Na madrugada de sexta, dia 6 de junho, para sábado, dia 7, a Seleção venceu a sua congénere mexicana por uma bola sem resposta, num jogo amigável que teve lugar no Gillette Stadium, em Boston. Quatro dias depois, no Met Stadium, em Nova Iorque, a Seleção enfrentou a sua congénere irlandesa e tornou a vencer, desta feita mais expressivamente, por cinco bolas contra uma.
Não escrevi entradas individuais para cada um destes jogos, como costumo fazer, essencialmente por falta de tempo e de material. Quando falo em material, refiro-me à análise ao jogo por parte de um jornal desportivo, no dia seguinte, na qual me baseio para escrever as crónicas. Devido à hora tardia destes últimos encontros, não foi possível aos jornais fazerem uma análise completa aos mesmos, logo, faltaram-me as bases para escrever mais exaustivamente sobre eles.
O jogo com o México, de resto, pouca história teve, assemelhando-se ao do Jamor, contra a Grécia. Neste, o nosso domínio não foi tão constante, os mexicanos estiveram várias vezes por cima, o jogo poderia ter dado para ambos os lados. Só não virou a favor dos mexicanos graças a Eduardo, que fez uma mão cheia de belas defesas, provando merecer estar entre os Convocados - em termos de guarda-redes, a Seleção está bem servida. Numa altura em que aquilo já me parecia uma repetição do sábado anterior, em que considerava que aquelas quase duas horas teriam sido melhor empregues a dormir, João Moutinho bateu um livre, assistindo Bruno Alves para o único golo da partida. Para um defesa, o Bruno anda a marcar bastante pela Seleção. Foi um triunfo pela margem mínima, ao cair do pano, mas que sempre serviu para levantar um pouco a moral.
O jogo com a República da Irlanda foi melhor, esse sim valeu as horas e sono perdidas. É claro que ajudou o facto de os irlandeses estarem uns furos abaixo dos gregos e dos mexicanos, mas os portugueses não deixaram de proporcionar bons momentos de futebol - e não foi apenas o recuperado e regressado Cristiano Ronaldo a brilhar. A partida começou logo bem, com um golo do (para muitos) improvável Hugo Almeida, assistido por Varela. O resto do jogo desenrolou-se mais ou menos da mesma forma, com Portugal em claro domínio. Fábio Coentrão marcou um meio golo, assistindo um infeliz irlandês, que marcou na sua própria baliza. Mais tarde, Ronaldo tentou a sua sorte, falhou, Hugo Almeida foi à recarga e conseguiu marcar.
Muitos podem ter ficado surpreendidos com o desempenho do ponta-de-lança, mas eu não, pelo menos não tanto. Ele já não marcava pela Seleção há um ano, é certo, e chegou a fazer um par de jogos infelizes no passado recente. Eu, no entanto, lembro-me que há uns anos ele marcava com regularidade pela Seleção. Fico satisfeita por esse Hugo Almeida estar, aparentemente, de regresso a tempo do Mundial.
Ao início da segunda parte, eu receava (e quase esperava, pois sempre me daria uma desculpa para parar de ver o jogo e ir dormir) que o rendimento decaísse, sobretudo quando se processassem as substituições. Tal não chegou a acontecer, tirando o golo que sofremos. Para quase toda a gente, tal golo nasceu de uma falha de concentração. A minha irmã, contudo, alega que o livre foi batido antes do tempo, quando os portugueses ainda organizavam a barreira. Quanto a isso, não consigo chegar a nenhuma conclusão, nem mesmo depois de rever as imagens do golo. Apenas dá para ver que, independentemente do motivo, os Marmanjos estavam de facto distraídos durante esse lance.
Muitos esperariam que a saída de Cristiano Ronaldo tirasse qualidade ao jogo. Não foi isso que aconteceu pois, quando saiu Ronaldo, entrou Nani, cheio de ganas, que rapidamente assistiu para os dois últimos golos da Seleção Portuguesa, um de Vieirinha, outro de Fábio Coentrão (que também anda mais goleador do que o habitual, se considerarmos o seu meio golo na primeira parte). Pelo meio, ainda viu um golo anulado após uma linda jogada de tiki-taka por ele protagonizada. Nani dá-nos, deste modo, sinais de que poderá fazer um bom Mundial, algo que, há escassas semanas, me parecia altamente improvável.
Depois de, anteriormente, ter defendido que o empate frente à Grécia não provava nada, seria hipócrita estar agora a dizer que estes dois últimos particulares provam muito mais. Se é de esperar que, numa fase mais avançada da preparação do Mundial, os jogos corram melhor, a verdade é que, há dois anos, Portugal perdeu de forma ridícula com a Turquia mas não deixou de fazer um belo Euro 2012. Viu-se que os portugueses pelo menos parecem empenhados, motivados. No entanto, todos sabemos que, quando for a doer, tudo será diferente.
Será a doer já amanhã, segunda-feira, pelas cinco da tare, hora portuguesa, no Arena Fonte Nova, em Salvador da Bahia, frente à Alemanha. É o segundo campeonato de seleções consecutivo em que nos estreamos com os nossos amigos alemães, que de resto também defrontámos no Mundial 2006 e no Euro 2008. Não guardamos boas recordações de nenhum desses jogos, embora talvez pudéssemos ter guardado do último.
Há uns meses, diria que seria pouco provável ganharmos. Hoje, contudo, não acho que seja assim tão improvável. O jogo do Euro 2012 podia ter-se virado a nosso favor, bastaria aquela bola ao poste do Pepe ter entrado, ou o remate de Varela na segunda parte. Além do mais, o futebol alemão não parece tão ameaçador agora, já que este ano nenhuma equipa alemã atingiu a final da Liga dos Campeões. Também me soa animador o facto de os portugueses do Real Madrid terem sido bem sucedidos frente às várias equipas alemãs que lhes saíram na rifa. Alguns adeptos alemães não parecem, igualmente, muito confiantes na sua seleção. Por fim, os alemães deram a entender em algumas declarações que nos subestimam, com destaque para aquela em que nos comparavam com a Arménia.
