No passado dia 22 de junho, a Seleção Portuguesa de Futebol venceu a sua congénere turca por três bolas sem resposta. Com este resultado, conseguiu Qualificar-se para os oitavos-de-final do Euro 2024, onde irá defrontar a sua congénere eslovena, na próxima segunda-feira dia 1 de junho. Entretanto, no dia 26 de Junho, a Seleção Portuguesa foi derrotada pela sua congénere georgiana por duas bolas sem resposta, em jogo apenas para cumprir calendário e para definir a classificação do resto do grupo.
Este último resultado pode, como se diz oficialmente, "não ter contado para quase nada". Mas infelizmente contou muito para a minha disposição e entusiasmo em relação a este Europeu.
Já aí vamos.
Vi o jogo com a Turquia numa esplanada – algo que queria fazer com um jogo de campeonato de seleções há muitos anos. Foi agradável, foi divertido – as outras pessoas estavam entusiasmadas, mas não de forma desordeira, como às vezes acontece.
A Turquia até entrou melhor no jogo, mas Portugal lidou bem com isso. Aliás, Portugal defendeu muito bem durante todo o jogo. Tem-se falado muito sobre o Pepe, com toda a justiça, mas também me ficou na retina um lance em que Rúben Dias defendeu de cabeça.
Eventualmente, Portugal assumiu o controlo do jogo e chegou ao golo ao minuto 22. A jogada teve alguma graça: a assistência é de Nuno Mendes, um dos turcos segura mal a bola, Cristiano Ronaldo tenta recebê-la mas cai, Bernardo Silva toma-a e remata certeiro. Fiquei contente por ter sido Bernardo a marcar, depois de, nos dias anteriores, ter recebido algumas críticas injustas por parte da opinião pública.
O segundo golo não tardou e esse foi ainda mais cómico. Como muitos têm assinalado, este está a ser o Europeu dos auto-golos (a sério, que se está a passar…?) e este é capaz de ter sido um dos mais caricatos. A jogada começa com João Cancelo e Ronaldo. Cancelo tenta fazer o passe mas sai-lhe mal. Ronaldo barafusta de uma maneira muito à Ronaldo. Cancelo responde na mesma moeda (pelo menos foi o que me pareceu). A câmara foca-se nele e nem reparamos que Samet Akaydin atrasa mal a bola para o guarda-redes Altay Bayindir. A câmara regressa à ação a tempo de vermos a bola a cruzar a linha de baliza antes que os turcos conseguissem intervir.
Eu nem gritei “GOLO!” na altura, só me ri – uma gargalhada pouco digna, ainda por cima em público. Esta é digna dos apanhados, vai diretamente para aquelas compilações do YouTube. Uma pessoa até fica com pena dos turcos, ninguém merece.
Por outro lado, logo após o golo, Ronaldo e Cancelo festejaram juntos. A zanga não durou.
A vantagem dilatou-se ainda mais na segunda parte. Toda a gente tem assinalado que Ronaldo foi altruísta, algo que não é habitual nele. Não é assim tão raro quanto as pessoas pensam – aliás, foi um golo parecidíssimo com outro, nos playoffs do Mundial 2022. Novo momento à Ted Lasso. Talvez Ronaldo até conseguisse marcar dali, mesmo cara a cara com o guarda-redes. Mas tomou a opção inteligente, de aproveitar o foco do guarda-redes nele, trocar-lhe as voltas e passar para Bruno Fernandes – outro também lidando com críticas.
Aqui entre nós, fico com alguma pena por Ronaldo ainda não ter conseguido marcar neste Europeu. Esta, porventura, teria sido uma boa oportunidade para acrescentar o Euro 2024 à longa lista de campeonatos de seleções seguidos com golos de Ronaldo. No entanto, com este golo, Ronaldo tornou-se no jogador com maior número de assistências em Europeus.
Agora é que percebo de que é que o próprio fala, quando diz que são os recordes que o perseguem. Se não é um, é outro.
Depois deste golo, deu-se alguma descompressão – mesmo eu fiquei menos atenta. Pepe foi substituído e recebeu uma enorme e merecida ovação de ambos os lados – de facto, começam a faltar palavras para descrever a sua grandeza.
Tivemos umas quantas invasões de campo porque Cristiano Ronaldo. Quando são crianças, como aquele miúdo de dez anos que tirou uma selfie com ele, ainda se aceita mais ou menos – até porque sempre adorei ver Ronaldo interagindo com miúdos, ele tem imenso jeito. Outras não têm tanta piada: como aquela em que um dos stewards ia lesionando o Gonçalo Ramos ou aquele miúdo, no jogo contra a Geórgia, que saltou das bancadas e aterrou à frente de Ronaldo.
Não era suposto o Europeu, uma das provas desportivas mais mediáticas, ter melhor segurança do que isto? Espero que não aconteça nenhuma tragédia por causa de falhas como estas.
Nos dias que se seguiram a este jogo eu andava contente q.b., aliviada por termos conseguido passar aos oitavos logo ao segundo jogo. Sabia bem por uma vez termos evitado o stress dos melhores terceiros classificados, ao contrário dos nossos dois últimos Europeus. E andava – OK, ainda ando – a divertir-me acompanhando o Euro em geral. Nem sempre tenho conseguido ver os jogos, mas vou vendo um ou outro vídeo de análise no YouTube, ouvindo o podcast da Sport TV, ligando as Noites do Euro na RTP3 – nem sempre com muita muita atenção, só para ir ouvindo enquanto escrevo ou faço outras coisas. Lembrando-me porque é que gosto tanto de Europeus e Mundiais.
Claro que tinha de vir a minha própria Seleção estragar isso.
Tenho mesmo de falar sobre o jogo com a Geórgia? Tenho? Pronto, lá terá de ser.
Outros saberão melhor do que eu analisar os erros táticos de Roberto Martínez, que aparentemente tem a mania de se pôr a inventar, a meter os Marmanjos em posições em que não estão à vontade. Mas para mim ficou claro que o jogo correu mal literalmente desde o primeiro minuto.
