Hoje completo oito anos (!!!) como blogueira graças aqui a "O Meu Clube é a Seleção!". Este ano quis fazer algo para assinalar a data, algo diferente. Resolvi apresentar os meus dez jogos da Seleção preferidos – entre outras coisas, é uma oportunidade para escrever sobre partidas marcantes que ocorreram antes de inaugurar este blogue. Além disso, é mais do que apropriado recordar grandes jogos da Seleção poucos antes de começarmos a preparar um Europeu, para o qual partimos com ambições.
Uns alertas rápidos antes de começar: em primeiro lugar, só comecei a ligar a sério ao futebol e à Seleção por volta de 2002. Assim sendo, este top não incluirá jogos do Euro 2000 nem de campeonatos anteriores (quem me dera ter estado cá para ver o Mundial de 66!).
Em segundo lugar, como costuma ser a regra neste blogue, este top é muito subjetivo. Não me vou basear tanto em aspetos técnicos, de qualidade propriamente dita do futebol praticado porque, sejamos sinceros, eu não percebo assim tanto dessa vertente. Basear-me-ei antes nos aspetos mais sentimentais, no que significou aquele jogo para mim, aqueles jogos que permaneceram na minha memória em vez de se perderem no meio de dezenas de outros jogos.
Por fim, queria avisar para não levarem a posição dos jogos no top 10 demasiado à letra. Em alguns casos, a diferença entre duas posições consequentes é mínima.
Esta lista possui Menções Honrosas. Sem nenhuma ordem em especial, começo por falar dos jogos com Angola, o Irão e o México no Mundial 2006. Na minha opinião, este campeonato valeu sobretudo pela consistência da caminhada, não tanto por jogos individuais particularmente emocionantes, com uma exceção. Daí que não encontrem muitos jogos desse Mundial no top.
Refiro, também, o Portugal x Rússia da Qualificação para o Mundial 2006, uma expressiva vitória por 7-1. O intervalo de tempo entre o nosso segundo jogo do Euro 2004 e o nosso antepenúltimo do Mundial 2006 foi uma era dourada para a Seleção Portuguesa.
Por outro lado, incluo também o nosso jogo com a Espanha do Euro 2012. Sim, foi uma derrota mas, na minha opinião, foi uma derrota honrada, foi uma das nossas melhores derrotas. O domínio foi quase sempre nosso, fomos a única equipa no Euro 2012 capaz de fazer frente à Espanha. Oficialmente, era a meia-final, mas teve mais de final que o jogo com a Itália, poucos dias depois. Infelizmente abordámos mal os penálties.
Por fim, queria incluir o Portugal x Sérvia do ano passado – só porque foi o primeiro jogo da Seleção em muito tempo a que assisti… em que a Seleção ganhou.
Como tenho muito a dizer sobre estes jogos, este top virá dividido em duas entradas. Esta é a primeira parte, a segunda parte virá mais tarde, ainda hoje em princípio.
Sem mais delongas, comecemos com o número 10.
10) Portugal x Espanha (novembro de 2010)
Mesmo sendo um jogo particular, não é todos os dias que se goleia a corrente campeã europeia e mundial. Muito menos apenas dois meses – mais coisa menos coisa – após uma crise e uma troca de treinadores. Não contou para muito, teria trocado de bom grado esta vitória por uma nos oitavos-de-final do Mundial 2010 ou, sobretudo, nas meias-finais do Euro 2012 No entanto, na altura em que ocorreu, esta vitória foi importante para levantar um pouco mais a moral, quando o Mundial 2010 e o caso Queiroz ainda estavam frescos na memória e quando a Qualificação para o Euro 2012 ainda ia a meio. Considero que este foi um dos primeiros sinais a indiciar que esse Europeu nos traria alegrias.
9) Suécia x Portugal (novembro de 2013)
Este é o jogo mais recente deste top. A segunda mão do playoff de acesso ao Mundial 2014 marcou, não apenas pela vitória em si, mas também pelas circunstâncias. Como poderão ler aqui, este encontro realizou-se no aniversário da minha irmã, daí ter ganho um significado especial para nós (ainda hoje, quando vemos resumos do jogo, durante as celebrações dos três golos portugueses, a minha irmã diz algo como: “Se prestarem atenção, hão de ouvir o Ronaldo a gritar: ‘Parabéns, Mafalda!’”). Foi também uma vitória que fez muita gente fazer figura de parva: começando por Joseph Blatter, que poucas semanas antes protagonizara o triste episódio do Comandante e do bom menino; passando por vários adeptos suecos, que usaram vários truques sujos para nos destabilizar, sobretudo Ronaldo (tocando músicas provocatórias na chegada dos portugueses, fazendo barulho junto ao hotel onde estes estavam alojados…); terminando na triste campanha da Pepsi sueca. Dá um gozo especial quando conseguimos rir por último (mais sobre isso adiante). Por fim, referir também o épico relato do Nuno Matos, acima, o “És o melhor do Mundo, ca*****!”e o vídeo de agradecimento que a Seleção filmou.
Na verdade, este jogo só não está numa posição mais cimeira nesta tabela porque foi demasiado um one-man show, foi mais uma vitória de Ronaldo do que do resto da Seleção. A equipa chegou a atrapalhar mais do que a ajudar – essa Ronaldo-dependência virar-se-ia contra nós de maneira trágica uns meses mais tarde, no Brasil (e nestas últimas semanas, em que Ronaldo se tem debateu com uma lesão, tive medo que o mesmo se repetisse em França). De qualquer forma, o fraco desempenho da Seleção no Mundial 2014 não estragou as minhas recordações dos playoffs. Quando mais não seja porque deixou-nos viver na ilusão durante mais uns meses.
8) Portugal x Dinamarca (outubro de 2010)
Estou sempre a falar deste jogo, não vos vou maçar mais repetindo o que já escrevi inúmeras vezes aqui no blogue e na página do Facebook. Deixo o link para a análise a esse jogo e digo apenas que, na minha opinião, foi aqui que começou o ciclo que culminaria com as meias-finais do Euro 2012.
7) Portugal x Bósnia (novembro de 2011)
A segunda mão dos playoffs do Euro 2012 foi outro jogo emocionante. Não foi muito diferente do que seria o segundo jogo com a Suécia, em 2013, mas foi melhor – porque não foi apenas Ronaldo a brilhar (ele marcou dois golos, calando adeptos bósnios gritando por Messi), foi a equipa toda: Nani enviou uma bomba daquelas, Postiga marcou duas vezes, Miguel Veloso marcou de livre. Tal como aconteceria daí a dois anos em menor escala, esta foi uma vitória contra uma série de fatores empenhados em deitar-nos abaixo: um ex-selecionador que aproveitara o nosso único deslize em um ano para mandar farpas (acho que nunca perdoarei Queiroz…); a própria UEFA que nos obrigou a disputar a primeira mão num batatal, ignorando os nossos pedidos para trocar de campo (apesar de a seleção francesa ter conseguido essa troca, cerca de um mês antes); os responsáveis bósnios que regaram a relva antes do jogo, ignorando também os nossos pedidos, o que piorou ainda mais o estado do campo; os lasers que adeptos bósnios apontaram à cara de Ronaldo, entre outras coisas. Um jogo épico que teve o sabor de uma final, em que até houve hino no fim do jogo e tudo, que indiciou a boa campanha que a Seleção realizaria poucos meses mais tarde, no Euro 2012.
6) Portugal x Holanda (2012)
O Euro 2012 e as semanas antes foram um dos melhores períodos da minha vida. Como adepta da Seleção foi um ponto alto pois, para além de ter sido chamada à televisão a propósito deste blogue, pela primeira vez desde que inaugurara aqui o estaminé, a Equipa de Todos Nós estava a fazer um campeonato, não digo ao nível dos de 2004 ou 2006, mas lá perto. Pela primeira vez, escrevia no blogue sobre um campeonato de seleções que valia a pena ser recordado. Naturalmente, tinha de incluir jogos do Euro 2012 nesta lista.
Este foi o jogo que pôs fim a meses de dúvidas e nervosismo. Desde que o sorteio da fase de grupos do Euro 2012 nos colocara no chamado Grupo da Morte, todos sabíamos que seria muito difícil chegarmos aos quartos-de-final da prova. Do mesmo modo, sabíamos que, se passássemos o grupo, seríamos automaticamente candidatos ao título. Esta vitória trouxe um grande alívio, uma grande alegria, surpreendeu os mais céticos. Tendo em conta que, dois anos volvidos, não passaríamos o grupo do Mundial 2014, hoje valorizo ainda mais essa vitória. Recordo-me em particular de eu e a minha irmã fazermos um duplo high-five enquanto gritávamos: “PASSÁMOS A FASE DE GRUPOS!!”.