Tudo isto, no entanto, não passa de conjeturas, se não forem ilusões. Não alteram o facto de a Alemanha ser, a par da Espanha (isto é, depois do jogo com a Holanda não sei...), Brasil e Argentina, uma das seleções candidatas ao título mundial, tal como o era há dois anos. Portugal pode vencer a Alemanha, mas terá de suar para fazê-lo. Por um lado, gostava mesmo de ganhar este jogo, ou pelo menos de empatar, para não ter de escrever uma crónica intitulada "22 homens atrás de uma bola, a trilogia" e também porque, se conseguíssemos vencê-los, seria um sinal de que até poderíamos ser candidatos ao título. Por outro lado, eu conheço a maneira como a Seleção Portuguesa funciona. Sei que se sai melhor sobre pressão, perante adversários mais fortes ou situações de aperto em termos de classificação. Os Estados Unidos já nos apanharam de surpresa uma vez, o mesmo pode acontecer caso entremos em campo com eles com a atitude descontraída de quem já tem três pontos amealhados. Daí que quase prefira o empate, ou mesmo a derrota.
De qualquer forma, a partir de amanhã, acabarão as teorias, os prognósticos, as apostas. O que quer que aconteça durante o jogo, cada golo, cada falta mal cobrada, cada cartão injustamente atribuído, ficará escrito a tinta-da-china na História. Poderemos, depois, olhar para eles da maneira que quisermos, mas não haverá maneira de mudá-los. Só aí saberemos quem estava certo ou errado, só aí será determinado o verdadeiro valor da nossa Seleção. Já sinto o "bichinho" a morder, a típica mistura de nervosismo e excitação, quando olho para os jogos já ocorridos do Mundial e respetiva repercussão nos media e redes sociais, e me apercebo que, na segunda-feira, seremos nós o objeto das notícias, análises, comentários e piadas.
Conforme tenho repetido inúmeras vezes nos últimos tempos aqui no blogue, não vou poder ver a primeira parte do jogo. Agora que estamos mais perto do mesmo, calculo que poderei ir estando a par d que for acontecendo, quer através do relato radiofónico, quer através de um daqueles sites, que se vão atualizando com os lances, quer, se tivermos sorte, através das das exclamações das pessoas que estiverem a ver os jogos nos cafés da zona. Quando sair, por volta das seis, corro para um desses cafés para ver a segunda parte. Em princípio, será um com wi-fi, por isso, talvez consiga levar o meu computador e ligar-me às redes sociais.
Embora não considere "desonestidade intelectual" pensar o contrário, não acho que Portugal seja candidato ao título, por diversos motivos, alguns dos quais estão listados num artigo que enviei para o Record Online. Contudo, no mesmo também recordo que, no futebol, não há impossíveis, tudo pode acontecer, e Portugal, de resto, possui meios para fazer mais do que esperar por um milagre, possui meios para, como costuma dizer Paulo bento, competir com qualquer equipa, para dar luta. Conforme afirmei no artigo, e já várias vezes aqui no blogue, Portugal pode não ter os melhores jogadores do Mundo, tirando uma exceção bem conhecida, mas estes, quando vestem a Camisola das Quinas - sobretudo em momentos decisivos - funcionam bem uns com os outros, como uma equipa, como um só, elevam-se acima do valor que lhes é cotado. E, conforme afirmei no artigo, chego a depositar mais fé nesse espírito, na garra e determinação dos jogadores, na união entre eles, na sua vontade de fazer bem, que propriamente na sua qualidade técnica ou momento de forma. Esta minha convicção aplica-se tanto à tendinose rotuliana e Cristiano Ronaldo, à falta de ritmo de Nani, à forma duvidosa de Hélder Postiga, às reservas da opinião pública relativamente a jogadores como Vieirinha ou André Almeida.
Encaro este Mundial da mesma forma como tenho encarado os últimos campeonatos de seleções: com as minhas reservas, mas convicta de que tudo é possível, com a esperança de que a coisa corra bem para o nosso lado, de preferência com o título mundial à mistura. A preparação encontra-se à beira do fim, a partir de amanhã é a doer. A ver o que o destino nos reserva. Para já, não tenho mais nada a dizer senão: força Portugal!
O estágio de preparação do Campeonato do Mundo de futebol, que terá lugar no Brasil - estágio esse também conhecido por Operação Mundial - já começou há alguns dias. Mais de uma semana, se considerarmos os três dias de pré-estágio no Estoril. A preparação vai ainda numa fase muito inicial - os portugueses do Real Madrid, Fábio Coentrão, Pepe e, claro, Cristiano Ronaldo só se juntaram à comitiva na quinta-feira - pelo que as coisas têm andado relativamente calmas, em termos mediáticos pelo menos. Só uma ou outra réplica das polémicas em torno da Convocatória. Como já vai sendo hábito, os jogadores que participam nas Rodas de Imprensa adotam discursos tranquilos, prudentes, evitando ao máximo desestabilizar a equipa. Podem não ser os mais interessantes mas, em particular nesta altura do campeonato, ninguém duvida que são os que mais beneficiam a Equipa de Todos Nós. Haverá tempo, sem dúvida, mais adiante, para polémicas, não sentiremos falta delas - pelo menos foi o que aconteceu há dois anos.
Nem sempre me tem sido fácil estar a par do que vai acontecendo, estando eu em estágio (um estágio diferente do da Seleção, claro) das nove às seis. Mesmo não podendo atualizar de imediato a página, gosto - sempre gostei - de ir sabendo destas coisas à medida que vão acontecendo. Ao longo do dia, tento prestar atenção às notícias horárias da rádio. Uma das poucas vantagens de tê-la ligada a título quase constante no meu local de estágio - acreditem, é cansativo. Até Nelson Mandela se cansaria de Ordinary Love se tivessse de ouvi-la tantas vezes quanto eu. Outra vantagem diz respeito aos anúncios alusivos ao Mundial, cada vez mais frequentes - que sempre tornam os irritantes intervalos publicitários um pouco mais suportáveis.
