

Regressando a Postiga, tal como disse antes, foi ele quem repôs a igualdade, cabeceando após um centro perfeito de Simão, esticando o tempo de jogo para os cento e vinte minutos. Mais tarde, Postiga destacar-se-ia no jogo por, no desempate por penálties, ter batido o seu à Panenka – se a brincadeira tivesse corrido mal, o jogo poderia ter terminado de maneira diferente e o pobre Hélder seria ainda mais vilanizado do que é hoje. Mais uma vez, no livro “Os alegres dias do país triste”, ele falou da gracinha: “Saiu… Agora, vendo as coisas à distância, não repetia. Foi um ato de loucura, de inconsciência. Ficará para sempre na minha memória. Algo próprio da idade. Era um miúdo! Mas, atenção. Fazia aquilo muitas vezes nos treinos. Não devia era ter feito num momento daquela importância.”

 

Pois não. Segundo o que ouvi no programa Heróis do Mundial, quando foi do jogo com a Inglaterra em 2006, alguém foi dizer ao Hélder, aquando dos penálties:

 

- Postiga, tem juízo, à Panenka não!

 

Mas regressemos a outros heróis deste jogo. Como Rui Costa, que saltara do banco e deu um tiro espetacular, no prolongamento, colocando-nos pela primeira vez à frente no marcador (nunca me vou esquecer da cara de aziado de Sven-Göran Erikson, no banco inglês…). Não durou muito, contudo: cinco minutos mais tarde, Frank Lampard repunha a igualdade.

 

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Chegamos ao Ricardo, claro. Não se fala deste jogo sem falar do Ricardo, do penálti que ele quis defender sem luvas. Sobre este gesto inusitado ele disse, no mesmo livro referido acima: “Já disse várias vezes que foi instintivo. Vi que era Vassel a marcar e ele era o único cuja forma de chutar não tinha estudado em DVD. Pensei que era preciso fazer algo. Olhei para as minhas mãos e pensei: vai ser sem luvas! Mais tarde fui colega dele no Leicester, em Inglaterra (clube que, por sinal, está agora em alta por se terem sagrados campeões ingleses) e ele confessou-me que ficou intrigado. Que até perguntou ao árbitro se eu podia fazer aquilo.”

 

Também me recordo de ver Eusébio, de toalhinha branca no pulso, gritando para o guarda-redes. Durante algum tempo não soube ao certo o que gritara o Pantera Negra. Ouvi várias versões. Assumindo que o livro que temos referido fala verdade, ele gritava:

 

- Não te mexas! Não te mexas!

 

O que quer que tenha sido resultou, pois Ricardo defendeu. Depois desse penálti, quando foi a vez de marcar à Inglaterra, Ricardo quis executar e fê-lo sem hipótese de defesa. Muitas imagens me ficaram na retina desses momentos. O preciso instante em que a bola entra e o resto da Seleção desata a correm em direção ao Ricardo, atirando-se para cima dele. O Eusébio beijando o relvado da sua amada Luz. Ricardo nos braços do Selecionador. Finalmente, Scolari com a bandeira brasileira numa mão, a portuguesa na outra e encostando ambas ao coração, antes de recolher aos balneários.

 

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Eu tinha apenas catorze anos na altura do Euro 2004, na altura destes ou de outros jogos. Era demasiado jovem, demasiado inocente para compreender na totalidade o quão raro, o quão grandioso era o que estava a acontecer, o que a nossa Seleção estava a fazer, a maneira como o povo reagia a estes feitos. Só agora, passados estes anos todos, é que começo a compreender que isto que descrevi acima é a matéria da qual são feitas as lendas.

 

1) Portugal x Espanha (2004)

 

  

Tive alguma dificuldade em escolher os meus dez jogos favoritos e talvez ainda mais em definir a ordem de preferência. No entanto, não tive dúvidas nenhumas relativamente ao primeiro lugar. O Portugal x Espanha do Euro 2004 pode não ser o jogo mais emocionante ou tecnicamente melhor conseguido desta lista, mas é especial por vários motivos. Primeiro, este foi o jogo em que Cristiano Ronaldo se estreou a titular pela Seleção. Segundo, foi o primeiro jogo a que assisti ao vivo, no Estádio de Alvalade, com os meus pais e o meu irmão, algo que me marcou profundamente. Lembro-me da sensação de irrealidade, ao ver com os meus próprios olhos coisas que só via através de um ecrã de televisão – só o facto de não ouvir os comentadores era suficientemente estranho. Lembro-me de, a certa altura, ver pardais pousando no relvado durante o jogo e de ter achado graça na altura: uma coisa tão prosaica como pardais num palco onde lendas estavam sendo escritas!

 

Devo de resto dizer que os nossos amigos espanhóis criaram um ambiente amigavelmente provocador. Ainda antes de entrarmos no estádio, uns espanhóis meteram-se connosco, a propósito da camisola de Figo que o meu irmão vestia. Figo na altura ainda jogava no Real Madrid e os adeptos espanhóis tentaram provocar-nos, dizendo que Figo era espanhol. A minha mãe deu-lhes uma resposta à altura, em espanhol macarrónico.

 

- Figo no es español. Sus pesetas é que son españolas.

 

No estádio, apesar de termos chegado cerca de duas horas antes, conforme aconselhado pelas autoridades, já lá estavam imensos espanhóis, fazendo barulho. Nós, portugas, não íamos deixá-los sem resposta. Acho que chegámos a gritar “E quem não salta é espanhol, olé! Olé!”. Resultado: ainda o jogo não tinha começado e o meu irmão já estava sem voz.

 

Como estávamos mais para o lado da baliza sul, não conseguimos ver o golo de Nuno Gomes (eu pelo menos não me lembro de vê-lo), mas os festejos na bancada foram explosivos. Recordo-me de vislumbrar, por entre os braços erguidos, a Seleção toda abraçando Nuno Gomes (que depois seria rebatizado de Nuno Álvares Pereira Gomes). Os adeptos sentados à nossa frente fizeram questão de se virar para trás para trocar high-fives connosco – algo que tornariam a fazer no fim do jogo, quando a vitória já estava garantida.

 

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Nunca tínhamos ganho à Espanha em jogos oficiais antes daquele encontro e não voltaríamos a ganhar depois deste. No entanto, na minha opinião, mais do que qualquer outro jogo contra nuestros hermanos, aquele era o jogo em que tínhamos de vencer. Aquele era o meu primeiro jogo, era o nosso Europeu! A história não podia terminar na fase de grupos! (já foi suficientemente mau termos deitado tudo a perder na final…)

 

Digo-o com toda a franqueza: se não tivéssemos vencido este jogo, eu não estaria aqui, a escrever neste blogue, não seria a pessoa que sou hoje. Foi com aquela vitória que começou uma devoção que se mantém até hoje. Por ter sido o início da série brilhante neste Europeu, por ter sido o meu primeiro jogo de futebol ao vivo, algo que se tornaria uma das minhas experiências favoritas – mesmo os jogos do Sporting a que a minha irmã me leva. O Portugal x Espanha do Euro 2004 pode não ter sido o jogo mais brilhante ou emocionante, mas foi o início da minha paixão pela Equipa de Todos Nós. Por esse motivo, para mim será sempre o melhor jogo de todos os tempos.

 

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Dá para acreditar que já vamos em oito anos de “O Meu Clube é a Seleção”? A mim custa-me um bocadinho. Na verdade, este blogue acaba por receber menos atenção do que o meu outro blogue, o Álbum de Testamentos. Só inaugurei este último depois do Euro 2012, mas sendo um blogue mais genérico, sem um tema definido, posso escrever nele com mais frequência. Por sua vez, a Seleção joga em intervalos cada vez mais espaçados, pelo que este blogue fica muitas vezes inativo durante meses. Resultado, o Álbum já quase ultrapassa “o Meu Clube é a Seleção” em número de visualizações.

