Quase revolucionário
No próximo sábado, dia 11 de setembro, a Seleção Portuguesa de Futebol disputará no Stade de France, em Saint-Denis (a norte de Paris), um jogo de carácter particular com a sua congénere francesa.
Recorde-se que, pela primeira vez, na Qualificação para o Campeonato Europeu da modalidade, a seleção anfitriã foi incluída num dos grupos de Apuramento, efetuando jogos com todas as outras equipas do grupo sem que estes contem para a classificação final. Por sua vez, o jogo que será disputado no Estádio Parken, em Copenhaga, três dias mais tarde, com a seleção dinamarquesa, será o nosso segundo encontro da fase de Qualificação para o Euro 2016.
Esta jornada dupla marca a estreia de Fernando Santos como Selecionador Nacional. O nome do técnico foi um dos primeiros a ser referido como possível sucessor de Paulo Bento. Era o favorito de quase toda a gente, eu incluída, graças à vasta experiência de alguém que já treinou os três grandes portugueses, vários outros no País e no estrangeiro, e teve um bom desempenho recente ao leme da seleção grega. No entanto, rapidamente foi descartado devido ao castigo atribuído pela FIFA... ou assim pareceu. Fui apanhada de surpresa pelo anúncio da sua contratação.
Esta jornada dupla marca a estreia de Fernando Santos como Selecionador Nacional. O nome do técnico foi um dos primeiros a ser referido como possível sucessor de Paulo Bento. Era o favorito de quase toda a gente, eu incluída, graças à vasta experiência de alguém que já treinou os três grandes portugueses, vários outros no País e no estrangeiro, e teve um bom desempenho recente ao leme da seleção grega. No entanto, rapidamente foi descartado devido ao castigo atribuído pela FIFA... ou assim pareceu. Fui apanhada de surpresa pelo anúncio da sua contratação.
Infelizmente, Fernando Santos continua castigado e parece pouco provável que veja o seu castigo reduzido. Parece que o castigo só é aplicável a jogos oficiais, logo, o novo Selecionador estará presente no banco durante o jogo com a França. São muitos jogos de castigo, pode até acontecer que Fernando Santos tenha de assistir na bancada a todos os seus jogos oficiais como técnico da Turma das Quinas. Durante algum tempo, não percebi porque motivo o treinador ia apanhar oito jogos de castigo, apenas menos um que Luis Suarez, com o seu famoso e triste hábito de morder adversários. No outro dia é que percebi que o castigo se deve, não ao cartão vermelho que recebeu, mas ao facto de ter desobedecido à ordem de expulsão, desrespeitando abertamente a autoridade do árbitro. Por essa perspetiva, a punição faz mais sentido. Se esta infração é mais ou menos grave que outras menos castigadas é discutível. Para mim, mais do que a FIFA, quem fica mal na fotografia é a federação grega por não avisar o seu antigo técnico a tempo de recorrer da decisão - isto depois de tudo o que Fernando Santos fez pela seleção deles!
Apesar de muitos recordarem que as seleções não são como os clubes, de salientarem a importância de os jogadores apreenderem rapidamente a filosofia do Selecionador, não estou demasiado preocupada com a ausência de Fernando Santos do banco de suplentes português: o substituto será Ilídio Vale, o homem por detrás dos bons resultados que a seleção de sub-20 tem apresentado nos últimos anos. Tenho a certeza de que terá competência para gerir a Seleção no lugar de Fernando Santos. Corremos, no entanto, o risco de, em vez de termos um Selecionador principal e um adjunto, termos dois selecionadores principais: um para os treinos, Conferências de Imprensa e jogos particulares, outro para os jogos a doer. Não sei se isso correrá bem. Toda esta situação terá de ser muito bem gerida pela equipa técnica da Seleção.
A primeira Convocatória assinada por Fernando Santos foi Divulgada na sexta-feira passada, dia 3, uma Lista cheia de novidades, quase revolucionária como ouvi dizer na rádio, ou pura e simplesmente uma volta na arrecadação, como diziam n'A Bola. Destacam-se, clara e quase gritantemente, os regressos dos "renegados" de Paulo Bento, como Ricardo Quaresma, Ricardo Carvalho, Tiago e Danny. Nos dias antes da Divulgação, a Comunicação Social ia apresentando as pré-Convocatórias dando a entender que Fernando Santos dizia "Vai-te lixar, Paulo Bento!", mas o Selecionador explicou que, na Federação, ninguém lhe restringiu nenhum jogador. Sabe que Paulo Bento terá tido os seus motivos para não Chamar os jogadores, mas esses motivos não são os dele. "Não foi comigo", chegou a dizer várias vezes. Um argumento que faz sentido. Ainda que compreendamos e até concordemos com as opções de Paulo Bento, Fernando Santos não é obrigado a isso, tem todo o direito a Escolher aqueles que, de acordo com a sua própria consciência, considera os mais adequados.