Não quero ser demasiado dura para com António Silva, que infelizmente esteve por detrás de ambos os golos que sofremos – a começar por aquele passe infeliz, que resultou no primeiro golo. Ele é um miúdo, não foi o primeiro nem será o último a cometer erros deste calibre. No jogo de abertura do Euro 2004, Ronaldo provocou o penálti que resultou no segundo golo da Grécia. E ainda não me esqueci dos estragos que a testa do nosso Pepe, que ainda há pouco elogiámos, provocou no Mundial 2014. É assim que se aprende.
Dito isto, não há como contorná-lo: aquele primeiro golo destruiu animicamente a equipa. Portugal nunca mais conseguiu entrar nos eixos. Tinha o domínio do jogo, da posse de bola e tal, sem que isso se traduzisse na prática. Os portugueses estavam apáticos, enervados – destaque, claro, para Cristiano Ronaldo, cuja maturidade emocional congelou algures em 2004.
Em contraste, os georgianos jogaram com alma, com paixão (quando, ironicamente, é suposto os portugueses serem “os Apaixonados” neste Europeu), típicos underdogs com ambições. Um guarda-redes que se agigantou, cujas luvas terão fumegado depois de ter defendido este livre de Ronaldo. O pormenor bonito de Khvicha Kvaratskhelia, o marcador do primeiro golo, ter frequentado uma escolinha de futebol inaugurada por Ronaldo – e depois ter ficado todo feliz por ter recebido a camisola do seu herói, no fim do jogo.
Por outras palavras, foi mais uma daquelas ocasiões, como quando jogámos contra a Sérvia, contra a Coreia do Sul, contra Marrocos, em que eu sentia mais simpatia pelo nosso adversário, em que não me revia na minha própria equipa. É preocupante isto estar a acontecer com tanta frequência nos últimos anos.
Como também é habitual, existem atenuantes. Era um jogo praticamente a feijões, era um onze muito diferente e, de qualquer forma, houve um penálti que nos foi negado. Mesmo assim, Portugal tinha a obrigação de fazer melhor. A partir de meio da segunda parte só pedia o apito final, só queria que a tortura acabasse.
Lamento dizê-lo, mas este resultado tem-me feito pôr várias coisas em causa. É possível que ande a ser influenciada por opiniões alheias. Mas tenho medo de que esta derrota não tenha sido meramente circunstancial, que seja sintoma de um problema mais grave. Afinal de contas, quase todos os nossos golos (que incluem dois auto-golos) neste Europeu foram mais demérito dos nossos adversários do que mérito nosso. Talvez andemos a sobrevalorizar esta Seleção.
Por outro lado, sei que não estou a ser completamente justa. Olhando apenas para os aspetos práticos, este foi o primeiro jogo oficial que perdemos com Martínez ao comando – e mesmo assim contava para muito pouco. Em termos apenas de resultados, Martínez tem feito tudo bem. Como outros têm dito, não éramos bestiais por termos vencido a Turquia e não somos bestas por termos perdido contra a Geórgia nestas circunstâncias. E, se é para cometer erros e jogar mal, que sejam em jogos como este.
Mas é bom que de facto tenham sido aprendidas lições – de uma vez por todas. É que ultimamente já começam a ser vários jogos menos conseguidos nos últimos tempos e não estou a ver ninguém a aprender nada.
Um desses jogos, por sinal, foi contra a Eslovénia, que agora é torna a cruzar-se connosco, nos oitavos-de-final. Uma equipa que provavelmente usará o mesmo bloco baixo que tantos problemas causou aos portugueses nos jogos com a Chéquia e com a Geórgia – e que poderíamos ter evitado se tivéssemos ganho este último jogo.
Antes de quarta-feira, tinha duas ou três coisas a dizer, incluindo uma piada ou outra, sobre o facto de termos ido parar ao lado difícil do mata-mata. Agora que o meu otimismo diminuiu, não estou para isso. É pensar um jogo de cada vez. Estou mais ou menos resignada a mais um jogo tortuoso, perdão, de paciência perante a Eslovénia. Não vou poder ver a primeira parte porque só saio do trabalho às 20h30 – pedi para me escalarem para sair mais cedo, mas não deu.
Aqui entre nós, talvez não seja assim tão mau. Serei poupada a quarenta e cinco minutos de ver os Marmanjos trocando a bola entre si perante o bloco baixo esloveno, tentando remates de longe.
Ainda assim, continuo a contar que Portugal passe à fase seguinte. Com mais ou menos paciência, com mais ou menos tortura, com prolongamento e penáltis se necessário (espero que não seja), outro resultado não é aceitável. Não com a equipa que temos. Depois disso, logo se vê.
Como sempre, obrigada pela vossa visita. Continuem a acompanhar este Europeu comigo, quer aqui no blogue, quer na sua página de Facebook.
No passado dia 4 de junho, a Seleção Portuguesa de Futebol venceu a sua congénere finlandesa por quatro bolas contra duas, no Estádio de Alvalade. Quatro dias depois, foi derrotada pela sua congénere croata por duas bolas contra uma, no Estádio Nacional, no Jamor. Finalmente, três dias mais tarde, a Seleção venceu a sua congénere irlandesa por três bolas sem resposta.
Todos estes jogos foram de carácter amigável. E hoje estreia-se no Euro 2024 perante a Chéquia.
Como já tinha referido no texto anterior, estive em dois destes três amigáveis: os dois que tiveram lugar na zona de Lisboa, ambos muito diferentes em termos de acessos.
O primeiro, contra a Finlândia, foi tranquilo. Como estava de folga nessa tarde e ia sozinha, não estava condicionada, pude ir cedo para o estádio. Tive tempo para comprar um boné – o vermelho, da nova coleção. Andava há mais de uma década à espera que lançassem um boné oficial de que gostasse.
Pelo menos é essa a desculpa que dou a mim mesma pelo dinheiro que gastei. Não foi uma compra por impulso, era algo que desejava há muito tempo.
Deu também para acompanhar a animação pré-jogo. Até consegui escrever um bocadinho no meu lugar, enquanto esperava pelo início do jogo. Este foi o melhor lugar que consegui em anos: na central, com boa vista para ambas as balizas. A única desvantagem foi ter ficado ao Sol antes do início do jogo.
Algo que, mesmo assim, aceitei de bom grado. Já não é a primeira vez que o digo: adoro ver jogos de futebol à luz do dia. Sobretudo em dias tão bonitos como aquele.