 

Por outro lado, tenho a página do Facebook, que atualizo quase todos os dias, o que sempre compensa a inatividade do blogue. De qualquer forma, agora que vem aí o Euro 2016 e vou deixar o Álbum um bocadinho mais de lado, talvez a tendência se inverta.

 

Conforme refiro de vez em quando aqui no blogue, o tempo passa mas o gozo de escrever sobre a Seleção não diminui. Tal como já referi antes, o futebol é uma história que nunca acaba, tem sempre novas personagens, novos enredos, novas reviravoltas. Eu sou cada vez mais apaixonada pela modalidade em si, já não desdenho assim tanto do futebol de clubes (não são os clubes em si que são corruptos, são as pessoas), mas continuo a não amar equipa nenhuma, só a Seleção. Foi para jogos como os que apresentei nesta lista que criei este blogue: para poder escrever sobre eles, para contribuir para a sua imortalização, para poder falar sobre eles aos meus filhos e netos. Sempre assumi que chegaria a uma altura em que deixaria de ter tempo para este blogue e para a respetiva página de Facebook, mas até agora essa altura ainda não chegou e, em princípio, tão depressa não chegará. Vamos continuar a ter “O Meu Clube é a Seleção!” por muitos anos ainda, com sorte.

 

E agora que já tirámos estas duas entradas para falar do passado, nas próximas falaremos do presente e do futuro mais próximo. Estamos a cinco dias do Anúncio dos Convocados para o Euro 2016!

 

Especial Aniversário: Top 10 Jogos da Seleção Portuguesa #1

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Hoje completo oito anos (!!!) como blogueira graças aqui a "O Meu Clube é a Seleção!". Este ano quis fazer algo para assinalar a data, algo diferente. Resolvi apresentar os meus dez jogos da Seleção preferidos – entre outras coisas, é uma oportunidade para escrever sobre partidas marcantes que ocorreram antes de inaugurar este blogue. Além disso, é mais do que apropriado recordar grandes jogos da Seleção poucos antes de começarmos a preparar um Europeu, para o qual partimos com ambições.

 

Uns alertas rápidos antes de começar: em primeiro lugar, só comecei a ligar a sério ao futebol e à Seleção por volta de 2002. Assim sendo, este top não incluirá jogos do Euro 2000 nem de campeonatos anteriores (quem me dera ter estado cá para ver o Mundial de 66!).

 

Em segundo lugar, como costuma ser a regra neste blogue, este top é muito subjetivo. Não me vou basear tanto em aspetos técnicos, de qualidade propriamente dita do futebol praticado porque, sejamos sinceros, eu não percebo assim tanto dessa vertente. Basear-me-ei antes nos aspetos mais sentimentais, no que significou aquele jogo para mim, aqueles jogos que permaneceram na minha memória em vez de se perderem no meio de dezenas de outros jogos.

 

Por fim, queria avisar para não levarem a posição dos jogos no top 10 demasiado à letra. Em alguns casos, a diferença entre duas posições consequentes é mínima.

 

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Esta lista possui Menções Honrosas. Sem nenhuma ordem em especial, começo por falar dos jogos com Angola, o Irão e o México no Mundial 2006. Na minha opinião, este campeonato valeu sobretudo pela consistência da caminhada, não tanto por jogos individuais particularmente emocionantes, com uma exceção. Daí que não encontrem muitos jogos desse Mundial no top.

 

Refiro, também, o Portugal x Rússia da Qualificação para o Mundial 2006, uma expressiva vitória por 7-1. O intervalo de tempo entre o nosso segundo jogo do Euro 2004 e o nosso antepenúltimo do Mundial 2006 foi uma era dourada para a Seleção Portuguesa.

 

Por outro lado, incluo também o nosso jogo com a Espanha do Euro 2012. Sim, foi uma derrota mas, na minha opinião, foi uma derrota honrada, foi uma das nossas melhores derrotas. O domínio foi quase sempre nosso, fomos a única equipa no Euro 2012 capaz de fazer frente à Espanha. Oficialmente, era a meia-final, mas teve mais de final que o jogo com a Itália, poucos dias depois. Infelizmente abordámos mal os penálties.

 

Por fim, queria incluir o Portugal x Sérvia do ano passado – só porque foi o primeiro jogo da Seleção em muito tempo a que assisti… em que a Seleção ganhou.

 

Como tenho muito a dizer sobre estes jogos, este top virá dividido em duas entradas. Esta é a primeira parte, a segunda parte virá mais tarde, ainda hoje em princípio.

 

Sem mais delongas, comecemos com o número 10.

 

10) Portugal x Espanha (novembro de 2010)

 

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Mesmo sendo um jogo particular, não é todos os dias que se goleia a corrente campeã europeia e mundial. Muito menos apenas dois meses – mais coisa menos coisa – após uma crise e uma troca de treinadores. Não contou para muito, teria trocado de bom grado esta vitória por uma nos oitavos-de-final do Mundial 2010 ou, sobretudo, nas meias-finais do Euro 2012 No entanto, na altura em que ocorreu, esta vitória foi importante para levantar um pouco mais a moral, quando o Mundial 2010 e o caso Queiroz ainda estavam frescos na memória e quando a Qualificação para o Euro 2012 ainda ia a meio. Considero que este foi um dos primeiros sinais a indiciar que esse Europeu nos traria alegrias.

 

9) Suécia x Portugal (novembro de 2013)

 

 

Este é o jogo mais recente deste top. A segunda mão do playoff de acesso ao Mundial 2014 marcou, não apenas pela vitória em si, mas também pelas circunstâncias. Como poderão ler aqui, este encontro realizou-se no aniversário da minha irmã, daí ter ganho um significado especial para nós (ainda hoje, quando vemos resumos do jogo, durante as celebrações dos três golos portugueses, a minha irmã diz algo como: “Se prestarem atenção, hão de ouvir o Ronaldo a gritar: ‘Parabéns, Mafalda!’”). Foi também uma vitória que fez muita gente fazer figura de parva: começando por Joseph Blatter, que poucas semanas antes protagonizara o triste episódio do Comandante e do bom menino; passando por vários adeptos suecos, que usaram vários truques sujos para nos destabilizar, sobretudo Ronaldo (tocando músicas provocatórias na chegada dos portugueses, fazendo barulho junto ao hotel onde estes estavam alojados…); terminando na triste campanha da Pepsi sueca. Dá um gozo especial quando conseguimos rir por último (mais sobre isso adiante). Por fim, referir também o épico relato do Nuno Matos, acima, o “És o melhor do Mundo, ca*****!” e o vídeo de agradecimento que a Seleção filmou.

 

Na verdade, este jogo só não está numa posição mais cimeira nesta tabela porque foi demasiado um one-man show, foi mais uma vitória de Ronaldo do que do resto da Seleção. A equipa chegou a atrapalhar mais do que a ajudar – essa Ronaldo-dependência virar-se-ia contra nós de maneira trágica uns meses mais tarde, no Brasil (e nestas últimas semanas, em que Ronaldo se tem debateu com uma lesão, tive medo que o mesmo se repetisse em França). De qualquer forma, o fraco desempenho da Seleção no Mundial 2014 não estragou as minhas recordações dos playoffs. Quando mais não seja porque deixou-nos viver na ilusão durante mais uns meses.

 

8) Portugal x Dinamarca (outubro de 2010)

 

 

Estou sempre a falar deste jogo, não vos vou maçar mais repetindo o que já escrevi inúmeras vezes aqui no blogue e na página do Facebook. Deixo o link para a análise a esse jogo e digo apenas que, na minha opinião, foi aqui que começou o ciclo que culminaria com as meias-finais do Euro 2012.

