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O Meu Clube É a Seleção!

Mulher de muitas paixões, a Seleção Nacional é uma delas.

Não pode ser sempre assim?

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No passado dia 1 de setembro, a Seleção Portuguesa de Futebol venceu a sua congénere irlandesa por duas bolas contra uma. Três dias mais tarde, venceu a sua congénere catari por três bolas contra uma. Três dias depois desse jogo, venceu a sua congénere azeri por três bolas sem resposta. O primeiro e o último jogo contaram para a Qualificação para o Mundial 2022. O outro foi apenas um particular. 

 

Esta foi uma jornada tripla estranha, pelo menos para mim. Como tinha referido no texto anteriorestava menos entusiasmada que o costume. O jogo com a Irlanda e o jogo com o Catar não ajudaram nesse sentido. O terceiro foi melhor… mas deixou-me numa posição confusa. 

 

Hei de explicar melhor já a seguir. 

 

Uma coisa de cada vez. Longe de me animar, a exibição dos portugas perante a República da Irlanda apenas piorou o meu estado de espírito. Começando pelo penálti desperdiçado.

 

Para ser justa, não me surpreendeu que Cristiano Ronaldo tivesse falhado. Primeiro, o penálti demorou imenso tempo a ser validado. A UEFA (ou terá sido a FIFA?) finalmente ganhou juízo e introduziu o vídeo-árbitro nos jogos de Qualificação. No entanto, nestas circunstâncias torna-se contraproducente: a demora aumenta os nervos. 

 

VAR. Sabotando-nos, quer estando lá quer não. 

 

 

Os irlandeses também não ajudaram, com as suas picardias a Ronaldo durante a espera. Ele que, apesar de quase duas décadas nestas andanças, no que toca a resistência a provocações, é apenas pouco melhor que Sérgio Conceição e os seus filhos. 

 

Aliás, tanto Ronaldo como o irlandês Dara O’Shea podiam ter visto cartões, se o árbitro não estivesse distraído. O primeiro ajustava a bola na marca de grande penalidade, o segundo pontapeou a bola, Ronaldo respondeu com uma palmada leve no braço do outro. 

 

Uma cena saída de um recreio da Primária. 

 

Juntando-se a isto, estava toda a gente a suster a respiração para o “momento histórico” em que Ronaldo quebraria o recorde de Ali Dalei. 

 

É claro que ia correr mal. 

 

O momento histórico acabou por ir para Gavin Bazunu, o guarda-redes irlandês de apenas dezanove anos. O miúdo tinha cinco meses de idade quando Ronaldo subiu aos séniores!

 

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Acho que o penálti falhado afetou os portugueses durante a maior parte do jogo. E como quem não marca sofre, após termos falhado mais um par de tentativas, os irlandeses inauguraram o marcador em cima do intervalo. 

 

Eu tinha vindo para este jogo com pouco entusiasmo e mesmo assim estava a apanhar uma desilusão. Com o devido respeito pelos irlandeses, como é que estávamos a perder com o último classificado do grupo?!

 

A coisa acabou por se resolver literalmente nos últimos cinco minutos da partida. Com um Ronaldo Ex Machina, como em muitas outras ocasiões. Ambos os golos foram marcados de cabeça. O primeiro teve assistência de Gonçalo Guedes, o segundo de João Mário.

 

Nesta altura estava demasiado desiludida ainda para celebrar os golos como deve ser. No entanto, já aí reconhecia que as bancadas do Estádio do Algarve merecera aqueles golos. Fora o regresso do público aos jogos da Seleção e este fez-se ouvir durante o jogo todo – mesmo com um jogo medíocre durante oitenta e oito minutos. Seria demasiado ingrato levarem com uma derrota. 

 

Adoro em particular os festejos do segundo golo. Ronaldo tirou a camisola  –  o que, pelo menos a mim, recordou-me o seu segundo golo com as Quinas, no Euro 2004. Acabaria por ver o amarelo e ser excluído do jogo seguinte, mas acho que ninguém se importou. 

 

Momento engraçado quando os Marmanjos foram para junto do público e um dos stewards foi apanhado nos abraços. Terá mesmo havido contacto entre os jogadores e elementos da audiência, o que não é aconselhável em tempos de pandemia. Mas sinceramente? Não tenho alma para criticar. Estivemos muito tempo sem ir aos jogos, queremos este calor humano.

 

 

Além disso, os envolvidos estarão quase de certeza todos vacinados.

 

Depois do jogo ninguém se calava com o recorde quebrado por Cristiano Ronaldo. Não que não fosse merecido – são cento e onze golos! Acho que não é a primeira vez que escrevi isto aqui no blogue, tanta Ronaldomania às vezes enjoa mas, se formos olhar os factos… ele merece. Ele merece todos os elogios! Veja-se por exemplo esta infografia da SportTV. Vejam-se os recordes que o homem quebrou! 

 

Quer-me parecer que as gerações futuras, que nunca verão Ronaldo jogar, não vão acreditar que ele existiu mesmo.

 

Dito isto, irritou-me que, entre os louvores a Ronaldo, muitos tivessem esquecido tão depressa que foram os primeiros oitenta e oito minutos do jogo. Sim, os jogadores não deram o jogo como perdido, deram a volta ao resultado, persistência, garra, inconformismo, outras palavras bonitas. No entanto… era o último classificado do grupo! Dar a volta a um resultado desfavorável perante a uma equipa como esta (com o devido respeito pelos irlandeses) não é um grande feito, é uma obrigação. 

 

Acabou por ser mais ou menos como eu previra no texto anterior: exibições fraquinhas, mas suficientes para conseguir os resultados. Não satisfazia, mas sempre era um passo em frente.

 

Havemos de regressar a isto.

 

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Não tenho muito a dizer sobre o jogo do Catar – em parte porque não lhe prestei grande atenção. Para além da mesma falta de entusiasmo, tinha estado a conduzir durante cerca de duas horas nessa tarde e ficara exausta. 

 

E uma vez mais, o jogo em si não me animou por aí além. 

 

Não que estivesse à espera que o fizesse. Era apenas um particular, com um onze bem diferente do habitual. O Ronaldo já tinha deixado a Seleção e tudo. Ninguém esperava uma festa do futebol.

 

Em todo o caso, o Catar até entrou no jogo por cima, mas foi Portugal a inaugurar o marcador –  com dois golos de seguida! O primeiro foi de André Silva, após assistência de João Mário. O segundo foi mais especial, na minha opinião. Assistência de Gonçalo Guedes (está num bom momento, o Marmanjo) e o estreante Otávio deu um salto à Ronaldo e marcou de cabeça. Fico feliz por ele, que estava tão orgulhoso pela sua Convocatória.

 

Quando os cataris se viram reduzidos a dez, em cima do intervalo, pensei que teríamos a vida facilitada na segunda parte. Não foi bem assim. Os cataris, aliás, conseguiram reduzir a desvantagem na sequência de um canto, acentuando o problema recorrente dos múltiplos golos sofridos nos últimos tempos. (Para sermos justos, o jogo com a Alemanha terá desequilibrado ligeiramente essa estatística.)

 

Lá surgiu um penálti a nosso favor e Bruno Fernandes foi chamado a converter. O Marmanjo tinha de aproveitar, coitado – agora que tem Ronaldo como companheiro de clube, não terá muitas oportunidades. 

 

Para este caso, Bruno pode ao menos gabar-se de não ter falhado, ao contrário do Capitão. Mas também, a pressão era bem menor.

 

 

Enfim, foi um particular aceitável, ainda que eu desejasse mais golos.

 

No dia do jogo com o Azerbaijão estava de melhor humor – isto apesar de, de início, parecer que o universo estava a conspirar contra mim. O jogo foi às cinco da tarde. Eu tentei trocar para sair às quatro, mas surgiu um imprevisto e tive de sair às cinco à mesma. Não não, nem isso porque apareceram pessoas em cima das cinco, obrigando-me a sair uns dez minutos depois da hora.

 

É sempre assim.

 

O que vale é que eu até gosto de ouvir o relato da rádio de vez em quando. Foi através dele que soube dos golos. O primeiro foi espetacular: uma grande assistência de Bruno Fernandes para Bernardo Silva, que conseguiu enfiar a bola num ângulo dificílimo. 

 

O segundo golo foi menos artístico, mas resultou de uma boa jogada envolvendo João Cancelo, Bruno Fernandes, Diogo Jota, com André Silva a concluir. A cada golo, não resisti a buzinar um bocadinho.

 

Mais do que os golos até, aquilo que me deixava feliz eram os testemunhos que garantiam que a Seleção não jogava tão bem há muito tempo – desde o jogo com a França em Paris no ano passado, pelo menos. Eu pude vê-lo por mim mesma, quando cheguei finalmente a casa. 