Adicionalmente, quando vou almoçar, tento sempre apanhar as reportagens dos telejornais. A caminho de casa, sintonizo as notícias do desporto na rádio, quando saio a tempo. Vou, também, tentando ir a cafés e esplanadas que tenham A Bola ou o Record, que geralmente têm algo mais que a televisão, a rádio ou a Internet - artigos de opinião, sobretudo. Gosto sempre de lê-los, quer concorde com eles ou não.
Quando chego, finalmente, a casa, ao fim da tarde ou à noite, atualizo a página. É aqui que agradeço ao blogue do meu parceiro, ao tumblr Fuck Yeah Portugal National Team e à página Seleção Nacional de Portugal - estas três fontes têm-me permitido aceder rapidamente a notícias e fotografias sobre a Turma das Quinas, para depois publicar.
Têm sido as fotografias a despertarem-me maior interesse. Sobretudo aquelas que mostram os momentos de galhofa, de bullying, como digo na brincadeira, entre os Marmanjos. Que representam bem uma das facetas de que mais gosto na Seleção: o facto de ser um grupo de amigos, um bromance a vinte e três, como às vezes digo, uma grande família; a maneira como estão sempre a brincar, como uma matilha de cachorrinhos.
Ainda não está a ser bem o verão que antecipei ao longo de semanas. No entanto, não duvido que, dentro de poucos meses, vou sentir saudades destes dias. Sobretudo quando dispuser de mais tempo livre que agora sem ter nenhuma Operação Mundial para seguir.
Por enquanto, a minha disponibilidade reduzida tem-me privado de relativamente pouco. Isso provavelmente mudará à medida que nos formos aproximando do Mundial, mas hei-de arranjar uma solução. Por outro lado, uma grande vantagem da minha falta de tempo e, por vezes, paciência é deixar-me de importar com certas ninharias que surgem nas redes sociais, relativas à Seleção e não só. Tenho, literalmente, mais que fazer.
Entretanto, hoje, pelas sete e meia da tarde, a Seleção Portuguesa recebe no Estádio Nacional a sua congénere grega em jogo de carácter particular. Um encontro em teoria amigável, mas com um adversário que traz demasiadas recordações amargas. A malfadada final do Euro 2004 na Luz, o título que deveria ter sido nosso, que tinha tudo para ser nosso, mas que deixámos escapar. Uma oportunidade que não se tornou a repetir e que, provavelmente, não se repetirá nunca. Chegámos a defrontá-los de novo em 2008, pouco antes do Europeu, mas tornámos a perder, desta feita por 2-1 (foi um ano estranho aquele...).
Não nego que sinto uma certa vontade de ajustar contas com os gregos, ainda que apenas na teoria - é apenas um particular, obviamente não nos vai devolver a Taça e nem sequer nos dará três pontos. Por outro lado, os gregos acabaram por ganhar a minha simpatia por, entre outros motivos, serem treinados pelo português Fernando Santos e pela atitude que demonstraram no Euro 2012. Já não lhes guardo nenhum ressentimento em particular (o erro de 2004 foi nosso) e desejo-lhes a melhor das sortes para o Mundial - excepto caso se cruzem connosco, evidentemente.
O jogo terá lugar no Estádio Nacional, no Jamor, uma arena com grande simbolismo para o futebol português, e estará integrado nas comemorações do centenário da Federação Portuguesa de Futebol. Consigo compreender esta escolha visto que, para mim, é uma das casas da Seleção, se não for "a" casa. Sobretudo ao longo dos últimos anos, em que tenho lá ido assistir aos treinos abertos. Além disso, acredido que, se algum dia conseguirmos ganhar um Europeu ou Mundial, será lá que a Seleção festejará com os seus adeptos.
A desvantagem continua a residir os fracos acessos, tanto em termos de entradas para o Estádio - depois do que aconteceu na final da Taça de Portugal, espero que as pessoas tenham a sensatez de chegarem com antecedência - como em transportes públicos.
Seria bom deixarmos este demónio exorcizado, dentro do possível, a tempo do Mundial. No entanto, duvido que os Marmanjos estejam para aí virados. Nos primeiros particulares dos estágios de 2010 e 2012 (com o Cabo Verde e a Macedónia, respetivamente) não estiveram e ambos acabaram sem golos. Como se tal não bastasse, bem como a experiência de muitos outros particulares, desta feita temos metade da Seleção em momentos de forma duvidosos. Já se sabe que Pepe e Ronaldo não jogam (estou a mentalizar-me de que o madeirense será uma dúvida constante até ao nosso primeiro jogo no Brasil, se não mesmo depois disso). Não me parece que os jogadores queiram arriscar lesões que os afastem do Mundial. Pode ser que o nome e o simbolismo do adversário tenham algum peso. Mas não sei se será suficiente.
Espero que o seja para, pelo menos, fazerem um jogo decente. Invariavelmente, eu peço uma vitória, mesmo que não venha acompanhada de uma boa exibição. Até porque, durante o jogo, homenagearão Eusébio e Mário Coluna, ficaria bem honrá-los com um bom resultado. No entanto, se tudo isso falhar, ao menos que sirva para nos prepararmos para o Mundial. Que todos esperamos que seja inesquecível pelos melhores motivos.
Na passada segunda-feira, 19 de Maio, pouco após as oito e um quarto da noite, Paulo Bento anunciou os vinte e três Convocados para representar Portugal no Mundial 2014.
A cerimónia contou com uma certa pompa e circunstância quanto baste e começou com um discurso do presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Fernando Gomes. Neste, o presidente teceu rasgados elogios ao atual selecionador. Agora compreende-se que Fernando Gomes pretendia dar publicamente o seu voto de confiança a Paulo Bento, antes de uma Convocatória que, como todas as outras, causaria contestação. Na altura, contudo, ansiosa como me sentia, só pensava: "Ó senhor Presidente, ninguém quer saber! Deixe o Paulo Bento dizer os Convocados, que nós não podemos esperar mais!"
