Bandeira vermelha
Na próxima quinta-feira, dia 6 de setembro, a Seleção Portuguesa de Futebol receberá, no Estádio do Algarve, a sua congénere croata, em jogo de carácter amigável. Quatro dias mais tarde, receberá a sua congénere italiana, no Estádio da Luz, naquele que será o seu primeiro jogo na primeira edição da Liga das Nações… e eu estarei lá!
Antes de falarmos sobre os jogos em si, falemos sobre a Convocatória para esta jornada dupla. Nomeadamente… a ausência de Cristiano Ronaldo.
Na altura da Convocatória irritei-me, mas a azia já me passou. Bem, quase toda. A ausência terá sido combinada entre Fernando Santos e o Capitão, que se mudou há pouco tempo para a Juventus e precisa destas duas semanas para se adaptar (note-se que, até ao momento, ele ainda não marcou em jogos oficiais… ao contrário do Cristianinho, curiosamente).
A minha azia tinha vários motivos: para começar, o Ronaldo não é o primeiro e não será o último jogador a vir à Seleção pouco após mudar de clube. Se o Rui Patrício, o William Carvalho e os outros jogadores do Sporting que foram atacados durante o treino puderam disputar o Mundial, um mês depois, o Ronaldo não podia disputar dois míseros jogos dois meses depois de ir para a Juventus?
Ainda se compreendia se fossem dois particulares. Mas um dos jogos é oficial, o primeiro numa prova novinha em folha, perante a Itália – que pode não ser o tubarão que era há uns anos, mas não é nenhum Luxemburgo.
Não estamos a ir longe demais nos favores? Se o Ronaldo quer sair da Seleção, que o assuma de uma vez, como um homem adulto! Ninguém lho levaria a mal. Luís Figo tinha a idade dele quando pendurou a Camisola das Quinas. Ficaríamos tristes (eu, quase de certeza, vou chorar quando isso acontecer), mas aceitá-lo-íamos. Agora, estes meios-termos não dão com nada.
Hoje, passados uns dias, já aceito melhor a decisão, dele e de Fernando Santos. Se por um lado, como disse acima, há muitos jogadores que não pedem dispensa por condições mais difíceis do que uma mudança de clube, também acredito que, se alguém pedisse ao Selecionador para não ser Convocado, ele aceitá-lo-ia. Fábio Coentrão, por exemplo, pediu para não ir ao Mundial da Rússia, pois está sempre à beira de uma lesão. E, se bem me recordo, Anthony Lopes pediu dispensa da Taça das Confederações por motivos pessoais.
Por outro lado, se um jogador se sente mais ou menos à vontade para fazer estes pedidos é outra questão, claro. Cristiano Ronaldo tem uma margem de manobra maior do que os outros.
As minhas objeções são mais uma questão de princípio. Na prática, até é capaz de ser uma boa opção técnica deixar Ronaldo de fora.
Para o melhor e para o pior, continuamos muito dependentes do nosso Capitão. Fernando Santos quer, claramente, começar uma nova era na Turma das Quinas: ao deixar de fora uns quantos titulares habituais e ao Chamar uma série de jovens, alguns novidades absolutas, alguns já antes Convocados mas pouco utilizados.
Para além de ser uma boa altura para renovar, é uma boa altura para tentar resolver a nossa Ronaldodependência. Precisamos de crescer, de aprender a resolver os nossos próprios problemas, sem estar à espera que venha o Capitão-papá fazer o trabalho por nós. Intencionalmente ou não, Fernando Santos está a tirar-nos as rodinhas da bicicleta, a atirar-nos para a água, a ver se aprendemos a nadar para não nos afogarmos.
E, tendo em conta os nossos adversários, não vamos aprender a nadar na piscina das crianças. Vamos fazê-lo numa praia com bandeira vermelha.
Já resultou uma vez, antes.
Esta é, sem dúvida, uma dupla jornada interessante. Vamos enfrentar os atuais vice-campeões do Mundo… e a Itália. Há um ano ou dois, nunca imaginaria usar esta expressão para falar da Croácia.
Mas também, antes de 2016, poucos imaginariam usar a expressão “Campeões Europeus” para falar dos portugueses.
O nosso historial recente perante a Croácia até tem sido favorável – destaquem-se os oitavos-de-final do Euro 2016 – mas depois do desempenho deles no último Mundial, de pouco nos serve o passado. Não, não vai ser um jogo fácil. Dou graças por ser apenas um particular.
Mas estou curiosa para saber como Portugal se sairá perante esta Croácia.
Falemos, então, sobre a Liga das Nações. É bastante excitante estarmos, agora, em vésperas da sua estreia, quatro anos após saírem as primeiras informações – e de ter escrito sobre elas. Este artigo explica bem as regras, caso ainda não as conheçam. São bastante simples. Eu apenas tenho algumas dúvidas em relação à parte da Qualificação para o Euro 2020. De qualquer forma, prefiro encarar isto como um jogo de tabuleiro novo: por muito que nos expliquem as regras no início, só se aprende jogando.
Vamos, então, estrear-nos nesta prova com a Itália, um adversário tradicionalmente complicado para os portugueses, mas que falhou o último Mundial – já não são o que eram. Guardamos, aliás, boas recordações do nosso último jogo contra eles. É certo que era uma Itália desfalcada, mas não deixou de ser agradável – sobretudo porque não lhes ganhávamos há décadas. Éder marcou o único golo da partida – foi nessa altura que senti o choque que quase toda a gente sentiria um ano mais tarde, depois da final de Paris.
Infelizmente, desta feita não temos Éder (nem Ronaldo). Mesmo assim, talvez consigamos ganhar. Quem sabe?
O jogo será na Luz e eu vou lá estar, com a minha irmã – mais uma ocasião para usar a minha camisola. Até há um par de meses, estava previsto o jogo realizar-se em Alvalade. No entanto, as eleições no Sporting foram marcadas para dois dias antes do jogo. Logo, por uma questão de logística, a Federação achou por bem mudar o encontro para o outro lado da Segunda Circular.
Esta decisão causou alguma polémica nas redes sociais, não sem razão. Afinal de contas, Alvalade não recebe um jogo da Seleção há três anos (pergunto-me se é por os últimos jogos lá não terem corrido muito bem). Por sua vez, a Luz tem recebido um por ano, quando não recebe dois – o último foi há três meses!
No entanto, acho que a Federação fez bem. Da maneira como as coisas têm estado no Sporting, nos últimos tempos… Ainda nos arriscávamos a ter o presidente deposto em junho a barricar-se nos balneários com uma das seleções, mantendo os jogadores como reféns até lhe devolverem a presidência.
Vão dizer-me que isto é assim tão improvável? Há um ano, talvez… Mas agora?
Enfim. Talvez seja possível Alvalade receber outro jogo da Liga das Nações numa das próximas duplas jornadas, quando as coisas estiverem mais calmas no Sporting. De preferência com Bruno de Carvalho internado num hospício.
Para já, o que interessa é que a Seleção vai jogar outra vez. Andei muito desinteressada do futebol este verão – em parte por estar ainda chateada por causa do nosso desempenho no Mundial, em parte por não gostar do mercado de transferências, em parte por causa da confusão no Sporting e, agora, no Benfica. Talvez estes jogos, este novo ciclo na Equipa de Todos Nós, me ajudem a limpar o palato, a recuperar o entusiasmo pelo futebol. Que este novo capítulo nos traga muitas alegrias.
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