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O Meu Clube É a Seleção!

Mulher de muitas paixões, a Seleção Nacional é uma delas.

Não é tradição, é sina!

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No passado dia 15 de junho, a Seleção Portuguesa de Futebol estreou-se no Euro 2020 com uma vitória por três bolas sem resposta perante a sua congénere húngara. No dia 19 de junho, no entanto, a Seleção Nacional perdeu perante a sua congénere alemã por quatro bolas contra duas. Com estes resultados, Portugal encontra-se em terceiro lugar na classificação do grupo F, com três pontos, ainda sem saber se segue ou não para os oitavos-de-final da prova.

 

Como rezava a música, “continhas até ao fim não é tradição, é sina.” Num grupo destes sabíamos que era uma possibilidade, mas isso não significa que seja agradável. 

 

Já aí vamos. Comecemos por falar dos jogos em si.

 

A tarde do dia da partida com a Hungria foi complicada no meu emprego. Estive ocupada até ao último minuto, de tal maneira que não tive tempo sequer de ver o onze inicial – muito menos de partilhá-lo na página.

 

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Felizmente, depois de terminar tudo, não demorei muito a chegar ao meu carro e a ligar o rádio. Só devo ter perdido os primeiros cinco ou dez minutos. Nesta altura, já tinha visto nas redes sociais que o Diogo Jota desperdiçara uma de caras. Como disseram algures, há alturas em que a melhor opção é mesmo passar ao Ronaldo.

 

Jota ao menos aprendeu a lição, como veríamos no jogo seguinte. 

 

Por outro lado, o próprio Cristiano Ronaldo falharia uma oportunidade flagrante mais tarde no jogo. Ninguém está imune a estas coisas – parecendo que não, são humanos como nós. 

 

Na primeira parte, o jogo teve essencialmente um único sentido. A minha irmã bem o dizia: os húngaros não eram capazes de partir para o ataque. Infelizmente, isso obrigou-os a ficarem mais retidos à defesa. Muitos usaram o termo “acantonados” ou “acampados”. Tornou-se ainda mais difícil para os portugueses chegarem ao golo. Não cumpri o meu desejo de festejar um golo com buzinadelas.

 

Se na primeira parte Portugal esteve claramente por cima, na segunda sempre foi assim. Houveram alturas em que a Hungria cresceu e Portugal esteve perto de perder o controlo da situação. Veja-se o golo anulado por fora-de-jogo – em que, ainda por cima, Rui Patrício não ficou muito bem na fotografia. 

 

À medida que o tempo ia passando e o golo não surgia, os nervos aumentavam. Eu sabia que seria assim, referi-o na crónica anterior, mas isso não me impediu de sofrer. Como é que uma pessoa se prepara para jogos destes?

 

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Concordo com a opinião popular que defende que Fernando Santos devia ter mexido mais cedo. Podíamos ter ganho por mais com Rafa e Renato Sanches mais tempo em campo – até porque Rafa precisou de alguns minutos até entrar nos eixos. Mas mais vale tarde do que nunca, suponho eu. 

 

Finalmente o marcador mexeu, aos oitenta e quatro minutos. Rafa assistiu para Raphael Guerreiro, que arranjou um corredor no meio de uma data de húngaros. O Raphael não tem jogado grande coisa nestes últimos dois jogos – com grande pena minha, pois gosto dele – mas ao menos conseguiu ser o primeiro português a marcar neste Europeu.

 

O resultado não se manteve inalterado durante muito tempo depois desta. A jogada começou com o Renato abrindo caminho por entre a muralha húngara. Passou a bola ao Rafa, que conseguiu um penálti. Ronaldo, claro, não desperdiçou.

 

Por fim, já em tempo de compensação, deu-se a jogada que ficou nas bocas do mundo: trinta e três passes seguidos, terminando com a assistência de Rafa para o segundo golo de Ronaldo na partida. De início pensei que ele estava em fora-de-jogo, mas em câmara lenta dá para ver que Ronaldo está em linha no momento do passe.

 

Este foi um jogo que deixou a desejar em vários aspetos – e alguns deles voltariam para nos tramar no jogo seguinte – mas, mal por mal, foi a nossa melhor estreia em campeonatos de seleções desde 2008. E tendo em conta o que aconteceu mais tarde, estes três pontinhos iniciais são preciosos.

 

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Antes do jogo com a Alemanha, até estava otimista q.b., sobretudo depois de saber do empate entre a França e a Hungria. Agora em retrospetiva, não sei se esse resultado nos trouxe alguma vantagem para além de um sorriso presunçoso. Mas na altura, de uma maneira estranha, deu-me alguma esperança.

 

Esperança que, apesar de tudo, ainda durou um bocadinho. Talvez demasiado. Ficámos numa situação parecida à da Hungria na primeira parte do nosso primeiro jogo: completamente dominados pelos alemães, só que defendendo pior. Como disse antes, Raphael Guerreiro já viu melhores dias mas, como veremos adiante, as maiores falhas estavam à direita. 

 

Antes, uma das coisas que prolongou a minha relativa ilusão foi o golo português, contra a corrente do jogo. Todos concordam que foi uma jogada lindíssima: a arrancada de Bernardo Silva, o sprint de Cristiano Ronaldo, Diogo Jota desta vez tomando a decisão correta e passando ao Capitão.

 

Este golo foi uma das poucas coisas boas da tarde. Independentemente de tudo o que aconteceu antes ou depois, era a primeira vez desde 2008 que marcamos à Alemanha. Era mais um golo marcado por Ronaldo – que fica agora a dois da marca de Ali Daei –  mais uma data de recordes quebrados e um argumento contra aqueles que dizem que Ronaldo “só marca a seleções pequenas”.

 

Ora, a Alemanha não acusou o golo. Continuou na sua e finalmente, pouco após a meia hora de jogo, conseguiu marcar dois golos em poucos minutos. Mais tarde, ainda no início da segunda parte, os alemães marcaram o terceiro. Dez minutos depois, mais coisa menos coisa, marcaram o quarto.

 

Falo dos quatro golos alemães de uma assentada porque estes têm todos o mesmo ADN. Durante o jogo, aquando do terceiro golo, eu barafustava para quem me quisesse ouvir:

 

– Mas quem é que deixou aquele gajo sozinho? Quem é que deixou aquele gajo sozinho?

 

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“Aquele gajo” era Robin Gosens. E a verdade é que, vendo agora imagens dos golos alemães, todos eles metem Gosens completamente à vontade à direita. Chega a ser caricato. Pouco importa que os dois primeiros golos tenham vindo de portugueses na baliza errada. Isto foi praticamente o mesmo golo em repetição.

 

Portugal até melhorou mais tarde, quando Fernando Santos meteu João Moutinho – mas também quando a Alemanha tirou o pé do acelerador. Conseguimos até marcar mais um golo na sequência de um livre – com Ronaldo fazendo uma assistência acrobática para a finalização de Diogo Jota.

 

Não evitou a derrota, mas poderá ser importante nas contas dos melhores terceiros.

 

Ainda houve tempo para Renato Sanches – que está em ótima forma – dar um tiro à barra. Infelizmente, o resultado desfavorável manteve-se. 

 

Não foi uma tragédia como o que aconteceu em 2014 e, por princípio, não é vergonha nenhuma perder contra a Alemanha. Mas todos concordam que podíamos ter feito mais. Não sou a melhor pessoa para avaliar o que falhou, mas até eu reparei que, em ambos os jogos, as coisas corriam melhor depois de Fernando Santos mexer no meio-campo. 

 

Além disso… cinco faltas contra quinze da Alemanha? Não é normal!

 

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Pouco depois do fim do jogo, os Marmanjos vieram para as redes sociais pedindo-nos para acreditarmos “tanto quanto eles”. Mesmo os comentadores da TVI durante o jogo iam mantendo um tom irritantemente otimista, sem noção (piores do que eu...). Chegaram a dizer coisas como:

 

– Aquilo que nos aconteceu hoje pode acontecer à França na quarta-feira.

 

Pois. Eu também posso ganhar o Prémio Nobel da Literatura este ano.

 

Não é que não acredite, porque acredito. Não seria a primeira vez – e em princípio não será a última – que a Seleção dava a volta a circunstâncias tão desfavoráveis como esta. Diz que é possível seguirmos em frente mesmo perdendo contra os franceses – e a vantagem de este ser o grupo F é o facto de sermos os últimos a jogar. Entraremos em campo conhecendo os mínimos olímpicos para seguirmos para os oitavos-de-final. À hora desta publicação, “basta-nos” perder por dois golos de diferença. 

