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O Meu Clube É a Seleção!

Mulher de muitas paixões, a Seleção Nacional é uma delas.

Alegria e tristeza, saúde e doença

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No passado domingo, dia 11 de outubro, a Seleção Portuguesa de Futebol empatou sem golos contra a sua congénere francesa, em jogo que decorreu no Stade de France, em Paris. Três dias depois, a Seleção venceu a sua congénere sueca por três bolas sem resposta. 

 

Antes de falarmos sobre os jogos, receio que tenhamos de falar sobre o Coronavírus, que pelo menos para mim arruinou esta jornada tripla. Bem, na verdade tem arruinado a vida de toda a gente este ano, de múltiplas maneiras. Este foi apenas mais um exemplo. Isto numa fase em que eu pensava que estávamos preparados, que sabíamos com que contar, que já estaríamos capazes de evitar baldes de água fria. Mas não.

 

Na véspera do jogo com a Suécia, Cristiano Ronaldo acusou positivo no rotineiro teste à Covid. Reagi um bocado mal à notícia – o Ricardo Araújo Pereira deixou-me com as orelhas a arder um bocadinho, no seu monólogo de abertura no domingo passado (Ah, doença cruel! Oh, maleita inclemente!).

 

Não que tenha ficado muito preocupada com a saúde de Ronaldo – ele é jovem, é saudável, aparentemente tem estado assintomático. Na pior das hipóteses, batam na madeira, ele tem dinheiro para pagar tratamentos de luxo, semelhantes aos que o execrável presidente dos Estados Unidos recebeu. Eu até alinhei nas piadas que se fizeram na altura – embora mais na onda de rir para não chorar. 

 

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Vou desde já admitir a minha hipocrisia: isto só se tornou um problema a sério para mim quando foi Cristiano Ronaldo a acusar positivo – não me preocupei tanto quando José Fonte e Anthony Lopes acusaram, dias antes. É inútil negá-lo, Ronaldo tem um mediatismo que nenhum dos outros tem – e provavelmente nunca terão. 

 

Por outro lado, isto aconteceu uma semana depois do início da concentração. Aquilo que mais me afligiu foi o facto de, de repente, quase tudo o que Ronaldo no seio da Seleção, teve de ser questionado, assinalado como possível risco de contágio. A foto que ele tirou com Pepe e Sergio Ramos, depois do jogo com a Espanha, aludindo aos anos em que foram colegas no Real Madrid; o momento com Kylian Mbappé, seu admirador, a troca de camisolas com o jovem Eduardo Camavinga; a fotografia da Seleção à mesa do jantar. Bolas, só o facto de ter treinado e jogado futebol sem máscara.

 

Fernando Santos garante que não foi durante a concentração que Ronaldo contraiu o vírus – mas o Selecionador, com o devido respeito, não é uma autoridade de saúde. De qualquer forma, independentemente do momento em que se contaminou, se Ronaldo deu positivo, é possível que já carregasse o vírus há uns dias, correndo o risco de o ter passado aos colegas. Colegas esses que, depois desta jornada tripla, regressaram aos seus clubes, às suas famílias. Toda uma cadeia de transmissão que pode ter começado na Equipa de Todos Nós.



Como é que acham que eu me senti ao saber que um compromisso da Seleção, uma das coisas que mais alegria traz à minha vida, pode ter servido de foco de infeção? Quase que mais valia a Turma das Quinas ter continuado em hiato. Se os Marmanjos não podiam festejar um golo sem que eu receasse que se estavam a contaminar uns aos outros, para quê?

 

Não culpo os jogadores. Acredito quando dizem que tem cumprido os protocolos todos o melhor que podem. E, que diabo, segundo Fernando Santos fizeram sete testes ao Covid em uma semana (um momento de silêncio pelas suas fossas nasais). Não sei se os protocolos definidos em junho, quando o futebol recomeçou, ainda estão em vigor mas, se estiverem, os jogadores praticamente só saem de casa para os treinos e jogos. Que mais podem fazer?