Acabou por não ser Paulo Bento a dizê-los, estes foram-nos apresentados sob a forma de vídeo:
Com este formato, houve tempo para digerir cada um dos nomes à medida que estes iam sendo anunciados. De uma maneira geral, eu aprovava cada um deles. Fui apanhada de surpresa pela inclusão de nomes como Rafa, Éder e Vieirinha. Senti um prazer culpado com as Chamadas dos meus adorados Hélder Postiga e Nani. Só mais para o fim do vídeo é que fiquei à espera do nome de Ricardo Quaresma mas a apresentação terminou antes que este fosse anunciado. Lembro-me de fitar o símbolo da Federação no fim do vídeo e pensar: "Oh não, ele não fez isto..." Não se pode, contudo, dizer que hajam grandes surpresas na Convocatória. Para mim, a maior surpresa foi mesmo a exclusão de Quaresma, que não consigo mesmo compreender, por muito que me esforce. De uma maneira geral, Paulo Bento referiu dois critérios para justificar as suas escolhas: polivalência e estabilidade emocional. Não sou, nem de longe nem de perto, a pessoa mais habilitada para falar sobre o primeiro aspeto, que terá justificado as inclusões de Rafa, Rúben Amorim e André Almeida, bem como a exclusão de Adrien. Quanto à estabilidade, à confiança, compreende-se. Paulo Bento chegou mesmo a enviar uma indireta a Danny quando referiu ser "preferível levar jogadores com vontade, determinação e compromisso". Para ser sincera, por muito boa vontade que tenha anteriormente demonstrado para com Danny, estava a ficar farta das confusões dele. De uma forma quase inconsciente, fiquei aliviada quando ele nem sequer entrou na pré-Convocatória. Nesta, concordo com Paulo Bento.
O caso de Quaresma - que, coitado, deve estar a ter um dejá-vu de 2006 - na minha opinião, é diferente de Danny. É certo que o jogador do F.C. Porto continua algo imaturo, apesar dos trinta e um anos, mas ao ponto de não merecer ir ao Mundial? Tenho as minhas dúvidas. É aqui também que reside a grande incoerência de Paulo Bento. O Selecionador alega que Quaresma esteve um ano e meio sem jogar, só se tornando selecionável nos últimos dois ou três meses. No entanto, tal situação não difere muito da de metade da Convocatória que, como tem sido ampla e jocosamente comentado nas redes sociais, falhou parte da época por lesão. Ainda que Paulo Bento afirme que Nani tem características diferentes de Quaresma, que o primeiro não esteve um ano e meio sem jogar, como o segundo, em termos práticos, na minha opinião, Quaresma fez mais pelo seu clube nos três ou quatro meses que jogou que Nani fez pelo dele desde o Euro 2012. Até Carlos Mané merecia mais estar no Mundial que Nani, nesse aspeto pelo menos - é claro que não é a decisão mais sensata um jogador de dezoito ou dezanove anos estrear-se pela Seleção num Mundial.
Não sou, contudo, verdadeiramente capaz de contestar nem a Chamada de Nani nem a de Hélder Postiga. Estive em conflito comigo mesma durante as últimas semanas pois, se tanto as lesões de Postiga como a falta de ritmo de Nani me exasperavam, a verdade é que não queria o Mundial sem dois dos meus jogadores preferidos, mesmo que não fossem titulares. Passa-se um bocadinho o mesmo com o Eduardo. Não seria justo eu estar a criticar os outros casos de momentos de forma duvidosos. Desse modo, tirando a situação de Quaresma, não tenho muito mais a apontar a esta Lista Final. No entanto, não nego que isto se torna injusto para outros jogadores selecionáveis, com ritmo de jogo e comprovada qualidade, que ficaram de fora deste campeonato. Paulo Bento aparenta dar prioridade aos aspetos psicológicos, em detrimento, um pouco, dos aspetos técnicos. Tem a sua lógica: de nada serve termos trunfos no baralho que não temos maneira de utilizá-los. Ninguém pode negar que Marmanjos como Nani, Postiga, Eduardo e outros que tais sempre mostraram empenho quando vestem a camisola das Quinas. Vão na linha dos jogadores, de que falei anteriormente, que se saem melhor pela Seleção que pelos clubes. Não esquecer o caso de Nani que tem aquele talento que o Selecionador "não se dá ao luxo de desperdiçar", tal como afirmou há um ano. Ainda deve haver tempo para os "lesionados" (Ronaldo incluído) recuperarem até ao Mundial e, de qualquer forma, duvido que muitos desses venham a ser titulares. Mas até que ponto, contudo, conseguirão as pernas acompanhar a vontade de fazer bem?
Eu confio em Paulo Bento, apesar de todas estas dúvidas. Tal como o disse antes da Convocatória, acredito que ele sabe o que está a fazer, que ele saberá tirar o melhor proveito dos jogadores que Escolheu, colocando-o ao serviço de Portugal. Como sempre, têm sido tecidas várias críticas a esta Convocatória, umas mais construtivas do que outras. Há dois anos, as mais destrutivas ter-me-iam enfurecido. Hoje, apenas me despertam indiferença. Tal como já referi anteriormente, caso o Mundial nos corra de feição, todas essas alminhas aziadas se esquecerão desses comentários e juntar-se-ão à festa, como se nunca tivessem duvidado da Turma das Quinas. Citando João Querido Manha, "a partir de agora, esta é a Seleção de Portugal, é a Seleção de todos nós". Tudo o resto é irrelevante.
Tirando os portugueses do Real Madrid (não sei se Vieirinha já chegou), a Seleção encontra-se já reunida em Cascais, tendo já começado a Operação Mundial. É lá que o meu coração se encontra sediado. Tal como na próxima semana estará sediado em Óbidos, depois em New Jersey, nos Estados Unidos, até finalmente aportar em Terras de Vera Cruz. Apesar de, segundo o que disse anteriormente, o Verão ter começado na segunda-feira, a verdade é que o tempo piorou desde esse dia. Não faz mal. Agora, que estamos finalmente em Modo Seleção, o Sol arranjará sempre maneira de brilhar por entre a chuva, tal como reza um dos temas da minha playlist da Equipa de Todos Nós. E é meu desejo que este período abençoado se prolongue o mais possível.