 

Ao que chegámos… Peço desculpa, mas isto chega a ser patético. Nunca gostei de pegar na calculadora, apesar de, como disse antes, ser a nossa sina. Mas ao menos antes só tínhamos de incluir equipas do nosso grupo na equação. Na minha opinião, o critério dos “melhores terceiros” estraga um pouco a fase de grupos.

 

Enfim, é o que temos. Mal por mal, ao menos sempre é mais digno ficarmos em terceiro num grupo com a Alemanha e a França do que num grupo com a Islândia e a Áustria. 

 

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Mas dizia eu que o problema não é não acreditar. Eu acredito e acho que a maior parte de nós acredita. O problema é que acreditar não basta. É preciso aprender com os erros, fazer melhor em campo, jogar melhor – seja individualmente, seja coletivamente, seja o que quer que seja. Não sei o suficiente para apontar dedos, mas sei que temos capacidade para mais do que isto. Somos Campeões Europeus e temos grandes jogadores do nosso lado. Somos melhores do que isto!

 

Quando estivemos numa situação parecida com esta há cinco anos, escrevi que, se tudo corresse bem e nos tornássemos Campeões Europeus, ninguém se ralaria com o facto de nos termos apurado em terceiro no grupo. Não foi bem assim – pelo contrário, foi aqui que nasceu o “de empate em empate” (a parte mais engraçada desta história é que, antes do Euro 2016, Portugal não tinha empatado uma única vez sob a alçada de Fernando Santos). Mas o final dessa história continua a ser aquilo que mais interessa.

 

Da mesma forma, hoje sinto-me desiludida, mas isso passará se seguirmos em frente no Europeu. Mais: quanto mais aprendermos com o que aconteceu no jogo de sábado, mais longe iremos na prova. Aí acreditarei em Fernando Santos quando diz que, se apanharmos a Alemanha na final, ganhamos nós. 

 

Mas não conto com esse ponto até ele nascer. Ainda temos os franceses no nosso caminho, com quem nunca é fácil lidar, nem mesmo nas melhores circunstâncias. Agora vieram de um escandaloso empate perante a Hungria e vão encontrar a seleção que lhes tirou o Europeu que eles mesmos organizaram. 

 

São meninos para nos darem uma goleada só mesmo para garantir que vamos para casa mais cedo. Nem quero imaginar a humilhação…

 

Eu acredito no empate pelo menos – e já será suficientemente difícil. Se há algo de que tenho a certeza hoje é que ninguém na Seleção quer ficar pela fase de grupos. Nunca aconteceu connosco num Euro, era no mínimo indigno acontecer agora. Falta é passar dos desejos à ação. 

 

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Venham de lá os franceses. Uma vez mais, vemo-nos do outro lado.

Era preciso exagerar?

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No passado sábado, dia 30 de novembro, realizou-se o sorteio para a fase de grupos do Europeu do próximo ano, que terá lugar em várias cidades europeias. Portugal foi sorteado para o grupo F, juntamente com a Alemanha, a França e o vencedor da Liga A dos play-offs que terão lugar em março.

 

Antes de mais nada, se não se importam…

 

 

Obrigada. Estava a precisar.

 

Havia muito boa gente a desejar um grupo difícil para este Europeu. Começando pelo próprio Fernando Santos, terminando em mim, até certo ponto. Estamos fartinhos de sabê-lo, eu mesma tenho referido-o várias vezes aqui no blogue, nos últimos tempos: tradicionalmente, Portugal dá-se melhor em condições adversas. Quando os adversários são considerados fáceis, Portugal atrapalha-se. Também se sabia que, estando no pote 3, a Seleção dificilmente calharia num grupo demasiado difícil.

 

Mas também não era preciso exagerar. Queriam um grupo difícil? Ora tomem!

 

Pude acompanhar o sorteio pela televisão. Doeu um bocadinho ver Ricardo Carvalho e João Mário entregando a Henri Delaunay – é nossa! Nós conquistámo-la com sangue, suor e muitas lágrimas (de tristeza e alegria). Falando por mim, ainda não estava preparada para me separar dela.

 

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Enfim. Ficam as recordações.

 

Como habitual, os potes 1 e 2 foram sorteados primeiro. Quando a Alemanha e a França calharam no mesmo grupo, soltei logo um gemido: estava definido o Grupo da Morte. 

 

Devia ter adivinhado logo. 

 

Este foi mais um caso de sofrimento até ao fim. Tivemos de ver as outras seleções do pote 3 sendo sorteadas para outros grupos, até só sobrarmos nós para o grupo F.  

 

 

Se espreitarem as minhas publicações na página do Facebook deste blogue na altura do sorteio, verão que não reagi muito bem. Ainda não recuperei por completo. Mas também, para ser sincera, não era para menos. Naquele momento, se apanhasse os Marmanjos a jeito, dava-lhes um abanão:

 

– Estão a ver no que dá complicar a Qualificação sem necessidade?!?

 

Alemanha e França, os últimos dois Campeões do Mundo! Mesmo sem ter em conta o (péssimo) histórico que temos com estas duas equipas, não sei se era possível termos um grupo mais difícil. Pelo menos a nível europeu, a única outra seleção que se equipara em termos de dificuldade e de histórico desfavorável é a Espanha. 

 

Mas agora procuremos analisar as coisas com mais calma. Começando pela Alemanha. 

 

Como se poderão recordar, os últimos quatro jogos que disputámos com eles não correram bem. Em 2006, jogámos pelo terceiro lugar no Mundial e perdemos por 3-1. Em 2008, já tinha eu este blogue, perdemos por 3-2, nos quartos-de-final do Europeu – embora, tanto quanto me recordo, não tenhamos jogado muito mal. Também não jogámos mal quando perdemos com eles, no Euro 2012

 

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Mas a nossa recordação mais recente de jogarmos com alemães é de sermos massacrados em Salvador. Esse é um trauma que ainda não passou. Não admira que Joachim Löw diga que guarda boas recordações de Portugal. Claro que guarda.

 

Dito isto, a Alemanha não parece ser, neste momento, o tubarão futebolístico que era há uns anos. No Mundial 2018 defendiam o título mas foram eliminados logo na fase de grupos – provando que a maldição é real, logo eles que eu pensava que seriam a exceção à regra. A crise continuou na Liga das Nações, quando ficaram em último lugar na fase de grupos – mas também estava lá com a França e com a Holanda. 

 

Pelo meio, Joachim Löw operou uma pequena revolução na equipa. Deixou pelo caminho vários dos seus habituais, até só sobrarem Manuel Neuer, Toni Kroos, Marco Reus e Ilkay Gundongan. Ao mesmo tempo, encheu a equipa de jovens. De facto, Löw não considera esta Alemanha favorita ao título europeu por ser uma equipa demasiado inexperiente.

 

Talvez seja… mas não deixam de ser jogadores de boa qualidade, alinhando em grandes clubes europeus. Não deixam de ser a Alemanha. Ninguém com dois dedos de testa vai subestimá-los. 

 

Por sua vez, a França será, sem sombra de dúvidas, a melhor seleção do mundo neste momento. Desde que perderam o Europeu para nós, fizeram praticamente tudo bem. Venceram o Mundial 2018, para grande azia minha. Os únicos tropeções que deram nos últimos dois anos foi ficarem em segundo lugar na fase de grupos da Liga das Nações (recordo que ficaram no mesmo grupo que a Alemanha e a Holanda) e perderem contra a Turquia neste Apuramento – o único motivo pelo qual ficaram no pote 2. A seleção francesa está recheada de nomes sonantes, aponta para o título e, agora que nos apanharam no grupo… vão querer vingança.

 

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Apesar de lhes termos ganho o Europeu, não tenhamos ilusões. Houve muito mérito nosso, mas algo que jogou a nosso favor foi o facto de os franceses nos terem subestimado. Ainda aquando deste sorteio, Didier Deschamps apelidou Fernando Santos de “espertalhão” por ter dito, na altura, que a França era favorita ao Europeu… mas era alguma mentira? A França jogava em casa e, ao contrário de nós, já tinham vencido o Europeu antes. Não é culpa nossa que eles tenham achado que eram favas contadas – nós tínhamos, e continuamos a ter, menos currículo, mas ninguém chega a uma final por acaso.

