No passado dia 23 de junho, a Seleção Portuguesa de Futebol empatou a duas bolas com a sua congénere francesa, em jogo a contar para a fase de grupos do Euro 2020. Com este resultado, em combinação com o empate entre a Alemanha e a Hungria, a Seleção Nacional apurou-se para os oitavos-de-final como uma das melhores terceiras classificadas da prova. Nos oitavos-de-final, no entanto, defrontou a sua congénere belga e perdeu por uma bola a zero, tendo sido eliminada do Euro 2020.
A grande desvantagem do sistema de adotei neste Europeu, de não me obrigar a escrever um texto por jogo aqui no blogue, é que as coisas mudam muito depressa – de uma maneira que não acontece tanto com jogos de Qualificação. O nosso estado de espírito no fim do jogo com a França é totalmente diferente do do final do jogo com a Bélgica.
Além de que o primeiro jogo foi muito mais interessante que o segundo. Como tal, este texto está muito desequilibrado. Gasto muitos mais parágrafos analisando o jogo com a França do que o jogo com a Bélgica – passo mais tempo discutindo as consequências desse segundo encontro. Peço desde já desculpa se parecer esquisito, mas a última jornada da fase de grupos foi demasiado emocionante e caricata para não escrever sobre ela.
Todos sabíamos que o jogo com a França seria difícil. Tentámos preparar-nos para isso, partilhámos memes com terços e calculadoras, embora soubéssemos que, tecnicamente, para passarmos aos oitavos-de-final, bastava-nos perder por menos de três golos de diferença com a França.
Isto se a Alemanha não perdesse com a Hungria mas… era a Alemanha e era a Hungria. Tínhamos acabado de levar uma tareia dos alemães e somos os atuais Campeões Europeus (não por muito mais tempo…). Os húngaros nunca seriam capazes de fazer mossa aos alemães, certo?
...certo?
Algo que acho que nunca referi aqui no blogue: nas últimas jornadas de fases de grupos como estas, em que os dois jogos decorrem ao mesmo tempo para evitar combinações de resultados, gosto de imaginar as quatro equipas no mesmo campo, jogando umas contra as outras. Acaba por ser mais ou menos isso que acontece – pelo menos em grupos como o nosso, com a classificação ainda em aberto.
Agora que penso nisso, no entanto, a regra dos melhores terceiros estraga um pouco esse esquema. Para verdadeiramente evitar combinações de resultados, literalmente todas as equipas teriam de jogar ao mesmo tempo – o que não é possível, claro.
Outro dos motivos pelos quais imagino o campo único para quatro equipas é porque, por muito que alguns de nós o neguem, os dois jogos acabam por ser influenciados um pelo outro, nem que seja um bocadinho. Fernando Santos pode dizer que tentou impedir que dissessem aos jogadores o que se estava a passar em Munique, mas os múltiplos adeptos húngaros nas bancadas não receberam o recado. No caso do grupo F, aliás, a coisa foi tão disputada que Portugal passou pelas quatro posições da tabela nos noventa minutos de duração dos jogos (sinto que há potencial para uma piada brejeira aqui, mas está aquém das minhas capacidades).
Na minha opinião, a França esteve por cima no início do jogo, ainda que Portugal se tenha apresentado mais consistente que perante a Alemanha. Um breve destaque para Renato Sanches e João Moutinho, o músculo e o cérebro do meio-campo, respetivamente, pelo menos neste jogo.
Os nervos apertaram-se logo aos onze minutos, quando a Hungria marcou à Alemanha. Lá se ia a conversa dos dias anteriores, de perdemos por menos de três golos. Além de que, se a vantagem húngara se mantivesse, os nossos amigos alemães estavam fora do Europeu.
É um alívio saber que não fomos a única equipa dita “grande” que esteve perto de sair de um Europeu frente à Hungria. Tirando a parte da homofobia, respeito aos húngaros pela maneira como se bateram neste grupo, conseguindo empates com os dois últimos Campeões do Mundo!
E tendo em conta que os três sobreviventes do Grupo da Morte não se mantiveram no Europeu durante muito tempo, mais valia que um de nós os três tivesse ido para casa mais cedo (não nós, claro!) e os húngaros tivessem ido aos oitavos.
Regressando ao jogo com a França, agora os portugueses estavam mais pressionados, mas acabaram por ser os primeiros a chegar à vantagem. Fiquei com alguns sentimentos de culpa quando Danilo levou um soco acidental de Hugo Lloris. Horas antes do jogo estive a conversar com amigos sobre o Europeu e criticámos a prestação do Danilo nos jogos anteriores.
Teria o Universo ouvido as nossas críticas e decidido castigar o Marmanjo? Não era preciso tanto…
Naturalmente, Cristiano Ronaldo foi chamado a converter o penálti e não falhou. Achei piada ao João Palhinha. Este começara a aquecer, depois do que acontecera ao Danilo, mas depois do golo interrompeu o aquecimento para ir abraçar o Cristiano.