O Estádio não estava cheio, mas estava bom ambiente. Fiquei sentada ao lado de uma menina de cerca de quatro anos e do pai dela. Pela maneira como o pai passou uma grande parte do jogo explicando à filha as regras do futebol – o bê-á-bá do desporto, por exemplo, “o objetivo é enfiar a bola na baliza do adversário” – calculo que aquela tenha sido o primeiro jogo da menina ao vivo, quiçá um dos primeiros jogos de futebol que ela viu.
Foi amoroso. Recordou-me de quando eu mesma era pequena e fazia perguntas ao meu pai enquanto ele via futebol na televisão. Além de que sempre gostei de crianças e, ainda por cima, tenho uma sobrinha que deverá nascer nas próximas semanas (durante o Europeu… como se eu precisasse de mais emoções, sobretudo se nos mantivermos em prova durante muito tempo). Já me imaginei levando-a a jogos e/ou falando-lhe de futebol, contando-lhe histórias de feitos anteriores da Seleção. Eu mesma respondi a uma ou outra pergunta da menina ao meu lado – teria respondido a mais, mas não estava à vontade para isso.
Quanto ao jogo em si, foi uma exibição agradável – melhor do que estava à espera para um particular no terceiro dia de estágio. Algo que me chamou a atenção foi a altura dos finlandeses – mais ou menos o dobro da altura dos portugueses. Aliás, saiu um artigo há pouco tempo dizendo que Portugal é a segunda Seleção com menor média de alturas neste Europeu. Poucos dos nossos conseguiam competir.
Por outro lado, talvez seja eu que estou a ficar velha, mas por estes dias metade da Seleção parece tão novinha! O João Neves, o Francisco Conceição… eu podia ter andado com eles ao colo! E eles têm cara disso!
Não surpreendeu que o primeiro golo, aos dezassete minutos, tivesse vindo de Rúben Dias, um dos mais altos. Vitinha bateu um canto e assistiu diretamente para a cabeça do central. Depois dessa, em cima do intervalo, Francisco Conceição foi derrubado na área, o árbitro marcou penálti e Diogo Jota converteu.
Para a segunda parte, Martinez trocou metade da equipa – algo que fazia sentido em termos de gestão física, mas que mesmo assim achei estranho. Em todo o caso, depressa o marcador se dilatou ainda mais, cortesia de Bruno Fernandes. A jogada começou em Diogo Dalot e passou por Gonçalo Ramos. Mas a assistência foi de Francisco Conceição para Bruno rematar de fora da área. Lembro-me de uma altura, há uns anos, em que a minha irmã se queixava da suposta mania de Bruno rematar de fora da área.
Mal sabíamos nós que ele se tornaria um dos melhores da Seleção Portuguesa.
Infelizmente, íamos deixando a coisa descambar: o finlandês Pukki marcou dois golos em cinco minutos. Felizmente, Bruno tornou a intervir para dilatar de novo a vantagem. Nova assistência de Conceição, que enganou dois finlandeses e Bruno nem sequer precisou de rematar com muita força. Ficou feito o resultado.
No fim, sentia-me satisfeita, mesmo com todos os senãos e atenuantes. Choviam elogios a Francisco Conceição – ou Chico Conceição, como toda a gente lhe chama – um dos melhores em campo. Também fiquei contente com o miúdo, mas não lhe quero elevar demasiado a fasquia. Não seria a primeira vez que um jovem mostrava potencial nos jogos particulares antes de uma grande competição – para, depois, não conseguir corresponder na hora da verdade.
Mas espero que o Chico continue a crescer na Equipa de Todos Nós. Se a grande explosão não acontecer neste Europeu, que aconteça num futuro próximo.
O particular seguinte não foi tão tranquilo: nem o jogo em si nem a viagem de ida e volta. Vim com uma amiga, mas cada uma trouxe o seu próprio carro… um erro. Até saí de casa relativamente cedo e mesmo assim apanhei os acessos ao estádio completamente entupidos. Demorei eternidades a estacionar, num lugar muito questionável: a margem de um percurso pedonal num parque nas redondezas.
E mesmo assim consegui chegar cedo ao meu lugar no estádio, ainda durante o aquecimento. A minha amiga, que saiu de casa mais tarde (apesar de eu a ter avisado para vir cedo), só se conseguiu juntar a mim na bancada já a primeira parte ia adiantada.
Ainda mais difícil foi o trânsito para sair do estádio. Demorei à vontade uma hora só para sair das redondezas do Jamor. Não foi tão stressante quanto poderia ter sido – tive o bom senso de comer e ir à casa de banho no estádio (não que recomenda esta última parte…) e não estava com pressa.
Ainda assim, talvez tivesse sido melhor ir de comboio. O que também não seria fácil, penso eu – até porque houve concerto das bandas dos Morangos com Açúcar nessa mesma noite, no Passeio Marítimo de Algés.
Nesse aspeto, os Estádios da Luz e de Alvalade são bem mais práticos, com melhores acessos. Eu então consigo ir a pé para ambos a partir da casa dos meus pais.
Dito isto… estou contente pela oportunidade de ver um jogo no Jamor. É místico, é lindo. E o ambiente esteve tão bom durante o jogo, mesmo que este em si não tenha sido grande coisa. Estava com medo de que chovesse durante o jogo – tinha chovido nessa manhã – mas não chegou a acontecer. Aliás, o sol até espreitou durante a segunda parte, dando uma nova luminosidade ao Jamor.
De facto, a certa altura, a meio da segunda parte, dei por mim a sentir o momento. Estava ali, num Estádio Nacional cheio, repleto de gente vestida de verde e vermelho, vendo a Seleção a jogar. Há poucos cenários mais belos do que aquele.
Mas falemos do jogo em si – a parte menos boa dessa tarde. Exibição muito fraquinha, sobretudo na primeira parte. A Croácia marcou cedo, conversão de um penálti que dizem questionável (como não foi do meu lado, não consegui ver bem eu mesma). Não se pode dizer, no entanto, que o resultado era injusto. Portugal ia atacando sem grande intensidade – Gonçalo Ramos e João Félix pareceram-me particularmente desinspirados naquela tarde.