 

 

Por outro lado, também vi algumas falhas defensivas que podiam ter custado caro. Contei pelo menos duas fífias de Nuno Mendes, mas não digo que ele tenha sido o único a falhar. Valeu-nos o facto de os azeris não terem sido capazes de aproveitar estas oportunidades. Em todo o caso, esta é uma possível explicação para os golos que temos sofrido.

 

Pelo meio, na segunda parte, Diogo Jota marcou o nosso terceiro golo, de cabeça, após assistência de João Cancelo. 

 

Uma palavra para os adeptos que invadiram o relvado, para tirarem fotografias com Bruno Fernandes. Hoje em dia estes momentos já não aparecem na televisão – por instruções das autoridades do futebol, para não encorajarem estes comportamentos. Pelos vistos a realização deste jogo não recebeu o recado. É sempre bom ver os nossos jogadores – não apenas o Ronaldo  – sendo acarinhados.

 

Foram três golos, podiam ter sido mais. No final do jogo lamentámos não ter ganho por mais, por causa das contas do Apuramento. No entanto, mais tarde naquele dia, a Sérvia empatou com a Irlanda, deixando-nos isolados no primeiro lugar do grupo. A Qualificação continua a correr bem, melhor que as anteriores.

 

E agora, como bónus, tivemos uma boa exibição. É certo que estamos a falar de azeris, não de italianos, nem mesmo de sérvios. Mas já tínhamos jogado contra o Azerbaijão este ano e foi uma tristeza. De igual modo, tivemos jogos com equipas de nível semelhante ou pouco melhor – Luxemburgo, Irlanda – e jogámos pior. 

 

Neste momento, estou numa posição estranha. Durante o jogo com a Irlanda, antes dos últimos cinco minutos, tive flashbacks do jogo com a Albânia há sete anos (!) e estava já com os lencinhos brancos a postos. Acho mesmo que, se não fosse o Ronaldo Ex-Machina, estaríamos hoje pelo menos a discutir essa possibilidade. Seria um escândalo demasiado grande perdemos perante o último classificado do nosso grupo, pouco tempo após um Europeu que deixou muito a desejar

 

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Quando o resultado virou, guardei os lencinhos, mas continuava insatisfeita. Pensava que iríamos ficar presos num ciclo vicioso de exibições fracas, de serviços mínimos. Conseguiríamos Qualificações, mas a estas seguir-se-iam participações tristes em fases finais: não suficientemente más para quase toda a gente querer chicotada psicológica, mas claramente aquém daquilo que somos capazes.

 

No entanto, perante o Azerbaijão ganhámos e jogámos bem. E agora estou com esperança? Afinal de contas, Fernando Santos consegue pôr a equipa a jogar. Porque não podemos jogar sempre assim (ou, vá lá, quase sempre)?

 

Vocês sabem que não sei o suficiente para opinar sobre estas matérias. Prefiro guiar-me pelo parecer de especialistas. Daquilo que tenho lido e ouvido, temos bons jogadores, mas nem sempre conseguimos encaixá-los uns com os outros. E poderá ser necessário deixar algum génio no banco. 

 

Numa discussão num vídeo de António Tadeia, por exemplo, comentou-se que o melhor onze para a Seleção neste momento será o que jogou perante o Azerbaijão, com Ronaldo no lugar de Diogo Jota. Ou seja, mandaríamos um dos melhores marcadores da Seleção no pós hiato da pandemia para o banco. 

 

E ainda temos de pensar em nomes como Renato Sanches, Pote, João Félix, que também têm de entrar nestas contas. E claro, gerir lesões e momentos de forma, adversários diferentes, etc.

 

É difícil ser-se Selecionador. Quem diria, hem?

 

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Em todo o caso, acho legítimo darmos o benefício da dúvida a Fernando Santos. Por muitos defeitos que tenhamos a apontar-lhe no passado recente, ele continua a ser o único Selecionador que nos ganhou títulos. A parte boa de os próximos jogos serem de dificuldade média-baixa, e de estarmos isolados no primeiro grupo, é que permitirá a Fernando Santos praticar estas táticas novas. Pelo menos era o que eu faria.

 

Saio assim deste compromisso da Seleção um pouco mais animada e otimista do que estava no início dele. Uma parte de mim continua receosa de que voltemos às exibições pastosas nos próximos jogos. Mas, lá está, a esperança é a última a morrer e quem sabe? Talvez isto seja um início. Talvez seja agora que aprendamos, finalmente, a usar da melhor forma os trunfos de que dispomos.

 

Vamos ver. A Seleção reúne-se de novo daqui a algumas semanas. Ainda não sei se escreverei uma crónica pré-jogos: os adversários são o Luxemburgo e o Catar, com quem jogámos recentemente, não devo ter muito a dizer. 

 

Em todo o caso, continuarei a cobrir as aventuras e desventuras da Seleção na página de Facebook deste blogue. Deem uma espreitadela. Para já, como sempre, obrigada pela vossa visita. Voltamos a falar em breve. 

Suponho eu

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No próximo dia 1 de setembro, a Seleção Portuguesa de Futebol receberá a sua congénere irlandesa no Estádio do Algarve. Este jogo contará para a Qualificação para o Mundial 2022, à semelhança do jogo do dia 7, em Baku, perante o Azerbaijão. Pelo meio, no dia 4, a Seleção disputará um jogo de carácter amigável contra o Catar. 

 

Cá vamos nós outra vez, suponho eu.  

 

Fernando Santos Divulgou os Convocados para esta jornada na passada quinta-feira, dia 26 de agosto. A lista inclui uma mão cheia de novidades: alguns regressos, algumas estreias absolutas. 

 

Uma das estreias é de Diogo Costa, atual guarda-redes titular do F.C.Porto, se não estou em erro. Também do Porto, temos o médio Otávio – dizem que é dos melhores da Liga Portuguesa neste momento – naturalizado português. Pelo que publicou no seu Instagram, a Convocatória “chega como a realização de um sonho” e tenciona “retribuir o carinho de toda uma nação”.

 

Falando por mim, ele é muito bem-vindo. 

 

Por outro lado, temos o caso do Matheus Nunes. Não chegou a ser Convocado desta vez, mas Fernando Santos abriu-lhe a porta. Foi, no entanto, chamado à Seleção do Brasil. Ainda não percebi qual das seleções ele quer representar – já ouvi ambas as versões possíveis. 

 

Enfim. Espero que nem Fernando Santos nem a Federação cometam a asneira de se porem de joelhos perante ele. Deixem ser Matheus a tomar essa decisão. 

 

Eu estava feliz pela Convocatória de Gonçalo Inácio – ele merecia ter ido ao Europeu e, como tenho vindo a referir, precisamos de mais opções para centrais – pena ele ter-se lesionado. Digo o mesmo de Ricardo Pereira. Ninguém merece! Ao menos Domingos Duarte está de volta.

 

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Por outro lado, o regresso de João Mário tem causado alguma controvérsia. Não tanto porque as pessoas acham que ele não merece, mais porque esta é o primeiro compromisso da Seleção desde que ele trocou o Sporting pelo Benfica. Há quem ache que não é coincidência.

 

Não vou tentar convencer ninguém do contrário. Aliás, nesta altura, não tenho vontade de defender Fernando Santos – mais sobre isso já a seguir. Dito isto, a mim pouco importa o clube do jogador, nem se esse pesou ou não na escolha. Só me interessa se ele foi bem Convocado ou não. 

 

Eu acho que foi.

 

O problema destas discussões é que a maior parte das pessoas, como diz um amigo meu, usa lentes da cor dos respectivos clubes. Fica difícil distinguir as opiniões legítimas das enviesadas.

 

Falemos, então, sobre os nossos adversários. A República da Irlanda é um caso curioso. Ao contrário da maior parte das seleções que encontramos em fases de apuramento, só contamos quatro jogos contra eles nos últimos vinte e um anos. E mesmo assim os dois últimos jogos foram meros particulares.

 

Do de fevereiro de 2005 – uma derrota por 1-0 – não me lembro de nada. Lembro-me só de ter ficado chateada – muito mais do que ficaria hoje ou mesmo um par de anos depois. Eu tinha quinze anos, acompanhava a Seleção há pouco tempo e é possível que estivesse a passar por uma zona turbulenta da minha adolescência. 

 

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O outro jogo foi em 2014, quando já tinha este blogue. Ainda assim, recordo-me pouco dele. Foi daqueles jogos particulares antes de campeonatos de seleções, que raramente ficam na História, mesmo quando escrevo sobre eles.