Falando do jogo em si, a Seleção fez uma exibição excelente, tirando o golo sofrido no início do jogo. A maior estrela foi Ronaldo, ao apontar dois golos – que dedicou ao filho, que fazia dois anos no dia do jogo – mas, lá está, não deixou de ser um triunfo de equipa. Ficou claro que os próprios Marmanjos sentiram esta vitória – Miguel Veloso tinha lágrimas nos olhos na flash-interview e, mais tarde, a equipa passou a noite a cantar.
Paulo Bento foi algo agressivo na Conferência de Imprensa que se seguiu e os jogadores recusaram as flash-interviews fora do campo. Até compreendo o ponto de vista deles, já que a Imprensa não andava a ser meiga. No entanto, hoje não acho que a acusação de Paulo Bento – de que alguns dos jornalistas estariam a torcer contra Portugal – tenha tido fundamento. Existem muitos críticos da Seleção, muitos céticos, alguns clubistas aziados, mas se houve coisa que aprendi com o Euro 2012 foi que, nas grandes vitórias da Seleção, como esta, não existe alma nenhuma que não fique feliz (tirando Pinto da Costa e mesmo assim). Há muita hipocrisia nessa alegria, é certo, muito aproveitamento, mas foi uma das coisas que mais feliz me fez durante esse Europeu: ter toda a gente a falar sobre as vitórias da nossa Seleção. Foi verdadeiramente a Equipa de Todos Nós.
No entanto, estando eu sempre aqui, no melhor e no pior, estas vitórias são mais minhas que de muitos por aí, reservo-me esse direito. O mesmo tornará a acontecer quando a Seleção voltar a ter triunfos como este – que estes aconteçam já no próximo mês.
5) Portugal x Inglaterra (2006)
Portugal tem um particular com a Inglaterra marcado para o próximo mês. Vai ser no mínimo interessante reencontrar os nossos amigos ingleses dez anos depois, quando os últimos três jogos disputados foram tão… interessantes, cada um à sua maneira.
Conforme referi acima, não considero os jogos individuais do Mundial 2006 assim tão memoráveis. O jogo dos quartos com a Inglaterra é a única exceção e isto, mesmo assim, deve-se quase exclusivamente à parte final. Antes de nos focarmos no jogo em si, contudo, quero falar das circunstâncias em que este ocorreu. Nos dias que antecederam e nos que se seguiram ao jogo, a Imprensa inglesa esteve de armas apontadas à nossa Seleção. Antes do jogo, o motivo era, obviamente, destabilizar-nos (algo em que falharam redondamente pois quem esteve de cabeça perdida naquele jogo foram os ingleses). Não resisto a referir um episódio, descrito no livro “A Pátria Fomos Nós”. Consta que, numa conferência de Imprensa em que os jornalistas ingleses foram criticados pela sua campanha contra a Seleção Portuguesa, alguém perguntou a Pedro Pauleta:
- Afinal de contas, de quem é que vocês têm mais medo? Da Seleção inglesa ou dos jornalistas ingleses?
Eis a resposta do ponta-de-lança:
- Ao fazer uma pergunta dessas, vê-se que não conhece a História de Portugal. Se conhecesse, saberia que os portugueses nunca têm medo de nada. Foi sem medo que chegámos a todos os lugares do Mundo. Somos um país pequeno e respeitamos toda a gente. E exigimos respeito por nós. Só isso.
Se eu tivesse estado lá neste momento, teria aplaudido. Grande Pauleta!
Infelizmente, a campanha dos ingleses nos dias que se seguiram ao jogo foi muito mais feia e… duradora. Tudo porque, se bem se recordam, os ingleses culparam Cristiano Ronaldo pela expulsão de Wayne Rooney. Ainda hoje se fala deste episódio – aposto que vão voltar a falar dele aquando do próximo jogo, no mês que vem. Os ingleses, ao que parece, não repararam que Rooney pisara, deliberadamente, Ricardo Carvalho nos… bem, numa zona sensível. A meu ver, era uma expulsão legítima. O “crime” de Ronaldo foi pressionar o árbitro a favor da expulsão (como se ele fosse o primeiro jogador de futebol a fazer uma coisa dessas…). Pelo meio, uma câmara apanhou Ronaldo a piscar o olho ao banco português, algo que os ingleses associaram ao lance.
Dizer que Ronaldo foi mal recebido quando regressou ao Manchester United depois do Mundial é eufemismo. Eu, na altura, defendi a sua saída do clube, a transferência para o Real Madrid ou para qualquer outra equipa, fora de Inglaterra. No entanto, Ronaldo ficou (consta que Sir Alex Ferguson interveio pessoalmente na questão, como forma de manter o jogador) e fez uma das suas melhores épocas em Inglaterra, ganhando ainda mais o meu respeito. Toda esta história é capaz de ter sido um dos primeiros exemplos da frase que lhe é atribuída: “Your love makes me strong, your hate makes me unstoppable”.
Regressemos aos quartos-de-final do Mundial 2006. Conforme referi acima, os 120 minutos de jogo não foram particularmente memoráveis, tirando a expulsão de Rooney. Este jogo é recordado pelos penálties, pelas três defesas de Ricardo – algo inédito em Mundiais. Ricardo desvalorizou o seu próprio mérito, na altura. “Eles estavam mortos”, terá ele dito, segundo o livro “A Pátria Fomos Nós”, mais uma vez. “Eu via nos olhos deles. Não tinham confiança nenhuma”. Uma boa prova disso foi aquele inglês, que chutou antes de o árbitro apitar. De qualquer forma, a postura gélida de Ricardo, na baliza, não terá de todo deixado os ingleses menos nervosos.
Vou deixar a narrativa dos penálties para o grande Nuno Matos. Ainda hoje, passados todos estes anos, depois de ter visto este vídeo inúmeras vezes, não consigo deixar de rir com a maneira como ele e Alexandre Afonso (penso que é ele…) transmitem a montanha-russa de emoções que foi este desempate.
Queria chamar a atenção, por fim, para o penálti decisivo, marcado por Cristiano Ronaldo (penálti esse que agravou ainda mais a azia inglesa). Como poderão ver no vídeo acima, antes de rematar, o (na altura) jovem fez questão de beijar a bola. Depois de executar o penálti, fica a sensação que ele demorou uns segundos a perceber que o seu penálti decidira o jogo. Nessa altura, no meio dos festejos, apontou para o céu e gritou:
- Estou aí!
Só prova que Cristiano Ronaldo sempre teve uma queda para os grandes momentos.
Por fim, dizer apenas que, aquando deste jogo, eu e a minha família estávamos a passar férias no Algarve. Sendo verão, aquilo estava, naturalmente, cheio de turistas ingleses. Vimos o jogo sozinhos, mas depois fomos todos festejar para a rua principal. Tirámos fotografias e tudo, como podem ver acima (a da esquerda sou eu, a da direita é a minha irmãzinha). Foram dos melhores festejos de uma vitória da Seleção de que me recordo (tirando um ou outro do Euro 2004). Não era para menos, foi a primeira vez que via a Seleção chegar tão longe num Mundial. Que não seja a última…
Mais um ano encontra-se à beira do fim, mais um ano encontra-se à beira do início. Como já faz parte da praxe, segue-se a revisão de 2013.
Este, depois de 2012, tornou a ser um ano de altos e baixos. Começo a perceber que esta é a regra, que 2011 foi a exceção. É pena... Bem, 2013, ao menos, teve um final feliz, esperançoso. Embora tenha começado por dar seguimento à má fase com que 2012 terminou.
O primeiro jogo do ano foi um particular com o Equador, que teve lugar no Estádio Afonso Henriques, em Guimarães. À semelhança do que aconteceu em muitos, muitos jogos dos últimos dois anos, a Seleção tinha todas as condições e mais algumas para proporcionar um bom jogo aos inúmeros adeptos que vieram ao estádio e desperdiçou-as. Para além do habitual circo publicitário, dos pedidos de moldura humana, Cristiano Ronaldo completava vinte e oito anos na véspera do jogo. Em jeito de celebração, entre outros motivos, cinco mil adeptos assistiram ao treino e cantaram os parabéns a Ronaldo.
Como é que a Seleção agradeceu? Perdendo 3-2 com o Equador.
