Portugal 3 Espanha 3 – Como é possível?
Na passada sexta-feira, dia 15 de junho, a Seleção Portuguesa de Futebol empatou com a sua congénere espanhola por três bolas, em jogo a contar para a fase de grupos do Mundial 2018.
Conforme tinha dito que faria, em vez de uma análise em texto corrido, partilho com vocês algumas notas sobre o jogo. Assim, sem mais delongas...
1) O jogo não podia ter começado da melhor forma: eu mesma gritei “Penálti!” quando Cristiano Ronaldo caiu na área. Felizmente o árbitro concordou. Confesso que receei que Cristiano falhasse – não seria a primeira vez e poderia ser grave em termos anímicos. Mas não: Ronaldo converteu. Ainda não tinham passado cinco minutos e Portugal já seguia na frente.
2) Este e os outros golos foram estragados pelos meus vizinhos – que festejaram antes de o árbitro ter apitado, na nossa televisão. Quando foi na final do Europeu, não me ralei, mas neste – um jogo menos tenso – chateou-me. Se isto continuar, talvez deixe de ver os jogos em casa.
3) Portugal foi conseguindo dominar nos primeiros dez, vinte minutos de jogo. Houveram várias ocasiões em que a defesa recuperava a bola e, depois, ou Ronaldo ou Gonçalo Guedes partiam para o contra-ataque.
4) O que nos leva à muito comentada jogada, em que Ronaldo, após um sprint daqueles, centrou para Guedes e este não soube o que fazer com a bola – oportunidade de ouro desperdiçada. Ele, Bernardo Silva, Bruno Fernandes e os outros miúdos estiveram uns furos abaixo do que lhes é habitual. Acho que foi sobretudo nervosismo: era o primeiro jogo deles no Mundial e era a Espanha. Qualquer um que não estivesse habituado aquelas andanças ficaria nervoso. Nesse aspeto, talvez os próximos jogos, com adversários de menor prestígio (não necessariamente mais acessíveis), os habituem a estes palcos.
Mas se chegarmos ao jogo com Marrocos e eles continuarem abaixo do que deviam, vão ter de arranjar outra desculpa.
5) A Espanha marcou numa altura em que começava a mandar no jogo. Diego Costa fez falta a Pepe para lhe roubar a bola, fez o que quis com o resto da defesa portuga (aqui entre nós, se o Pepe tivesse parado mais cedo com a fita, talvez tivesse conseguido travar o golo) antes de rematar – Rui Patrício não pôde fazer nada.
Aparentemente o vídeo-árbitro não viu nada de mal na jogada – claro que não, nunca veem. Ainda hoje levo com pessoas dizendo que Portugal não mereceu ganhar o Euro 2016 – mas nós não precisámos de favores de árbitros para ganharmos. Bem pelo contrário, tivemos de lutar durante anos contra o colinho das autoridades do futebol a um lote exclusivo de seleções. E continuamos, mesmo depois de Campeões Europeus. De que serve o VAR se as equipas beneficiadas e as prejudicadas continuam as mesmas?
6) O segundo golo de Cristiano Ronaldo veio em cima do intervalo, um bocadinho contra a corrente do jogo. De Gea ficou muito mal na fotografia. Confesso que reagi de forma um bocadinho intempestiva a este golo. Posso ter twittado coisas como “Contra árbitros e contra VARS! É por isto que somos Campeões Europeus!”, pontuadas por palavras ainda mais expressivas – quando o resultado estava a ser melhor que a exibição. Eu mereci o que aconteceu a seguir. Em minha defesa… sabia mesmo bem estar a ganhar à Espanha num jogo oficial pela primeira vez desde 2004 – sobretudo depois de termos sido roubados.
7) Na segunda parte, passámos da vantagem à desvantagem em cerca de cinco minutos. No primeiro, Busquets assistiu de cabeça para Diego Costa chutar para as redes, no segundo, Nacho disparou de fora da grande área, sem hipótese para Rui Patrício – um golo verdadeiramente espetacular.