 

De qualquer forma, sabemos agora que os franceses não vão cometer esse erro de novo. E para além do que disse acima sobre eles serem os actuais melhores do mundo, se considerarmos o nosso histórico com eles, tirando a final do Europeu… não é animador. Mais de quarenta anos sem conseguirmos vencê-los, três derrotas em meias-finais. 

 

Dizer que não vai ser fácil é eufemismo.

 

Com isto tudo, ainda mal referi o terceiro adversário. Este só será definido daqui a uns meses, o que me é estranho – estava habituada a ter grupos decididos por completo nesta altura. Para sermos sinceros, este adversário é a menor das nossas preocupações – em parte porque é difícil preocupar-nos com um adversário por definir. 

 

Em princípio, o terceiro adversário será o vencedor da Liga A: Islândia, Hungria ou Bulgária. Tecnicamente a Roménia também joga na Liga A mas, uma vez que Bucareste é uma das cidades-anfitriãs do grupo C, se a Roménia se Qualificar irá para esse grupo, de modo a poder jogar em casa. Nesse caso, as outras equipas que poderão entrar na equação serão a Geórgia, a Bielorrússia, a Macedónia e o Kosovo. 

 

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Não quero perder muito tempo com estas últimas equipas, já que é menos provável virem para o nosso grupo. Se isso acontecer, logo escreverei sobre isso. 

 

Por algum motivo, os meus pressentimentos dizem-me que será a Islândia a Qualificar-se – a nossa velha amiga com quem nos estreámos no Euro 2016. No Mundial 2018 os islandeses não passaram da fase de grupos e, na Liga das Nações, ficaram em último lugar no seu grupo. Sempre estavam na Liga A, mas… Não estou a vê-los fazendo frente à Alemanha ou à França (se mesmo nós estamos aqui aflitos…), mas sempre guardam boas recordações de Portugal. Pode não ser suficiente para nos vencerem, mas sempre lhe dará alguma motivação.

 

Por sua vez, a Hungria não parece estar ao nível a que esteve durante o Europeu, naquele jogo tão parvo. Ainda assim, se se Qualificarem, jogarão em casa. Da última vez que jogámos em Budapeste, vencemos mas não foi fácil e trouxemos mais pontos do que precisávamos. 

 

Por fim, a Bulgária não foi ao Mundial 2018. Na Liga das Nações, esteve na Liga C. Nos últimos anos só disputámos um jogo particular com eles, em 2016 (antes de pesquisar para este texto já nem me lembrava deste jogo), de onde saímos derrotados por 1-0. Ainda assim, não estou a vê-los, criando grandes dificuldades a Portugal (meu Deus, espero não me arrepender destas palavras…).

 

Em todo o caso, a qualquer que seja a seleção a Qualificar-se para o nosso grupo… os meus pêsames. Se estivesse no lugar deles, quase preferia ficar de fora do Europeu. 

 

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Uma das coisas que me preocupa nesta fase de grupos é o facto de nos estrearmos com o vencedor do playoff. Portugal tem a infeliz mania de não ganhar o primeiro jogo de uma fase final, conforme já assinalei aqui no blogue. Desta feita não vai dar para perder pontos – com dois tubarões no nosso tanque, não nos podemos dar ao luxo de levar dentadas da sardinha. Vamos ter de entrar a matar – mais sobre isso já a seguir. 

 

A única vantagem do grupo F é o facto de ser dos melhores em termos de deslocações. Entre Munique, na Alemanha, e Budapeste, na Hungria, são “só” 553 quilómetros de distância. Em comparação com as cidades dos outros grupos é metade ou menos. 

 

Isto de fazer o Europeu um pouco por todo o continente é muito bonito, mas muito complicado em termos de logística. Jogadores e equipas técnicas das várias seleções vão chegar ao fim do campeonato completamente esgotados. 

 

Fernando Santos lamentou o facto de não termos ficado no grupo de Bilbau – sempre daria para ficarmos em casa, na Cidade do Futebol. Continuo a achar que devíamos ter candidatado Lisboa e/ou Porto para a organização deste Europeu. No entanto, em 2013-2014, com a troika a respirar sobre os nossos pescoços, quem estava disposto a arriscar? Ninguém calculava que nos sagraríamos Campeões Europeus nem que Portugal se tornaria um dos melhores destinos turísticos do Mundo. Assim sendo, deveremos instalar-nos em Budapeste. 

 

Resumindo e concluindo, espera-nos uma viagem dura e turbulenta para defendermos o Europeu. Não faltará emoção, disso podemos ter a certeza. Precisamente por isso, em vez de Grupo da Morte, há quem prefira chamar a conjuntos como este Grupo da Vida ou Grupo da Glória, como ouvi no outro dia. Tudo muito bonito e não nego que haja verdade nisso. Mas é fácil dizer que é o Grupo da Vida, um grupo emocionante quando se está do lado de fora, com um balde de pipocas. Não quando é a nossa equipa em palco.

 

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É muito simples: vamos ter de dar o nosso melhor. Vamos ter de deixar as nossas habituais parvoíces de lado, vestir o fato de super-heróis, invocar a força, o espírito, o que quer que seja que nos permitiu sagrar-nos Campeões Europeus. Repetindo mais uma vez, temos a fama de nos sairmos melhor em circunstâncias difíceis, de nos superar-nos. Vamos ter de passar da fama à prática.

 

Quanto a nós, adeptos, temos de nos preparar para muito sofrimento. Agora é uma boa altura para marcar consulta no cardiologista, arranjar umas receitas para nitroglicerina (o comprimido que se põe debaixo da língua). Vai ser duro… mas a verdade é que não queríamos que fosse de outra maneira. 

 

Eu acredito que será possível sobrevivermos a este grupo, nem que seja pelo terceiro lugar. Até ao momento ultrapassámos sempre a fase de grupos de Europeus – alguns em circunstâncias quase tão difíceis ou mesmo igualmente difíceis. E se conseguirmos sobreviver a um grupo com a Alemanha e a França – sobretudo se conseguirmos vencer pelo menos um deles – seremos capazes de sobreviver a praticamente tudo neste Europeu. Estou certa de que jogadores, equipa técnica e Federação em geral farão tudo para que isso aconteça.

 

Até lá… 

Seleção 2014

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Mais um ano perto de terminar, mais um ano perto de começar. Ganhei o hábito de, por esta altura, recordar aqui no blogue o que aconteceu com a Seleção ao longo dos últimos doze meses, olhar para estes acontecimentos de novo, como quem volta a ler um livro depois de saber como acaba. 

 

2014 foi um ano estranho para a Seleção. Teve altos e baixos, como todos os anos, mas também teve muitas coisas incompreensíveis. Por outro lado, foi um ano em que senti a história repetindo-se: 2002, com o fracasso no Mundial; 2010, com as confusões na Federação, a sua incapacidade de lidar com o rescaldo do Mundial e de gerir os selecionadores. 2014 foi também um ano em que senti que, quanto mais as coisas mudam, mais elas ficam na mesma.

 

Comecemos pelo princípio. 2014 arrancou de forma agridoce, emotiva, para o futebol português, tanto devio à morte de Eusébio como à Bola de Ouro de Cristiano Ronaldo. O primeiro jogo da Seleção, contudo, só ocorreu em março. Pouco antes, realizou-se o sorteio da Qualificação para o Euro 2016. Independentemente do que tivéssemos pensado na altura, hoje sabemos que nenhum dos nossos adversários é fácil. 

 

 

No dia 5 de março, a Seleção jogou contra a sua congénere camaronesa num jogo de carácter particular que teve lugar no Estádio Magalhães Pessoa, em Leiria. Como o costume, a Convocatória suscitou polémica pela teimosia de Paulo Bento em excluir certos jogadores. Em defesa do nosso antigo técnico, há que dizer que alguns dos nomes mais controversos - Edinho, Rafa, Ivan Cavaleiro - não se saíram mal no jogo com os Camarões. Foi de facto um bom particular, com a Seleçção Portuguesa a vencer por 5 a 1, golos de Cristiano Ronaldo (dois), Raúl Meireles, Fábio Coentrão e Edinho. Não foi mau, tendo em conta que os Camarões também estavam Qualificados para o Mundial, mas como o costume a Comunicação Social só quis saber de Ronaldo, que ultrapassara Pedro Pauleta no número de golos com a Camisola das Quinas. Estou convencida de que esta Ronaldomania, se não foi um dos fatores a contribuir para o fracasso no Mundial, certamente não ajudou a Seleção.

