À hora desta publicação, faltam pouco mais de duas semanas para o início do Euro 2024. Roberto Martínez Divulgou os Convocados para representar Portugal neste campeonato no passado dia 21 de maio. Pode-se dizer que já estamos em modo Europeu – ou, vá lá, quase.
Este campeonato vai ter – já está a ter – um sabor diferente. Um sabor nostálgico, aludindo a campeonatos anteriores.
Para começar, vai decorrer exatamente vinte anos depois do Euro 2004. “Euro 2024”, aliás, soa parecidíssimo a “Euro 2004” – o meu coração dá um pequeno salto sempre ouço este nome. Sobretudo agora na era das internetes, temos ciclos de nostalgia de vinte anos. E 2004 foi um ano marcante para mim. Foi quando comecei o Secundário, quando adotei novos interesses que mantenho até agora.
A Seleção será um dos maiores. Não é a primeira vez que o digo, não será a última. Foi com o Euro 2004 que o casamento começou – e chegámos à marca dos vinte anos! Tomara muitos!
Além de que foi, pura e simplesmente, um dos capítulos mais bonitos da história do futebol português. Matéria da qual são feitas as lendas. O espanto e a maravilha ainda não se dissiparam, mesmo passadas duas décadas.
Malta! O Ricardo defendeu um penálti decisivo sem luvas! E depois ele mesmo bateu o penálti seguinte, assegurando a nossa vitória. Coisas como esta não acontecem!
Por outro lado, este Europeu irá decorrer na Alemanha – o mesmo palco que o Mundial 2006, também ele com elevado valor nostálgico. Foi o melhor desempenho português em Mundiais que testemunhei até agora. Dá-me imenso gozo ouvir os nomes das cidades, depois de as ter aprendido rapidamente durante esse Mundial. As mais conhecidas Berlim, Munique, Frankfurt, Dusseldorf, claro, mas também Marienfeld (que vai voltar a ser o quartel-general da Seleção), Colónia, Gelsenkirchen – este último é o meu nome preferido.
O único denominador comum entre esses campeonatos e o atual é, claro, Cristiano Ronaldo, o único que continua no ativo. Dezoito, vinte anos depois, voltou a ser Convocado. Também temos Ricardo Carvalho e Ricardo Pereira (referido acima), mas como membros da equipa técnica.
Estamos velhos.
O terceiro fator nostálgico diz respeito aos nossos adversários nesta fase de grupos. A Turquia e a Chéquia também fizeram parte do nosso grupo no Euro 2008. A Geórgia não, mas realizámos um particular contra eles antes desse campeonato – o único, se a memória não me falha. A única recordação que tenho desse jogo é a fotografia do João Moutinho que usei como cabeçalho do texto que escrevi sobre esse jogo aqui no blogue. Ele foi um dos marcadores.
Nem me recordava do resultado, apenas que tínhamos ganho. Uma pesquisa rápida recordou-me que ganhámos por duas bolas contra zero. Mas falaremos melhor num texto futuro, quando olharmos melhor para os nossos adversários neste Europeu.
Não que o Euro 2008 em si tenha sido particularmente memorável. Mas sempre foi o primeiro campeonato que cobri com este blogue, há dezasseis anos.
Dezasseis anos, minha gente. Ainda há pouco tempo o Euro 2004 e o Mundial 2006 tinham sido há apenas meia dúzia de anos. De repente já lá vão duas décadas ou quase.
Algo em que reparei há pouco tempo é que este blogue passou metade da sua vida com uma Seleção sem títulos e a outra metade com título. Nesse sentido, seeria poético se conseguíssemos recuperar a Henri Delaunay este ano.
Vou dizê-lo já: este é capaz de ser o campeonato de seleções que encaro com maior otimismo em muitos anos. Da última vez era (mais) jovem e (mais) ingénua, claro. Agora estou confiante, sim, mas cautelosa. Temos o talento, tivemos os resultados na Qualificação, não temos Fernando Santos.
Mas já se sabe como são estas coisas. Tudo muito bonito, mas só conta quando a bola rolar.
Além disso, como temos vindo a assinalar, ainda não conhecemos Roberto Martínez assim tão bem, ainda não tivemos um desafio a sério. Não sabemos como irá esta Seleção reagir quando nos cruzarmos com um adversário de peso.
Nesse aspeto, uma coisa boa deste grupo teoricamente fácil – sublinhe-se o “teoricamente” – é que vamos continuar a ter um aumento mais ou menos linear em termos de dificuldade.
Confesso que ainda não me sinto bem em modo Europeu. Já não é a primeira vez que o digo. Para além de ter outras coisas ocorrendo na minha vida, já são muitos anos, há aspetos que já se tornaram rotineiros. Como a Divulgação dos Convocados. A atual geração tem tanto talento que é quase impossível fazer uma Convocatória má.
Claro que tenho os meus reparos. Não percebo o que é que Martínez tem contra Francisco Trincão e sobretudo Pedro Gonçalves. Eles não puderam vir ao Europeu porque falharam os amigáveis de março. Mas Pedro Neto e Diogo Jota – que não só falharam essa jornada como vêm de lesões prolongadas – puderam vir? Ainda compreendo mais ou menos a Chamada de Diogo Jota – ele tem currículo na Seleção, vários golos marcados. Pedro Neto, por outro lado, só conta cinco internacionalizações e um golo marcado num particular frente a Andorra.
Dito isto, não estou para me ralar demasiado com esta questão. Até porque nestes debates há sempre gente usando lentes da cor dos respectivos clubes. Quando é assim, é uma luta perdida. Além disso, nenhuma das desilusões dos últimos anos se deveu a problemas com os Convocados.
A única coisa que quero recordar da Convocatória é mesmo a reação do filho do João Palhinha.
A preparação do Europeu começou este domingo. Este é o primeiro campeonato de seleções “normal” que temos em anos. Está a decorrer na altura certa do ano, sem adiamentos ou outros condicionamentos provocados pela pandemia ou climas extremos. Temos três jogos de preparação antes do Europeu! Já não estava habituada a isto.
Por outro lado, tenho estranhado o início tão tardio do estágio de preparação. Vou ser sincera, não me agrada muito. Os Marmanjos vão jogar o primeiro amigável depois de o quê? Um treino? Dois?
Claro que compreendo a lógica. Toda a gente sabe como anda o calendário futebolístico – já não é a primeira vez que falamos disso. Andam a falar de uma possível greve de futebolistas. Esta semana de férias terá feito melhor a estes Marmanjos, em termos físicos e sobretudo psicológicos, do que uma semana de estágio, por muito leve que seja. Se isso significar exibições fraquinhas nos particulares e menos publicações nas redes sociais relacionadas com a Seleção… que assim seja. É um preço mais do que razoável.