A segunda parte correu melhor, depois de nova mini-evolução ao intervalo. Conseguimos empatar o jogo logo nos primeiros minutos da segunda parte: Nélson Semedo assistiu para o remate certeiro de Diogo Jota. Fico contente por o Diogo ter assinado dois golos nestes jogos, depois de ter passado tanto tempo lesionado.
Ainda tive esperanças de que conseguíssemos dar a volta ao resultado, ou de que pelo menos mantivéssemos o empate. Mas os croatas chegaram de novo à vantagem, numa das poucas oportunidades que tiveram. A bola foi à trave e, na recarga, Budimir marcou de cabeça.
Nunca mais conseguimos sair desta. A certa altura, o público começou a cantar por Cristiano Ronaldo. Eu mesma me juntei ao coro – sabe-se lá quantas mais ocasiões teremos para isso. Não tenho a certeza do que é que o motivou. Se foi uma continuação dos aplausos antes do jogo, sempre que ele aparecia em campo durante o aquecimento. Se o povo pura e simplesmente queria vê-lo a jogar. Ou se esperavam que Ronaldo entrasse e salvasse a honra do convento, como tantas vezes antes. Talvez tenha sido uma mistura das três hipóteses.
Claro que Martínez não ia pôr Ronaldo a jogar só porque estávamos a perder um jogo amigável. O Capitão tinha-se juntado à concentração poucos dias antes e, como jogador geriátrico, é preciso cuidado com a gestão da sua forma.
E também há muita hipocrisia. Tão depressa se diz que Ronaldo está a mais, que a Seleção joga melhor sem ele, como começamos literalmente a clamar por ele assim que as coisas começam a correr mal.
Suspeito que esta última parte irá acontecer muito quando Ronaldo se reformar.
Em todo o caso, o Capitão teve oportunidade de ser herói no jogo seguinte: o particular perante a República da Irlanda, no Estádio de Aveiro. Desta feita não estive lá – aliás, estive a trabalhar durante a primeira parte. Foi uma tarde tão agitada no trabalho que cheguei a esquecer-me que havia jogo da Seleção (estou a perder qualidades). Consegui dar uma espreitadela ao resultado quando já estava 1-0, mais nada – e já aí pensei que 1-0 era pouco.
E de facto consta que a Irlanda esteve muito fechada à defesa e foi preciso algum esforço para abrir o marcador, num lance de bola parada. Um canto batido à maneira curta e assistência de Bruno Fernandes para o belo remate de João Félix.
Ainda houve ocasião para Ronaldo bater um livre – depois de essencialmente dizer a si mesmo “Tu bates bem” – que infelizmente chocou com a trave.
Felizmente consegui ver a segunda parte, que todos garantem que foi melhor – e eu de facto achei agradável. Logo aos cinco minutos, após uma assistência teleguiada típica de Rúben Neves, Ronaldo marcou aquele que muitos consideram um dos melhores golos dele pela Seleção. Cerca de dez minutos depois, veio o segundo, após assistência de Diogo Jota. E ficou feito o resultado.
E hoje estreamo-nos no Europeu, perante a Chéquia. Tenho gostado imenso de ver imagens da Seleção sendo paparicada em Marienfeld. Imensas recordações do Mundial 2006, tal como previ. Gosto em particular das histórias de pessoas que eram bebés há dezoito anos, quando estiveram com a Seleção, e agora são jovens adultos.
Espero que não lhes faltem oportunidades para estarem com a Equipa de Todos Nós nas próximas semanas.
Estes particulares não mudaram radicalmente a minha opinião sobre as nossas hipóteses neste Europeu. Continuo mais otimista que nas últimas ocasiões – o que mesmo assim não é muito muito. Não acho que somos os maiores porque vencemos a Finlândia e a Irlanda, nem acho que deixamos de ser candidatos por termos perdido contra a Croácia.
Dito isto, não fiquei muito descansada com Martínez e alguns dos jogadores desvalorizaram a derrota no Jamor. Naquela fase, um bocadinho de dramatização seria saudável – quando havia tempo para fazer as correções necessárias.
Claro que era apenas conversa. Nada me garante que eles não estavam mais preocupados do que deram a entender e que não agiram de acordo nesta última semana e picos.
Parte de mim quer manter as expectativas baixas. Outra parte, no entanto, vê conversas como esta, de Ronaldo, e pensa: meias-finais é pouco. Quero chegar à final.
Diria que o mínimo aceitável são mesmo as meias-finais. Posso eventualmente mudar de ideias, dependendo da maneira como correr a fase de grupos – e concordo com Martínez quando diz que a Seleção irá continuar a crescer e que atingirá o nível máximo depois da fase de grupos. A verdade é que estou farta de ver esta geração desperdiçar oportunidade atrás de oportunidade. Já chega! Quero voltar a ganhar um título!
Mas pronto. Como sempre, falar é fácil, escrever é fácil. Quando a bola começar a rolar, logo à noite, é que a história começará a ser escrita, é que saberemos qual é o nosso verdadeiro valor.
Venha então o jogo com a Chéquia. Força Portugal! Vamos a eles!
No passado dia 21 de março, a Seleção Portuguesa de Futebol venceu a sua congénere sueca por cinco bolas contra uma. Cinco dias mais tarde, no entanto, perdeu perante a sua congénere eslovena por duas bolas sem resposta. Ambos os jogos foram de carácter amigável.
Enfim.
Conforme já tinha referido no texto anterior, estava ainda a trabalhar durante a primeira parte do jogo com a Suécia. Foi um final de dia mais movimentado que o costume. Aviso de amiga: pessoas que chegam a um estabelecimento nos últimos cinco, dez minutos antes do fecho, sem terem um bom motivo para isso, têm um lugar reservado no inferno. Foi o caso de pelo menos dois dos utentes que ainda lá estavam quando fechámos. É indecente!
Ainda assim, consegui ir espreitando sites de atualizações e soube quando marcaram os dois primeiros golos. O terceiro coincidiu com a altura em que nos preparávamos para fechar, logo, só soube dele durante o intervalo, já a caminho de casa.
Pelo que vi e li mais tarde, a Suécia até entrou no jogo a dominar, mas só se aguentou durante uns vinte minutos. Portugal rapidamente tomou as rédeas da partida. O primeiro golo do jogo – e do ano – surgiu aos vinte e quatro minutos. O primeiro remate foi de Bernardo Silva, mas a bola foi ao poste. Na recarga, Rafael Leão não perdoou.