 

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À hora desta publicação, tanto quanto sei, mais nenhum Marmanjo acusou positivo à Covid 19. Nem nenhum jogador francês, sueco ou espanhol, nem mesmo Mbappé ou Sergio Ramos ou Camavinga. Pode ser que Ronaldo não tenha contaminado ninguém. Não há nada que possamos fazer agora. Mais vale falarmos sobre os jogos.

 

No dia do jogo com a França, cheguei a casa um bocadinho tarde. Quando liguei a televisão, já tinham decorrido os primeiros minutos da partida. Rúben Dias já contava um cartão amarelo, aparentemente após uma cotovelada a Olivier Giroud. O jogador francês ficou a sangrar e tiveram de lhe ligar a cabeça.

 

Havia necessidade disto tão cedo no jogo? Acho que não. Um árbitro mais duro teria mostrado logo o vermelho, o que ia estragar-nos o jogo por completo. Mas tenho de confessar, depois de Dimitri Payet nem sequer ter levado falta quando lesionou o Ronaldo na final de Paris, c’est le karma. O Giroud individualmente não teve culpa, coitado, mas é bem feita para a seleção francesa em geral. 

 

Parece que, em relação aos franceses, vou ser sempre algo mesquinha. O facto de lhes termos roubado o título de Campeões Europeus não foi suficiente. Em minha defesa, os franceses continuam igualmente mesquinhos: vejam-se as notas que a France Football deu aos Marmanjos.

 

Mas estou a desviar-me. 

 

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À parte esse pormenor, foi um jogo muito equilibrado. Caricatamente equilibrado, como se pode ver no meme acima. Na primeira parte, Portugal esteve por cima – muito graças ao excelente trabalho dos nossos médios, sobretudo de William Carvalho e Danilo. William, então, foi uma das estrelas desta jornada tripla.

 

Ainda assim, não dispusemos de muitas oportunidades. Tivemos um lance caricato em que, após um belo passe, Bernardo Silva tentou esticar-se mas acabou por cair com espalhafato. Houve também uma oportunidade de Bruno Fernandes, de Cristiano Ronaldo (boa intervenção de Lucas Hernandez) e pouco mais.

 

Na segunda parte, os franceses entraram mais afoitos. Desta feita, os nossos médios tiveram mais dificuldade em contê-los – em parte por causa do cansaço. O jogo tornou-se mais partido, menos seguro. Ainda assim, mesmo tomando mais as rédeas da partida, os franceses nunca obrigaram Rui Patrício a esmerar-se, tirando um momento ou outro.

 

Por seu lado, Fernando Santos lançou Diogo Jota e Francisco Trincão, a ver se não ficávamos pelo empate. Não resultou, infelizmente. Pepe até conseguiu enfiar a bola na baliza, na sequência de um livre. Ainda festejei, mas o golo foi anulado por fora-de-jogo.

 

O marcador permaneceu por abrir até ao apito final. Tínhamos vindo a dizer, nos dias anteriores, que um empate não seria um mau resultado – e de facto não o foi. Afinal de contas, era uma das melhores seleções do Mundo e um adversário tradicionalmente difícil para nós.

 

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Ao mesmo tempo, empatámos perante uma das melhores seleções do Mundo e um adversário tradicionalmente difícil para nós… e mesmo assim Fernando Santos queria mais. Queixou-se que os jogadores de ambas as equipas foram “demasiado cautelosos”... mas quem pode censurá-los? Éramos nós contra os Campeões do Mundo e nossas maiores bestas negras. Eram eles contra os Campeões da Europa e Liga das Nações e que já lhes tinham causado dissabores.

 

Além disso, é possível que, tivéssemos sido menos cuidadosos, corrríamos o risco de sofrermos golos, o que não era desejável.

 

Depois do jogo, toda a gente fez a piada de que faltou o Éder para repetir o feito do 10 de julho. A brincar a brincar, eu até concordo, faltou o Éder. Não o jogador em si, antes aquilo que ele representou na final de Paris: a estrelinha, aquele rasgo inesperado de inspiração, de talento, para marcar o golo da vitória (não confundir com sorte). Ronaldo fá-lo inúmeras vezes, mas podia ter vindo de qualquer um. 

 

Desta vez não deu.

 

Cheguei a ter medo de que esta jornada tripla terminasse sem que a Seleção marcasse um golo. Felizmente, o jogo com a Suécia deu-nos ocasiões para matar essa sede. 