Falemos então sobre estes três amigáveis. De referir que vou estar lá em dois deles. Comprei o bilhete para o primeiro, frente à Finlândia, em Alvalade, há poucos dias. Foi decisão de última hora. Estou de folga nessa tarde, não tenho outros planos, o Estádio fica perto da minha casa, a vida é curta. Porque não? É na loucura. E acho que nesta vez consegui um lugar decente. Lá está, não estou à espera de uma grande festa do futebol. Vou sobretudo pelo ambiente, pela festa, para ganhar entusiasmo para o Europeu.
Quanto à Finlândia, é a primeira vez que jogamos contra eles em mais de uma década. Os finlandeses foram nossos adversários na Qualificação para o Euro 2008. Ambos os jogos deram empate. Lembro-me vagamente do primeiro, em setembro de 2006. De ter achado que o empate era um bom resultado, depois de um desastrado particular contra a Dinamarca (cuja única coisa boa foi a estreia de Nani) e da expulsão de Ricardo Costa.
Do segundo empate, em novembro de 2007, recordo-me ainda menos. Apenas que foi o jogo de estreia de Pepe e da célebre conferência do “E o burro sou eu?” de Luiz Felipe Scolari.
Hoje revejo a cena e continuo sem perceber porque é que Scolari estava tão irritadiço. Dito isto, tendo em conta o que aconteceu em Qualificações posteriores, acho que Scolari não estava completamente errado. Seria preciso esperarmos oito anos até voltarmos a ter um Apuramento tão relativamente tranquilo quanto este.
Os dois jogos seguintes com a Finlândia foram particulares. Um deles foi em fevereiro de 2009. Uma vez mais, não me recordo de muito. Apenas que foi uma exibição medíocre, ao nível do que foi a era de Carlos Queiroz, sobretudo o primeiro ano. Só conseguimos ganhar por um golo de penálti de Cristiano Ronaldo – um de um total de dois golos que Ronaldo marcou nos dois anos de liderança de Queiroz.
Só para verem.
Finalmente, o outro particular decorreu em março de 2011, no primeiro ano do mandato de Paulo Bento. Desse não me lembro de nada. Só depois de pesquisar é que me recordei que foi o jogo de estreia de Rúben Micael e que este marcou dois golos.
Não pensava no Rúben há imensos anos, talvez quase uma década. Aparentemente já se reformou.
Por estes dias, a Finlândia está na Divisão B da Liga das Nações. Concluiu a Qualificação para o Euro 2024 atrás da Dinamarca e da Eslovénia, foi a play-offs, mas perdeu contra o País de Gales. Diria que são um adversário de nível médio. Ao nosso alcance.
Mais difícil será o jogo seguinte, com a Croácia. Está na Divisão A da Liga das Nações. Aliás, serão nossos adversários na fase de grupos da próxima edição da prova, este outono. Vêm ao Europeu depois de terem ficado em segundo lugar no grupo D da Qualificação – atrás da Turquia, um aviso para nós. Ficaram em terceiro lugar no último Mundial, depois de vencerem os nossos amigos marroquinos. Destaque para a figura Luka Modrić, que ainda por cima acaba de ganhar a Liga dos Campeões com o Real Madrid.
Ou seja, os croatas podem não ser a primeira seleção que vem à baila quando falamos de tubarões. Mas acho que podem ser considerados candidatos ao título europeu.
Dito isto, a Croácia já anda na mó de cima há uns anos, mas não têm impressionado quando se cruzam connosco. Destaque para a fase de grupos da Liga das Nações em 2020. Existirão atenuantes, claro, mas não deixa de ser estranho.
A ver o que acontece na Liga das Nações. Para já não é tão importante – isto é só um jogo particular. Em todo o caso, será o adversário mais difícil com quem nos cruzamos desde que Roberto Martínez assumiu as rédeas da Seleção. Será um bom teste.
O jogo terá lugar no Estádio Nacional e foi quase só por isso que comprei os bilhetes há já vários meses – venho com uma amiga. Já fui várias vezes ao Jamor. Para receber a Seleção depois do Mundial 2006 – o dia em que quase literalmente caí para o lado por causa do calor (importante tomar cuidado com isso agora no sábado). Para os treinos abertos no tempo de Paulo Bento (saudades). Mas nunca fui ver um jogo lá.
Em parte por falta de oportunidade. O último jogo da Seleção lá foi há uma década – frente à Grécia, curiosamente comandada por Fernando Santos, poucos meses antes de vir orientar Portugal.
Este sábado colmato essa falha, finalmente.
Por fim, vamos jogar contra a República da Irlanda no dia 11 no Estádio de Aveiro – o único particular a que não vou assistir ao vivo. Penso que já referi cá no blogue que este é um dos meus preferidos de todos os estádios construídos para o Euro 2004. No entanto, da última vez que passei por ele (penso que terá sido no final do ano passado), a fachada pareceu-me algo degradada.
O que, infelizmente, confirma as previsões mais pessimistas de há vinte anos: vários destes estádios virando elefantes brancos.
Quanto à República da Irlanda, esta falhou a Qualificação para o Euro 2004. Uma grande pena, tenho saudades dos seus adeptos. Estão na Divisão B da Liga das Nações. Em teoria, será o particular mais fácil destes três. Na prática, os últimos nossos dois jogos com eles, na Qualificação para o Mundial 2022, foram exibições medíocres.
Ou seja, não convém assumirmos facilidades. Mesmo que seja apenas um particular e o resultado não seja o mais importante.
É pouco provável que estes jogos tenham grande história. Ainda assim, é possível que eu escreva um par de textos antes da nossa estreia no Europeu, sobre estes jogos e sobre o que quer de interessante que ocorra durante a preparação. Vêm aí um par de feriados, em princípio até terei tempo.
Logo se vê. Um de certeza escrevo.
Posso ainda não me sentir muito entusiasmada, mas o meu interesse aumentará à medida que nos aproximarmos do início do Europeu – e com os particulares a que vou assistir. Aliás, basta-me consultar artigos sobre os possíveis caminhos de Portugal até à final de Berlim para sentir os familiares bichinhos no estômago. É o que eu digo, há muitas coisas que deixaram de ser novidade para mim mas, na hora H, o sofrimento é sempre o mesmo. Suspeito que só se tem tornado pior com o tempo.
Mas é também para isso que serve aqui o estaminé. Para catarse, para verter esse sofrimento para o papel e, depois, para o digital, para registar tudo para mais tarde recordar.
Como sempre, obrigada pela vossa visita. É mais um campeonato de seleções que começa. Acompanhemo-lo juntos, quer aqui no blogue, quer na página do Facebook. Até à próxima!
