Em princípio
No passado sábado, dia 12 de dezembro, teve lugar em Paris o sorteio para a fase de grupos do Campeonato Europeu de Futebol, que se realizará no próximo verão. Portugal ficou colocado no grupo F, juntamente com a Islândia, a Áustria e a Hungria.
Como o costume, eu andava ansiosa por este sorteio. Consegui acompanhá-lo devidamente, pela televisão, com a minha irmã. Fiquei surpreendida por este ter começado apenas meia hora, quarenta minutos depois do início da cerimónia. Ficamos no último grupo, logo, fomos os últimos a conhecer os adversários. O pote 3 e o pote 2 iam sendo esvaziados, sem que a Suécia e a Itália, respetivamente, saíssem. Por um lado, eu não os queria no grupo, por motivos óbvios. Por outro lado, eu não as queria no grupo, por motivos óbvios. Por outro lado, eu queria-os no grupo porque seriam jogos excitantes. As duas seleções ficaram no grupo E, como que a sublinhar que nós tínhamos escapado por pouco às favas. Nós ficámos com equipas, digamos, modestas.
O nosso primeiro jogo ficou marcado para dia 14 de junho, em Saint-Étienne, frente à Islândia. Só jogámos duas vezes contra esta equipa, ambas no Apuramento para o Euro 2012. O primeiro jogo ocorreu naquela gloriosa dupla jornada de estreia de Paulo Bento, em que recuperámos a esperança depois do caso Queiroz e de perdermos cinco pontos nos primeiros dois jogos do Apuramento. Não tendo sido um jogo brilhante, teve os seus momentos, com o golo do Cristiano Ronaldo de livre direto, a bomba de Raul Meireles e o golo final de Hélder Postiga.
O segundo jogo terminou com uma vitória por 5-3, mas ainda apanhámos alguns sustos. A primeira parte até terminou com Portugal ganhando por 3-0 - golos de Nani, que marcou dois quase de seguida, e um de Hélder Postiga. No entanto, na segunda parte, os islandeses conseguiram reduzir para 3-2 e, por algum tempo, os portugueses desorientaram-se. Felizmente, João Moutinho meteu ordem no jogo ao marcar o quarto golo português, aos oitenta e um minutos. Eliseu, que já tinha assistido para o primeiro golo de Nani e para o golo de Moutinho, ainda ampliou o resultado para 5-2. Mais tarde seria considerado o Homem do Jogo (sim, estamos a falar do mesmo Eliseu, que joga hoje no Benfica). Ainda houve tempo, mesmo assim, para os islandeses reduzirem, de penálti.
A Islândia partilhou o grupo de Qualificação com a Holanda e a Turquia. Os islandeses venceram os holandeses nos dois jogos que disputaram com eles, contribuindo para o afastamento da Laranja Mecânica do Europeu. Na classificação final do grupo, ficou à frente da Turquia, que muitos considerariam uma ameaça maior. Tudo isto prova que os islandeses podem complicar-nos a vida.
A Áustria, com quem jogaremos dia 18 em Paris, tem um histórico favorável frente a nós (três vitórias para o lado deles, duas para o nosso lado e cinco empates), mas não jogamos com eles há vinte anos - desde a Qualificação para o Euro 96. Os austríacos apuraram-se para o Europeu em primeiro lugar no seu grupo, oito pontos à frente da Rússia (!) e dez pontos à frente da Suécia (!!!), ambas equipas que, mais uma vez, muitos considerariam mais perigosas. Penso que é opinião comum que os austríacos serão os nossos adversários mais difíceis neste grupo. Não é difícil perceber porquê.
Fiquei um bocadinho chateada por nos ter calhado a Hungria no grupo, visto esta já ter sido sorteada para o nosso grupo de Apuramento para o Mundial 2018. Já achava eu que essa Qualificação vai ser uma seca. O facto de um dos adversários ser um repetido do Europeu em nada melhora essa condição.
