Na próxima quinta-feira, dia 23 de março, a Seleção Portuguesa de Futebol defrontar a sua congénere… *pesquisa no Google*... liechtensteiniana (?) no Estádio de Alvalade… e eu estarei lá! Três dias mais tarde, desloca-se ao Luxemburgo para defrontar a seleção local. Ambos os jogos contam para a Qualificação para o Euro 2024. Serão também os primeiros jogos da Seleção com o técnico Roberto Martínez ao leme.
Pois… Comecemos por aí.
Roberto Martínez foi anunciado como Selecionador no início deste ano – a escolha de Selecionador mais controversa de que me recordo. A minha reação foi a mesma de toda a gente: tínhamo-nos finalmente livrado de Fernando Santos, o treinador que não soubera aproveitar uma das gerações mais talentosas do futebol português, apenas para ficarmos com o treinador que não soubera aproveitar uma das gerações mais talentosas do futebol belga. E Fernando Santos ao menos conseguira títulos.
Juntando a isso, nas semanas que se seguiram, passei por uma fase de alguma tristeza pelo fim do ciclo de Fernando Santos – que entretanto foi treinar a seleção da Polónia. Com todos os defeitos, foram oito anos e dois títulos – e eu, por norma, não lido bem com mudanças. As últimas duas trocas de treinador foram entre as jornadas de setembro e outubro, passaram poucas semanas entre a apresentação e os primeiros jogos – não deu tempo para pensar muito no que tinha acabado.
Na preparação deste texto olhei melhor para o currículo de Martínez e fiquei um bocadinho mais descansada – e, ao mesmo tempo, um bocadinho mais preocupada. Martínez está longe de ser o pior treinador do mundo. O problema é que cada sucesso tem um senão, é capaz do melhor e do pior ao mesmo tempo. Martínez ajudou o Wigan Athletic a ganhar a sua primeira Taça de Inglaterra em 2013… na mesma época em que o clube foi despromovido da Premier League. Ajudou o Everton a atingir a sua maior pontuação de sempre na Premier League na época seguinte, mas foi despedido dois anos depois, numa altura em que os adeptos já não podiam vê-lo à frente (explica alguns comentários que vi nas internetes quando Martínez foi contratado).
Por fim, conforme vimos acima, Martínez esteve na seleção da Bélgica desde 2016. Sempre conseguiu ao melhor desempenho de sempre dos belgas: o terceiro lugar no Mundial 2018. Não é um feito menor. Tinha Martínez a obrigação de fazer melhor? Depende do critério de cada um. Eu acho que, tendo em conta todo o hype que se montou em torno da seleção belga, esperava-se pelo menos, vá lá, uma Liga das Nações.
Dito isto, não sei se Martínez é o único culpado dos desempenhos belgas abaixo das expectativas. Dizem que ele é “conservador” – pode ser um eufemismo para “casmurro” – mas também dizem que o ambiente entre os jogadores belgas não é o mais saudável, com vários egos em rota de colisão – sobretudo no último Mundial. Nesse aspeto, Portugal sai-se melhor na comparação. Também temos um ego ou outro – não é, menino Cristiano? – mas tudo indica que o ambiente é bom.
Também confesso que não adoro a ideia de termos um Selecionador estrangeiro. Sobretudo um espanhol, tradicionalmente um rival nosso em termos de seleções. Mas isto é apenas um capricho meu, está longe de ser uma objeção a sério. Até porque Martínez está a aprender português, já fala bastante bem – respeito!
Talvez por causa de toda a polémica, a comunicação da FPF tem feito uma espécie de campanha por Roberto Martínez, tantando fazer com que o público simpatize com ele. Iniciativas como a entrevista com perguntas de adeptos, o vídeo mostrando um dia de trabalho de Martínez, o documentário do Canal 11 – essencialmente uma biografia do novo Selecionador.
Se me permitem mais uma referência a Ted Lasso, isto tudo recorda-me uma das minhas deixas preferidas da série: “Damn it, Paul! Don’t humanize him!”. Fica mais difícil ter má vontade para com Martínez depois de conhecermos o sítio onde cresceu, de o vermos descobrindo o que é “fazer um cabrito”, de sabermos que ele e a mulher compraram um sofá em “L” para que cada um possa ver o que quer na televisão.
Não que eu ache que a Federação esteja a fazer mal – e é bem possível que fizessem isto independentemente de quem escolhessem para Selecionador. E mesmo sem a campanha da FPF, falando por mim, eu daria sempre o benefício da dúvida a Martínez. Nem é apenas otimismo puro e duro. Como expliquei aquando do Mundial, o pessimismo não me traz felicidade nenhuma, não ajuda ninguém. Além disso, a vantagem de este ser um grupo de Qualificação teoricamente fácil é que dará espaço a Martínez para se adaptar à Seleção. E por muitos defeitos que apontem ao novo Selecionador, a Bélgica teve bons desempenhos nos Apuramentos (daí terem passado tanto tempo no topo do ranking da FIFA). Espero que Martínez replique isso com Portugal.
Falemos, então, sobre a Convocatória. Como toda a gente, estava curiosa, não sabia o que esperar. Pois bem, Martínez saiu-se com uma lista idêntica à que Fernando Santos faria. As únicas novidades foram Diogo Leite e Gonçalo Inácio, merecidamente.
Tive pena de não haverem mais nomes fora do habitual. Como, por exemplo, Fiorentino, Nuno Santos ou Pedro Gonçalves – este último apenas para ter uma desculpa para escrever sobre a sua candidatura ao Puskasaqui no blogue. Tirando isso, esta Convocatória não me incomoda… muito. Martínez explicou que esta lista é um “ponto de partida”. O novo Selecionador deve querer ficar a conhecer o grupo, as dinâmicas, ver o que já está construído antes de remodelar à sua maneira.
São opções, são métodos de trabalho como quaisquer outros. Não estão certos nem errados por si só. Também não acho que o problema de Fernando Satnos tenha sido os jogadores que Convocava. Além disso, perante adversários como estes, sem querer desvalorizar demasiado, qualquer amostra da população atual de jogadores portugueses dará conta do recado. No fim do dia, os resultados é que interessam – o que não deverá ser problema, desde que os Marmanjos façam as coisas como deve ser.
Uma palavra para Cristiano Ronaldo, claro. Depois do texto anterior, este mudou-se para o Al Nassr, na Arábia Saudita. Durante muito tempo ficou a dúvida sobre se ele voltaria a ser Convocado. Neste contexto, eu aceitava ambas as opções. Martínez escolheu Chamá-lo, eu fico contente. Ache-se o que se achar da mudança de Ronaldo para as Arábias, ao menos o inferno mediático que foi a saída dele do Manchester United já faz parte do passado. Além disso, os nossos adversários nesta jornada estarão mais ou menos ao mesmo nível competitivo que a maior parte das equipas da Arábia Saudita.
E depois temos as razões do coração. Vou ao jogo com o Liechtenstein com os meus pais e posso ou não ter convencido a minha mãe dizendo que esta pode ser uma das nossas últimas oportunidades para ver Ronaldo jogar. Fui sincera. Entristece-me pensar que temos os “SIIII!!!” em coro com todo o estádio contados. Não me importo nada de adiar um pouco mais a despedida – como disse acima, não gosto de mudanças e esta será uma das grandes.