À semelhança do que já acontecera no jogo com a Alemanha, soube bem estarmos a ganhar à França e em primeiro no grupo, mesmo que não tenha durado. Também me pareceu que Portugal jogou melhor depois do penálti convertido.
Infelizmente os franceses também tiveram o seu penálti. À semelhança de muita gente, não acho que seja legítimo – só de uma forma muito exagerada. O Mbappé não reparou no Nélson Semedo atrás de si, chocou contra ele e atirou-se ao chão. Na altura, a quente, eu disse que era a UEFA levando a França ao colo, como é tradição. Mais a frio, admito que o lance não é preto no branco, mas continuo a achar que não é penálti.
Por outro lado, alegadamente este árbitro terá sido excluído do resto do Europeu por causa deste erro. A mim quer-me parecer que fizeram dele um bode expiatório. Afinal de contas, o VAR não contrariou a decisão do árbitro: o erro não foi só dele!
Em relação ao penálti em si, destaque para o Pepe tentando dizer ao Rui Patrício para que lado o Benzema rematava. Patrício ou não o viu ou não ligou. Bolas, Rui…
Golos sofridos imediatamente antes do intervalo costumam ser mau sinal e este jogo não foi exceção. Sofremos o segundo golo logo nos primeiros minutos (como disseram no Twitter, agora é que o VAR funcionava…). E como a Alemanha continuava a perder, com aqueles resultados íamos para casa naquela noite.
O que para mim seria inglório, mesmo humilhante. Sermos expulsos de um Europeu na fase de grupos pela primeira vez. Enquanto detentores do título. Perante a equipa a quem conquistámos esse título.
Não. Não podia acabar assim. É certo que não duraria muito mais de qualquer forma, mas sempre foi um bocadinho menos mau.
Felizmente não ficámos muito tempo em desvantagem. Outro penálti a nosso favor, outra conversão para Cristiano Ronaldo.
Não sei como foi com vocês, mas para mim esta foi a altura em que as emoções ameaçaram levar a melhor sobre mim. Já tinha bebido cidra ao jantar, durante o intervalo, agora tive de beber mais uns goles para ajudar com os nervos. A minha mãe queixou-se que estava com taquicárdia.
Devia usar-se esse nome em vez de Grupo da Morte. Grupo da Taquicárdia! Grupo do Nitromint!
Houve alguém que, nessa noite, escreveu nas redes sociais que o Europeu podia ser só o grupo F em loop. Essa pessoa claramente não era adepta de nenhuma das quatro seleções.
Hoje, no entanto, que já estamos fora do Europeu, dava tudo para sofrer assim outra vez. Para ir das lágrimas à euforia e vice-versa, como aquele célebre adepto suíço. Mais sobre isso daqui a pouco.
Aparentemente, os Marmanjos também se deixaram enervar nesta altura e perderam um pouco o controlo da situação. Sem consequências de maior, felizmente. Foi nessa altura que Rui Patrício fez aquela espetacular defesa dupla, bloqueando um remate do Pogba e outro de Griezmann. Eu levei as mãos à cabeça, a minha irmã gritou mesmo: “PATRÍCIO!! PATRÍCIO!!” (Não se costumava gritar “RUI!!!”?). A minha rua festejou a defesa como se tivesse sido um golo.
Estou como toda a gente: façam-lhe outra estátua! Somos tão abençoados por ele jogar por nós…
Quem também teve o seu momento foi João Palhinha. Não me canso de ver esta jogada: a maneira como ele se baixa, se levanta e se baixa de novo para fintar os franceses, culminando com o túnel ao Pogba. Que classe!
Entretanto, em Munique, a Alemanha conseguira empatar com a Hungria aos 66 minutos, mas os húngaros adiantaram-se de novo dois minutos depois. Só aos 84 minutos é que os alemães conseguiram empatar de novo e garantir a permanência na prova.
Entretanto, em Budapeste, a partir de certa altura os portugueses e os franceses entraram como que em cessar-fogo. Ambas as equipas estavam satisfeitas com o resultado e pareceram não estar muito para se chatear – momento engraçado com Fernando Santos gritando com os jogadores para eles irem para a frente. Chegou mesmo a haver um alegado penálti não assinalado a favor da França (mais legítimo que o que foi assinalado, na minha opinião), mas nesta fase do jogo já ninguém queria saber.
Não foi um mau jogo, tendo em conta o adversário. Foi definitivamente melhor que o jogo com a Alemanha – ao menos a derrota não foi desperdiçada. No entanto, sabendo hoje o que aconteceu depois da fase de grupos, uma pessoa pergunta-se se foi um feito assim tão notável.
Não tenho muito a dizer sobre o jogo com a Bélgica, para ser sincera. A primeira parte foi muito contida, ambas as equipas com muito respeitinho uma pela outra, um jogo muito tático e… enfadonho. Fez-me lembrar o jogo com a Croácia no Euro 2016. Portugal esteve ligeiramente por cima, com algumas oportunidades. Os belgas, no entanto, marcariam em cima do intervalo, no único remate enquadrado que tiveram.