 

7) Portugal x Bósnia (novembro de 2011)

 

 

A segunda mão dos playoffs do Euro 2012 foi outro jogo emocionante. Não foi muito diferente do que seria o segundo jogo com a Suécia, em 2013, mas foi melhor – porque não foi apenas Ronaldo a brilhar (ele marcou dois golos, calando adeptos bósnios gritando por Messi), foi a equipa toda: Nani enviou uma bomba daquelas, Postiga marcou duas vezes, Miguel Veloso marcou de livre. Tal como aconteceria daí a dois anos em menor escala, esta foi uma vitória contra uma série de fatores empenhados em deitar-nos abaixo: um ex-selecionador que aproveitara o nosso único deslize em um ano para mandar farpas (acho que nunca perdoarei Queiroz…); a própria UEFA que nos obrigou a disputar a primeira mão num batatal, ignorando os nossos pedidos para trocar de campo (apesar de a seleção francesa ter conseguido essa troca, cerca de um mês antes); os responsáveis bósnios que regaram a relva antes do jogo, ignorando também os nossos pedidos, o que piorou ainda mais o estado do campo; os lasers que adeptos bósnios apontaram à cara de Ronaldo, entre outras coisas. Um jogo épico que teve o sabor de uma final, em que até houve hino no fim do jogo e tudo, que indiciou a boa campanha que a Seleção realizaria poucos meses mais tarde, no Euro 2012.

 

6) Portugal x Holanda (2012)

 

 

O Euro 2012 e as semanas antes foram um dos melhores períodos da minha vida. Como adepta da Seleção foi um ponto alto pois, para além de ter sido chamada à televisão a propósito deste blogue, pela primeira vez desde que inaugurara aqui o estaminé, a Equipa de Todos Nós estava a fazer um campeonato, não digo ao nível dos de 2004 ou 2006, mas lá perto. Pela primeira vez, escrevia no blogue sobre um campeonato de seleções que valia a pena ser recordado. Naturalmente, tinha de incluir jogos do Euro 2012 nesta lista.

 

Este foi o jogo que pôs fim a meses de dúvidas e nervosismo. Desde que o sorteio da fase de grupos do Euro 2012 nos colocara no chamado Grupo da Morte, todos sabíamos que seria muito difícil chegarmos aos quartos-de-final da prova. Do mesmo modo, sabíamos que, se passássemos o grupo, seríamos automaticamente candidatos ao título. Esta vitória trouxe um grande alívio, uma grande alegria, surpreendeu os mais céticos. Tendo em conta que, dois anos volvidos, não passaríamos o grupo do Mundial 2014, hoje valorizo ainda mais essa vitória. Recordo-me em particular de eu e a minha irmã fazermos um duplo high-five enquanto gritávamos: “PASSÁMOS A FASE DE GRUPOS!!”.

 

Falando do jogo em si, a Seleção fez uma exibição excelente, tirando o golo sofrido no início do jogo. A maior estrela foi Ronaldo, ao apontar dois golos – que dedicou ao filho, que fazia dois anos no dia do jogo – mas, lá está, não deixou de ser um triunfo de equipa. Ficou claro que os próprios Marmanjos sentiram esta vitória – Miguel Veloso tinha lágrimas nos olhos na flash-interview e, mais tarde, a equipa passou a noite a cantar.

 

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Paulo Bento foi algo agressivo na Conferência de Imprensa que se seguiu e os jogadores recusaram as flash-interviews fora do campo. Até compreendo o ponto de vista deles, já que a Imprensa não andava a ser meiga. No entanto, hoje não acho que a acusação de Paulo Bento – de que alguns dos jornalistas estariam a torcer contra Portugal – tenha tido fundamento. Existem muitos críticos da Seleção, muitos céticos, alguns clubistas aziados, mas se houve coisa que aprendi com o Euro 2012 foi que, nas grandes vitórias da Seleção, como esta, não existe alma nenhuma que não fique feliz (tirando Pinto da Costa e mesmo assim). Há muita hipocrisia nessa alegria, é certo, muito aproveitamento, mas foi uma das coisas que mais feliz me fez durante esse Europeu: ter toda a gente a falar sobre as vitórias da nossa Seleção. Foi verdadeiramente a Equipa de Todos Nós.

 

No entanto, estando eu sempre aqui, no melhor e no pior, estas vitórias são mais minhas que de muitos por aí, reservo-me esse direito. O mesmo tornará a acontecer quando a Seleção voltar a ter triunfos como este – que estes aconteçam já no próximo mês.

 

5) Portugal x Inglaterra (2006)

 

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Portugal tem um particular com a Inglaterra marcado para o próximo mês. Vai ser no mínimo interessante reencontrar os nossos amigos ingleses dez anos depois, quando os últimos três jogos disputados foram tão… interessantes, cada um à sua maneira.

 

Conforme referi acima, não considero os jogos individuais do Mundial 2006 assim tão memoráveis. O jogo dos quartos com a Inglaterra é a única exceção e isto, mesmo assim, deve-se quase exclusivamente à parte final. Antes de nos focarmos no jogo em si, contudo, quero falar das circunstâncias em que este ocorreu. Nos dias que antecederam e nos que se seguiram ao jogo, a Imprensa inglesa esteve de armas apontadas à nossa Seleção. Antes do jogo, o motivo era, obviamente, destabilizar-nos (algo em que falharam redondamente pois quem esteve de cabeça perdida naquele jogo foram os ingleses). Não resisto a referir um episódio, descrito no livro “A Pátria Fomos Nós”. Consta que, numa conferência de Imprensa em que os jornalistas ingleses foram criticados pela sua campanha contra a Seleção Portuguesa, alguém perguntou a Pedro Pauleta:

 

- Afinal de contas, de quem é que vocês têm mais medo? Da Seleção inglesa ou dos jornalistas ingleses?

 

Eis a resposta do ponta-de-lança:

 

- Ao fazer uma pergunta dessas, vê-se que não conhece a História de Portugal. Se conhecesse, saberia que os portugueses nunca têm medo de nada. Foi sem medo que chegámos a todos os lugares do Mundo. Somos um país pequeno e respeitamos toda a gente. E exigimos respeito por nós. Só isso.

 

Se eu tivesse estado lá neste momento, teria aplaudido. Grande Pauleta!

 

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Infelizmente, a campanha dos ingleses nos dias que se seguiram ao jogo foi muito mais feia e… duradora. Tudo porque, se bem se recordam, os ingleses culparam Cristiano Ronaldo pela expulsão de Wayne Rooney. Ainda hoje se fala deste episódio – aposto que vão voltar a falar dele aquando do próximo jogo, no mês que vem. Os ingleses, ao que parece, não repararam que Rooney pisara, deliberadamente, Ricardo Carvalho nos… bem, numa zona sensível. A meu ver, era uma expulsão legítima. O “crime” de Ronaldo foi pressionar o árbitro a favor da expulsão (como se ele fosse o primeiro jogador de futebol a fazer uma coisa dessas…). Pelo meio, uma câmara apanhou Ronaldo a piscar o olho ao banco português, algo que os ingleses associaram ao lance.

 

Dizer que Ronaldo foi mal recebido quando regressou ao Manchester United depois do Mundial é eufemismo. Eu, na altura, defendi a sua saída do clube, a transferência para o Real Madrid ou para qualquer outra equipa, fora de Inglaterra. No entanto, Ronaldo ficou (consta que Sir Alex Ferguson interveio pessoalmente na questão, como forma de manter o jogador) e fez uma das suas melhores épocas em Inglaterra, ganhando ainda mais o meu respeito. Toda esta história é capaz de ter sido um dos primeiros exemplos da frase que lhe é atribuída: “Your love makes me strong, your hate makes me unstoppable”.

