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O Meu Clube É a Seleção!

Mulher de muitas paixões, a Seleção Nacional é uma delas.

Em transição

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No passado dia 10 de dezembro, a Seleção Portuguesa de Futebol perdeu perante a sua congénere marroquina por uma bola sem resposta. Com este resultado, Portugal falhou a passagem às meias-finais do Mundial 2022.

 

Eu estava a isto de acreditar a sério…

 

Antes de mais nada, um breve pedido de desculpas pelo atraso com esta crónica. Por norma, na altura das festas tenho sempre menos tempo para escrever. Para além das compras e dos preparativos, é também a altura em que o meu irmão emigrante vem para casa e combinamos sempre coisas. 

 

Mais um argumento contra fazer-se um Mundial nesta altura do ano. Teve a sua graça, mas espero que não se repita. No verão dá mais jeito. 

 

Como muitos têm referido, Portugal ofereceu a primeira parte do jogo a Marrocos. Sabíamos que eles defendiam bem, que se organizavam bem, mas não soubemos lidar com isso. Eu mesma reparei nas várias vezes em que os nossos jogadores se punham a trocar a bola entre si, como que fazendo tempo enquanto pensavam numa maneira de furar a muralha. 

 

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Depois, acabámos por sofrer um golo por culpa própria perto do intervalo e passámos o resto do jogo a correr atrás do resultado. Nesse aspeto, lembrou-me um pouco o jogo com a Bélgica, no Euro 2020. E mesmo o jogo com o Uruguai, no Mundial 2018.

 

Por falar no golo que sofremos, Diogo Costa tem estado na berlinda pela sua saída infeliz – fazendo lembrar Ricardo no golo sofrido na final do Euro 2004, mesmo para doer mais. Sim, o experiente Rui Patrício talvez não cometesse este erro, mas também é aquela: como é que os jogadores ganham experiência?

 

Além de que o Diogo não foi o único a errar. Rúben Dias também ficou mal na fotografia. E o nosso corredor direito todo deixou o marroquino Attiat-Allah completamente à vontade para fazer a assistência. 

 

Como noutras ocasiões semelhantes em que tínhamos de correr atrás do resultado, até tivemos momentos bonitos – pena não terem resultado em nada. Faltou um bocadinho de sorte, é certo. Bruno Fernandes atirou uma bola à barra, o guarda-redes Bono esmerou-se para defender um remate de João Félix, o Pepe falhou uma mesmo no último minuto. Mas a verdade é que só nos podemos culpar a nós mesmos por termos falhado. 

 

Não vou mentir, esta doeu. Não é a primeira vez que falhamos a conquista de um título, não será a última. Seria de esperar que eu já estivesse habituada a desilusões como estas. Pelos vistos não estou. Custa sempre cair dos céus, regressar à realidade. 

 

Vocês podem ler nos textos anteriores, estava a gostar deste Mundial e estava a começar a acreditar no título. Mesmo não estando a ser perfeitos, estávamos a fazer o nosso melhor Mundial desde 2006, temos carradas de talento, tínhamos vários tubarões ficando pelo caminho – Espanha, Brasil, Alemanha, Bélgica. Esta era a nossa melhor ocasião para conquistarmos o título mundial, tanto para Pepe e Cristiano Ronaldo (mais sobre isso a seguir) como para esta geração tão talentosa. Ou para, pelo menos, ficarmos no top 4, igualando as participações de 1966 ou 2006. 

 

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Foi uma oportunidade desperdiçada. Mais outra. Perante Marrocos.

 

Não quero com isto menosprezar os marroquinos. Pelo contrário, eles ganharam a minha simpatia, mesmo antes do nosso jogo. Pelo seu estatuto de underdogs, por Sofiane Boufal, que celebrava as vitórias no relvado com a mãe, pelos que tentaram consolar Ronaldo no fim do jogo, por Hakim Ziyech, que tem doado todo o salário que recebe da seleção marroquina a funcionários dessa seleção e a famílias carenciadas, por aquilo que Marrocos representava como uma seleção islâmica, como uma seleção africana. Sobretudo depois de toda a riqueza e alegria que as equipas africanas trouxeram a este Mundial.