 

Por outro lado, uma das coisas que não compreendo deste ano é como passámos de jogos com exibições, vá lá, boazinhas, como a deste particular e dos outros que antecederam o Mundial, a... o que quer que tenha sido a nossa participação no Campeonato do Mundo.

 

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A Convocatória Final para o Brasil foi revelada no dia 19 de maio mas a polémica começou antes, com as pré-Convocatórias. Não gosto de estar a bater no ceguinho nem acho que nomes diferentes na Lista mudassem significativamente o nosso destino, mas há coisas difíceis de compreender. A principal será, porventura, a exclusão de Ricardo Quaresma. Para ser justa, relembro que Paulo Bento não foi o único técnico a embirrar com Quaresma este ano e o próprio Marmanjo terá a sua quota-parte de culpas na maneira como os treinadores lidam com ele. No entanto, quem perde acaba por ser quem não aposta no mustang. E quando às insinuações de Paulo Bento de que os jogadores que excluía "não tinham perfil para a Seleção"... bem, Quaresma teve perfil suficiente para estar por detrás de todos os nossos golos pós-Mundial. I rest my case.

 

Também já por alturas da Convocatória se comentava a duvidosa forma física de mais de metade dos jogadores da Seleção, sendo Cristiano Ronaldo o maior exemplo - mais tarde, descobrir-se-ia que as nossas dúvidas não eram descabidas. Não fomos os únicos a ter lesões importantes - este Mundial foi ridiculamente rico em lesões - mas fomos os mais assolados por este problema. Tivemos um total de cinco elementos incapacitados, num total de quinze condicionados. Como disse a minha irmã, a Seleção esteve em modo In My Remains, dos Linkin Park "Like an army falling, one by one by one". Tanto quanto me lembrava, era a primeira vez que tal acontecia num campeonato desta envergadura e, ainda hoje, não compreendo porquê. Muitos criticaram a decisão pós-Mundial de substituir a equipa médica mas terá sido assim tão descabido? Uma coisa é certa: a histeria em redor da tendinose rotuliana de Cristiano Ronaldo foi um dos aspetos mais irritantes deste Mundial.

 

 

O primeiro particular do estágio do Mundial teve como adversário a Grécia - orientada na altura por Fernando Santos, que ironicamente é agora o nosso Selecionador. Este jogo enquadrava-se nas comemorações do centenário da Federação Portuguesa de Futebol, pelo que teve lugar no Estádio Nacional, no Jamor, uma arena de forte simbolismo para o futebol português. Também foram prestadas homenagens a Eusébio e Mário coluna, falecidos anteriormente este ano. Este jogo ficou marcado pela ausência de habituais titulares, destacando-se Cristiano Ronaldo. Portugal dominou durante praticamente todo o jogo - Nani jogou melhor do que se esperava - mas notaram-se os habituais problemas na finalização. O jogo terminou com o marcador por abrir.

 

Antes de deixar o território nacional, a Seleção Portuguesa foi recebida pelo Presidente da República no Palácio de Belém, receção marcada por selfies e outras atitudes pouco convencionais para uma visita ao Chefe de Estado. Nos dez dias, mais coisa menos coisa, que se seguiram, a Equipa de Todos Nós estagiou nos Estados Unidos - alegadamente para se adaptar ao fuso horário - tendo sido das últimas equipas a chegar ao Brasil. Este foi outro dos aspetos controversos e incompreensíveis deste ano de Seleção: a localização do estágio, o clima. Deveríamos ter ido mais cedo para o Brasil? Deveríamos ter estagiado numa cidade diferente? E se as condições fossem tão agrestes que não conseguíssemos treinar como deve ser?

 

 

Antes do Mundial, contudo, ainda tivemos dois particulares, que não correram muito mal. O jogo com o México teve lugar no Gilette Stadium, em Boston, de madrugada para o fuso horário português. Foi um jogo sem grande história, que poderia ter dado para ambos os lados. A vitória portuguesa pela margem mínima só foi obtida ao cair do pano, cortesia de Bruno Alves. Estes golos, estas vitórias ao último minuto, tornar-se-iam uma tendência deste ano. Esta foi apenas a primeira e, por sinal, a menos empolgante.  

 

 

 

O jogo com a República da Irlanda correu melhor mas também este adversário encontrava-se uns furos abaixo dos dois anteriores. Desta feita, Cristiano Ronaldo jogou mas ele não contribuiu grandemente para a vitória folgada. Hugo Almeida bisou, Fábio Coentrão assistiu para um auto-golo e marcou ele mesmo outro, Vieirinha também marcou o seu, assistido por Nani (que também assistira Coentrão). Portugal contudo ainda sofreu um golo pelo meio, fruto de uma distração coletiva aquando de um livre.

 

Por esta altura, eu sentia-me bastante otimista relativamente ao início da participação portuguesa no Mundial, talvez um pouco para lá do realista. Hoje tenho vontade de rir e de chorar com a minha ingenuidade - mas em minha defesa, acho que nem os mais pessimistas estavam à espera de um descalabro como aquele. 

 

 

O nosso jogo de estreia no Campeonato do Mundo foi a humilhação do ano... se não tiver sido do século. Foi um jogo em que praticamente tudo o que podia correr mal correu. A história poderia ter corrido de outra maneira se tivéssemos cometido menos asneiras: o penálti oferecido por João Pereira, a "turrinha" de Pepe a Müllero atraso na reorganização da defesa após a expulsão, a equipa toda à beira de um ataque de nervos... com a lesão de Coentrão e Hugo Almeida a ajudar à festa. Parafraseando Afonso de Melo em A Pátria Fomos Nós, num Mundial não há segundas oportunidades - Portugal sentiu-o na pele no Brasil. O descalabro só não foi maior porque os alemães tiveram pena de nós - o que para mim é a pior vergonha. O facto de agora sabermos que não fomos os únicos a ser humilhados pelos alemães neste Mundial é fraco consolo.

 

 

Portugal estava obrigado a ganhar aos Estados Unidos para poder sonhar com a passagem aos oitavos. Nós tentámos. Começámos bem, até marcámos um golo cedo, cortesia de Nani - o único golo que pudémos festejar plenamente neste Mundial. Jogámos melhor que frente à Alemanha, mas os nossos pareciam lesmas - não sei se devido ao clima ou à (falta de) forma física (Postiga saiu lesionado aos treze minutos) ou se de ambos. Portugal não conseguiu ampliar a vantagem, só a segurou até aos sessenta e três minutos, os Estados Unidos chegaram mesmo a passar à frente. Varela voltou a vestir o fato de bombeiro e empatou o jogo ao cair do pano, mas apenas adiou o inevitável. Se quiséssemos continuar no Mundial, teríamos de golear o Gana e esperar que a Alemanha vencesse os Estados Unidos.

 

Eu já não acreditava. Lembro-me em particular do dia que se seguiu ao jogo, um dia cinzento e chuvoso, apesar de em termos cronológicos o verão já ter começado. Este ano não tivemos verão, nem o do Mundial nem o propriamente dito. 

 

 

Em todo o caso, no início do jogo com o Gana, sentia-me irracionalmente entusiasmada, como se aquele fosse apenas mais um jogo da Seleção, como se ainda estivesse tudo em aberto. Ganhámos por 2-1, um auto-golo e um golo de Cristiano Ronaldo para o lado português. Um resultado insuficiente para irmos aos oitavos. O Mundial terminava para os portugueses. 

 

Acredito que nunca saberemos ao certo o que aconteceu, qual ou quais fatores foram decisivos para o descalabro, o que poderia ter sido feito para evitar isto. Se bastaria o João Pereira não ter provocado aquele penálti ou o Pepe não ter sido expulso, de modo a reduzir a expressividade da vitória alemã, se esta não tivesse sido tão destrutiva... Ou se seria necessário um lote diferente de jogadores, um local de estágio diferente, talvez mesmo um local de estágio diferente... Seria importante aprendemos com os erros cometidos neste Mundial, mas já percebo que nós, portugueses, não somos muito dotados nesse capítulo. 