Cá vamos nós outra vez. Amanhã, dia 19 de maio, Paulo Bento, o Selecionador Nacional de Futebol
anunciará os Convocados para representar Portugal no Campeonato do Mundo da modalidade, que se terá início dentro de pouco menos de um mês, no Brasil.
Quem acompanha este meu blogue há algum tempo saberá, certamente, que para mim este é sempre um dia especial, o dia em que o Mundial começa. Já usei várias metáforas para explicá-lo, hoje usarei mais uma - que poderão já ter visto na minha página. Uma vez que, durante os períodos em que a Seleção Nacional se encontra reunida, quebra-se um pouco a monotonia da rotina, a vida ganha mais cor, como se o Sol brilhasse mais. Daí que sinta que o verão começa, não daqui a um mês, e sim já amanhã.
Há pouco menos de uma semana, no dia doze, este blogue, O Meu Clube é a Seleção, completou seis anos online. Pena o Anúncio dos Convocados não ter ocorrido naquele dia, como pensei que ocorreria da primeira vez que olhei para o calendário de 2014, para o aniversário ser perfeito. Mas não faz mal, porque assim vai ocorrer exatamente seis meses após a épica segunda mão dos playoffs com a Suécia. Não tenho nada a dizer sobre estes seis anos que não tenha dito anteriormente, tirando apenas que nunca, por um único momento, me arrependi de ter criado este blogue nem senti vontade de desistir, nem mesmo quando me apercebo da fraca audiência. Enquanto tiver disponibilidade, manterei o blogue. Disponibilidade, essa, que já será um problema ao longo deste Mundial. Há dois anos, no Euro 2012, quase nunca me faltou tempo para atualizar a página nem ara escrever no blogue. Agora, no entanto, conforme já disse aqui, estou a fazer estágio das nove às seis, logo, não tenho tanto tempo. Não se admirem, portanto, se as crónicas forem reduzidas e/ou demorarem a ser publicadas.
Não acredito que isso seja muito grave, pelo menos durante as primeiras semanas - se for como há dois anos, esse será um período mais morno. O pior será o facto de, por causa do meu horário, ir perder a primeira parte dos jogos com a Alemanha e o Gana. Hei de arranjar maneira de ir acompanhando, dentro do que me for possível, o que acontecer durante esses quarenta e cinco minutos. Mas chateia-me não poder vê-los como deve ser. Afinal de contas, o Mundial só vem de quatro em quatro anos.
Este ano, para além de se comemorar o centenário da Federação Portuguesa de Futebol, faz dez anos desde o Euro 2004. O que significa que acompanho de perto a Seleção há pelo menos uma década. Dez ano de alegrias e tristeza, triunfos e desilusões, sonhos, esperanças. Três selecionadores, cinco fases finais, cinco Apuramentos, inúmeros Marmanjos, muitos que chegaram e partiram passando quase despercebidos, muito que se destacaram, ou por fases, ou a título quase constante, centenas de jogos. A Seleção entranhou-se de tal maneira em mim que já faz parte, de certa forma, dos meus ritmos biológicos, já se tornou quase uma dependência física - ao ponto de, conforme já o referi várias vezes aqui no blogue, desenvolver sintomas de abstinência em períodos de poucas notícias sobre a Equipa de Todos Nós. E, por muito que certos aspetos venham a tornar-se repetitivos, cada jogo é único, com os seus próprios protagonistas, as suas próprias peripécias, pelo que ainda não me canso deles.
Esta é a quarta fase final que acompanho neste blogue e, apesar de cada um dos três campeonatos anteriores ter tido a sua própria história, hoje sinto-me mais ou menos da mesma maneira que me sentia no início de cada uma das fases finais anteriores: com algumas dúvidas, sem me atrever a sonhar demasiado alto, mas entusiasmada, esperançosa, decidida a encarar um jogo de cada vez, a saborear cada momento.
Com o tempo vou, também, tendo cada vez menos ilusões, vou tendo mais noção de que a equipa atual não é tão forte - ou pelo menos não tão consistente - como equipas anteriores. Por muito que me custe admiti-lo, em 2004 e 2006 tínhamos - adotando uma metáfora que ouvi recentemente - uma Seleção de Liga dos Campeões, hoje temos, mais do que "Ronaldo mais dez", uma Seleção de Liga Europa. Num campeonato como o Mundial, esses detalhes podem fazer a diferença. O período compreendido entre o Euro 2004 e o Mundial 2006 foi o mais consistente de que me recordo na Seleção - os meus dois primeiros anos acompanhando a Equipa das Quinas, daí que me tenha habituado mal. Todas as fases de Qualificação que se seguiram foram um drama, ainda que por motivos diferentes. A falta de opções para além do núcleo duro foi um dos factores que contribuiu para as dificuldades do nosso último Apuranmento. As circunstâncias em 2004 e 2006 eram-nos mais favoráveis que agora.
No entanto, a verdade é que tais circunstâncias não foram suficientes para levantarmos a Taça. E embora continue a achar que tais títulos foram injustamente atribuídos, ando a aprender que a justiça no futebol nem sempre é clara. Não ganha quem joga bem, ganha quem marca e sofre o menos possível, quer isso aconteça por mérito próprio ou por mera sorte. Isto para não falar da cumplicidade de árbitros e dirigentes da alta hierarquia do futebol.