O segundo golo também teve assistência de Bernardo Silva, ainda que de maneira diferente. Este passou a Matheus Nunes, que avançou pelo campo sem que os suecos conseguissem fazer nada. Ao entrar na grande área, rematou certeiro.
Por sua vez, o terceiro golo começou com um passe fabuloso de João Palhinha. A bola voou quase a distância equivalente a um meio campo até Nélson Semedo, à direita. Este foi até à linha de fundo, assistindo depois para Bruno Fernandes marcar – fazendo um túnel ao pobre defesa sueco.
Na segunda parte, já estava à frente da televisão e, sinceramente, gostei do que vi. Uma exibição bem agradável. Gostei em particular de ver Palhinha: teve vários momentos que me recordaram a célebre jogada do Portugal x França do Euro 2021 2020, que terminou com uma cueca a Pogba.
E fui capaz de ver a Seleção marcando um par de golos. O primeiro teve a assistência de Bruno Fernandes. Esteve frente a frente com o guarda-redes, teve a hipótese de rematar ou de passar a um colega: ou Bruma, à sua esquerda, ou Gonçalo Ramos, à sua direita. Acabou por escolher Bruma, que não desperdiçou o jeitinho.
Infelizmente, depois, cometemos um erro de amadores. Baixámos a guarda durante o rescaldo do golo e deixámos Viktor Gyökeres marcar o primeiro da Suécia. Toti Gomes ficou mal na fotografia.
Ainda assim, só precisámos de alguns minutos para ampliar a vantagem de novo. António Silva fez um passe longo para Nélson Semedo, que seguiu pela direita e assistiu para o golo de Gonçalo Ramos. Os suecos, no entanto, conseguiram voltar a reduzir, perto do fim do jogo.
Toda a gente ficou contente com este resultado e com este jogo, muitos nós começaram a sonhar alto. Não vou mentir, eu também me deixei levar por esse espírito. Mas já tinha escrito que os suecos não estavam a atravessar um bom momento – aquela vitória vale o que vale. E, da minha experiência acompanhando a Seleção de perto, já devia saber que o Universo tem a mania de nos atirar de volta para a Terra quando andamos com a cabeça nas nuvens.
O que, pelo menos esta fase, não é uma coisa má, atenção!
Eu sabia que a Eslovénia seria um adversário mais difícil que a Suécia. Ainda assim, estava à espera de melhor. Nem quero escrever muito sobre este jogo – o que há para dizer? Foi uma seca. Estava a ver a partida e a pensar: “Fui eu pedir para sair mais cedo para isto?”. Não que preferisse estar a trabalhar, mas porque é que os Marmanjos só jogaram bem nesta jornada quando não pude ver o jogo todo?
Muitos têm apontado que esta derrota serviu para demonstrar a falta que nomes como Bernardo Silva e Bruno Fernandes fazem. Talvez tenham razão, mas também concordo com a dispensa deles deste jogo. Já não é a primeira vez que o escrevo: a época futebolística atualmente é uma coisa parva. Se for possível poupar os jogadores literalmente nesta altura do campeonato, que se poupe!
E, no fim do dia, isto é apenas um particular. O próprio Roberto Martínez disse depois que o mais importante não era a vitória – eu disse o mesmo antes, como digo antes de todos os jogos amigáveis. Não vamos colocar tudo em causa e deixar de ser candidatos ao título porque perdemos um jogo – tal como não éramos os grandes favoritos depois de termos ganho a uma seleção que falhou o Apuramento.
Dito isto, espero mesmo que o jogo com a Eslovénia tenha servido para tirar ilações, que aquilo foi penoso.
No meio disto tudo, devo confessar, tenho andado pouco entusiasmada com a Seleção. Em parte por andar ocupada com outras coisas – quem segue o meu outro blogue e sobretudo a sua página no Facebook terá uma ideia sobre o que estou a falar – mas também porque este último ano, sejamos sinceros, foi pouco estimulante. Uma Qualificação tranquila perante adversários de nível médio/acessível (claro que tinha sido pior se tivéssemos sentido dificuldades) e, agora, dois particulares. Já não é a primeira vez que o digo: tenho saudades de partidas mais intensas, com mais em jogo. Tenho saudades do mata-mata, do Nitromint debaixo da língua.
Isto é, no momento não acho assim tanta piada, mas depois gosto de recordar e de escrever sobre isso.
Felizmente já não falta muito tempo. Diz que os Convocados serão anunciados a 20 de maio, marcando o início da era do Europeu. Em princípio, não devo publicar antes da Convocatória, mas vou tentar publicar depois, antes dos particulares marcados para junho.
No passado dia 16 de novembro, a Seleção Portuguesa de Futebol venceu a sua congénere… *consulta texto anterior aqui no blogue* liechtensteiniana por duas bolas a zero. Três dias mais tarde, a Seleção venceu a sua congénere islandesa pela mesma diferença de golos… e eu estive lá. Com estes dois jogos, ficou concluída a fase de Apuramento para o Euro 2024, que terá lugar na Alemanha. A Seleção ficou em primeiro lugar no grupo J e irá para o pote 1 no sorteio para a fase de grupos do Euro 2024, que decorrerá no próximo sábado, dia 2 de dezembro.
Comecemos pelo jogo com o Liechtenstein. Vou ser sincera, não foi grande coisa. Arrisco-me a dizer que foi o nosso pior nesta fase de Qualificação.
Não que esteja surpreendida pela exibição. Olhemos para as circunstâncias: este era um jogo que já não contava para nada. Não contava para o primeiro lugar, nem sequer contava para os potes do sorteio. Em termos práticos era um amigável. E naturalmente o Selecionador Roberto Martínez aproveitou a ocasião para inventarfazer experiências – estratégias a que os Marmanjos não estão tão habituados. Além disso, foi fora de casa, durante uma fase intensa da temporada futebolística, perante uma seleção de microestado, de nível semi-profissional ou mesmo amador.
Em suma, não havia nada que convidasse a uma grande festa do futebol. Era daqueles jogos de que os treinadores gostam, mas os jogadores e dos adeptos não.
Foi frustrante para o meu lado pois consegui ver toda a primeira parte, em que não aconteceu nada de assinalável, e mal consegui ver a segunda, mais interessante. Culpa da hora de jantar e a televisão da cozinha, mais velha que a larga maioria da Seleção atual.