 

Regressemos aos quartos-de-final do Mundial 2006. Conforme referi acima, os 120 minutos de jogo não foram particularmente memoráveis, tirando a expulsão de Rooney. Este jogo é recordado pelos penálties, pelas três defesas de Ricardo – algo inédito em Mundiais. Ricardo desvalorizou o seu próprio mérito, na altura. “Eles estavam mortos”, terá ele dito, segundo o livro “A Pátria Fomos Nós”, mais uma vez. “Eu via nos olhos deles. Não tinham confiança nenhuma”. Uma boa prova disso foi aquele inglês, que chutou antes de o árbitro apitar. De qualquer forma, a postura gélida de Ricardo, na baliza, não terá de todo deixado os ingleses menos nervosos.

 

Vou deixar a narrativa dos penálties para o grande Nuno Matos. Ainda hoje, passados todos estes anos, depois de ter visto este vídeo inúmeras vezes, não consigo deixar de rir com a maneira como ele e Alexandre Afonso (penso que é ele…) transmitem a montanha-russa de emoções que foi este desempate.

  

 

Queria chamar a atenção, por fim, para o penálti decisivo, marcado por Cristiano Ronaldo (penálti esse que agravou ainda mais a azia inglesa). Como poderão ver no vídeo acima, antes de rematar, o (na altura) jovem fez questão de beijar a bola. Depois de executar o penálti, fica a sensação que ele demorou uns segundos a perceber que o seu penálti decidira o jogo. Nessa altura, no meio dos festejos, apontou para o céu e gritou:

 

- Estou aí!

 

Só prova que Cristiano Ronaldo sempre teve uma queda para os grandes momentos.

 

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Por fim, dizer apenas que, aquando deste jogo, eu e a minha família estávamos a passar férias no Algarve. Sendo verão, aquilo estava, naturalmente, cheio de turistas ingleses. Vimos o jogo sozinhos, mas depois fomos todos festejar para a rua principal. Tirámos fotografias e tudo, como podem ver acima (a da esquerda sou eu, a da direita é a minha irmãzinha). Foram dos melhores festejos de uma vitória da Seleção de que me recordo (tirando um ou outro do Euro 2004). Não era para menos, foi a primeira vez que via a Seleção chegar tão longe num Mundial. Que não seja a última…

 

Segunda parte do top aqui.

O último passo

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Na passada quinta-feira, dia 8 de outubro, a Seleção Portugues de Futebol venceu a sua congénere dinamarquesa, uma vez mais por uma boa sem resposta, em jogo a contar para a Qualificação para o Campeonato Europeu da modalidade. Esta vitória garantiu a Portugal o Apuramento direto para o Euro 2016 - o primeiro Apuramento direto desde 2007 e o primeiro Apuramento prematuro desde 2005. Dois dias mais tarde, a Seleção Portuguesa deslocou-se a Belgrado para defrontar a sua congénere sérvia, em jogo também a contar para a Qualificação, mas cujo propósito essencial foi cumprir calendário. Tal jogo terminou com uma vitória para a equipa visitante por duas bolas a uma.

 

Não vou falar muito dos jogos em si porque muitos aspetos, por esta altura, são repetições de outros jogos neste último ano. Começando pelo desafio contra a Dinamarca, Portugal esteve sempre muito pragmático, defendendo bem, arriscando só o essencial para, eventualmente, marcar um golo. Isto não é mau, funciona, garantiu-nos a Qualificação. Mas é aborrecido. Durante a primeira parte, os dinamarqueses estacionaram o autocarro em frente à sua baliza - como se o empate fosse um bom resultado para eles - de tal forma que o único remate de verdadeiro perigo que tivemos ocorreu aos trinta e oito minutos, quando Nani atirou à barra.

 

Na segunda parte, os dinamarqueses reentraram mais fortes no jogo, culminando numa bola enviada ao poste por Bendtner (esse tipo...), mas abriram as suas linhas e, ao fim de alguns minutos, Portugal estava de novo por cima. Fomos capazes de arriscar alguns remates - como o costume, falhámos algumas oportunidades flagrantes. Finalmente, João Moutinho - que se tornaria o herói desta dupla jornada - recebeu um passe infeliz de um dinamarquês, afastou dois adversários do caminho com um par de toques de classe e rematou certeiro para as redes.

 

É um pormenor engraçado que, perante uma equipa nórdica, de jogadores muito altos, tenha sido um "baixinho" a marcar.

 

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Este golo resolveu o jogo em termos práticos. Portugal não voltou a perder o domínio do jogo. Só nos últimos dez minutos é que os dinamarqueses tentaram mais a sua sorte, mas Rui Patrício - outro dos destaques desta dupla jornada - estava atento. No fim, conseguimos o ponto que nos faltava para a Qualificação, mais dois extra. Há um ano demos o primeiro passo para o Apuramento frente à Dinamarca. Este ano demos o último também frente à Dinamarca.

 

João Moutinho foi também herói no jogo com a Sérva, apesar de só ter entrado a meio da segunda parte. Só acompanhei a primeira parte desse jogo via rádio e nem consegui prestar muita atenção. Por uma vez, não tivemos de esperar muito tempo pelo golo. Nem cinco minutos. Nani marcou na recarga de um remate de Danny à figura do guarda-redes, depois de o jogador do Zenit ter deixado dois sérvios pelo caminho. 

 

Fiquei muito satisfeita por, depois de um ano meio apagado na Seleção, Nani ter voltado a marcar com a Camisola das Quinas. Ele sempre foi um dos meus favoritos, mas até eu começava a questionar a sua constante titularidade pela Seleção. Dá gosto estar errada nesse aspeto. Que não tenha sido uma vez sem exemplo, contudo!

 

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Se, ao que consta, durante a primeira parte Portugal conseguiu aguentar-se em bloco baixo, na segunda parte a pressão sérvia começou a fazer estragos na defesa portuguesa. Uma série de remates falhados e um golo anulado por fora-de-jogo deixaram claro que o golo sérvio não tardaria. E aos 66 minutos o barro, finalmente, colou.

 

Aí Fernando Santos percebeu que, daquela forma, não se ia a lado nenhum. Meteu o herói do jogo anterior, Moutinho Este deu uma de Ricardo Quaresma e, menos de dez minutos após a sua entrada, desbloqueou o nosso jogo com um golo espetacular.

 

E ainda dizem que a Seleção é Ronaldo-mais-dez... Nesta jornada dupla fomos mais Moutinho-mais-dez! Bem, não, que o Rui Patrício também nos livrou de uma série de golos sofridos.

 

O jogo ficou, ainda, marcado por uns momentos menos bonitos por parte dos sérvios, por acharem que Eliseu faz falta na jogada que culmina no golo (são capazes de ter razão...). Matic chegou mesmo a ser expulso. Não sei se justificava tanta agressividade num encontro em que tão pouco estava em jogo - sobretudo para os sérvios.

 

Em todo o caso, conseguimos aguentar a vitória naquele que foi o nosso último jogo da Qualificação para o Euro 2016. Foi a nossa sétima vitória seguida em jogos oficiais - um feito inédito no futebol português.

 

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Podem dizer o que quiserem, por esta altura. Podem dizer que, afinal, o Apuramento foi fácil, que era um grupo simpático, que o próprio esquema da Qualificação diminuiu a dificuldade, que não jogámos assim tão bem, que tivemos sorte. No entanto, sete vitórias seguidas não se desprezam em nenhuma competição. Podemos ter sido felizes em certos momentos, mas ninguém ganha sete jogos seguidos apenas com sorte. Mesmo se excluirmos os critérios mais permissivos desta Qualificação, continuam a ser sete vitórias em oito jogos, uma taxa de 87,5% de vitórias, o nosso melhor resultado de sempre em Apuramentos!

 

 

 Não me venham dizer que isto foi apenas sorte.

