Não o humanizem!
Na próxima quinta-feira, dia 23 de março, a Seleção Portuguesa de Futebol defrontar a sua congénere… *pesquisa no Google*... liechtensteiniana (?) no Estádio de Alvalade… e eu estarei lá! Três dias mais tarde, desloca-se ao Luxemburgo para defrontar a seleção local. Ambos os jogos contam para a Qualificação para o Euro 2024. Serão também os primeiros jogos da Seleção com o técnico Roberto Martínez ao leme.
Pois… Comecemos por aí.
Roberto Martínez foi anunciado como Selecionador no início deste ano – a escolha de Selecionador mais controversa de que me recordo. A minha reação foi a mesma de toda a gente: tínhamo-nos finalmente livrado de Fernando Santos, o treinador que não soubera aproveitar uma das gerações mais talentosas do futebol português, apenas para ficarmos com o treinador que não soubera aproveitar uma das gerações mais talentosas do futebol belga. E Fernando Santos ao menos conseguira títulos.
Juntando a isso, nas semanas que se seguiram, passei por uma fase de alguma tristeza pelo fim do ciclo de Fernando Santos – que entretanto foi treinar a seleção da Polónia. Com todos os defeitos, foram oito anos e dois títulos – e eu, por norma, não lido bem com mudanças. As últimas duas trocas de treinador foram entre as jornadas de setembro e outubro, passaram poucas semanas entre a apresentação e os primeiros jogos – não deu tempo para pensar muito no que tinha acabado.
Na preparação deste texto olhei melhor para o currículo de Martínez e fiquei um bocadinho mais descansada – e, ao mesmo tempo, um bocadinho mais preocupada. Martínez está longe de ser o pior treinador do mundo. O problema é que cada sucesso tem um senão, é capaz do melhor e do pior ao mesmo tempo. Martínez ajudou o Wigan Athletic a ganhar a sua primeira Taça de Inglaterra em 2013… na mesma época em que o clube foi despromovido da Premier League. Ajudou o Everton a atingir a sua maior pontuação de sempre na Premier League na época seguinte, mas foi despedido dois anos depois, numa altura em que os adeptos já não podiam vê-lo à frente (explica alguns comentários que vi nas internetes quando Martínez foi contratado).
Por fim, conforme vimos acima, Martínez esteve na seleção da Bélgica desde 2016. Sempre conseguiu ao melhor desempenho de sempre dos belgas: o terceiro lugar no Mundial 2018. Não é um feito menor. Tinha Martínez a obrigação de fazer melhor? Depende do critério de cada um. Eu acho que, tendo em conta todo o hype que se montou em torno da seleção belga, esperava-se pelo menos, vá lá, uma Liga das Nações.
Dito isto, não sei se Martínez é o único culpado dos desempenhos belgas abaixo das expectativas. Dizem que ele é “conservador” – pode ser um eufemismo para “casmurro” – mas também dizem que o ambiente entre os jogadores belgas não é o mais saudável, com vários egos em rota de colisão – sobretudo no último Mundial. Nesse aspeto, Portugal sai-se melhor na comparação. Também temos um ego ou outro – não é, menino Cristiano? – mas tudo indica que o ambiente é bom.
Também confesso que não adoro a ideia de termos um Selecionador estrangeiro. Sobretudo um espanhol, tradicionalmente um rival nosso em termos de seleções. Mas isto é apenas um capricho meu, está longe de ser uma objeção a sério. Até porque Martínez está a aprender português, já fala bastante bem – respeito!
Talvez por causa de toda a polémica, a comunicação da FPF tem feito uma espécie de campanha por Roberto Martínez, tantando fazer com que o público simpatize com ele. Iniciativas como a entrevista com perguntas de adeptos, o vídeo mostrando um dia de trabalho de Martínez, o documentário do Canal 11 – essencialmente uma biografia do novo Selecionador.
Se me permitem mais uma referência a Ted Lasso, isto tudo recorda-me uma das minhas deixas preferidas da série: “Damn it, Paul! Don’t humanize him!”. Fica mais difícil ter má vontade para com Martínez depois de conhecermos o sítio onde cresceu, de o vermos descobrindo o que é “fazer um cabrito”, de sabermos que ele e a mulher compraram um sofá em “L” para que cada um possa ver o que quer na televisão.
Não que eu ache que a Federação esteja a fazer mal – e é bem possível que fizessem isto independentemente de quem escolhessem para Selecionador. E mesmo sem a campanha da FPF, falando por mim, eu daria sempre o benefício da dúvida a Martínez. Nem é apenas otimismo puro e duro. Como expliquei aquando do Mundial, o pessimismo não me traz felicidade nenhuma, não ajuda ninguém. Além disso, a vantagem de este ser um grupo de Qualificação teoricamente fácil é que dará espaço a Martínez para se adaptar à Seleção. E por muitos defeitos que apontem ao novo Selecionador, a Bélgica teve bons desempenhos nos Apuramentos (daí terem passado tanto tempo no topo do ranking da FIFA). Espero que Martínez replique isso com Portugal.