 

Eu estava a torcer por eles na meia-final perante a França. Infelizmente, os nossos amigos franceses fizeram em cinco minutos o que várias seleções não conseguiram fazer em noventa – ou, no caso dos espanhóis, cento e vinte mais penáltis. Ainda assim, uma campanha respeitável para Marrocos, conquistaram os corações de muitos.

 

Dito isto… nós éramos a melhor equipa e tínhamos a obrigação de ganhar. Sim, este foi o nosso terceiro melhor Mundial, superou as minhas expectativas, na minha opinião foi melhor que o Mundial 2018 e o Euro 2020. Mas uma coisa seria termos sido eliminados pela Espanha, França ou mesmo pela Inglaterra. Outra coisa é termos sido eliminados por Marrocos. 

 

Tendo tudo isto em conta, Fernando Santos tinha de ir. E foi. 

 

 

A decisão foi anunciada no dia 15 após alguns dias de rumores. Não sei como decorreu o processo todo dentro de portas, mas a maneira como foi comunicado foi exemplar – das transições mais pacíficas de que me recordo. Por um lado, pela mensagem de despedida de Fernando Santos, com agradecimentos a todos os jogadores que orientou, à equipa técnica, à Federação e aos adeptos. Só mostra o carácter dele. 

 

Por outro lado, também gostei do vídeo do vídeo que as redes sociais das Seleções publicaram, agradecendo a Fernando Santos. Um pormenor que me agradou foi terem começado pelo início – porque é importante recordarmo-nos. Vínhamos de um Mundial 2014 desastroso e a Qualificação para o Euro 2016 começara mal. Aquele primeiro jogo com a Dinamarca, em outubro de 2014, aquela vitória mesmo ao cair do pano, foi a primeira vez em muito tempo em que senti esperança em relação ao futuro da Equipa de Todos Nós. Foi o início de algo que terminou quando levantámos a Henri Delaunay

 

Terá sido na altura desse jogo, aliás, que Fernando Santos começou a falar de ganharmos o Europeu. Menos de quatro meses depois de termos sido goleados pela Alemanha. Pois claro.

 

De uma maneira estranha, às vezes tenho saudades desse primeiro ano. Um ano de exibições assim-assim, mas suficientes para cumprir – hoje não seria suficiente, mas na altura soube bem depois do turbulento ciclo do Mundial 2014. Além disso, ganhámos à Argentina e à Itália em jogos particulares, o que foi agradável.

 

E, claro, os nossos dois primeiros títulos. Há quem hoje desdenhe, como se tivéssemos ganho por acaso, esquecendo-se que a Seleção esteve quase cem anos sem ganhar um título desta envergadura. E que precisou de vinte anos, mais coisa menos coisa, de presenças regulares em Europeus e Mundiais. Pode ter sido sorte e fé mas, como disse Ricardo Quaresma, “fé e sorte dão muito trabalho”. 

 

Dito isto, por muito grata que esteja… esta é a decisão certa. Só peca por tardia.

 

 

Por outro lado, este até é um timing perfeito para esta transição. Faltam vários meses para o próximo compromisso da Seleção e os primeiros jogos são contra Luxemburgo e Liechtenstein.

 

O próximo passo agora, naturalmente, encontrar um sucessor. Eu não tenho opinião, não percebo o suficiente para fazer sugestões. José Mourinho tem sido um dos nomes mais falados. Uma opção óbvia, talvez. Mourinho costumava dizer que queria ser Selecionador quando fizesse sessenta e cinco – ainda lhe faltam cinco anos e trocos, mas suponho que ele não estivesse a ser literal. 

 

No entanto, ele ainda está no AS Roma. Chegou a falar-se da possibilidade de ele conjugar o emprego de Selecionador com o de técnico do Roma. Isso a mim parecia-me bizarro e duvidoso do ponto de vista ético (ele poderia Convocar jogadores do próprio clube de modo a valorizá-los no mercado? Ou, pelo contrário, poderia não Convocá-los para mantê-los em forma para o clube?), mas aparentemente não é assim tão raro. Fui pesquisar sobre o assunto e descobri alguns exemplos – incluindo Sir Alex Ferguson, de todas as pessoas, antes de treinar o Manchester United. 

