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O Meu Clube É a Seleção!

Mulher de muitas paixões, a Seleção Nacional é uma delas.

Com um abraço para Paulo Bento

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Na passada sexta-feira, dia 2 de dezembro, a Seleção Portuguesa de Futebol perdeu com a sua congénere sul-coreana por duas bolas contra uma, em jogo a contar para a fase de grupos do Mundial 2022. Apesar deste resultado, Portugal terminou o grupo em primeiro e seguiu para os oitavos de final da prova, onde irá defrontar a Suíça.

 

A isto sim, já estou mais habituada. Infelizmente.

 

Este foi outro jogo que vi em casa, com a minha irmã. Felizmente, desta feita os meus vizinhos não se fizeram ouvir. Como se previa, Portugal alinhou com um onze com várias mudanças – entre os titulares encontravam-se Ricardo Horta, Vitinha, Diogo Dalot, António Silva (que passou a ser o português mais jovem a representar Portugal num Campeonato do Mundo).

 

Depressa houve oportunidade de celebrar um golo: Pepe fez um grande passe, desde o meio campo coreano, para Diogo Dalot, que depois assistiu para Ricardo Horta se estrear a marcar neste Mundial. 

 

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Por acaso, uma parte de mim lembrou-se na altura que golos madrugadores costumam ser traiçoeiros. Aconteceu com a Sérvia no ano passado, por exemplo. Como neste jogo, ainda por cima, tínhamos a passagem mais do que garantida – pouco após a meia-hora de jogo o Uruguai já vencia o Gana por 2-0 – Portugal desacelerou. Isso, somado aos jogadores menos habituados uns aos outros, correu tão bem como devíamos ter calculado.

 

Ainda assim, houveram uns quantos portugueses que estiveram bem. Pepe continua ao nível de sempre. Dalot foi um dos melhores, provou merecer a titularidade. Ricardo Horta marcou o golo. Vitinha também esteve bem – destaque para estes passos de dança. Por fim, João Cancelo pareceu um pouco melhor jogando à esquerda. Mas nada disso chegou. Portugal só jogou bem durante os primeiros dez, quinze minutos do jogo.

 

A Coreia do Sul já tinha deixado um aviso uns minutos antes, com um golo anulado por fora-de-jogo. Pelos vistos, os portugueses não levaram a sério. No golo não anulado, Cristiano Ronaldo ficou mal na fotografia: aquando de um pontapé de canto favorável aos coreanos, Ronaldo encolheu-se todo, a bola bateu-lhe nas costas, sobrando para Kim Young-gwon rematar.

 

Mais um erro caricato para juntarmos à coleção. Daquelas coisas que só acontecem a quem faz. No entanto, Ronaldo só se pode culpar a si próprio. Andava com vontade de saber o que aconteceria quando o Capitão não pudesse apontar o dedo a outros.

 

Tive um vislumbre depressa. 

 

Está na altura de falarmos do infame momento da substituição de Ronaldo, aos sessenta e cinco minutos de jogo. As câmaras captaram-no aparentemente reclamando que estavam com muita pressa de tirá-lo de campo – isto pontuado por termos mais coloridos.

 

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Mais tarde, Fernando Santos e o próprio Ronaldo garantiriam que o Capitão se dirigia a um coreano qualquer. Ninguém acredita nisso. Ronaldo sabe falar inglês, porque falaria em português com um coreano? 

 

Dito isto… não dá para ter a certeza do que aconteceu ali. Ele estava a dirigir-se a Fernando Santos? Ao André Silva? Estava a “vociferar”, como cheguei a ler, ou apenas a resmungar para si mesmo? (quem nunca? Um dos motivos pelos quais até gosto de trabalhar de máscara.)

 

Inicialmente, ia ser bastante crítica para com Ronaldo neste texto. Já o fui na página. Depois de pensar melhor no assunto, não tenho assim tanto em que me basear, não seria justo. 

 

Na melhor das hipóteses, foi uma irritação momentânea, um mero desabafo de Ronaldo para os seus botões – todos sabemos que ele não gosta de ser substituído. A minha mãe diz que ele gosta de jogar, quer estar sempre em campo. Eu digo que ele é egoísta, põe as suas necessidades à frente das da equipa, é incapaz de se olhar ao espelho exceto para admirar a sua própria imagem. 

 

Sim, na melhor das hipóteses.

 

Na pior das hipóteses, isto será o primeiro sintoma daquilo que eu mais temi depois da entrevista a Piers Morgan: Ronaldo cada vez mais afundado na sua negação, desautorizando Fernando Santos, voltando-se contra nós.

 

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Lá está, não quero assumir já o pior. Para já, dou o benefício da dúvida. Para já.

 

E de qualquer forma… isto cansa. Faz-nos gastar tempo e energia, distrai-nos do resto da Seleção. E eu sei que nem tudo é culpa do próprio Ronaldo – ele definitivamente não convidou as câmaras a focarem-se nos seus lábios enquanto saía de campo. 