Naturalmente, Portugal passou a segunda parte toda a correr atrás do resultado. As oportunidades choveram: de Diogo Jota, de João Félix, de Cristiano Ronaldo. Tivemos inclusivamente uma bola ao poste, claro que tivemos, cortesia de Raphael Guerreiro. Nada foi suficiente para anular a desvantagem e, no fim, fomos enviados para casa.
E foi isto o nosso Europeu. Uma vitória perante a Hungria, um empate perante a França e duas derrotas, perante a Alemanha e a Bélgica. Um bocadinho melhor que no Mundial 2018, mas não por muito. À semelhança do que aconteceu há três anos, tudo o que temos para recordar é um ou outro momento bonito, uns quantos recordes do Ronaldo e mais nada.
Acho que se pode considerar mesmo o nosso pior desempenho em fases finais de Europeus. É certo que, antes de 2016, não havia oitavos-de-final, passávamos diretamente dos grupos aos quartos. Mas, como assinalaram no Twitter, foi o primeiro Euro em que a equipa que nos eliminou não chegou à final.
Isto enquanto detentores do título (não por muito mais tempo, claro…).
Foi uma semana algo triste, a última – aqueles dias de regressar à realidade após uma derrota como esta, de lavar os cachecóis e as bandeiras, em que a comunicação social se volta de novo para os clubes. Falando por mim, estava à espera de mais, queria mais. Queria continuar em modo Seleção, queria ter estado mais tempo no Europeu. Mesmo que não conseguíssemos chegar à final outra vez, mesmo que caíssemos nas meias ou mesmo nos quartos. Isto soube a pouco. Outra vez.
Por estes dias, tenho visto dois tipos de reações a esta eliminação. De um lado, temos gente defendendo a Seleção e Fernando Santos, dizendo que Portugal fez tudo para ganhar, faltou-nos a sorte, os belgas não fizeram nada para merecer a vitória. Do outro lado, temos gente que pede a demissão de Fernando Santos para ontem.
Eu estou algures no meio deste espectro, mas muito inclinada para o segundo grupo. O argumento do “mérito” da vitória já está ultrapassado há muito. Em parte porque já estivemos do outro lado, a equipa que “não merecia ganhar”. A Bélgica não é o tubarão que todos parecem achar que é e nem sequer aguentou muito tempo no Europeu depois de nós. No entanto, com um remate enquadrado conseguiram marcar um golo, enquanto nós precisámos de quatro remates enquadrados e uns tantos desenquadrados para marcarmos zero.
E os burros são eles, como diria Luiz Felipe Scolari? (Acho que não é a primeira vez que parafraseio Scolari para fazer este argumento…)
Eu (ainda) não vou ao ponto de pôr os patins em Fernando Santos, mas compreendo aqueles que o querem. Muitas pessoas já andavam descontentes com o Selecionador há algum tempo. O desempenho neste Europeu foi a gota de água. Pessoalmente não sei se esta é a melhor altura para trocar de Selecionador, com uma fase de Qualificação já a decorrer e o Mundial já no próximo ano. E há sempre aquele argumento do o-treinador-é-a-vítima-mais-fácil.
É capaz de ser verdade mas, no que toca à Seleção, das últimas duas vezes que trocámos de técnico, as coisas começaram a correr bem de novo relativamente depressa depois da estreia do novo treinador. Interpretem-no como quiserem.
Confesso, no entanto, que o principal motivo pelo qual não quero que Fernando Santos se vá embora é irracional. Ainda estou grata por Paris e pelo Porto. Mas para ser sincera, a minha boa vontade está a esgotar-se. Vocês sabem que estou longe de ser uma autoridade na matéria, mas a opinião que mais tenho encontrado é que Fernando Santos não sabe como usar o talento de que dispõe. Ainda joga como se fosse 2016, o que já não é adequado à realidade atual.
E a pior parte é que Fernando Santos parece não achar que está a fazer nada de errado.
Existem atenuantes para Fernando Santos. Mal por mal, tirando a Hungria (e mesmo assim), apanhámos equipas grandes no nosso percurso. Houve um progresso evidente nos últimos dois jogos – aquela derrota com a Alemanha é que terá sido fatal. A França e a Alemanha acabaram por vir parar ao mesmo barco afundado.
Muita gente a dizer que Portugal só ganhou três jogos no tempo regulamentar em Europeus e Mundiais com Fernando Santos, mas eu não desvalorizo a Liga das Nações: ganhámos vários jogos na primeira edição da prova perante boas equipas e atrevo-me a dizer que jogámos bem com a Itália, a Polónia e a Holanda. A segunda edição não nos correu tão bem, mas sempre ganhámos duas vezes à Suécia e à Croácia (com boas exibições, tirando o último jogo do grupo) e tivemos um bom empate com a França. Pode não ter tanto prestígio como o Euro ou o Mundial, mas também conta.
Por outro lado, o argumento morde a sua própria cauda. Porque é que não jogámos assim neste Europeu?