Ao menos consegui ver o golo de Cristiano Ronaldo, no início da segunda parte. Ele que, sem surpresas, estava com ganas. Já em cima do intervalo falhara um pontapé de bicicleta (ele tem um bocadinho de azar com eles, não é?) e, no primeiro minuto da segunda parte, enviara uma bola ao poste.
No minuto seguinte, Diogo Jota isolou Ronaldo pela esquerda, este rematou e a bola finalmente entrou. Capitão ao resgate, como tantas vezes antes.
Não consegui ver o golo de João Cancelo em direto, o que é uma pena. A assistência foi de António Silva, depois disso Cancelo fez tudo sozinho. Fintou o guarda-redes (no vídeo da Sport TV, um dos comentadores até se riu) e rematou de um ângulo difícil, entre dois defesas do Liechtenstein.
Ainda houve tempo para José Sá mostrar o que vale, na sua estreia pela Seleção (custou-me a acreditar, confesso. Convocado há anos e só agora é que calçou as luvas). E para o VAR anular um golo a Gonçalo Ramos por fora-de-jogo, na sequência de um livre.
Uma palavra para o público adepto de Portugal, que se fez ouvir durante todo o jogo. É o costume em países como este, acessíveis aos emigrantes, e é sempre agradável. Por outro lado, em defesa dos liechtensteinianos, segundo uma reportagem que vi na RTP3 antes do jogo, a população de Vaduz, a capital, é de cinco mil. Eles não conseguiriam encher o estádio sem deixar a cidade às moscas.
Ao menos os liechtensteinianos ficaram com o orgulho de terem impedido uma goleada da nossa parte. Por nosso lado, ficámos contentes com a nona vitória na Qualificação. Ainda assim, eu desejei que o jogo seguinte fosse melhor.
E foi.
O jogo com a Islândia decorreu no vigésimo-sexto aniversário da minha irmã – e dez anos depois da inesquecível segunda mão dos play-offs frente à Suécia. Aqui entre nós, tenho inveja dela. Faço anos em janeiro, nunca há jogos da Seleção nessa altura do ano. Em todo o caso, como forma de festejar, fomos todos a Alvalade – casa do Sporting dela. Eu, ela, o seu namorado e os nossos pais.
Chegámos cedo e não tivemos dificuldade em entrar. É a vantagem de o jogo ter sido ao domingo e de Alvalade ter bons acessos.
O pior é que ando com azar e/ou falta de jeito para lugares. Fui eu quem comprou os bilhetes no Continente – já deviam ser os últimos. Não me lembro se fui eu ou a senhora que me atendeu quem escolheu os lugares. Só sei que ficámos na bancada de cima. Tivemos de subir vários lanços de escada – como disse um vizinho nosso, foi um aquecimento ainda mais rigoroso que o dos jogadores. Ainda me afligi com os joelhos da minha mãe, mas felizmente ela não se queixou.
Os lugares em si ficavam literalmente na fila mais acima. Quase batíamos com a cabeça na pala. A visibilidade era péssima – como podem ver na fotografia, era como se víssemos o campo no fundo de um túnel. Nem sequer conseguíamos ver os ecrãs nos cantos do estádio. Mal conseguíamos identificar os jogadores – o que foi chato durante o jogo.
Em defesa deles, os meus pais pelo menos não se importaram. Mal por mal, via-se o campo todo, o que nem sempre é possível nas bancadas mais abaixo. Mas eu gosto de estar próxima dos jogadores, mesmo que às vezes não veja o que se passa do outro lado do campo.
Ainda assim, deu para sentir o ambiente fantástico em Alvalade, com pirotecnia e tudo. Foi a primeira vez que vi um espetáculo assim num estádio. E nós, no público, fizemos barulho durante praticamente o jogo todo – os bate-palmas foram bem utilizados.
O jogo foi, de facto, melhor que o anterior, em parte porque Martínez inventou menos. Portugal entrou bem, com muitas oportunidades – um remate de cabeça de Cristiano Ronaldo no primeiro minuto, uma bola ao poste de Otávio ao sétimo minuto, entre outros. Muitos outros.
Foi um problema recorrente nesta dupla jornada, aliás: dificuldades na finalização. Neste compromisso não fez mal, mas em jogos mais importantes, perante adversários de maior calibre, poderá ser problemático.
Terá de ir para a lista de problemas a resolver antes do Europeu.
Felizmente, o marcador mexeu-se aos trinta e seis minutos, com um belo remate do canto da grande área. Só consegui identificar o pistoleiro porque este, nos festejos, tapou as orelhas – um gesto para a Matilde, a filha mais velha de Bruno Fernandes.
Foi um belo golo, após uma troca deliciosa de bola entre ele e Bernardo Silva.
Na segunda parte houveram mais oportunidades desperdiçadas, sobretudo de Cristiano Ronaldo. Eu queria muito um golo dele porque “SIIIII!!!!!!” e ele, de facto, esforçou-se. E nós puxámos por ele, cantámos por ele. Infelizmente, não foi a noite de Ronaldo.
O segundo golo foi marcado no meio de alguma confusão. Do meu lugar não se conseguia ver bem quem marcou e ainda ficámos no escuro durante algum tempo – o speaker em Alvalade não se dignou a anunciar o marcador. Ainda pensei que tivesse sido João Félix mas não. Foi Ricardo Horta.
Isto cinco minutos após ter entrado em campo. Já é habitual com ele.
Em defesa da minha primeira percepção, foi João Félix quem fez o primeiro remate, defendido pelo guarda-redes. Cristiano ainda tentou a recarga, falhou. Horta tentou e foi bem sucedido. Ficou feito o resultado.
Antes de terminar, uma palavra apenas para o aplauso de Alvalade à entrada de João Neves. Martínez tinha pedido para se deixar as rivalidades de lado e, de qualquer forma, gosto de pensar que o público não seria cruel com um jogador tão novinho ainda. Não devia ter sido necessário pedi-lo, tais aplausos deviam ser a norma, temos a fasquia demasiado baixa.
Mas gostei à mesma. Temos de começar por algum lado.