Eu vejo cada um destes casos de maneira diferente. O de Ricardo Carvalho, para começar, deixou-me algo dividida: se por um lado acho que o que o Ricardo fez foi infantil da sua parte e compreendesse a posição de Paulo Bento, ele já se mostrou arrependido várias vezes nos últimos anos (não sei se chegou a pedir desculpa diretamente ao antigo Selecionador), já cumpriu o castigo imposto pela Federação e ainda dois anos extra por escolha de Paulo Bento. Eu mesma cheguei a defender aqui no blogue uma segunda oportunidade por parte do antigo Selecionador. Além disso, conforme afirmei pouco após a sua deserção, o Ricardo já fez muito pela Equipa de Todos Nós ao longo dos anos, não seria justo que os golos que marcou, as vezes que salvou o couro nacional, valessem menos que uma decisão irrefletida - quando, ainda por cima, não foi o primeiro e não será o último jogador da Seleção a agir de cabeça quente; o próprio Paulo Bento teve pelo menos uma atitude dessas enquanto jogador (eu sinto vergonha só de ler esta última notícia, mesmo passados catorze anos sobre o acontecido). É um pouco estranho tê-lo de volta, provavelmente nunca mais olharei para ele da mesma maneira, mas ele tem agora uma oportunidade de se redimir. Oxalá saiba usá-la.
O caso de Tiago é diferente. Foi ele quem escolheu sair da Equipa de Todos Nós e manteve essa decisão mesmo depois de Paulo Bento ter, na altura, falado com ele. Ainda que ele diga que se arrepende "de ter enviado aquele fax", não acho justo ele ter decidido regressar, depois de quatro anos em que ele podia ter ajudado a Seleção e não o fez por escolha própria. Sei que Luís Figo fez o mesmo entre 2004 e 2005, mas isso não muda nada. Um jogador ou está cem por cento disponível para a Turma das Quinas, dentro das suas possibilidades físicas ou renuncia a ela definitivamente. Não acho legítimo um jogador disponibilizar-se ou não disponibilizar-se para a Seleção conforme lhe apetece - não digo que seja o caso, mas este pode abrir um precedente para situações como a que descrevi. Tal como comentei com um seguidor meu no Twitter, a Federação deveria definir regras para estes casos.
Quanto ao Danny, não estou particularmente entusiasmada com o seu regresso. Tal como Paulo Bento, suponho eu, irritei-me com as suas desculpas esfarrapadas para se baldar às concentrações da Seleção. Ainda acreditei na história do quisto sebáceo em 2011 mas, depois de no ano passado ter sido dispensado da concentração por motivos físicos para, dois dias depois, treinar normalmente no clube, a minha boa vontade esfumou-se. A ideia com que fico é que ele não leva a Seleção a sério. Eu não o Chamaria. Nem a ele nem ao Tiago. Mas já que eles foram Convocados, eles e o Ricardo Carvalho, ao menos que justifiquem os regressos. Se a Seleção beneficiar com o regresso destes três "filhos pródigos", não direi mais nada.
Esta Lista fica também marcada pela ausência de alguns elementos do núcleo duro de Paulo Bento: Hélder Postiga, Miguel Veloso, Raul Meireles, João Pereira. Não posso contestar tais opções. Há quem alegue que são demasiadas mudanças mas a verdade é que o onze-base do Euro 2012 já não funciona, conforme os últimos resultados deram a entender. De resto, Fernando Santos justificou tais ausências com a falta de ritmo competitivo, não colocou de parte a possibilidade de Convocá-los dentro de um mês ou noutra ocasião qualquer. Postiga, por exemplo, pode não estar completamente descartado visto que... não há praticamente mais nenhum ponta-de-lança português, tirando Éder e Hugo Almeida. A menos que se conceba uma tática que dispense ponta-de-lança, Postiga pode voltar a ser necessário.
Pelo menos é disso que tenho esperanças.
São várias as coisas mudando na Seleção Portuguesa mas, com todo o respeito por Paulo Bento, na minha opinião, estávamos a precisar de uma mudança. O conservadorismo do antigo selecionador já não funcionava. Além de que é a primeira vez em muito tempo em que temos seis jogadores do mesmo clube, tanto quanto me lembro, incluindo um meio-campo completo - não sei se serão todos titulares, mas é sempre bom termos Marmanjos familiarizados uns com os outros. Mesmo com as minhas reservas relativamente ao regresso dos "renegados", esta Lista parece-me razoavelmente sólida, acho que pode resultar.