De qualquer forma, não me quero focar muito nessas atenuantes, porque permitem que Fernando Santos lave as mãos da sua parte da culpa. Não me admirava se ele dissesse, com todas as letras:
– Estão a ver? A França, Campeã do Mundo e Vice-Campeã da Europa, também falhou os quartos-de-final! O problema não sou eu!
A comunicação dele, aliás, já irrita. Na Conferência de Imprensa insistiu no seu velho chavão de que “nenhuma equipa pode dizer neste momento que é melhor que Portugal” – grande consolo! Disse que os jogadores estavam a chorar no balneário (um abraço para eles) mas falou em “olhar em frente e ir ganhar o Campeonato do Mundo” – o que é de mau gosto, sinceramente.
Não sou a única que faz uma careta quando pensa num Mundial 2022 igual a este Europeu, pois não?
Quem abordou bem o assunto foi António Tadeia, no outro dia: “Fernando Santos sugerir que vamos ganhar o Mundial 2022 é tão válido como eu dizer que no ano que vem vou bater o recorde do Mundo dos dez mil metros. Enquanto eu não explicar como é que tenciono fazê-lo, com que plano de treinos, de nutrição, com que estratégia de corrida, com quem a fazer de lebre e em que dia e condições, tudo o que eu diga serve zero.”
É a mesma questão de que falei no texto anterior. Como numa história infantil, acreditar com força e esperar que o destino resolva tudo por nós – quando falo em destino, falo do Cristiano Ronaldo, claro. Mensagens bonitas de esperança e crença têm a sua utilidade, são boas para as redes sociais, para as campanhas publicitárias, mesmo para este blogue, mas não chegam. Não ganham campeonatos, nem sequer ganham jogos.
Mesmo quando escrevi este texto (um dos que mais me orgulho neste estaminé) sobre acreditar de novo passados tantos anos, não deixei de referir que, se falhássemos, iria custar – quando se sonha alto pela primeira vez em muito tempo, se caímos, a queda dói mais.
Não tenciono voltar as costas à Seleção. Se não voltei em circunstâncias piores, não o farei agora. Estarei sempre disponível para, como escreve Tadeia, “empunhar o cachecol e a bandeira e urrar por Portugal sempre que há jogo”. Mas não quero que me tomem como garantida. Não quero estar sempre a passar por isto. Ou Fernando Santos aprende a usar os trunfos que tem ou dá o lugar a quem saiba usá-los.
Espero que a Federação não cometa os mesmos erros que cometeu com Carlos Queiroz e Paulo Bento. Insistiram num selecionador cujo tempo já claramente terminara, só dando a chicotada quando a Seleção perdeu pontos sem necessidade na Qualificação. Uma vez mais, não digo que tenhamos chegado a essa fase com Fernando Santos, mas, se ele tiver de sair, que saia na altura certa.
Não vou mentir: será triste quando isso acontecer. Mas também é uma das leis da vida: nada dura para sempre. Também me entristece saber que este poderá ter sido o último Europeu de Pepe e Cristiano Ronaldo. A ver se eles, ao menos, ainda aguentam até ao Mundial.
E é tudo, por agora. Como o costume, obrigada a todos os que acompanharam comigo esta participação no Europeu, por curta que tenha sido. Em setembro haverá mais.
No passado sábado, dia 2 de junho, a Seleção Portuguesa de Futebol empatou sem golos com a sua congénere belga, no Estádio Rei Balduíno, em jogo de carácter amigável.
Nessa tarde, eu e a minha irmã só chegámos a casa por volta das oito, logo, só acompanhámos os primeiros dez, quinze minutos via rádio. Acabou por ser afortunado, pois toda a gente diz que Portugal não jogou nada de jeito durante esse período. Já dava para percebê-lo no relato. Tirando uma ocasião de Gonçalo Guedes, aos três minutos, só houve Bélgica no jogo. Os portugas estavam desorganizados, perdiam bolas e pouco conseguiam avançar no terreno.
Pelos vistos, bastou a Fernando Santos corrigir as posições de Bernardo Silva, Guedes e Gelson Martins para a equipa entrar nos eixos. Quando eu e a minha irmã conseguimos sentar-nos em frente à televisão, Portugal começava a assumir o controlo do jogo, seguindo em crescendo até ao intervalo.
Aos quarenta e dois minutos, Bernardo rematou, mas a bola bateu num defesa belga e foi para fora, rasando o poste. Dois minutos mais tarde, Gelson conseguiu isolar-se na grande área belga mas, como os colegas não conseguiram acompanhá-lo, o Marmanjo teve de rematar num ângulo apertado – sem sucesso. Por fim, Guedes tentou a sua sorte, em cima dos quarenta e cinco minutos, mas falou a baliza por pouco.
Se não tivéssemos sido interrompidos pelo intervalo, talvez tivéssemos conseguido marcar. Infelizmente, a equipa teve de ir para o balneário e, quando regressou, voltou a entrar no jogo um pouco aos tropeções. Beto teve de mostrar os seus dotes, com um par de defesas espetaculares aos cinquenta e cinco e aos sessenta e quatro minutos.
