No passado domingo, dia 11 de outubro, a Seleção Portuguesa de Futebol empatou sem golos contra a sua congénere francesa, em jogo que decorreu no Stade de France, em Paris. Três dias depois, a Seleção venceu a sua congénere sueca por três bolas sem resposta.
Antes de falarmos sobre os jogos, receio que tenhamos de falar sobre o Coronavírus, que pelo menos para mim arruinou esta jornada tripla. Bem, na verdade tem arruinado a vida de toda a gente este ano, de múltiplas maneiras. Este foi apenas mais um exemplo. Isto numa fase em que eu pensava que estávamos preparados, que sabíamos com que contar, que já estaríamos capazes de evitar baldes de água fria. Mas não.
Na véspera do jogo com a Suécia, Cristiano Ronaldo acusou positivo no rotineiro teste à Covid. Reagi um bocado mal à notícia – o Ricardo Araújo Pereira deixou-me com as orelhas a arder um bocadinho, no seu monólogo de abertura no domingo passado (Ah, doença cruel! Oh, maleita inclemente!).
Não que tenha ficado muito preocupada com a saúde de Ronaldo – ele é jovem, é saudável, aparentemente tem estado assintomático. Na pior das hipóteses, batam na madeira, ele tem dinheiro para pagar tratamentos de luxo, semelhantes aos que o execrável presidente dos Estados Unidos recebeu. Eu até alinhei nas piadas que se fizeram na altura – embora mais na onda de rir para não chorar.
Vou desde já admitir a minha hipocrisia: isto só se tornou um problema a sério para mim quando foi Cristiano Ronaldo a acusar positivo – não me preocupei tanto quando José Fonte e Anthony Lopes acusaram, dias antes. É inútil negá-lo, Ronaldo tem um mediatismo que nenhum dos outros tem – e provavelmente nunca terão.
Por outro lado, isto aconteceu uma semana depois do início da concentração.Aquilo que mais me afligiu foi o facto de, de repente, quase tudo o que Ronaldo no seio da Seleção, teve de ser questionado, assinalado como possível risco de contágio. A foto que ele tirou com Pepe e Sergio Ramos, depois do jogo com a Espanha, aludindo aos anos em que foram colegas no Real Madrid; o momento com Kylian Mbappé, seu admirador, a troca de camisolas com o jovem Eduardo Camavinga; a fotografia da Seleção à mesa do jantar. Bolas, só o facto de ter treinado e jogado futebol sem máscara.
Fernando Santos garante que não foi durante a concentração que Ronaldo contraiu o vírus – mas o Selecionador, com o devido respeito, não é uma autoridade de saúde. De qualquer forma, independentemente do momento em que se contaminou, se Ronaldo deu positivo, é possível que já carregasse o vírus há uns dias, correndo o risco de o ter passado aos colegas. Colegas esses que, depois desta jornada tripla, regressaram aos seus clubes, às suas famílias. Toda uma cadeia de transmissão que pode ter começado na Equipa de Todos Nós.
Como é que acham que eu me senti ao saber que um compromisso da Seleção, uma das coisas que mais alegria traz à minha vida, pode ter servido de foco de infeção? Quase que mais valia a Turma das Quinas ter continuado em hiato. Se os Marmanjos não podiam festejar um golo sem que eu receasse que se estavam a contaminar uns aos outros, para quê?
Não culpo os jogadores. Acredito quando dizem que tem cumprido os protocolos todos o melhor que podem. E, que diabo, segundo Fernando Santos fizeram sete testes ao Covid em uma semana (um momento de silêncio pelas suas fossas nasais). Não sei se os protocolos definidos em junho, quando o futebol recomeçou, ainda estão em vigor mas, se estiverem, os jogadores praticamente só saem de casa para os treinos e jogos. Que mais podem fazer?
À hora desta publicação, tanto quanto sei, mais nenhum Marmanjo acusou positivo à Covid 19. Nem nenhum jogador francês, sueco ou espanhol, nem mesmo Mbappé ou Sergio Ramos ou Camavinga. Pode ser que Ronaldo não tenha contaminado ninguém. Não há nada que possamos fazer agora. Mais vale falarmos sobre os jogos.
No dia do jogo com a França, cheguei a casa um bocadinho tarde. Quando liguei a televisão, já tinham decorrido os primeiros minutos da partida. Rúben Dias já contava um cartão amarelo, aparentemente após uma cotovelada a Olivier Giroud. O jogador francês ficou a sangrar e tiveram de lhe ligar a cabeça.
Havia necessidade disto tão cedo no jogo? Acho que não. Um árbitro mais duro teria mostrado logo o vermelho, o que ia estragar-nos o jogo por completo. Mas tenho de confessar, depois de Dimitri Payet nem sequer ter levado falta quando lesionou o Ronaldo na final de Paris, c’est le karma. O Giroud individualmente não teve culpa, coitado, mas é bem feita para a seleção francesa em geral.
Parece que, em relação aos franceses, vou ser sempre algo mesquinha. O facto de lhes termos roubado o título de Campeões Europeus não foi suficiente. Em minha defesa, os franceses continuam igualmente mesquinhos: vejam-se as notas que a France Football deu aos Marmanjos.
Mas estou a desviar-me.
À parte esse pormenor, foi um jogo muito equilibrado. Caricatamente equilibrado, como se pode ver no meme acima. Na primeira parte, Portugal esteve por cima – muito graças ao excelente trabalho dos nossos médios, sobretudo de William Carvalho e Danilo. William, então, foi uma das estrelas desta jornada tripla.
Ainda assim, não dispusemos de muitas oportunidades. Tivemos um lance caricato em que, após um belo passe, Bernardo Silva tentou esticar-se mas acabou por cair com espalhafato. Houve também uma oportunidade de Bruno Fernandes, de Cristiano Ronaldo (boa intervenção de Lucas Hernandez) e pouco mais.
Na segunda parte, os franceses entraram mais afoitos. Desta feita, os nossos médios tiveram mais dificuldade em contê-los – em parte por causa do cansaço. O jogo tornou-se mais partido, menos seguro. Ainda assim, mesmo tomando mais as rédeas da partida, os franceses nunca obrigaram Rui Patrício a esmerar-se, tirando um momento ou outro.