 

Portugal entrou em jogo com a “pica” toda – fazendo lembrar um pouco a Espanha, uma semana antes. Tivemos oportunidades logo aos primeiros minutos, uma de Diogo Jota (que substituiu Ronaldo), outra de William Carvalho (já disse aqui que o William foi espetacular nestes jogos?). Finalmente, aos vinte minutos, Bruno Fernandes isolou Jota, este driblou um pouco e assistiu para o golo de Bernardo Silva.

 

 

Estava aberto o marcador – e a Seleção pôde festejar este golo com público!

 

Apesar da entrada em grande de Portugal, a Suécia não se deixou dominar. Pelo contrário, este foi um jogo muito partido, atípico para o estilo de Fernando Santos. Conforme mencionaram aqui na vizinhança, os suecos esticaram o campo em vez de encolhê-lo. Portugal nunca conseguiu ter o jogo controlado por completo.

 

Felizmente, a Seleção conseguiu não sofrer golos – uma vez mais, graças ao trabalho de Rui Patrício (um dos melhores guarda-redes do Mundo), Danilo e Pepe. Este último está numa fase excelente apesar a idade. É o mestre da defesa portuguesa – e Rúben Dias, que combina muito bem com ele, é o seu aprendiz, talvez o seu sucessor.

 

Eram Pepe, Patrício e Danilo brilhando atrás, era Diogo Jota brilhando à frente. Poucos minutos antes do intervalo, João Cancelo fez um passe espetacular, como que guiado por GPS. A bola encontrou Jota cara a cara com a baliza e o miúdo não desperdiçou. 

 

As coisas não mudaram muito na segunda parte. Aos sessenta e sete minutos, Bruno Fernandes recuperou a bola, arrancou em direção ao meio-campo da Suécia, isolou João Félix à entrada da área, só o guarda-redes à sua frente. Infelizmente, o miúdo deve ter-se enervado e rematou por cima. 

 

Pobre Félix. Ainda não está lá.

 

 

Finalmente, dez minutos depois, Jota fez quase tudo sozinho no último golo. O passe foi de William, Jota conduziu a bola para dentro da grande área, indiferente aos quatro suecos lá, e rematou para as redes.

 

Muito entusiasmada com este miúdo. Se se mantiver no caminho certo e tiver sorte, será um grande jogador.

 

Ficou feito o resultado. Talvez demasiado dilatado para um jogo em que Portugal nunca teve mão no jogo por completo. Não é grave. O que interessa são os três pontos e os golos numerosos, que poderão vir a da jeito em caso de empate pontual com a França, mais à frente.

 

Se não fossem todos os problemas causados pelo Coronavírus, hoje estaria muito feliz com o momento atual da Seleção. A Equipa de Todos Nós não fez um único jogo mau nesta edição da Liga das Nações, mesmo com adversários deste calibre. O longo hiato pode ter feito bem à Seleção – nos últimos jogos antes da pausa, tinhamos concluído uma Qualificação para o Euro 2020 com dificuldade, deixando muito a desejar. Depois disso, eu não esperava um desempenho tão consistente nesta prova.

 

Ou então, é a nossa mania de jogarmos melhor perante equipas difíceis. Nesse sentido, a Liga das Nações é uma competição à nossa medida (mesmo que muito boa gente como Arsène Wegner não lhe ache piada). Não admira que tenhamos sido os primeiros vencedores.

 

Neste momento, sobramos nós e a França na luta pela passagem às meias-finais. A maneira menos stressante de carimbarmos o passaporte é vencendo os franceses no próximo mês, em casa. Uma tarefa difícil em qualquer circunstância. No entanto, acredito que a Seleção atual, da maneira como tem jogado, é a melhor preparada para este desafio.

 

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Falaremos melhor sobre isso na altura.

 

Esperemos que Ronaldo elimine o vírus depressa e que mais ninguém na Seleção se contamine. Obrigada por lerem. Tenham cuidado convosco, para não se virem na mesma situação. Continuem a acompanhar a Equipa de Todos Nós comigo, quer aqui no blogue, quer na sua página de Facebook.