Entre ele, o Rui Patrício e mesmo o Anthony Lopes, não devemos ter problemas na baliza neste Mundial.
Infelizmente, foi mais ou menos aos sessenta, setenta minutos, altura em que já tinham ocorrido algumas substituições, ambas as equipas pareceram contentar-se com o empate. O jogo tornou-se enfadonho, portanto – mas compreende-se.
Praticamente toda a gente ficou satisfeita com este resultado e, sobretudo, com a exibição – porque, lá está, quase toda a gente olha para a Bélgica como uma das melhores seleções do Mundo. Tal como referi antes, eu não concordo: os belgas têm muitos nomes sonoros, mas estes não chegam para fazer uma equipa. Pelo menos não ao nível que a pintam.
As melhorias mais notórias foram na defesa. Conforme Fernando Santos assinalou, Portugal foi a primeira equipa em vinte e um meses que não sofreu golos da Bélgica. A fórmula está longe de ser nova: centrais veteranos (neste caso, Pepe e José Fonte) atrás, protegendo a nossa área, para que os caloiros possam fazer a sua magia à frente – guiados por outro veterano, Cristiano Ronaldo, na maior parte das vezes. Resultou bem no Euro 2016 e na Qualificação, há de resultar bem no Mundial.
O pior é que, como tem sido assinalado várias vezes ao longo dos últimos dois anos, não é uma fórmula para longo prazo. É para isso que temos Rúben Dias, mas esta exibição dos centrais veteranos pode diminuir as hipóteses de o jovem jogar no Mundial. É uma pena, mas também me parece que o jovem foi Chamado, sobretudo, como solução a longo prazo.
É sempre bom sinal quando conseguimos um resultado e uma exibição perante um bom adversário, a pouco menos de duas semanas do Mundial. Sobretudo estando nós desfalcados da nossa maior arma e tendo eles, como comentou a minha irmã, trazido a artilharia pesada – com nomes como Courtois, Kompany, Hazard, entre outros, nos titulares.
A melhor parte? Fernando Santos disse que a Seleção ainda não estava ao nível que ele deseja. Ainda podemos melhorar ainda mais!
Há que ter em conta que isto é um particular e que estes nem sempre são equiparáveis a jogos a doer. Gosto muito de recordá-lo quando os particulares correm mal, não posso deixar de dizer o mesmo quando estes nos correm bem.
Dito isto, este jogo deixa boas indicações para o Mundial – nem que seja apenas um ligeiro aumento na confiança dos Marmanjos. Continuo muito relutante em alinhar em otimismos (não consigo esquecer 2014), mas admito que, no que toca a Campeonatos do Mundo, há muito que os sinais não nos eram tão favoráveis.
Antes disso, no entanto, temos o particular frente à Argélia, terá Cristiano Ronaldo em campo e, tal como já tinha dito, eu e a minha irmã nas bancadas. Pegando no conceito da campanha publicitária de um dos patrocinadores da Seleção, não vou ter muitas hipóteses de repetir os rituais do Euro 2016, mas este será uma exceção. Mais uma vez, vou despedir-me dos Marmanjos ao Estádio da Luz.
Tirando este, os poucos rituais que vou repetir são, na verdade, os mesmos que repito sempre que a Seleção joga: ir escrevendo neste blogue, ir atualizando a página do Facebook e, sobretudo, ir torcendo e acreditando até ao último minuto. E, pelo menos até agora, não me posso queixar dos resultados.
Na passada terça-feira, dia 29 de março, a Seleção Portuguesa de Futebol venceu a sua congénere belga por duas bolas a uma, no Estádio Magalhães Pessoa, em Leiria, em jogo de carácter particular e, também, solidário, visto ter decorrido apenas uma semana após os atentados terroristas em Bruxelas.
Tal como já acontecera no jogo com a Bulgária, Portugal recuperou um hábito antigo. Desta feita, foi o de se dar melhor perante equipas de maior prestígio (que podem nem sempre corresponder à qualidade real) do que perante equipas menos mediáticas. Nem sempre é psicológico, pode ser mesmo estratégico - a tática atual nem sempre funciona com equipas que se fecham à defesa. Mas já voltamos a isso...
Quer tenha sido por a Bélgica jogar mais em ataque direto, ou por ter comparecido desfalcada, ou por Portugal ter jogado sem medo, ou por outro motivo qualquer, a verdade é que a Seleção funcionou muito bem no jogo de terça-feira, sobretudo na primeira parte. Começámos, novamente, muito rematadores. Courtois conseguiu defender os remates de João Mário, Adrien, Nani e Cristiano Ronaldo e, desta feita, até houve bola à trave. Mais tarde, Nani e Fernando Santos confessariam que, por esta altura, temeram uma repetição do que acontecera com a Bulgária. No entanto, a pontaria esteve mais afinada desta vez e, aos vinte minutos, André Gomes assistiu para Nani e este, frente a frente com Courtois, não desperdiçou.