Por seu lado, Fernando Santos lançou Diogo Jota e Francisco Trincão, a ver se não ficávamos pelo empate. Não resultou, infelizmente. Pepe até conseguiu enfiar a bola na baliza, na sequência de um livre. Ainda festejei, mas o golo foi anulado por fora-de-jogo.
O marcador permaneceu por abrir até ao apito final. Tínhamos vindo a dizer, nos dias anteriores, que um empate não seria um mau resultado – e de facto não o foi. Afinal de contas, era uma das melhores seleções do Mundo e um adversário tradicionalmente difícil para nós.
Ao mesmo tempo, empatámos perante uma das melhores seleções do Mundo e um adversário tradicionalmente difícil para nós… e mesmo assim Fernando Santos queria mais. Queixou-se que os jogadores de ambas as equipas foram “demasiado cautelosos”... mas quem pode censurá-los? Éramos nós contra os Campeões do Mundo e nossas maiores bestas negras. Eram eles contra os Campeões da Europa e Liga das Nações e que já lhes tinham causado dissabores.
Além disso, é possível que, tivéssemos sido menos cuidadosos, corrríamos o risco de sofrermos golos, o que não era desejável.
Depois do jogo, toda a gente fez a piada de que faltou o Éder para repetir o feito do 10 de julho. A brincar a brincar, eu até concordo, faltou o Éder. Não o jogador em si, antes aquilo que ele representou na final de Paris: a estrelinha, aquele rasgo inesperado de inspiração, de talento, para marcar o golo da vitória (não confundir com sorte). Ronaldo fá-lo inúmeras vezes, mas podia ter vindo de qualquer um.
Desta vez não deu.
Cheguei a ter medo de que esta jornada tripla terminasse sem que a Seleção marcasse um golo. Felizmente, o jogo com a Suécia deu-nos ocasiões para matar essa sede.
Portugal entrou em jogo com a “pica” toda – fazendo lembrar um pouco a Espanha, uma semana antes. Tivemos oportunidades logo aos primeiros minutos, uma de Diogo Jota (que substituiu Ronaldo), outra de William Carvalho (já disse aqui que o William foi espetacular nestes jogos?). Finalmente, aos vinte minutos, Bruno Fernandes isolou Jota, este driblou um pouco e assistiu para o golo de Bernardo Silva.
Estava aberto o marcador – e a Seleção pôde festejar este golo com público!
Apesar da entrada em grande de Portugal, a Suécia não se deixou dominar. Pelo contrário, este foi um jogo muito partido, atípico para o estilo de Fernando Santos. Conforme mencionaram aqui na vizinhança, os suecos esticaram o campo em vez de encolhê-lo. Portugal nunca conseguiu ter o jogo controlado por completo.
Felizmente, a Seleção conseguiu não sofrer golos – uma vez mais, graças ao trabalho de Rui Patrício (um dos melhores guarda-redes do Mundo), Danilo e Pepe. Este último está numa fase excelente apesar a idade. É o mestre da defesa portuguesa – e Rúben Dias, que combina muito bem com ele, é o seu aprendiz, talvez o seu sucessor.
Eram Pepe, Patrício e Danilo brilhando atrás, era Diogo Jota brilhando à frente. Poucos minutos antes do intervalo, João Cancelo fez um passe espetacular, como que guiado por GPS. A bola encontrou Jota cara a cara com a baliza e o miúdo não desperdiçou.
As coisas não mudaram muito na segunda parte. Aos sessenta e sete minutos, Bruno Fernandes recuperou a bola, arrancou em direção ao meio-campo da Suécia, isolou João Félix à entrada da área, só o guarda-redes à sua frente. Infelizmente, o miúdo deve ter-se enervado e rematou por cima.
Pobre Félix. Ainda não está lá.
Finalmente, dez minutos depois, Jota fez quase tudo sozinho no último golo. O passe foi de William, Jota conduziu a bola para dentro da grande área, indiferente aos quatro suecos lá, e rematou para as redes.
Muito entusiasmada com este miúdo. Se se mantiver no caminho certo e tiver sorte, será um grande jogador.
Ficou feito o resultado. Talvez demasiado dilatado para um jogo em que Portugal nunca teve mão no jogo por completo. Não é grave. O que interessa são os três pontos e os golos numerosos, que poderão vir a da jeito em caso de empate pontual com a França, mais à frente.
Se não fossem todos os problemas causados pelo Coronavírus, hoje estaria muito feliz com o momento atual da Seleção. A Equipa de Todos Nós não fez um único jogo mau nesta edição da Liga das Nações, mesmo com adversários deste calibre. O longo hiato pode ter feito bem à Seleção – nos últimos jogos antes da pausa, tinhamos concluído uma Qualificação para o Euro 2020 com dificuldade, deixando muito a desejar. Depois disso, eu não esperava um desempenho tão consistente nesta prova.
Ou então, é a nossa mania de jogarmos melhor perante equipas difíceis. Nesse sentido, a Liga das Nações é uma competição à nossa medida (mesmo que muito boa gente como Arsène Wegner não lhe ache piada). Não admira que tenhamos sido os primeiros vencedores.
Neste momento, sobramos nós e a França na luta pela passagem às meias-finais. A maneira menos stressante de carimbarmos o passaporte é vencendo os franceses no próximo mês, em casa. Uma tarefa difícil em qualquer circunstância. No entanto, acredito que a Seleção atual, da maneira como tem jogado, é a melhor preparada para este desafio.
Falaremos melhor sobre isso na altura.
Esperemos que Ronaldo elimine o vírus depressa e que mais ninguém na Seleção se contamine. Obrigada por lerem. Tenham cuidado convosco, para não se virem na mesma situação. Continuem a acompanhar a Equipa de Todos Nós comigo, quer aqui no blogue, quer na sua página de Facebook.