Na passada quinta-feira, dia 20 de março, Fernando Santos divulgou a lista de Convocados para representar Portugal no Euro 2020.
Isto já não é novidade para quem conheça este blogue há algum tempo. Para mim, o Europeu começa com a Convocatória. O que não é tão habitual para mim é só escrever depois da Divulgação. Deve-se a falta de tempo, em parte, mas também porque receei não ter muito a dizer sobre os Convocados – pelo menos não o suficiente para merecer um texto em separado.
Este vai ser um Europeu especial em muitos aspetos. Decorre com um ano de atraso (estamos em 2021, mas ainda lhe chamamos Euro 2020) e durante uma pandemia (mais sobre isso adiante). Será também um campeonato onde entramos como detentores do título – e com desejos de renová-lo.
O problema é que o caminho para a renovação passa pelo chamado Grupo da Morte, conforme vimos na altura – meu Deus, parece que o sorteio foi noutra vida!
Fernando Santos já disse que somos candidatos ao título, que “espera só regressar a 12 de julho”, ainda que admita que não somos favoritos. Eu concordo com essa ideia. Quero vencer o Europeu outra vez e hei de reforçá-lo nos próximos textos.
Hoje no entanto quero sacudir a pressão sobre os Marmanjos e dizer que, se não conseguirmos ganhar de novo, não faz (muito) mal porque, ao menos, já ganhámos uma vez.
Já lá vão quase cinco anos desde a final do Euro 2016, mas ainda não nos cansámos de falar sobre ela. Duvido que algum dia nos cansemos. Foi o primeiríssimo título após anos de ameaças, de excelentes jogadores. Além disso, o jogo em si foi uma epopeia, cheia de momentos e pormenores deliciosos, conforme recordei aqui.
É possível que fiquemos sem a Taça dentro de mês e meio. No entanto, nunca nos tirarão o 10 de julho. Teremos sempre Paris. Teremos sempre aquela final cinemática, as celebrações madrugada fora e no dia seguinte. Adversário nenhum pode roubar-nos recordações – mesmo que percamos faculdades mentais, temos o documentário “10 de julho”, ocasionais reposições do jogo, notícias, blogues como este e o testemunho verbal de milhões para nos reavivar a memória.
Tal como ninguém poderá tirar o Euro 2004 aos gregos, para mal dos nossos pecados.
Se tornarmos a ganhar, dificilmente será a mesma coisa, dificilmente será tão especial. Ou melhor, até pode ser especial, até podemos vir a ter outra epopeia, quer na final, quer nos jogos anteriores. Mas será diferente – e não terá aquele sabor de um sonho realizado ao fim de tanto tempo.
Será diferente sobretudo porque, ganhemos ou não no final, não vamos poder vivê-lo da mesma forma. Pandemia e tal. Veja-se o que aconteceu há coisa de duas semanas, quando o Sporting ganhou o campeonato (finalmente! A minha irmãzinha sportinguista já o merecia há muito!).
Concordo que foi uma imprudência o que aconteceu, para não dizer pior, que devia ter sido melhor planeado e ainda estamos para ver quais serão as consequências no controlo da doença.
Dito isto, não consigo ser demasiado dura para com os adeptos que saíram às ruas. Se tivesse sido a vitória no Europeu, eu também não ficava em casa. Há coisa de um ano, durante as ordens de confinamento, tínhamos um meme a circular pelas internetes mostrando um doente entubado com a seguinte legenda: "Que bem me soube aquele passeio pela Marginal”. Eu acho que existem por aí muitas pessoas que, mesmo que tivessem de ficar ligadas a um ventilador, pensariam “Ao menos pude ver o Sporting campeão, dezanove anos depois, e ir festejar para o Marquês”.
Eu mesma pensaria o mesmo, no lugar deles. Eu que não vou a jogos de futebol há quase dois anos e raramente fui tão feliz como quando festejei as conquistas do Europeu e da Liga das Nações.
Mesmo sem me colocar no lugar dos sportinguistas, eu gostei de ver pessoas nas ruas com camisolas e cachecóis futebolísticos, poucas horas antes do jogo com o Boavista. Já não via isso há mais de um ano – e como vivo mais ou menos a meio caminho entre o Estádio de Alvalade e o Estádio da Luz, antes da pandemia isto era uma visão habitual no meu bairro.
O pior é que isto não afeta só o individual – o nosso último ano, ano e meio teria sido muito mais fácil se assim fosse. Aqueles adeptos podiam não querer saber do coronavírus, mas isso pode não ser verdade para as pessoas que, mais tarde, contactaram com eles.
Tendo isto em conta, eu tentaria um meio-termo. Como fez a minha irmã: em vez de ir para a confusão do Marquês, ficou no Campo Grande, onde estava menos gente, e esteve sempre de máscara (pelo menos foi o que me disse).
Portanto, se voltarmos a ganhar o Europeu, dificilmente poderemos celebrar sem restrições. Talvez tenhamos mais liberdade do que agora: será daqui a um mês e meio, quase dois meses, mais pessoas estarão vacinadas, talvez a doença esteja mais controlada… mas teremos de ter cuidado à mesma, quase de certeza.
Mesmo antes, acho que não existirão fan zones, como aquela onde fui entrevistada durante o Mundial 2018. Eu tinha ficado com o desejo de ver um jogo de um Europeu ou Mundial desde essa altura – ou pelo menos numa esplanada. Em parte para evitar os meus vizinhos, que me dão spoilers dos golos em jogos desta envergadura. Mas até isso não deverá ser permitido.
E mesmo que o seja… serei capaz de fazê-lo sem medo ou culpa?
A vitória no Euro 2016 veio na altura certa por vários motivos – um deles por ter ocorrido quando ninguém sabia ainda o que era um coronavírus. Não havia necessidade de colocar entraves à nossa diversão, pudemos disfrutar como deve ser. Todas estas medidas preventivas – bem como o cansaço psicológico de viver em pandemia – estragam-me um pouco o entusiasmo por este Europeu.
Com um bocadinho de sorte, esse há de crescer à medida que nos aproximamos do Euro. Em todo o caso, fica o desabafo. Passemos à frente.
Acho que ninguém ficou muito surpreendido com a Convocatória para o Euro 2020. Era mais ou menos o que se esperava de Fernando Santos. A grande novidade é a inclusão de Pedro Gonçalves, também conhecido por Pote. Menos de vinte e quatro horas depois de se ter sagrado o melhor marcador da Liga Portuguesa – o primeiro português a consegui-lo desde… Domingos Paciência, que hoje é treinador e tem um filho profissional há já vários anos.