É certo que a equipa visitante era forte, não estava ali apenas para elevar a auto-estima da seleção da casa. Chegou mesmo a Qualificar-se para o Mundial 2014. No entanto, encontrava-se perfeitamente ao alcance de Portugal. A Seleção até teve bons momentos no jogo: Ronaldo marcou o primeiro golo da Turma das Quinas do ano (mais tarde, marcaria igualmente o último); Hélder Postiga marcaria na segunda parte, colocando Portugal em vantagem durante... dois minutos. A Turma das Quinas acabou por ser vítima de si mesma com o Eduardo ficando mal na fotografia no primeiro golo, no início do jogo e, dois minutos após o golo de Postiga, com uma parvoíce do guarda-redes e de João Pereira. Depois, com Ronaldo e Postiga já fora de campo, os equatorianos marcaram pela terceira vez - e até foi um belo remate.
Apesar de este jogo ter sido (mais) uma desilusão, tinha a atenuante de ter sido apenas um particular. O verdadeiro balde de água fria veio mês e meio mais tarde, em Telavive, perante Israel. As circunstâncias, diga-se, não eram as ideiais: Nani lesionado e João Moutinho em forma duvidosa. Mesmo assim, tudo indicava que os israelitas não nos dariam grandes problemas. Estávamos enganados. Ou melhor, não foram propriamente os israelitas a dar-nos problemas. Mais uma vez, fomos nós mesmos.
Portugal até começou bem no jogo, com o Bruno Alves marcando um golo logo no primeiro minuto. Só que depois, pensando certamente que a coisa se resolveria sozinha, os portugueses entraram numa de "deixa andar". Como resultado, das três vezes que os israelitas foram à nossa baliza, marcaram. O que nos valeu foi Hélder Postiga - após ter falhado inúmeras oportunidades na primeira parte, diga-se - ter marcado no rescaldo no terceiro golo israelita, relançando a equipa. Os portugueses lá tentaram reverter a situação e lá conseguiram anular a desvantagem ao cair do pano. Tendo em conta que tínhamos estado a perder por 3-1, este empate quase pareceu uma vitória. No entanto, a exibição roçou o medíocre, as contas para o Apuramento estavam comprometidas, era o nosso quinto jogo consecutivo sem ganhar. O otimismo atingia mínimos históricos. Não me lembro de alguma vez ter estado tão furiosa com os Marmanjos como estive nessa altura. Considero, mesmo, que este foi o pior momento da Seleção em 2013.
A Seleção viajou para Baku, no Afeganistão, amputada de Cristiano Ronaldo - que vira o segundo cartão amarelo no jogo de Telavive - obrigada a ganhar. Apesar de, na teoria, o Azerbaijão pertencer a um campeonato inferior ao nosso, na prática, ainda nos vimos um bocadinho à nora para ganhar - culpa, sobretudo, do eterno problema da finalização. Acabou por ser necessário os azeris verem-se reduzidos a dez para os portugueses marcarem. Primeiro, por cortesia de Bruno Alves. Depois, de Hugo Almeida. Um jogo longe de brilhante mas, em todo o caso, a primeira vitória em mais de seis meses. Na altura, tive esperança de que isto representasse um ponto de viragem na Qualificação para o Mundial 2014. E até foi. Mais ou menos.
Seguiu-se o jogo com a Rússia, em junho. Um jogo de grau de dificuldade acima da média visto que o momento de forma da maioria dos jogadores não era o ideal, a Rússia era o nosso maior adversário na Qualificação e Portugal já não se podia dar a luxo de perder mais pontos. Visto que o jogo se realizava na Luz, fizeram-se, mais uma vez, apelos aos adeptos para que enchessem o Estádio. Não foi um jogo brilhante mas foi bem conseguido por parte dos portugueses, a equipa esteve bem, dominou o jogo. Hélder Postiga marcou o único golo.
Três dias após este jogo, a Seleção foi recebida na Croácia num jogo de carácter particular. Acabou por ser um jogo semelhante ao da Rússia: sem deslumbrar, houve boa atitude por parte da Turma das Quinas, o domínio foi português. Desta feita, foi Cristiano Ronaldo a marcar o único golo da partida. Este tornar-se-ia um caso sério em termos de golos ao longo da segunda metade do ano.
Houve um novo jogo particular a meio de agosto. Desta feita, a Seleção enfrentaria a Holanda no Estádio do Algarve. Antes disso, treinou-se no Estádio Nacional, no Jamor. Eu e a minha irmã fomos assistir ao único treino aberto e tivemos o privilégio de tirar fotografias com Miguel Veloso, Eduardo, Beto (no caso da minha irmã) e Paulo Bento.
O jogo com a Holanda não foi brilhante - até porque o número de baixas foi uma coisa parva - mas, mais uma vez, a exibição portuguesa foi convincente, sobretudo ao longo da segunda parte. Verhaegh marcou o golo holandês, aos dezasseis minutos da primeira parte. Ronaldo igualou o marcador aos oitenta e seis minutos.
Duas ou três semanas mais tarde, no início de setembro, Portugal deslocou-se a Belfast para defrontar a Irlanda do Norte. Nos dias anteriores, falou-se bastante do facto de os irlandeses terem derrotado a Rússia no mês anterior, de serem tomba-gigantes e terem gozo nisso, sobretudo quando jogavam em casa. Algo que acabou por se confirmar dentro de campo, de certa forma. Foi, aliás, um jogo muito estranho, muito por causa de um árbitro caprichoso. A primeira parte do jogo revelou-se dantesca. Bruno Alves marcou mas os irlandeses rapidamente repuseram a igualdade no marcador. Isto nem seria muito grave se, ainda antes do intervalo, Hélder Postiga não tivesse tido a ideia parva de dar uma "turrinha" a um irlandês e o árbitro não o tivesse castigado com o vermelho direto. Uma penalização exagerada, é certo, mas o gesto de Postiga fora desnecessário. Na segunda parte, sem grande surpresa, a Irlanda adiantou-se no marcador, com um golo em fora-de-jogo. As coisas começavam a ficar verdadeiramente negras para Portugal
Felizmente, estava lá Ronaldo para salvar o dia. Catalisado tanto pelo buraco em que Portugal se havia deixado cair como, certamente, pelos adeptos que gritavam por Messi, o madeirense marcou o seu primeiro hat-trick com a Camisola das Quinas. Resolveu, deste modo, o imbróglio em que o jogo se transformara e ainda ultrapassou o recorde de Eusébio.
Infelizmente, o herói de Belfast ficou indisponível para o particular com o Brasil, que se realizou em Boston, nos Estados Unidos. Eu tinha grandes expectativas para este jogo, com o reencontro com Luiz Felipe Scolari e tudo mais. Nesse aspeto, o jogo revelou-se algo anti-climático. Portugal até teve bons momentos, com destaque para o golo de Raul Meireles. No entanto, sobretudo durante a segunda parte, faltou agressividade à Equipa das Quinas - embora os brasileiros se queixassem do jogo faltoso de Bruno Alves. No final, o resultado foi 3-1 para a seleção canarinha.
Um mês mais tarde, a Seleção Portuguesa recebeu a sua congénere israelita no Estádio de Alvalade. Foi o primeiro jogo a que assisti em mais de seis anos. Mais uma vez, tínhamos uma série de ausentes: Meireles e Bruno Alves por lesão, Hélder Postiga (GRRR!!!!) e Fábio Coentrão por castigo. Mas, se conseguíssemos vencer, o segundo lugar ficaria consolidado e ainda poderíamos sonhar com o primeiro lugar - bastaria a Rússia cometer um deslize.
É claro que Portugal, eterno adepto dos caminhos mais difíceis, não soube aproveitar a oportunidade. A exibição foi fraca, os israelitas não fizeram nada para levar o jogo de vencida, passaram uma boa parte do tempo a engonhar até mesmo quando ainda se encontravam em desvantagem, depois do golo de Ricardo Costa. À semelhança do que aconteceu repetidas vezes ao longo deste Apuramento, foi Portugal a prejudicar-se a si mesmo. Desta feita, através de uma fífia de Rui Patrício. Só não considero este o pior jogo da Seleção do ano porque, mal por mal, garantiu-nos o playoff. De uma maneira extremamente amarga, contudo.
O jogo com o Luxemburgo, em Coimbra, foi quase só para cumprir calendário. A Seleção não jogo melhor do que tinha jogado contra Israel, nem precisou. Os luxemburgueses, como seria de esperar, poucas hipóteses tinham contra nós, sobretudo depois de se verem reduzidos a dez. Portugal podia ter arrecadado uma vitória bem mais expressiva mas não esteve para isso - jogo chegou a ser extremamente enfadonho em certas alturas - contentou-se com o 3-0, cortesia de Varela, Nani (pontos para a assistência de João Moutinho) e Hélder Postiga. Terminava deste modo a fase de grupos da Qualificação para o Mundial 2014, com Portugal no segundo lugar, obrigado a ir aos playoffs lutar por uma vaga no Brasil.