Falemos, então, sobre a Convocatória. Como toda a gente, estava curiosa, não sabia o que esperar. Pois bem, Martínez saiu-se com uma lista idêntica à que Fernando Santos faria. As únicas novidades foram Diogo Leite e Gonçalo Inácio, merecidamente.
Tive pena de não haverem mais nomes fora do habitual. Como, por exemplo, Fiorentino, Nuno Santos ou Pedro Gonçalves – este último apenas para ter uma desculpa para escrever sobre a sua candidatura ao Puskas aqui no blogue. Tirando isso, esta Convocatória não me incomoda… muito. Martínez explicou que esta lista é um “ponto de partida”. O novo Selecionador deve querer ficar a conhecer o grupo, as dinâmicas, ver o que já está construído antes de remodelar à sua maneira.
São opções, são métodos de trabalho como quaisquer outros. Não estão certos nem errados por si só. Também não acho que o problema de Fernando Satnos tenha sido os jogadores que Convocava. Além disso, perante adversários como estes, sem querer desvalorizar demasiado, qualquer amostra da população atual de jogadores portugueses dará conta do recado. No fim do dia, os resultados é que interessam – o que não deverá ser problema, desde que os Marmanjos façam as coisas como deve ser.
Uma palavra para Cristiano Ronaldo, claro. Depois do texto anterior, este mudou-se para o Al Nassr, na Arábia Saudita. Durante muito tempo ficou a dúvida sobre se ele voltaria a ser Convocado. Neste contexto, eu aceitava ambas as opções. Martínez escolheu Chamá-lo, eu fico contente. Ache-se o que se achar da mudança de Ronaldo para as Arábias, ao menos o inferno mediático que foi a saída dele do Manchester United já faz parte do passado. Além disso, os nossos adversários nesta jornada estarão mais ou menos ao mesmo nível competitivo que a maior parte das equipas da Arábia Saudita.
E depois temos as razões do coração. Vou ao jogo com o Liechtenstein com os meus pais e posso ou não ter convencido a minha mãe dizendo que esta pode ser uma das nossas últimas oportunidades para ver Ronaldo jogar. Fui sincera. Entristece-me pensar que temos os “SIIII!!!” em coro com todo o estádio contados. Não me importo nada de adiar um pouco mais a despedida – como disse acima, não gosto de mudanças e esta será uma das grandes.
Falemos, então, sobre os nossos adversários. Era capaz de jurar que tínhamos jogado com o Liechtenstein pelo menos uma vez nos últimos dez anos. Parece que não. O nosso último jogo foi em agosto de 2009, há quase catorze anos. Já tinha o blogue aquando desse jogo – um amigável que vencemos por 3-0, com golos de Raúl Meireles e dois de Hugo Almeida – mas não me recordo de nada dele. Nem faço questão de recordar, aqui entre nós.
Recordo-me um pouco melhor dos dois confrontos anteriores, durante a Qualificação para o Mundial 2006. É possível que já tenha escrito sobre eles em 2009, mas não quero sujeitar-vos à minha escrita de há catorze anos. Prefiro escrever sobre isso de novo do que deixar link para um texto de 2009.
No primeiro jogo, empatámos 2-2, o que na altura foi um escândalo. Um ano mais tarde, estive no jogo em casa, no Estádio de Aveiro – provavelmente, o meu preferido – com os meus pais e irmãos. Os liechtensteinianos marcaram primeiro: lembro-me bem de levar as mãos à cara enquanto a bola rolava para a nossa baliza. Por entre manifestações de exasperação na nossa bancada, um senhor de idade, adepto do Liechtenstein, festejou efusivamente o golo nas escadas. Nós, na bancada, acabámos por lhe bater palmas.
Claro que os Marmanjos acabaram por dar a volta ao resultado e selaram a Qualificação para o Mundial – eu ergui um cartaz onde tinha escrito “Próxima paragem: Alemanha 2006”. Em todo o caso, esta história serve para nos recordarmos do perigo que é assumirmos que são favas contadas. Mas, na verdade, o próprio João Félix recordou-nos uma história bem mais recente de assumirmos que são favas contadas.
Vamos, então, cruzarmo-nos com o Liechtenstein numa fase de Apuramento, quase dezoito anos depois (chiça, estou velha…). Acabo de perceber agora que, uma vez mais, o destino final é a Alemanha. Estarei lá para dar as boas-vindas a Roberto Martínez. Que os erros de 2004 e 2005 não se repitam.
Quanto ao Luxemburgo, ao contrário do Liechtenstein, temos recordações recentes deles – os luxemburgueses estiveram nos nossos dois últimos Apuramentos. Assim, não me vou alongar muito. Recordo apenas que, apesar de serem uma seleção de microestado, estão um ou dois degraus acima do Liechtenstein e temos tido dificuldades nas nossas visitas lá.
Estou à espera de vitórias em ambos os jogos. Quero uma fase de Qualificação tranquila, ao contrário das últimas duas. Até porque a vida não está fácil para ninguém, precisamos de alegrias. Que estejamos todos errados em relação a Roberto Martínez (quando digo “todos”, falo dos pessimistas, claro).
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