 

No geral, o histórico dos nossos confrontos com os irlandeses é favorável a nós. Mesmo o passado recente deles não é brilhante. Estão na Divisão B da Liga das Nações, mas ficaram em terceiro lugar no grupo. E ainda não pontuaram nesta Qualificação. Eles perderam contra o Luxemburgo! É certo que o Luxemburgo não é o mesmo alvo fácil de há uns anos, mas mesmo assim.

 

Com tudo isto em conta, à partida, os irlandeses estarão ao nosso alcance. É claro que a prática às vezes é diferente, mas nesta altura isto já está implícito. 

 

Na verdade, aquilo que mais me interessa nos irlandeses são os seus adeptos. Sobretudo aqueles que estiveram em França, durante o Euro 2016 (e já tinham dado um ar de sua graça durante o Euro 2012). Na minha opinião, a República da Irlanda devia ser automaticamente qualificada para todos os campeonatos de seleções só por causa dos seus adeptos. Um grupo simpático, divertido, barulhento mas ordeiro, que canta para freiras, bebés, adeptos adversários (com muito mais educação que noventa e nove por cento das claques), que apanha o lixo que eles próprios fizeram. 

 

Por outras palavras, o completo oposto dos degradantes adeptos ingleses, como se viu durante o Euro 2020.

 

 

Tenho pena de não poder ir ao Algarve ver este jogo, em parte porque queria conhecer estes adeptos. Também não sei se eles virão ao Estádio – com a pandemia é tudo muito incerto. Mas espero que venham. 

 

De qualquer forma, com ou sem irlandeses, vai ser bom ver o público português de volta aos jogos da Seleção.

 

Uma historieta curiosa: eu de certa forma previ que a República da Irlanda seria nossa adversária na Qualificação. Poucas horas antes do sorteio, numa das publicações da página de Facebook deste blogue, comentei que a Irlanda seria um bom adversário precisamente por causa dos adeptos. Acabei por adivinhar o futuro…

 

Não é preciso falar sobre o Azerbaijão – fizemo-lo há pouco tempo. Devia, no entanto, dedicar alguns parágrafos ao Catar, mas não tenho muito a dizer. Será a primeira vez que os defrontamos – não existe histórico para analisar. Com base nos últimos resultados deles, parecem ser de nível médio-baixo.

 

Para ser sincera – e aposto que não sou a única – eu dispensava este particular. É o jogo do meio numa jornada tripla com duração de uma semana, obriga a deslocações chatas. Mas pronto, é um caso semelhante ao da França durante a Qualificação para o Euro 2016: o anfitrião é sorteado para um dos grupos e disputa amigáveis com cada uma das equipas. 

 

Bem, sempre dará para fazer experiências. Ao menos não teremos mesmo de ir até ao Catar. Apenas até Debrecen, na Hungria. Aposto que já tinham saudades dos húngaros homofóbicos…

 

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Não estou com grande entusiasmo para estes jogos da Seleção. A amargura com a nossa participação no Europeu ainda não passou. Além disso, é desconfortável torcer pela Turma das Quinas quando já não confio no Selecionador. Pelo menos não como antes do Europeu.

 

Não que não acredite na Equipa de Todos Nós para estes jogos de Apuramento. Os desempenhos da Seleção têm deixado a desejar mas, tal como já tinha escrito antes, penso que serão suficientes para nos Qualificarmos – mesmo não praticando um futebol muito bonito ou entusiasmante. As minhas dúvidas dizem respeito ao que acontecerá depois – quando enfrentarmos adversários como aqueles que não conseguimos vencer no Europeu. 

 

Bem, também não adianta pôr a carroça à frente dos bois. Só chegaremos a essa fase no próximo ano. Pode ser que recupere o meu entusiasmo até lá – se a Qualificação de facto correr bem, sem (mais) percalços desnecessários e se tiver a oportunidade de ir a um jogo. Vou fazer por me recordar do compromisso de há um ano atrás, quando andava felicíssima por ter a Turma das Quinas de volta depois de meses de pausa.

 

O mais importante, de facto, é continuarmos a ter a Seleção, é estarmos todos juntos, é termos o Estádio do Algarve esgotado. É termos este escape nestes tempos tão conturbados. É ganharmos os próximos jogos da Qualificação. Lidaremos com o resto depois. 

 

Obrigada pela vossa visita, como sempre. Acompanhem este compromisso triplo aqui no blogue e na sua página de Facebook

Tédio, roubo e falta de intensidade

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No passado dia 24 de março, a Seleção Portuguesa de Futebol venceu a sua congénere azeri por uma bola a zero. Três dias mais tarde, em Belgrado, empatou a duas bolas com a sua congénere sérvia. Finalmente, no dia 30, venceu a sua congénere luxemburguesa por três bolas a uma. Todos estes jogos contaram para a Qualificação para o Mundial 2022 e, com estes resultados, Portugal conta sete pontos e segue em primeiro da classificação do grupo.

 

Esta foi uma jornada tripla bastante atribulada. Começando pelo primeiro jogo – uma maneira triste e entediante de começar o ano da Seleção. Cheguei a perguntar-me se fora mesmo daquilo que tivera saudades durante semanas – até porque nesse tempo andei a ver os jogos do Sporting com a minha irmã. 

 

Não diria que a Seleção jogou mal. Portugal não comprometeu, não cometeu erros. No entanto, não houve intensidade, não houve inspiração no ataque, nada que entusiasmasse. Ao mesmo tempo, o “Azérbaijão” (o novo “Félich” que me irritou tanto que, na segunda parte, mudei para a SportTV) mal saiu do seu meio campo durante a primeira parte. Mesmo quando conseguiu sair, mais tarde, não chegava a ameaçar a baliza de Anthony Lopes.

 

O resultado disto tudo foi um dos jogos mais enfadonhos de que há memória. É verdade que ganhámos – e não ganhávamos num primeiro jogo de Apuramento há oito anos e meio – mas este é o pior tipo de vitória. Nem sequer tivemos o prazer de festejar um golo. Foi Medvedev a marcar na própria baliza. A única coisa em que este jogo foi melhor que outras estreias em Apuramentos foi mesmo os três pontos.

 

Na altura as reações nas redes sociais a este jogo foram duras. Eu, embora concordasse com o essencial das críticas, achava um exagero. Sim, fora um jogo mau, mas estava longe de ser o pior de sempre da Equipa de Todos Nós – acreditem, eu sei do que falo. Não fazia sentido estar a pôr tudo em causa por um jogo em que ganhámos. Eu sabia que da próxima vez, com um adversário mais estimulante, a coisa correria melhor. Certo?

 

Acho que não se justifica dizer “Errado!”, mas…

 

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O resultado abaixo das expectativas no jogo com a Sérvia desiludiu-me um pouco mais do que o costume porque eu estava a ter um dia bom. Dias bons em tempos de pandemia são raros. Tinha ido dar sangue de manhã – por mera coincidência era Dia Nacional do Dador. Já agora, deem sangue! – estava bom tempo, dera um agradável passeio higiénico, tivera pizza para o jantar. 

 

A boa disposição manteve-se durante a primeira parte. Portugal não foi brilhante, mas dominou o jogo – um alívio após a fraca exibição em Turim. O primeiro golo foi marcado logo aos dez minutos – Bernardo Silva assistiu para a cabeça de Diogo Jota. O segundo golo, aos trinta e cinco minutos, foi idêntico ao primeiro – desta vez com Cédric Soares a assistir. 

 

Ao intervalo sentia-me satisfeita e otimista em relação ao resto do jogo. Os Marmanjos manteriam o nível, mais ou menos, marcariam mais um golo ou, pelo menos, conservariam a vantagem. Reconheço agora que este otimismo era um tudo nada exagerado. O género de engano de alma ledo e cego que já deveríamos saber que a Fortuna não deixaria durar muito.

 

Não cheguei a ver o primeiro golo da Sérvia pois atrasei-me a mudar de canal no fim do intervalo – foi logo aos primeiros minutos. Na altura não me preocupei muito pois continuávamos em vantagem. No entanto, a intensidade da primeira parte desaparecera sem deixar rasto. Pior de tudo, aos sessenta minutos, na sequência de (tenho de reconhecer) uma bela jogada de contra-ataque, os sérvios empataram a partida.

 

Não se pode dizer que Portugal tenha procurado febrilmente regressar à vantagem. António Tadeia é da opinião que, a certa altura, Fernando Santos resignara-se ao empate. No entanto, Portugal chegou a conseguir enfiar a bola na baliza, mesmo no último minuto, a minha irmã até desatou aos guinchos… mas não valeu. 

 

Vamos então falar deste infame momento e da reação de Ronaldo. Um episódio que tem feito correr muita tinta digital e, à boa maneira das redes sociais, as discussões chegaram a extremos ridículos. 

