No passado sábado, dia 18 de junho, a Seleção Portuguesa de Futebol enfrentou a sua congénere austríaca, no chamado Parque dos Príncipes, no seu segundo jogo da fase de grupos do Campeonato Europeu da modalidade. Este encontro terminou sem golos.
Não quero, de todo, dar uma de Cristiano Ronaldo e menorizar a seleção austríaca. Afinal de contas, a Áustria Qualificou-se para o Europeu à frente da Suécia e da Rússia. No entanto, na primeira parte, pelo menos um ou dois cantos marcados a nosso favor foram-nos praticamente oferecidos pelos austríacos. Mais tarde, em cima do intervalo, um jogador austríaco pontapeou a bola e esta foi embater nas costas de outro austríaco antes de sair do campo, resultado em lançamento para Portugal.
Como é que a nossa Seleção, recheada como está de jogadores de qualidade, experientes em grandes competições, não foi capaz de vencer uma equipa como esta?
Todos concordam que Portugal jogou melhor que na estreia, frente à Islândia. O jogo começou dividido mas a Seleção foi gradualmente ganhando controlo sobre a situação, com oportunidades aos seis, treze, vinte e dois minutos, meia hora. Antes do intervalo, a Áustria ainda nos pregou um valente susto, na sequência de um livre. Felizmente, estava lá Vieirinha, em cima da linha de baliza, para se redimir da sua fífia no jogo anterior.
Na segunda parte, as coisas ficaram ainda mais parvas no que toca à finalização. Cristiano Ronaldo chegou a fazer dois remates praticamente seguidos. Isto para não falar do penálti, que Ronaldo atirou à barra. E do golo anulado por fora-de-jogo. Tivemos azar, é certo, terá havido ansiedade no momento do penálti, mas se houve algum erro claro, na minha opinião, foi não termos avançado com as substituições mais cedo. Sou a primeira a admitir que estou longe de ser uma especialista na matéria, mas penso que Rafa podia ter entrado mais cedo e que o jogo pedia a velocidade de Renato Sanches, que não saiu do banco. No fim, Portugal contava vinte e cinco remates, mais coisa menos coisa, e zero golos.
No rescaldo deste jogo, eu não sabia o que pensar ou dizer. Não é a primeira vez que a Seleção tem dificuldades numa fase de grupos de um campeonato como este e não será, certamente, a última. Mas vejamos as coisas: no Euro 2004 perdemos o primeiro jogo com uma equipa de quem não esperávamos grande coisa, é certo, mas essa equipa acabaria por se sagrar campeã, para mal dos nossos pecados. Em 2010 só fizemos cinco pontos, após uma grande goleada e um par de jogos esquecíveis, mas um desses jogos foi contra o Brasil. 2014 foi uma tragicomédia mas, em nossa defesa... era a Alemanha no nosso primeiro jogo! Para não falar de 2012, em que estivemos num grupo muito mais difícil mas a que, no fim, conseguimos sobreviver. Agora estamos num grupo com seleções que, mais uma vez com o devido respeito, não têm a mesma expressão que seleções como o Brasil, a Alemanha, a Espanha e mesmo a Dinamarca e os Estados Unidos possuem. Qual é o nosso problema?!?
Mais a frio, percebo que a situação não é assim tão dramática quanto isso. Comparar com o Mundial 2014 pode ser nivelar por baixo, mas para mim é bom saber que, ao segundo jogo, ainda dependemos de nós mesmos e que, tirando talvez André Gomes e Raphael Guerreiro (logo agora, que ele começava a deslumbrar a sério...), não temos três quartos da Seleção com as pernas à beira do colapso.
O nosso maior problema é mesmo a eficácia e começo a suspeitar que isso seja psicológico. Já há quem diga que se elevou demasiado a fasquia, com toda a conversa do título europeu - Fernando Santos continua a dizer que só volta dia 11 de julho - mas eu torço o nariz a essa teoria. Eu acompanho a Seleção a partir de fora, só ouvi acerca destas há um ano e já me tinha habituado à ideia aquando do início da preparação do Euro. Os jogadores ouviram-nas no primeiro dia de Fernando Santos com eles e em diferido em todas as concentrações da Equipa de Todos Nós. Não tiveram, também, tempo para se habituar à ideia? Eu sei que os jogos de Qualificação e os particulares são diferentes de um Europeu a sério mas, mesmo assim, conforme afirmei antes, uma boa parte do grupo tem experiência em grandes competições. Já tiveram inúmeras oportunidades para aprenderem a lidar com a pressão. Não me parece que seja por aí, portanto. Só sei, contudo, que não temos mostrado argumentos para sermos considerados candidatos ao título.