 

E para quê, neste momento? O que é que Ronaldo tem feito por nós ultimamente, para além de atrair o interesse das multidões? Perante a Coreia do Sul não fez nada, até prejudicou. Neste momento, estamos com todas as desvantagens e quase nenhuma das vantagens.

 

Enfim. Esperemos que tenha sido só desta vez. Não quero ter de escrever sobre isto de novo.

 

À Coreia do Sul bastava um golo para conseguirem sobreviver à fase de grupos. A partir de certa altura, comecei a desejar que conseguissem marcar esse golo – mais para dar uma prenda a Paulo Bento do que por outro motivo qualquer, naquele momento. E como, de qualquer forma, não perderíamos o primeiro lugar… porque não?

 

Cheguei a pensar que os Marmanjos em campo tiveram a mesma ideia que eu. Pela maneira como, em cima dos noventa, Son Heung-min teve ali um corredor aberto para o contra-ataque, sem ninguém capaz de travá-lo, eu podia jurar que os portugueses fizeram de propósito. E foi uma bela assistência para o remate de Hwang Hee-Chan.

 

 

Não vou mentir, eu fiquei contente. Em parte pelo fator Paulo Bento, em parte porque era fácil simpatizar com os sul-coreanos. As imagens deles, jogadores e adeptos, de olhos ansiosos nos telemóveis depois do apito final, são deliciosas – eu própria nesta altura ia alternando entre canais. E, claro, a festa depois, com muitas lágrimas dentro e fora de campo. Os típicos underdogs, humildes mas ambiciosos, apaixonados, dando o seu melhor sem nada a perder. 

 

Contrastem isto connosco: um grupo talentoso mas conformista, complacente, por vezes arrogante, demasiado preso às birras da sua maior estrela. E ainda mais com os uruguaios, que passaram os dias anteriores queixando-se do penálti contra eles no nosso jogo e foram super-agressivos para com a equipa de arbitragem durante o jogo com o Gana. José Maria Giménez foi particularmente execrável.

 

Por isso, não, ninguém teve pena do Uruguai. Os ganeses nem sequer se ralaram com a sua própria eliminação, pois contribuíram em parte para a desgraça dos seus amigos uruguaios. É certo que foi sobretudo pelo que aconteceu no Mundial 2010, mas mesmo assim.

 

Quanto a nós… infelizmente nada do que aconteceu na sexta-feira foi inédito, sobretudo no que toca aos últimos anos. Dito isto, se é para cometer erros e jogar mal, que seja em circunstâncias assim, sem consequências. Que não volte a acontecer e que se aproveite para aprender – como disse Tite, o selecionador brasileiro, num Mundial não costumam haver segundas oportunidades. 

 

Já que falo nisso, sinto-me um pouco melhor por saber que também o Brasil e a França perderam no último jogo do grupo, mesmo já apurados.

 

O primeiro obstáculo no mata-mata é a Suíça. Vamos defrontá-los pela terceira vez este ano. Tivemos uma vitória e uma derrota – infelizmente, acho que a nossa vitória foi a exceção para os suíços, não a regra. Os suíços podem não ter o prestígio de uma França ou de uma Inglaterra, mas são uma equipa competente, muito boa a defender. Não vai ser fácil mas, se fizermos as coisas bem, estará ao nosso alcance.

 

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Um grande “se”. 

 

Por muito que me custe a admitir, tendo em conta as circunstâncias em todo deste campeonato discutidas aqui, este Mundial está a ser super divertido. Esta terceira jornada da fase de grupos, então… Equipas “grandes”, como a Alemanha, a Bélgica e a Dinamarca indo mais cedo para casa. Equipas menos “grandes”, como aqui a Coreia do Sul, o Japão e a Austrália, conseguindo passar. A Tunísia e os Camarões conseguindo vitórias perante a França e o Brasil, respetivamente, mesmo não lhes tendo servido de muito. Tem sido uma delícia.

 

Infelizmente, depois das surpresas da fase de grupos, até agora os oitavos estão a ser bastante previsíveis. A França venceu a Polónia, a Inglaterra venceu o Senegal e a Argentina venceu a Austrália. Pode ser que hajam surpresas amanhã ou depois... desde que nós não sejamos uma delas! Quero que Portugal continue nesta festa – e que, se possível, seja a derradeira surpresa.


Como sempre, obrigada pela vossa visita. Infelizmente volto ao trabalho amanhã, ou seja, terei menos tempo para ver jogos do Mundial e para escrever aqui. Em todo o caso, se passarmos aos quartos-de-final, vou tentar publicar a análise aos oitavos antes. Se puderem, façam um donativo à Amnistia Internacional, que está a ajudar os trabalhadores maltratados na construção deste campeonato. Continuem a sofrer e a divertir-se comigo, quer através deste blogue, quer através da sua página no Facebook.