Entre a euforia e a realidade
No passado sábado, dia 25 de março, a Seleção Portuguesa de Futebol venceu a sua congénere húngara por três bolas sem resposta, no Estádio da Luz, em jogo a contar para a Qualificação para o Mundial 2018 – e eu estive lá! Três dias depois, a Seleção Nacional foi derrotada pela sua congénere sueca, no Estádio Club Sport Marítimo, na Madeira, em jogo de carácter amigável.
Comecemos por falar do jogo com a Hungria, a que fui assistir com a minha irmã. Estava um bom ambiente na Luz. O estádio estava praticamente cheio, incluindo os tais dois ou três mil húngaros que, mesmo em minoria, conseguiram fazer-se ouvir. Foram-se calando mais à medida que a vitória portuguesa se ampliava, contudo. O público português também se manifestou sonoramente, com de resto acontece em todos os jogos da Seleção em casa. Gostei, particularmente, de cantar e ouvir cantar “Campeões! Campeões! Nós somos Campeões!”. Não dá para nos fartarmos deste cântico – da mesma maneira como não dá para nos fartarmos do orgulho de sermos Campeões Europeus.
Suponho que esta seja uma boa altura para falar sobre a polémica claque portuguesa e deixar o assunto arrumado. Quando descobri que a claque que puxara por Portugal durante o Euro 2016 de forma brilhante (sobretudo na final, em que silenciaram os maioritários franceses durante noventa por cento do jogo) iria regressar para o Portugal x Hungria, fiquei entusiasmada. Conforme julgo já ter referido antes, quando a minha irmã me leva aos jogos do Sporting, aquilo que mais gosto é de ouvir os cânticos da curva sul. Recriarem isso num jogo da Seleção seria fantástico.
E durante o jogo em si até resultou… mais ou menos. A claque ficou sentada quase debaixo os húngaros, o que não resultou muito bem em termos acústicos. No entanto, lá foi conseguindo com que os seus cânticos contagiassem ocasionalmente o resto da multidão portuguesa. Eu pelo menos ia cantando (pareceu-me ouvir o Pouco Importa a certa altura).
Num mundo ideal, tudo o que uma claque faria seria isso: cantar, puxar pela equipa. Na realidade, vejo agora que esperar que uma claque se portasse civilizadamente era demasiado. À chegada à Luz terão havido desentendimentos entre os membros da claque (que estariam a entoar cânticos anti-Benfica) e alguns adeptos no local. Não sei se esses cânticos foram resposta a alguma provocação e não me interessa. Só sei que a questão – certamente empolada pela proximidade do Benfica x F.C.Porto, bem como pelo boicote das águias à gala das Quinas de Ouro e ao próprio jogo com a Hungria – deu polémica. Chegou, em certos momentos, a desviar a atenção da Seleção em si.
A Federação já se veio demarcar das atitudes das claques e garantir que a Seleção não tem, e provavelmente nunca terá, um grupo oficial de apoio. Eu, apesar de tudo, acho melhor assim. Por muito que tenha gostado da claque durante o jogo com a Hungria, se o preço a pagar são mesquinhezes como estas, não vale mesmo a pena. Perdoem-me a linguagem, mas foi por causa de m*rdas como esta que desisti dos clubes. Não tragam guerras clubísticas para a Equipa de Todos Nós, não estraguem o ambiente pacífico dos jogos – a Seleção não é nada disto!
Agora que já arrumámos esse assunto, prossigamos.
O início do jogo com a Hungria este longe de ser perfeito. A Seleção demorou algum tempo a encaixar-se. O primeiro golo surgiu aos trinta minutos, na sequência da jogada deliciosa que dá para ver em cima, obra de Cristiano Ronaldo, Raphael Guerreiro e André Silva. Este último marcou, assim, o primeiro golo da Seleção em 2017.
O segundo não demorou. Desta feita, foi André Silva a assistir para Cristiano Ronaldo, que rematou de fora da área. A vantagem ampliou-se para 2-0.
Na segunda parte, as coisas abrandaram. André Silva saiu para dar lugar a Bernardo Silva. A ideia com que fiquei foi que Fernando Santos quis jogar pelo seguro e gerir o resultado. Neste jogo, isso correu bem. Os húngaros avançaram um pouco no terreno, mas não chegaram a ameaçar verdadeiramente. Cristiano Ronaldo marcou o terceiro golo da noite, de livre direto à esquerda – ainda não sei muito bem como é que ele rematou com aquele ângulo. O resultado manteve-se inalterado até ao apito final.
Tive pena que não se tivesse marcado mais um golo – acho que merecíamos. Nós, o público, chegámos a cantar “SÓ MAIS UM! SÓ MAIS UM!”. Também estranhei que Bernardo Silva não tivesse alinhado de início.
Tirando isso, não há nada de mau a apontar à Seleção neste jogo. Correu melhor do que estava à espera – pensava que os húngaros iam dar mais luta. Os novos BFFs futebolísticos André Silva e Cristiano Ronaldo prometem vir a dar muitos golos à Seleção no futuro próximo. Saí da Luz muito satisfeita e otimista relativamente à Equipa de Todos Nós e assim me mantive durante os dias seguintes...
