Portugal 2 México 2 - A estreia do costume
No passado sábado, dia 18 de junho, a Seleção Portuguesa de Futebol estreou-se na Taça das Confederações com um empate a duas bolas, perante a sua congénere mexicana – num jogo que teve lugar no Arena Kazan, na Rússia.
Não estou muito surpreendida por não termos ganho. Afinal de contas, Portugal não consegue estrear-se com uma vitória em campeonatos de seleções desde o Euro 2008, há nove anos (!!). Esta está longe de ser a pior estreia (ou já se esqueceram?).
No entanto, desta feita, o resultado menos bom podia ter sido evitado com um onze inicial diferente, na minha opinião. Não consigo entender a lógica de deixar André Silva no banco desde início, quando ele mostrou inúmeras vezes, ao longo desta época, entender-se na perfeição com Cristiano Ronaldo. É certo que seleções como a Hungria e a Letónia não se comparam com o México, mas não valia a pena arriscar?
A única explicação que me ocorre é Fernando Santos ter dado mais importância à experiência. Mas Nani (de quem gosto muito, como vocês sabem), não estando tão mal como estava há três ou quatro anos, não está em grande momento de forma. Além de que não sei se ele está habituado a jogar naquela posição: na frente de ataque em vez de como extremo (se estiver enganada, estão à vontade para me corrigir).
Com tudo isto, os primeiros quinze, vinte minutos da partida foram penosos. Portugal parecia incapaz de reter a bola. Até o público no Arena Kazan se irritou e se pôs a assobiar – aqueles é que eram os Campeões Europeus?
Felizmente, o tormento não durou muito: aos vinte minutos, André Gomes (ou terá sido Nani? Ou Pepe? Nas imagens não dá para perceber…) conseguiu enfiar a bola na baliza mexicana, na sequência de um livre de Cristiano Ronaldo Os portugueses partiam já para os festejos quando o árbitro pediu ajuda ao seu homólogo em vídeo, metendo um travão na festa.
Falemos, então, sobre o vídeo-árbitro. À semelhança de muitos adeptos da modalidade, há muitos anos que ansiava pela introdução destas tecnologias no futebol. Sobretudo se permitisse, se não acabar, pelo menos diminuir polémicas irritantes, como foras-de-jogo mal assinalados ou por assinalar, mãos de Deus, faltas mal marcadas, cartões por mostrar, acusações de “colinho”, entre outras coisas que não contribuem para a felicidade de ninguém.
No entanto, ver o vídeo-árbitro em ação pela primeira vez, num jogo da Equipa de Todos Nós… foi um bocadinho chato. O jogo esteve parado durante minutos, enquanto os árbitros decidiam se o golo era válido ou não. Cá em casa, não se percebia ao certo qual era o problema, porque a realização não teve a bondade de repetir o lance do golo. No estádio, deve ser ainda pior pois não há maneira de jogadores, técnicos ou adeptos verem a repetição dos lances – a menos que mostrem nos ecrãs gigantes e, mesmo assim, não sei se dá para ver bem.
Em suma, o vídeo-árbitro foi uma fonte extra de nervos para toda a gente.
Durante aqueles minutos de espera, pelo menos. Eventualmente, os árbitros lá decidiram que o Pepe estava em fora-de-jogo aquando do livre, logo, o golo era ilegal. Não temos o direito de reclamar – se fosse contra nós, ninguém se queixaria. Infelizmente, conforme assinalado neste blogue, os jornalistas desportivos portugueses começaram já a implicar com o vídeo-árbitro. Será que, sem as controvérsias evitadas por ele, ficam sem assunto para os artigos de opinião e para os programas de debate?
Eu concordo que existem, ainda, muitas arestas para limar nesta questão do vídeo-árbitro, mas isso há de melhorar com o tempo. No cômputo geral das coisas, o futebol tem mais a ganhar do que a perder.
Mas regressemos ao jogo com o México. O golo anulado teve o mérito de, ao menos, fazer os portugas acordarem para a vida. Assim, aos trinta e cinco minutos, Cristiano Ronaldo aproveitou um passe falhado para o mexicano Salcedo e arrancou em direção à baliza. Já na grande área, assistiu para Quaresma, que ainda teve o desplante de fintar o guarda-redes antes de atirar à baliza.