 

Eu mesmo assim não acho que resultasse. E consta que o Roma também não morre de amores pela ideia. Diz que, agora, o plano é que Rui Jorge assuma o cargo interinamente durante a dupla jornada de março e que, em junho, Mourinho deixe o Roma e venha treinar a Seleção. Isto sim, já me parece mais aceitável. 

 

Por outro lado, já que falamos de Rui Jorge, há quem o aponte como possível sucessor. Em teoria faz sentido, na prática talvez não. António Tadeia diz que ele não quererá – ele será demasiado pacato para estas andanças, estará satisfeito no seu cantinho, com os Sub-21. Para além disso, aqui o Gonzaal deu bons argumentos a favor de Jorge Jesus. Não simpatizo muito com o senhor mas, se tiver de ser… 

 

Por fim, de vez em quando alguém lembra-se de sugerir Carlos Queiroz e eu fico com vontade de dar um berro. Sou a única aqui que se recorda do que aconteceu em 2010?!? 

 

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Ficamos a aguardar. Há tempo para tomar esta decisão. Ainda assim, espero que não demorem muito, para que o novo Selecionador possa começar a preparar o novo ciclo com tempo. 

 

E por falar em novos ciclos…

 

Uma das coisas que mais dói em relação a este fracasso é o facto de este ter sido o último Mundial de Pepe e Cristiano Ronaldo. As imagens das lágrimas do último correram mundo e partiram o coração de toda a gente. Este terá sido o pior ano da vida de Ronaldo, tanto a nível pessoal como profissional. Agora perdia a sua última oportunidade de levantar este troféu. Pouco mais de uma semana mais tarde, viu o seu velho rival Lionel Messi ganhar esta corrida e encerrar de vez o debate sobre quem é o melhor do Mundo. Por estes dias tem recebido críticas de todo o lado.

 

Não é difícil sentir compaixão por ele. Por outro lado, se Ronaldo neste momento está no fundo do poço, é em parte por culpa própria.

 

Todo o mediatismo em torno de Ronaldo foi sem dúvida a pior parte da nossa participação neste Mundial. Não digo que tenha sido por isso que perdemos, mas foi uma distração, uma irritação, tempo gasto com discussões inúteis. 

 

Não, nem tudo foi culpa do próprio Ronaldo. Pode-se argumentar que isso aconteceria sempre, independentemente das circunstâncias. Sobretudo tendo em conta que, no Catar, a larga maioria dos adeptos de Portugal eram na verdade adeptos de Ronaldo. 

 

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Ao mesmo tempo, ninguém mandou Ronaldo dar aquela entrevista a Piers Morgan, nem lançá-la na véspera da preparação do Mundial. Ele bem tentou fazer-se de inocente mais tarde, mas sabia perfeitamente o que aconteceria.

 

Agora, no pós-Mundial, Ronaldo está sem clube e isso já está a ser outra novela. Ainda no outro dia saiu a notícia de que, se de facto assinar pelo Al Nassr, será também embaixador da Arábia Saudita na corrida à organização do Mundial 2030… contra a candidatura de Portugal e Espanha. 

 

Eu ainda quero ver se alguma destas coisas será confirmada oficialmente. Para já, um consolo para mim é saber que, a curto prazo, os dramas de Ronaldo não afetarão diretamente a Turma das Quinas. A médio/longo prazo já é outra questão.

 

O que nos leva ao futuro de Ronaldo na Equipa de Todos Nós. Se é que ele existe. 

 

Ainda no rescaldo do jogo começaram a circular mensagens de despedida a Pepe e a Cristiano Ronaldo. Devo confessar que isso foi uma das coisas que mais contribuiu para a minha azia com a eliminação. 

 

Uma coisa é este ter sido o último Mundial de Ronaldo. Outra coisa muito diferente é estes terem sido os últimos jogos de Ronaldo na Seleção. Se foi o último caso… não estou preparada. Mesmo tendo em conta o que escrevi recentemente sobre ele, sobre termos mais desvantagens do que vantagens neste momento. 