Falemos, então, sobre os nossos adversários. Era capaz de jurar que tínhamos jogado com o Liechtenstein pelo menos uma vez nos últimos dez anos. Parece que não. O nosso último jogo foi em agosto de 2009, há quase catorze anos. Já tinha o blogue aquando desse jogo – um amigável que vencemos por 3-0, com golos de Raúl Meireles e dois de Hugo Almeida – mas não me recordo de nada dele. Nem faço questão de recordar, aqui entre nós.
Recordo-me um pouco melhor dos dois confrontos anteriores, durante a Qualificação para o Mundial 2006. É possível que já tenha escrito sobre eles em 2009, mas não quero sujeitar-vos à minha escrita de há catorze anos. Prefiro escrever sobre isso de novo do que deixar link para um texto de 2009.
No primeiro jogo, empatámos 2-2, o que na altura foi um escândalo. Um ano mais tarde, estive no jogo em casa, no Estádio de Aveiro – provavelmente, o meu preferido – com os meus pais e irmãos. Os liechtensteinianos marcaram primeiro: lembro-me bem de levar as mãos à cara enquanto a bola rolava para a nossa baliza. Por entre manifestações de exasperação na nossa bancada, um senhor de idade, adepto do Liechtenstein, festejou efusivamente o golo nas escadas. Nós, na bancada, acabámos por lhe bater palmas.
Claro que os Marmanjos acabaram por dar a volta ao resultado e selaram a Qualificação para o Mundial – eu ergui um cartaz onde tinha escrito “Próxima paragem: Alemanha 2006”. Em todo o caso, esta história serve para nos recordarmos do perigo que é assumirmos que são favas contadas. Mas, na verdade, o próprio João Félix recordou-nos uma história bem mais recente de assumirmos que são favas contadas.
Vamos, então, cruzarmo-nos com o Liechtenstein numa fase de Apuramento, quase dezoito anos depois (chiça, estou velha…). Acabo de perceber agora que, uma vez mais, o destino final é a Alemanha. Estarei lá para dar as boas-vindas a Roberto Martínez. Que os erros de 2004 e 2055 não se repitam.
Quanto ao Luxemburgo, ao contrário do Liechtenstein, temos recordações recentes deles – os luxemburgueses estiveram nos nossos dois últimos Apuramentos. Assim, não me vou alongar muito. Recordo apenas que, apesar de serem uma seleção de microestado, estão um ou dois degraus acima do Liechtenstein e temos tido dificuldades nas nossas visitas lá.
Estou à espera de vitórias em ambos os jogos. Quero uma fase de Qualificação tranquila, ao contrário das últimas duas. Até porque a vida não está fácil para ninguém, precisamos de alegrias. Que estejamos todos errados em relação a Roberto Martínez (quando digo “todos”, falo dos pessimistas, claro).
Obrigada pela vossa visita, como sempre. Visitem a nossa página no Facebook. Até à próxima.
No passado dia 10 de dezembro, a Seleção Portuguesa de Futebol perdeu perante a sua congénere marroquina por uma bola sem resposta. Com este resultado, Portugal falhou a passagem às meias-finais do Mundial 2022.
Eu estava a isto de acreditar a sério…
Antes de mais nada, um breve pedido de desculpas pelo atraso com esta crónica. Por norma, na altura das festas tenho sempre menos tempo para escrever. Para além das compras e dos preparativos, é também a altura em que o meu irmão emigrante vem para casa e combinamos sempre coisas.
Mais um argumento contra fazer-se um Mundial nesta altura do ano. Teve a sua graça, mas espero que não se repita. No verão dá mais jeito.
Como muitos têm referido, Portugal ofereceu a primeira parte do jogo a Marrocos. Sabíamos que eles defendiam bem, que se organizavam bem, mas não soubemos lidar com isso. Eu mesma reparei nas várias vezes em que os nossos jogadores se punham a trocar a bola entre si, como que fazendo tempo enquanto pensavam numa maneira de furar a muralha.
Depois, acabámos por sofrer um golo por culpa própria perto do intervalo e passámos o resto do jogo a correr atrás do resultado. Nesse aspeto, lembrou-me um pouco o jogo com a Bélgica, no Euro 2020. E mesmo o jogo com o Uruguai, no Mundial 2018.
Por falar no golo que sofremos, Diogo Costa tem estado na berlinda pela sua saída infeliz – fazendo lembrar Ricardo no golo sofrido na final do Euro 2004, mesmo para doer mais. Sim, o experiente Rui Patrício talvez não cometesse este erro, mas também é aquela: como é que os jogadores ganham experiência?
Além de que o Diogo não foi o único a errar. Rúben Dias também ficou mal na fotografia. E o nosso corredor direito todo deixou o marroquino Attiat-Allah completamente à vontade para fazer a assistência.
Como noutras ocasiões semelhantes em que tínhamos de correr atrás do resultado, até tivemos momentos bonitos – pena não terem resultado em nada. Faltou um bocadinho de sorte, é certo. Bruno Fernandes atirou uma bola à barra, o guarda-redes Bono esmerou-se para defender um remate de João Félix, o Pepe falhou uma mesmo no último minuto. Mas a verdade é que só nos podemos culpar a nós mesmos por termos falhado.
Não vou mentir, esta doeu. Não é a primeira vez que falhamos a conquista de um título, não será a última. Seria de esperar que eu já estivesse habituada a desilusões como estas. Pelos vistos não estou. Custa sempre cair dos céus, regressar à realidade.
Vocês podem ler nos textos anteriores, estava a gostar deste Mundial e estava a começar a acreditar no título. Mesmo não estando a ser perfeitos, estávamos a fazer o nosso melhor Mundial desde 2006, temos carradas de talento, tínhamos vários tubarões ficando pelo caminho – Espanha, Brasil, Alemanha, Bélgica. Esta era a nossa melhor ocasião para conquistarmos o título mundial, tanto para Pepe e Cristiano Ronaldo (mais sobre isso a seguir) como para esta geração tão talentosa. Ou para, pelo menos, ficarmos no top 4, igualando as participações de 1966 ou 2006.
Foi uma oportunidade desperdiçada. Mais outra. Perante Marrocos.
Não quero com isto menosprezar os marroquinos. Pelo contrário, eles ganharam a minha simpatia, mesmo antes do nosso jogo. Pelo seu estatuto de underdogs, por Sofiane Boufal, que celebrava as vitórias no relvado com a mãe, pelos que tentaram consolar Ronaldo no fim do jogo, por Hakim Ziyech, que tem doado todo o salário que recebe da seleção marroquina a funcionários dessa seleção e a famílias carenciadas, por aquilo que Marrocos representava como uma seleção islâmica, como uma seleção africana. Sobretudo depois de toda a riqueza e alegria que as equipas africanas trouxeram a este Mundial.
Eu estava a torcer por eles na meia-final perante a França. Infelizmente, os nossos amigos franceses fizeram em cinco minutos o que várias seleções não conseguiram fazer em noventa – ou, no caso dos espanhóis, cento e vinte mais penáltis. Ainda assim, uma campanha respeitável para Marrocos, conquistaram os corações de muitos.
Dito isto… nós éramos a melhor equipa e tínhamos a obrigação de ganhar. Sim, este foi o nosso terceiro melhor Mundial, superou as minhas expectativas, na minha opinião foi melhor que o Mundial 2018 e o Euro 2020. Mas uma coisa seria termos sido eliminados pela Espanha, França ou mesmo pela Inglaterra. Outra coisa é termos sido eliminados por Marrocos.