 

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As medidas tomadas pela Federação após o Mundial são um bom exemplo disso. Mudou a equipa médica, deu novos poderes a Paulo Bento, um voto de confiança que deu ares de uma despropositada promoção. Isto pouco antes do arranque da Qualificação para o Euro 2016. Na Convocatória para o primeiro jogo - contra a Albânia, no Estádio de Aveiro - apenas figuravam oito dos que haviam representado (fracamente) o País no Mundial. A maior ausência era a de Ronaldo, por lesão. Era uma lista que não parecia muito convincente, apesar de algumas novidades como Bruma, Vezo, Ricardo Horta e Pedro Tiba, e ainda se notavam os fantasmas do Brasil. Estes terão tido influência no jogo com a Albânia. 

 

 

Os nossos adversários estacionaram o autocarro à frente da baliza, é certo, mas não se pode dizer que os portugueses tivessem feito muito por abrir caminho. O golo albanês resultou de um momento de inspiração que coincidiu com uma distração da nossa defesa. Os portugueses não conseguiram sequer anular a vantagem. No final do jogo viam-se lenços brancos nas bancadas e, de facto, poucos dias depois, Paulo Bento abandonava o cargo de Selecionador. 

 

Demissões de técnicos nunca são processos felizes e esta não foi exceção. Oficialmente, esta terá sido uma rescisão amigável. Na prática, não se percebeu muito bem de quem partiu a ideia da demissão. Eu fiquei com a ideia de que Paulo Bento não saiu de vontade cem por cento livre e esta medida passa, no mínimo, por estranha quando, duas semanas antes, a Federação dava um voto público de confiança ao Selecionador. Apesar de este processo ter sido bem mais civilizado do que o que aconteceu com Carlos Queiroz, a FPF tornou a ficar mal na fotografia ao ter cedido ao pedido de Paulo Bento renovar antes do Mundial e ao não o ter demitido logo após o respetivo descalabro.

 

A Federação demorou algumas semanas a encontrar um substituto. Um dos favoritos foi sempre Fernando Santos: já passara pelos três grandes e tivera um bom desempenho ao leme da seleção grega. No entanto, encontrava-se  - e ainda se encontra - condicionado pelo castigo atribuído pela FIFA por se ter desentendido com um árbitro durante o Mundial. Durante algum tempo, pensou-se que Fernando Santos era uma hipótese descartada, precisamente devido a esse castigo. No entanto, tal conficionante acabou por não ser problema - e, de qualquer forma, com o recurso, o castigo acabaria por ser suspenso - pois, no fim, a Federação contratou-o.

 

 

 

A primeira Convocatória de Fernando Santos caracterizou-se pelo regresso de ausentes prolongados, como Ricardo Carvalho, Tiago, Danny e Ricardo Quaresma. Estes regressos podem ter causado uma controvérsia na altura, mas esses antigos "renegados" têm até ao momento (tirando Danny e, mais tarde, Bosingwa) mostrado-se merecedores da segunda oportunidade, com destaque para Quaresma.

 

 

O primeiro jogo de Fernando Santos foi um particular com a França, uma seleção de quem temos sido fregueses há várias gerações. Isto associado ao facto de ser a estreia de um Selecionador depois de uma série de maus resultados fez com que o resultado final - uma derrota por 2-1 - fosse expectável. Portugal não entrou bem no jogo, com destaque para os primeiros vinte minutos. Os laterais não estiveram bem, sobretudo Eliseu. Os dois golos franceses partiram de distrações da defesa portuguesa - agora vejo que estas distrações foram um pecado frequente este ano - o segundo numa altura em que a Seleção até começava a assumir o comando do jogo. Por fim, Ricardo Quaresma, suplente utilizado, converteu um penálti, fazendo o resultado.

 

 

 

O jogo seguinte, com a Dinamarca, foi a sério. Foi um jogo de paciência - que se tornaria a regra nos jogos seguintes - e de muitos nervos. Por uma vez Portgual até parecia ter a Sorte do seu lado, com um árbitro amigo e uma bola dinamarquesa ao poste, mas permanecia incapaz de converter essa sorte em golos. Foi preciso, de novo, Ricardo Quaresma entrar e assistir para Cristiano Ronaldo salvar o dia - isto no último minuto do jogo, numa altura em que já todos fazíamos contas considerando apenas um ponto. Foi o golo mais dramático do ano. Era a primeira vitória apóso Mundial, a primeira vitória da Qualificação, da era Fernando Santos. Estava dado o primeiro passo. 

 

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Um mês mais tarde, Portugal recebeu a Arménia no Estádio do Algarve. Tornou a ser um jogo de paciência, tornando-se até algo pastoso, mas desta feita não foi necessário esperar até ao último minuto pelo golo. Este foi, mais uma vez, fruto da parceria entre Cristiano Ronaldo e Ricardo Quaresma - embora Nani tivesse dado uma mãozinha nesta. Não chegámos a subir ao primeiro lugar do grupo, mas ficámos em segundo com um jogo a menos. Não está a correr nada mal, por isso.

 

  

Alguns dias mais tarde, a Seleção foi a Old Trafford disputar um jogo de carácter amigável com a sua congénere argentina. Muitos esperavam um grande duelo entre Cristiano Ronaldo e Lionel Messi (que, afinal, não está propriamente de fora da corrida para a Bola de Ouro, ao contrário do que pensava), mas ambas as superestrelas estiveram algo apagadas. Daí o jogo se ter revelado anti-climático, mesmo secante, sobretudo após a substituição das estrelas. Para os portugueses, contudo, teve uma agradável surpresa no último minuto (mais uma vez) com um inesperado golo do miúdo Raphael Guerreiro, assistido por Ricardo Quaresma (mais uma vez). E foi isto o que aconteceu com a Seleção em 2014.

 

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Foi um ano estranho, como procurei demonstrar, com muitas coisas incompreensíveis, com claro destaque para o Mundial. Continuo a achar que podíamos ter-nos saído melhor com uma atitude diferente. Talvez não conseguíssemos ir além dos oitavos-de-final - quartos, se tivéssemos sorte - mas sempre deixaríamos uma melhor imagem, semelhante as deixadas por seleções como a Grécia ou a Argélia. Tenho a tentação de enveredar pelos clichés do "levantar a cabeça" e "seguir em frente", mas, visto que não é a primeira vez que isto acontece, seria importante percebermos o que falhou para que esse erro não se repita. Mas eu sou uma mera adepta, nem sequer percebo por aí além de futebol, não posso fazer nada.

 

Ao menos as coisas começaram a correr melhor na reta final deste ano. Continuamos com os problemas de sempre, mas estes não representam um fardo tão grande. Não jogamos grande coisa (excetuando talvez contra a França) mas vamos ganhando os jogos - quer à Arménia, quer à Argentina - conquistando três pontos de cada vez, descomplicando a Qualificação. A fazer o melhor possível com aquilo que temos, tal como eu desejava no início do Apuramento. Tal como escrevi antes, a curto prazo é suficiente. A médio/longo prazo precisaremos de mais. Mas eu acredito que chegaremos lá - à medida que a Seleção e Fernando Santos se forem habituando uns aos outros e também à medida que jogadores da excelente Seleção Sub-21 (como Raphael Guerreiro) se forem integrando entre os séniores.

 

O problema é que ainda ficam a faltar três meses para o próximo jogo da Turma das Quinas. É muito tempo, muitas semanas em que o Selecionador não tem oportunidade de treinar os jogadores ele mesmo. Muita coisa muda em quatro meses. Se para mim, mera adepta, é frustrante, para Fernando Santos sê-lo-á ainda mais - afinal de contas, esta é a vida dele.

 

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Felizmente, foi anunciada há pouco tempo uma solução para este problema: a Liga das Nações. Ainda não compreendi ao certo em que moldes funcionará esta competição, mas sei que servirá substituir os jogos particulares e para dar maior competitividade ao futebol de seleções. Parece-me uma ideia excelente (qualquer desculpa para termos mais jogos de seleções agradar-me-ia, de resto). Mas, se for bem feita, esta Liga das Nações poderá aumentar o interesse pelos jogos da Equipa de Todos Nós - diminuirão os choradinhos pela pausa no futebol de clubes. Por serem jogos de maior grau de dificuldade e por oferecerem mais oportunidades de contacto entre selecionador e jogadores, a qualidade do futebol de seleções aumentará. E em princícpio não voltaremos a estar quatro meses sem Equipa das Quinas. Toda a gente fica a ganhar.