A verdade é que vamos encontrar os húngaros no nosso último jogo da fase de grupos, em Lyon, no dia 22. Nunca perdemos contra este adversário e o último empate foi em 1983. Os nossos dois últimos jogos ocorreram durante a Qualificação para o Mundial 2010. Ambos correram bem. O segundo é capaz de ter sido o melhor desta fase de Apuramento.
A Hungria apurou-se para este Europeu via playoffs, vencendo a Noruega. Nesse grupo, foi ultrapassada pela República da Irlanda e pela Roménia. Podemos concluir que, em princípio (vou usar muito esta expressão neste texto, "em princípio"), a Hungria será a Seleção menos ameaçadora deste grupo.
Vocês sabem que, por norma, não gosto de grupos "fáceis", de "equipas fáceis". Num Europeu mais alargado do que antes, desconfio particularmente das seleções em estreia - não terão nada a perder, logo, não sentirão a pressão caso as coisas não corram bem.
No entanto, mais do que ser por ser um grupo fácil, este grupo chateia-me por ser enfadonho - tal como o grupo da Qualificação para o Mundial 2018. Ainda na véspera do sorteio do Europeu saía uma lista em que Portugal aparecia entre as seleções mais chatas. Não estou a ver os jogos do grupo mudando essa perceção. Os atractivos dos campeonatos de seleções são os jogos com equipas grandes. Daqueles que, ou ganhamos de forma épica, ou perdemos com dignidade, ou somos completamente humilhados. Aqueles jogos de cortar a respiração, de vida de morte ou muito mais, em que temos constantemente o coração na garganta. Em que cada golo é celebrado de forma intensa e, por vezes, demasiado dramática. Em que chegamos ao fim quase tão exaustos como se nós mesmo tivéssemos jogado. Não estou a ver os jogos desse grupo chegarem a esse nível. Ou melhor, se chegarem é porque as coisas estão a correr mal.
Por outro lado, depois da tragédia que foi o Mundial 2014, não vou dizer que não me agrada a ideia de um grupo tranquilo, em que, em princípio, temos tudo para passar. Se estamos mesmo a olhar para o título, emoção e dificuldades não hão de faltar no percurso até à final. Já será suficientemente complicado chegarmos lá, não me vou queixar se o início for, em princípio, facilitado.
Regressando à relativa facilidade deste grupo, nos rescaldos destes sorteios, costumamos dar o exemplo do Euro 2000 e 2012, "Grupos da Morte" a que sobrevivemos, e do Mundial 2002, o grupo fácil em que tudo correu mal, tirando no jogo contra a Polónia. Portugal tem o irritante hábito de complicar o que é fácil e o lendário hábito de se superar perante dificuldades.
E, no entanto, não sei se ainda é assim. Fizemos uma Qualificação tranquila, em que, tirando o primeiro jogo, não complicámos desnecessariamente. Sob a orientação de Fernando Santos, a equipa ganhou uma maturidade que não possuía há dois, três anos. Não estou a vê-los fazendo asneiras que comprometam a passagem aos oitavos-de-final (ainda me é estranho falar de oitavos-de-final num Europeu...), sobretudo quando Fernando Santos diz que quer ganhar o Europeu. Só uma epidemia de lesões e parvoíce estilo Mundial 2014, e mesmo assim. Muita coisa terá de correr mal para não passarmos este grupo. Já aconteceu, é certo, mas quero acreditar que eles aprenderam com os erros. Além disso, em princípio, o clima em França será menos agreste que o brasileiro, logo, também não será por aí...
Estou a guardar os meus pensamentos sobre este Europeu e as ambições de Fernando Santos para a habitual entrada na véspera do Anúncio dos Convocados. Para já, a bola está do lado da Federação. Quero saber as datas e os adversários dos particulares prometidos para março, bem como, lá está, o dia do Anúncio. Como poderão ver ao lado, já programei um contador dos dias que faltam para o nosso jogo de estreia no Europeu. Depois, acrescento um segundo contador, para o dia dos Convocados.
Quanto a mim, estou neste momento a trabalhar na já tradicional revisão do ano. Continuem desse lado.