Há quanto tempo o Nani não comemorava um golo pela Seleção com um mortal? O exemplo mais recente de que me recordo é o jogo com a Dinamarca, em outubro de 2010 - quase seis anos, portanto. Há cerca de dois ou três anos, o Nani era uma sombra de si próprio. O jogador cheio de garra e magia, que nos cativara há... quase dez anos, vejo agora... estava quase desaparecido, por culpa de lesões e de um clube estagnado. Vir para o Sporting fez-lhe bem. Alguns - entre os quais o próprio Cristiano Ronaldo - consideraram-no um retrocesso na carreira, mas acabou por se revelar um passo atrás necessário para dar um salto para a frente. Foi um percurso irregular, mas nestas últimas duas épocas, o Marmanjo reencontrou-se a si mesmo. Agora, tanto no clube atual como na Seleção, voltou a ser o Nani que todos adoramos, mesmo a tempo do Europeu. As saudades que eu tive dele!
Não que Nani tenha sido o único a destacar-se neste jogo. Raphael Guerreiro foi titular e mereceu-o, batendo-se de igual para igual com jogadores com o dobro do tamanho dele. Eu queria muito vê-lo no Europeu e a possibilidade de Guerreiro ficar de fora da Convocatória final a favor de Eliseu parte-me o coração. Cédric e Danilo Pereira também estiveram bem, assim como João Mário.
Foi, aliás, dos pés dele que surgiu o centro para Ronaldo cabecear para o segundo golo da Seleção, aos quarenta minutos. Tal como Nani com o seu mortal, também Ronaldo celebrou à sua icónica maneira. As câmaras mostraram o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa fazendo sinal de "nota 20" a partir da tribuna (espero que tenha feito o mesmo com o golo do Nani, que ele também mereceu.).
Infelizmente não deu para manter o fulgor na segunda parte, com as substituições. Foi até no rescaldo das mesmas, quando a equipa se estava ainda a ajustar ao novo modelo de jogo, que os belgas reduziram, por intermédio de Romelu Lukaku. No entanto, mesmo sem o brilho da segunda parte, Portugal conseguiu manter a vitória. Ainda houve espaço para Ricardo Quaresma dar uns ares da sua graça, incluindo tentar repetir a sua célebre trivela, aos 84 minutos. Mas o marcador não se voltou a alterar.
Eu sei que este jogo tinha uma componente solidária, que o resultado não seria o mais importante, mas fiquei contente com a vitória e com a boa exibição perante uma seleção grande, mesmo que desfalcada. Apesar de termos feito o nosso melhor Apuramento em termos de resultados, o futebol que praticávamos era pouco vistoso. Não sabia se seria suficiente para o Europeu, sobretudo com Fernando Santos a dizer que quer ganhá-lo. Este jogo afastou pelo menos algumas das preocupações, deixa alguma esperança. Temos bases para construir uma Seleção com uma palavra a dizer no Europeu, algo que não poderia deixar-me mais feliz.
Há que alertar, no entanto, que, da mesma maneira como não estava tudo mal quando perdemos com a Bulgária, não está tudo bem agora, que ganhámos à Bélgica. As dificuldades que sentimos na semana passada preocupam, pois é com equipas semelhantes à búlgara que partilhamos o grupo do Europeu. Não tenho a certeza se os problemas desse jogo foram apenas azar e um guarda-redes inspirado, se tudo correria a nosso favor a partir do momento em que marcássemos um golo, ou se realmente não funcionamos bem em ataque continuado. Um dos maiores enigmas relativamente à Convocatória Final diz respeito à capacidade goleadora, se a Equipa de Todos Nós deverá usar ponta-de-lança ou não durante o Europeu, se valerá a pena chamar Éder (que, todos concordam, não é grande goleador) para apenas jogar os dez ou quinze minutos finais, quando a Seleção arrisca um futebol mais direto. Eu não sou, de todo, a pessoa mais indicada para dar um parecer sobre a questão, fica ao critério de cada um. Acredito que Fernando Santos tomará a decisão correta.
Mas também acredito que, qualquer seja essa a decisão, esta levantará polémica. Não só em relação à questão do ponta-de-lança, mas também ao por estes dias inevitável Renato Sanches. Acreditam que já deparei com acusações de campanhas, tanto para levar Renato ao Europeu como campanhas para não levar Renato ao Europeu? É caricato, mas, tal como tenho vindo a dizer, não é bom para o jovem jogador. A verdade é que acho que vão ficar de fora muitos que mereciam um lugar no Euro, sobretudo no que diz respeito precisamente ao meio-campo. O lado positivo da coisa é que esses são problemas de seleção grande.
Os anos vão passando, jogadores e treinadores vão e vêm, e, no entanto, uma coisa que nunca muda é a alegria que me dá uma vitória e uma boa exibição da Equipa de Todos Nós. O facto de terem sido os meus dois jogadores preferidos a marcar os golos é uma alegria extra, mas também ficaria feliz se tivesse sido o João Mário, o Adrien, o Quaresma, o André Gomes ou outro qualquer a brincar os golos. Era de maneira até que ficava ainda mais fã deles – afinal de contas, fiquei fã de Raphael Guerreiro quando este marcou o golo da vitória frente à Argentina. O meu desejo é que esta seja apenas a primeira alegria que a Seleção nos dá este ano, em particular nos próximos meses.