O sorteio para definição do adversário do playoff realizou-se cerca de duas semanas mais tarde. Quis a Sorte que defrontássemos a Suécia, primeiro em casa, depois fora. Antes dessa dupla jornada deu-se algo que, tecnicamente, não se relacionava com a Turma das Quinas mas que, na minha opinião, influenciou o seu percurso: as tristes figuras e palavras de Joseph Blatter sobre Cristiano Ronaldo.
Considero que ficámos todos em dívida para com o presidente da FIFA. Pouco após uma jornada dupla de Seleção que deixou muito a desejar, em que Ronaldo esteve algo apagado, Blatter teve o condão, não apenas de espicaçar o nosso Capitão - o Comandante - mas também de unir a massa adepta portuguesa em torno da Seleção contra um inimigo comum. O sentimento generalizado anti-Troika, anti-topo da hierarquia europeia, ajudou. Juro, se algum dia ocorrer a improbabilidade de me encontrar com Joseph Blatter, eu abraçá-lo-ei, agradecer-lhe-ei e explicar-lhe-ei porquê. E quero ver a cara com que ficará.
A primeira mão do playoff contra a Suécia realizou-se pouco mais de duas semanas depois, perante um Estádio da Luz esgotadíssimo. Conforme seria de esperar, Portugal jogou melhor do que durante a Qualificação. Também ajudou o facto de a Suécia ter jogado para o empate. O poderio físico dos suecos e o seu jogo defensivo cumpriram o seu papel até mais ou menos a meio da segunda parte - aí Cristiano Ronaldo marcou o único golo da partida, conferindo a Portugal uma importante vantagem no playoff.
A segunda mão do playoff realizou-se na Suécia. Os adeptos da casa, abençoados sejam, ainda não se tinham apercebido do nexo de causalidade entre um Ronaldo alvo de provocações e os desempenhos estratosféricos que ele tem nos jogos que se seguem - apesar de até ter havido um exemplo bem recente de tal. Ou não perceberam ou então deixaram-se levar pelo medo que tinham do Comandante. Não me admiraria se tivesse sido um misto de ambas as situações. Deste modo, os suecos fizeram tudo para destabilizar os portugueses, praticamente desde que estes deram os primeiros passos no país escandinavo. Destaque para a banda que os recebeu no aeroporto, para o animador de rádio que foi de madrugada fazer barulho para junto do hotel da Seleção Portuguesa e, claro, para a infeliz campanha da Pepsi sueca. Eu, na altura, ria-me pois os suecos não sabiam aquilo que estavam a preparar. Hoje, que sei o que aconteceu, ainda me rio mais. Eles mereceram aquilo que apanharam.
A noite do jogo em si foi uma das melhores deste ano. A minha irmã fazia anos, tivemos amigos e familiares em casa, vimos e celebrámos o jogo todos juntos. A primeira parte foi relativamente morna, relativamente equilibrada, com a exibição portuguesa a melhorar com o tempo. A segunda parte foi uma montanha russa de emoções. O primeiro golo de Ronaldo deixou-nos a todos a pensar que eram já favas contadas. Os dois golos de Ibrahimovic que se seguiram forma fruto da nossa negligência. O 2-1 ainda nos era favorável mas, pelo que se via, a coisa poderia facilmente dar para o torto. De uma maneira caricata, regressámos pela enésima vez em todo o Apuramento à fase do "Ai Jesus!". E, tal como acontecera em Belfast, teve de vir Ronaldo ao resgate, com mais dois golos que puseram um ponto final na questão.
Eu sei que, ao longo dos próximos seis, sete meses, não vai interessar mas eu espero que esta nossa campanha de Qualificação não seja esquecida tão depressa. Teve um final feliz, com contornos apoteóticos, mas podia não ter tido. Podia ter corrido muito mal. Tirando, talvez, os jogos com a Rússia, não houve um único jogo em que não nos boicotássemos a nós mesmos. Na maior parte desses jogos, bastaria não termos cometido determinados erros, termo-nos esforçado um bocadinho mais, para conquistarmos o primeiro lugar do grupo.
E não é apenas pelo primeiro ou pelo segundo lugar. Também não é bom em termos de adesão por parte dos adeptos. Ainda no mês passado, aquando dos jogos com a Suécia, ouvi um colega meu afirmar que, no que tocava á Seleção, só lhe interessam os jogos das fases finais ou dos playoffs. Os da Qualificação e os particulares eram-lhe indiferentes. Paulo Bento, uma vez, lamentou que muita gente pensasse assim e eu, há um ano o dois, criticaria atitudes semelhantes à do meu colega. No entanto, se nem os jogadores estiveram para se chatear na maior parte dos jogos de Apuramento, porque haveríamos nós de fazê-lo?
Os títulos de algumas das crónicas pós-jogo que escrevi aqui no blogue acabam por ser aplicáveis a toda a Qualificação. "Uma epopeia com contornos dantescos" e "Não havia necessidade". Aquando daquele primeiro jogo com o Luxemburgo, eu não fazia ideia de que o resto do Apuramento se desenrolaria desta maneira. Sim, eu sei que assim soube melhor, eu mesma o admiti. Mas não sei até quando seremos capazes de brincar com o fogo sem nos queimarmos a sério.
Além disso, caso a Rússia tivesse conseguido o segundo lugar, a Suécia provavelmente teria sido capaz de vencê-los no playoff. Assim, Ibrahimovic não teria ficado de fora do Mundial. É que fiquei a gostar do tipo... É arrogante mas tem piada.
Parece que o sorteio dos grupos da Qualificação para o Euro 2016 se realizará algures em Fevereiro. Consta, igualmente, que as regras do jogo vão mudar. Agora que a prova foi alargada de dezasseis a vinte e quatro participantes - ainda estou para ver como é que isso vai funcionar - os dois primeiros classificados em cada grupo Apuram-se diretamente. Os terceiros lugares, tirando o pior, disputarão o playoff. Eu devia estar satisfeita com este baixar de fasquia mas não me custa nada imaginar a Seleção, em resposta, desleixar-se ainda mais do que se desleixou neste Apuramento, contentar-se com o terceiro lugar. Aliás, agora que penso nisso, este facilitismo pode levar a uma quebra geral na qualidade dos jogos desta Qualificação, sobretudo para as grandes candidatas ao Apuramento. Não que me preocupe demasiado com isso, só quero saber de Portugal. Espero que não nos calhe um grupo fácil, dava até jeito ficarmos com uma seleção dita "grande", motivadora. De qualquer forma, o pior adversário de Portugal continuará a ser ele mesmo.
Entretanto, no início deste mês, a Sorte determinou que Portugal ficasse agrupado com a Alemanha, os Estados Unidos e o Gana no Mundial. Um grupo teoricamente mais fácil que o do Euro 2012 mas imprevisível. Todos consideram que está ao alcance de Portugal mas a Equipa de Todos Nós terá de confirmá-lo em campo.
Foi assim o ano da Seleção. Em termos pessoais, foi um ano relativamente morno: mais estável que 2012, mas não mais do que isso. Algumas das maiores alegrias deste ano, dos dias mais felizes, estiveram ligados à Turma das Quinas: a antecipação dos jogos, o rescaldo das vitórias, a visita ao Jamor em agosto, o jogo a que assisti em Alvalade, a festa de anos da minha irmã no dia da segunda mão dos playoffs. 2013 mostrou-me, aliás, que embora algumas das minhas paixões não me despertem o mesmo interesse de antigamente, a Seleção é das poucas de que não me canso. Vão fazer dez anos desde que acompanho fielmente a Turma das Quinas mas meu interesse manteve-se praticamente sempre alto. Acho que em nenhuma altura desta última década deixei de ansiar pelo jogo seguinte. Posso já não escrever aqui no blogue tão frequentemente como antes - porque perco mais tempo a preparar as entradas e muitos dos assuntos acabam sendo abordados na página do Facebook - e certos aspetos, sobretudo antes dos jogos, depois destes anos todos, tornaram-se demasiado batidos. No entanto, cada jogo em si é único. Seja ele um mata-mata de um campeonato de seleções ou um particular com uma equipa de expressão irrelevante.
É a beleza do futebol em si, aliás. Há coisa de um ano ou dois, eu não compreendia como é que as pessoas tinham paciência para acompanhar a liga portuguesa ano após ano - sobretudo durante a altura em que, invariavelmente, o F.C.Porto se sagra campeão. Hoje compreendo: porque, para além de imprevisível, de caprichoso, o futebol é uma história que nunca acaba.