8) Passámos a meia hora seguinte a correr atrás do resultado, sem grande sucesso, assistindo ao famoso tiki-taka Fernando Santos fez entrar João Mário, Ricardo Quaresma e André Silva e sempre melhorou um bocadinho. Finalmente, aos 88 minutos, Piqué deu um empurrão desnecessário a Ronaldo e o árbitro marcou livre a nosso favor.
9) Cá em casa, achámos todos piada ao ar concentrado, mesmo feroz, de Ronaldo enquanto se preparava para marcar o livre – como se quisesse desfazer a barreira espanhola com os olhos. O meu pai estava armado em Velho do Restelo, a dizer que ele ia falhar, que ele já estava velho, enfim. Depois do golo, éramos três – eu, a minha mãe, a minha irmã – a cantarolar-lhe: “Bem feita! Bem feita!”
Aqui entre nós, antes do golo, eu não me atrevia a acreditar. Era demasiado presunçoso, sonhar demasiado alto, esperar que Ronaldo rematasse, desenhando uma parábola perfeita por cima da barreira espanhola, diretamente para as redes. Mas foi isso que ele fez.
10) Em suma, Cristiano Ronaldo, quase sozinho, garantiu-nos um empate com a Espanha. Com a Espanha – a mesma seleção a quem só tínhamos ganho uma vez em jogos oficiais, aquela que muitos referiam com uma das favoritas ao título, aquela que inclui meia dúzia de campeões europeus em clubes.
Como é possível? Ele tem trinta e três anos! Com a idade dele, Luís Figo retirou-se da Seleção (nem te atrevas, Ronaldo…)! Longe disso, Ronaldo parece cada vez melhor – ao longo dos anos fomos enfrentando equipas deste nível e ele nunca tinha feito isto. Nem em 2010, nem em 2012, nem em 2014, nem mesmo em 2016 – embora, nesta última, talvez pudesse tê-lo feito, se não se tivesse lesionado. Como é possível?
11) Como já devem saber, irrita-me quando dizem que a Seleção é Ronaldo-mais-dez. Nos últimos tempos, tenho mudado um pouco a minha perspetiva sobre o assunto: às vezes é problemático quando dependemos demasiado de Ronaldo, mas qualquer equipa abdicaria de metade do seu plantel para ter um jogador como ele. Nós somos abençoados. E, se temos Ronaldo, é para usá-lo.
12) Não foi de todo uma má estreia. Eu estava disposta a aceitar uma derrota. Em vez disso, conseguimos um empate e, na minha modesta e nada especializada opinião, os principais motivos para não termos conseguido um melhor resultado foram nervosismo e erros – não falta de argumentos. Conseguimos fazer melhor. Posso estar enganada, claro, mas Fernando Santos parece concordar comigo e já todos vimos jogadores como Guedes, Bernardo Silva, Bruno Fernandes num nível bem melhor.
Nesse aspeto, os reparos de Fernando Santos, no final do jogo, a sua exigência, dão-me mais confiança. Ele e os jogadores hão de corrigir os erros e talvez façamos coisas giras neste Mundial. Com um bocadinho de sorte, quando voltarmos a encontrar equipas do calibre de Espanha, conseguiremos mais do que um empate.
Mas também, se voltarmos a cumprir o “de empate em empate até ao empate final” com o mesmo sucesso de 2016, não tenho nada contra.
13) De nada vai servir este empate se não ganharmos amanhã a Marrocos, claro. Dizem que, depois de terem perdido frente ao Irão com um auto-golo no último minuto, os marroquinos vão querer descarregar em nós. Não vai ser um jogo fácil, mas acredito nos nossos jogadores, acredito em Fernando Santos. Vamos conseguir.
14) Antes de terminar, uma nota para as montagens que a RTP3 iam exibindo, com imagens do jogo e a música Sangue Oculto, dos GNR e Javier Andreu. Adorei-as: sempre gostei imenso desta música, é um membro recorrente da minha playlist da Seleção. E, claro, sendo um dueto ibérico, é mais do que adequada a um Portugal-Espanha. Muito bem sacado.
15) Por fim, fiquem atentos à página do Facebook deste blogue. Em breve, terei algo para anunciar, estou só à espera de receber luz verde para fazê-lo. Continuem desse lado e... força Portugal!