 

Eu, pelo menos, não esperava uma Qualificação assim, quase imaculada, há pouco mais de um ano, quando esta começou - no rescaldo do desastroso Mundial 2014, e sobretudo depois do começo em falso com a Albânia. Nessa altura, eu só pedia que fizéssemos o melhor possível com aquilo que tivéssemos. Não me queixaria muito enquanto ganhássemos os jogos. E a verdade é que foi assim - de vitória à rasca em vitória à rasca, três pontos de cada vez, que conseguimos um Apuramento quase perfeito. À semelhança do que Paulo Bento fez em 2010, Fernando Santos recuperou a Seleção, ainda que de uma forma diferente, quase sem darmos por isso.

 

Já que refiro Paulo Bento, quero fazer um desabafo à parte. Alguns dos elogios a Fernando Santos - incluindo alguns verbalizados por Cristiano Ronaldo - têm sido interpretados como indiretas ao antigo Selecionador. Por um lado é normal, aconteceu o mesmo durante os primeiros anos do mandato de Paulo Bento em relação a Carlos Queiroz. Já na altura me senti culpada, quando o Professor não fez nem metade do que o seu sucessor fez pela Seleção e reagiu com muito menos dignidade à troca de Selecionadores. Em ambos os casos os selecionadores demissionários foram diabolizados pela opinião pública, mas as críticas que têm sido feitas a Paulo Bento há muito que deixaram de ser justas. As pessoas esqueceram-se depressa do Euro 2012. 

 

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Dito isto, eu concordei com a saída de Paulo Bento, apesar de ter ficado triste. Acho até que ele devia ter sido mais cedo, logo a seguir ao Mundial 2014. Começo a perceber, aliás, que isto faz parte. A partir de certa altura, todos os Selecionadores acusam o desgaste e, quando isso acontece, rescindir pode ser a única solução. Aconteceu com Scolari, aconteceu com Queiroz, aconteceu com Paulo Bento. Também vai acontecer com Fernando Santos daqui a um ano, dois, três ou cinco. E também nessa altura as pessoas se esquecerão de tudo o que Fernando Santos fez, incluindo este Apuramento, preferindo fazer dele o engenheiro vilão. Por isso, não se comovam demasiado com os elogios que andam a fazer a Fernando Santos. Um dia, serão esquecidos.

 

Espero que esse dia venha longe, de qualquer forma. Fechemos esse àparte.

 

Um dos aspetos mais elogiados à Seleção de Fernando Santos tem sido a sua preserverança e maturidade. Agora não precisamos de jogar sempre bem para ganharmos jogos e se, por acaso, nos vemos em situações desfavoráveis - como, por exemplo, em ambos os jogos com a Sérvia - não perdemos a calma e acabamos por dar a volta à situação. Comparem isso com a parvoíce que reinou na Qualificação para o Mundial 2014 - se tivéssemos sabido jogar com mais sobriedade com a Irlanda do Norte, Israel (das duas vezes), talvez mesmo com a Rússia, teríamos poupado imensos anos de vida. E talvez tivéssemos evitado o massacre da Alemanha.

 

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Esta maturidade da Seleção Nacional é o que tem feito com que menos pessoas se riam de Fernando Santos quando ele diz que quer ser campeão europeu. Eu não quero ainda fazer prognósticos sobre o Europeu - não antes do sorteio, pelo menos - mas, tal como já fui dando a entender, no meu modesto ponto de vista, este pragmatismo será importante em jogos de grande calibre. Não acredito que seja suficiente - frente à França não o foi - mas definitivamente terá de ser um alicerce.

 

E poderá existir material para construirmos uma boa equipa para o Europeu. Temos uma nova geração de jogadores afirmando-se em diferentes clubes portugueses e internacionais e uns quantos veteranos, com óbvio destaque para Cristiano Ronaldo. 

 

Apesar de tudo, apesar de saber bem, por uma vez, termos evitado a calculadora, tenho uma certa pena de não termos playoffs, sobretudo quando as duas últimas edições foram tão emocionantes. Quem não se sente nem um bocadinho assim, que atire a primeira pedra. Também não me sinto particularmente entusiasmada com a perspetiva de oito meses sem jogos oficiais da Seleção. No entanto, os playoffs são sempre um risco. Se insistíssemos em brincar com o fogo em todos os Apuramentos, ainda nos queimávamos. 

 

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O que, neste momento, interessa é que estamos lá. Não falhamos uma fase final há quase dezoito anos, por muito que, por vezes, tentemos - tal como li no Twitter. Agora temos oito meses para nos prepararmos para o Europeu. Espero que a Federação não se demore a marcar e a anunciar uns quantos jogos particulares. Que sejam vários pois precisamos de treinar e... quero ter algo sobre que escrever aqui no blogue!

 

Enfim, mais um capítulo encerrado. A história a sério continua em maio.

Vai ser desta!

03.jpgNa próxima quinta-feira, dia 8 de outubro, a Seleção Portuguesa de Futebol receberá a sua congénere dinamarquena no Estádio Municipal de Braga. Três dias depois, deslocar-se-á a Belgrado, na Sérvia, para defrontar a seleção local. Estes serão os últimos encontros da Equipa de Todos Nós na Qualificação para o Campeonato Europeu da modalidade, que se realizará no próximo verão, em França. Basta a Portugal amealhar um ponto para garantir um lugar no Euro 2016.

 

Fernando Santos divulgou os Convocados para esta última dupla jornada na última sexta-feira, sem surpresas de maior. Temos vários regressos, alguns dos quais após ausência prolongada, como Luís Neto e Rafa. As grandes novidades são as estreias de Ventura, guarda-redes do Belenenses, e Nélson Semedo, do Benfica. Destacaria também a Chamada de André André, que tem atravessado um momento muito bom no F.C. Porto. Tenho, contudo, uma certa pena que Gonçalo Guedes e Rúben Neves tenham falhado esta Convocatória - suponho que ainda sejam novinhos para estas andanças.

 

Mais do que tudo, sinto-me satisfeita por os três clubes grandes terem contribuído de forma equitativa para esta Convocatória e ainda sobrarem jogadores selecionáveis em cada um deles. Há uns quatro ou cinco anos, isso dificilmente aconteceria.

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Visto que os últimos jogos decorreram há relativamente pouco tempo, ainda nos recordamos bem do ponto da situação. Conhecemos muito bem o adversário do primeiro jogo - tal como referi há um ano, tem sido o adversário que mais vezes temos enfrentado nos últimos anos, sempre em jogos complicados, de uma maneira ou de outra. Nesse aspeto, o jogo de quinta-feira será, provavelmente, aquele que abordaremos com maior tranquilidade desde 2007.

 

E daí talvez não. Os dinamarqueses têm muito mais a perder do que nós neste jogo: será o último deles na Qualificação e estão numa posição menos favorável para garantir o Apuramento direto. Precisam de ganhar. E, apesar de estarem pior agora que há uns anos, têm um historial de, como eu gosto de dizer, nos complicar a vida à grande e à dinamarquesa - nomeadamente há quatro anos, em que estávamos a um ponto do Apuramento direto e deixámo-lo escapar.

 

Fernando Santos parece ter noção disso. "Nós só temos um objetivo em cada jogo, que é vencer. É com esse objetivo que vamos e, se alcançarmos esse resultado, garantimos o Apuramento (...). Para a Dinamarca é uma final, porque é o seu último jogo, mas nós temos de pensar como se fosse também o nosso último jogo." Não adiar as coisas para o jogo com a Sérvia.

 

Não que ache que os sérvios nos vão dar grandes problemas - não mais do que os dinamarqueses, pelo menos. Os sérvios estão fora da corrida no que toca ao Apuramento, com apenas um ponto. Por um lado, não se devem esforçar por aí além. Por outro lado, não terão nada a perder. Equipas assim podem ser perigosas, sobretudo quando a outra parte está mais pressionada. Adiar a decisão para domingo - ainda por cima um jogo fora - pode ser arriscado. 