Na passada quinta-feira, 6 de setembro, a Seleção Portuguesa de Futebol empatou a uma bola com a sua congénere croata, no Estádio do Algarve, em jogo de carácter particular. Quatro dias mais tarde, venceu a sua congénere italiana, no Estádio da Luz, em jogo a contar para a fase de grupos da primeiríssima edição da Liga das Nações… e eu estive lá!
Comecemos pelo jogo com a Croácia. O onze inicial português incluiu muitas novidades – só se repetiram quatro titulares relativamente ao jogo com o Uruguai. Resultou bem, ao princípio, com bastantes iniciativas por parte dos portugas. Bruma, em particular, teve uma oportunidade logo aos três minutos.
A Croácia, no entanto, quando tinha a bola, criava perigo. Foi assim que surgiu o primeiro golo da partida, aos dezoito minutos, após um erro de Rúben Neves – que, por sinal, tinha acabado de cobrar um livre com muito perigo.
Felizmente, Portugal não se deixou abalar demasiado, começou logo à procura da igualdade. E conseguiu-a. Pouco após a meia hora de jogo, na sequência de um canto em que o centenário Pepe cabeceou para as redes, após um cruzamento de Pizzi.
Eu ia no carro ouvindo o relato na rádio, quando o Pepe marcou. Aproveitei para cumprir, pelo menos em parte, um desejo antigo da minha bucket list: comemorar um jogo da Seleção com uma buzinadela. Na verdade, a minha ideia era comemorar assim um golo mais “importante” (isto é, num Europeu ou Mundial), por isso, foi uma buzinadela rápida.
E de qualquer forma, o problema desse desejo é que, se há um jogo da Seleção num campeonato desses, vou querer estar em frente a uma televisão, não a conduzir.
Em todo o caso, fiquei feliz por Pepe ter marcado na sua centésima internacionalização. Eu assino por baixo de todas as homenagens que lhe têm feito – a que lhe fizeram antes do jogo com a Itália deu-me arrepios. Portugal deve muito a um cada vez mais imperial Pepe – sobretudo por causa do seu papel no nosso primeiro título.
Mesmo que ele nem sempre tenha sido exemplar, nunca se pôs em causa o seu camisola. Custa a acreditar que já lá vão quase dez anos – mas por outro lado, ele tem sido um dos pilares, uma das constantes da Seleção. Vai ser estranho quando ele se retirar (espero que ainda estejamos longe disso).
Por outro lado, quando vimos repetições do golo, a minha irmã perguntou se os polegares na boca eram para as filhas ou para os miúdos da Seleção. Fica o mistério.
Durante o resto do jogo, Portugal não deixou de dominar. Nem mesmo depois das substituições, que baixaram a média das idades da equipa para pouco mais de 22 anos – é uma delícia olhar para este grupo e ver tanto talento. Desde Bernardo Silva, claro, passando por Rúben Neves, Bruma (que esteve em grande nestes jogos, numa altura em que eu mal pensava nele), Rúben Dias, Mário Rui, João Cancelo (de novo com boas exibições, após um par de jogos infelizes pela Seleção), Gelson Martins, Bruno Fernandes (a minha irmã “ralhando” com ele, por querer sempre fazer bonito e rematar de longe)... e uns quantos que ainda não foram Convocados.
Infelizmente, o domínio não chegou para marcar mais golos.
É algo que acontece com alguma frequência com equipas jovens e relativamente inexperientes: muita parra e pouca uva, muito domínio e pouco bolo. Equipas mais experientes são mais afinadas, sabem ser cínicas quando é necessário. É nestes momentos que Ronaldo ainda faz falta à Seleção.
Em todo o caso, chegou para o empate e foi apenas um particular. Não foi mau, tendo em conta que, no outro lado, estavam os atuais vice-campeões do mundo.
Por outro lado, poucos dias depois, a Croácia seria goleada pela Espanha. Talvez tenha havido demérito dos croatas.
Falemos do jogo com a Itália – desta feita a doer, o nosso primeiro jogo na novíssima Liga das Nações. Conforme disse antes, estive lá com a minha irmã – mais especificamente, atrás da baliza sul. A minha irmãzinha sportinguista pôde matar saudades de Rui Patrício.
Portugal repetiu o onze do jogo anterior e dominou ainda mais que perante a Croácia. A Itália pouco apareceu no jogo. As coisas começaram mais ou menos equilibradas, mas cedo o equilíbrio deslocou-se a favor dos portugueses. Infelizmente, estando nós atrás da baliza de Patrício, não conseguíamos ver muito bem a ação do outro lado do campo…
Uma coisa em que deu para reparar, no entanto, foi que Portugal defendeu bem. Rui Patrício não precisou de se esforçar muito, mas os outros também não comprometeram. Eu, na altura, não me atrevi a comentá-lo em voz alta, não fosse dar azar. Enfim, superstições minhas…
Felizmente, o único golo da partida foi marcado na baliza sul, na segunda parte. Bruma fez uma de várias arrancadas, centrou, a bola de alguma forma foi parar a André Silva, que chutou para as redes.
Pelos vistos, a falta de inspiração do André, no jogo com a Croácia, não passou disso mesmo: de falta de inspiração.
Podíamos ter chegado ao 2-0 uns minutos mais tarde, com um remate de Bernardo Silva à entrada da área. O guarda-redes italiano teve de esmerar-se – Pepe e Rúben Dias (penso que era ele…) até foram dar-lhe os parabéns depois desta.
Houveram várias outras oportunidades parecidas. Só perto do fim é que os italianos deram um ar de sua graça, embora apenas tiros de pólvora seca. Ainda assim, Portugal não chegou a matar o jogo. Não deu para ficar descansada. Mas o apito final veio e os três pontos ficaram garantidos.
Como tínhamos comentado antes, esta não era uma jornada dupla fácil, mas os Marmanjos passaram no teste. Podiam ter-se saído melhor, sim, mas ganharam um bom avanço para a fase final da Liga das Nações. Estou muito orgulhosa da Seleção, sobretudo dos mais novos, pelo que fizeram nesta dupla jornada.
