A Seleção de Todos Nós
Na passada segunda-feira, 19 de Maio, pouco após as oito e um quarto da noite, Paulo Bento anunciou os vinte e três Convocados para representar Portugal no Mundial 2014.
A cerimónia contou com uma certa pompa e circunstância quanto baste e começou com um discurso do presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Fernando Gomes. Neste, o presidente teceu rasgados elogios ao atual selecionador. Agora compreende-se que Fernando Gomes pretendia dar publicamente o seu voto de confiança a Paulo Bento, antes de uma Convocatória que, como todas as outras, causaria contestação. Na altura, contudo, ansiosa como me sentia, só pensava: "Ó senhor Presidente, ninguém quer saber! Deixe o Paulo Bento dizer os Convocados, que nós não podemos esperar mais!"
Acabou por não ser Paulo Bento a dizê-los, estes foram-nos apresentados sob a forma de vídeo:
Não se pode, contudo, dizer que hajam grandes surpresas na Convocatória. Para mim, a maior surpresa foi mesmo a exclusão de Quaresma, que não consigo mesmo compreender, por muito que me esforce. De uma maneira geral, Paulo Bento referiu dois critérios para justificar as suas escolhas: polivalência e estabilidade emocional. Não sou, nem de longe nem de perto, a pessoa mais habilitada para falar sobre o primeiro aspeto, que terá justificado as inclusões de Rafa, Rúben Amorim e André Almeida, bem como a exclusão de Adrien. Quanto à estabilidade, à confiança, compreende-se. Paulo Bento chegou mesmo a enviar uma indireta a Danny quando referiu ser "preferível levar jogadores com vontade, determinação e compromisso". Para ser sincera, por muito boa vontade que tenha anteriormente demonstrado para com Danny, estava a ficar farta das confusões dele. De uma forma quase inconsciente, fiquei aliviada quando ele nem sequer entrou na pré-Convocatória. Nesta, concordo com Paulo Bento.
O caso de Quaresma - que, coitado, deve estar a ter um dejá-vu de 2006 - na minha opinião, é diferente de Danny. É certo que o jogador do F.C. Porto continua algo imaturo, apesar dos trinta e um anos, mas ao ponto de não merecer ir ao Mundial? Tenho as minhas dúvidas. É aqui também que reside a grande incoerência de Paulo Bento. O Selecionador alega que Quaresma esteve um ano e meio sem jogar, só se tornando selecionável nos últimos dois ou três meses. No entanto, tal situação não difere muito da de metade da Convocatória que, como tem sido ampla e jocosamente comentado nas redes sociais, falhou parte da época por lesão. Ainda que Paulo Bento afirme que Nani tem características diferentes de Quaresma, que o primeiro não esteve um ano e meio sem jogar, como o segundo, em termos práticos, na minha opinião, Quaresma fez mais pelo seu clube nos três ou quatro meses que jogou que Nani fez pelo dele desde o Euro 2012. Até Carlos Mané merecia mais estar no Mundial que Nani, nesse aspeto pelo menos - é claro que não é a decisão mais sensata um jogador de dezoito ou dezanove anos estrear-se pela Seleção num Mundial.
Não sou, contudo, verdadeiramente capaz de contestar nem a Chamada de Nani nem a de Hélder Postiga. Estive em conflito comigo mesma durante as últimas semanas pois, se tanto as lesões de Postiga como a falta de ritmo de Nani me exasperavam, a verdade é que não queria o Mundial sem dois dos meus jogadores preferidos, mesmo que não fossem titulares. Passa-se um bocadinho o mesmo com o Eduardo. Não seria justo eu estar a criticar os outros casos de momentos de forma duvidosos. Desse modo, tirando a situação de Quaresma, não tenho muito mais a apontar a esta Lista Final. No entanto, não nego que isto se torna injusto para outros jogadores selecionáveis, com ritmo de jogo e comprovada qualidade, que ficaram de fora deste campeonato. Paulo Bento aparenta dar prioridade aos aspetos psicológicos, em detrimento, um pouco, dos aspetos técnicos. Tem a sua lógica: de nada serve termos trunfos no baralho que não temos maneira de utilizá-los. Ninguém pode negar que Marmanjos como Nani, Postiga, Eduardo e outros que tais sempre mostraram empenho quando vestem a camisola das Quinas. Vão na linha dos jogadores, de que falei anteriormente, que se saem melhor pela Seleção que pelos clubes. Não esquecer o caso de Nani que tem aquele talento que o Selecionador "não se dá ao luxo de desperdiçar", tal como afirmou há um ano. Ainda deve haver tempo para os "lesionados" (Ronaldo incluído) recuperarem até ao Mundial e, de qualquer forma, duvido que muitos desses venham a ser titulares. Mas até que ponto, contudo, conseguirão as pernas acompanhar a vontade de fazer bem?
Eu confio em Paulo Bento, apesar de todas estas dúvidas. Tal como o disse antes da Convocatória, acredito que ele sabe o que está a fazer, que ele saberá tirar o melhor proveito dos jogadores que Escolheu, colocando-o ao serviço de Portugal. Como sempre, têm sido tecidas várias críticas a esta Convocatória, umas mais construtivas do que outras. Há dois anos, as mais destrutivas ter-me-iam enfurecido. Hoje, apenas me despertam indiferença. Tal como já referi anteriormente, caso o Mundial nos corra de feição, todas essas alminhas aziadas se esquecerão desses comentários e juntar-se-ão à festa, como se nunca tivessem duvidado da Turma das Quinas. Citando João Querido Manha, "a partir de agora, esta é a Seleção de Portugal, é a Seleção de todos nós". Tudo o resto é irrelevante.
Tirando os portugueses do Real Madrid (não sei se Vieirinha já chegou), a Seleção encontra-se já reunida em Cascais, tendo já começado a Operação Mundial. É lá que o meu coração se encontra sediado. Tal como na próxima semana estará sediado em Óbidos, depois em New Jersey, nos Estados Unidos, até finalmente aportar em Terras de Vera Cruz. Apesar de, segundo o que disse anteriormente, o Verão ter começado na segunda-feira, a verdade é que o tempo piorou desde esse dia. Não faz mal. Agora, que estamos finalmente em Modo Seleção, o Sol arranjará sempre maneira de brilhar por entre a chuva, tal como reza um dos temas da minha playlist da Equipa de Todos Nós. E é meu desejo que este período abençoado se prolongue o mais possível.