Agora ficamos a apenas mês e meio da Convocatória Final para o Europeu (a Federação bem podia confirmar o dia certo… Eu aposto em dia 16 de maio). Não vai custar muito – quem esperou quatro meses e meio por esta dupla jornada pode esperar seis semanas. Entretanto, vou concluir a minha entrada especial de aniversário (que, provavelmente, será dividida em duas), logo, podem contar com uma publicação nova no dia 12 de maio. Também poderão esperar pelo Anúncio dos Convocados comigo, através da página de Facebook do blogue. Até lá…
Na próxima sexta-feira, dia 25 de março, a Seleção Portuguesa de Futebol recebe, no Estádio Magalhães Pessoa, em Leiria, a sua congénere búlgara. Estava previsto a Seleção Nacional deslocar-se a Bruxelas para defrontar a sua congénere local, quatro dias mais tarde. No entanto, à luz dos recentes acontecimentos, o jogo foi mudado para o mesmo estádio do jogo com a Bulgária. Ambos os encontros terão carácter amigável, de preparação para o Campeonato Europeu da modalidade, que terá lugar em França, em junho próximo.
Uma vez mais, estes serão os primeiros jogos da Turma das Quinas em mais de quatro meses. Desta feita, não me custou tanto esperar - em parte por ser ano de Europeu, em parte por andar a trabalhar, de forma intermitente, numa entrada especial para o aniversário do blogue. Tal como da última vez, muita coisa mudou em quatro meses. Por exemplo, em novembro último, Gonçalo Guedes era o miúdo-sensação do Benfica, de quem toda a gente falava. No entanto, acabou por perder espaço no clube (o mesmo acontecendo a Ruben Neves, no F.C.Porto). O novo miúdo-sensação de quem toda a gente fala é Renato Sanches.
Como poderão deduzir, estou um bocadinho céptica em relação a todo este hype que está a ser feito em torno do jogador. Não é como se nunca tivesse visto isto, um jogador jovem muito mediatizado, que todos esperam que vá ser uma superestrela, mas que depois não consegue cumprir as promessas que deixara, por um motivo ou por outro (os miúdos deixam que o sucesso lhes suba à cabeça e/ou não sabem lidar com a pressão, são mal aconselhados, passam por momentos baixos de forma, perdem espaço nos respetivos clubes...). Na verdade, tanto quanto sei, o miúdo-sensação (entre 18 e 19 anos) que conseguiu cumprir as suas promessas nos últimos doze anos, mais coisa menos coisa, foi Cristiano Ronaldo (e, vá lá, apenas João Moutinho). Podem vilanizar Jorge Mendes o quanto quiserem, mas ele acertou em cheio ao obrigar Alex Ferguson a prometer que, quando Ronaldo viesse para o Manchester United, jogaria em pelo menos metade dos jogos. De outra forma, talvez Ronaldo não chegasse ao nível a que chegou - mas também, Ronaldo chegou a onde chegou precisamente por ser a exceção a todas as regras.
Fiquei contente por Fernando Santos ter tentado desviar os holofotes de Renato Sanches. "Não vamos criar ansiedade ao miúdo", disse ele. Não sei se já o referi aqui, mas respeito imenso Fernando Santos por se recusar a dançar ao som da música da Comunicação Social, dos seus hypes e polémicas - tudo isto mantendo um tom descontraído, terra-a-terra, sem a agressividade de que alguns dos seus antecessores por vezes adotavam.
Acho, por isso, que é muito cedo para lançar Renato Sanches como titular, nos jogos oficiais pelo menos. Nem, lá está, Cristiano Ronaldo, que já se destacava havia pelo menos um ano, começou o Euro 2004 a titular. Na minha modesta opinião (que pode, ou não, ter sido influenciada pela minha irmãzinha sportinguista), não seria má ideia aproveitar estes dois jogos e a lesão de João Moutinho para testar o meio-campo do clube de Alvalade, que já tem rotinas. De qualquer forma, penso que nenhuma das opções para meio-campo disponíveis (incluindo algumas que não couberam na Convocatória) seria errada. A Seleção pode ter as suas lacunas, mas em princípio o meio-campo não será uma delas. Dava jeito, até, ser possível fazer uma equipa só com médios...
Já falei, então, do maior destaque da Convocatória, apresentada na passada sexta-feira. O resto da Lista era expectável, tirando... Éder. Nestas coisas eu costumo ficar no lado do Selecionador, ter alguma boa vontade, mas nesta concordo com as críticas. Como muitos têm assinalado, Bruno Moreira, do Paços de Ferreira, e Hugo Vieira, do Estrela Vermelha da Sérvia, contam com catorze e dezassete golos esta época, respetivamente. Éder conta... dois. O último já veio imensas vezes à Seleção ao longo dos anos e apenas marcou um golo. Já teve inúmeras oportunidades para convencer e não o fez. Está na altura de dar oportunidades a outros.