E foi isto. Ficaram a faltar mais golos, sobretudo de Cristiano, e uns lugares melhores, mas foi uma noite bem passada, um aniversário bem passado. Estive no início desta fase de Qualificação e no final desta. Concluímos este Apuramento sem mácula, como eu desejava há muito tempo, com trinta e seis golos marcados e apenas dois sofridos. Nenhuma outra seleção fez melhor do que nós.
Correndo o risco de repetir o que já escrevi em textos recentes, sim, o nosso grupo era acessível, mas já tivemos grupos acessíveis antes. Por exemplo, o nosso grupo da Qualificação para o Mundial 2022 não era muito mais difícil do que este – a Sérvia é um pouco melhor que a Islândia ou a Eslováquia, na minha opinião, mas só isso – e toda a gente se lembra de como issocorreu. Contrariar a nossa mania da auto-sabotagem é um feito significativo. Temos direito a sentirmo-nos orgulhosos.
Foi um bom ano para a Seleção, em suma. Tranquilo. Sê-lo-ia sempre com este grupo de Apuramento, a menos que as coisas corressem mesmo muito mal. Mas não deixa de saber bem depois da agitação de 2021 e 2022. Como tinha previsto, este foi um ano para Roberto Martínez se adaptar à Seleção. O verdadeiro teste será agora, em 2024, com o Europeu. Para o qual partimos com ambições.
E, falando por mim, sim, soube-me bem o ano mais tranquilo, mas já ando com desejos de alguma adrenalina.
O que nos leva aos sorteios para a fase de grupos, este sábado. Portugal está no pote 1, evitando uma série de tubarões. Não teremos de novo um cenário como o do Euro 2020. Aliás, não deveremos ter um grupo demasiado difícil. O pior que nos pode acontecer seria encontrarmos os Países Baixos (nossos fregueses, como dizia Luiz Felipe Scolari) e a Itália (detentora do título mas que nem sequer foi ao Mundial 2022). Arrisco-me a dizer que quem sobreviveu a um grupo com a Alemanha e a França, quando estávamos numa fase bem menos estável, sobrevive a qualquer coisa, nas atuais circunstâncias.
…meu Deus, espero não vir a arrepender-me destas palavras. Já se sabe: isto na teoria é tudo muito bonito. Na prática é que se vê.
Costumo escrever um texto analisando os resultados do sorteio, mas não sei se faço o mesmo desta vez. Vou estar ocupada este fim-de-semana, nem deverei acompanhar a cerimónia em si.
A parte mais chata é que, agora, a Seleção só se reúne de novo daqui a quatro meses. Para um particular em Guimarães, frente à Suécia, e outro com adversário a definir – vai depender dos resultados do sorteio. É muito tempo, muita coisa pode – não não, vai – mudar até lá. Nos últimos dois, três anos, vínhamos de desilusões e o hiato deu jeito para lamber as feridas. Agora vai custar mais.
Mas pronto, havemos de sobreviver. Só espero que não hajam lesões graves que impeçam Marmanjos de virem ao Europeu.
Para o caso de não haver nenhuma crónica pós-sorteio, deixo já aqui os meus votos de Boas Festas e de Feliz Ano Novo. Que 2024 seja um ano muito muito feliz para a Seleção.
No passado dia 13 de outubro, a Seleção Portuguesa de Futebol venceu a sua congénere eslovaca por três bolas contra duas, no Estádio do Dragão. Três dias mais tarde, venceu a sua congénere bósnia por cinco bolas sem resposta. Com estes resultados, a Seleção garantiu o primeiro lugar no seu grupo de Apuramento, confirmando presença no Euro 2024, que terá lugar na Alemanha. Foi a Qualificação mais rápida de sempre.
Começando pelo jogo com a Eslováquia, como toda a gente, gostei da primeira parte. Depois do que aconteceu no jogo de Bratislava, no mês passado, estava à espera de outro jogo enfadonho. Não foi isso que aconteceu. Houve animação à mistura com frustração: um festival de oportunidades desperdiçadas – típica mistura de azar e de guarda-redes adversário inspirado – e um par de sustos para o nosso lado. O primeiro desperdício ocorreu relativamente cedo: uma daquelas situações em que está toda a gente na pequena área, a equipa atacante em cima da linha de baliza, rematando várias vezes mas a bola teimando em não entrar.
Felizmente, o marcador funcionou aos dezoito minutos. De uma maneira que já se tornou típica, a assistência foi de Bruno Fernandes. Depois de ter sentado um eslovaco, enviou a bola para a cabeça de Gonçalo Ramos – que, assim, aumentou ainda mais a sua respeitável conta de golos pela Seleção.
Perto da meia hora de jogo, a nossa vantagem ampliou depois de Cristiano Ronaldo ter, sem surpresas, sido chamado para bater um penálti.
Como muitos têm assinalado, os dois golos de vantagem ao intervalo não refletiam o desempenho de Portugal durante a primeira parte. Na altura, os comentadores da RTP disseram que 2-0 era um resultado perigoso. Pode dar uma falsa sensação de segurança, levar a complacência por parte da equipa em vantagem. Se o adversário reduz para 2-1, a partida é relançada.
O tempo deu-lhes algum razão: Portugal abrandou no início da segunda parte. Talvez tenha sido, de facto, complacência. Talvez tenha sido excesso de individualismo. Talvez tenha sido a chuva – aumentou de intensidade na segunda parte e Portugal começou a meter água. Os eslovacos começaram a crescer no jogo e conseguiram chegar ao golo aos sessenta e nove minutos. O primeiro golo que sofremos na era Martínez, em quase um ano.
Sim, desagradável, mas tinha de acontecer mais cedo ou mais tarde.
Felizmente, como já tantas aconteceu nas últimas duas décadas, Cristiano Ronaldo veio em nosso auxílio três minutos depois. A assistência foi de Bruno Fernandes (quem mais?), Ronaldo só teve de encostar.
Os eslovacos ainda tornaram a reduzir, por volta dos oitenta minutos. Mesmo assim, apesar de algum nervosismo da minha parte, a vitória não chegou a estar em risco. Com o apito final, Portugal selou a sua presença no Euro 2024 – a mais rápida de sempre, como referido antes.