 

Mas isto só acontecerá daqui a quatro anos. Para já temos 2015. Como sempre, os anos ímpares são menos apelativos para mim por não haver Euro nem Mundial. O meu desejo é que, já que 2014 se pareceu um pouco com 2010, que o próximo ano se pareça com 2011: sem grandes dramas relacionados com a Seleção, só alegrias. Já tivémos drama que chegue nos últimos anos. Que a Seleção continue a crescer e não torne a escorregar no Apuramento. A ver se é desta que nos Qualificamos sem recorrer a play-offs, só para variar. Se isso acontecer, se continuarmos a melhorar, talvez possamos ter uma palavra a dizer durante o Euro 2016. Há muita gente céptica por aí, mas eu tenho fé de que continuaremos a crescer, de que a Seleção ainda tem muito para dar nos próximos anos e não será apenas por termos o Melhor do Mundo, embora isso ajude e muito. 

 

Uma das coisas que, conforme afirmei no início deste texto, vai sofrendo muitas alterações mas que, no fundo, continua na mesma é a minha atitude para com a Seleção. Houve alturas este ano em que quis desistir, deixar de me ralar com as aventuras e desventuras da Turma das Quinas... ou assim pensei. Por muito que fosse dizendo no blogue e página e a mim mesma que já não queria saber - ou pelo menos não tanto como noutras alturas - vinha a Convocatória seguinte, o jogo seguinte, ouvia o hino, às vezes o relato de Nuno Matos, e pronto; sentia-me entusiasmada de novo como se os únicos fracassos não tivessem acontecido. Conforme fui repetindo aqui no blogue e na página, há poucas coisas que me entusiasmem assim. Muito poucas. 

 

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No outro dia, comentava a brincar com a minha irmãzinha sportinguista que o seu adorado clube era como um mau namorado, que não retribui o afeto que lhe é dedicado. Ela respondeu-me que os clubes e respetivos jogadores não são como namorados, são como filhos: não gostamos deles por serem bons, gostamos deles por serem nossos. Isto não difere muito daquilo que escrevi após o Mundial: os jogadores da Seleção são de certa forma da minha família (não digo meus filhos, que vários deles são mais velhos do que eu!): acompanho-os, vejo-os crescer, irrito-me com as asneiras deles, orgulho-me dos seus feitos. E isso não mudará em 2015. 

 

Desejo assim um 2015 muito positivo para o futebol português, para os jogadores portugueses e para a Seleção. E deixo aqui os meus votos de um Feliz Natal a todos os meus leitores, na companhia daqueles de quem mais gostam, e de que tudo vos corra de feição no ano que vem. Termino com um brindezinho de Natal...

 

 

Portugal 0 Alemanha 4 - "22 (ou melhor, 21) homens atrás de uma bola", tragédia em Salvador

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Na passada segunda-feira, dia 16 de junho, a Seleção Portuguesa de Futebol estreou-se no Campeonato do Mundo da modalidade, em Salvador da Bahia, com uma pesada derrota frente à sua congénere alemã, por quatro bolas sem resposta.
 
Devo dizer que este é, provavelmente, o pior jogo da Seleção que testemunhei, e eu já acompanhei uma série de encontros medíocres: o jogo com os Estados Unidos e com a Coreia do Sul em 2002, vários das Qualificações para o Mundial 2010 e 2014, e estes são apenas dos exemplos de que me recordo neste momento. Só para terem uma ideia, nas primeiras vinte e quatro horas que se seguiram ao jogo, quando recordava os pormenores do encontro ficava com vontade de vomitar. Desejei, desesperadamente, ua maneira de fazer “reset” ao jogo, uma maneira de, como na série Tru Calling/O Apelo, rebobinar aquele dia, arranjar maneira de avisar a Seleção para que evitasse os erros que tão caro nos custaram. No entanto, isto é o Mundial, há muio mais coisas em jogo do que num particular ou num jogo de Qualificação; tal como disse na crónica anterior, estes encontros ficam gravados na História, para o melhor e para o pior, e temos de lidar com toda a repercussão do jogo – que, obviamente, não foi a mais simpática para o nosso lado. 
 
Durante a primeira parte do jogo, pude, felizmente (ou infelizmente) ir acompanhando a nível quase constante o relato radiofónico. Adicionalmente, tinha as mensagens que a minha irmã me ia enviando e o site do jornal A Bola, consultado regularmente pelos meus colegas, que se ia atualizando com as incidências do jogo. Logo nos primeiros minutos, Rui Patrício fez um passe infeliz para Khedira, estilo o que fizera no último jogo com Israel. Khedira não soube aproveitar a prenda que o guarda-redes português lhe ofereceu, mas agora percebe-se que este deslize de Patrício era um indício trágico do que aí vinha. 
 

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Eu não desanimei demasiado com o penálti convertido a golo, poucos minutos depois. Esperava um efeito semelhante ao do jogo com a Holanda, há dois anos: que o golo sofrido os acordasse e os fizesse correr atrás do empate. Não foi isso o que aconteceu, aliás, a Turma das Quinas desfez-se em pedaços por completo e nunca mais recuperou.
 
Ficou claro que, psicologicamente, os portugueses estavam em farrapos. Um belo exemplo disso foi Pepe. Foi uma sorte um estar sozinha quando ouvi no relato sobre a sua expulsão, pois na altura tapei o rosto com as mãos, com elas abafando as pragas que me saíam dos lábios. Pelo relato, percebi que o vermelho direto resultara de uma infantilidade, mas não me inteirei dos pormenores. Pouco depois, a minha irmã disse-me, por mensagem, que fora um dejá-vu do vermelho de Hélder Postiga na Irlanda do Norte, no ano passado. Não é preciso dizer mais nada. 
 
Para a segunda seleção mais velha deste Mundial, os portugueses mostraram demasiada imaturidade no Arena Fonte Nova. Pior, mostraram ser incapazes de aprender com os erros. O caso de Pepe é particularmente preocupante, ele que já se viu envolvido em demasiadas situações semelhantes a esta. 
 

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Nesta altura, já tínhamos sofrido o segundo golo e já Hugo Almeida tinha saído, por lesão. Paulo Bento terá demorado a reorganizar a defesa – já frágil, mesmo antes da perda de Pepe – o que nos custou o terceiro golo. Nesta fase, percebi que dificilmente empataríamos, quanto mais ganhar, e só desejei que Portugal marcasse pelo menos um ou dois golos, só para recuperarmos uma fração que fosse da nossa dignidade. 
 
Foi mais uma esperança vã. Nesta altura, já eu tinha saído do trabalho e ido para a esplanada de que falei anteriormente, com wi-fi. Aqui, havia-se juntado uma pequena e, naquela altura, insatisfeita multidão a ver a tristeza que estava a ser o jogo. Portugal só não sofreu muitos mais golos porque – e isto é, talvez, o mais humilhante de tudo – os alemães tiveram pena de nós e baixaram o ritmo. 
 
Houve tempo para o árbitro nos negar um penálti, que parecia verdadeiro. Ao ver Ronaldo correndo atrás do árbitro, temi que ele desse uma de João Pinto, e gemi:
 
- Alguém o agarre! Alguém o agarre!
 
 
 
Felizmente, ter-lhe-á sobrado um fragmento de sensatez para parar de correr e ficar a refilar para si mesmo. Ainda bem; já estávamos a deixar uma péssima imagem da nossa Seleção, a última coisa de que precisávamos era de ter o nosso Capitão a agredir o infeliz do árbitro.
 
Os portugueses bem se queixariam, mais tarde, do juiz da partida, queixas que tinham a sua legitimidade, mas nem eles podem dizer que o árbitro foi o único culpado pelo descalabro - aquele penálti por marcar sobre Éder pouco faria por nós. Mais, muito antes de o encontro entre Portugal e Alemanha ter começado, já muitos jogos do Mundial tinham sido marcados por arbitragens polémicas. Eu já antes sabia que, se nos calhasse também um árbitro de imparcialidade duvidosa, as vítimas não seriam os alemães. Não vou dizer que os portugueses tinham obrigação de saber isso - se o árbitro estivesse firmemente apostado em prejudicar-nos (não vou dizer que estava), pouco se poderia fazer - mas atitudes como as de Pepe em nada ajudam nestas situações.
 
O pior do jogo foi mesmo a perda de Fábio Coentrão, que foi obrigado a abandonar o Mundial. Ele que - todos concordam, apesar de continuarem a insistir no Ronaldo-mais-dez - é insubstituível e definitivamente não merecia isto. Não quando sempre foi, praticamente desde que se estreou com a Camisola das Quinas, um dos que mais dá pela Seleção, independentemente do seu momento de forma. Logo agora, que parecia atravessar uma fase tão promissora. O destino foi-lhe cruel.
 