 

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Eu preferia mesmo resolver tudo quinta-feira. Para começar, será um jogo em casa e já está esgotado (sou capaz de apostar que foi graças à campanha de marketing que a Federação começou logo a seguir ao jogo com a Albânia). As trinta mil pessoas que irão assistir ao jogo, que pagaram bilhete, merecem festejar o Apuramento com a Seleção, tal como aconteceu comigo há dez anos, aquando de um jogo com o Liechenstein.

 

Depois, existem razões mais poéticas. Foi com a Dinamarca que recuperámos a esperança depois de um mau arranque do Apuramento, que começámos a série de vitórias que nos colocou onde estamos hoje. Seria perfeito selarmos a Qualificação frente ao mesmo adversário. Além de que, na quinta-feira, completar-se-ão cinco anos desde um outro jogo com a Dinamarca muito especial para mim: o primeiro de Paulo Bento como treinador, uma das noites mais felizes da Seleção de que me recordo. Seria perfeito se, cinco anos depois, voltássemos a ter uma noite feliz - por nos Qualificarmos antes da altura habitual pela primeira vez em dez anos (não conto a Qualificação para o Euro 2008, pois esta não teve playoffs). 

 

Conforme já tinha escrito antes, estou muito confiante num Apuramento direto, mais confiante do que costumo estar no que toca à Seleção. Acho que vai ser desta que escapamos à inevitabilidade dos playoffs. Ando ansiosa por esse último passo - uma parte de mim quer já pensar na preparação para o Euro 2016, nos eventuais particulares em novembro. Mesmo assim, não me atrevo a pensar nisso antes de a Qualificação estar matematicamente garantida.

 

 

Antes de terminar, quero só avisar que, visto só termos dois dias de intervalo entre os dois próximos jogos - e, se tudo correr bem na quinta-feira, o segundo só servirá para cumprir calendário - é possível que condense a análise aos dois jogos numa única entrada. Logo se vê. O que espero é que, quando voltar a escrever neste blogue, serja para celebrar o nosso primeiro Apuramento direto desde 2007.

Seleção 2014

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Mais um ano perto de terminar, mais um ano perto de começar. Ganhei o hábito de, por esta altura, recordar aqui no blogue o que aconteceu com a Seleção ao longo dos últimos doze meses, olhar para estes acontecimentos de novo, como quem volta a ler um livro depois de saber como acaba. 

 

2014 foi um ano estranho para a Seleção. Teve altos e baixos, como todos os anos, mas também teve muitas coisas incompreensíveis. Por outro lado, foi um ano em que senti a história repetindo-se: 2002, com o fracasso no Mundial; 2010, com as confusões na Federação, a sua incapacidade de lidar com o rescaldo do Mundial e de gerir os selecionadores. 2014 foi também um ano em que senti que, quanto mais as coisas mudam, mais elas ficam na mesma.

 

Comecemos pelo princípio. 2014 arrancou de forma agridoce, emotiva, para o futebol português, tanto devio à morte de Eusébio como à Bola de Ouro de Cristiano Ronaldo. O primeiro jogo da Seleção, contudo, só ocorreu em março. Pouco antes, realizou-se o sorteio da Qualificação para o Euro 2016. Independentemente do que tivéssemos pensado na altura, hoje sabemos que nenhum dos nossos adversários é fácil. 

 

 

No dia 5 de março, a Seleção jogou contra a sua congénere camaronesa num jogo de carácter particular que teve lugar no Estádio Magalhães Pessoa, em Leiria. Como o costume, a Convocatória suscitou polémica pela teimosia de Paulo Bento em excluir certos jogadores. Em defesa do nosso antigo técnico, há que dizer que alguns dos nomes mais controversos - Edinho, Rafa, Ivan Cavaleiro - não se saíram mal no jogo com os Camarões. Foi de facto um bom particular, com a Seleçção Portuguesa a vencer por 5 a 1, golos de Cristiano Ronaldo (dois), Raúl Meireles, Fábio Coentrão e Edinho. Não foi mau, tendo em conta que os Camarões também estavam Qualificados para o Mundial, mas como o costume a Comunicação Social só quis saber de Ronaldo, que ultrapassara Pedro Pauleta no número de golos com a Camisola das Quinas. Estou convencida de que esta Ronaldomania, se não foi um dos fatores a contribuir para o fracasso no Mundial, certamente não ajudou a Seleção.

 

Por outro lado, uma das coisas que não compreendo deste ano é como passámos de jogos com exibições, vá lá, boazinhas, como a deste particular e dos outros que antecederam o Mundial, a... o que quer que tenha sido a nossa participação no Campeonato do Mundo.

 

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A Convocatória Final para o Brasil foi revelada no dia 19 de maio mas a polémica começou antes, com as pré-Convocatórias. Não gosto de estar a bater no ceguinho nem acho que nomes diferentes na Lista mudassem significativamente o nosso destino, mas há coisas difíceis de compreender. A principal será, porventura, a exclusão de Ricardo Quaresma. Para ser justa, relembro que Paulo Bento não foi o único técnico a embirrar com Quaresma este ano e o próprio Marmanjo terá a sua quota-parte de culpas na maneira como os treinadores lidam com ele. No entanto, quem perde acaba por ser quem não aposta no mustang. E quando às insinuações de Paulo Bento de que os jogadores que excluía "não tinham perfil para a Seleção"... bem, Quaresma teve perfil suficiente para estar por detrás de todos os nossos golos pós-Mundial. I rest my case.

 

Também já por alturas da Convocatória se comentava a duvidosa forma física de mais de metade dos jogadores da Seleção, sendo Cristiano Ronaldo o maior exemplo - mais tarde, descobrir-se-ia que as nossas dúvidas não eram descabidas. Não fomos os únicos a ter lesões importantes - este Mundial foi ridiculamente rico em lesões - mas fomos os mais assolados por este problema. Tivemos um total de cinco elementos incapacitados, num total de quinze condicionados. Como disse a minha irmã, a Seleção esteve em modo In My Remains, dos Linkin Park "Like an army falling, one by one by one". Tanto quanto me lembrava, era a primeira vez que tal acontecia num campeonato desta envergadura e, ainda hoje, não compreendo porquê. Muitos criticaram a decisão pós-Mundial de substituir a equipa médica mas terá sido assim tão descabido? Uma coisa é certa: a histeria em redor da tendinose rotuliana de Cristiano Ronaldo foi um dos aspetos mais irritantes deste Mundial.

 

 

O primeiro particular do estágio do Mundial teve como adversário a Grécia - orientada na altura por Fernando Santos, que ironicamente é agora o nosso Selecionador. Este jogo enquadrava-se nas comemorações do centenário da Federação Portuguesa de Futebol, pelo que teve lugar no Estádio Nacional, no Jamor, uma arena de forte simbolismo para o futebol português. Também foram prestadas homenagens a Eusébio e Mário coluna, falecidos anteriormente este ano. Este jogo ficou marcado pela ausência de habituais titulares, destacando-se Cristiano Ronaldo. Portugal dominou durante praticamente todo o jogo - Nani jogou melhor do que se esperava - mas notaram-se os habituais problemas na finalização. O jogo terminou com o marcador por abrir.

 

Antes de deixar o território nacional, a Seleção Portuguesa foi recebida pelo Presidente da República no Palácio de Belém, receção marcada por selfies e outras atitudes pouco convencionais para uma visita ao Chefe de Estado. Nos dez dias, mais coisa menos coisa, que se seguiram, a Equipa de Todos Nós estagiou nos Estados Unidos - alegadamente para se adaptar ao fuso horário - tendo sido das últimas equipas a chegar ao Brasil. Este foi outro dos aspetos controversos e incompreensíveis deste ano de Seleção: a localização do estágio, o clima. Deveríamos ter ido mais cedo para o Brasil? Deveríamos ter estagiado numa cidade diferente? E se as condições fossem tão agrestes que não conseguíssemos treinar como deve ser?