Uma palavra para a chuva. Que incomodou e prejudicou, sim, mas que na minha opinião tornou tudo mais épico, deu estilo às fotografias e aos vídeos. Ao longo do encontro, ia-me recordando de outro jogo no Dragão debaixo de chuva – em 2012, frente à Irlanda do Norte (há onze anos! Estou velha!). Um jogo com um desfecho bem mais triste, o início de uma fase triste para a Seleção.
Em contraste, o momento atual é feliz, é tranquilo. No seu pior é enfadonho, mas no seu melhor é uma festa.
O que nos leva ao jogo com a Bósnia-Herzegovina. Não estava à espera de muitas facilidades – íamos jogar fora, com uma equipa perante a qual tínhamos sentido algumas dificuldades na Luz. Mesmo o penálti cobrado por Cristiano Ronaldo, claro, antes dos cinco minutos de jogo, não era garantia de nada para mim. Estes golos madrugadores às vezes são traiçoeiros – uma vez mais, podem levar a complacência.
Bem, estava enganada pois a Bósnia deixou de existir no jogo depois deste penálti. Como aconteceu no mês passado com o Luxemburgo, a primeira parte resume-se aos golos marcados.
Não tenho muito a dizer sobre o penálti de Ronaldo. Foi um penálti, foi bem batido. O segundo golo do Capitão foi mais interessante. Assistência de João Félix – que fez um belo jogo, finalmente encontrou-se a si mesmo no Barcelona. Ronaldo fugiu a dois bósnios, um vindo de cada lado, e fez um chapéu ao guarda-redes. Um golo cheio de estilo, pena o fora-de-jogo mal assinalado – o VAR corrigiu mas o momento já se tinha estragado.
É a desvantagem deste sistema.
Felizmente, não tivemos esse problema com o terceiro golo. O Gonçalo Inácio fez um passe excelente (outro a fazer um jogo fantástico, provando merecer a titularidade), desde a linha de meio-campo. A bola apanhou Bruno Fernandes, este avançou e disparou de primeira para as redes.
O quarto golo teve alguma graça. Os comentadores da RTP estavam a falar sobre o histórico recente de João Cancelo nos clubes. O tema passou para a mesa do jantar. E, falando no diabo, quem marca a seguir?
Uma vez mais, a assistência foi de Bruno Fernandes, em cima da linha de fundo. A bola ia para Ronaldo, mas este atrapalhou-se e deixou-a passar. Cancelo chegou-se à frente, como quem diz “Eu trato disto”, apanhou a bola no limite da grande área e disparou certeiro para as redes.
Finalmente, já a poucos minutos do intervalo, Diogo Dalot fez um passe à distância, desde a linha do meio campo, para Otávio. Este entrou na grande área pela direita, assistindo depois para João Félix assinar um golo. Uma vez mais, a festa teve de ficar em pausa enquanto o VAR validava o golo, mas pronto.
Na segunda parte, a Bósnia estacionou o autocarro para ver se não sofria mais golos. Por sua vez, Portugal entrou em modo de gestão e substituições para experiências. A vitória estava mais do que assegurada, bem como o primeiro lugar no grupo. Manter o mesmo ímpeto atacante já seria bullying.
Assim, a segunda parte não teve história. Chega a ser brilhante a forma como não aconteceu praticamente nada em quarenta e cinco minutos de jogo. Depois do apito final, não me lembrava de quase nada da segunda parte.
Enfadonho, sim, mas não me importei muito, depois daquela primeira parte. Deu para ir preparando este texto.
Com este resultado, assegurámos o primeiro lugar e o nosso estatuto como cabeças-de-série no sorteio da fase de grupos do Euro 2024. Fica menos provável repetir-se o cenário do Euro 2020. E ainda falta uma jornada dupla para o fim da Qualificação.
Naturalmente, está toda a gente satisfeita, eu incluída. Já há quem fale de recuperarmos o título europeu no próximo ano. Uma parte de mim começa a encher-se de fé, outra vez. O resto, no entanto, está a puxar essa parte para baixo, a garantir que ela mantém os pés na terra.
Ainda é cedo. Faltam pouco menos de nove meses para o Europeu (guiando-me por aquele anúncio bizarro da Meo). Muita coisa pode mudar entretanto. Além disso, não nos podemos esquecer que temos apanhado adversários fáceis. Ainda não tivemos de lidar com equipas do nosso nível ou superior. Deu para ver em jogos como os contra a Eslováquia que ainda temos arestas por limar.
Por fim, se me deixarem ser essa pessoa por um momento, enquanto comandou a Bélgica, o problema de Martínez não foram as fases de Qualificação. Foi depois.
(Ainda que eu ache que os jogadores belgas e os seus egos também foram pelo menos parte do problema.)
O próprio Martínez também parece não querer sonhar muito alto, pelo menos não para já. Não está errado. Por outro lado, pode-se argumentar que Portugal tem a obrigação de apontar para o título. Tem talento para isso, mais ainda do que em 2016. Além disso, já li no Record que esta poderá ser uma boa altura para tentarmos recuperar o título, já que vários dos habituais candidatos – Espanha, Alemanha, Itália, Bélgica – estão a passar por fases menos boas.
Bem, exceto a França. Sempre a França.
Não faltarão ocasiões daqui até junho para falarmos sobre isso. Regressando ao presente, queria dar graças pelo momento atual da Seleção: alegre e tranquilo como referi antes. Por coisas como o estreante João Neves sendo acarinhado pelos colegas (“o nosso pupilo”, chamou-lhe Danilo). É um bom contraste com outras áreas da vida atual, tanto a nível individual como coletivo. Como em muitas outras ocasiões nos últimos vinte anos, é um escape, é um consolo, é esperança de mais alegrias no futuro.
E por enquanto é suficiente.
Ficam a faltar dois jogos para o fim da Qualificação. Com o primeiro lugar garantido, estes jogos servirão apenas para cumprir calendário. No lugar de Martínez, tratava estes jogos como meros particulares para fazer experiências, mas ele não parece muito para aí virado. Gostava de ir ao jogo com a Islândia em Alvalade, para a celebração, mas calha nos anos da minha irmã. Não sei se vai dar.
Logo se vê.
De qualquer forma, em princípio, uma vez mais, não haverá crónica pré-jogos, a menos que aconteça algo de extraordinário. Mas, como o costume, irei deixando as minhas observações na página do Facebook.