 
É, de resto, um dos aspetos que mais me aflige: o número elevado de lesionados ou de candidatos a sê-lo. Não é um problema exclusivo de Portugal; é bem conhecida a lista de grandes jogadores que falharam este campeonato. No entanto, pelo menos no que toca à Seleção Portuguesa, não me lembro de outro Europeu ou Mundial em que tivéssemos tido tantas baixas ou tantos riscos de inaptidão para os jogos. Toda a gente fala do calendário pesado da temporada, há quem aponte isso como motivo para os recentes e surpreendentes fracassos de Inglaterra e, sobretudo, Espanha, mas, tanto quanto me lembro, é a primeira vez que isto acontece. Porquê este ano em particular?
 
Antes do fim da agonia, ainda houve tempo para o quarto golo alemão, resultante de mais uma falha na defesa, em que Rui Patrício tornou a ficar mal na fotografia. Estava feito o resultado. 
 
Não é a primeira vez, nem a segunda, que nos estreamos a perder num campeonato de seleções. Eu acreditem nas palavras otimistas de Cristiano Ronaldo, na véspera do jogo (e nem falo do camelo...), mas aceitaria perder por 1-0, 2-1, 2-0 ou mesmo 3-1.  Afinal de contas, em 2004 e 2012, as derrotas iniciais não impediram bons desempenhos nos respetivos Europeus. E em 2012 até não fizemos má figura, nem mesmo em 2008, apesar de esse jogo ter ditado a nossa expulsão do Euro. Mas nunca foi assim tão expressivo, tão humilhante. O único jogo que se compara é o da nossa estreia no Mundial 2002 com os Estados Unidos - e toda a gente sabe como essa história acabou. O pior é que ando a ver semelhanças com 2002: lesão da maior figura da equipa, dúvidas sobre a adequabilidade das condições em que decorreu o estágio, sobre a estabilidade emocional dos jogadores.
 
 
É claro que, quando a Seleção passa por crises semelhantes a esta, se coloque tudo em causa, que venham a lume teorias da conspiração. Carlos Queiroz, por exemplo, não deixou de meter a sua farpa, como é habitual. O provérbio "em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão" nunca fez tanto sentido, ainda que muitas das críticas tecidas tenham a sua legitimidade.
 
Para mim, o pior não é a derrota em si, nem mesmo o resultado. O pior foi o fracasso do espírito de Seleção, da garra, da entreajuda, em suma, daquilo que falei, daquilo que exaltei, na última e outras crónicas neste blogue, no artigo que enviei para o Record Online. Essa é que foi a verdadeira desilusão. Com que cara fico eu quando, depois de ter garantido que cada um dos jogadores é melhor quando joga na Seleção do que sozinho, não se viu nada disso no Arena Fonte Nova?
 
Não percebo o que aconteceu, sinceramente. A "equipa" que jogou com a Camisola das Quinas em Salvador não é a Seleção que eu conheço, não é nada.
 
Algo vai ter de mudar. Paulo Bento tem ideias fixas (por outras palavras, é casmurro que nem uma mula), mas terá de alterar alguma coisa. Que mais não seja porque tem quatro jogadores indisponíveis para o jogo com os Estados Unidos. Se antes se podia tolerar os seus implicanços com a Comunicação Social  - porque até tinha razão nalgumas coisas e, de resto, não se podia apontar-lhe muito, pois tinha vindo a cumprir os objetivos, com maior ou menor dificuldade - agora não tem o direito de ser tão arrogante como tem sido. Com alguma sorte, acontecerá o mesmo que aconteceu a Luiz Felipe Scolari, após a primeira derrota com a Grécia no Euro 2004.
 

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Portugal está agora obrigado a ganhar tanto aos Estados Unidos como ao Gana para poder passar a fase de grupos. Parece que, já que o Gana e a Alemanha empataram (como é que o Gana conseguiu fazer frente aos alemães e nós não?), a nossa atual diferença de quatro golos não deverá ser um problema. Em circunstâncias normais, eu diria que é assim que, de resto, a Seleção "gosta" de jogar: com margem de erro reduzida, sempre no caminho mais difícil. Eu mesma calculava que, muito provavelmente, seria assim que a fase de grupos se desenrolaria, cheguei mesmo a considerá-lo desejável (não torno a dizer que uma derrota pode ser "boa"; tal como no lugar-comum, vou ter mais cuidado com o que desejo). Mas, ao longo destes dias, tenho tido medo das sequelas anímicas do nosso primeiro jogo do Mundial, de que a forma física dos jogadores, as condições climatéricas, sejam mais fortes que a vontade de fazer bem, de que os mais pessimistas tenham razão. Esta derrota desanimou-me imenso. Não foi para isto que esperei estes meses todos, para não dizer quase dois anos. Agora, que estamos a menos de vinte e quatro horas do jogo com os Estados Unidos, já recuperei uma boa parte desse ânimo, mas continuo com muitas dúvidas. 
 
Eu já devia estar habituada, já devia saber que não é fácil saber que é fácil ser-se adepto incondicional da Seleção. É muito mais fácil ser-se daqueles que se vestem com as cores nacionais sempre que a Seleção está em alta mas que, nos momentos difíceis como este, desatam de imediato a criticar tudo e todos. Eu já devia tê-lo interiorizado mas, pelos vistos, padeço do mesmo mal que os Marmanjos: nunca aprendo.
 
Eu não quero ser desses adeptos hipócritas. Ainda que, ultimamente, ande a pensar que, um dia destes, vou pura e simplesmente desistir, deixar de me ralar com as desventuras da Seleção, parar de tentar constantemente, puxar por eles, encorajar as outras pessoas a apoiá-los como eu apoio, porque eles nem sempre o merecem, não será para já. Pelo menos não enquanto houver uma hipótese de fazermos um bom Mundial. Como já aconteceu antes, não é tanto por convicção, é mais por desespero. Não quero que isto acabe assim, não quero que 2002 se repita. Quero acreditar que nós somos mais do que fomos segunda-feira, que aquilo foi a exceção, não a regra, que a Seleção vai levantar-se outra vez, tal como o tem feito várias vezes nos últimos anos - incluindo em alturas em que nem eu já quase acreditava. Paulo Bento conseguiu ressuscitar a Seleção depois do caso Queiroz, tem de conseguir fazer o mesmo agora. Isto não pode acabar assim. 
 
Mostrem que somos mais do que isto. Mostrem que somos a Seleção.
 
 

Antes da nossa estreia no Mundial 2014

Na madrugada de sexta, dia 6 de junho, para sábado, dia 7, a Seleção venceu a sua congénere mexicana por uma bola sem resposta, num jogo amigável que teve lugar no Gillette Stadium, em Boston. Quatro dias depois, no Met Stadium, em Nova Iorque, a Seleção enfrentou a sua congénere irlandesa e tornou a vencer, desta feita mais expressivamente, por cinco bolas contra uma. 

Não escrevi entradas individuais para cada um destes jogos, como costumo fazer, essencialmente por falta de tempo e de material. Quando falo em material, refiro-me à análise ao jogo por parte de um jornal desportivo, no dia seguinte, na qual me baseio para escrever as crónicas. Devido à hora tardia destes últimos encontros, não foi possível aos jornais fazerem uma análise completa aos mesmos, logo, faltaram-me as bases para escrever mais exaustivamente sobre eles. 


O jogo com o México, de resto, pouca história teve, assemelhando-se ao do Jamor, contra a Grécia. Neste, o nosso domínio não foi tão constante, os mexicanos estiveram várias vezes por cima, o jogo poderia ter dado para ambos os lados. Só não virou a favor dos mexicanos graças a Eduardo, que fez uma mão cheia de belas defesas, provando merecer estar entre os Convocados - em termos de guarda-redes, a Seleção está bem servida. Numa altura em que aquilo já me parecia uma repetição do sábado anterior, em que considerava que aquelas quase duas horas teriam sido melhor empregues a dormir, João Moutinho bateu um livre, assistindo Bruno Alves para o único golo da partida. Para um defesa, o Bruno anda a marcar bastante pela Seleção. Foi um triunfo pela margem mínima, ao cair do pano, mas que sempre serviu para levantar um pouco a moral. 