 

 

Deixo aqui o meu contributo para o debate. Para começar, sim, o golo era legal – dá para ver no vídeo acima – custou-nos dois pontos. Não culpo os árbitros, são humanos. É para compensar as suas limitações que existe o vídeo-árbitro e a tecnologia da linha de golo… que, no entanto, continuam a não ser usadas nas fases de Apuramento porque… razões.

 

Já não é a primeira vez que a falta de VAR, passe a expressão, nos lixa. A outra vez foi há dois anos, mais dia menos dia, por sinal também frente à Sérvia, também num segundo jogo de Apuramento. Estive a ouvir a Conferência de Imprensa depois do jogo e tive um dejá-vu quando Fernando Santos disse que o árbitro lhe pedira desculpa. 

 

Nos dias seguintes a FIFA chutou as responsabilidades para a UEFA, a UEFA chutou as responsabilidades para as federações dos países que organizam os jogos – qualquer coisa sobre a federação do país-anfitrião ter de pedir licença à federação do país visitante para implementar a tecnologia da linha de golo. 

 

O que a mim cheira a treta. Haverá alguma federação que recuse as tecnologias? 

 

Para juntar achas a esta fogueira, ao pesquisar para este texto, encontrei notícias de finais de 2019 que indicam que a UEFA aprovou o VAR para os jogos de Qualificação, estava só à espera da luz verde da FIFA. Porque é que não passou da decisão à prática? A FIFA não autorizou e, agora, está a mentir? A FIFA autorizou mas a UEFA “esqueceu-se” de implementar a tecnologia?

 

Não faz sentido. 

 

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Regressando ao momento do golo, não gostei nada da reação de Ronaldo. Sim, foi uma reação humana, no calor do momento, não serei eu a atirar a primeira pedra – se bem que, da última vez que tive uma reação semelhante (também a propósito do jogo com a Sérvia na Luz) estava mais cafeínada que o costume. Sei também que Ronaldo é daquelas pessoas que tem mau génio, tem sempre as emoções à flor da pele, sente tudo – sobretudo no que toca àquilo que adora, o futebol – não é capaz de esconder nada.

 

Ainda assim… Ronaldo tem trinta e seis anos. Está no futebol profissional há quase duas décadas. Este não foi o primeiro nem o segundo caso de má arbitragem que ele testemunhou e é possível que não seja o último. Ele não devia ter mais controlo sobre si mesmo nesta altura do campeonato?

 

Quanto ao facto de ter atirado com a braçadeira de Capitão… não foi bonito, não foi correto, percebo que algumas pessoas tenham ficado incomodadas com o gesto. No entanto, não acho que tenha sido intencional. Era o que estava à mão. Se ele tivesse um apito ao pescoço ou o telemóvel no bolso, teriam sido esses objetos a voar. 

 

Na verdade, o que me irritou neste episódio é que Ronaldo foi reclamar com o árbitro quando o jogo ainda estava a decorrer. Não houve pausa, tirando alguns segundos depois. Bernardo Silva tentara a recarga. Ronaldo podia ter adiado a birra por um minuto ao dois e ter ficado em campo com ele e os colegas tentando não desperdiçar a jogada. Talvez ele (ou outro qualquer) tivessem conseguido marcar, teríamos agora nove pontos e a conversa hoje seria outra. 

 

Um dos argumentos que tem circulado por aí é que Ronaldo adora a Seleção, adora marcar golos (e tem andado algo ansioso com isso), leva-o a peito, daí essa reação. Eu respeito isso, admiro-o, mas este caso pedia um pouco menos amor e um pouco mais juízo. 

 

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Além disso, sejamos sinceros, se fosse uma mulher a fazer uma birra daquelas, as críticas seriam muito mais duras. Veja-se o que aconteceu com Serena Williams

 

Adiante. Apesar de nos terem roubado a vitória, não se pode dizer que tenhamos feito o suficiente para merecê-la. É claro que “merecer” é relativo: no futebol ganha-se marcando golos e não seria a primeira vez que Ronaldo faria de Deus Ex Machina. Ainda assim, estivemos a ganhar por 2-0 e perdemos essa vantagem. Não foi só culpa do árbitro. 

 

Havemos de falar sobre as falhas da Seleção mais à frente. Antes, o jogo com o Luxemburgo. 

 

Depois da turbulência dos jogos anteriores, só queria uma vitória tranquila. Não precisava de ser uma grande exibição: apenas um jogo sem stress, três pontos ganhos sem grandes complicações, sem dar motivos para polémicas. 

 

Era bom, não era? Aqueles Marmanjos… 

 

Péssima primeira parte, péssima. Uma vez mais, faltou agressividade, faltou concentração. Como diria o próprio Fernando Santos, Portugal estava a jogar a passo, uma espécie de peladinha. Enquanto isso, o Luxemburgo vinha catalisado pela vitória perante a República da Irlanda (!). Com os luxemburgueses entusiasmados e os portugueses apáticos, quem é que acham que marcou primeiro? 

 

 

Só quando deram por si em desvantagem é que os portugas acordaram para a vida. Bernardo Silva passou para o meio, Pedro Neto rendeu o lesionado João Félix. Portugal começou a jogar melhor. Finalmente, em cima do intervalo, Pedro Neto assistiu para Diogo Jota marcar de cabeça. 

 

Dias mais tarde, Jota marcaria da mesma forma pelo Liverpool. Quatro golos de cabeça no espaço de uma semana. O miúdo deixa-me sem palavras. Ninguém diria que esteve três meses lesionado – parece, aliás, que Jota passou esse tempo a treinar cabeceamentos!

 

Depois do intervalo, aos cinquenta minutos, Cristiano Ronaldo colocou Portugal em vantagem, após assistência de João Cancelo. Antes do jogo, eu tinha previsto que ele ia marcar – já são muitos anos, sei como ele funciona. 

 

Acertei… mas acho que todos concordamos que o enguiço ainda não passou por completo. Veja-se a oportunidade dupla que ele desperdiçou aos setenta e oito minutos (após outro período mais apagado da Seleção). Ronaldo não costuma falhar estas. 

 

Algo que é em simultâneo uma vantagem e uma desvantagem da Equipa de Todos Nós é não acompanharmos diretamente o seguimento de momentos específicos das carreiras dos jogadores. Depois das jornadas os Marmanjos regressam aos clubes e, quando voltam à Seleção, as suas histórias já estão num capítulo completamente diferente. Pode ser que Ronaldo já tenha recuperado o faro para o golo quando começarmos a preparar o Europeu.

 

 

Regressando ao jogo contra o Luxemburgo, Portugal conseguiu ampliar a vantagem a dez minutos do fim – com um golo de João Palhinha, na sequência de um canto cobrado por Pedro Neto. Espero que o tenham visto mais tarde, nas entrevistas rápidas: os olhos de Palhinha até brilhavam, estava tão feliz!

 

Ele e o outro estreante, o Nuno Mendes, estiveram muito bem nesta tripla jornada. O segundo em particular, como li algures, tem dezoito anos, mas joga como se tivesse sido internacional a vida toda. Veja-se a assistência dele para o golo não validado de Ronaldo. 

 

Este jogo com o Luxemburgo fez-me lembrar o de 2012, com o mesmo adversário. Nesse também começámos mal, com o Luxemburgo a marcar primeiro. Também conseguimos empatar antes do intervalo, também chegámos à vantagem no início da segunda parte. 

 

Na minha opinião, o jogo de 2012 foi pior – nessa altura, a seleção do Luxemburgo estava menos profissionalizada do que hoje. Ainda assim, a Turma das Quinas está melhor fornecida agora, tem capacidade para melhor.

 

O que me leva ao denominador comum aos três jogos deste compromisso: a falta de intensidade, de concentração. As redes sociais têm colocado as culpas em Fernando Santos, porque é isso que o povo faz. No entanto, tirando algumas decisões, não acho que a culpa seja dele. 

 

A falta de tempo de qualidade com os jogadores é um argumento tão velho como, se calhar, o próprio conceito de seleção nacional mas, para sermos justos, esta é apenas a terceira jornada tripla – e a primeira em que os três encontros são a doer. Foram três jogos em menos de uma semana! Segundo Fernando Santos, entre viagens e jogos, os treinos servem apenas para recuperação, não propriamente para treinar. E suponho que, nesta fase da época, isso pese mais aos jogadores que em outubro ou novembro. 

 

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Há um par de anos talvez torcesse o nariz a essa desculpa. No entanto, se formos a ver, houveram outras seleções com resultados menos bons. A França empatou com a Ucrânia – os ucranianos não são nenhuns bananas, nós mesmos o descobrimos, mas a França sempre os goleou em outubro último – a Holanda perdeu contra a Turquia, a Espanha empatou com a Grécia e, mais chocante de todas, a Alemanha perdeu com a Macedónia do Norte!