Por outro lado, a Seleção tem vícios quase congénitos, sobretudo no que toca à tendência para sermos o nosso próprio maior adversário, de nos boicotarmos a nós mesmos, perante opositores que, em muitos casos, não nos causariam grandes problemas. Foi algo que se repetiu ao longo deste último Apuramento mas que, na verdade, também aconteceu no mítico Portugal x Coreia do Sul, do Mundial de 66 - pude testemunhá-lo quando o jogo foi transmitido pouco após a morte de Eusébio. Portugal facilitou, enfiou-se num buraco, ficando obrigado a superar-se de uma forma quase milagrosa, liderado pelo Pantera Negra - à semelhança do que aconteceu nos playoffs frente à Suécia, desta feita liderado por Cristiano Ronaldo. Dessas vezes, a coisa correu bem. No Mundial, perante seleções de calibre elevado, contudo, tal complacência pode muito bem representar a morte do artista.
Além disso, não basta uma mão-cheia de individualidades para se fazer uma equipa. Um bom exemplo é o Mundial 2002, que tinha nomes como Figo, Pauleta, Rui Costa, Fernando Couto, João Pinto, Vítor Baía, Sérgio Conceição, mas que teve um desempenho para esquecer, nesse campeonato. Em oposição, temos o Euro 2012, com uma equipa com "mais vulgaridade que qualidade", nas palavras de pessoas certamente bem mais sábias do que eu, que chegou a onde todos sabemos.
Eu quero acreditar que tal não aconteceu por acaso, por sorte, que aquilo foi a regra e não a exceção. Que é possível tal acontecer de novo. Que Paulo Bento tem razão quando diz que, mesmo não sendo favorito, Portugal tem condições para competir com os candidatos ao título (Brasil, Espanha, Argentina, Alemanha...) e mesmo vencê-los. Se por um lado considero que as premissas já nos foram mais favoráveis, por outro receio não tornar a ter uma oportunidade tão boa. Irrita-me o nosso historial de chegarmos a todos os campeonatos de seleções sob o estatuto, mais ou menos assumido, de candidatos ao título quando, na verdade, nunca ganhámos nada, falta-nos sempre aquele "quase". Dez anos depois do primeiro Menos Ais, está na altura de "passarmos à próxima fase", de uma vez por todas. Pode ser até que nos aconteça o mesmo que aconteceu à Espanha, que, depois de tantos anos numa situação semelhante à nossa, ganhou três títulos de seguida... mas não me atrevo a sonhar tão alto. A solução acaba por ser a mesma de sempre: abordar um jogo de cada vez e esperar que Deus, ou a Sorte, ou outra qualquer entidade sobrenatural em que acreditem, seja generoso(a) para connosco.
Já se volta a esse assunto, para já falemos dos Convocados. Este ano, a habitual polémica começou mais cedo, já que, desta feita, a pré-Convocatória foi divulgada pouco menos de uma semana antes da Lista Final. Jogadores como Carlos Mané, Adrien e Cédric foram já excluídos desta primeira Escolha, ao passo que jogadores como André Gomes e Ivan Cavaleiro, que tanto quanto sei jogaram pouquíssimas vezes pelo Benfica esta temporada, foram incluídos na Lista. Ninguém é capaz de compreender tais opções, nem mesmo eu, que nestas coisas, como sabem, tenho sempre muito boa vontade, até demais por vezes. A diferença deste ano em relação a campeonatos anteriores é que, por desde o Euro 2012 andar a acompanhar o futebol de clubes mais de perto, tenho uma ideia mais clara de quem, na minha opinião, merece ser Convocado ou excluído. Admito que não sou cem por cento isenta, à semelhança da maioria das pessoas - afinal de contas, tenho uma sportinguista ferrenha em casa - mas até adeptos de outros clubes contestam a exclusão de, pelo menos, Adrien. Ele e Cédric foram titulares de forma quase constante ao longo da época pelo seu clube, que até não se saiu mal este ano, tendo contribuído mais para o sucesso dele que, por exemplo, André Gomes, André Almeida e Ivan Cavaleiro contribuíram para a bela época que o Benfica fez. E se Ivan Cavaleiro até teve bons momentos - ainda assim, na minha modesta opinião, insuficientes para determinar que ele merece ir ao Mundial - e André Almeida até jogou na reta final do Apuramento, não me recordo de nada particularmente positivo sobre André Gomes, pelo menos não ao ponto de o incluírem na Convocatória. Aliás, durante a final da Liga Europa, não o vi dar uma para a caixa, antes pelo contrário, fartava-se de perder bolas comprometedoras.
Paulo Bento falou, em entrevistas recentes, de jogadores que poderiam ser excluídos por não se encaixarem no plano que ele tem traçado para a Seleção, ou por ele considerar que não têm perfil para vestirem as Quinas. Em contrapartida, referiu também jogadores que se saem melhor pela Seleção do que pelos clubes - não é difícil pensar em exemplos. No entanto, tanto Cédric como Adrien apenas foram Convocados uma vez e, se não estou errada, apenas para substituir habituais titulares ausentes por lesão. Não chegaram a ser utilizados, sequer. Como é que Paulo Bento conseguiu, desta forma, recolher dados suficientes para concluir que estes jogadores não tinham perfil para a Seleção?
A única explicação que me ocorre é André Gomes, Almeida e Cavaleiro já terem percurso nas seleções de formação, percurso esse que Paulo Bento, às tantas, considerou mais relevante que o desempenho de Cédric, Adrien e, também, o guarda-redes Ricardo da Académica - um critério discutível. Até porque o percurso dos rejeitados não deve ser assim tão diferente. Eu não quero entrar no campo das teorias da conspiração, como as que dizem respeito a um qualquer ressentimento de Paulo Bento contra o Sporting ou a um conluio com Jorge Mendes. No entanto, não deixo de achar que o Selecionador deve uma explicação. Estou certa, até, que lha vão pedir (se não exigirem) já no Anúncio dos Convocados.