Em termos pessoais, 2014 vai ser um ano bem mais empolgante, bem mais decisivo, do que 2013. Em termos de Seleção, também. Já é habitual, para mim os anos pares são os mais interessantes pois, com eles, veem os grandes campeonatos de seleções. Infelizmente, não sei se me vai ser possível acompanhar o Mundial da maneira que acompanhei o Euro 2012 - posso estar a estagiar nessa altura. Vai depender de muitos fatores mas duvido que tenha tempo para ter a página do Facebook atualizada ao minuto com todas as peripécias, como chegava a estar há ano e meio. Já o tinha dito na entrada anterior, nem sequer sei se poderei acompanhar os jogos do Mundial. No entanto, não deixarei de escrever e publicar as respetivas crónicas pós-jogo. Nem que tenha de perder refeições ou mesmo noites para tal.
Algumas das pessoas com quem tenho falado afirmam-se crentes de que 2014 será o nosso ano. Eu quero crer o mesmo, quero muito crer o mesmo, mas uma parte de mim concorda com os artigos de opinião da praxe, que afirmam que esta Seleção não se compara à de 2004 ou 2006. Por outro lado, a acontecer, a nós ganharmos um título, terá de ser em 2014. Não vou ao extremo de dizer "Agora ou nunca!" mas a verdade é que já deixamos fugir demasiadas oportunidades. A certa altura terá de deixar de ser um sonho. Que deixe de sê-lo em 2014.
Esa será uma das passas da Noite de Ano Novo - não gosto de passas mas gosto do ritual de pedir os doze desejos ou de definir os doze objetivos para o ano que começa. Sugiro que, roubando a ideia a uma campanha realizada aquando da passagem de 2005 para 2006, guardem também "uma passa para a Taça". Também desejarei, se não o fim da crise, pelo menos o início (ou a continuação) da recuperação económica. Que possamos ser campeões mundiais e que as nossas vidas melhorem no ano que vêm. A todos os meus leitores e seguidores da página do Facebook, os meus votos de um Feliz Natal e de um 2014, se não cheio de sonhos realizados, pelo menos cheio de bons momentos.
Na passada quarta-feira, dia 14 de agosto, a Seleção Portuguesa de Futebol recebeu, no Estádio do Algarve, a sua congénere holandesa, num jogo de carácter particular. Encontro que terminou com um empate a uma bola.
Como talvez tenham reparado, pouco antes do jogo, tive de publicar a entrada anterior incompleta. Isto deveu-se ao facto de a minha família ter decidido ir mais cedo de fim-de-semana prolongado, para podermos ver o jogo com a Holanda com mais calma. Por ironia do destino, contudo, apanhámos a estrada cortada por um acidente grave. Lá conseguimos arranjar um desvio mas não conseguimos chegar antes do início do jogo, pelo que tivemos de segui-lo pela rádio até ao golo da Holanda. Mesmo depois, na azáfama da chegada, não deu para acompanhar com muita atenção o resto da primeira parte do encontro. De resto, a Seleção não jogou grande coisa, pelo que não devo ter perdido muito.
E, de facto, a exibição da Seleção pareceu-me boa durante a segunda parte, apesar da habitual e exasperante falta de eficácia. Como disse a minha mãe, que viu o jogo comigo e com a minha irmã, os portugueses até conseguiam levar a bola até à grande área holandesa, o problema era mesmo enfiá-la na baliza. O Cristiano Ronaldo, como já vai sendo hábito, era dos que mais empurravam a equipa para a frente mas eu destacaria, também, João Pereira, que cumpria a sua vigésima quinta internacionalização. A minha mãe ficou particularmente impressionada com ele, sobretudo quando o víamos nos confrontos com os holandeses, a sua baixa estatura contrastando com o tamanho dos adversários, mas não o impedindo de ganhar o controlo da bola.
Não foi, de resto, o único a jogar bem, na quarta-feira. Também o Miguel Veloso e o Luís Neto não estiveram mal (ainda que a defesa tenha ficado mal na fotografia quando do golo holandês), o último revelando-se merecedor da inesperada titularidade, que roubou o lugar a Bruno Alves, dando uma saudável dor de cabeça a Paulo Bento. E mesmo o Beto, coitado, não teve medo de levar com um holandês em cima aquando de uma defesa.
Perto do fim, numa altura em que já estava conformada, ainda que algo insatisfeita, com a derrota - afinal de contas, a Argentina venceu-nos em 2011, o que em nada manchou a boa fase que a Seleção atravessava nessa altura - surgiu o golo de Cristiano Ronaldo, que recompensou um Estádio do Algarve, senão com lotação esgotada, pelo menos com lotação recorde. Já muitos apostavam que ele fizesse um golo, frente a um freguês a quem já marcara três vezes. Fica, deste modo, a apenas um golo de igualar Eusébio. A continuar assim, nos próximos jogos ultrapassará o Rei e, quem sabe, dentro de um ano terá já ultrapassado Pedro Pauleta. Como li n'"A Bola", pela sua vaidade e teimosia, Ronaldo só parará quando mais ninguém duvidar da sua entrega aquando dos jogos da Equipa de Todos Nós.
Acabou por ser um jogo pouco amigável, sob vários pontos de vista, seja por os portugueses o terem levado mais a sério do que levaram outros particulares (o que não surpreende, tendo em conta o peso motivador do adversário), seja pela tensão entre as duas equipas. O selecionador holandês Louis Van Gaal queixou-se do árbitro mas, com toda a franqueza, não notei nenhum favorecimento para com nenhuma das equipas. Acabou por ocorrer aquilo em que apostava: um empate sem golos e uma exibição consistente, ainda que longe de brilhante, que ajudasse Paulo Bento a tirar ilações. A ausência de titulares habituais pode servir de desculpa para as debilidade que não deixámos de apresentar. Talvez haja quem não estivesse à espera de uma laranja tão amarga mas, de qualquer forma, não foi o suficiente para os holandeses nos vencerem pela primeira vez em mais de dez anos. Fica, assim, a doçura da continuidade de uma sina que nos é favorável.
Ainda mais doce que o empate frente à Holanda, foi a surpreendente derrota da Rússia aos pés da Irlanda do Norte. Durante o relato radiofónico, o Nuno Matos, o Joaquim Rita e outro locutor cujo nome não me recordo admitiam que aceitariam de bom grado uma derrota de Portugal, mesmo uma goleada, aos pés da Holanda, se em troca a Rússia perdesse. Eu exigiria, pelo menos, uma boa exibição portuguesa, mesmo assim... Felizmente, o destino foi-nos mais generoso do que isso: Portugal jogou relativamente bem, empatando com a Holanda, e a Irlanda do Norte venceu a Rússia. Continuamos em primeiro lugar. Claro que não convém perder de vista a segunda posição, que só depende de nós, mas é animador pensar que basta a Rússia perder apenas um ponto para acabarmos o Apuramento em primeiro. Isto se também fizermos a nossa parte, obviamente.
Confesso que seria, no mínimo, estranho uma eventual Qualificação direta. Fizemos uma excelente recuperação durante o Apuramento para o Euro 2012 após o caso Queiroz e, mesmo assim, tivemos de ir aos playoffs. Nesta fase, contudo, ficámos para trás por mero desleixo, mas ainda podemos Qualificarmo-nos em primeiro lugar... Não parece justo. É um daqueles paradoxos do futebol. Além disso, eu sentiria falta da emoção dos playoffs, até porque a minha irmãzinha faz anos no dia de um deles e, caso fosse disputado na Luz ou em Alvalade, quereríamos ir... Mas não nego que seria um alívio se, por uma vez, conseguíssemos garantir um lugar no Brasil já eu outubro, sem mais drama.
Por outro laod, tal como Paulo Bento e outros jogadores assinalaram. há que salientar o facto de a Irlanda do Norte ter sido capaz de empatar connosco e vencer os russos. Às tantas, ao contrário do que eu pensava, não foi apenas por desleixo que empatámos no Dragão. Às tantas, os irlandeses até são bons! Já há dois anos mencionei AQUI que a Irlanda do Norte é daquelas equipas que, não tendo nada a perder, dão tudo o que têm dentro de campo. Não sei até que ponto a Rússia jogou mal mas consta que os irlandeses entraram em campo precisamente com a atitude que descrevi: em vez que estacionarem o autocarro em frente da baliza, atacaram sem medo e, no fim, venceram.
Não sei se repetirão a atitude quando os visitarmos em Belfast, no próximo mês. Em teoria, uma equipa mais atacante, menos passiva, do que é o seu hábito será menos perigosa. No entanto, a Seleção costuma ter dificuldades perante equipas que estacionam o autocarro à frente da baliza, tendo em conta, sobretudo, a nossa crónica falta de eficácia. Às tantas, talvez nos desse mais jeito se os irlandeses se preocupassem mais em atacar, descurando, deste modo, a defesa...