Tendo tudo isto em conta, Fernando Santos tinha de ir. E foi.
A decisão foi anunciada no dia 15 após alguns dias de rumores. Não sei como decorreu o processo todo dentro de portas, mas a maneira como foi comunicado foi exemplar – das transições mais pacíficas de que me recordo. Por um lado, pela mensagem de despedida de Fernando Santos, com agradecimentos a todos os jogadores que orientou, à equipa técnica, à Federação e aos adeptos. Só mostra o carácter dele.
Por outro lado, também gostei do vídeo do vídeo que as redes sociais das Seleções publicaram, agradecendo a Fernando Santos. Um pormenor que me agradou foi terem começado pelo início – porque é importante recordarmo-nos. Vínhamos de um Mundial 2014 desastroso e a Qualificação para o Euro 2016 começara mal. Aquele primeiro jogo com a Dinamarca, em outubro de 2014, aquela vitória mesmo ao cair do pano, foi a primeira vez em muito tempo em que senti esperança em relação ao futuro da Equipa de Todos Nós. Foi o início de algo que terminou quando levantámos a Henri Delaunay.
Terá sido na altura desse jogo, aliás, que Fernando Santos começou a falar de ganharmos o Europeu. Menos de quatro meses depois de termos sido goleados pela Alemanha. Pois claro.
De uma maneira estranha, às vezes tenho saudades desse primeiro ano. Um ano de exibições assim-assim, mas suficientes para cumprir – hoje não seria suficiente, mas na altura soube bem depois do turbulento ciclo do Mundial 2014. Além disso, ganhámos à Argentina e à Itália em jogos particulares, o que foi agradável.
E, claro, os nossos dois primeiros títulos. Há quem hoje desdenhe, como se tivéssemos ganho por acaso, esquecendo-se que a Seleção esteve quase cem anos sem ganhar um título desta envergadura. E que precisou de vinte anos, mais coisa menos coisa, de presenças regulares em Europeus e Mundiais. Pode ter sido sorte e fé mas, como disse Ricardo Quaresma, “fé e sorte dão muito trabalho”.
Dito isto, por muito grata que esteja… esta é a decisão certa. Só peca por tardia.
Por outro lado, este até é um timing perfeito para esta transição. Faltam vários meses para o próximo compromisso da Seleção e os primeiros jogos são contra Luxemburgo e Liechtenstein.
O próximo passo agora, naturalmente, encontrar um sucessor. Eu não tenho opinião, não percebo o suficiente para fazer sugestões. José Mourinho tem sido um dos nomes mais falados. Uma opção óbvia, talvez. Mourinho costumava dizer que queria ser Selecionador quando fizesse sessenta e cinco – ainda lhe faltam cinco anos e trocos, mas suponho que ele não estivesse a ser literal.
No entanto, ele ainda está no AS Roma. Chegou a falar-se da possibilidade de ele conjugar o emprego de Selecionador com o de técnico do Roma. Isso a mim parecia-me bizarro e duvidoso do ponto de vista ético (ele poderia Convocar jogadores do próprio clube de modo a valorizá-los no mercado? Ou, pelo contrário, poderia não Convocá-los para mantê-los em forma para o clube?), mas aparentemente não é assim tão raro. Fui pesquisar sobre o assunto e descobri alguns exemplos – incluindo Sir Alex Ferguson, de todas as pessoas, antes de treinar o Manchester United.
Eu mesmo assim não acho que resultasse. E consta que o Roma também não morre de amores pela ideia. Diz que, agora, o plano é que Rui Jorge assuma o cargo interinamente durante a dupla jornada de março e que, em junho, Mourinho deixe o Roma e venha treinar a Seleção. Isto sim, já me parece mais aceitável.
Por outro lado, já que falamos de Rui Jorge, há quem o aponte como possível sucessor. Em teoria faz sentido, na prática talvez não. António Tadeia diz que ele não quererá – ele será demasiado pacato para estas andanças, estará satisfeito no seu cantinho, com os Sub-21. Para além disso, aqui o Gonzaaldeu bons argumentos a favor de Jorge Jesus. Não simpatizo muito com o senhor mas, se tiver de ser…
Por fim, de vez em quando alguém lembra-se de sugerir Carlos Queiroz e eu fico com vontade de dar um berro. Sou a única aqui que se recorda do que aconteceu em 2010?!?
Ficamos a aguardar. Há tempo para tomar esta decisão. Ainda assim, espero que não demorem muito, para que o novo Selecionador possa começar a preparar o novo ciclo com tempo.
E por falar em novos ciclos…
Uma das coisas que mais dói em relação a este fracasso é o facto de este ter sido o último Mundial de Pepe e Cristiano Ronaldo. As imagens das lágrimas do último correram mundo e partiram o coração de toda a gente. Este terá sido o pior ano da vida de Ronaldo, tanto a nível pessoal como profissional. Agora perdia a sua última oportunidade de levantar este troféu. Pouco mais de uma semana mais tarde, viu o seu velho rival Lionel Messi ganhar esta corrida e encerrar de vez o debate sobre quem é o melhor do Mundo. Por estes dias tem recebido críticas de todo o lado.
Não é difícil sentir compaixão por ele. Por outro lado, se Ronaldo neste momento está no fundo do poço, é em parte por culpa própria.
Todo o mediatismo em torno de Ronaldo foi sem dúvida a pior parte da nossa participação neste Mundial. Não digo que tenha sido por isso que perdemos, mas foi uma distração, uma irritação, tempo gasto com discussões inúteis.
Não, nem tudo foi culpa do próprio Ronaldo. Pode-se argumentar que isso aconteceria sempre, independentemente das circunstâncias. Sobretudo tendo em conta que, no Catar, a larga maioria dos adeptos de Portugal eram na verdade adeptos de Ronaldo.
Ao mesmo tempo, ninguém mandou Ronaldo dar aquela entrevista a Piers Morgan, nem lançá-la na véspera da preparação do Mundial. Ele bem tentou fazer-se de inocente mais tarde, mas sabia perfeitamente o que aconteceria.
Agora, no pós-Mundial, Ronaldo está sem clube e isso já está a ser outra novela. Ainda no outro dia saiu a notícia de que, se de facto assinar pelo Al Nassr, será também embaixador da Arábia Saudita na corrida à organização do Mundial 2030… contra a candidatura de Portugal e Espanha.
Eu ainda quero ver se alguma destas coisas será confirmada oficialmente. Para já, um consolo para mim é saber que, a curto prazo, os dramas de Ronaldo não afetarão diretamente a Turma das Quinas. A médio/longo prazo já é outra questão.
O que nos leva ao futuro de Ronaldo na Equipa de Todos Nós. Se é que ele existe.
Ainda no rescaldo do jogo começaram a circular mensagens de despedida a Pepe e a Cristiano Ronaldo. Devo confessar que isso foi uma das coisas que mais contribuiu para a minha azia com a eliminação.
Uma coisa é este ter sido o último Mundial de Ronaldo. Outra coisa muito diferente é estes terem sido os últimos jogos de Ronaldo na Seleção. Se foi o último caso… não estou preparada. Mesmo tendo em conta o que escrevi recentemente sobre ele, sobre termos mais desvantagens do que vantagens neste momento.