Nesta altura do campeonato, sinto que estamos a entrar no futuro, com tudo o de bom e o de mau que vem com ele. Alguns começam a ser deixados para trás – constantes como João Moutinho, Bruno Alves, Nani. Mesmo Cristiano Ronaldo já esteve mais longe. Como em tudo na vida, os mais jovens acabarão, mais cedo ou mais tarde, tomar o lugar deles, os mais velhos.
Vou precisar de algum tempo para me habituar a essa inevitabilidade. Não vai ser fácil despedir-me de jogadores que acompanhei durante uma década, ou mais, que cresceram comigo, que conquistaram o primeiro título da Equipa de Todos Nós. Ao mesmo tempo, no entanto, estou ansiosa por ver o que estes miúdos podem fazer, por criar memórias com eles, escrever a história deles.
Por outro lado, estou a tentar não “embandeirar em arco”, como diz Fernando Santos. Foram apenas dois jogos e existem atenuantes. Como vimos antes, a Croácia pode não estar assim tão bem, para perder daquela forma com a Espanha. E os italianos andam com crises existenciais desde que falharam o Mundial 2018 – o que não é de admirar.
Não, não vai ser fácil, isto ainda agora começou. Tal como Fernando Santos, quero muito chegar à final four (e, sobretudo, que esta decorra em Portugal) mas… um passo de cada vez.
No passado dia 28 de junho, a Seleção Portuguesa de Futebol foi derrotada nos pénaltis, nas meias-finais da Taça das Confederações, pela sua congénere chilena. Quatro dias mais tarde, disputou o terceiro lugar na prova com a sua congénere mexicana, vencendo-a por duas bolas contra uma.
O jogo com o Chile nem começou mal. Pelo contrário, a primeira parte foi muito bem disputada por ambas as equipas. Dava gosto ver.
Algo a que achei piada foram as ocasiões (pelo menos duas), em que um dos guarda-redes fazia uma defesa espetacular para depois, na resposta, o guarda-redes adversário fazer uma defesa idêntica.
No entanto, na segunda parte, a qualidade do jogo começou a decair. A ideia que ficou era de que Fernando Santos queria jogar para o prolongamento, para os penáltis. Talvez contasse com a (relativa) sorte que nos ajudou a conquistar o título europeu, no ano passado.
E até parecia que a Sorte (e o árbitro, diga-se de passagem) estava do nosso lado. Sobretudo quando chegou o prolongamento e Portugal parecia resignado a aguentar os chilenos, à espera do desempate final. José Fonte cometeu uma falta para grande penalidade que, por algum motivo, escapou ao vídeo-árbitro (provando que este ainda possui muitas arestas por limar).
O caso mais caricato, contudo, ocorreu em cima do final do prolongamento: um lance em que a bola bateu duas vezes nos ferros portugueses.
Eh pá, lembram-se de quando os postes costumavam ser os nossos maiores adversários?
O Rui Patrício até se riu após esse lance. Mas quem ri por último…
É a terceira vez que escrevo sobre desempates por grandes penalidades. Volto a dizer que não acredito na corrente de que os penáltis são cem por cento lotaria. Sobretudo depois deste jogo.
A sério, pessoal. Acham mesmo que uma equipa falha três penáltis seguidos por azar? Tenham juízo!
Conforme já referi duas vezes antes, na minha opinião, os penáltis são quarenta por cento perícia, trinta por cento estado psicológico e emocional, trinta por cento sorte. Ricardo Quaresma pode ter falhado o primeiro penálti por falta de sorte, admito. Mas depois disso deu-se o efeito bola de neve.
João Moutinho tem um conhecido historial de penáltis falhados – afinal de contas, Cristiano Ronaldo teve de encorajá-lo, num momento que já se tornou icónico, aquando das grandes penalidades contra a Polónia, no ano passado. No entanto, neste jogo, perante o falhanço de Quaresma, não me surpreendeu que tivesse sucumbido à pressão. Nem que o mesmo tenha acontecido a Nani.
Depois do jogo, debateu-se se Cristiano Ronaldo deveria ter batido o primeiro penálti, tal como tinha feito aquando do jogo com a Polónia. Eu sou da opinião de que devia. Nos quartos-de-final do Europeu, foi importante termos tido o Capitão dando o exemplo aos colegas, sobretudo a Moutinho. Além disso, da outra vez em que tínhamos caído nas grandes penalidades, Ronaldo também não chegou a bater a sua. Não me parece que tenha sido coincidência. Como tal, não compreendo que não tenhamos começado pelo Ronaldo nestes penáltis.
A única explicação que me ocorre é que Fernando Santos quis apostar nos jogadores suplentes, menos desgastados.
Por outro lado, também admito que não fosse certo que Cristiano Ronaldo tivesse acertado o primeiro penálti. Além disso… o Quaresma é um dos mais experientes do grupo. Ele devia ter marcado.
Havemos de voltar a falar sobre penáltis mais à frente.
Não, Portugal só se pode culpar a si próprio por este desfecho. Não apenas pela maneira como abordou os penáltis, mas também por ter sido demasiado conservador ao longo dos cento e vinte minutos de jogo. Quase todos concordam que a Seleção tinha capacidade para ir à final e lutar pelo título. Podemos ter desperdiçado uma oportunidade única. Não só porque será difícil Portugal voltar a Qualificar-se para uma Taça das Confederações, como também porque talvez esta tenha sido a última edição da prova.
No entanto, há que recordar que isto é “apenas” a Taça das Confederações: uma prova a respeitar, mas que não tem o mesmo prestígio que um Europeu ou Mundial. Até agora, seleções que vencem a Taça das Confederações nunca venceram o Mundial do ano seguinte. Tal como referiu António Tadeia, um dos possíveis motivos será a tentação dos selecionadores em apostarem na mesma equipa e/ou na(s) mesma(s) tática(s) que resultara bem antes – quando, se calhar, os jogadores já não têm o mesmo rendimento que um ano ou dois antes e a(s) tática(s) não são adequadas àquela estrutura de prova e àqueles adversários.