Um problema com inícios

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No passado dia 22 de março, a Seleção Portuguesa de Futebol empatou sem golos com a sua congénere ucraniana. Eu estive lá. Três dias depois, empatou a uma bola com a sua congénere sérvia. Ambos os jogos tiveram lugar no Estádio da Luz e ambos contaram para a Qualificação para o Europeu de 2020. Ou seja, em seis pontos possíveis, a Seleção Nacional conseguiu dois.

 

Estes Marmanjos dão cabo de mim.

 

Conforme expliquei no texto anterior, fui ver o jogo com a Ucrânia à Luz, com os meus pais e a minha irmã. O problema de ir ao futebol com várias pessoas, sobretudo os meus pais, é ser difícil resolvermos todos os compromissos a tempo de sairmos para o Estádio a horas. Também não ajuda o facto de, hoje em dia, ser raríssimo termos jogos da Seleção ao sábado ou ao domingo.

 

Este jogo, infelizmente, não foi exceção. A Federação e o próprio Fernando Santos tinham apelado ao público para que chegasse antes das sete e meia. Não deu. Se houve alguma cena especial a acontecer no estádio a essa hora, nós não vimos.

 

Outra coisa que não ajudou foi o facto de ser sempre difícil entrar naquele estádio. A minha irmã queixa-se disso de todas as vezes que vamos à Luz. Eu costumo dar-lhe um desconto porque ela é sportinguista, mas começo a achar que tem razão.

 

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O estádio é enorme, tem uma data de portas, e no entanto, só se consegue aceder ao perímetro por três ou quatro sítios. Nós costumamos entrar pelo túnel à frente do Colombo, onde há sempre engarrafamentos. O Estádio de Alvalade é mais pequeno e só tem quatro portas, mas é mais fácil entrar no perímetro, pelo norte, ou pelo sul.

 

O problema do Estádio da Luz foi ter sido construído demasiado em cima da Segunda Circular, na minha opinião. Acho que não dava para ser de outra maneira.

 

Só conseguimos chegar à nossa bancada, no terceiro anel, quando já soava “A Portuguesa”. “Cantei” o hino enquanto tentava recuperar o fôlego e não cair para o lado, depois de ter subido não sei quantos lanços de escadas a correr.

 

Valeu pelo exercício.

 

Este foi um daqueles jogos em que o adversário se mete à defesa, a Seleção ataca, ataca, mas não consegue concretizar. Ambos os jogos da dupla jornada foram assim, na verdade, mas neste nem sequer conseguimos criar muitas ocasiões. Ainda assim, Pepe fez um belo remate aos quinze minutos, que infelizmente foi defendido pelo guarda-redes, Pyatov.

 

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William Carvalho conseguiu mesmo enfiar a bola na baliza aos dezasseis minutos, após assistência de Rúben Neves. Nós, na bancada, ainda festejamos durante um minuto ou dois antes de repararmos que o marcador não se mexera. O O golo fora anulado por fora-de-jogo.

 

Consta que o William pediu vídeo-árbitro, esquecendo-se que este não estava implementado no Apuramento (mais sobre isso adiante). Não que fosse servir de alguma coisa – acho que ele estava mesmo adiantado.

 

O jogo e talvez mesmo toda a jornada dupla poderiam ter decorrido de maneira muito diferente se o golo fosse válido. Mas não foi. Limitou-se a ser o único festejo a que tivemos direito nessa noite.

 

Ainda houve tempo na primeira parte para Cristiano Ronaldo rematar, em cima dos vinte e cinco minutos. Mais uma vez, Pyatov defendeu.

 

A segunda parte foi melhorzita. Como a baliza da Ucrânia ficava do nosso lado, deu para ver a ação quase toda.

 

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Não que tenha sido particularmente excitante. Portugal instalou-se no meio campo ucraniano, fartava-se de cruzar para a grande área – João Cancelo, em particular – de marcar cantos, não serviu de nada. O meu pai a certa altura comentou que nem Camões fez tantos cantos n’Os Lusíadas.  

 

Há que dizer que um dos principais culpados foi Pyatov. De todas as vezes que os portugas conseguiam boas oportunidades, ele estava lá. Defendeu duas de André Silva e, mais tarde, uma de Dyego Sousa.  