Eu não tinha a certeza de que Pote viria ao Europeu. A sua ausência nos jogos de março deu-me sinais confusos. Fernando Santos explicou que só não chamou Pote em março porque não teria tempo para observá-lo como deve ser. Como vimos na altura, foram três jogos em menos de uma semana, os treinos serviam para muito pouco.
Aceita-se.
Não tenho visto grandes objeções a esta lista. Muitos têm contestado a Chamada de William Carvalho, que tem jogado pouco no Bétis. Compreendo as críticas, mas também compreendo que William seja um jogador da confiança de Fernando Santos. Uma incoerência numa lista de vinte e seis não é problemática, na minha opinião – até porque também gosto de William.
Quanto à parte de só levar três centrais, aí concordo com a opinião popular: má ideia. Levamos dois centrais que, como diria Manuel José, já são quase avôs. Pepe falhou inclusivamente os dois últimos compromissos da Turma das Quinas por lesão – quem nos garante que ele não se lesiona outra vez, que estamos em fim de época? Fernando Santos diz que outros jogadores, como William ou Palhinha, podem jogar como defesas, se for necessário. Mas não seria mais seguro termos um central de raiz?
Além de que este continua a ser um setor que precisa de sangue novo. Temos o jovem Rúben Dias (que tinha dez anos quando Pepe se estreou na Seleção, quase podia ser filho dele), um dos melhores centrais da Europa atualmente, um dos nossos orgulhos, mas não chega. Se levássemos outro central – por exemplo, Rúben Semedo – matávamos dois coelhos com uma cajadada. A curto prazo, teríamos um central extra. A longo prazo, investíamos no futuro do setor defensivo.
Enfim, tudo isto são problemas menores na minha opinião. Temos um conjunto cheio de talento – vários que foram campeões pelos respectivos clubes, um que chegou à final da Liga Europa e três que estão na final da Liga dos Campeões (é refrescante por uma vez não ser o Ronaldo a chegar atrasado à Cidade do Futebol). Um grupo digno de tentar a revalidação do título. Além disso, Fernando Santos já nos ganhou dois títulos, merece a nossa confiança.
Dito isto, para os críticos de Fernando Santos (uns mais legítimos do que outros), esta será a prova dos nove. Aqui o Selecionador não se poderá esconder atrás do “ai e tal, tive pouco tempo para treinar”. Agora é que vamos ver se Fernando Santos é o homem certo no lugar certo ou se o seu tempo já acabou.
A preparação começa oficialmente amanhã. Posso ter começado este texto retirando a pressão sobre os ombros dos Marmanjos, mas isso não significa que não quero a Taça – nem que não vou ficar triste se não a conseguirmos. Mesmo que não dê para celebrar da forma que desejo, quero vitórias à mesma. Não vai ser fácil, mas eu acredito na Seleção. Sei que temos capacidade para sobreviver a este grupo difícil – e, dos oitavos-de-final para a frente, tudo é possível.
Vale a pena recordar que serão jogos de muito sofrimento. Repito o conselho que dei em dezembro de 2019: preparem-se (sobretudo se forem do Sporting, o vosso coração já teve a sua dose esta época). Se calhar já não vão a tempo de irem ao cardiologista, mas tentem arranjar receitas para comprimidos de nitroglicerina, para meter debaixo da língua nas alturas mais difíceis.
No que toca a este blogue, não se chegou a confirmar aquilo de que falei no meu último texto: ainda tenho tempo para escrever aqui. No entanto, as coisas deverão mudar à mesma, porque estamos a falar de um campeonato longo de seleções. O Mundial 2018 foi um período muito stressante para mim, tentando conjugar o blogue com um emprego recente. Na altura prometi a mim mesma que, no próximo campeonato de seleções deste género, tiraria pelo menos alguns dias de férias.
O pior é que estou outra vez num emprego novo – ainda não posso tirar férias. Isto não teria acontecido se o Europeu tivesse decorrido na altura certa, maldita pandemia!
Assim, mantenho o plano de fazer as coisas de maneira um pouco diferente. Não me vou obrigar a escrever um texto para cada um dos jogos, para começar. Escreverei e publicarei quando conseguir – vou falando sobre os meus planos na página do Facebook. A prazo mais curto, não deverei publicar antes do jogo com a Espanha – jogámos com eles há pouco tempo, não há muito a dizer sobre os espanhóis – a menos que surja algo de interessante nos primeiros dias da preparação.
Como habitual, obrigada pela vossa visita. Estou ansiosa por viver este Europeu na vossa companhia. Esperemos que termine da mesma maneira que o último.
No dia 17 de maio, Fernando Santos, o Selecionador Nacional Divulgou os Convocados que representarão Portugal no Mundial 2018.
Tal, no entanto, acabou por passar quase despercebido perante outros acontecimentos que abalaram o mundo desportivo. Não falei disso no texto Pré-Convocados pois tinha-o concluído e agendado para publicação uns dias antes. Eu, de início, não queria escrever sobre o assunto porque, em primeiro lugar, foge um pouco ao âmbito deste blogue. Em segundo, achava que não tinha nada a dizer que milhentas outras vozes não tivessem dito já.
No entanto, quando no domingo passado, vi o Rui Patrício em lágrimas no Jamor, no fim daquela que deve ter sido a pior semana da sua vida – o Rui Patrício, dono da baliza das Quinas há seis ou sete anos, um dos principais responsáveis pelo primeiro e até agora único título da Seleção, que eu já tive o privilégio de encontrar na rua – descobri que não conseguia ficar calada.
Eu acho que já expliquei algures aqui no blogue que deixei de apoiar clubes de futebol – no meu caso, o Sporting – por causa do fanatismo que existe no futebol de clubes. Mas julgo que nunca dei pormenores.
Foi na época de 2003/2004, eu tinha catorze anos. Andavam a ocorrer vários episódios degradantes, como o alegado rasgão de José Mourinho à camisola do Rui Jorge, cenas de violência no jogo entre o Vitória de Guimarães e o Boavista – no estádio onde, uma semana antes, morrera Miklos Feher. Estava a ficar saturada.
A última gota foi o dérbi em Alvalade, no qual adeptos do Sporting invadiram o campo – com intenções parecidas às daqueles que invadiram Alcochete no outro dia, suponho.
Nesse dia decidi que não queria estar associada a este tipo de comportamento. Decidi que o meu clube seria apenas a Seleção. Cerca de um mês ou dois mais tarde deu-se o Euro 2004 e nunca mais olhei para trás.
Bem, mais ou menos. Nunca quis reverter a minha decisão, mas existiram alturas em que me perguntei se tinha sido demasiado radical. Os clubes não são corruptos por si só, o mal vem das pessoas. Existem pessoas boas e más em todos os clubes, como em tudo na vida.