Não deu para festejar durante muito tempo. Raphael Guerreiro, que estava já a fazer um jogo abaixo do nível a que nos habituou, deixou que Carlos Vela recebesse a bola, mesmo em frente da nossa baliza, e assistisse para Chicarito.
E eu, que, um minuto antes, me regozijava por a Seleção se ter tornado aquela equipa, que não perdoava os erros aos adversários…
Na segunda parte, Portugal continuava sem conseguir dominar o jogo. Isso acabou por mudar com as entradas de Adrien e Gelson (a Seleção estava mesmo a precisar de alguém como este último, que pusesse aquela rapaziada a correr…). Aos oitenta e dois minutos, André Silva lá entrou. Menos de cinco minutos depois (não acredito que seja coincidência), Portugal marcava o segundo golo – cortesia de Cédric Soares, que aproveitou um deslize de Herrera.
Uma parte de mim sabia que o jogo não estava, ainda, resolvido, que os mexicanos ainda tinham tempo de empatar a partida, de novo. Infelizmente, não me enganei: já em tempo de compensação, Moreno marcou na sequência de um canto, em que os defesas portugueses voltaram a ficar mal na fotografia.
Dói um bocadinho ter a vitória na mão e deixá-la voar a um ou dois minutos do fim, mas a verdade é que Portugal só se pode queixar de si próprio. Não provou merecer a vitória. É certo de isto do mérito no futebol é muito relativo mas, mesmo assim, pelo que se viu em campo, o empate será mesmo o resultado mais justo.
Para além dos erros individuais, na minha opinião, este resultado deve-se ao onze inicial inadequado. Já falei sobre André Silva, Nani e Gelson. Há que assinalar, no entanto, que Portugal melhorou com a saída de João Moutinho e a entrada de Adrien.
Recordar, ainda, que temos Bernardo Silva – um jogador fabuloso como todos sabem – mas que não tem saído do banco.
Tudo isto faz lembrar o início do Europeu, em que Fernando Santos pareceu demorar vários jogos a perceber quais eram os melhores jogadores. É claro que, no fim, as coisas acabaram bem para o nosso lado e, de uma forma paradoxal, os “erros” nos onzes dos primeiros jogos permitiram fazer a gestão de esforço dos jogadores.
Mas também tivemos sorte. Será prudente repetir a gracinha este ano?
O meu medo é, então, que Fernando Santos volte a cometer os mesmos erros. Que, por um motivo ou por outro, guarde os trunfos para a segunda parte, adiando a vitória.
Pode ser que isso funcione hoje, por outro lado. Os russos são a única equipa nesta competição que não ganhou nada, não estão ao nível dos mexicanos (ainda que estejam a jogar em casa e que Portugal nunca tenha conseguido marcar um golo, sequer, em território russo). E não se pode dizer que Portugal tenha estado a jogar para o empate, frente ao México – ao contrário do que aconteceu em certos momentos da fase de grupos do Europeu.
Tudo vai depender, então, do jogo de hoje. A vitória é possível, ninguém duvida disso. Mesmo que Portugal não comece com o seu melhor onze, já será uma grande ajuda se os Marmanjos não cometerem fífias, como as de domingo passado.
A verdade é que estes jogos não são fáceis para mim. Eu fico nervosa, chego a perder anos de vida a cada jogo. Isto ainda não aconteceu este ano, mas, em momentos mais críticos destes campeonatos, chego a perder o apetite, a ter insónias. E, claro, se as coisas correm mal, fico em baixo.
Muitas vezes – sobretudo quando as coisas correm bem, como no ano passado – tenho saudades dos campeonatos de seleções. Mas a verdade é que estes não são assim tão agradáveis quando estão a decorrer.
É por estas e por outras que tenho cada vez menos vontade de apoiar um clube a sério – viver assim durante os nove, dez meses que dura uma época? Não, obrigada.
Mas chega de falar sobre as minhas neuroses. Estamos a poucas horas do jogo com a Rússia (isto de jogos a cada três dias não dá com nada...). Eu acredito numa vitória e na passagem às meias-finais. Esperemos que os Marmanjos não desiludam.
Continuem a acompanhar este campeonato aqui no blogue e na página do Facebook.