 

Tendo isto em conta, os nossos resultados nesta tripla jornada não foram assim tão maus. E não são, mesmo em circunstâncias melhores, como veremos já a seguir. Não será apenas coincidência termos várias seleções de topo com resultados abaixo das expectativas. Alguma coisa se passa e deve ter mesmo que ver com o calendário atual das seleções.

 

Não sou a melhor pessoa para falar disso, mas penso ter lido alguém sugerindo dedicarem um mês, um mês e meio, às fases de Qualificação. Mais ou menos como fazem com os Europeus e Mundiais. Teria a grande desvantagem de aumentar os hiatos entre concentrações da Seleção, mas as vantagens seriam maiores. Os selecionadores teriam mais tempo de seguida para trabalhar com os jogadores e criarem rotinas, logo, a qualidade do futebol aumentaria. Em relação aos clubes, talvez fosse menos prejudicial abdicarem dos jogadores apenas uma ou duas vezes por época, mesmo que durante várias semanas, do que abdicarem-no várias vezes ao ano, por vezes em alturas críticas dos campeonatos. 

 

A hipótese devia ser discutida, no mínimo. 

 

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Nessa linha, concordo com António Tadeia quando diz para guardarmos as pedras para Fernando Santos para depois do Europeu. Será mais adequado avaliarmos as competências do Selecionador quando este tiver oportunidade para trabalhar como deve ser com os Marmanjos.

 

Por agora, apesar das controvérsias todas, do drama, no fim do dia o que conta são os resultados, são os pontos. E a verdade é que estes não são assim tão maus. Como disse antes, foi a primeira vez em oito anos e meio que ganhámos o primeiro jogo da Qualificação. Ainda mais tempo passou, nem sei bem quanto, desde a última vez que conseguimos tantos pontos nos três primeiros jogos de Qualificação – tanto quanto me lembro, tem havido quase sempre um jogo que perdemos ou dois empates. 

 

É claro que nove pontos seriam melhores que sete – ainda não é desta que fazemos uma Qualificação imaculada. Além disso, só conseguimos o Apuramento direto se ficarmos em primeiro lugar. Estamos em primeiro agora, mas a margem de erro não é larga.

 

Eu no entanto estou confiante. Como dei a entender, já nos Qualificámos em circunstâncias mais difíceis. Não há nenhum motivo para falharmos agora. 

 

Mas para já a Qualificação ficará em pausa até setembro. Quando a Seleção se reunir de novo será para preparar o Europeu.

 

Devo avisar que ainda não sei como irei cobrir o Euro 2020 neste blogue. Mudei recentemente para um emprego que me vai roubar tempo de escrita. Ainda não sei ao certo quando, mas será muito difícil eu conseguir escrever uma crónica para cada jogo, ou pares de jogos. Se o blogue não ficar completamente parado durante o Europeu – algo que quero evitar a todo o custo – os textos terão quase de certeza um formato diferente. 

 

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Fico um bocadinho triste, mas sempre soube que isto iria acontecer. Mais cedo ou mais tarde, deixaria de ter a mesma disponibilidade para este blogue. Por outro lado, para ser sincera, às vezes fico um pouco farta da fórmula atual destas crónicas. Talvez uma mudança não seja assim tão má. 

 

Em todo o caso, na pior das hipóteses, se não conseguir voltar cá, fico satisfeita por ter aguentado durante tanto tempo (quase treze anos!) e por ter apanhado tantos momentos felizes. Destaque óbvio para os nossos primeiros dois títulos. 

 

Além disso, vou continuar na página do Facebook – as minhas postas de pescada em torno da Seleção não vão desaparecer por completo das internetes. Não é o meu formato preferido, mas é melhor do que nada. Também servirá para vos manter atualizados em relação a futuros planos para este blogue.

 

Aconteça o acontecer, como sempre, muito obrigada pelas vossas visitas. Até uma próxima!

Primavera

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Na próxima quarta-feira, dia 24 de março, a Seleção Portuguesa de Futebol recebe a sua congénere azeri em casa emprestada, no Estádio de Turim. Três dias mais tarde, defrontará a sua congénere sérvia, no Estádio Estrela Vermelha, em Belgrado. Três dias depois desse, será recebida na cidade do Luxemburgo pela seleção local. Todos estes jogos contarão para a Qualificação para o Mundial 2022, que terá lugar no Qatar.

 

Cá estamos nós outra vez, quatro meses depois da última jornada tripla de Seleção. Já tinha saudades. Este ano, o regresso coincide com a primeira fase do segundo desconfinamento – e estes dois eventos coincidem com o início da primavera. 

 

Nos últimos anos, a primavera tem sido a minha estação do ano preferida. Os dias mais compridos, o tempo mais ameno (nem demasiado frio nem demasiado calor), flores silvestres em todo o lado. No ano passado, a primavera foi boicotada pelo primeiro confinamento e pelo adiamento dos jogos da Seleção. Este ano está a acontecer o exato oposto. 

 

Por isso sim, estes jogos vêm em boa altura, num momento em que a vida em geral parece um bocadinho melhor – por enquanto. Por outro lado, da última vez que usei metáforas sazonais neste blogue, estas viraram-se contra mim.

 

Fernando Santos divulgou os Convocados para este triplo compromisso na passada terça-feira, dia 16. Não houve grande contestação – pelo menos não de início. Os sportinguistas Nuno Mendes e João Palhinha são as novidades – merecidamente, pelo seu contributo para o excelente desempenho do Sporting esta época. (Espero que seja este ano que o clube finalmente ganhe o campeonato, que a minha irmãzinha sportinguista já o merece há muito tempo.) No entanto, Pedro Gonçalves, também conhecido por Pote, ficou de fora – foi Chamado para os Sub-21.

 

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Suponho que haja muita concorrência para a posição dele. Não estava à espera, por exemplo, que Diogo Jota fosse Convocado, vindo ele de uma lesão. No entanto, ele marcou no jogo contra o Wolverhampton e também não dá para ignorar o seu histórico recente pela Equipa das Quinas. 

 

Isto são problemas de equipa grande: podermos dar-nos ao luxo de deixarmos o melhor marcador da Liga Portuguesa nos Sub-21. Dito isto, todos concordamos que será uma questão de tempo até Pote vir aos séniores. 

 

Maior controvérsia ocorreu nos últimos dias. Pepe lesionou-se no último jogo do F.C. Porto e vai falhar o compromisso da Seleção… outra vez (Porquê, Pepe?!? Tiveste quatro meses para te lesionares…). Para o seu lugar foi Chamado o sportinguista Luís Neto. 

 

O problema é que Neto tem estado no banco. No seu lugar tem jogado Gonçalo Inácio, de dezanove anos, que até tem estado em ascensão, marcou no último jogo… mas nem para os Sub-21 foi Convocado. 

 

Pelo menos nesta concordo com as críticas. Podiam dar uma oportunidade ao miúdo! Até porque continuamos a precisar de rejuvenescer a defesa. Por outro lado, Luís Neto já conta pelo menos algumas Chamadas à Seleção – se calhar Fernando Santos prefere experiência. 

 

Para além de Luís Neto, também regressa Rafa e André Silva – que está num momento excelente, conta vinte e um golos na Bundesliga. Continua a não faltar talento na nossa Seleção. Há que aproveitar.

 

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Num registo diferente, Rui Patrício chegou a constar da Convocatória inicial, mesmo tendo sofrido um traumatismo craniano na véspera. Infelizmente, no sábado descobriu-se que Rui não recuperaria a tempo e Chamou José Sá para o seu lugar.

 

Depois do susto que Rui nos pregou, não me queixo desta substituição. Deixem-no descansar, coitado. Anthony Lopes e os outros darão conta do recado – e também merecem uma oportunidade para mostrarem o seu valor. Uma coisa que descobri é que é a primeira vez em quase uma década que Rui falha um jogo de Apuramento – é uma das nossas constantes, ainda mais que Pepe ou Cristiano Ronaldo.

 

Vamos então começar a Qualificação para o Mundial 2022. Ainda me é estranho começar uma fase de Apuramento em março em vez de setembro (é apenas a segunda vez). Ainda mais estranho é começar uma fase de Qualificação para um campeonato de seleções quando o anterior ainda não se realizou. Mais um sinal dos estranhos tempos que vivemos.

 

Fernando Santos diz, no entanto, que não quer ninguém a falar ou sequer a pensar no Europeu durante esta jornada tripla. É o mais sensato, para manter a concentração.