Em linha com isso, prefiro que a Seleção Portuguesa e Fernando Santos tenham cometido esses erros nesta prova, em vez de os terem cometido num Europeu ou Mundial. Pode ser que aprendamos a não depender demasiado da tática do Euro 2016. Até porque, agora, temos jogadores como André Silva, Bernardo Silva, Gelson Martins – bons para jogar ao ataque.
Antes das alegações finais, falemos do jogo pelo terceiro lugar, contra o México… outra vez.
Confesso que não estava particularmente interessada neste encontro. Jogos pelo terceiro lugar são um bocadinho fúteis. Chegam mesmo a ser cruéis para os jogadores: estes estão cansados, deprimidos por terem falhado a final, talvez com saudades e casa, das respetivas famílias. O bronze não é grande motivador. Eu mesma já pensava assim aquando do Mundial 2006.
Curiosidade: o jogo pelo terceiro lugar foi abolido em Europeus em 1980 por (segundo o livro A Fúria do Euro, de Michael Coleman) o encontro dessa prova, entre a Itália e a Checoslováquia, ter sido uma seca – o desempate por grandes penalidades ficou em 9-8, a favor da Checoslováquia.
Por sua vez, a Seleção deixou bem claro o investimento que faria no jogo quando dispensou Cristiano Ronaldo para que pudesse conhecer os filhos.
Confesso que essa decisão me deixou desconfortável. É certo que os filhos nasceram há pouco tempo e que Ronaldo abdicou de ir vê-los mais cedo. Mas ele não é o único com filhos e outros compromissos familiares entre os Marmanjos. O Rui Patrício, por exemplo, tem um filho com menos de um ano e uma filha por nascer. Pizzi tem um filho com um ano de idade e adiou a sua lua-de-mel para vir à Taça das Confederações. Porque não tiveram eles, também, direito a dispensa?
Incomoda-me ainda mais o discurso de alguns dos protagonistas da Seleção, dando a entender que devíamos estar gratos por Cristiano Ronaldo nos ter feito o especial favor de comparecer na Taça das Confederações.
Tudo isto são precedentes perigosos. Receio que, um dia, tudo isto se volte contra os responsáveis pela Seleção.
Regressando ao jogo com o México, nesse dia, tive pessoas em casa a almoçar. Como tal, nem sempre consegui acompanhar o jogo como deve ser, sobretudo durante a segunda parte.
Conforme era de esperar, Portugal alinhou com um onze com oito alterações em relação ao jogo com o Chile (destaque para Pizzi e Gelson Martins a titulares). Entrámos melhor que no primeiro jogo com o México (não que fosse difícil), claramente por cima, mas incapazes de acertar com a baliza.
Um bom exemplo da nossa falta de acerto foi o penálti assinalado a favor de Portugal, aos dezasseis minutos, que André Silva desperdiçou – ainda a bola de neve que começara no jogo com o Chile.
Como toda a gente sabe, nestas coisas, que não marca sofre. E acabámos por ser nós mesmos a boicotar-nos, via auto-golo de Luís Neto, no início da segunda parte.
Tal como referi acima, não consegui prestar muita atenção durante esse período do jogo. Consta que Portugal continuava a desperdiçar oportunidades. A partir de certa altura, resignei-me: não me apetecia estar a sofrer por um mísero terceiro lugar.
Os Marmanjos não pensavam assim, felizmente. Desse modo, Pepe acabou por obrigar os mexicanos a provarem do seu próprio veneno, ao marcar um golo no tempo de compensação.
Nunca me vou cansar da celebração de Pepe, beijando as Quinas que traz no peito. É por estas e por outras que o adoramos e lhe vamos perdoando a sua cabeça quente.
O jogo foi, desse modo, a prolongamento. Outra vez. Por motivos óbvios, ninguém do lado de Portugal queria ir a penáltis. Eu mesma quase preferia que os mexicanos marcassem, só para nós pouparem à vergonha.
Não foi preciso, graças a Deus. Perto do fim da primeira parte do prolongamento, foi assinalado pénalti a favor de Portugal. Desta vez, estava já Adrien Silva em campo – um perito na marca dos onze metros, mais experiente e, pelos vistos, melhor a lidar com a pressão que André Silva (são muitos “Silvas" na Turma das Quinas…). Assim, foi chamado a bater o penálti e, ao contrário de quatro dos seus colegas, não perdoou.
Ainda bem. De outra maneira, a bola de neve podia prolongar-se até aos próximos jogos da Seleção.
Dizia eu antes que não planeava sofrer pelo terceiro lugar. No entanto, agora que estávamos em vantagem no marcador, queria que a mantivessem, claro.
Não foi fácil. O Nelson Semedo arranjou maneira de ver o segundo amarelo e Portugal ficou obrigado a segurar a vantagem em inferioridade numérica (Gelson acabou como lateral direito). O que nos valeu foi Jiménez, que teve a bondade de repôr a igualdade numérica… após entrada dura sobre o colega de equipa, Eliseu (não se faz…).
Os mexicanos não deixaram de tentar o empate. A certa altura quase se pegavam com o árbitro, após um lance duvidoso. Chegaram a bater um livre em que o guarda-redes mexicano, Ochoa (que se parece imenso com o Ted Mosby, de How I Met Your Mother), se veio juntar à barreira (sempre achei piada a essas ocasiões).
Mas a vitória já não escapou a Portugal. A Seleção ganhou, assim, a medalha de bronze.
E sabem uma coisa? Estou satisfeita. Chegar às meias-finais de qualquer prova é sempre bom. Tínhamos meios para ir mais longe, sim, mas não há que ter vergonha do percurso que fizemos na Taça das Confederações – até porque esta foi a nossa primeira vez na competição.
Agora o importante é aprender com os erros cometidos, sobretudo no jogo com o Chile, e apontar baterias para o Mundial. Podemos ter perdido agora, mas voltaremos! No próximo ano haverá Mundial na Rússia e Portugal estará lá. Não perdem pela demora.
Um agradecimento a todos os que acompanharam o percurso da Seleção na Taça das Confederações comigo, quer através deste blogue, quer da página de Facebook.