 

 

Antes do Mundial, contudo, ainda tivemos dois particulares, que não correram muito mal. O jogo com o México teve lugar no Gilette Stadium, em Boston, de madrugada para o fuso horário português. Foi um jogo sem grande história, que poderia ter dado para ambos os lados. A vitória portuguesa pela margem mínima só foi obtida ao cair do pano, cortesia de Bruno Alves. Estes golos, estas vitórias ao último minuto, tornar-se-iam uma tendência deste ano. Esta foi apenas a primeira e, por sinal, a menos empolgante.  

 

 

 

O jogo com a República da Irlanda correu melhor mas também este adversário encontrava-se uns furos abaixo dos dois anteriores. Desta feita, Cristiano Ronaldo jogou mas ele não contribuiu grandemente para a vitória folgada. Hugo Almeida bisou, Fábio Coentrão assistiu para um auto-golo e marcou ele mesmo outro, Vieirinha também marcou o seu, assistido por Nani (que também assistira Coentrão). Portugal contudo ainda sofreu um golo pelo meio, fruto de uma distração coletiva aquando de um livre.

 

Por esta altura, eu sentia-me bastante otimista relativamente ao início da participação portuguesa no Mundial, talvez um pouco para lá do realista. Hoje tenho vontade de rir e de chorar com a minha ingenuidade - mas em minha defesa, acho que nem os mais pessimistas estavam à espera de um descalabro como aquele. 

 

 

O nosso jogo de estreia no Campeonato do Mundo foi a humilhação do ano... se não tiver sido do século. Foi um jogo em que praticamente tudo o que podia correr mal correu. A história poderia ter corrido de outra maneira se tivéssemos cometido menos asneiras: o penálti oferecido por João Pereira, a "turrinha" de Pepe a Müllero atraso na reorganização da defesa após a expulsão, a equipa toda à beira de um ataque de nervos... com a lesão de Coentrão e Hugo Almeida a ajudar à festa. Parafraseando Afonso de Melo em A Pátria Fomos Nós, num Mundial não há segundas oportunidades - Portugal sentiu-o na pele no Brasil. O descalabro só não foi maior porque os alemães tiveram pena de nós - o que para mim é a pior vergonha. O facto de agora sabermos que não fomos os únicos a ser humilhados pelos alemães neste Mundial é fraco consolo.

 

 

Portugal estava obrigado a ganhar aos Estados Unidos para poder sonhar com a passagem aos oitavos. Nós tentámos. Começámos bem, até marcámos um golo cedo, cortesia de Nani - o único golo que pudémos festejar plenamente neste Mundial. Jogámos melhor que frente à Alemanha, mas os nossos pareciam lesmas - não sei se devido ao clima ou à (falta de) forma física (Postiga saiu lesionado aos treze minutos) ou se de ambos. Portugal não conseguiu ampliar a vantagem, só a segurou até aos sessenta e três minutos, os Estados Unidos chegaram mesmo a passar à frente. Varela voltou a vestir o fato de bombeiro e empatou o jogo ao cair do pano, mas apenas adiou o inevitável. Se quiséssemos continuar no Mundial, teríamos de golear o Gana e esperar que a Alemanha vencesse os Estados Unidos.

 

Eu já não acreditava. Lembro-me em particular do dia que se seguiu ao jogo, um dia cinzento e chuvoso, apesar de em termos cronológicos o verão já ter começado. Este ano não tivemos verão, nem o do Mundial nem o propriamente dito. 

 

 

Em todo o caso, no início do jogo com o Gana, sentia-me irracionalmente entusiasmada, como se aquele fosse apenas mais um jogo da Seleção, como se ainda estivesse tudo em aberto. Ganhámos por 2-1, um auto-golo e um golo de Cristiano Ronaldo para o lado português. Um resultado insuficiente para irmos aos oitavos. O Mundial terminava para os portugueses. 

 

Acredito que nunca saberemos ao certo o que aconteceu, qual ou quais fatores foram decisivos para o descalabro, o que poderia ter sido feito para evitar isto. Se bastaria o João Pereira não ter provocado aquele penálti ou o Pepe não ter sido expulso, de modo a reduzir a expressividade da vitória alemã, se esta não tivesse sido tão destrutiva... Ou se seria necessário um lote diferente de jogadores, um local de estágio diferente, talvez mesmo um local de estágio diferente... Seria importante aprendemos com os erros cometidos neste Mundial, mas já percebo que nós, portugueses, não somos muito dotados nesse capítulo. 

 

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As medidas tomadas pela Federação após o Mundial são um bom exemplo disso. Mudou a equipa médica, deu novos poderes a Paulo Bento, um voto de confiança que deu ares de uma despropositada promoção. Isto pouco antes do arranque da Qualificação para o Euro 2016. Na Convocatória para o primeiro jogo - contra a Albânia, no Estádio de Aveiro - apenas figuravam oito dos que haviam representado (fracamente) o País no Mundial. A maior ausência era a de Ronaldo, por lesão. Era uma lista que não parecia muito convincente, apesar de algumas novidades como Bruma, Vezo, Ricardo Horta e Pedro Tiba, e ainda se notavam os fantasmas do Brasil. Estes terão tido influência no jogo com a Albânia. 

 

 

Os nossos adversários estacionaram o autocarro à frente da baliza, é certo, mas não se pode dizer que os portugueses tivessem feito muito por abrir caminho. O golo albanês resultou de um momento de inspiração que coincidiu com uma distração da nossa defesa. Os portugueses não conseguiram sequer anular a vantagem. No final do jogo viam-se lenços brancos nas bancadas e, de facto, poucos dias depois, Paulo Bento abandonava o cargo de Selecionador. 

 

Demissões de técnicos nunca são processos felizes e esta não foi exceção. Oficialmente, esta terá sido uma rescisão amigável. Na prática, não se percebeu muito bem de quem partiu a ideia da demissão. Eu fiquei com a ideia de que Paulo Bento não saiu de vontade cem por cento livre e esta medida passa, no mínimo, por estranha quando, duas semanas antes, a Federação dava um voto público de confiança ao Selecionador. Apesar de este processo ter sido bem mais civilizado do que o que aconteceu com Carlos Queiroz, a FPF tornou a ficar mal na fotografia ao ter cedido ao pedido de Paulo Bento renovar antes do Mundial e ao não o ter demitido logo após o respetivo descalabro.

 

A Federação demorou algumas semanas a encontrar um substituto. Um dos favoritos foi sempre Fernando Santos: já passara pelos três grandes e tivera um bom desempenho ao leme da seleção grega. No entanto, encontrava-se  - e ainda se encontra - condicionado pelo castigo atribuído pela FIFA por se ter desentendido com um árbitro durante o Mundial. Durante algum tempo, pensou-se que Fernando Santos era uma hipótese descartada, precisamente devido a esse castigo. No entanto, tal conficionante acabou por não ser problema - e, de qualquer forma, com o recurso, o castigo acabaria por ser suspenso - pois, no fim, a Federação contratou-o.

 

 

 

A primeira Convocatória de Fernando Santos caracterizou-se pelo regresso de ausentes prolongados, como Ricardo Carvalho, Tiago, Danny e Ricardo Quaresma. Estes regressos podem ter causado uma controvérsia na altura, mas esses antigos "renegados" têm até ao momento (tirando Danny e, mais tarde, Bosingwa) mostrado-se merecedores da segunda oportunidade, com destaque para Quaresma.