 

Até porque a Turma das Quinas tem a mania de tropeçar no início das fases de Qualificação. A última vez que ganhámos num primeiro jogo de Apuramento foi em 2012 – há não muito menos que uma década. E foi frente ao Luxemburgo! E mesmo assim não foi grande coisa!

 

Como desta vez vamos abrir o Apuramento com o Azerbaijão, os Marmanjos terão de se esforçar para não ganharem… e no entanto esta Seleção por vezes tem uma queda infeliz para a auto-sabotagem, sobretudo em fases de Qualificação. Mesmo que até se vença o primeiro jogo, podemos não vencer o segundo…

 

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Os azeris são velhos conhecidos nossos, ainda que não joguemos com eles há quase exatamente oito anos, mais dia menos dia. O histórico é favorável a nós, de caras: tirando um empate em 1999, têm sido só vitórias. Os últimos dois jogos decorreram durante a atribulada, e por vezes caricata, Qualificação para o Mundial 2014. 

 

Não há muito a dizer sobre o primeiro jogo, em casa – ganhámos por 3-0. No entanto, depois desse encontro, não tornaríamos a ganhar uma vez que fosse até reencontrarmos os azeris, em Baku. mesmo esse jogo não foi nada por aí além – vitória por 2-0, mínimo dos mínimos. Mas na altura achei que seria um ponto de viragem na fase de Qualificação.

 

E não me enganei. Tirando um (outro) tropeção perante Israel, ganhámos os jogos que faltavam e tivemos os inesquecíveis play-offs perante a Suécia.

 

A propósito da crónica do jogo de Baku, a música que referi nesse texto? Que na altura só se conhecia um excerto? Last Hope, dos Paramore? Hoje é uma das minhas preferidas de todos os tempos. 

 

Os dois adversários seguintes são repetidos da Qualificação anterior. É o problema destes campeonatos: o número de possíveis adversários é limitado, de tanto em tanto tempo há reencontros. Além disso, pela maneira como os grupos são sorteados, são sempre adversários de qualidade média/baixa (com as devidas exceções, claro), pouco estimulantes e perante os quais, demasiadas vezes, complicamos sem necessidade. 

 

E há quem reclame da Liga das Nações. 

 

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Dito isto, confesso que até saberá bem termos uns jogos mais fáceis, entre competições cheias de tubarões. Para não stressar demasiado. 

 

Não vale a pena alongar-me muito sobre estes dois adversários, então. Dizer apenas que o jogo com a Sérvia terá lugar em Belgrado, o que apresenta um problema. Os clubes franceses avisaram que não vão libertar os internacionais que realizem jogos de seleções fora da União Europeia e do Espaço Económico Europeu – as autoridades de saúde francesas obrigá-los-iam a ficar de quarentena durante uma semana. 

 

Até aqui compreende-se. A FIFA deu esse poder aos clubes. Não gosto, mas compreendo. É por isso que o nosso jogo “em casa” com o Azerbaijão terá lugar em Turim – porque metade da Seleção atual joga em Inglaterra e o Reino Unido obriga pessoas vindas de Portugal a cumprir quarentena.

 

O que me irrita nesta história é a regra não se aplica à seleção francesa. A França vai jogar contra o Cazaquistão, mas os clubes franceses não podem impedir os seus jogadores de representarem os Campeões do Mundo. Claro que não! Regras como estas são para os simples mortais, não são para a motherfucking França! Alguma vez a FIFA ou a UEFA fariam isso aos franceses? É que nem sequer surpreende. 

 

Percebem a raiva que às vezes tenho à seleção francesa?

 

Pode ser que mudem as regras entretanto mas, à hora desta publicação, parece certo que Marmanjos como José Fonte e Renato Sanches não poderão ir para Belgrado. Fico à espera de saber como irá Fernando Santos gerir essa situação.

 

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Em relação ao Luxemburgo, dizer apenas que foi o nosso último adversário antes do hiato imposto pela pandemia. Cheguei a ressentir-me desse jogo por isso. Por ter tido de ver a primeira parte no meu telemóvel, por não ter sido grande coisa em termos exibicionais, por não merecer ser a recordação mais recente que tinha da Equipa de Todos Nós durante quase um ano. 

 

Mas felizmente, por estes dias, a Seleção continuará a jogar, a criar novas recordações. No que toca ao jogo com o Luxemburgo, este terá lugar no mesmo terreno. Espero que esteja em melhor estado que da última vez, mas tenho as minhas dúvidas. Não esperemos um jogo de grande qualidade exibicional – os últimos dois em casa do Luxemburgo não o foram.

 

Que seja desta que comecemos uma Qualificação com o pé direito, para variar. Que tenhamos um Apuramento mais ou menos tranquilo, sem complicações, em primeiro – para evitarmos um cenário como o da fase de grupos do Euro 2020. Além de que golos e vitórias da Seleção sabem sempre bem, mesmo que as exibições nem sempre satisfaçam.

 

Vou tentar desfrutar, então. Façam-no comigo, quer aqui no blogue, quer na sua página de Facebook. Como sempre, obrigada pela vossa visita.

Seleção 2013

 
Mais um ano encontra-se à beira do fim, mais um ano encontra-se à beira do início. Como já faz parte da praxe, segue-se a revisão de 2013.
 
Este, depois de 2012, tornou a ser um ano de altos e baixos. Começo a perceber que esta é a regra, que 2011 foi a exceção. É pena... Bem, 2013, ao menos, teve um final feliz, esperançoso. Embora tenha começado por dar seguimento à má fase com que 2012 terminou.
 
O primeiro jogo do ano foi um particular com o Equador, que teve lugar no Estádio Afonso Henriques, em Guimarães. À semelhança do que aconteceu em muitos, muitos jogos dos últimos dois anos, a Seleção tinha todas as condições e mais algumas para proporcionar um bom jogo aos inúmeros adeptos que vieram ao estádio e desperdiçou-as. Para além do habitual circo publicitário, dos pedidos de moldura humana, Cristiano Ronaldo completava vinte e oito anos na véspera do jogo. Em jeito de celebração, entre outros motivos, cinco mil adeptos assistiram ao treino e cantaram os parabéns a Ronaldo. 
 
Como é que a Seleção agradeceu? Perdendo 3-2 com o Equador.
 
 
 
É certo que a equipa visitante era forte, não estava ali apenas para elevar a auto-estima da seleção da casa. Chegou mesmo a Qualificar-se para o Mundial 2014. No entanto, encontrava-se perfeitamente ao alcance de Portugal. A Seleção até teve bons momentos no jogo: Ronaldo marcou o primeiro golo da Turma das Quinas do ano (mais tarde, marcaria igualmente o último); Hélder Postiga marcaria na segunda parte, colocando Portugal em vantagem durante... dois minutos. A Turma das Quinas acabou por ser vítima de si mesma com o Eduardo ficando mal na fotografia no primeiro golo, no início do jogo e, dois minutos após o golo de Postiga, com uma parvoíce do guarda-redes e de João Pereira. Depois, com Ronaldo e Postiga já fora de campo, os equatorianos marcaram pela terceira vez - e até foi um belo remate.
 
Apesar de este jogo ter sido (mais) uma desilusão, tinha a atenuante de ter sido apenas um particular. O verdadeiro balde de água fria veio mês e meio mais tarde, em Telavive, perante Israel. As circunstâncias, diga-se, não eram as ideiais: Nani lesionado e João Moutinho em forma duvidosa. Mesmo assim, tudo indicava que os israelitas não nos dariam grandes problemas. Estávamos enganados. Ou melhor, não foram propriamente os israelitas a dar-nos problemas. Mais uma vez, fomos nós mesmos.
 
 
Portugal até começou bem no jogo, com o Bruno Alves marcando um golo logo no primeiro minuto. Só que depois, pensando certamente que a coisa se resolveria sozinha, os portugueses entraram numa de "deixa andar". Como resultado, das três vezes que os israelitas foram à nossa baliza, marcaram. O que nos valeu foi Hélder Postiga - após ter falhado inúmeras oportunidades na primeira parte, diga-se - ter marcado no rescaldo no terceiro golo israelita, relançando a equipa. Os portugueses lá tentaram reverter a situação e lá conseguiram anular a desvantagem ao cair do pano. Tendo em conta que tínhamos estado a perder por 3-1, este empate quase pareceu uma vitória. No entanto, a exibição roçou o medíocre, as contas para o Apuramento estavam comprometidas, era o nosso quinto jogo consecutivo sem ganhar. O otimismo atingia mínimos históricos. Não me lembro de alguma vez ter estado tão furiosa com os Marmanjos como estive nessa altura. Considero, mesmo, que este foi o pior momento da Seleção em 2013.
 