No próximo dia 3 de junho, a Seleção Portuguesa de Futebol receberá a sua congénere cipriota, no Estádio António Coimbra da Mota, no Estoril, em jogo de carácter particular. Seis dias depois, a Seleção desloca-se à Letónia, para um jogo da Qualificação para o Mundial 2018.
Fernando Santos divulgou os Convocados para estes jogos – bem como para a Taça das Confederações – na passada quinta-feira, dia 25. A lista não trouxe grandes surpresas, mas não deixou de causar alguma controvérsia. O principal motivo prende-se com a ausência de Éder, o herói da final do Europeu.
Ninguém pode negar que a polémica é cem por cento emocional – Éder marcou pouquíssimos golos esta época, no Lille. O próprio Fernando Santos, igual a si próprio (e ainda bem!), não deixou de assinalar a hipocrisia: “Quando ninguém acreditava no Éder, quem é que o levou? No último ano [em que o ponta-de-lança contava cinco ou seis golos marcados pelo Lille desde janeiro], nesta mesma sala, perguntavam-me porque é que eu o tinha Convocado...”
Dito isto, o Selecionador deixou bem claro que não deixou de confiar no Éder só porque o deixou de fora desta Convocatória.
Ninguém fica feliz por o Éder ficar de fora da Taça das Confederações. Uma grande parte de mim pensa que isto é profundamente errado, quase uma blasfémia. É provável que Fernando Santos se sinta da mesma forma – sou capaz de apostar, até, que Éder só foi incluído em Convocatórias anteriores por este motivo, só porque o Selecionador não queria excluir o herói de Paris.
No entanto, isto é a Taça das Confederações. Não há espaço para sentimentalismos. Fernando Santos não ia deixar André Silva (que tem marcado regularmente pela Seleção nesta última época) para dar lugar a um jogador, cujo único argumento a favor é “marcou um golo importantíssimo no ano passado”. Custa-nos a todos – o próprio Fernando Santos admitiu-o – mas não há volta a dar.
Também tem sido comentada a ausência de Renato Sanches, mas essa é ainda menos inquestionável – com tanta boa opção para o meio-campo, não vamos ocupar um lugar com um jogador que, coitado, pouco mais tem feito do que aquecer o banco do Bayern de Munique. Isso tem, aliás, sido usado como argumento para os muitos detratores (vulgo, haters) do Renato (este artigo responde bem a essas críticas).
Tenho uma certa pena por o jovem não vir à Taça das Confederações, depois do papel que teve na conquista do Europeu. Fico, no entanto, satisfeita por ele ter sido chamado por Rui Jorge para o Europeu de Su-21. Não lhe faltarão oportunidades para brilhar nesse campeonato.
Por fim, queria falar sobre os guarda-redes suplentes – terão sido a melhor escolha? Beto tem sido o suplente de Rui Patrício no Sporting e José Sá tem sido o suplente de Iker Casillas no F.C.Porto – ou seja, nenhum deles conta muitos jogos nas pernas. Nesse aspeto, Bruno Varela seria melhor escolha, na minha opinião.
Por outro lado, Beto já não é um novato no que toca à Turma das Quinas, bem pelo contrário. José Sá, por sua vez, foi um dos destaques da Seleção de Sub-21, no Europeu de 2015 – já podia ter vindo antes à equipa principal.
Além disso, sejamos sinceros, nestes campeonatos é raro os guarda-redes jogarem – o Mundial 2014 foi a exceção. Eu mesmo podia ter sido Convocada como guarda-redes suplente de Rui Patrício e pouca diferença faria.
Exceto para mim, claro. Fazer parte da comitiva da Seleção num campeonato destes? É o sonho!
Desde que não me obrigassem a participar nos treinos. Eu mal conseguia sobreviver às aulas de Educação Física no ensino básico e secundário, imaginem-me num treino de futebol profissional…
Enfim, voltemos à realidade.
Aquando da Divulgação dos Convocados, Fernando Santos disse que, para já, não quer falar sobre a Taça das Confederações. Neste momento, a prioridade é o jogo com a Letónia. Nós, aqui, já falámos sobre as Taça das Confederações no texto anterior, de qualquer forma. Hoje falamos sobre os outros jogos.
No sábado temos, então, o particular com o Chipre. Os nossos jogos mais recentes com os cipriotas ocorreram durante a Qualificação para o Euro 2012 – embora não tenha podido ver nenhum dos dois jogos. O nosso historial com o Chipre é francamente positivo. O pior resultado foi um empate a quatro golos, em setembro de 2010, em pleno caso Queiroz – outra altura excecional.
Já que falamos em alturas excecionais, gostava de referir que, ao longo deste último ano, tenho feito questão de reler textos antigos deste blogue, escritos aquando dos piores períodos da Seleção nestes últimos tempos – como o caso Queiroz e o Mundial 2010. Por vários motivos. Um deles é para apreciar o quão longe chegámos desde essas alturas. O Mundial 2014, por exemplo, foi há apenas três anos.
No entanto, o principal motivo pelo qual procuro recordar esses períodos é para não tomar a atual maré alta como garantida. Para me recordar do quão difícil foi chegar cá, as dificuldades que foi necessário.
Eu, de resto, recomendava esse exercício a mais pessoas – os portugueses têm memória curta.
Regressemos ao presente. Queria chamar a atenção para um pormenor curioso: o particular com o Chipre realiza-se no mesmo dia que a final da Liga dos Campeões. Yep. Já não bastou ter tido um jogo de clubes e um de seleções no mesmo fim de semana, como no ano passado – agora vão ser no mesmo dia.
A sério. Quem é o responsável por estes calendários? Qual é a ideia deles?
O que vale é que os jogos são a horas diferentes (mas não me admirava se isso mudasse no próximo ano). O jogo com o Chipre começará às quatro da tarde – o que, aliás, não me dá muito jeito, pois não estarei em casa. Vou poder, no entanto, acompanhar o jogo pela rádio. Como não espero um jogo muito interessante, não me queixo.