Aquilo de que todos temos a certeza é de que será um jogo a levar muito a sério. Um dos objetivos deste particular terá sido, aliás, familiarizar os Marmanjos com este nível de seriedade. Terá de ser, caso queiramos estar no Mundial do Brasil. Este jogo voltou a provar, ainda, que Portugal tem a capacidade de se bater de igual para igual com equipas deste calibre. Assim, será um enorme desperdício, não apenas para nós mas para o futebol em geral, os portugueses ficarem de fora do Campeonato do Mundo. O jogo com a Irlanda do Norte é mais uma final que temos de vencer. E não falta muito...
Só espero que, nessa altura, tenhamos bem menos jogadores de baixa. Porque, sinceramente, isto foi ridículo...
Anteontem, segunda-feira dia 12 de agosto, a Seleção Portuguesa de Futebol efetuou o seu primeiro treino de preparação do embate particular, frente à sua congénere holandesa, a realizar-se hoje à noite, às 20h30, no Estádio do Algarve. O treino, aberto ao público, teve lugar no Estádio Nacional, no Jamor... e eu estive lá, com a minha irmã e uma amiga dela.
Pela fotografia, julgo que se pode deduzir como correu.
Não escrevi a minha habitual entrada de análise aos Convocados e de análise ao jogo que se avizinha por dois motivos. O primeiro é por considerar que pouco poderia dizer que já não tivesse dito anteriormente. Ao fim de não sei quantos anos de blogue, um certo desgaste é inevitável. Não tanto nas crónicas pós-jogo - cada encontro, seja ele oficial ou particular, é único, essa é uma das belezas do futebol. Mas nestas entradas pré-jogo, tenho de puxar pela minha criatividade para não escrever sempre o mesmo texto outra a outra vez. E como, de resto já planeava ir a um treino aberto e escrever sobre isso, não me importei.
O motivo principal, contudo, foi o facto de ter passado a última semana - incluindo o dia da Convocatória de férias no estrangeiro. É claro que agora todo o hotel que se preze tem wi-fi, por isso, a desculpa é questionável. No entanto, não levei o meu computador comigo e o meu irmão mal me deixava tocar no dele. De resto, também estava a precisar de uma pausa da Internet. Em todo o caso, deu para ir ficando a par das principais novidades: os Convocados, a onda de lesões (outra vez, Nani?!?), a transferência de Hélder Postiga para o Valência, a derrota do Chelsea aos pés do Real Madrid.
Deu também para saber que, na preparação deste particular com a Holanda só haveria um treino aberto, na segunda-feira às 17h30, sendo que o treino de terça-feira de manhã apenas seria aberto aos Órgãos de Comunicação Social, durante quinze minutos. O que me contrariava por diversos motivos. Um deles era por ser no dia que se seguiu ao nosso regresso a Portugal, deixando-nos pouco tempo para recuperarmos da cansativa viagem. Além disso, num treino matinal, o calor não seria um inconveniente tão grande e não existira a urgência de não chegar demasiado tarde a casa. O motivo principal foi, contudo, o facto de suspeitar - acertadamente - que vários jogadores, com destaque para Cristiano Ronaldo, se baldariam àquele treino.
Eu devia era falar com os boys do Miguel Relvas, a ver se este blogue e respetiva página de Facebook me garantiam uma equivalência a Órgão de Comunicação Social...
Quer-me parecer que, para o melhor e para o pior, ir ver a Seleção ao Jamor será sempre uma aventura - até porque o local continua a ser isolado, meio degradado nalgumas zonas, e a ter péssimos acessos.
Por estes e por outros motivos - incluindo as peripécias na viagem de ida de há um ano - este nosso passeiozinho foi cuidadosamente planeado. Viemos equipadas com três garrafas de água fresca - porque o calor apertava - pacotinhos de bolachas para o caso de nos dar a fome, cartões carregados com dinheiro para os transportes, dinheiro extra para o caso de precisarmos de um táxi, o número de telefone da respetiva central, máquina fotográfica, cadernos e canetas para os autógrafos. Como agora vivemos em Lisboa, fomos de Metro até ao Cais do Sodré, onde apanhámos a Linha de Cascais. Apeámo-nos na minúscula e antiquada estação da Cruz Quebrada, atravessámos o pequeno bairro degradado e, debaixo do sol abrasador, subimos até ao Estádio, os holofotes entre as árvores servindo-nos de marco orientador. Receosa como estava dos atrasos dos comboios e de outros imprevistos, fiz questão de sairmos cedíssimo - como resultado, chegámos ao Jamor uma hora antes o início do treino.
Não fomos as únicas, de resto. Ainda não estava ninguém à entrada do Estádio mas, mais acima, junto ao parque de estacionamento, já se haviam juntado umas boas trinta pessoas, à espera do autocarro da Seleção. Aqui, encontrámos a Bárbara, uma seguidora da minha irmã no Twitter, uma jovem sportinguista, tal como ela, que viera ao Jamor praticamente só para ver o Miguel Veloso, o seu herói. Trazia um cartaz verde fluorescente, pedindo uma camisola ao jogador do Kiev que já lhe tinha sido prometida quando ela fora ao jogo com a Rússia.
Ainda ficámos uma boa meia hora à espera do autocarro, unto ao portão através do qual, no ano passado, o Eduardo, o João Pereira e o Rui Patrício nos haviam dado autógrafos. Sempre que se vislumbrava um autocarro ao fundo da estrada, as pessoas entusiasmavam-se:
- São eles? São eles?
Não eram e eu ria-me. Sabia perfeitamente que, quando fosse a Seleção, não teríamos dúvidas. E, quando eles chegaram, tal como previ, vinham no costumeiro autocarro cor-de-laranja, rodeados de polícias - a minha irmã chegou mesmo a filmar o momento da chegada mas não me deixa divulgar os vídeos. Enquanto o autocarro efetuava a manobra para entrar, chegámos a trocar acenos com o Paulo Bento e o Beto.
Depois de estacionado o autocarrro, ainda esperámos que os jogadores viessem ter connosco, os adeptos, mas não me surpreendi por não terem vindo. De resto, os portões para o Estádio foram abertos pouco depois. Mas ainda houve tempo para as meninas, juntamente com uns quantos adeptos, espreitarem entre as sebes, fazendo lembrar papparazzi, na esperança de vislumbrar um ou outro jogador. Depois de entrarmos para o Estádio, plantámo-nos o mais perto que pudémos da saída dos balneários, apesar de ficar debaixo da luz do Sol. Por algum motivo, desta vez os seguranças pareciam mais permissivos, ninguém nos veio pedir para mantermos as pernas atrás do muro. Conseguimos ver e filmar a subida dos jogadores: o André Martins e o João Pereira, o Rui Patrício e o Eduardo, o Pizzi e o Rúben Amorim, o Nélson Oliveira, o Bruno Gama, o Miguel Veloso, o Hélder Postiga. Nós e os outros adeptos íamos chamando alguns deles, trocando acenos, a Bárbara chegou a gritar ao Patrício que ficasse no Sporting, bem como ao Postiga que regressasse ao clube leonino. Eu, às vezes, ficava tão envergonhada quando os jogadores olhavam na nossa direção que olhava para baixo.
Julgo ter visto o Bruno Gama recebendo a costumeira "receção ao caloiro" antes do aquecimento. Tal como faz igualmente parte da praxe, os jogadores estiveram a passar bolas uns aos outros, dando carolos amigáveis a quem falhava. Nada de novo mas não deixava de ser engraçado vê-los ali, na brincadeira, como se fossem cachorrinhos. Destaque para o André Martins, baixinho, com cara de miúdo, a dar carolos ao Eduardo, que é um matulão.
Ao meu lado, ia ouvindo a Bárbara suspirando pelo Miguel Veloso:
- Ai aqueles braços... Ai, ele mexeu no cabelo... Porque é que ele é tão lindo?
Eu ria-me pois, quando tinha quinze anos, também era assim. A diferença é que limitava estes monólogos ao meu diário e pouco mais. Todas as meninas passa por isto, faz parte do crescimento. E, pelo menos no meu caso, a fase do ai-que-ele-é-tão-perfeito já acabou há muito mas o carinho permanece.
A pedido da minha irmã, ficámos mais um pouco no mesmo sítio, vendo os guarda-redes - logo, o herói dela, Rui Patrício - treinando daquele lado do campo. Achei particularmente interessante um exercício em que Ricardo Peres - o treinador dos guarda-redes, penso eu - e dois dos guarda-redes avançavam em direção à baliza, cada um com a sua bola, mas só um é que rematava, para o terceiro guardião tentar defender. Metia um certo medo ver os três atacantes ao mesmo tempo. Eu é que não queria estar a defender a baliza!