Ronaldo tem sido a grande constante da Seleção desde o Euro 2004. Foi um dos motivos pelos quais me afeiçoei à Equipa de Todos Nós depois desse campeonato. É um pouco como a Rainha de Inglaterra: existe toda uma geração já adulta – incluindo, talvez, metade da Seleção atual – que não se recorda das Quinas sem Ronaldo. Isto para não falar, claro, de tudo o que o Capitão tem feito pelo futebol português, mesmo pelo país em si. Pense-se o que se pense sobre Ronaldo, vai custar-nos a todos quando ele se for embora.
Suponho que haja uma lição de vida qualquer sobre crescer aqui.
Se estiver mesmo na hora, espero que se faça uma despedida como deve ser. Por mim, marcava-se um jogo particular em casa, com uma equipa “pequena” a quem Ronaldo pudesse marcar os últimos golos. Perto dos noventa far-se-ia a substituição e o estádio todo aplaudiria de pé durante minutos, com muitas lágrimas à mistura.
Mas isto é uma fantasia minha. Pode não ser possível prever quando é que Ronaldo deixará a Seleção. Vai depender do que acontecer no mercado de transferências. Tal como em relação à questão do Selecionador, ficamos a aguardar.
Apesar de ter partido para este Mundial com baixas expectativas, expectativas essas que acabaram por se cumprir (mesmo com várias atenuantes, isto foi uma desilusão), não me arrependo de, a certa altura, ter começado a acreditar e a entusiasmar-me. Em futebol costuma-se falar em “esperança que mata” mas, para mim, a esperança vale sempre a pena. Para que servem estes campeonatos ou mesmo o futebol em geral se não o encaramos com alegria e um bocadinho de fé?
E este Mundial foi divertido, melhor do que tinha o direito de ser tendo em conta as circunstâncias, com todas as surpresas e reviravoltas. A final, então, foi um reflexo perfeito disso: um empate 3 a 3, que parece ficcionado (Não simpatizava particularmente com nenhum dos finalistas, mas estou contente por a França não ter ganho. Os franceses continuam péssimos perdedores). Foram umas semanas alegres, fora da rotina – como já é habitual, de resto – que souberam bem no final de um ano difícil.
E infelizmente teremos de esperar pelo menos um ano e meio para voltarmos a senti-lo.
Outra coisa boa em relação ao Mundial foi ter dado oportunidade a vários Marmanjos de darem provas do seu talento: Bruno Fernandes, Gonçalo Ramos, João Félix, Rafael Leão. Como vários têm assinalado, esta geração tem muito potencial e estamos todos ansiosos por ver de que serão capazes daqui a um par de anos.
Antes de terminarmos, façamos um rápido apanhado a 2022 (acho que não torno a fazer balanços anuais como fazia antes). Foi melhor que 2021, com mais pontos altos – as vitórias na fase de grupos da Liga das Nações, sobretudo esta, as vitórias no Mundial. Infelizmente, foi igualmente infrutífero. A alegria das vitórias valeu a pena mas teve curta duração.
Com um Selecionador novo e Ronaldo incerto, 2023 será um ano de mudança de página, de transição. Será pouco excitante: sem Europeu ou Mundial, sem sequer a fase de grupos da Liga das Nações, com adversários de maior calibre. Temos apenas a Qualificação para o Euro 2024, com um grupo teoricamente acessível – se houver excitação, será à mistura com exasperação, quando inevitavelmente metermos água e nos Apurarmos à rasquinha.
Por outro lado, como referimos antes, dificilmente conseguiríamos melhores circunstâncias para uma mudança de ciclo.
Que 2023 nos corra melhor que 2022. Obrigada a todos os que acompanharam este Mundial comigo, quer através do blogue quer através da sua página de Facebook. Última chamada para fazerem um donativo à Amnistia Internacional, que está a ajudar os trabalhadores maltratados na construção do Mundial. Votos de boas festas e boas entradas em 2023. Até à próxima!
Na passada terça-feira, dia 6 de dezembro, a Seleção Portuguesa de Futebol venceu a sua congénere suíça por seis bolas contra uma, em jogo a contar para os oitavos-de-final do Mundial 2022. Com este resultado, Portugal segue para os quartos-de-final da prova, onde irá defrontar Marrocos.
A diversão e o sofrimento continuam, como eu desejava. Nesta fase é mais diversão, felizmente.
As emoções começaram várias horas antes do início da partida. Consegui ver um bocadinho do jogo entre a Espanha e Marrocos na minha hora de almoço. Já estava a trabalhar quando este terminou – e naturalmente fiquei chocada com o resultado final. Estava a fazer falta uma surpresa destas, os oitavos estavam a ser demasiado previsíveis.
Adiantando-me um pouco, o nosso resultado com a Suíça pode ser considerado uma surpresa? Eu diria que sim. Em teoria este era o jogo mais equilibrado desta fase, ninguém conseguia prever com certeza quem venceria. Ninguém estava à espera que qualquer um dos lados atropelasse o outro desta forma.
Regressando ao pré-jogo, ao longo da tarde circulou o rumor de que Cristiano Ronaldo ficaria no banco – algo que se confirmou quando saiu oficialmente o onze inicial. Muitos de nós sabiam que esta era a decisão correta. Mas ninguém tinha a certeza de que o técnico teria coragem de tomá-la.
Desta vez, custou-me menos estar a trabalhar durante parte do jogo. Ajudou o facto de termos tido menos movimento e atendimentos menos complicados. Uma vez mais, tínhamos o relato ligado, mas acabei por me servir mais de sites de atualizações, quando conseguia espreitá-los. Foi assim que soube do primeiro golo de Gonçalo Ramos e do golo de Pepe – este último já perto da minha hora de saída.
Ainda consegui ver imagens do primeiro golo no trabalho, quando a Sport TV as colocou nas redes sociais. Não sei do que gosto mais: se da jogada, se das celebrações. Foi uma grande assistência de João Félix, que consegue fazer a bola passar por entre dois suíços. Gonçalo Ramos remata de lado e a bola entra pelo canto, impossível de defender.
E depois a Seleção toda correndo a abraçar o miúdo – embora o Bernardo Silva tenha voltado depressa para o campo, coitado. Eu devia estar com um ar tão tolo lá no trabalho, de olhos no computador, sorrindo de orelha a orelha.
Só consegui ver imagens do golo de Pepe já em casa. Na sequência de um canto batido por Bruno Fernandes, o Marmanjo voou e cabeceou para as redes. Pepe é dos que mais ama a Seleção e teima em não envelhecer. Que nunca nos deixe!
Já estava em casa durante a segunda parte. Não sei como foi com vocês, mas eu estava cautelosa, com medo que a Seleção cometesse algum deslize e a Suíça reduzisse a vantagem. Não seria a primeira vez.
Felizmente, não foi necessário preocupar-me: a segunda parte trouxe uma mão-cheia de golos. A minha mãe até comentou que parecia que estávamos a jogar contra o Liechtenstein e não com a Suíça.
Foram logo dois golos em poucos minutos. Antes do terceiro golo, Diogo Dalot conseguiu deixar um suíço fora do caminho. Depois, Gonçalo Ramos, com uma lata descomunal, fez uma cueca ao guarda-redes, marcando o seu segundo golo na partida.
Cinco minutos depois, foi a vez de Raphael Guerreiro marcar. Quem acompanhe o meu blogue há uns anos saberá que o Raphael é o meu menino-bonito. Ele não recebe, nem de longe nem de perto, a devida apreciação da parte dos adeptos portugueses – é possível que isso seja por ele nunca ter jogado na liga portuguesa. Não estava à espera que ele marcasse neste jogo, mas fiquei contente por o ter feito.