 

Uma chatice quando os guarda-redes fazem o seu trabalho.

 

As coisas animaram quando Rafa e Dyego Sousa entraram em campo. O primeiro deu velocidade ao jogo e o segundo teve um par de oportunidades. Mas já não foram a tempo.

 

No meio disto tudo, os ucranianos conseguiram uma ocasião de perigo para a nossa baliza, perto do fim do jogo. Todos nós tivemos um mini-ataque cardíaco quando vimos Rui Patrício defender para a frente. Graças a Deus, a bola foi parar às nuvens. Na altura, na nossa bancada, pensámos que tivesse sido aselhice de Júnior Moraes – só mais tarde é que soubemos que fora intervenção de Rúben Dias.

 

Espero que tenham dado uns quantos high-fives ao miúdo. Se aquela tivesse entrado…

 

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O resultado manteve-se nulo até ao fim. Não nego que saí da Luz um bocadinho chateada. Não gosto de ir ao futebol e não festejar um golo, pelo menos. E o facto de estarmos a começar outra Qualificação com o pé errado não ajudou.

 

Mesmo assim, soube bem ir ao jogo, ainda por cima com os meus pais que não vinham ao futebol há anos. Desde 2007, no caso do meu pai. Gostávamos de voltar a ir, no jogo contra o Luxemburgo, no Estádio de Alvalade. Foram precisos dois empates de seguida na Luz para a Federação se lembrar que existem outros estádios em Portugal.

 

É possível, no entanto, que eu tenha de trabalhar outra vez. Talvez eles e a minha irmã vão sem mim – será chato, mas eu vou à Liga das Nações. Não me posso queixar.

 

Nesta fase, eu estava desapontada mas não alarmada. A Seleção tem um problema crónico com inícios, está mais do que provado. Tem-se falado de inícios de Qualificações, mas isto também acontece com fases finais, conforme vimos antes (A fase de grupos da Liga das Nações foi a exceção). Não sei se é por sermos incapazes de jogar sem, como diz a minha irmã, sentirmos o rabinho a arder.

 

Ainda assim, fora só um empate, não uma derrota, como nos Apuramentos anteriores. Estava longe de ser grave.

 

Mas depois veio o jogo com a Sérvia.

 

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Conforme referi antes, estive de serviço nesse dia. Como costumo fazer quando trabalho de noite, tomei um café antes de entrar no trabalho. Vejo agora que não foi boa ideia: eu já estava algo nervosa, tanto com o serviço como com o jogo. A dose de cafeína fora do habitual deitou mais achas para a fogueira.

 

Passei, assim, o jogo quase todo numa vertigem de nervos. Arranjar maneira de ver o jogo no telemóvel, interromper para atender utentes e fazer outras coisas do trabalho e todas as atribulações do jogo: começando pelo penálti contra nós e convertido a golo, a lesão de Ronaldo, os muitos – mesmo muitos – remates falhados por parte dos portugas, o episódio ridículo do penálti.

 

E perdi o fantástico golo do Danilo – o nosso único golo nesta dupla jornada – porque fui à casa de banho. Sinceramente…

 

A última meia hora, quinze minutos do jogo foi um festival de oportunidades desperdiçadas, cada uma delas acrescentando dez milímetros de mercúrio à minha tensão arterial. Quando o árbitro apitou três vezes, eu estava assim:

 

 

Admito que sessenta por cento desta reação era a cafeína. Ainda assim há anos que não me sentia tão zangada com a Seleção. Já me acalmei entretanto, mas a desilusão continua.

 

Quer dizer, como é que isto é possível? Este tipo de coisas era de esperar há cinco, seis anos, não nesta altura! Somos Campeões Europeus, temos um plantel cheio de individualidades que dão cartas lá fora. Como é que deixamos quatro pontos voar, numa dupla jornada em casa, na nossa arena talismã?

 

São os adversários mais fortes do grupo, sim, mas, com o devido respeito, estão longe de ser tubarões do futebol europeu. Azar e, no caso do jogo com a Sérvia, má arbitragem não explicam tudo. Dava para mais.