A parte mais interessante do treino foi o minijogo. Gosto sempre de ver aqueles homens a jogar, mesmo sendo naquelas circunstâncias. Como não podia deixar de ser, foram várias bolas aos postes. Sempre que o Hélder Postiga se encontrava com a bola em frente à baliza, eu gritava:
- Vai, Postiga!
Mas a bola acabava sempre por ir parar às mãos do Eduardo ou do Beto. No fim, só houve um golo, de Bruno Gama.
Tal como já foi mencionado, estiveram ausentes muitos dos titulares habituais, incluindo o Cristiano Ronaldo. Irrita-me, contudo, quando dizem, por exemplo, que "a intenção dos adeptos [ao irem ao Jamor] era, obviamente, ver ao vivo Cristiano Ronaldo". Como se a Seleção fosse só ele, como se nós, os adeptos tivéssemos vindo só por causa dele. Não era o caso de nós as três, pelo menos. A Bárbara, tal como já foi referido, viera, sobretudo, pelo Miguel Veloso. A minha irmã queria, como podem deduzir pelo que ela escreveu nas costas do cartaz da Bárbara, queria uma foto e/ou um abraço do Rui Patrício (infelizmente, não obteve nenhum dos dois). Quanto a mim, vim, não apenas para ver os meus heróis mas também, sobretudo, como forma de demonstrar que os apoiava.
Mas não nego que fiquei desiludida com a ausência do Cristiano.
E ainda pensámos que poderíamos perder mais gente quando o Pizzi foi tocado e começou com queixas Felizmente, passou-lhe e terminou o treino sem limitações.
Tínhamos mudado de lugar para ver o mini-jogo mas, quando os jogadores começaram a fazer os alongamentos finais, voltámos para o local inicial, junto à entrada dos balneários, na esperança de que, pelo menos, o Miguel Veloso viesse ter connosco, atraído pelo cartaz da Bárbara. Eu tinha algumas dúvidas de que isso acontecesse, pensava que só dariam atenção aos adeptos antes de entrarem no autocarro, como no ano passado.
Mas enganei-me, o Miguel veio - consegui filmar o momento - e a Bárbara foi de imediato tirar uma foto com ele. Claro que o resto dos adeptos veio atrás, à caça de fotografias e autógrafos. Eu e a minha irmã juntámo-nos logo à pequena multidão. De alguma forma, consegui manter-me bastante calma, tendo em conta que era a primeira vez, em mais de dez anos apoiando a Seleção - embora, só a tenha começado a seguir fielmente depois do Euro 2004 - era a primeira vez que estava assim tão perto de um jogador. Ainda foi um bocadinho difícil, houve alguma confusão, ainda que de uma forma bastante ordeira e civilizada, até porque os seguranças estavam sempre presentes, calmos mas firmes, para evitar abusos. Estive perto de me meter em foto alheia algumas vezes. Por fim, eu e a minha irmã (uma de cada vez), já conseguimos uma foto com o Miguel, bem como o seu autógrafo.
Entretanto, em resposta aos apelos dos outros adeptos, o Beto e o Eduardo vieram, também, ter connosco. Tal como mencionei acima, ia-me mantendo surpreendentemente calma - mas admito que, se lá estivesse o Cristiano Ronaldo, o Nani ou mesmo o Postiga, talvez caísse para o lado de sorriso no rosto, que os jogadores retribuíam quando nele reparavam. A minha irmã conseguiu uma fotografia com o Beto e, depois, veio comigo tirar uma foto com o Eduardo - ela pediu-me para a cortar das fotografias que publicasse aqui no blogue. Depois da foto e os agradecimentos, virei-me para o Eduardo e disse-lhe:
- Agora Qualifiquem-se, OK?
Por fim, foi a vez de Paulo Bento vir ter com os adeptos. Tal como os jogadores já o tinham sido, ele foi muito paciente para connosco. Apesar de começar por dizer que não podia demorar muito, que tinha o autocarro à espera, depressa garantiu:
- Eu tiro foto com todos.
De novo tivémos de esperar pela nossa vez. Eu e a minha irmã tentámos várias vezes ir ter com o Selecionador, mas acabávamos por dar o lugar aos outros adeptos, em particular quando eram crianças. Achámos particular graça a dois miudinhos gémeos, loiros de olhos claros, que falavam francês, cada um deles com o equipamento branco da Seleção completo do Cristiano Ronaldo. A minha irmã ficou particularmente feliz quando, a certa altura, Paulo Bento olhou para ela e disse:
- Deixem lá vir a menina, que está aqui à espera.
Contudo, eu e a minha irmã ainda tivémos de esperar um bocadinho mais antes de conseguirmos a tão desejada foto com o Mister. No fim, eu ainda lhe disse:
- Meta o pessoal a jogar.
Mas acho que ele não ouviu. A minha irmã diz que ele ainda lhe piscou o olho.
Eu e as meninas ainda corremos para junto do autocarro, na esperança de que mais um viesse ter connosco, o que não aconteceu. A Bárbara só dizia:
- Eu tive o Miguel ao pé de mim... Eu tive o Miguel ao pé de mim...
Ainda houve tempo para dizermos adeus a Paulo Bento e a alguns dos jogadores antes de o autocarro partir.
Como podem calcular, quando chegámos a casa (tivemos boleia), eu vinha exausta mas era aquele tipo de cansaço que prova de que fizémos o que devíamos, de que tivemos um dia extraordinário. Todo o stress, todas aquelas horas debaixo dos calores do Sara, valeram a pena pois, ao fim de anos sonhano com isto, pude contactar de perto com jogadores e treinador da Seleção, tirar fotografias com eles. Só tenho pena de não ter conseguido ver o Cristiano, o Nani, o Pepe, o Moutinho e os outros, de não ter tirado uma fotografia com o Postiga. Mas um dia conseguirei encontrar-me com mais Marmanjos, se Deus quiser, com a minha troika de ataque preferida. De resto, não devo ficar muito tempo sem vê-los de nov ao vivo, visto que, em princípio, iremos ao jogo com Israel, em Alvalade. Antes disso, temos outros jogos, começando por o de daqui a menos de duas horas, frente à Holanda, no Estádio do Algarve - ironicamente, uma região fértil em laranjas E, apesar de, tradicionalmente, a Holanda se dar mal connosco em campo, as várias ausências fazem-me recear que esta laranja se revele mais amarga do que o costume. Paulo Bento afirma que o principal objetivo do jogo é manter a competitividade em níveis elevados. Eu acrescentaria que estes dois particulares, frente a adversários de respeito, servem precisamente para os Marmanjos se mentalizarem de que o tempo para brincadeiras já passou, que o que resta da Qualificação é para ser levado a sério.
Como tal, espero para este jogo pelo menos um empate com golos e, sobretudo, uma exibição consistente por parte das cores portuguesas, à semelhança do jogo com a Croácia. No fundo, uma garantia de que aquilo que pedi ao Eduardo será cumprido. Fui ao Jamor para demonstrar o meu apoio para com a Seleção para o resto do Apuramento. Agora, a bola está do lado dos Marmanjos.
Mais um ano encontra-se à beira do fim, mais um ano encontra-se à beira do início. Eis a já tradicional revisão do ano.
Depois de um 2011 relativamente tranquilo, estável, tirando uma ou outra ocasião, 2012 foi de novo um ano algo agitado, com muitos altos e baixos. Não que o oposto fosse de esperar, já que foi ano de Campeonato Europeu. No início de 2012, a Seleção Nacional vinha de uma Qualificação difícil mas triunfante, com um encerramento particularmente apoteótico. Tal euforia fora, contudo, contrariada pelo sorteio da fase de grupos, que ditara que Portugal partilharia o grupo com a Alemanha - vice-campeã europeia - a Holanda - vice-campeã mundial - e a Dinamarca - seleção que nos complicara a vida à grande e à dinamarquesa nas últimas duas fases de Qualificação.
O primeiro jogo da Seleção do ano deu-se a 29 de fevereiro; um particular frente à Polónia, ma das anfitriãs do Europeu, a propósito da inauguração de um dos estádios que serviria de palco à fase final. A calendarização deste jogo provocou alguma polémica, visto este ter-se realizado apenas dois dias antes do Benfica-Porto - os jogos da Seleção nunca são convenientes, pelo que se vê. Esta foi a primeira oportunidade que a Turma das Quinas teve para se reunir em mais de cem dias, a última oportunidade que Paulo Bento teria de estar com os jogadores antes da Divulgação dos Convocados antes do Euro 2012.
Este jogo ficou marcado pela estreia de Nélson Oliveira entre os Convocados, bem como da nova presidência da Federação Portuguesa de Futebol. Humberto Coelho e João Pinto passaram a fazer parte da comitiva. Embora não possa avaliar o trabalho da FPF noutros ramos do futebol, tenho de admitir que durante o Euro 2012, a estrutura federativa fez um bom trabalho na Seleção. O que provavelmente contribuiu para o bom percurso que fizemos.