Na verdade, foi uma grande jogada coletiva que desaguou neste golo. Começou com um bom entendimento entre o regressado Otávio e João Félix. Félix depois passou para Gonçalo Ramos, que depois assistiu para Raphael.
A única mancha no desempenho de Gonçalo Ramos – e mesmo da Seleção como um todo – foi a assistência involuntária para o golo de honra da Suíça, na sequência de um pontapé de canto. Acontece, nem sequer foi a primeira vez neste Mundial, ninguém se rala.
E de qualquer forma ele redimiu-se rapidamente com um terceiro golo. Bruno Fernandes recuperou uma bola, passou-a a Félix e este isola para Ramos marcar. Eu nesta altura já nem gritava “GOLO!”, só me ria.
Um par de parágrafos, então, para falarmos sobre Gonçalo Ramos? Este miúdo estreia-se a titular pela Seleção num Mundial e faz-me logo um hat-trick e uma assistência, coloca logo o mundo inteiro a falar sobre ele. E depois de cada golo põe-se ali a fazer pistolas com os dedos, como se fizesse aquilo todos os dias – adoro a lata.
Aliás, se não se importam, vou começar a fazer os mesmos gestos. Até os colegas de Seleção já os fizeram.
Finalmente, Cristiano Ronaldo entrou, mais ou menos a meio da segunda parte. Isto depois de o público ter passado um bom bocado a chamá-lo. Isso na altura irritou-me – toda a Turma das Quinas jogando como nunca, Gonçalo Ramos então a fazer o jogo da vida dele, e aquela gente gritava por um jogador no banco? Mas compreende-se: a maior parte dos adeptos a favor de Portugal tinham vindo para ver Ronaldo. Ele continua a ser a figura mais mediática da nossa Seleção. O facto de ele já não render o mesmo é uma coisa recente.
E a verdade é que Ronaldo esforçou-se. Não foi por falta de vontade. Tive pena de o golo dele ter sido anulado.
Ainda houve tempo para mais um golo, em cima dos noventa minutos – de Rafael Leão, o Marmanjo que remata com um sorriso. Este compete em beleza com o primeiro de Gonçalo Ramos: um remate em arco espetacular, os suíços nem se mexeram.
Ficou feito o resultado. Portugal segue para os oitavos-de-final.
O meu texto pré-Mundial envelheceu como um iogurte, não foi? A Seleção deixou-me com cara de parva. Eu própria o escrevi: vim para este Mundial com a minha fé e entusiasmo em mínimos históricos – não eram nulos, tinham alguma esperança, mas menos que o costume.
E o que acontece após o pontapé de saída? Sem nunca esquecer as circunstâncias deploráveis, o Campeonato do Mundo está a ser dos mais excitantes desde que me lembro. Melhor de tudo, Portugal está a fazer, no mínimo, o seu terceiro melhor Mundial de sempre – mesmo na pior das hipóteses, para mim já é um sucesso, mesmo que pequeno. O jogo com a Suíça, em particular, foi um dos nossos melhores em Mundiais, se não tiver sido o melhor. Eu não tinha razão ao ter sido tão cética antes e, meu Deus, não ter razão nunca soube tão bem. No rescaldo do jogo, terça-feira à noite, sentia as bochechas doridas de tanto sorrir.
Antes de continuar a falar das coisas boas, vamos ter de abordar o elefante na sala. Ou melhor, o elefante no banco da Seleção no início do jogo, sempre com inúmeras câmaras apontadas para ele.
Temos de dizê-lo, Gonçalo Ramos jogou no lugar de Ronaldo e fomos narrativamente recompensados por isso. Os títulos e manchetes sobre o jogo não douram a pílula: pela primeira vez desde o Euro 2004, Ronaldo não é titular indiscutível na Seleção. O “primeiro dia do resto da vida” dele e das Quinas.
Passámos uma boa parte dos últimos anos, desde a final de Paris, a debater se a Seleção joga melhor com ou sem Ronaldo. Antes, quando Ronaldo tinha a capacidade de ser Deus Ex Machina e, do nada, marcar um ou dois golos e resolver uma partida, ambos os lados da discussão tinham validade. Nestes últimos meses, agora que os anos já pesam e Ronaldo não fez pré-época (mesmo que tenha sido por motivos legítimos), e depois deste jogo, as dúvidas estão a diminuir.
Confesso que não sei se estou preparada para a próxima fase. Ainda é muito cedo, foi apenas um jogo em que Ronaldo não foi titular. No entanto, receio que, quando a realidade assentar, a longo prazo, irá doer.
Ainda assim, gasta-se demasiada tinta digital com o madeirense: porque fez olhos tristes para Fernando Santos a certa altura, porque saiu demasiado cedo para os balneários. E… pobre Otávio. Fez uma bela exibição perante a Suíça mas, como a Joana Marques assinalou, teve de levar com inúmeras perguntas sobre Ronaldo na sua conferência de imprensa. Como disse um colega meu no outro dia, Portugal podia ganhar o Mundial e, no dia seguinte, as televisões todas gastariam horas a debater se Ronaldo estava mais feliz no 10 de julho ou no 18 de dezembro. Todas as câmaras apontadas a Ronaldo acabam por criar um efeito de lupa: ampliando, exacerbando coisas que, na verdade, são pequenas.
Não sei como foi com vocês, mas eu ia dando em doida com a direção que o debate a certa altura tomou. De repente, só tínhamos pessoas fazendo de Ronaldo um vilão ou pessoas preferindo que Portugal perdesse com Ronaldo a titular. Quase ninguém no meio.
Mas isso também é um produto das redes sociais. Os algoritmos preferem os extremos.
A única coisa que sei é que Ronaldo está a lidar com esta fase da sua carreira da melhor maneira que consegue. Nem sempre tem tomado as melhores atitudes, mas ele é humano. E, mesmo já não sendo titular inquestionável, a Seleção precisa dele. Como suplente de ouro, por exemplo – aliás, Ronaldo poderá ser importante se tivermos de ir a algum desempate por grandes penalidades. Nem que seja apenas com atitudes como o “Anda bater!” ou o consolo a Diogo Costa, no fim do jogo com Gana – isso também é importante.
Aliás, paradoxalmente, todo este assédio da imprensa poderá funcionar a favor deles. Poderá espicaçar Ronaldo o suficiente para ele e os colegas de equipa se unirem ainda mais, contra tudo e contra todos. Não seria a primeira vez.
Até porque uma das minhas coisas favoritas em relação ao momento atual da Equipa de Todos Nós tem sido o companheirismo entre os Marmanjos. As celebrações dos golos, os abraços, as veias salientes, as mensagens nas redes sociais, as declarações. Otávio à espera que o Gonçalo Ramos deixe o Benfica, William à espera que Ramos lhes pague um jantar (terá pago?), os conselhos de Bruno Fernandes ao jogar às cartas, Bruno tentando roubar-lhe o prémio de Melhor Jogador, Otávio tentando roubar-lhe a bola do hat-trick. Nem todas as equipas que cultivam este ambiente são bem sucedidas, mas não se pode ter sucesso sem esse espírito.