 

Começo a achar que pelo menos algumas das críticas feitas a Fernando Santos ao longo dos anos – algumas ainda durante o Euro 2016 – até fazem sentido: demasiado resultadismo, demasiado pontapé para a frente, ausência de ideias de jogo concretas. Não sou a melhor pessoa para opinar sobre o assunto, mas até eu percebo o suficiente para saber que o que aconteceu nesta dupla jornada não é normal, que temos qualidade para mais. Não serve de nada termos uma mão cheia de trunfos se não sabemos pô-los a uso.

 

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(fonte: Memes da Bola)

 

Agora temos de ganhar todos os jogos que nos faltam no Apuramento. Porque claro que tempos, existe outra maneira de disputarmos Qualificações? Não me interpretem mal, não quero com isto dizer que não acredito que nos apuremos. Já nos conseguimos safar em situações parecidas ou piores. Mal por mal, temos os playoffs garantidos.

 

Mas será um rude golpe no orgulho sermos relegados para a repescagem num grupo como este. Já é suficientemente mau estarmos atrás do Luxemburgo na tabela classificativa, neste momento.

 

Até calha bem o Apuramento ficar em pausa até setembro. Talvez nos ajude a aclarar as ideias – até porque tenho medo que se dê um efeito de bola de neve nos problemas de finalização desta dupla jornada.

 

Havemos de sair de (mais) este buraco. Antes disso temos uma final four para disputar. Há tempo até lá para ultrapassar esta desilusão e começarmos a pensar em ganhar a Liga das Nações.


Acompanhem a contagem decrescente comigo na página de Facebook deste blogue.

Portugal 7 Estónia 0 - Injeção de confiança antes da nossa estreia no Euro 2016

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Na passada quarta-feira, dia 8 de junho, a Seleção Portuguesa de Futebol venceu a sua congénere estónia por sete bolas sem resposta, em jogo de carácter preparatório do Campeonato Europeu da modalidade, em decurso neste momento. Este encontro teve lugar no Estádio da Luz... e eu estive lá.

 

Eu tinha dito na entrada anterior que não poderia ir ao jogo. Isto porque a minha irmã tinha (e teve) um teste no dia seguinte e eu não queria ir sem ela. No entanto, na véspera do jogo, dei com este vídeo e parei para pensar. Nos últimos anos houveram muitas oportunidades semelhantes que eu não pude aproveitar, por um motivo ou por outro. Mas naquele dia tinha possibilidades de ir ao Colombo àquela hora. Se não tentasse a minha sorte, arrepender-me-ia (sobretudo depois de o jogo ter corrido da maneira como correu). Por isso, fui. Não que estivesse à espera de ganhar os bilhetes: calculava que estaria lá imensa gente, que tivesse de responder a alguma pergunta sobre a História remota da Seleção, eu sei lá... Eu nunca tinha ganho nada em passatempos deste género, porque haveria de ganhar agora?

 

Na verdade, foi quase tão fácil como chegar lá e pedir. Não tinha chegado a ver a parte de provar "que era um dos melhores adeptos da Seleção" (se tivesse sabido, ter-lhe-ia dado o link do meu blogue) mas, quando a repórter me pediu para falar para a câmara, não tive grandes dificuldades em improvisar uma mensagem de apoio, baseando-me no que tenho escrito inúmeras vezes, de inúmeras formas, ao longo de anos, aqui no estaminé. Disse que sigo a Seleção há muito tempo, nos bons e nos maus momentos sem nunca virar costas, que esta me tem dado muitas alegrias, que continuarei a apoiá-los durante o Europeu. Na altura, não tive lata para divulgar o blogue, mas disse algo como "costumo dizer que o meu clube é a Seleção". Ainda pensei que fossem publicar o vídeo das minhas declarações, mas já ficaria feliz se soubesse que o mostraram a Fernando Santos e/ou aos jogadores. No fim, deram-me o convite duplo e passei a hora seguinte (talvez mais) incapaz de acreditar que tinha conseguido, que ia ver a Seleção outra vez, antes do Europeu!

 

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Por outro lado, verdade seja dita, depois de tanta parvoíce, de tanto sofrimento ao longo destes anos todos com a Equipa de Todos Nós, já estava na altura de a Federação me oferecer qualquer coisa.