Por outro lado, admito que, independentemente dos muitos sites por aí que nos permitem brincar aos Selecionadores e fazermos as nossas próprias Listas de Convocados, nenhum de nós é Paulo Bento. Nenhum de nós, tirando evidentemente o resto da equipa técnica, conhece os jogadores, o funcionamento das Seleções - tanto a principal com as de formação - como ele. Nenhum de nós conhece a forma como ele pretende abordar o Mundial. Mesmo com as minhas dúvidas e as de toda a gente, perfeitamente legítimas, acredito que o Selecionador saberá usar os jogadores que escolheu, saberá extrair o melhor de cada um e colocá-lo ao serviço da Seleção, de modo a que façamos um bom Mundial. Nem sequer sabemos quais dos trinta pré-Convocados sobreviverão até à Convocatória. Contestação existiria sempre, em maior ou menor grau, independentemente da Lista Final. De outra forma, eu não teria nada sobre que escrever na entrada pós-Convocatória - e já me preocupa que a polémica esteja a ocorrer agora, antes do Anúncio dos Convocados. Podem existir por aí muitos fanáticos do Sporting a dizer que, por causa disto, não vão torcer pela Turma das Quinas. Eu sei que, caso o Mundial corra bem, muitos deles, se não todos, esquecerão tais promessas e juntar-se-ão à alegria coletiva.
Não adianta concentrarmo-nos demasiado nestes aspetos, nas comparações com as seleções do passado - afinal de contas, o slogan escolhido para o autocarro da Equipa de Todos Nós diz precisamente que "O passado é história, o futuro é a vitória." - nos jogadores que estarão ou não na Convocatória. Interessa concentrarmo-nos no presente, no momento, empenharmo-nos em fazer o melhor Mundial possível, em escrevermos novas páginas da História do futebol português. Por muitas dúvidas que tenha, nenhuma delas mancha a felicidade que sinto por, tirando a final da Liga dos Campeões, a temporada clubística ter finalmente terminado (só aguento o futebol de clubes até certo ponto, as clubites continuam a irritar-me) e a a preparação do Campeonato do Mundo estar prestes a começar. Estou ansiosa por tudo o que aí vem - os Convocados, o estágio de preparação, com as respetivas notícias, fotografias, eventuais publicações nas redes sociais por parte dos Marmanjos, os particulares preparatórios, a cobertura mediática, as campanhas publicitárias e, claro, os jogos "a sério" - e por escrever sobre isso aqui no blogue. Ou seja, por tudo o que está ligado àquela que é a festa suprema do futebol e por deixar aqui o meu testemunho daquilo que se espera ser uma épica aventura. Que começa já amanhã.
Na passada quarta-feira, dia 5 de março, a Seleção Portuguesa de Futebol recebeu a sua congénere camaronesa no Estádio Magalhães Pessoa, em Leiria, num encontro de carácter particular. Encontro, esse, que terminou com uma vitória da seleção da casa por 5-1.
Muito pela experiência da última fase de Qualificação, bem como de outros particulares no passado mais ou menos recente, as minhas expectativas eram baixas. Daí que o resultado final e o jogo - sobretudo a segunda parte - me tenham apanhado de surpresa, pela positiva.
Portugal até entrou bem no jogo, com o seu equipamento novo. Este, já agora, não é feio. Gosto da ideia da gradação de cor, embora o tom mais claro se aproxime demasiado do cor-de-rosa para o meu gosto, pelo menos na transmissão televisiva (nas fotografias do jogo não parece tanto). Além disso, não sou grande fã dos equipamentos monocromáticos: afinal, cerca de quarenta por cento da bandeira portuguesa é verde. Tirando isto, eu aprovo.
Dizia eu que Portugal entrara bem no jogo. Muito graças ao estreante Rafa, que parecia empenhado em mostrar o seu valor. Cedo, contudo, os camaroneses deram um ar de sua graça, chegando a pregar-nos alguns sustos. O golo de Ronaldo acabou por surgir precisamente numa altura de ameaça por parte dos Camarões. Belo trabalho de João Moutinho, trazendo a bola para perto da grande área camaronesa, passando a João Pereira e este, por sua vez, colocando a bola em Ronaldo num passe diagonal, permitindo ao Capitão marcar o primeiro golo da Equipa de Todos Nós em 2014 (o primeiro de muitos, esperemos), e ultrapassar Pedro Pauleta na tabela de melhores marcadores da Seleção.
Agora que penso nisso, em menos de dez anos tivémos dois novos recordes em golos. O que é incrível. Quem sabe quem irá quebrar o recorde que Ronaldo, eventualmente, estabelecerá...
Adiante, o golo de Ronaldo não abalou demasiado os camaroneses. Pelo contrário, pareceu motivá-los ainda mais. Por fim, em cima do intervalo, Aboukabar aproveitou uma desatenção da defesa portuguesa para igualar o marcador.
Nos resumos não mostram - só a meio da segunda parte é que as imagens passaram - mas o marcador camaronês, após o golo imitou a meia pirueta, ilustrada em cima, com que Ronaldo tem celebrado os golos. Gostei. Pontos para a lata.
Bipartida como foi a primeira parte em termos exibicionais, o empate ao intervalo era justo. A Seleção entrou bem melhor na segunda parte, já que regressava a um esquema táctico mais próximo do costumeiro. Tivemos uma série de oportunidades até, finalmente, o nosso barbudo preferido, Raul Meireles - que até já tinha marcado aos Camarões em 2010, duas vezes - aproveitou um passe infeliz entre o guarda-redes camaronês e um defesa para roubar a bola e marcar o segundo golo português.
Este, sim, quebrou o gelo. A partir daí o jogo foi todo nosso. Nem dois minutos tinham passado e já Fábio Coentrão marcava o terceiro para Portugal e dedicava - digo eu - ao pai falecido e ao filho(a) que tem por nascer. Ele que estava a fazer um belo jogo, ele que na Seleção joga quase sempre bem, mesmo que não esteja a passar por um bom momento no seu clube.
Dez minutos mais tarde, Meireles isola Ronaldo, que faz das suas arrancadas em direção à baliza adversária, estilo as da segunda mão dos playoffs, que desaguavam todas em golo. Desta feita, como ele estava muito perto da linha lateral, não me pareceu que conseguisse marcar, apenas assistir. E foi o que aconteceu, mais ou menos. O guarda-redes fez uma defesa incompleta e Edinho aproveitou para fazer o quarto.