Eu, por um lado, acredito que tudo, ou quase tudo, entrará nos eixos caso Portugal ganhe hoje, à Hungria, e continue em frente no Europeu. Muitas das críticas hoje à Seleção serão rapidamente esquecidas, sobretudo se as coisas começarem a correr mesmo bem. Por outro lado, tenho de ser sincera convosco, o meu nível de entusiasmo em relação à Equipa de Todos Nós tem andado pouco acima da capacidade finalizadora portuguesa. Não sei ao certo a que se deve isso, se ao momento da Seleção, se a mim mesma e às minhas neuroses, mas tendo em conta que costumo passar dois anos de cada vez sonhando com o campeonato de seleções seguinte... é preocupante.
O que não significa que não acredite. Como assinalaram muito bem neste blogue, ao contrário de aparentemente uma boa parte da opinião pública, não acredito que algum dos Marmanjos queira ficar pelo caminho. Seja pelo amor à camisola, seja pela montra, seja pelos incentivos financeiros. Até mesmo Jorge Mendes - que muitos descrevem como um supervilão, que manipula toda a Equipa das Quinas - beneficiará muito mais se os seus jogadores chegarem longe no Europeu. A Hungria já está matematicamente apurada, pode ser que isso facilite a nossa tarefa. Não vou dizer que muita coisa terá de correr mal para falharmos os oitavos - só estamos nesta situação porque não conseguimos marcar golos, mais nada - mas acredito firmemente que não será por falta de empenho que cairemos.
Vou, portanto, acreditar que as coisas vão finalmente correr bem, que hoje é que é (como diz o Nilton, parece que nos devem dinheiro...). Como sempre, estarei lá para ver o jogo hoje, às cinco horas, etc., etc., a conversa do costume. Já o disse mil vezes, isto não é fácil, nunca ninguém disse que o era. Mas tudo valerá a pena, se a alma não é pequena e, sobretudo, se hoje mostrarmos, de uma vez por todas, que temos uma palavra a dizer neste Europeu.
No passado sábado, dia 12 de dezembro, teve lugar em Paris o sorteio para a fase de grupos do Campeonato Europeu de Futebol, que se realizará no próximo verão. Portugal ficou colocado no grupo F, juntamente com a Islândia, a Áustria e a Hungria.
Como o costume, eu andava ansiosa por este sorteio. Consegui acompanhá-lo devidamente, pela televisão, com a minha irmã. Fiquei surpreendida por este ter começado apenas meia hora, quarenta minutos depois do início da cerimónia. Ficamos no último grupo, logo, fomos os últimos a conhecer os adversários. O pote 3 e o pote 2 iam sendo esvaziados, sem que a Suécia e a Itália, respetivamente, saíssem. Por um lado, eu não os queria no grupo, por motivos óbvios. Por outro lado, eu não as queria no grupo, por motivos óbvios. Por outro lado, eu queria-os no grupo porque seriam jogos excitantes. As duas seleções ficaram no grupo E, como que a sublinhar que nós tínhamos escapado por pouco às favas. Nós ficámos com equipas, digamos, modestas.
O nosso primeiro jogo ficou marcado para dia 14 de junho, em Saint-Étienne, frente à Islândia. Só jogámos duas vezes contra esta equipa, ambas no Apuramento para o Euro 2012. O primeiro jogo ocorreu naquela gloriosa dupla jornada de estreia de Paulo Bento, em que recuperámos a esperança depois do caso Queiroz e de perdermos cinco pontos nos primeiros dois jogos do Apuramento. Não tendo sido um jogo brilhante, teve os seus momentos, com o golo do Cristiano Ronaldo de livre direto, a bomba de Raul Meireles e o golo final de Hélder Postiga.
O segundo jogo terminou com uma vitória por 5-3, mas ainda apanhámos alguns sustos. A primeira parte até terminou com Portugal ganhando por 3-0 - golos de Nani, que marcou dois quase de seguida, e um de Hélder Postiga. No entanto, na segunda parte, os islandeses conseguiram reduzir para 3-2 e, por algum tempo, os portugueses desorientaram-se. Felizmente, João Moutinho meteu ordem no jogo ao marcar o quarto golo português, aos oitenta e um minutos. Eliseu, que já tinha assistido para o primeiro golo de Nani e para o golo de Moutinho, ainda ampliou o resultado para 5-2. Mais tarde seria considerado o Homem do Jogo (sim, estamos a falar do mesmo Eliseu, que joga hoje no Benfica). Ainda houve tempo, mesmo assim, para os islandeses reduzirem, de penálti.
A Islândia partilhou o grupo de Qualificação com a Holanda e a Turquia. Os islandeses venceram os holandeses nos dois jogos que disputaram com eles, contribuindo para o afastamento da Laranja Mecânica do Europeu. Na classificação final do grupo, ficou à frente da Turquia, que muitos considerariam uma ameaça maior. Tudo isto prova que os islandeses podem complicar-nos a vida.