A minha irmã, por exemplo, é uma boa pessoa no futebol de clubes. Adepta do Sporting, devota ao seu clube sem fanatismos exagerados, ainda mais resiliente do que eu – porque o clube dela dá menos retorno do que a Seleção que tem dado.
Assim, ao longo dos anos, permiti a mim mesma ir apreciando o futebol de clubes aqui e ali – apoiando todos e nenhum em particular. Acompanho a minha irmã a jogos do Sporting, mas se alguém me convidar a um jogo do Benfica, do F.C.Porto ou de outro clube qualquer não recusarei. Admito que, na maior parte dos casos, prefiro que o Sporting ganhe para ver a minha irmã feliz, mas se ganhar outro qualquer não me ralo. E se é um clube português numa competição europeia e/ou um clube onde alinhem jogadores portugueses, é óbvio que torço por eles.
Esta época, no entanto, foi mais degradante do que o costume, sendo-me mais difícil acompanhá-la. Bitaites de diretores de comunicação, polémicas em torno de arbitragens (quem é que foi a alminha iluminada que achou boa ideia testar o video-árbitro em Portugal?), envelopes, e-mails, toupeiras, claques cantando pela morte de jogadores… A minha mente foi simpática ao ponto de me fazer esquecer a maior parte dos pormenores.
Fui a alguns jogos do Sporting com a minha irmã esta época mas, a partir de certa altura, comecei a recusar os convites dela (tirando para o jogo com o Atlético de Madrid). Já não aguentava a falta de educação de inúmeros adeptos, que insultavam o árbitro, os jogadores e adeptos adversários, até mesmo os jogadores que deviam apoiar. Isto na presença de crianças!
Não digo que estivesse a ser diferente de outras épocas. É possível que eu estivesse menos tolerante para estas coisas, com tudo o que se estava a passar fora das quatro linhas.
Um dos responsáveis (não o único, bem entendido) por este ambiente tóxico no futebol português é o presidente do Sporting – um sujeito com tiques de ditador que, todos concordam, contribui para o que aconteceu em Alcochete.
Eu já vi muita coisa no futebol português, mas nunca nada como isto. Não digo que tenha sido o mais baixo de sempre porque, mal por mal, não morreu ninguém, ao contrário de outras ocasiões. Mas fiquei deveras perturbada. Todos vimos as imagens do balneário, os ferimentos de Bas Dost (a quem a minha irmã se afeiçoou, como se afeiçoa a quase todos os que vestem as cores do Sporting). Mal consigo ler relatos do que aconteceu, como um que referia que o treinador, Jorge Jesus, foi agredido com um cinto e que, mais tarde, Bas Dost chorara ao ombro do treinador, perguntando o que fizera para merecer aquilo.
Permitam-me a pergunta: como é que há pessoas capazes de fazer isto? Por futebol? Isto são coisas que se ensinam a criancinhas mas, pelos vistos, é preciso dizê-lo: isto é só futebol! Ninguém morre se se perde um jogo ou se se termina um campeonato em terceiro lugar em vez de segundo (eu, aliás, já vi o Sporting a fazer épocas bem piores do que esta). Não vou dizer que não interessa para nada – todos nós sabemos que existe muito dinheiro e muitas carreiras em jogo. Mas não justifica, nem de longe nem de perto, atitudes violentas como estas. E, como se não fossem suficientemente más por si mesmas, foram contra jogadores do próprio clube.
Não sou assim tão ingénua, sei perfeitamente que a extrema-direta neonazi está ligada às claques, não apenas a do Sporting. Ainda assim, falando estritamente da perspetiva de um adepto fanático… que esperavam eles alcançar? Tudo o que conseguiram fazer foi com que jogadores e equipa técnica ganhasse motivo para debandar a custo zero (com todas as consequências financeiras para o clube), não treinasse ao longo do resto da semana e perdesse a Taça de Portugal – porque quem está em condições para um jogo daquela envergadura depois de uma situação como a de Alcochete?
E ainda houveram muitos que se puseram a criticar o desempenho dos jogadores na final da Taça – a sério, pá, nunca ninguém ouviu falar em empatia?!?
Com metade da massa adepta a maltratá-los, alguns deles fisicamente, e um Presidente que não os defende e ainda os culpabiliza pelo que aconteceu, se eu estivesse no lugar dos jogadores punha-me a andar. Eles merecem muito melhor do que isto. A minha irmã merece muito melhor do que isto (mesmo antes desta situação, o clube anda há muito em dívida para com ela), bem como todos os adeptos civilizados, do Sporting e não só. O futebol português, Campeão Europeu ainda para mais, merece melhor do que isto.
Por outro lado, se de facto a equipa debandar, ficarei triste pela minha irmã e pelos jogadores da Seleção que eventualmente saírem. Rui Patrício, por exemplo, tem capacidade para jogar nos grandes da Europa, mas no Sporting é rei e senhor da baliza – quem nos garante que terá espaço no Nápoles ou noutro clube que o contrate?
O que eu sei é que precisamos todos de parar e refletir sobre o rumo que as coisas estão a tomar no futebol português. Como já outros comentaram aqui no Sapo Blogs, não queremos que a violência tomem conta do futebol. Mas confesso que não estou com grandes esperanças.
Com tudo isto, que ninguém se venha queixar do eventual circo publicitário e mediático em torno da Seleção, durante o Mundial!
Fernando Santos disse o que tinha a dizer sobre o assunto aquando da Divulgação dos Convocados e diz que não tornará a falar sobre isso durante o Mundial e a sua preparação. De igual modo, espero não ter de voltar a escrever sobre isto de novo. Calha bem os jogadores irem agora de férias ou para as seleções – mudam de ares, para ambientes mais saudáveis. No nosso caso pelo menos. Como em muitas outras alturas, em diferentes circunstâncias, a Seleção serve de oásis, de refúgio, à parte das facetas mais tóxicas do futebol.
Com isto tudo, vamos em bem mais de mil palavras e ainda nem sequer falámos dos Convocados. Desta feita, não houve grande contestação em torno dos Escolhidos para o Mundial. Não sei se é porque as Escolhas foram, no geral, acertadas ou consensuais ou se estava tudo distraído com o que aconteceu no Sporting.
A segunda hipótese será, quase de certeza, verdade, mas acho que a primeira também é. E, da minha experiência, quando não existe grande contestação aos Convocados, as coisas correm bem.
A maior novidade na lista é o central Rúben dias. Já tínhamos falado sobre ele há pouco tempo, mas a lesão que tinha na altura não o deixou vir à Turma das Quinas para aquela jornada de particulares. Cheguei a temer que Fernando Santos o deixasse de fora do Mundial – ele dera a entender que dificilmente Convocaria jogadores que nunca tivessem vindo antes à Equipa de Todos Nós. Felizmente, abriu uma exceção para o Rúben.