 

De início, a minha irmã não ficou muito contente por a "obrigar" a ir ao jogo. No entanto, ela ia acompanhar a transmissão televisiva de qualquer forma, mesmo com o teste. Acabou por concluir que o tempo perdido para ir e voltar do Estádio da Luz não faria diferença, até porque ainda tinha a quarta e a quinta-feira quase todas para estudar. Afinal de contas, não é todos os dias que se recebem bilhetes grátis.

 

A verdade é que já pagámos para assistir a uma mão-cheia de jogos da Seleção ao vivo. Demasiadas vezes para o meu gosto, temos levado com exibições fraquinhas, sobretudo nos últimos anos (vide este e este jogo). Por sinal, foi na única ocasião em que não tivemos de pagar bilhete que a Turma das Quinas marca o maior número de golos

 

À semelhança do que aconteceu antes, ficámos no terceiro anel. Infelizmente a experiência do jogo foi-nos quase arruinada por uns indivíduos armados em engraçadinhos, que entraram ao mesmo tempo que nós e se sentaram umas filas abaixo de nós, que já nas escadas se puseram a cantar pelo S.L.B. A minha irmã, sportinguista confessa e militante, irritou-se logo. Eu, por norma, tenho mais paciência nestas coisas, mas até eu me enervei ao ver que eles não se calavam, que durante o jogo gritavam coisas como "Mete o Jonas!" ou "Ó Patrício, não estás em Alvalade!". Talvez seja só eu, mas acho falta de educação gritar-se por clubes durante um jogo da Turma das Quinas. Se aqueles tipos preferem claramente o Benfica à Seleção (e têm esse direito) e não conseguem desligar-se do clube durante duas míseras horas para ver a Equipa de Todos Nós, que vieram eles fazer ao Estádio?

 

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Eu a minha irmãzinha merecíamos um prémio (OK, mais um depois dos convites...) por termos aguentado o jogo todo sem lhes atirar nada, sem sequer lhes despejar uma garrafa de água em cima. A tentação foi grande. Mas a verdade é que é assim que começa a violência entre adeptos de futebol que eu tanto abomino. Como reza um meme de que gosto muito, este mundo está cheio de idiotas, uma pessoa não ganha nada em descer ao nível deles. De qualquer forma, a partir de certa altura, eles calaram-se ao som de tanto grito de golo. 

 

A entrada de Portugal em jogo não foi assim tão avassaladora como o resultado dá a entender. A primeira meia hora do jogo foi pouco empolgante, com poucas oportunidades para qualquer um dos lados. A Estónia estava claramente a estacionar o autocarro - houve ocasiões em que eu via os onze estónios no nosso meio-campo, em que via cinco estónios formando uma linha perfeita, transversal ao relvado. Suponho que a Estónia seja uma versão muito soft daquilo que nos espera no grupo do Europeu. Calculei que fosse um daqueles casos em que é preciso um primeiro golo para quebrar o gelo e ficar tudo mais fácil. E não me enganei.

 

Esse primeiro golo veio com um toque de magia: Ricardo Quaresma assistiu de trivela para a cabeça do recém-chegado Cristiano Ronaldo, que cabeceou para as redes estónias. No que restava da primeira parte (menos de nove minutos) marcaram-se mais dois golos. O segundo voltou a meter magia de Quaresma, que desta feita não precisou de Ronaldo para enfiar a bola na baliza (ainda que, à primeira vista, me tenha parecido que fora o Capitão a dar o toque final). Poucos minutos depois, Cristiano Ronaldo teve um entendimento perfeito com João Mário, numa jogada que terminou com a assistência do médio para o remate do madeirense. 

 

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No início da segunda parte, já sem Ronaldo, Portugal ainda apanhou um pequeno susto no início do segundo tempo, quando os estónios conseguiram enviar uma bola à barra, na sequência de um livre. Poucos minutos mais tarde, Quaresma bateu um livre para a cabeça de Danilo Pereira, que aproveitou para fazer o seu primeiro golo pela Seleção. O eterno mustang voltaria a destacar-se ao assistir para o auto-golo estónio.