 
 
 
A Seleção viajou para Baku, no Afeganistão, amputada de Cristiano Ronaldo - que vira o segundo cartão amarelo no jogo de Telavive - obrigada a ganhar. Apesar de, na teoria, o Azerbaijão pertencer a um campeonato inferior ao nosso, na prática, ainda nos vimos um bocadinho à nora para ganhar - culpa, sobretudo, do eterno problema da finalização. Acabou por ser necessário os azeris verem-se reduzidos a dez para os portugueses marcarem. Primeiro, por cortesia de Bruno Alves. Depois, de Hugo Almeida. Um jogo longe de brilhante mas, em todo o caso, a primeira vitória em mais de seis meses. Na altura, tive esperança de que isto representasse um ponto de viragem na Qualificação para o Mundial 2014. E até foi. Mais ou menos.
 
Seguiu-se o jogo com a Rússia, em junho. Um jogo de grau de dificuldade acima da média visto que o momento de forma da maioria dos jogadores não era o ideal, a Rússia era o nosso maior adversário na Qualificação e Portugal já não se podia dar a luxo de perder mais pontos. Visto que o jogo se realizava na Luz, fizeram-se, mais uma vez, apelos aos adeptos para que enchessem o Estádio. Não foi um jogo brilhante mas foi bem conseguido por parte dos portugueses, a equipa esteve bem, dominou o jogo. Hélder Postiga marcou o único golo.
 
 
Três dias após este jogo, a Seleção foi recebida na Croácia num jogo de carácter particular. Acabou por ser um jogo semelhante ao da Rússia: sem deslumbrar, houve boa atitude por parte da Turma das Quinas, o domínio foi português. Desta feita, foi Cristiano Ronaldo a marcar o único golo da partida. Este tornar-se-ia um caso sério em termos de golos ao longo da segunda metade do ano.
 
 
 
 
 
Houve um novo jogo particular a meio de agosto. Desta feita, a Seleção enfrentaria a Holanda no Estádio do Algarve. Antes disso, treinou-se no Estádio Nacional, no Jamor. Eu e a minha irmã fomos assistir ao único treino aberto e tivemos o privilégio de tirar fotografias com Miguel Veloso, Eduardo, Beto (no caso da minha irmã) e Paulo Bento. 
 
O jogo com a Holanda não foi brilhante - até porque o número de baixas foi uma coisa parva - mas, mais uma vez, a exibição portuguesa foi convincente, sobretudo ao longo da segunda parte. Verhaegh marcou o golo holandês, aos dezasseis minutos da primeira parte. Ronaldo igualou o marcador aos oitenta e seis minutos.
 
 
Duas ou três semanas mais tarde, no início de setembro, Portugal deslocou-se a Belfast para defrontar a Irlanda do Norte. Nos dias anteriores, falou-se bastante do facto de os irlandeses terem derrotado a Rússia no mês anterior, de serem tomba-gigantes e terem gozo nisso, sobretudo quando jogavam em casa. Algo que acabou por se confirmar dentro de campo, de certa forma. Foi, aliás, um jogo muito estranho, muito por causa de um árbitro caprichoso. A primeira parte do jogo revelou-se dantesca. Bruno Alves marcou mas os irlandeses rapidamente repuseram a igualdade no marcador. Isto nem seria muito grave se, ainda antes do intervalo, Hélder Postiga não tivesse tido a ideia parva de dar uma "turrinha" a um irlandês e o árbitro não o tivesse castigado com o vermelho direto. Uma penalização exagerada, é certo, mas o gesto de Postiga fora desnecessário. Na segunda parte, sem grande surpresa, a Irlanda adiantou-se no marcador, com um golo em fora-de-jogo. As coisas começavam a ficar verdadeiramente negras para Portugal
 
Felizmente, estava lá Ronaldo para salvar o dia. Catalisado tanto pelo buraco em que Portugal se havia deixado cair como, certamente, pelos adeptos que gritavam por Messi, o madeirense marcou o seu primeiro hat-trick com a Camisola das Quinas. Resolveu, deste modo, o imbróglio em que o jogo se transformara e ainda ultrapassou o recorde de Eusébio.
 
 
Infelizmente, o herói de Belfast ficou indisponível para o particular com o Brasil, que se realizou em Boston, nos Estados Unidos. Eu tinha grandes expectativas para este jogo, com o reencontro com Luiz Felipe Scolari e tudo mais. Nesse aspeto, o jogo revelou-se algo anti-climático. Portugal até teve bons momentos, com destaque para o golo de Raul Meireles. No entanto, sobretudo durante a segunda parte, faltou agressividade à Equipa das Quinas - embora os brasileiros se queixassem do jogo faltoso de Bruno Alves. No final, o resultado foi 3-1 para a seleção canarinha.
 
Um mês mais tarde, a Seleção Portuguesa recebeu a sua congénere israelita no Estádio de Alvalade. Foi o primeiro jogo a que assisti em mais de seis anos. Mais uma vez, tínhamos uma série de ausentes: Meireles e Bruno Alves por lesão, Hélder Postiga (GRRR!!!!) e Fábio Coentrão por castigo. Mas, se conseguíssemos vencer, o segundo lugar ficaria consolidado e ainda poderíamos sonhar com o primeiro lugar - bastaria a Rússia cometer um deslize. 
 
 
É claro que Portugal, eterno adepto dos caminhos mais difíceis, não soube aproveitar a oportunidade. A exibição foi fraca, os israelitas não fizeram nada para levar o jogo de vencida, passaram uma boa parte do tempo a engonhar até mesmo quando ainda se encontravam em desvantagem, depois do golo de Ricardo Costa. À semelhança do que aconteceu repetidas vezes ao longo deste Apuramento, foi Portugal a prejudicar-se a si mesmo. Desta feita, através de uma fífia de Rui Patrício. Só não considero este o pior jogo da Seleção do ano porque, mal por mal, garantiu-nos o playoff. De uma maneira extremamente amarga, contudo.
 
O jogo com o Luxemburgo, em Coimbra, foi quase só para cumprir calendário. A Seleção não jogo melhor do que tinha jogado contra Israel, nem precisou. Os luxemburgueses, como seria de esperar, poucas hipóteses tinham contra nós, sobretudo depois de se verem reduzidos a dez. Portugal podia ter arrecadado uma vitória bem mais expressiva mas não esteve para isso - jogo chegou a ser extremamente enfadonho em certas alturas -  contentou-se com o 3-0, cortesia de Varela, Nani (pontos para a assistência de João Moutinho) e Hélder Postiga. Terminava deste modo a fase de grupos da Qualificação para o Mundial 2014, com Portugal no segundo lugar, obrigado a ir aos playoffs lutar por uma vaga no Brasil.
 
O sorteio para definição do adversário do playoff realizou-se cerca de duas semanas mais tarde. Quis a Sorte que defrontássemos a Suécia, primeiro em casa, depois fora. Antes dessa dupla jornada deu-se algo que, tecnicamente, não se relacionava com a Turma das Quinas mas que, na minha opinião, influenciou o seu percurso: as tristes figuras e palavras de Joseph Blatter sobre Cristiano Ronaldo.

 


Considero que ficámos todos em dívida para com o presidente da FIFA. Pouco após uma jornada dupla de Seleção que deixou muito a desejar, em que Ronaldo esteve algo apagado, Blatter teve o condão, não apenas de espicaçar o nosso Capitão - o Comandante - mas também de unir a massa adepta portuguesa em torno da Seleção contra um inimigo comum. O sentimento generalizado anti-Troika, anti-topo da hierarquia europeia, ajudou. Juro, se algum dia ocorrer a improbabilidade de me encontrar com Joseph Blatter, eu abraçá-lo-ei, agradecer-lhe-ei e explicar-lhe-ei porquê. E quero ver a cara com que ficará.
 
A primeira mão do playoff contra a Suécia realizou-se pouco mais de duas semanas depois, perante um Estádio da Luz esgotadíssimo. Conforme seria de esperar, Portugal jogou melhor do que durante a Qualificação. Também ajudou o facto de a Suécia ter jogado para o empate. O poderio físico dos suecos e o seu jogo defensivo cumpriram o seu papel até mais ou menos a meio da segunda parte - aí Cristiano Ronaldo marcou o único golo da partida, conferindo a Portugal uma importante vantagem no playoff.
 