Eu teria levado o Rolando ao Mundial, mas compreendo que Fernando Santos tenha preferido José Fonte. Como ele foi para a China, tinha algumas dúvidas, mas consta que ele tem jogado com regularidade por lá.
Eu vou confiar.
Fábio Coentrão ficou de fora do Mundial por vontade própria – ele mesmo o afirmou um dias antes da Divulgação dos Convocados, nas redes sociais. E fico triste, pois ele finalmente teve uma época feliz, mas é melhor assim. A sua forma física continua a deixar muito a desejar. Ia ser uma chatice se ele se lesionasse a meio do campeonato, sem poder ser substituído, tal como aconteceu no último Mundial. Com ele e… dois terços da equipa.
Em vez dele, foi Convocado Raphael Guerreiro. Eu fico satisfeita, porque gosto bastante dele como jogador… mas também tenho algumas dúvidas em relação ao seu momento de forma, já que passou a época debatendo-se com lesões. Pode ser que esteja a cem por cento agora. Para além do Raphael, também veio Mário Rui que, segundo consta, fez uma boa época ao serviço do Nápoles.
Confesso que estou aliviada por André Gomes ter ficado de fora. Receei, a certa altura, que Fernando Santos estivesse demasiado enviesado em relação a ele, quando existem melhores opções neste momento. Felizmente isso não aconteceu. Gostei, aliás, que Fernando Santos tivesse admitido que lhe custava não Convocar Campeões Europeus ainda no ativo.
O que nos leva a um par de ausências significativas nesta lista: Éder e Nani. A situação do primeiro é semelhante à do ano passado, para a Taça das Confederações (e, aviso à navegação, as gracinhas do género como-é-que-vamos-ser-campeões-sem-o-Éder-para-marcar-na-final deixaram de ter piada há muito tempo).
A situação do segundo, por sua vez, entristece-me, ainda mais do que a do Éder. Como já devem saber, o Nani é um dos meus preferidos há quase doze anos. Tem estado presente em todas as Convocatórias desde a inauguração deste blogue – embora não tenha chegado a ir ao Mundial 2010, por lesão.
Esta época, no entanto, não lhe correu bem e existem inúmeras boas opções para a posição dele. Custa um bocadinho não vê-lo no grupo, durante os jogos, os treinos, as publicações nas redes sociais.
É a lei da vida, suponho eu. Nada nem ninguém dura para sempre. Ao menos pude vê-lo tornar-se Campeão Europeu.
Além disso, temos uma série de nomes promissores estreando-se no Mundial. Já falámos de Rúben Dias e Mário Rui. Temos também Ricardo Pereira, André Silva, Bruno Fernandes, Gelson Martins e, claro, Gonçalo Guedes e Bernardo Silva (só faltou mesmo Rúben Neves).
Sim. É um bom grupo.
Já vamos em seis dias de Operação Mundial e, amanhã, temos um particular na segunda-feira, frente à Tunísia. Esta seleção também está apurada para o Mundial – está no grupo G, com a Bélgica, a Inglaterra e o Panamá – e em 41º no ranking da FIFA (que vale o que vale).
Mais uma vez, o nosso historial frente a ela é reduzido: um particular em outubro de 2002. Não dá para tirar muitas ilações pois foi só um jogo e decorreu numa altura estranha para a Equipa das Quinas – nos meses entre a saída de António Oliveira, despedido após o Mundial 2002, e a chegada de Luiz Felipe Scolari, em 2003.
A Tunísia foi escolhida para fazer de Marrocos neste ensaio do Mundial. Curiosamente, depois do jogo de amanhã, os tunisinos vão jogar contra a Espanha no dia 9. Tivemos a mesma ideia que nuestros hermanos para nos preparamos para Marrocos.
Por outro lado, será que os tunisinos vão jogar connosco por eventuais semelhanças que tenhamos com os adversários deles? Vamos fazer de quem no ensaio de amanhã? De Inglaterra? De Bélgica? (De Panamá não deve ser…) Ou não fizeram questão de escolher com base no grupo deles, limitando-se a aceitar a proposta de Portugal?
Agora fiquei curiosa…
Enfim, estamos apenas no início desta história. Só para concluir a questão anterior, espero que recordemos estas semanas, menos pela crise sem precedentes no Sporting, e mais por um bom desempenho no Mundial da Rússia. Acredito que Fernando Santos e o resto da Equipa de Todos Nós pensam da mesma forma e estão a trabalhar para isso. Pode ser que vejamos alguns frutos desse trabalho no jogo de amanhã.
Obrigada pela vossa visita, como sempre. Acompanhem o resto da Operação Mundial aqui no blogue ou na página do Facebook.
Cá vamos nós pela sexta vez (sétima, se quiserem contar com a Taça das Confederações). Fernando Santos Divulga hoje à noite, pelas oito e um quarto, a lista de Convocados para representar Portugal no Mundial 2018. Como já é hábito deste o primeiro dia deste blogue, eis-me aqui com alguns devaneios antes de, pelo menos na minha cabeça, entrarmos em modo Mundial.
Antes de falarmos especificamente sobre a nossa Seleção, algumas palavras sobre o campeonato em geral. Não sei se alguém se lembra disso, mas Portugal chegou a candidatar-se para albergar este Mundial, em conjunto com a Espanha. Na altura em que perdermos para a Rússia, reagi com imensa ingenuidade. No entanto, agora toda a gente sabe que houve dinheiro debaixo da mesa aquando da escolha da Rússia.
Não seria melhor transformarmos as candidaturas ao Mundial num leilão? Sempre era mais transparente.
Podem ter existido inúmeras pessoas aliviadas por Portugal e Espanha não terem vencido o concurso. Mesmo assim, agora que já estamos em 2018, sinceramente, se havia boa altura para organizarmos um Mundial (ou, vá lá, parte dele), era este ano. Para além de sermos Campeões Europeus, Portugal está na moda. Temos a Madonna a viver cá, ainda na semana passada recebemos o Festival da Canção, recebemos o Web Summit no ano passado e existem vários portugueses destacando-se em diversas áreas, não apenas no futebol. Podíamos perfeitamente receber uma mão-cheia de jogos do Campeonato do Mundo.
Sempre era melhor do que fazê-lo na Rússia, um país que tem sido o epicentro de inúmeros conflitos diplomáticos nos últimos meses e onde a homofobia é bem tolerada. Just sayin’...