 

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Ronaldo tem sido a grande constante da Seleção desde o Euro 2004. Foi um dos motivos pelos quais me afeiçoei à Equipa de Todos Nós depois desse campeonato. É um pouco como a Rainha de Inglaterra: existe toda uma geração já adulta – incluindo, talvez, metade da Seleção atual – que não se recorda das Quinas sem Ronaldo. Isto para não falar, claro, de tudo o que o Capitão tem feito pelo futebol português, mesmo pelo país em si. Pense-se o que se pense sobre Ronaldo, vai custar-nos a todos quando ele se for embora. 

 

Suponho que haja uma lição de vida qualquer sobre crescer aqui.

 

Se estiver mesmo na hora, espero que se faça uma despedida como deve ser. Por mim, marcava-se um jogo particular em casa, com uma equipa “pequena” a quem Ronaldo pudesse marcar os últimos golos. Perto dos noventa far-se-ia a substituição e o estádio todo aplaudiria de pé durante minutos, com muitas lágrimas à mistura.

 

Mas isto é uma fantasia minha. Pode não ser possível prever quando é que Ronaldo deixará a Seleção. Vai depender do que acontecer no mercado de transferências. Tal como em relação à questão do Selecionador, ficamos a aguardar.

 

Apesar de ter partido para este Mundial com baixas expectativas, expectativas essas que acabaram por se cumprir (mesmo com várias atenuantes, isto foi uma desilusão), não me arrependo de, a certa altura, ter começado a acreditar e a entusiasmar-me. Em futebol costuma-se falar em “esperança que mata” mas, para mim, a esperança vale sempre a pena. Para que servem estes campeonatos ou mesmo o futebol em geral se não o encaramos com alegria e um bocadinho de fé?

 

E este Mundial foi divertido, melhor do que tinha o direito de ser tendo em conta as circunstâncias, com todas as surpresas e reviravoltas. A final, então, foi um reflexo perfeito disso: um empate 3 a 3, que parece ficcionado (Não simpatizava particularmente com nenhum dos finalistas, mas estou contente por a França não ter ganho. Os franceses continuam péssimos perdedores). Foram umas semanas alegres, fora da rotina – como já é habitual, de resto – que souberam bem no final de um ano difícil.

 

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E infelizmente teremos de esperar pelo menos um ano e meio para voltarmos a senti-lo.

 

Outra coisa boa em relação ao Mundial foi ter dado oportunidade a vários Marmanjos de darem provas do seu talento: Bruno Fernandes, Gonçalo Ramos, João Félix, Rafael Leão. Como vários têm assinalado, esta geração tem muito potencial e estamos todos ansiosos por ver de que serão capazes daqui a um par de anos. 

 

Antes de terminarmos, façamos um rápido apanhado a 2022 (acho que não torno a fazer balanços anuais como fazia antes). Foi melhor que 2021, com mais pontos altos – as vitórias na fase de grupos da Liga das Nações, sobretudo esta, as vitórias no Mundial. Infelizmente, foi igualmente infrutífero. A alegria das vitórias valeu a pena mas teve curta duração.

 

Com um Selecionador novo e Ronaldo incerto, 2023 será um ano de mudança de página, de transição. Será pouco excitante: sem Europeu ou Mundial, sem sequer a fase de grupos da Liga das Nações, com adversários de maior calibre. Temos apenas a Qualificação para o Euro 2024, com um grupo teoricamente acessível – se houver excitação, será à mistura com exasperação, quando inevitavelmente metermos água e nos Apurarmos à rasquinha. 

 

Por outro lado, como referimos antes, dificilmente conseguiríamos melhores circunstâncias para uma mudança de ciclo.

 

Que 2023 nos corra melhor que 2022. Obrigada a todos os que acompanharam este Mundial comigo, quer através do blogue quer através da sua página de Facebook. Última chamada para fazerem um donativo à Amnistia Internacional, que está a ajudar os trabalhadores maltratados na construção do Mundial. Votos de boas festas e boas entradas em 2023. Até à próxima!