 

A segunda mão do playoff realizou-se na Suécia. Os adeptos da casa, abençoados sejam, ainda não se tinham apercebido do nexo de causalidade entre um Ronaldo alvo de provocações e os desempenhos estratosféricos que ele tem nos jogos que se seguem - apesar de até ter havido um exemplo bem recente de tal. Ou não perceberam ou então deixaram-se levar pelo medo que tinham do Comandante. Não me admiraria se tivesse sido um misto de ambas as situações. Deste modo, os suecos fizeram tudo para destabilizar os portugueses, praticamente desde que estes deram os primeiros passos no país escandinavo. Destaque para a banda que os recebeu no aeroporto, para o animador de rádio que foi de madrugada fazer barulho para junto do hotel da Seleção Portuguesa e, claro, para a infeliz campanha da Pepsi sueca. Eu, na altura, ria-me pois os suecos não sabiam aquilo que estavam a preparar. Hoje, que sei o que aconteceu, ainda me rio mais. Eles mereceram aquilo que apanharam.
 
A noite do jogo em si foi uma das melhores deste ano. A minha irmã fazia anos, tivemos amigos e familiares em casa, vimos e celebrámos o jogo todos juntos. A primeira parte foi relativamente morna, relativamente equilibrada, com a exibição portuguesa a melhorar com o tempo. A segunda parte foi uma montanha russa de emoções. O primeiro golo de Ronaldo deixou-nos a todos a pensar que eram já favas contadas. Os dois golos de Ibrahimovic que se seguiram forma fruto da nossa negligência. O 2-1 ainda nos era favorável mas, pelo que se via, a coisa poderia facilmente dar para o torto. De uma maneira caricata, regressámos pela enésima vez em todo o Apuramento à fase do "Ai Jesus!". E, tal como acontecera em Belfast, teve de vir Ronaldo ao resgate, com mais dois golos que puseram um ponto final na questão.
 

 

Eu sei que, ao longo dos próximos seis, sete meses, não vai interessar mas eu espero que esta nossa campanha de Qualificação não seja esquecida tão depressa. Teve um final feliz, com contornos apoteóticos, mas podia não ter tido. Podia ter corrido muito mal. Tirando, talvez, os jogos com a Rússia, não houve um único jogo em que não nos boicotássemos a nós mesmos. Na maior parte desses jogos, bastaria não termos cometido determinados erros, termo-nos esforçado um bocadinho mais, para conquistarmos o primeiro lugar do grupo.

E não é apenas pelo primeiro ou pelo segundo lugar. Também não é bom em termos de adesão por parte dos adeptos. Ainda no mês passado, aquando dos jogos com a Suécia, ouvi um colega meu afirmar que, no que tocava á Seleção, só lhe interessam os jogos das fases finais ou dos playoffs. Os da Qualificação e os particulares eram-lhe indiferentes. Paulo Bento, uma vez, lamentou que muita gente pensasse assim e eu, há um ano o dois, criticaria atitudes semelhantes à do meu colega. No entanto, se nem os jogadores estiveram para se chatear na maior parte dos jogos de Apuramento, porque haveríamos nós de fazê-lo?
 
Os títulos de algumas das crónicas pós-jogo que escrevi aqui no blogue acabam por ser aplicáveis a toda a Qualificação. "Uma epopeia com contornos dantescos" e "Não havia necessidade". Aquando daquele primeiro jogo com o Luxemburgo, eu não fazia ideia de que o resto do Apuramento se desenrolaria desta maneira. Sim, eu sei que assim soube melhor, eu mesma o admiti. Mas não sei até quando seremos capazes de brincar com o fogo sem nos queimarmos a sério.
 
 

Além disso, caso a Rússia tivesse conseguido o segundo lugar, a Suécia provavelmente teria sido capaz de vencê-los no playoff. Assim, Ibrahimovic não teria ficado de fora do Mundial. É que fiquei a gostar do tipo... É arrogante mas tem piada.
 
Parece que o sorteio dos grupos da Qualificação para o Euro 2016 se realizará algures em Fevereiro. Consta, igualmente, que as regras do jogo vão mudar. Agora que a prova foi alargada de dezasseis a vinte e quatro participantes - ainda estou para ver como é que isso vai funcionar - os dois primeiros classificados em cada grupo Apuram-se diretamente. Os terceiros lugares, tirando o pior, disputarão o playoff. Eu devia estar satisfeita com este baixar de fasquia mas não me custa nada imaginar a Seleção, em resposta, desleixar-se ainda mais do que se desleixou neste Apuramento, contentar-se com o terceiro lugar. Aliás, agora que penso nisso, este facilitismo pode levar a uma quebra geral na qualidade dos jogos desta Qualificação, sobretudo para as grandes candidatas ao Apuramento. Não que me preocupe demasiado com isso, só quero saber de Portugal. Espero que não nos calhe um grupo fácil, dava até jeito ficarmos com uma seleção dita "grande", motivadora. De qualquer forma, o pior adversário de Portugal continuará a ser ele mesmo.

Entretanto, no início deste mês, a Sorte determinou que Portugal ficasse agrupado com a Alemanha, os Estados Unidos e o Gana no Mundial. Um grupo teoricamente mais fácil que o do Euro 2012 mas imprevisível. Todos consideram que está ao alcance de Portugal mas a Equipa de Todos Nós terá de confirmá-lo em campo.

Foi assim o ano da Seleção. Em termos pessoais, foi um ano relativamente morno: mais estável que 2012, mas não mais do que isso. Algumas das maiores alegrias deste ano, dos dias mais felizes, estiveram ligados à Turma das Quinas: a antecipação dos jogos, o rescaldo das vitórias, a visita ao Jamor em agosto, o jogo a que assisti em Alvalade, a festa de anos da minha irmã no dia da segunda mão dos playoffs. 2013 mostrou-me, aliás, que embora algumas das minhas paixões não me despertem o mesmo interesse de antigamente, a Seleção é das poucas de que não me canso. Vão fazer dez anos desde que acompanho fielmente a Turma das Quinas mas meu interesse manteve-se praticamente sempre alto. Acho que em nenhuma altura desta última década deixei de ansiar pelo jogo seguinte. Posso já não escrever aqui no blogue tão frequentemente como antes - porque perco mais tempo a preparar as entradas e muitos dos assuntos acabam sendo abordados na página do Facebook - e certos aspetos, sobretudo antes dos jogos, depois destes anos todos, tornaram-se demasiado batidos. No entanto, cada jogo em si é único. Seja ele um mata-mata de um campeonato de seleções ou um particular com uma equipa de expressão irrelevante.

É a beleza do futebol em si, aliás. Há coisa de um ano ou dois, eu não compreendia como é que as pessoas tinham paciência para acompanhar a liga portuguesa ano após ano - sobretudo durante a altura em que, invariavelmente, o F.C.Porto se sagra campeão. Hoje compreendo: porque, para além de imprevisível, de caprichoso, o futebol é uma história que nunca acaba.

 
Em termos pessoais, 2014 vai ser um ano bem mais empolgante, bem mais decisivo, do que 2013. Em termos de Seleção, também. Já é habitual, para mim os anos pares são os mais interessantes pois, com eles, veem os grandes campeonatos de seleções. Infelizmente, não sei se me vai ser possível acompanhar o Mundial da maneira que acompanhei o Euro 2012 - posso estar a estagiar nessa altura. Vai depender de muitos fatores mas duvido que tenha tempo para ter a página do Facebook atualizada ao minuto com todas as peripécias, como chegava a estar há ano e meio. Já o tinha dito na entrada anterior, nem sequer sei se poderei acompanhar os jogos do Mundial. No entanto, não deixarei de escrever e publicar as respetivas crónicas pós-jogo. Nem que tenha de perder refeições ou mesmo noites para tal. 
 
Algumas das pessoas com quem tenho falado afirmam-se crentes de que 2014 será o nosso ano. Eu quero crer o mesmo, quero muito crer o mesmo, mas uma parte de mim concorda com os artigos de opinião da praxe, que afirmam que esta Seleção não se compara à de 2004 ou 2006. Por outro lado, a acontecer, a nós ganharmos um título, terá de ser em 2014. Não vou ao extremo de dizer "Agora ou nunca!" mas a verdade é que já deixamos fugir demasiadas oportunidades. A certa altura terá de deixar de ser um sonho. Que deixe de sê-lo em 2014.
 
Esa será uma das passas da Noite de Ano Novo - não gosto de passas mas gosto do ritual de pedir os doze desejos ou de definir os doze objetivos para o ano que começa. Sugiro que, roubando a ideia a uma campanha realizada aquando da passagem de 2005 para 2006, guardem também "uma passa para a Taça". Também desejarei, se não o fim da crise, pelo menos o início (ou a continuação) da recuperação económica. Que possamos ser campeões mundiais e que as nossas vidas melhorem no ano que vêm. A todos os meus leitores e seguidores da página do Facebook, os meus votos de um Feliz Natal e de um 2014, se não cheio de sonhos realizados, pelo menos cheio de bons momentos.