Ainda houve tempo para Ronaldo fazer, de novo, o gosto ao pé. É, de novo, ele a trazer a bola para junto da grande área camaronesa, passa a Antunes, que a devolve, quando o Capitão já está dentro da grande área, com Miguel Veloso ao lado. Durante momentos hesita, como se ele e Miguel estivessem a decidir quem remataria mas, no fim, ele finta os camaroneses, remata e marca, encerrando o marcador.
Foi sem dúvida um belo jogo, uma bela maneira de arrancar o ano com a Seleção Nacional. Arriscando cair em exageros, foi um dos melhores particulares dos últimos anos. E, embora os Camarões não sejam propriamente uma grande potência do futebol, também não são um Luxemburgo ou umas Ilhas Faroé, eles Qualificaram-se para o Mundial. Não convém, igualmente, esquecer a tristeza que foram os particulares pré-Euro 2012, o jogo com o Equador no ano passado. Não que a Seleção esteja hoje muito melhor do que estava na altura. Pura e simplesmente, levou o jogo mais a sério, cometeu menos erros (aliás, foi mais o outro lado a cometê-los.
Apesar de a grande estrela do encontro ter sido, para a Comunicação Social, Cristiano Ronaldo e a sua conquista do primeiro lugar na classificação dos marcadores portugueses, para mim é um particular alívio saber que há gente na Seleção capaz de marcar golos para além de Ronaldo. Depois de ele ter sido o único a marcar nos playoffs, tendo um dos golos corrigido duas argoladas cometidas pelos companheiros de equipa, eu estava a ficar preocupada. É verdade que a defesa camaronesa tinha as duas fragilidades, mas mesmo assim...
Uma das coisas de que mais gostei neste jogo foi o facto de quase todos os que entraram em campo terem tido o seu momento brilhante, mesmo sem terem um desempenho uniforme. Começando pelos novatos, uns mais do que outros, certamente os mais motivados: William Carvalho, uma das sensações do campeonato português atual, que parece já estar integradíssimo na família, a todos os niveis; Rafa que, tal como disse antes, entrou muito bem no jogo; Ivan Cavaleiro, que teve um desempenho mais discreto mas a sua assistência para o golo de Fábio Coentrão valeu bem toda a polémica em torno da sua Chamada; Edinho, que marcou o quarto golo, e antes já tinha feito uma acrobaciazinha, seguida de um remate falhado. Pelo meio, João Moutinho foi, como sempre, o motor da Seleção; João Pereira mostrou o motivo pelo qual é considerado um dos melhores laterais-direitos da Europa; Fábio Coentrão, tal como disse acima, esteve num bom nível; Raul Meireles marcou o segundo golo e esteve na origem do quarto.
Como tal, tem-me irritado o destaque que a Comunicação Social têm dado a Cristiano Ronaldo a propósito deste jogo, quase ignorando os companheiros da Seleção. Quando o fizeram aquando dos playoffs frente à Suécia, eu aceitei porque, na verdade, foi ele o único a marcar mas, na quarta-feira, marcaram outros também. É certo que ele é, de facto, melhor do que os colegas em vários aspetos, merece ser reconhecido por isso, mas agir como se a Turma das Quinas fosse apenas "Ronaldo e mais dez" não e bom nem para os companheiros de Seleção, nem para o próprio Ronaldo. Os primeiros, por não verem os seus esforços devidamente valorizados. O último, porque leva com a pressão toda e se, por acaso, tiver um jogo menos conseguido, cai tudo em cima dele, injustamente - tal como aconteceu no jogo contra a Dinamarca, nos grupos do Euro 2012.
Cheguei mesmo a ler no outro dia um artigo de opinião na linha do "mais vulgaridade que qualidade" na Equipa de Todos Nós. Uma opinião que corria antes do Euro 2012, campeonato em que... chegámos às meias-finais, só falhando a final nos penálties com... a Espanha. Como podem ver, tais opiniões valem o que valem. E este artigo ainda tem a desculpa de ter sido escrito antes deste jogo. Com todas as condicionantes, este particular provou, uma vez mais, que a Seleção funciona bem como equipa, que existe um não-sei-quê na Equipa de Todos Nós que, quando está para aí virada, faz com que os jogadores escolhidos se superem a si mesmos, contrariando momentos de forma, tempo de utilização pelos respetivos clube, juízos da opinião pública. Continuo a achar que há por aí muito jogador a merecer lugar na Lista Final para o Brasil, para além daqueles que têm sido Convocados, mas a verdade é que, de uma maneira geral, as escolhas de Paulo Bento têm dado bons resultados. Mais do que isso, o Selecionador - bem como certamente, a restante equipa técnica, os outros jogadores, talvez mesmo a estrutura federativa - tem-se revelado capaz de, nos momentos decisivos, extrair o melhor dos Marmanjos.
O maior mérito deste particular foi, precisamente, aumentar-me a esperança para o Mundial, dentro dos limites do realismo. Fazer-me acreditar que, qualquer que seja a Lista Final para o Brasil, independentemente das inevitáveis polémicas, Paulo Bento saberá fazê-la funcionar, tal como funcionou no Euro 2012. Que tudo pode acontecer. Mas não quero entrar muito por aí, não para já. Por enquanto, é dar graças por termos tido mais uma bela noite de Seleção, com todos os efeitos benéficos a ela associados.
De resto, já que é quase meia-noite à hora em que publico isto, podemos considerar que faltam setenta e um dias para a Convocatória Final para o Campeonato do Mundo - altura em que a verdadeira diversão vai começar!
P.S. Esta é a centésima quinquagésima entrada deste blogue. Teria calhado melhor se fosse a próxima, se a número cento e cinquenta fosse a antevisão à Lista Final para o Brasil. Seria por volta do aniversário do blogue, perfeita para uma retrospetiva... Enfim. A mais cento e cinquenta publicações!