A Áustria, com quem jogaremos dia 18 em Paris, tem um histórico favorável frente a nós (três vitórias para o lado deles, duas para o nosso lado e cinco empates), mas não jogamos com eles há vinte anos - desde a Qualificação para o Euro 96. Os austríacos apuraram-se para o Europeu em primeiro lugar no seu grupo, oito pontos à frente da Rússia (!) e dez pontos à frente da Suécia (!!!), ambas equipas que, mais uma vez, muitos considerariam mais perigosas. Penso que é opinião comum que os austríacos serão os nossos adversários mais difíceis neste grupo. Não é difícil perceber porquê.
Fiquei um bocadinho chateada por nos ter calhado a Hungria no grupo, visto esta já ter sido sorteada para o nosso grupo de Apuramento para o Mundial 2018. Já achava eu que essa Qualificação vai ser uma seca. O facto de um dos adversários ser um repetido do Europeu em nada melhora essa condição.
A verdade é que vamos encontrar os húngaros no nosso último jogo da fase de grupos, em Lyon, no dia 22. Nunca perdemos contra este adversário e o último empate foi em 1983. Os nossos dois últimos jogos ocorreram durante a Qualificação para o Mundial 2010. Ambos correram bem. O segundo é capaz de ter sido o melhor desta fase de Apuramento.
A Hungria apurou-se para este Europeu via playoffs, vencendo a Noruega. Nesse grupo, foi ultrapassada pela República da Irlanda e pela Roménia. Podemos concluir que, em princípio (vou usar muito esta expressão neste texto, "em princípio"), a Hungria será a Seleção menos ameaçadora deste grupo.
Vocês sabem que, por norma, não gosto de grupos "fáceis", de "equipas fáceis". Num Europeu mais alargado do que antes, desconfio particularmente das seleções em estreia - não terão nada a perder, logo, não sentirão a pressão caso as coisas não corram bem.
No entanto, mais do que ser por ser um grupo fácil, este grupo chateia-me por ser enfadonho - tal como o grupo da Qualificação para o Mundial 2018. Ainda na véspera do sorteio do Europeu saía uma lista em que Portugal aparecia entre as seleções mais chatas. Não estou a ver os jogos do grupo mudando essa perceção. Os atractivos dos campeonatos de seleções são os jogos com equipas grandes. Daqueles que, ou ganhamos de forma épica, ou perdemos com dignidade, ou somos completamente humilhados. Aqueles jogos de cortar a respiração, de vida de morte ou muito mais, em que temos constantemente o coração na garganta. Em que cada golo é celebrado de forma intensa e, por vezes, demasiado dramática. Em que chegamos ao fim quase tão exaustos como se nós mesmo tivéssemos jogado. Não estou a ver os jogos desse grupo chegarem a esse nível. Ou melhor, se chegarem é porque as coisas estão a correr mal.
Por outro lado, depois da tragédia que foi o Mundial 2014, não vou dizer que não me agrada a ideia de um grupo tranquilo, em que, em princípio, temos tudo para passar. Se estamos mesmo a olhar para o título, emoção e dificuldades não hão de faltar no percurso até à final. Já será suficientemente complicado chegarmos lá, não me vou queixar se o início for, em princípio, facilitado.
Regressando à relativa facilidade deste grupo, nos rescaldos destes sorteios, costumamos dar o exemplo do Euro 2000 e 2012, "Grupos da Morte" a que sobrevivemos, e do Mundial 2002, o grupo fácil em que tudo correu mal, tirando no jogo contra a Polónia. Portugal tem o irritante hábito de complicar o que é fácil e o lendário hábito de se superar perante dificuldades.
E, no entanto, não sei se ainda é assim. Fizemos uma Qualificação tranquila, em que, tirando o primeiro jogo, não complicámos desnecessariamente. Sob a orientação de Fernando Santos, a equipa ganhou uma maturidade que não possuía há dois, três anos. Não estou a vê-los fazendo asneiras que comprometam a passagem aos oitavos-de-final (ainda me é estranho falar de oitavos-de-final num Europeu...), sobretudo quando Fernando Santos diz que quer ganhar o Europeu. Só uma epidemia de lesões e parvoíce estilo Mundial 2014, e mesmo assim. Muita coisa terá de correr mal para não passarmos este grupo. Já aconteceu, é certo, mas quero acreditar que eles aprenderam com os erros. Além disso, em princípio, o clima em França será menos agreste que o brasileiro, logo, também não será por aí...
Estou a guardar os meus pensamentos sobre este Europeu e as ambições de Fernando Santos para a habitual entrada na véspera do Anúncio dos Convocados. Para já, a bola está do lado da Federação. Quero saber as datas e os adversários dos particulares prometidos para março, bem como, lá está, o dia do Anúncio. Como poderão ver ao lado, já programei um contador dos dias que faltam para o nosso jogo de estreia no Europeu. Depois, acrescento um segundo contador, para o dia dos Convocados.
Quanto a mim, estou neste momento a trabalhar na já tradicional revisão do ano. Continuem desse lado.