Agora espera-nos Marrocos nos quartos-de-final. Sim, é um adversário mais desejável para nós do que a nossa eterna besta negra Espanha, mas não significa que vá ser fácil. Daquilo que vi do jogo dos oitavos, eles gostam muito de contra-ataques. Além disso, Marrocos ainda não perdeu um jogo neste Mundial e só sofreu um golo – um auto-golo perante o Canadá. Os marroquinos nem sequer sofreram um “golo” no desempate por grandes penalidades perante os espanhóis. E assim deixaram a Espanha e a Bélgica para trás, como Bernardo Silva recordou.
À semelhança do que já tinha feito depois do jogo com o Uruguai, Fernando Santos reforçou a importância de mantermos os pés na Terra – faz bem. Referiu as dificuldades que Marrocos nos colocou no Mundial 2018 – embora, na minha opinião, o problema tenha sido mais termos jogado mal.
Uma vez mais, não vai ser nada fácil, mas eu acho que estará ao nosso alcance se fizermos as coisas bem. Se houve algo que se descobriu na terça-feira é o que acontece quando fazemos as coisas bem. Já é bom termos chegado aos quartos-de-final, sim, mas não chega. Quero mais. Todos queremos.
Uma coisa boa é o facto de, se continuarmos no Catar, a partir de agora, em princípio, nenhum jogo de Portugal no Mundial coincidirá com o meu trabalho. Os quartos são hoje. As meias-finais, se passarmos, serão quarta-feira, dia em que estou de folga à tarde.
Eu pedi esta folga há umas três semanas, juro que não foi de propósito – no que toca a este Mundial, só fiz mesmo planos para a fase de grupos. Aliás, se Portugal passar às meias, já tenho algo combinado… mas só digo o que é se for mesmo para a frente, se Portugal ganhar a Marrocos.
Por fim, tanto a final com o jogo do terceiro lugar serão no próximo fim de semana, à tarde.
Tenho colegas que planearam isto com mais fé do que eu. Um deles pediu há um par de semanas para sair mais cedo na quarta-feira pois fizera as contas assumindo que Portugal passaria em primeiro no grupo. Outro colega meu já está a fazer planos para ir buscar a Seleção ao aeroporto no dia 19.
Fico com inveja pois não consigo pensar na final ou mesmo nas meias-finais sem começar a hiperventilar. Já não me reconheço a mim mesma. Eu é que tenho o blogue, eu é que devia ser a grande adepta da Seleção. Quando é que me tornei tão cética? Uma das minhas colegas há um par de semanas até me disse que eu tinha de ter mais confiança em Portugal – quando eu disse que queria que ficássemos em primeiro para evitarmos o Brasil.
O que nos leva de volta à ideia de há pouco: eu estava enganada sobre a Seleção.
Esta é uma das minhas coisas favoritas em relação ao Mundial: as conversas sobre isso, não só com pessoas próximas, mas também com estranhos. Pessoas no café, utentes no trabalho. Na terça-feira, por exemplo, depois do jogo com a Suíça, foi quando fui passar a minha cadela e falei com outros donos de cães sobre a piada do Otávio, entre outras coisas. E este Mundial em especial convida a isso, com todas as surpresas.
Espero, então, continuar nesta festa, continuar a humilhar o meu lado mais cético. Alimentem as minhas ilusões, por favor – e nunca mais as quebrem.
Como sempre, obrigada pela vossa visita. Se pudrem, façam um donativo à Amnistia Internacional, que está a tentar ajudar os trabalhadores que construíram este campeonato. Continuem a acompanhar este louco Mundial comigo, quer aqui no blogue, quer na sua página de Facebook.
Na passada sexta-feira, dia 2 de dezembro, a Seleção Portuguesa de Futebol perdeu com a sua congénere sul-coreana por duas bolas contra uma, em jogo a contar para a fase de grupos do Mundial 2022. Apesar deste resultado, Portugal terminou o grupo em primeiro e seguiu para os oitavos de final da prova, onde irá defrontar a Suíça.
A isto sim, já estou mais habituada. Infelizmente.
Este foi outro jogo que vi em casa, com a minha irmã. Felizmente, desta feita os meus vizinhos não se fizeram ouvir. Como se previa, Portugal alinhou com um onze com várias mudanças – entre os titulares encontravam-se Ricardo Horta, Vitinha, Diogo Dalot, António Silva (que passou a ser o português mais jovem a representar Portugal num Campeonato do Mundo).
Depressa houve oportunidade de celebrar um golo: Pepe fez um grande passe, desde o meio campo coreano, para Diogo Dalot, que depois assistiu para Ricardo Horta se estrear a marcar neste Mundial.
Por acaso, uma parte de mim lembrou-se na altura que golos madrugadores costumam ser traiçoeiros. Aconteceu com a Sérvia no ano passado, por exemplo. Como neste jogo, ainda por cima, tínhamos a passagem mais do que garantida – pouco após a meia-hora de jogo o Uruguai já vencia o Gana por 2-0 – Portugal desacelerou. Isso, somado aos jogadores menos habituados uns aos outros, correu tão bem como devíamos ter calculado.
Ainda assim, houveram uns quantos portugueses que estiveram bem. Pepe continua ao nível de sempre. Dalot foi um dos melhores, provou merecer a titularidade. Ricardo Horta marcou o golo. Vitinha também esteve bem – destaque para estes passos de dança. Por fim, João Cancelo pareceu um pouco melhor jogando à esquerda. Mas nada disso chegou. Portugal só jogou bem durante os primeiros dez, quinze minutos do jogo.
A Coreia do Sul já tinha deixado um aviso uns minutos antes, com um golo anulado por fora-de-jogo. Pelos vistos, os portugueses não levaram a sério. No golo não anulado, Cristiano Ronaldo ficou mal na fotografia: aquando de um pontapé de canto favorável aos coreanos, Ronaldo encolheu-se todo, a bola bateu-lhe nas costas, sobrando para Kim Young-gwon rematar.
Mais um erro caricato para juntarmos à coleção. Daquelas coisas que só acontecem a quem faz. No entanto, Ronaldo só se pode culpar a si próprio. Andava com vontade de saber o que aconteceria quando o Capitão não pudesse apontar o dedo a outros.
Tive um vislumbre depressa.
Está na altura de falarmos do infame momento da substituição de Ronaldo, aos sessenta e cinco minutos de jogo. As câmaras captaram-no aparentemente reclamando que estavam com muita pressa de tirá-lo de campo – isto pontuado por termos mais coloridos.
Mais tarde, Fernando Santos e o próprio Ronaldo garantiriam que o Capitão se dirigia a um coreano qualquer. Ninguém acredita nisso. Ronaldo sabe falar inglês, porque falaria em português com um coreano?
Dito isto… não dá para ter a certeza do que aconteceu ali. Ele estava a dirigir-se a Fernando Santos? Ao André Silva? Estava a “vociferar”, como cheguei a ler, ou apenas a resmungar para si mesmo? (quem nunca? Um dos motivos pelos quais até gosto de trabalhar de máscara.)
Inicialmente, ia ser bastante crítica para com Ronaldo neste texto. Já o fui na página. Depois de pensar melhor no assunto, não tenho assim tanto em que me basear, não seria justo.
Na melhor das hipóteses, foi uma irritação momentânea, um mero desabafo de Ronaldo para os seus botões – todos sabemos que ele não gosta de ser substituído. A minha mãe diz que ele gosta de jogar, quer estar sempre em campo. Eu digo que ele é egoísta, põe as suas necessidades à frente das da equipa, é incapaz de se olhar ao espelho exceto para admirar a sua própria imagem.