A mesma lógica aplica-se às candidaturas a cidades-anfitriãs do Euro 2020. Chegou a colocar-se a hipótese de candidatar Lisboa e Porto, mas acabaram por nem sequer fazê-lo. Compreendo as razões: em 2014 a situação do país era um bocadinho pior do que agora, ninguém podia adivinhar que Portugal se tornaria um popular destino turístico e ainda menos que se tornaria Campeão Europeu.
Enfim, passemos à frente.
Sendo este o nosso primeiro campeonato de seleções após a sagração no Euro 2016 (mais uma vez, sem contar com a Taça das Confederações), muitos adeptos têm vindo há muito tempo (alguns ainda nem dois dias após a final de Paris) a apontar ao título mundial.
O que é que eu acho sobre isso? Que é preciso ter calma.
Existe a tentação de colocar Europeus e Mundiais dentro do mesmo saco. Eu mesma fi-lo durante muitos anos, quando, na verdade, são campeonatos muito diferentes. Num Europeu participam seleções de um único continente, que se conhecem bem. É quase garantido que já nos cruzámos algumas vezes com os adversários antes, não só noutros Europeus e Mundiais mas também em fases de Qualificação ou em jogos particulares.
Mesmo saindo do âmbito das seleções, os jogadores quase todos atuarão em clubes europeus. É possível que já se tenham cruzado com membros das seleções adversárias ou nos campeonatos internos ou na Liga dos Campeões ou Liga Europa. Não há grandes mistérios.
Num Mundial não é bem assim. Até podemos apanhar uma ou outra seleção europeia, mas muitos dos nossos adversários são equipas de outros continentes. Em muitos casos, o nosso historial com equipas dessas reduz-se a meia-dúzia de jogos ou menos – porque não disputamos Qualificações contra eles e porque não é viável marcar particulares contra eles (quem quer sujeitar a sua equipa a um voo longo e cansativo para disputar um jogo a feijões?). Pode existir uma mão-cheia de jogadores nessas equipas que até atuem em campeonatos europeus, sobretudo na América do Sul, mas não sei até que ponto isso influencia o estilo de jogo das seleções.
E depois temos a distância e as condições meteorológicas – conforme vimos em 2002 e, mais recentemente, em2014. Não acho que seja uma coincidência o facto de os dois únicos Mundiais que nos correram bem tenham tido lugar em países europeus (1966, Inglaterra, terceiro lugar: 2006, Alemanha, quarto lugar).
De facto, basta comparar o nosso historial em Europeus e Mundiais para se notar a diferença. Só participámos em (*conta pelos dedos*) seis Mundiais. Em dois chegámos às meias-finais, em um chegámos aos oitavos-de-final, nos outros todos não passámos da fase de grupos.
Em contraste, sempre que participámos em Europeus (e não falhamos nenhum desde 1996, inclusive), chegámos sempre aos quartos-de-final, no mínimo. Nos últimos vinte anos, só em 2008 é que não chegámos às meias, pelo menos. Conforme tenho vindo a dizer (sobretudo àqueles que dizem que a nossa vitória em Paris veio do nada, foi apenas sorte), éramos a seleção com melhor historial em Europeus sem nunca termos ganho. Levarmos a Taça para casa era apenas uma questão de tempo.
O que, mesmo assim, não impediu as minhas neuroses quando Fernando Santos se pôs a dizer que queria ganhar o Euro 2016. Mas isso sou eu.
Muita água terá de correr ainda antes de conseguirmos um currículo assim em Mundiais. Não que isso signifique que será impossível ganharmos, claro que não, mas isso é que, sim, viria quase do nada.
Não é de surpreender que, desta feita, Fernando Santos tenha um discurso mais sóbrio e cauteloso – embora não deixe de dizer que o título é um objetivo. Em entrevista ao jornal “O Jogo”, no início do mês, disse que “não podemos pensar que somos favoritos no Mundial porque ganhámos o Europeu.” “Não vou deixar que se embandeire em arco, achando-se que a equipa vai chegar à Rússia, vai ganhar e que o contrário será uma grande complicação.” “Mas também temos a confiança absoluta de que somos capazes de lutar [com os principais candidatos] e será muito difícil ganhar a Portugal.” “Tudo passa por um grande respeito por todos os adversários, com a confiança de que podemos ganhar os jogos.”
Devo confessar que os meus prognósticos andam muito voláteis, não sei muito bem o que esperar. Por um lado, tenho medo de um descalabro semelhante ao dos últimos dois Mundiais (não que o desempenho em 2010 em si tenha sido assim tão mau. Pior foi o que aconteceu depois).
Por outro… já tivemos menos hipóteses de ganhar o Mundial, na minha opinião. Somos Campeões Europeus – não nos dá automaticamente o estatuto de favoritos, mas não é de desprezar. Em três anos e meio só contamos uma derrota em jogos oficiais. O Mundial decorrerá num país europeu, onde a meteorologia não será um problema – nós, aliás, estivemos lá no ano passado, logo, sabemos mais ou menos o que nos espera. Por fim, temos Cristiano Ronaldo.
Se é para tentar o título, é melhor ser agora.
Dito isto tudo, se não conseguirmos ganhar o Mundial, temos de encará-lo com naturalidade. Espero que, de qualquer forma, seja uma participação digna de um Campeão Europeu. Ou pelo menos que não seja uma tragédia completa, como da última vez.
O resto é a mesma conversa dos últimos dez anos: vamos tentar disfrutar do momento, do estágio de preparação, dos particulares, de eventuais campanhas de marketing que a Federação esteja a preparar e, claro, dos jogos em si. Ainda não sei ao certo como vou dar conta do recado aqui com o blogue – é possível que, por exemplo, tenha de escrever sobre dois jogos na mesma crónica – mas vou fazer um esforço. De qualquer forma, não deixarei de manter a página do Facebook atualizada.
E era isto o que queria dizer. Venham daí os Convocados! (Hoje à noite, às 20h15)
Na passada terça-feira, dia 17 de maio, na Cidade do Futebol, Fernando Santos divulgou os vinte e três Eleitos para representar Portugal no Euro 2016.
Ao contrário de Convocatórias anteriores, não houve grande cerimónia na apresentação dos vinte e três nomes: o Selecionador leu a lista e passou de imediato às perguntas e respostas. Eu prefiro assim. Geralmente quando existe demasiada pompa e circunstância no momento da Convocatória - isto é, quando Selecionador e Federação se levam demasiado a sério - a coisa acaba por correr mal. Não sei se as duas coisas estão diretamente relacionadas, mas foi o que aconteceu em 2010 e 2014.
Dito isto, gosto imenso do vídeo que a Federação partilhou nas redes sociais. Vejam abaixo.