O jogo com a República da Irlanda foi melhor, esse sim valeu as horas e sono perdidas. É claro que ajudou o facto de os irlandeses estarem uns furos abaixo dos gregos e dos mexicanos, mas os portugueses não deixaram de proporcionar bons momentos de futebol - e não foi apenas o recuperado e regressado Cristiano Ronaldo a brilhar. A partida começou logo bem, com um golo do (para muitos) improvável Hugo Almeida, assistido por Varela. O resto do jogo desenrolou-se mais ou menos da mesma forma, com Portugal em claro domínio. Fábio Coentrão marcou um meio golo, assistindo um infeliz irlandês, que marcou na sua própria baliza. Mais tarde, Ronaldo tentou a sua sorte, falhou, Hugo Almeida foi à recarga e conseguiu marcar.


Muitos podem ter ficado surpreendidos com o desempenho do ponta-de-lança, mas eu não, pelo menos não tanto. Ele já não marcava pela Seleção há um ano, é certo, e chegou a fazer um par de jogos infelizes no passado recente. Eu, no entanto, lembro-me que há uns anos ele marcava com regularidade pela Seleção. Fico satisfeita por esse Hugo Almeida estar, aparentemente, de regresso a tempo do Mundial.

Ao início da segunda parte, eu receava (e quase esperava, pois sempre me daria uma desculpa para parar de ver o jogo e ir dormir) que o rendimento decaísse, sobretudo quando se processassem as substituições. Tal não chegou a acontecer, tirando o golo que sofremos. Para quase toda a gente, tal golo nasceu de uma falha de concentração. A minha irmã, contudo, alega que o livre foi batido antes do tempo, quando os portugueses ainda organizavam a barreira. Quanto a isso, não consigo chegar a nenhuma conclusão, nem mesmo depois de rever as imagens do golo. Apenas dá para ver que, independentemente do motivo, os Marmanjos estavam de facto distraídos durante esse lance.

Muitos esperariam que a saída de Cristiano Ronaldo tirasse qualidade ao jogo. Não foi isso que aconteceu pois, quando saiu Ronaldo, entrou Nani, cheio de ganas, que rapidamente assistiu para os dois últimos golos da Seleção Portuguesa, um de Vieirinha, outro de Fábio Coentrão (que também anda mais goleador do que o habitual, se considerarmos o seu meio golo na primeira parte). Pelo meio, ainda viu um golo anulado após uma linda jogada de tiki-taka por ele protagonizada. Nani dá-nos, deste modo, sinais de que poderá fazer um bom Mundial, algo que, há escassas semanas, me parecia altamente improvável.


Depois de, anteriormente, ter defendido que o empate frente à Grécia não provava nada, seria hipócrita estar agora a dizer que estes dois últimos particulares provam muito mais. Se é de esperar que, numa fase mais avançada da preparação do Mundial, os jogos corram melhor, a verdade é que, há dois anos, Portugal perdeu de forma ridícula com a Turquia mas não deixou de fazer um belo Euro 2012. Viu-se que os portugueses pelo menos parecem empenhados, motivados. No entanto, todos sabemos que, quando for a doer, tudo será diferente.

Será a doer já amanhã, segunda-feira, pelas cinco da tare, hora portuguesa, no Arena Fonte Nova, em Salvador da Bahia, frente à Alemanha. É o segundo campeonato de seleções consecutivo em que nos estreamos com os nossos amigos alemães, que de resto também defrontámos no Mundial 2006 e no Euro 2008. Não guardamos boas recordações de nenhum desses jogos, embora talvez pudéssemos ter guardado do último.

Há uns meses, diria que seria pouco provável ganharmos. Hoje, contudo, não acho que seja assim tão improvável. O jogo do Euro 2012 podia ter-se virado a nosso favor, bastaria aquela bola ao poste do Pepe ter entrado, ou o remate de Varela na segunda parte. Além do mais, o futebol alemão não parece tão ameaçador agora, já que este ano nenhuma equipa alemã atingiu a final da Liga dos Campeões. Também me soa animador o facto de os portugueses do Real Madrid terem sido bem sucedidos frente às várias equipas alemãs que lhes saíram na rifa. Alguns adeptos alemães não parecem, igualmente, muito confiantes na sua seleção. Por fim, os alemães deram a entender em algumas declarações que nos subestimam, com destaque para aquela em que nos comparavam com a Arménia.


Tudo isto, no entanto, não passa de conjeturas, se não forem ilusões. Não alteram o facto de a Alemanha ser, a par da Espanha (isto é, depois do jogo com a Holanda não sei...), Brasil e Argentina, uma das seleções candidatas ao título mundial, tal como o era há dois anos. Portugal pode vencer a Alemanha, mas terá de suar para fazê-lo. Por um lado, gostava mesmo de ganhar este jogo, ou pelo menos de empatar, para não ter de escrever uma crónica intitulada "22 homens atrás de uma bola, a trilogia" e também porque, se conseguíssemos vencê-los, seria um sinal de que até poderíamos ser candidatos ao título. Por outro lado, eu conheço a maneira como a Seleção Portuguesa funciona. Sei que se sai melhor sobre pressão, perante adversários mais fortes ou situações de aperto em termos de classificação. Os Estados Unidos já nos apanharam de surpresa uma vez, o mesmo pode acontecer caso entremos em campo com eles com a atitude descontraída de quem já tem três pontos amealhados. Daí que quase prefira o empate, ou mesmo a derrota.

De qualquer forma, a partir de amanhã, acabarão as teorias, os prognósticos, as apostas. O que quer que aconteça durante o jogo, cada golo, cada falta mal cobrada, cada cartão injustamente atribuído, ficará escrito a tinta-da-china na História. Poderemos, depois, olhar para eles da maneira que quisermos, mas não haverá maneira de mudá-los. Só aí saberemos quem estava certo ou errado, só aí será determinado o verdadeiro valor da nossa Seleção. Já sinto o "bichinho" a morder, a típica mistura de nervosismo e excitação, quando olho para os jogos já ocorridos do Mundial e respetiva repercussão nos media e redes sociais, e me apercebo que, na segunda-feira, seremos nós o objeto das notícias, análises, comentários e piadas.

Conforme tenho repetido inúmeras vezes nos últimos tempos aqui no blogue, não vou poder ver a primeira parte do jogo. Agora que estamos mais perto do mesmo, calculo que poderei ir estando a par d que for acontecendo, quer através do relato radiofónico, quer através de um daqueles sites, que se vão atualizando com os lances, quer, se tivermos sorte, através das das exclamações das pessoas que estiverem a ver os jogos nos cafés da zona. Quando sair, por volta das seis, corro para um desses cafés para ver a segunda parte. Em princípio, será um com wi-fi, por isso, talvez consiga levar o meu computador e ligar-me às redes sociais.


Embora não considere "desonestidade intelectual" pensar o contrário, não acho que Portugal seja candidato ao título, por diversos motivos, alguns dos quais estão listados num artigo que enviei para o Record Online. Contudo, no mesmo também recordo que, no futebol, não há impossíveis, tudo pode acontecer, e Portugal, de resto, possui meios para fazer mais do que esperar por um milagre, possui meios para, como costuma dizer Paulo bento, competir com qualquer equipa, para dar luta. Conforme afirmei no artigo, e já várias vezes aqui no blogue, Portugal pode não ter os melhores jogadores do Mundo, tirando uma exceção bem conhecida, mas estes, quando vestem a Camisola das Quinas - sobretudo em momentos decisivos - funcionam bem uns com os outros, como uma equipa, como um só, elevam-se acima do valor que lhes é cotado. E, conforme afirmei no artigo, chego a depositar mais fé nesse espírito, na garra e determinação dos jogadores, na união entre eles, na sua vontade de fazer bem, que propriamente na sua qualidade técnica ou momento de forma. Esta minha convicção aplica-se tanto à tendinose rotuliana e Cristiano Ronaldo, à falta de ritmo de Nani, à forma duvidosa de Hélder Postiga, às reservas da opinião pública relativamente a jogadores como Vieirinha ou André Almeida.

Encaro este Mundial da mesma forma como tenho encarado os últimos campeonatos de seleções: com as minhas reservas, mas convicta de que tudo é possível, com a esperança de que a coisa corra bem para o nosso lado, de preferência com o título mundial à mistura. A preparação encontra-se à beira do fim, a partir de amanhã é a doer. A ver o que o destino nos reserva. Para já, não tenho mais nada a dizer senão: força Portugal!