 

 

O primeiro jogo de Fernando Santos foi um particular com a França, uma seleção de quem temos sido fregueses há várias gerações. Isto associado ao facto de ser a estreia de um Selecionador depois de uma série de maus resultados fez com que o resultado final - uma derrota por 2-1 - fosse expectável. Portugal não entrou bem no jogo, com destaque para os primeiros vinte minutos. Os laterais não estiveram bem, sobretudo Eliseu. Os dois golos franceses partiram de distrações da defesa portuguesa - agora vejo que estas distrações foram um pecado frequente este ano - o segundo numa altura em que a Seleção até começava a assumir o comando do jogo. Por fim, Ricardo Quaresma, suplente utilizado, converteu um penálti, fazendo o resultado.

 

 

 

O jogo seguinte, com a Dinamarca, foi a sério. Foi um jogo de paciência - que se tornaria a regra nos jogos seguintes - e de muitos nervos. Por uma vez Portgual até parecia ter a Sorte do seu lado, com um árbitro amigo e uma bola dinamarquesa ao poste, mas permanecia incapaz de converter essa sorte em golos. Foi preciso, de novo, Ricardo Quaresma entrar e assistir para Cristiano Ronaldo salvar o dia - isto no último minuto do jogo, numa altura em que já todos fazíamos contas considerando apenas um ponto. Foi o golo mais dramático do ano. Era a primeira vitória apóso Mundial, a primeira vitória da Qualificação, da era Fernando Santos. Estava dado o primeiro passo. 

 

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Um mês mais tarde, Portugal recebeu a Arménia no Estádio do Algarve. Tornou a ser um jogo de paciência, tornando-se até algo pastoso, mas desta feita não foi necessário esperar até ao último minuto pelo golo. Este foi, mais uma vez, fruto da parceria entre Cristiano Ronaldo e Ricardo Quaresma - embora Nani tivesse dado uma mãozinha nesta. Não chegámos a subir ao primeiro lugar do grupo, mas ficámos em segundo com um jogo a menos. Não está a correr nada mal, por isso.

 

  

Alguns dias mais tarde, a Seleção foi a Old Trafford disputar um jogo de carácter amigável com a sua congénere argentina. Muitos esperavam um grande duelo entre Cristiano Ronaldo e Lionel Messi (que, afinal, não está propriamente de fora da corrida para a Bola de Ouro, ao contrário do que pensava), mas ambas as superestrelas estiveram algo apagadas. Daí o jogo se ter revelado anti-climático, mesmo secante, sobretudo após a substituição das estrelas. Para os portugueses, contudo, teve uma agradável surpresa no último minuto (mais uma vez) com um inesperado golo do miúdo Raphael Guerreiro, assistido por Ricardo Quaresma (mais uma vez). E foi isto o que aconteceu com a Seleção em 2014.

 

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Foi um ano estranho, como procurei demonstrar, com muitas coisas incompreensíveis, com claro destaque para o Mundial. Continuo a achar que podíamos ter-nos saído melhor com uma atitude diferente. Talvez não conseguíssemos ir além dos oitavos-de-final - quartos, se tivéssemos sorte - mas sempre deixaríamos uma melhor imagem, semelhante as deixadas por seleções como a Grécia ou a Argélia. Tenho a tentação de enveredar pelos clichés do "levantar a cabeça" e "seguir em frente", mas, visto que não é a primeira vez que isto acontece, seria importante percebermos o que falhou para que esse erro não se repita. Mas eu sou uma mera adepta, nem sequer percebo por aí além de futebol, não posso fazer nada.

 

Ao menos as coisas começaram a correr melhor na reta final deste ano. Continuamos com os problemas de sempre, mas estes não representam um fardo tão grande. Não jogamos grande coisa (excetuando talvez contra a França) mas vamos ganhando os jogos - quer à Arménia, quer à Argentina - conquistando três pontos de cada vez, descomplicando a Qualificação. A fazer o melhor possível com aquilo que temos, tal como eu desejava no início do Apuramento. Tal como escrevi antes, a curto prazo é suficiente. A médio/longo prazo precisaremos de mais. Mas eu acredito que chegaremos lá - à medida que a Seleção e Fernando Santos se forem habituando uns aos outros e também à medida que jogadores da excelente Seleção Sub-21 (como Raphael Guerreiro) se forem integrando entre os séniores.

 

O problema é que ainda ficam a faltar três meses para o próximo jogo da Turma das Quinas. É muito tempo, muitas semanas em que o Selecionador não tem oportunidade de treinar os jogadores ele mesmo. Muita coisa muda em quatro meses. Se para mim, mera adepta, é frustrante, para Fernando Santos sê-lo-á ainda mais - afinal de contas, esta é a vida dele.

 

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Felizmente, foi anunciada há pouco tempo uma solução para este problema: a Liga das Nações. Ainda não compreendi ao certo em que moldes funcionará esta competição, mas sei que servirá substituir os jogos particulares e para dar maior competitividade ao futebol de seleções. Parece-me uma ideia excelente (qualquer desculpa para termos mais jogos de seleções agradar-me-ia, de resto). Mas, se for bem feita, esta Liga das Nações poderá aumentar o interesse pelos jogos da Equipa de Todos Nós - diminuirão os choradinhos pela pausa no futebol de clubes. Por serem jogos de maior grau de dificuldade e por oferecerem mais oportunidades de contacto entre selecionador e jogadores, a qualidade do futebol de seleções aumentará. E em princícpio não voltaremos a estar quatro meses sem Equipa das Quinas. Toda a gente fica a ganhar.

 

Mas isto só acontecerá daqui a quatro anos. Para já temos 2015. Como sempre, os anos ímpares são menos apelativos para mim por não haver Euro nem Mundial. O meu desejo é que, já que 2014 se pareceu um pouco com 2010, que o próximo ano se pareça com 2011: sem grandes dramas relacionados com a Seleção, só alegrias. Já tivémos drama que chegue nos últimos anos. Que a Seleção continue a crescer e não torne a escorregar no Apuramento. A ver se é desta que nos Qualificamos sem recorrer a play-offs, só para variar. Se isso acontecer, se continuarmos a melhorar, talvez possamos ter uma palavra a dizer durante o Euro 2016. Há muita gente céptica por aí, mas eu tenho fé de que continuaremos a crescer, de que a Seleção ainda tem muito para dar nos próximos anos e não será apenas por termos o Melhor do Mundo, embora isso ajude e muito. 

 

Uma das coisas que, conforme afirmei no início deste texto, vai sofrendo muitas alterações mas que, no fundo, continua na mesma é a minha atitude para com a Seleção. Houve alturas este ano em que quis desistir, deixar de me ralar com as aventuras e desventuras da Turma das Quinas... ou assim pensei. Por muito que fosse dizendo no blogue e página e a mim mesma que já não queria saber - ou pelo menos não tanto como noutras alturas - vinha a Convocatória seguinte, o jogo seguinte, ouvia o hino, às vezes o relato de Nuno Matos, e pronto; sentia-me entusiasmada de novo como se os únicos fracassos não tivessem acontecido. Conforme fui repetindo aqui no blogue e na página, há poucas coisas que me entusiasmem assim. Muito poucas. 

 

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No outro dia, comentava a brincar com a minha irmãzinha sportinguista que o seu adorado clube era como um mau namorado, que não retribui o afeto que lhe é dedicado. Ela respondeu-me que os clubes e respetivos jogadores não são como namorados, são como filhos: não gostamos deles por serem bons, gostamos deles por serem nossos. Isto não difere muito daquilo que escrevi após o Mundial: os jogadores da Seleção são de certa forma da minha família (não digo meus filhos, que vários deles são mais velhos do que eu!): acompanho-os, vejo-os crescer, irrito-me com as asneiras deles, orgulho-me dos seus feitos. E isso não mudará em 2015. 

 

Desejo assim um 2015 muito positivo para o futebol português, para os jogadores portugueses e para a Seleção. E deixo aqui os meus votos de um Feliz Natal a todos os meus leitores, na companhia daqueles de quem mais gostam, e de que tudo vos corra de feição no ano que vem. Termino com um brindezinho de Natal...