Conforme muitos têm expectado, esta é uma convocatória expectável, coerente com os princípios por que Fernando Santos se tem regido enquanto Selecionador. Vários têm dito que não há "surpresas", apenas uma "novidade" chamada Renato Sanches. Pessoalmente, eu não diria que a Eleição do jovem é uma novidade - ele já tinha sido Convocado para a última dupla jornada de particulares. Renato beneficia da lesão muito recente de Bernardo Silva, que terá facilitado as Escolhas de Fernando Santos. Há quem diga que a Chamada de Renato não faz assim tanto sentido, que teria sido melhor Convocar Pizzi, por exemplo. Para ser sincera, contudo, se Renato tivesse sido deixado de fora, mesmo que por motivos legítimos, metade do país atirar-se-ia ao ar. Depois de o Benfica se ter sagrado campeão? Depois de Renato se ter transferido para o Bayern de Munique? Não Convocá-lo daria direito a cadeira elétrica!
Eu continuo sem saber se Renato será capaz de lidar com esta pressão toda. Quer da parte dos apoiantes, que já vêm a Seleção como Renato-mais-dez, quer da parte dos adversários, incapazes de ultrapassar as suas azias clubísticas De qualquer forma, Renato dificilmente será titular, pelo menos não nos primeiros jogos. Talvez isso lhe alivie a pressão.
Entretanto, Fábio Coentrão lesionou-se há cerca de um mês e não recupera a tempo do Europeu, o que me deixa de coração partido. Em campeonatos de seleções ele tem sido um dos preferidos, muito graças à sua constante irreverência e inconformismo. O Euro 2016 não será o mesmo sem ele. A única coisa boa que deriva da lesão dele é ter permitido a Convocatória de Raphael Guerreiro. Não vou reclamar muito contra a Convocatória de Eliseu porque ele tem feito um bom trabalho no Benfica - destaque para a assistência perfeita para o golo de Jiménez, contra o Bayern. No entanto, vou fazer figas para que Guerreiro seja titular, que ele na Seleção tem jogado melhor que Eliseu.
Outro Marmanjo a quem vou dar o benefício da dúvida é Éder. Concordo com a opinião geral de que existe por aí muito ponta-de-lança mais merecedor de um lugar no Euro: Hugo Vieira, Bruno Moreira, André Silva... Eh pá, até Hélder Postiga seria melhor, já que ele até tem marcado várias vezes pelo seu clube e tem golos em três Europeus. Dito isto tudo, Éder tem passado por um bom momento no seu clube, o Lille. Esta não é, portanto, a pior altura para Convocar o avançado. E como de qualquer forma a tática principal dispensará ponta-de-lança, não há de fazer muita diferença.
Mas se este Europeu passar e ele continuar sem meter a bola na baliza, por favor, Chamem outro ponta-de-lança para a Qualificação para o Mundial 2018!
Tirando isto que acabo de referir, não acho que existam grandes motivos de contestação a esta Convocatória. Pode haver quem discorde de mim, evidentemente, mas, até agora, não tenho encontrado objeções relevantes. Isto costuma ser bom sinal - foi-o em 2012. Na minha opinião, a Convocatória é boa, melhor que há dois anos, mas também, como escrevi na entrada anterior, o mais importante é todos chegarem em boas condições físicas a França, que o que se passou no Brasil foi uma tragicomédia.
Tenho, aliás, tido alguns flashbacks de 2014 nos últimos tempos por causa das lesões com que Cristiano Ronaldo se tem debatido. O facto de o Real Madrid se ter qualificado para a final da Liga dos Campeões (o que obriga Pepe e Cristiano a faltarem à primeira semana do estágio - mais sobre isso adiante) não ajudou. Vou ser sincera, estive muito perto de torcer pelo Manchester City, só para Cristiano e Pepe não se desgastarem com um jogo de grande intensidade. No entanto, no decurso do jogo das meias, não fui capaz de torcer contra eles. Fernando Santos garante que Ronaldo estará "na sua melhor forma" no Europeu, que "está a preparar-se física e mentalmente" para isso, que tem "uma ambição muito forte" relativamente a este campeonato. Não que não acredite nele, mas... também se dizia isto aquando do Mundial 2014. De qualquer forma, a situação não me parece tão grave este ano. Vou esperar que corra tudo pelo melhor desta vez. E já que ele e Pepe estão na final da Liga dos Campeões... que a ganhem.
A verdade é que, este ano, o calendário futebolístico está muito estranho. A final da Champions decorre apenas um dia antes do nosso particular com a Noruega. Isto faz-me imensa confusão: estou habituada a ter datas para jogos de clubes e datas para jogos de seleções bem definidas e separadas. De repente colocarem os particulares das seleções no mesmo fim de semana que a final da Champions é demasiado amadorismo para o meu gosto (falarei melhor sobre estes jogos num futuro texto).
Com tudo isto, o estágio só começa oficialmente na próxima segunda-feira, dia 23 de maio. Só treze jogadores começam no primeiro dia, os restantes virão às pinguinhas ao longo do resto da semana. Por esses dias, o estágio vai ser mais soft, semelhante ao dia-a-dia de um clube: os Marmanjos vêm de manhã e regressam a casa no fim do dia, depois dos treinos. No dia 30 é que a Seleção começa a estar em regime de "internato", ainda que com dias e noites de folga, evidentemente.
Como tal, visto que ainda temos alguns dias e vários jogos de clubes até a Seleção se reunir de novo, vou esperar até segunda-feira para pendurar a bandeira à janela. Este ano vai para o quarto da minha irmã em vez do meu, que agora temos uma cadela e ela gosta de espreitar pela minha janela. Em compensação, estou a pensar arranjar-lhe um cachecol ou uma bandeira mais pequena para ela usar nos jogos do Europeu: mais ou menos assim.
Gostei de ouvir Fernando Santos agradecendo aos jogadores que ajudaram a garantir o Apuramento, mas que não foram Convocados. Fica bem a gratidão. Por outro lado, voltando a pegar no assunto do meu texto anterior, Fernando Santos reiterou a ambição de ganhar o Europeu. "Não é uma questão de fé, é uma questão de acreditar.", disse ele, o que remonta para aquilo que escrevi sobre a diferença entre um sonho e uma ambição. Disse também que Portugal, não sendo favorito, é capaz de "defrontar qualquer adversário" - algo com que todos concordam.
Quanto a nós, é o costume: ao longo deste estágio, o meu coração estará sediado na Cidade do Futebol (espero que hajam treinos abertos e que dê para dar lá um saltinho) e, mais tarde, no Centro Nacional de Râguebi, em Marcoussis. Dentro das minhas possibilidades, manter-me-ei a par do que for acontecendo com a Seleção. Espero que este seja o início de uma caminhada memorável pelos melhores motivos.