No entanto, não me atrevo a ser demasiado otimista pois a jornada dupla que se avizinha será complicada. Estes não são de todo os adversários ideais para a estreia de um Selecionador. Há um ano, diria que seria bom nesta altura enfrentarmos adversários de calibre, estimulantes. Ora, depois de ver a Seleção sendo completamente atropelada pela Alemanha no Mundial, a questão já não me parece assim tão linear. Para além de serem adversários de peso por si só, são adversários com quem temos historiais muito particulares.
Comecemos pela França que tem sido um espinho na nossa carne há muitos anos, com destaque para as três traumáticas meias-finais em que nos derrotaram. Se a Holanda, por exemplo, é nossa freguesa, nós somos claramente fregueses de França: em vinte e dois jogos só ganhámos cinco e a última vitória foi em 1975. Tudo o resto tem sido derrota atrás de derrota, tirando um empate algures nos anos 20. O único jogo que testemunhei já como adepta da Seleção foi o último, nas meias-finais do Mundial 2006, provavelmente a derrota mais injusta de que me recordo tirando, claro, a final do Euro 2004. Aquela Seleção, mais do que qualquer outra, merecia ser campeã do Mundo. Os franceses não mereciam estar na final, como ficou provado pela famosa cabeçada de Zidane. Isto, aliado ao constante colinho que os franceses andam há muito tempo a receber das mais altas instâncias do futebol, tem-me alimentado uma raivazinha de estimação à equipa francesa.
Não sei em que momento se encontra a França atualmente. Sei que empataram há um mês com a Sérvia, altura em que houve polémica à volta da renúncia de Franck Ribéry à sua seleção, que muito irritou Michel Platini. Mas com os problemas dos nossos adversários posso eu bem, até os agradeço. Nesta altura do campeonato, por muito que deseje uma desforra, esta terá de ficar para segundas núpcias. O mais importante será promover uma boa adaptação à nova equipa técnica e preparar o jogo com a Dinamarca, que será a sério - sobretudo porque, sendo um particular, será um dos poucos jogos em que teremos Fernando Santos no banco.
Quanto aos dinamarqueses, esses são já velhos amigos nossos, provavelmente são a seleção que mais vezes foi nossa adversária nos últimos anos, possuindo uma longa tradição de nos complicarem a vida, como eu gosto de dizer, à grande e à dinamarquesa. Da experiência que eu tenho, os jogos com a Dinamarca ou correm muito bem ou correm muito mal - às vezes não tanto pelo encontro em si, mas pelo contexto em termos classificativos. O empate em 2009, por exemplo, pode não ter sido um mau resultado por si só, mas deixou-nos agarrados a uma calculadora para as últimas jornadas da Qualificação para o Mundial 2010. O 2-1 de 2011 pode também não ter sido grave por si só (embora eu tenha, na altura, achado que os nossos jogaram mal), mas impediu-nos de nos Qualificarmos diretamente para o Euro 2012. Geralmente, são jogos péssimos para a pressão arterial, com destaque para o inesquecível encontro do Europeu de há dois anos, o meu favorito desse campeonato. O inverso desse foi a derrota por 3-2 em 2008, no Estádio de Alvalade. Por outro lado, apesar de termos perdido o particular de 2006, guardo boas recordações desse jogo, pois foi a estreia de Nani com a camisola das Quinas, em que ele marcou um golo diretamente do pontapé de canto e ainda assistiu para o outro, de Ricardo Carvalho - foi nesse particular que o Nani se tornou um dos meus jogadores preferidos.
Acho uma coincidência espantosa que o novo Selecionador se vá estrear em jogos oficiais (isto é, mais ou menos) com o mesmo adversário com que o anterior técnico se estreou. Na verdade, também o segundo jogo oficial de Carlos Queiroz foi com a Dinamarca, mas o primeiro de Paulo Bento é memorável pelos melhores motivos. Ainda me lembro muito bem dessa noite (ajuda ter escrito sobre ela): de ouvir o relato dos dois golos seguidos de Nani - ele tem mesmo uma queda para dinamarqueses - do alívio que foi o terceiro golo, da autoria de Cristiano Ronaldo, do quão feliz me senti após o jogo por, depois de tudo por que a Seleção passara nos últimos meses, estarmos de regresso às vitórias e às boas exibições.
O que mais desejo é um renascimento semelhante ao da primeira dupla jornada de Paulo Bento para os próximos dois jogos, mas sei que é pouco provável.
Consta que a Dinamarca estará uns furos abaixo do que estava nas Qualificações para o Mundial 2010 e Euro 2012. Não se Qualificou para o Mundial 2014, nem sequer chegou aos playoffs - suponho que tenham sentido falta dos pontos que Portugal lhes ofereceria... Talvez estejam de novo a contar com eles neste Apuramento, mas eu espero que, desta feita, acabemos com essa tradição.