Sim, na melhor das hipóteses.
Na pior das hipóteses, isto será o primeiro sintoma daquilo que eu mais temi depois da entrevista a Piers Morgan: Ronaldo cada vez mais afundado na sua negação, desautorizando Fernando Santos, voltando-se contra nós.
Lá está, não quero assumir já o pior. Para já, dou o benefício da dúvida. Para já.
E de qualquer forma… isto cansa. Faz-nos gastar tempo e energia, distrai-nos do resto da Seleção. E eu sei que nem tudo é culpa do próprio Ronaldo – ele definitivamente não convidou as câmaras a focarem-se nos seus lábios enquanto saía de campo.
E para quê, neste momento? O que é que Ronaldo tem feito por nós ultimamente, para além de atrair o interesse das multidões? Perante a Coreia do Sul não fez nada, até prejudicou. Neste momento, estamos com todas as desvantagens e quase nenhuma das vantagens.
Enfim. Esperemos que tenha sido só desta vez. Não quero ter de escrever sobre isto de novo.
À Coreia do Sul bastava um golo para conseguirem sobreviver à fase de grupos. A partir de certa altura, comecei a desejar que conseguissem marcar esse golo – mais para dar uma prenda a Paulo Bento do que por outro motivo qualquer, naquele momento. E como, de qualquer forma, não perderíamos o primeiro lugar… porque não?
Cheguei a pensar que os Marmanjos em campo tiveram a mesma ideia que eu. Pela maneira como, em cima dos noventa, Son Heung-min teve ali um corredor aberto para o contra-ataque, sem ninguém capaz de travá-lo, eu podia jurar que os portugueses fizeram de propósito. E foi uma bela assistência para o remate de Hwang Hee-Chan.
Não vou mentir, eu fiquei contente. Em parte pelo fator Paulo Bento, em parte porque era fácil simpatizar com os sul-coreanos. As imagens deles, jogadores e adeptos, de olhos ansiosos nos telemóveis depois do apito final, são deliciosas – eu própria nesta altura ia alternando entre canais. E, claro, a festa depois, com muitas lágrimas dentro e fora de campo. Os típicos underdogs, humildes mas ambiciosos, apaixonados, dando o seu melhor sem nada a perder.
Contrastem isto connosco: um grupo talentoso mas conformista, complacente, por vezes arrogante, demasiado preso às birras da sua maior estrela. E ainda mais com os uruguaios, que passaram os dias anteriores queixando-se do penálti contra eles no nosso jogo e foram super-agressivos para com a equipa de arbitragem durante o jogo com o Gana. José Maria Giménez foi particularmente execrável.
Por isso, não, ninguém teve pena do Uruguai. Os ganeses nem sequer se ralaram com a sua própria eliminação, pois contribuíram em parte para a desgraça dos seus amigos uruguaios. É certo que foi sobretudo pelo que aconteceu no Mundial 2010, mas mesmo assim.
Quanto a nós… infelizmente nada do que aconteceu na sexta-feira foi inédito, sobretudo no que toca aos últimos anos. Dito isto, se é para cometer erros e jogar mal, que seja em circunstâncias assim, sem consequências. Que não volte a acontecer e que se aproveite para aprender – como disse Tite, o selecionador brasileiro, num Mundial não costumam haver segundas oportunidades.
Já que falo nisso, sinto-me um pouco melhor por saber que também o Brasil e a França perderam no último jogo do grupo, mesmo já apurados.
O primeiro obstáculo no mata-mata é a Suíça. Vamos defrontá-los pela terceira vez este ano. Tivemos uma vitória e uma derrota – infelizmente, acho que a nossa vitória foi a exceção para os suíços, não a regra. Os suíços podem não ter o prestígio de uma França ou de uma Inglaterra, mas são uma equipa competente, muito boa a defender. Não vai ser fácil mas, se fizermos as coisas bem, estará ao nosso alcance.
Um grande “se”.
Por muito que me custe a admitir, tendo em conta as circunstâncias em todo deste campeonato discutidas aqui, este Mundial está a ser super divertido. Esta terceira jornada da fase de grupos, então… Equipas “grandes”, como a Alemanha, a Bélgica e a Dinamarca indo mais cedo para casa. Equipas menos “grandes”, como aqui a Coreia do Sul, o Japão e a Austrália, conseguindo passar. A Tunísia e os Camarões conseguindo vitórias perante a França e o Brasil, respetivamente, mesmo não lhes tendo servido de muito. Tem sido uma delícia.
Infelizmente, depois das surpresas da fase de grupos, até agora os oitavos estão a ser bastante previsíveis. A França venceu a Polónia, a Inglaterra venceu o Senegal e a Argentina venceu a Austrália. Pode ser que hajam surpresas amanhã ou depois... desde que nós não sejamos uma delas! Quero que Portugal continue nesta festa – e que, se possível, seja a derradeira surpresa.
Como sempre, obrigada pela vossa visita. Infelizmente volto ao trabalho amanhã, ou seja, terei menos tempo para ver jogos do Mundial e para escrever aqui. Em todo o caso, se passarmos aos quartos-de-final, vou tentar publicar a análise aos oitavos antes. Se puderem, façam um donativo à Amnistia Internacional, que está a ajudar os trabalhadores maltratados na construção deste campeonato. Continuem a sofrer e a divertir-se comigo, quer através deste blogue, quer através da sua página no Facebook.
Na passada segunda-feira, dia 28 de novembro, a Seleção Portuguesa de Futebol venceu a sua congénere uruguaia por duas bolas sem resposta. Com este resultado, a Seleção garantiu lugar nos oitavos de final do Mundial 2022.
O que é estranho.
Desta vez, não estava a trabalhar, vi o jogo em casa. Se tivesse sido mais cedo, teria tentado ir a uma esplanada, mas o jogo começou demasiado perto da hora do jantar. Infelizmente, isso significou levar com os spoilers dos vizinhos com uma ligação mais rápida do que a minha – algo de que não tinha saudades nenhumas.
Eu por mim via o jogo com a Coreia numa esplanada para tentar evitar isto, mas a minha irmã quer ver o jogo em casa. É fazer figas para que os vizinhos estejam a trabalhar…
Uma vez mais, aconteceu pouco de assinalável na primeira parte: domínio português mas longe de empolgar. Infelizmente, Nuno Mendes lesionou-se e teve de ser substituído antes do intervalo – o pobre saiu do campo em lágrimas. Hoje sabemos que não poderá competir mais neste Mundial. Uma crueldade do destino, ninguém merece, mas ele ainda é jovem. Com um bocadinho de sorte, ele terá outros Mundiais.
A melhor oportunidade na primeira parte pertenceu ao Uruguai, em cima da meia hora de jogo. Ironicamente, quem brilhou foi o nosso Diogo Costa: Rodrigo Betancur tinha passado por toda a gente na defesa portuguesa, eu já quase dava o golo como marcado, mas Diogo estava lá.
Como disse Iker Casillas, a nossa passagem aos oitavos começou aqui. Fico muito feliz por Diogo não se ter deixado afetar pelo erro que cometeu perante o Gana – mérito dele e dos colegas, que estiveram lá quando ele precisou. O miúdo é um espetáculo!
É suposto gritarmos “DIOGO!” em momentos destes?