Não sendo esta a Lista definitiva para o Europeu, não deverá definir muito da Convocatória final. Fernando Santos terá estes dois particulares para testar as armas. Sobre a Bulgária não sei quase nada. O nosso historial com essa seleção é equilibrado, mas também não jogamos com eles desde 1992. Os búlgaros não se Qualificaram para o Europeu e, segundo Fernando Santos, gostam de jogar à defesa. Podemos, então, contar com um jogo de paciência na sexta-feira, pouco excitante - pelo menos até a Seleção ser capaz de quebrar o gelo.
A seleção belga é muito mais interessante. Há cerca de dois anos, um pouco do nada (pelo menos para mim), passaram a figurar na lista das melhores seleções do mundo. Na altura, não o sabia, mas a Bélgica fizera uma excelente Qualificação para o Mundial 2014, graças a uma geração de jogadores notáveis como Éden Hazard, Thibaut Courtois, Axel Witsel, Simon Mignolet, entre outros. No Mundial, chegaram aos quartos. Na Qualificação para o Euro 2016, ficaram em primeiro no grupo. Atualmente estão em primeiro lugar no ranking da FIFA, mas não dou muita credibilidade a esse ranking.
O nosso historial frente a Bélgica é desfavorável, mas guardo boas recordações dos últimos dois jogos, em 2007. O primeiro, em Alvalade, terminou com uma vitória por 4-0, destacando-se o golo de trivela de Ricardo Quaresma, como podem ver acima. Também ganhámos o jogo fora, por 2-1, e aqui destacou-se a bomba de Hélder Postiga, como poderão ver abaixo. Isto tudo, no entanto, decorreu há nove anos, muita coisa mudou nesse tempo. Consta que alguns dos titulares, como Hazard e Vicent Kompany, vão falhar o jogo por lesão, mas não me parece que a Bélgica diminua muito de qualidade. Eu espero que não, pelo menos. Quero ver por mim mesma se a Bélgica é essa Coca-Cola toda.
Não posso falar deste jogo sem falar dos atentados terroristas em Bruxelas. Durante cerca de um par de horas esta manhã, pareceu que o encontro não seria de todo realizado. Eu confesso que fiquei com medo. Já aquando dos ataques em Paris, uma das coisas em que pensei quando soube que um dos alvos era o jogo entre a França e a Alemanha, foi que, pouco mais de um ano antes, Portugal tinha jogado lá (não sei se era o mesmo estádio...) e que o Europeu disputar-se-á precisamente em França. Da mesma maneira, quando soube dos ataques em Bruxelas, uma das coisas em que pensei foi que, tivesse o jogo marcado para uns dias antes, os nossos jogadores podiam ter estado no aeroporto no momento fatídico.
Por isso não, não posso dizer que não compreenderia, nem mesmo que não concordaria pelo menos em parte com um cancelamento, mesmo que os motivos não fossem estritamente práticos - a deslocalização foi sobretudo por, com a grande operação de segurança montada no país, não existirem recursos policiais suficientes para assegurar a segurança no jogo, não tanto o luto ou o medo.
Por outro lado, cancelar completamente o jogo seria ceder ao terrorismo. Era isso que eles queriam. O objetivo deles é destruir a sociedade e o estilo de vida ocidental, disseminar o medo. A melhor resposta é precisamente recusarmo-nos a seguir os termos deles, continuarmos a viver as nossas vidas normalmente, fingindo que não temos medo. Para além de ser impraticável vivermos sem aviões e transportes públicos, a longo prazo, será que queremos uma vida sem futebol? Não vou dizer que prefiro morrer num atentado do que deixar de ir a jogos de futebol, mas não sei se quereria uma vida assim. Até porque, como já escrevi várias vezes aqui no blogue, o futebol chega a ser uma das únicas fontes de esperança e alegria de que dispomos.
Fico aliviada por este particular não ter sido cancelado, apenas deslocalizado, e por já se ter posto de parte a hipótese de realizar o Euro 2016 à porta fechada. Poucas coisas são mais tristes que um jogo de futebol sem público, até porque eu acredito que o futebol é, acima de tudo, um entretenimento. Além disso, em termos práticos, não sei se ajudaria tanto assim. Aglomerados de pessoas durante eventos desta envergadura são inevitáveis, se não nos estádios, em parques ou praças, à volta de ecrãs gigantes. Ao menos nos estádios é mais fácil revistar quem entra.
Esta jornada de seleções já está estragada, mesmo que o jogo não tenha sido cancelado. No entanto, o facto de este se realizar à mesma é uma maneira de mostrar ao mundo e aos que procuram disseminar o medo que não abdicaremos da nossa liberdade, das coisas que nos fazem felizes, da nossa própria vida. É uma oportunidade de estendermos uma mão aos belgas, de mostrarmos a nossa solidariedade e amizade. Por outras palavras, é uma oportunidade para, numa altura em que nunca precisámos tanto disso, usarmos o futebol para a sua mais importante função: para unir.
Um abraço a todas as vítimas, diretas ou indiretas, do terrorismo.