Apesar de o passado recente da Equipa de Todos Nós não ser o mais favorável e existir a hipótese de as coisas voltarem a correr mal, como na jornada anterior, neste regresso da Seleção ao ativo sinto-me tão eufórica como sempre, como se viéssemos de uma sequência de vitórias e não de fracassos. É irracional, é quase ilusório, mas a verdade é que são poucas as coisas que me entusiasmam assim. E gosto que assim seja.
O que não significa que esteja disposta a tolerar outro fracasso. Não quando for a doer, pelo menos. Sei que será difícil, mas os Marmanjos terão de fazer um esforço se quiserem regressar a França (após o particular de sábado) em 2016. O que eu gostava mesmo era que a Seleção voltasse a ser uma fonte regular de alegrias mas... um passo de cada vez.
Concluo este texto dando as boas-vindas a Fernando Santos e com o desejo de que ele e a restante equipa técnica saibam ajudar a Seleção a regressar ao bom caminho.
Comecemos pela França que tem sido um espinho na nossa carne há muitos anos, com destaque para as três traumáticas meias-finais em que nos derrotaram. Se a Holanda, por exemplo, é nossa freguesa, nós somos claramente fregueses de França: em vinte e dois jogos só ganhámos cinco e a última vitória foi em 1975. Tudo o resto tem sido derrota atrás de derrota, tirando um empate algures nos anos 20. O único jogo que testemunhei já como adepta da Seleção foi o último, nas meias-finais do Mundial 2006, provavelmente a derrota mais injusta de que me recordo tirando, claro, a final do Euro 2004. Aquela Seleção, mais do que qualquer outra, merecia ser campeã do Mundo. Os franceses não mereciam estar na final, como ficou provado pela famosa cabeçada de Zidane. Isto, aliado ao constante colinho que os franceses andam há muito tempo a receber das mais altas instâncias do futebol, tem-me alimentado uma raivazinha de estimação à equipa francesa.
Não sei em que momento se encontra a França atualmente. Sei que empataram há um mês com a Sérvia, altura em que houve polémica à volta da renúncia de Franck Ribéry à sua seleção, que muito irritou Michel Platini. Mas com os problemas dos nossos adversários posso eu bem, até os agradeço. Nesta altura do campeonato, por muito que deseje uma desforra, esta terá de ficar para segundas núpcias. O mais importante será promover uma boa adaptação à nova equipa técnica e preparar o jogo com a Dinamarca, que será a sério - sobretudo porque, sendo um particular, será um dos poucos jogos em que teremos Fernando Santos no banco.
Acho uma coincidência espantosa que o novo Selecionador se vá estrear em jogos oficiais (isto é, mais ou menos) com o mesmo adversário com que o anterior técnico se estreou. Na verdade, também o segundo jogo oficial de Carlos Queiroz foi com a Dinamarca, mas o primeiro de Paulo Bento é memorável pelos melhores motivos. Ainda me lembro muito bem dessa noite (ajuda ter escrito sobre ela): de ouvir o relato dos dois golos seguidos de Nani - ele tem mesmo uma queda para dinamarqueses - do alívio que foi o terceiro golo, da autoria de Cristiano Ronaldo, do quão feliz me senti após o jogo por, depois de tudo por que a Seleção passara nos últimos meses, estarmos de regresso às vitórias e às boas exibições.
O que mais desejo é um renascimento semelhante ao da primeira dupla jornada de Paulo Bento para os próximos dois jogos, mas sei que é pouco provável.
Consta que a Dinamarca estará uns furos abaixo do que estava nas Qualificações para o Mundial 2010 e Euro 2012. Não se Qualificou para o Mundial 2014, nem sequer chegou aos playoffs - suponho que tenham sentido falta dos pontos que Portugal lhes ofereceria... Talvez estejam de novo a contar com eles neste Apuramento, mas eu espero que, desta feita, acabemos com essa tradição.
Apesar de o passado recente da Equipa de Todos Nós não ser o mais favorável e existir a hipótese de as coisas voltarem a correr mal, como na jornada anterior, neste regresso da Seleção ao ativo sinto-me tão eufórica como sempre, como se viéssemos de uma sequência de vitórias e não de fracassos. É irracional, é quase ilusório, mas a verdade é que são poucas as coisas que me entusiasmam assim. E gosto que assim seja.
O que não significa que esteja disposta a tolerar outro fracasso. Não quando for a doer, pelo menos. Sei que será difícil, mas os Marmanjos terão de fazer um esforço se quiserem regressar a França (após o particular de sábado) em 2016. O que eu gostava mesmo era que a Seleção voltasse a ser uma fonte regular de alegrias mas... um passo de cada vez.
Concluo este texto dando as boas-vindas a Fernando Santos e com o desejo de que ele e a restante equipa técnica saibam ajudar a Seleção a regressar ao bom caminho.