...até ao particular com a Suécia.
Este era um jogo, tanto para homenagear Cristiano Ronaldo na sua terra natal, como para homenagear o povo madeirense. Uma maneira de lhes agradecer pelo apoio à Seleção, sobretudo durante o Europeu. Recordo que a Madeira esteve dezasseis anos à espera de voltar a ver a Equipa de Todos Nós.
O jogo até começou bem. Cristiano Ronaldo marcou logo aos dezoito minutos, após um momento de magia de Gelson Martins, que assistiu de trivela. Este foi o septuagésimo-primeiro golo do madeirense com a Camisola das Quinas e o quinto jogo seguido da Seleção em que marcou. Ou seja, aos 32 anos, Ronaldo está a atravessar a sua melhor fase na Equipa de Todos Nós – quando a sua época no Real não está a correr tão bem como outras.
Um dos seus próximos recordes a bater será o de melhor marcador europeu a nível de seleções. Ronaldo encontra-se, neste momento, no terceiro lugar, com dois húngaros à sua frente: Kocsis, com setenta e cinco golos, no segundo lugar, e Ferenc Puskas, com oitenta e quatro, no primeiro lugar. O segundo lugar é perfeitamente alcançável, na minha opinião – se Ronaldo continuar assim, por alturas do fim do ano já terá ultrapassado Kocsis. O primeiro lugar é mais difícil, naturalmente. Mas, lá está, Ronaldo tem feito carreira esticando os limites do possível.
Por sua vez, Gelson voltou a participar no segundo golo. Desta feita, fintou uns quantos defesas suecos, tentou assistir para Bernardo Silva, mas acabou por ser o sueco Granqvist a desviar para dentro da baliza.
Entre Gelson, Renato Sanches (que também estava espevitado nesse jogo), André Silva, Bernardo Silva, Raphael Guerreiro e outros de que não me recordo neste momento, tenho imensas esperanças nesta geração. Não devemos voltar a ter um fenómeno estilo Cristiano Ronaldo nos próximos... cem ou duzentos anos. Mas julgo haver qualidade suficiente nesta nova geração para a Equipa de Todos Nós nos continuar a dar alegrias a longo prazo.
Confesso que, por alturas do intervalo, me deixei levar pela euforia. Na prática, a Seleção Portuguesa não se tinha mostrado assim tão superior à sueca. E a realidade atingiu-nos em força, na segunda parte. Fernando Santos efetuou várias alterações para a segunda parte, procurando, mais uma vez, gerir a vantagem. Desta vez não resultou muito bem, a defesa fragilizou-se. Para além disso, verdade seja dita, metade dos portugueses não deviam estar muito para ali virados: este era apenas um particular e, conforme toda a gente insistia em recordar-nos, em vésperas de jogos importantes de clubes.
Com tudo isso, não nos podemos queixar senão de nós próprios, nem no que toca aos golos de Claesson, nem mesmo no auto-golo de João Cancelo, ao cair do pano.
Vou ser sincera: doeu perder este jogo. Sobretudo porque andava eufórica com a Seleção desde o jogo com a Hungria. Mas também já ando nisto há tempo que chegue para saber quando há motivo para alarme. Não é o caso. Mesmo com um onze completamente diferente do habitual, a Seleção teve bons momentos. Além de que este é apenas um particular e derrotas em particulares são frequentes na era de Fernando Santos. E, tendo em conta que a Qualificação tem corrido bem desde aquela primeira derrota, as coisas podiam estar bem piores. Acreditem, para mim o Mundial 2014 não foi há assim tanto tempo.
Agora vem aí a Taça das Confederações. Sendo esta a nossa primeira vez, ainda não sei ao certo como é que isso vai funcionar, em termos de calendário pelo menos (Divulgação dos Convocados, início da preparação, etc). Dava-me jeito saber, para poder planear as publicações aqui no blogue e na página do Facebook em função disso.
Estou a assumir que o calendário será semelhante à de um Europeu ou Mundial: Convocatória (tanto para as Confederações como para o jogo com a Letónia da Qualificação) logo após o término do campeonato de clubes (ou seja, 22 ou 23 de maio); início do estágio após a Taça de Portugal (ou seja, dia 29 ou 30 de maio). Como a Letónia fica na Europa de Leste, perto da Rússia, a Seleção deverá seguir para território russo logo após o jogo do Apuramento. Uma complicação será a final da Champions, a 3 de junho. O Ronaldo e o Pepe que me perdoem, mas espero que o Real Madrid não se qualifique este ano.
Hei de falar melhor sobre a Taça das Confederações mais tarde. Para já, tudo o que precisam de saber é que, a menos que ocorra algum imprevisto, vou fazer como faço num Europeu ou Mundial: publicarei um texto antes da Divulgação dos Convocados e um texto depois. É só uma questão de a Federação confirmar a data (espero que não demore muito).
Em todo o caso, já sabem, podem esperar comigo pela Taça das Confederações na página do Facebook de apoio a este blogue.