Outra consequência de o jogo coincidir com a final da Liga dos Campeões é a ausência de Pepe e Cristiano Ronaldo deste jogo, bem como dos primeiros dias de estágio da Seleção – já que o Real Madrid se apurou para esta final. Por esta altura, estas ausências dos madrilenos já fazem parte da rotina. Este ano temos, aliás, uma vantagem relativamente a 2014 e 2016 – segundo consta, Zidane terá conseguido convencer o Cristiano a poupar-se, de modo a não chegar demasiado desgastado ao fim de época.
Durante muitos anos guardei um certo ressentimento para com Zidane, por nos ter expulsado do Mundial 2006 com um penálti duvidoso e provar, com a cabeçada a Materazzi, que não merecia estar na final. Depois desta, no entanto, sou capaz de lhe perdoar tudo. O joelho esquerdo do Ronaldo já nos tirou anos de vida suficientes!
Como já vai sendo hábito, já que Pepe e Cristiano estão na final da Champions, todos desejamos que a vençam… outra vez. Para poderem juntar mais um título ao currículo, para que eles venham animados para o estágio da Seleção, motivados para os próximos desafios da Equipa de Todos Nós.
O primeiro desses desafios é o jogo com a Letónia, no dia 9 de junho. A história tem sido sempre a mesma em todas as jornadas desta Qualificação: para continuarmos na luta pelo primeiro lugar, a vitória é a única opção. E, como os nossos rivais suíços vão jogar contra… as Ilhas Faroé, não me parece que seja desta que eles tropecem.
Portugal ganhou todos os jogos que disputou com a Letónia. No entanto, se bem se recordam, a Letónia fez-nos suarno jogo de novembro passado. Os letões estão ao nosso alcance, ninguém o questiona – desde que os portugueses estejam com a cabeça no lugar.
A Seleção tem estado a preparar estes jogos desde o início da semana. Tal como já aconteceu há um ano, antes do Euro 2016, esta primeira semana é mais leve, com os jogadores chegando à Cidade do Futebol em alturas diferentes e a regressarem a casa após os treinos. Tudo indica, no entanto, que a Seleção estará na máxima força quando for jogar contra a Letónia.
Estes dias são, de resto, apenas o início de várias semanas de Seleção. Se tudo correr bem, será um mês inteiro a partir de agora – até à final da Taça das Confederações, dia 2 de julho. Ainda não estou cem por cento em modo Seleção, mas hei de lá chegar muito em breve. De qualquer forma, todos desejamos o mesmo: que estas semanas terminem com mais um final feliz para a Equipa de Todos Nós.
Na próximo domingo, dia 13 de novembro, a Seleção Portuguesa de Futebol receberá a sua congénere letã, no Estádio do Algarve, em jogo a contar para a Qualificação para o Campeonato do Mundo da modalidade.
Fernando Santos apresentou os Convocados para este jogo na semana passada. Não há novidades, tirando a Inclusão de Luís Neto para substituir o lesionado e castigado Pepe. João Moutinho também falhou a Convocatória por motivos físicos.
Não há assim muito a dizer sobre esta fase do campeonato. A Letónia ocupa o quinto lugar da tabela classificativa do grupo B, com a penas uma vitória (frente à Andorra). O nosso historial frente a esta seleção é exemplar: quatro jogos, quatro vitórias. Só me recordo dos dois mais recentes, durante a Qualificação para o Mundial 2006. O primeiro, em setembro de 2004, teve um momento engraçado, quando uma mulher em cuecas invadiu o jogo, durante a segunda parte. Até Luiz Felipe Scolari, o Selecionador Nacional na altura, se riu. Coincidência ou não, poucos minutos mais tarde, Portugal marcou os dois golos da vitória, quase de seguida: o primeiro de Cristiano Ronaldo, o segundo de Pedro Pauleta. Nada como uma mulher nua para dar inspiração...
O segundo jogo, em outubro de 2005, o último desse Apuramento, serviu apenas para cumprir calendário - a Qualificação havia sido selada no jogo anterior, frente ao Liechtenstein. Portugal ganhou por três bolas sem resposta - duas de Pauleta, uma de Hugo Viana. Foi, aliás, neste jogo que Pauleta ultrapassou o recorde de Eusébio. O açoriano foi o melhor marcador de sempre pela Seleção durante oito anos e meio até Cristiano Ronaldo arrebatar-lhe esse recorde.
Com tudo isto em conta, é pouco provável que a Letónia nos coloque muitos problemas, para além do habitual "autocarro" à frente da baliza. Portugal continua obrigado a ganhar para se manter na luta pela primeira posição na tabela, ocupada pela Suíça. É pouco provável que os suíços escorreguem nesta jornada, pois vão jogar com as Ilhas Faroé, em casa, onde bastante fortes - nós mesmos pudemos comprová-lo. Não há volta a dar, acho que vamos andar colados aos calcanhares suíços até os reencontrarmos no último jogo de Qualificação. Quem nos mandou adormecer à sombra da Henry Delaunay?
Tirando esse deslize, estamos prestes a encerrar o nosso melhor ano em termos de Seleção. Sagrámo-nos Campeões Europeus em julho e continuamos a colher os frutos. Cristiano Ronaldo está entre os finalistas tanto da Bola de Ouro como do Melhor Jogador do Ano da FIFA (prémios que, a partir de este ano, deixaram de ser um só). Não que outra coisa fosse de esperar - Ronaldo é convidado recorrente na cerimónia anual da FIFA desde 2009. No entanto, esta nomeação tem um sabor que mais nenhuma outra tem: por ter sido à custa, pelo menos em parte, do primeiro título da Seleção Portuguesa.
Título esse que também possibilitou a Pepe e... a Rui Patrício serem nomeados para a Bola de Ouro. Destaco a nomeação do guarda-redes português, pois eu não estava à espera. Não que ache que não seja merecida - bem pelo contrário. É a confirmação do estatuto de Rui Patrício como guarda-redes de classe mundial - algo que eu há muito que sei que ele é, sobretudo depois da final de Paris.