A segunda parte do jogo foi mais animada, se bem que não com os níveis absurdos do jogo com o Gana. Parece que, neste Mundial, os nossos jogos estão fadados para incluírem um episódio caricato. No primeiro jogo foi o erro de Diogo Costa, neste foi a autoria do nosso primeiro golo.
À primeira vista pareceu-me golo de Cristiano Ronaldo – dá a ideia que ele toca na bola, ele festejou como se de facto tivesse marcado. Quando um jogador celebra assim, eu costumo acreditar nele – porque não haveria de fazê-lo? Eu pensava que o mesmo se aplicava a toda a gente – aplicou-se aos comentadores da SportTV e penso que aos da RTP também – mas falei com uma senhora que disse que viu logo que Ronaldo não tinha tocado na bola.
Em defesa de Ronaldo, a primeira indicação que lhe deram foi que, de facto, o golo era dele. Depois é que os ecrãs indicaram Bruno Fernandes como autor do golo. Por outro lado… Ronaldo senti-lo-ia se tivesse tocado ou não na bola, certo? Estaria a iludir-se a si mesmo? Não me admirava.
Ao mesmo tempo, toda a gente concorda que, mesmo não tendo marcado ele mesmo, o posicionamento de Ronaldo baralhou o guarda-redes o suficiente para que a bola entrasse. O que também não tira o mérito a Bruno Fernandes: foi um excelente cruzamento/remate.
Isto está longe de ser uma questão dramática, bem pelo contrário. Tenho-me divertido com as piadas – Ronaldo marcando por telecinese, o cabelo de Deus, tivesse ele o cabelo mais comprido, etc. Há quem critique Ronaldo por reclamar autoria do golo mas, embora tenham razão… as reclamações foram bem humoradas. Mais tarde, saiu de campo abraçado ao Bruno, claramente bem disposto. É certo que, depois, fez queixinhas trocou mensagens com Piers Morgan insistindo que o golo era dele mas, tirando isso… E depois de ter saído a peritagem da FIFA – “As bolas têm chips, como os cães e os gatos?”, perguntou-me a minha avó – ninguém da parte do Ronaldo ou da Seleção disse mais nada.
Sinceramente, não vale a pena atirar pedras a Ronaldo. Pelo menos não por isto.
Pelo meio, por volta dos setenta e cinco minutos, o poste travou um remate do Uruguai. Um sinal claro de que os deuses do futebol estavam do nosso lado naquela noite – apesar de, mais tarde, terem negado o hat-trick a Bruno Fernandes.
Em relação ao nosso penálti, vou ser sincera, tenho algumas dúvidas. Não sei que critério andam a usar para determinar o que é mão na bola e o que não é. A mim pareceu-me que José María Giménez estava a cair e usou aquela mão para se apoiar. No entanto, há quem alegue que a manobra foi deliberada e/ou pode ser abusada – os jogadores poderiam simular quedas para poderem usar as mãos.
Não sei. Não sei que chegue sobre o assunto para fazer um juízo definitivo.
Em todo o caso, como Ronaldo já tinha ido para o banco, Bruno Fernandes foi chamado a bater o penálti e fê-lo com mestria. Segundo Anthony Lopes, impossível de defender.
Em suma, Portugal não fez uma exibição de encher o olho, mas foi a equipa que mais fez por ganhar. Fomos justos vencedores.
Se me dissessem há duas semanas que Portugal se qualificaria para os oitavos-de-final do Mundial à segunda jornada, não acreditaria. Como escrevi aqui, não estava com grandes expectativas para este campeonato. Foram anos, sobretudo os últimos dois, de exibições medianas com o ocasional lampejo de qualidade, apuramentos falhados por um ponto. Desempenhos, em geral, não suficientemente bons para entusiasmar mas não suficientemente maus para correr de forma unânime com Fernando Santos.
Agora chegamos ao Catar e acontece isto. Duas vitórias num Mundial, algo que não acontecia desde 2006. Sobrevivemos à fase de grupos ao segundo jogo, algo que não acontecia desde o Euro 2008 – ainda no tempo de Luiz Felipe Scolari, este blogue era um bebé. Fomos a terceira equipa a passar aos oitavos, a seguir aos tubarões Brasil e França.
E o nosso grupo não é assim tão fácil. O Uruguai é o Uruguai e o Gana venceu a Coreia do Sul – provando que, não sendo tubarões, também não são sardinhas.
Que cronologia é esta, minha gente? Não estou habituada a isto – e não sou a única.
Até estou um bocadinho chateada porque as minhas férias estão quase no fim. Na(s) próxima(s) semana(s) já estarei a trabalhar, será mais difícil ver os jogos e ter tempo para o blogue. Um motivo extra para querer passar em primeiro neste grupo é porque, se o fizermos, jogamos terça-feira. Nesse dia estou a sair às sete e meia – o jogo começa às sete, ou seja, conseguia apanhar pelo menos a segunda parte. Na segunda-feira só saio às oito e meia, perderia o jogo todo.
Ao menos depois os quartos-de-final serão no sábado. Adiante disso… não me atrevo a olhar.
Como é óbvio, estou muito contente com o nosso desempenho até agora, orgulhosa dos nossos Marmanjos. Referências especiais para Diogo Costa, Pepe, William, João Félix, Bernardo Silva, Rafael Leão, Cristiano Ronaldo (até certo ponto mas, para as circunstâncias, não está mal), mesmo João Palhinha e Matheus Nunes.
E sobretudo Bruno Fernandes, a nossa maior figura.
Ainda assim, não consigo alinhar em grandes euforias. Em parte por incredulidade; em parte porque, apesar de tudo, não estamos a deslumbrar; em parte porque tenho medo. Tenho medo de ter demasiada esperança, de sonhar demasiado alto. Mais ou menos aquilo que sentia antes do Euro 2016, quando Fernando Santos falava em sermos campeões.
Até porque, na prática, ainda não ganhámos nada. Igualámos os nossos desempenhos no Mundial 2010 e no de 2018 ao sobrevivermos ao grupo. Nada nos garante que a nossa viagem não termine nos oitavos.
Dito isto… também nada nos garante que a viagem não continuará. Os nossos jogadores têm qualidade, estão motivados, houveram melhorias de um jogo para o outro. Se continuarmos a melhorar… porque não?
O que sugiro, assim, é um meio-termo. Olhar para a final, mas pensar jogo a jogo. Apontar para as estrelas, mas manter os pés no chão.
E, de qualquer forma, ainda nos falta um jogo neste grupo. Estou zangada por Paulo Bento se ter feito expulsar na segunda-feira. Queria vê-lo no banco, cumprimentando Pepe, Ronaldo, Rui Patrício e outros que ele costumava orientar.
Visto não estarmos obrigados a ganhar para ficarmos em primeiro, eu, à semelhança de toda a gente, espero que Fernando Santos rode a equipa – para gerir desgastes e cartões amarelos. Na minha opinião, temos talento suficiente nas segundas linhas para pelo menos empatarmos com a Coreia do Sul. Na verdade, os jogos do grupo G interessam-me quase tanto como os do nosso grupo: quero saber com quem iremos jogar nos oitavos.
Que os sinais positivos se cumpram e que o nosso sofrimento continue por mais umas jornadas. Sofram comigo, quer aqui no blogue, quer através da sua página de Facebook e façam um donativo à Amnistia Internacional, que está a tentar ajudar os trabalhadores que construíram este campeonato. Como sempre, obrigada pela vossa visita, mantenham-se desse lado.