 

Mais tarde, aos setenta e seis minutos, Renato Sanches (que saltara do banco e estava a fazer um jogo muito inconsistente) fez uma daquelas arrancadas que o tornaram famoso, assistiu para Quaresma (outra vez), que assinou o seu segundo golo da noite. Por sua vez, foi André Gomes que, poucos minutos depois, assistiu Éder (também ele suplente utilizado) para o golo final da noite.

 

Tal como a derrota frente à Inglaterra não significou que estava tudo mal com a Seleção, também esta vitória generosa não significa que esteja tudo bem. Há que ter em conta que este adversário terá sido escolhido a dedo para garantir uma vitória fácil, talvez com goleada, para elevar a auto-estima e dar confiança aos jogadores e adeptos para a participação no Europeu. No entanto, não é todos os dias que se ganha por 7-0, sobretudo se nos recordámos, tal como assinalei antes, que passámos um ano, um ano e meio, a ganhar pela margem mínima. Mais, não é todos os dias que eu salto do banco de um estádio e grito "GOLO!" sete vezes numa só noite. Este jogo pode não ter contado para nada, mas a injeção de confiança poderá ter bons resultados.

 

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Entre esses jogadores com confiança elevada encontra-se Ricardo Quaresma, cuja magia catalisou em grande parte esta goleada. Já muitos exaltaram o talento tardio do nosso Harry Potter, eu não tenho muito mais a acrescentar. Digo apenas que ele se queixou, recentemente, que em Portugal não lhe davam o devido valor, pelo menos não tanto como na Turquia. Não digo que não haja verdade nestas declarações, mas estas não se confirmaram no Estádio da Luz. Pelo contrário, os adeptos fartaram-se de aplaudi-lo, sobretudo quando ele batia cantos. Talvez esse amor que o público deu a Quaresma durante o jogo tenha catalisado a sua boa exibição. Talvez tenha ocorrido ao contrário. Só sei que é disto que o cântico fala quando cantamos "Tudo o que eu te dou, tu me dás a mim".

 

Todos concordam que, com este jogo, Quaresma rouba a titularidade a Nani, merecidamente. O pior é que o mustang está em dúvida para a nossa estreia no Europeu devido a uma mialgia de esforço (isto só a nós...). Eu não me importo por aí além se optarem por poupá-lo no jogo de amanhã (nestas coisas, antes um pássaro na mão que dois a voar), até porque acredito que Nani saberá dar conta do recado. Se alguma coisa correr mal (três vezes na madeira), não será por aí.

 

Com isto tudo, estamos a menos de vinte e quatro horas do momento da verdade, da nossa estreia no Euro 2016. Não estou tão nervosa como esperaria estar, tendo em conta a importância deste jogo, o facto de esse ser o momento em que passaremos das palavras, das promessas, das ambições - e estas, como sabemos, são grandes - à ação. Talvez por estarmos num grupo em que, em princípio (porque neste Europeu equipas menos cotadas têm surpreendido), não teremos problemas de maior. Talvez porque, ao contrário do que aconteceu há dois anos, tudo parece estar no sítio certo: tirando o caso de Quaresma, a equipa parece bem fisicamente, unida, empenhada. Fernando Santos tem tido um discurso ao mesmo tempo realista e ambicioso. Não sei se isto chega para conquistar o Europeu, tal como todos ambicionamos, mas acho - sublinho, acho - que temos condições para fazer um bom campeonato.

 

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Eu provavelmente devia estar mais nervosa. Segundo uma velha superstição minha, dá azar não estar nervosa, não ter medo, mas a verdade é que não estou nervosa, não tenho medo - não tanto como noutras ocasiões deste género e definitivamente menos que no início da preparação do Europeu. Não garanto que se mantenha assim até ao início do jogo, no entanto... Acredito que é possível Portugal levantar a Taça caso a sorte esteja do nosso lado e, sobretudo, se todos fizerem bem o seu trabalho.

 

Na verdade, tudo o que eu quero neste momento é que nos deixemos todos de conjeturas, especulações e promessas. Tivemos meses e meses disso. O que eu quero é que o jogo de amanhã comece e que vejamos de que é que esta Seleção é capaz.

 

Acompanhem as últimas horas antes do jogo, bem como tudo o que acontecer a seguir na página de Facebook daqui do estaminé.