Por sua vez, a nomeação de Fernando Santos para Treinador do Ano da FIFA era algo em que eu pensava já poucas semanas após o Europeu. No entanto, achava pouco provável, demasiado bom para ser verdade. Mas não é. Fernando Santos está entre os nomeados e consta que tem boas hipóteses. O Selecionador diz que esta nomeação é produto do trabalho, não só dele, mas também de inúmeras outras pessoas na Federação Portuguesa de Futebol, começando pelo seu presidente, e também que é um prémio "dos portugueses" , que é mais um reflexo de Portugal se ter sagrado Campeão Europeu.
Até a campanha de marketing da Federação, com o slogan "Não somos 11, somos 11 milhões", lançada em vésperas do Euro 2016, está nomeada para um prémio da UEFA. Se o mereceu é questionável, na minha opinião - conforme escrevi na altura, eu gostei, mas faltou-lhe um bocadinho de subtileza em certos momentos, sobretudo no que diz respeito ao Tudo o Que Eu te Dou, Somos Portugal. No entanto, cumpriu o seu objetivo, Portugal ganhou o Euro 2016. Tudo acaba por desaguar no nosso primeiro título.
Gosto, aliás, de pensar que este título acabou por contagiar os restantes escalões das seleções portuguesa e vice-versa - 2016 está a ser um ano excelente para a Federação. Destaco a Seleção Feminina, que se Apurou pela primeira vez para o Europeu. Tentarei acompanhar esse campeonato, no próximo ano - já devia ter alargado os meus horizontes e dado atenção ao futebol feminino há mais tempo.
Estas nomeações todas confirmam o bom período de que falei antes. Neste momento, o meu desejo é encerrar 2016 com chave de ouro: ou seja, uma vitória que nos mantenha presos aos calcanhares suíços e à luta pelo primeiro lugar. Tal como nos jogos anteriores, mesmo que os Marmanjos falem em possíveis dificuldades, a vitória está perfeitamente ao nosso alcance, não há desculpas.
O mundo extra-futebol está a mudar e não para melhor. Nos últimos dias, tenho-me agarrado à Seleção para não sucumbir ao desespero e ao cinismo. Quem segue este blogue há uns anos já saberá que vejo a Equipa de Todos Nós como uma fonte de consolo e de esperança. Na verdade, tenho vindo a vê-la como mais do que isso.
Numa altura em que o racismo e a xenofobia se estão a tornar mais comuns, a Seleção Portuguesa representa um país, é certo, mas é constituída por jogadores de várias origens: de Portugal Continental, das Regiões Autónomas, das PALOPs, filhos de emigrantes em França e na Alemanha, o filho de um brasileiro, um brasileiro naturalizado português (mas que ama Portugal e a Camisola das Quinas mais do que, se calhar, muitos portugueses nascidos cá), um cigano. E, dentro da Seleção, ninguém tem problemas com isso, a cor da pele não é um fator. (Isto, para mim, é uma noção básica de civismo, algo que devia ser a norma. Mas, infelizmente, muitos não pensam assim.)
Numa altura em que um medíocre, filho de milionários, sem experiência nenhuma como político, é eleito presidente dos Estados Unidos, os jogadores da Seleção Portuguesa chegaram a onde estão sem favores, por mérito próprio, por diversas vezes construíram a sua carreira do zero. O nosso melhor jogador podia nem sequer ter nascido, passou fome e frio em miúdo, saiu de casa sozinho aos onze anos e, desde essa altura até hoje, sempre trabalhou mais do que qualquer um para chegar a onde está. Ainda continua a fazê-lo, mesmo sabendo que muitos o consideram o Melhor do Mundo.
O autor do golo que nos deu o primeiro título cresceu como um órfão, num lar de acolhimento, e teve dificuldades em estabelecer uma carreira como futebolista (quando estava no 12º ano, treinava sozinho todas as noites, mesmo que fizesse frio ou chovesse). Até há bem pouco tempo, era desprezado pela massa adepta. Ele mesmo calou-os a todos com um golo para a eternidade. Outro jogador de destaque na Seleção afirmou mesmo, numa entrevista, que o futebol o salvou do crime, da droga, mesmo da more. Tudo o que eles têm hoje devem-no a eles mesmos.
Adicionalmente, já ficou mais do que provado que, como grupo, são exemplares, sobretudo como se viu no Europeu. Momentos como o Ronaldo chamando o João Moutinho para os penálties frente à Polónia; Bruno Alves indo ter com o Ronaldo, enquanto este era levado de maca para os balneários; este último andando entre os colegas entre os colegas antes do prolongamento e no intervalo deste para lhes dar força; dizendo ao Éder que ele marcaria o golo da vitória; mais tarde, já depois do golo, enviando Raphael Guerreiro de volta para o campo, depois de ele se ter magoado; oferecendo a Bota de Prata a Nani, já no fim do jogo. Juntem a isto os momentos de cumplicidade e brincadeira que vemos em quase todos os estágios, a recente troca de partidas entre Ronaldo e Quaresma.
Eu sei que parece estranho estar a falar disto agora, mas eu nunca precisei mais de fazê-lo. Numa altura em que, no outro lado do oceano, o medo, o ódio, o elitismo, a ignorância venceram, é mais urgente do que nunca agarrarmo-nos aos valores que os jogadores da Seleção seguem: respeito, cooperação, solidariedade, trabalho, fé, humildade, perseverança. Eu sei que isto é um bocadinho ingénuo mas, numa altura em que o futuro parece tão sombrio, preciso de algo, por pequeno e fútil que seja, que me faça acreditar nas melhores facetas da Humanidade.
Felizmente, o futebol já começou a reagir ao que aconteceu e não desiludiu.
O tempo dirá quais serão as consequências dos eventos da semana que termina agora. Não me vou alongar mais sobre isso, que este é um blogue sobre futebol. Procuro sempre não perder a noção de que o futebol é apenas um desporto, um entretenimento. No entanto, acredito que se mais instituições funcionassem como a Seleção, se mais pessoas seguissem o exemplo dos nossos jogadores, o Mundo seria um lugar muito melhor.