Mas regressemos ao Portugal x Polónia. Aquando deste jogo, aparentemente, a atmosfera era positiva dentro da Seleção. Os jogadores pareciam felizes por estarem de novo juntos, pareciam possuir espírito vencedor e motivação para fazerem um bom particular.
Tais promessas ficaram por cumprir.
O particular, que terminou com o marcador inalterado, revelou-se igual a tantos outros realizados pela Seleção ao longo dos últimos anos. A primeira parte foi boa, com algum carácter, a segunda não foi tão boa. Destacaram-se Nani e Rui Patrício. As muitas oportunidades falhadas davam os primeiros indícios dos problemas na finalização que assombraram a Equipa das Quinas ao longo de praticamente todo o ano.
Tais problemas são, para mim, o maior enigma deste ano. Durante todo o Apuramento a finalização nunca foi um problema, nós terminámos 2011 com uma goleada, que aconteceu em 2012?
Ninguém pareceu demasiado preocupado com tais sinais, quase ninguém levou o particular a sério. A temporada de clubes estavam bem ativa, o Europeu estava demasiado distante no tempo para que alguém perdesse demasiado tempo pensando num particular da Seleção.
As atenções só se voltaram a sério para a Turma das Quinas mais de dois meses depois. Os Convocados para o Europeu foram anunciados a 14 de maio. Esse foi, definitivamente, um dos dias mais emocionantes de 2012, melhor do que o Natal. Guardo imensas recordações: passar o dia a atualizar a página do Facebook, ouvir programas relativos ao tema na rádio, contar as horas até à Divulgação, acompanhá-la radiofonicamente, bem como o respetivo rescaldo, na aula, no átrio da Faculdade, no carro. A Convocatória foi razoavelmente isenta de polémicas, embora a opinião pública se dividisse no tocante a certos nomes, como o habitual.
O estágio de preparação do Europeu começou alguns dias mais tarde. A primeira parte decorreu sem incidentes significativos, tirando a lesão de Carlos Martins e consequente chamada de Hugo Viana. Nessa altura, achei mesmo que andava-se a dedicar demasiado tempo de antena à Seleção, quando ainda não havia razões para tal.
Ao fim da primeira semana de estágio, disputou-se um particular com a Macedónia. Um jogo aborrecido, insonso, de contenção. No entanto, tendo-se realizado numa fase relativamente precoce da preparação para o Europeu, não houve grande drama.
O mesmo não aconteceu uma semana mais tarde, no particular com a Turquia, na Luz. Um jogo que tinha tudo para correr bem, que se realizou em casa cheia, num ambiente eletrizante. E a Seleção até entrou menos mal, em sintonia com a vibração do público. Só que as dificuldades na concretização vieram ao de cima, os turcos fizeram pela vida, o Ronaldo falhou um penálti, o último golo que sofremos podia muito bem ser incluído numa compilação de apanhados do futebol de 2012
Agora que penso nisso, este ano tivemos demasiados jogos desse género, em que tínhamos tudo para ganhar mas acabámos por ter exibições roçando a mediocridade. Contra a Macedónia, contra a Turquia, contra a Irlanda do Norte...
A única coisa boa do jogo foi o golo do Nani; o primeiro golo da Seleção do ano - em junho... - mas o único do jogador do Manchester United, algo que é atípico...
Se ainda deixei passar o empate com a Macedónia, este deixou-me mesmo zangada. Por, depois de tanta promessa, tanto pedido de apoio, os Marmanjos não corresponderem dentro de campo. E, como se não bastasse, ainda virem com desculpas esfarrapadas e reagirem com arrogância às manifestações de desagrado dos adeptos (leia-se: aos assobios). E não fui a única a sentir-me assim.
Mas já lá vamos. Não posso deixar de falar da minha aparição no programa A Tarde é Sua dedicado à Equipa das Quinas. Outro dos momentos altos deste ano em termos pessoais. Foi um dia de muitos nervos, mas diverti-me imenso. Tive a oportunidade de conhecer a equipa por detrás do Hino da Seleção 2012 - Paulo Lima, Catarina Rocha (que lança em breve o seu primeiro CD), Eduardo Jorge, a Alexandra e a Mafalda - que, de resto, para mim foi uma das músicas mais marcantes deste ano; falei do meu livro, da referência ao Ronaldo - um aparte só para comentar que, hoje, diz-se muito que ele e o Messi são de outra galáxia. Talvez inclua a possibilidade de o Ronaldo ter vindo do planeta Minerva nas sequelas ao meu livro... - do vírus da Seleção, do Hélder Postiga - que, mais tarde, retribuiria tais declarações. Um dia que nunca esquecerei.
Estávamos, agora, em vésperas da nossa estreia no Europeu e a polémica estalou. Como é habitual, as primeiras críticas abriam caminho a outras, algumas justificando-se outras não, tudo isto à boleia dos últimos maus resultados - o buraco por onde todos se enfiaram. Falou-se de "circo", do poder das patrocinadoras, dos sinais exteriores de riqueza ostensivamente exibidos pelos jogadores, do tempo de antena conferido à Seleção, etc. O mais triste foi termos tido um ex-selecionador associado a tal polémica.
Há quem diga que esta má imprensa contribuiu para diminuir as expectativas, para dar alguma sobriedade ao grupo, aumentando-lhes o desempenho. Paulo Bento recusou-se a dar mérito às pessoas que se alimentaram das machadadas à credibilidade da Equipa das Quinas. Eu também não quero fazê-lo, em parte por uma questão de princípio, em parte porque, a ter contribuído para o sucesso da Seleção, tal contributo terá sido pouco significativo quando comparado com o trabalho de equipa, a união.
Por outro lado, não concordo com o que o Paulo Bento disse, a certa altura, ao referir que algumas pessoas estariam a torcer contra Portugal. Se houve coisa de que me apercebi neste Europeu, pela primeira vez em seis anos, foi que, nas grandes vitórias da Seleção, todos os portugueses ficam felizes. Mesmo os que habitualmente adoram odiar a Equipa de Todos Nós, mesmo os mais clubistas, mesmo os que se queixam da atenção dada ao futebol, mesmo - sou capaz de apostar - o Rui Santos, tirando, talvez, o Pinto da Costa (e mesmo assim...) ninguém ficou chateado com as vitórias da Seleção no Euro 2012. Isso foi o melhor desta fase final e é isso que eu e o Paulo Bento gostávamos de ver fora das fases finais.
Mas regressemos à nossa estreia no Europeu, frente à Alemanha. Um jogo que perdemos por uma bola a zero. Não foi um mau encontro, Portugal mostrou argumentos. Só que teve demasiado respeito pelo adversário, acordou demasiado tarde e a Alemanha foi tremendamente eficaz. De novo a história dos "vinte e dois homens atrás de uma bola e no fim ganha a Alemanha" de novo. Destaque para os quase-golos de Pepe, Nani e Varela. O deste último dando um presságio para o jogo seguinte. Portugal dava sinais de ter uma palavra a dizer no Europeu. No entanto, vitórias morais nunca são suficientes, já era altura de virmos cumpridas as promessas que andavam a ser feitas.
A história do jogo com a Dinamarca, realizado quatro dias mais tarde, foi diferente. Foi o meu preferido do Europeu, empolgante como apenas os jogos da Seleção em fases finais conseguem ser, absolutamente contra-indicado em doentes cardiovasculares, um dos mais emocionantes a que já assisti. Pelo menos, foi um dos jogos em que mais exprimi tais emoções - leia-se, o jogo em que mais gritei. Recordo o Pepe beijando as Quinas da sua camisola, os meus gritos de "ESTE É P'RA MIM! ESTE É P'RA MIM!" após o golo do Hélder Postiga, o Moutinho correndo para os braços do Varela depois de ele salvar o dia - com o meu golo preferido do Europeu - antes de a Seleção em peso se atirar para cima deles, eu e a minha irmã gritando como se não houvesse dia seguinte, de triunfo e alívio por estarmos de novo em vantagem quando tudo parecia perdido.
A passagem aos quartos-de-final só foi assegurada quatro dias mais tarde, frente à Holanda. Um jogo em que a Turma das Quinas entrou mal, mais uma vez, mas conseguiu dar a volta por cima, ganhando por 2-1. Ambos os golos foram marcados por Cristiano Ronaldo, que soube responder da melhor forma às críticas ao seu desempenho frente à Dinamarca. Portugal conseguia, assim, o que muitos haviam julgado quase impossível: sobreviver ao Grupo da Morte.
Nos quartos-de-final, Portugal encontrou-se com a República Checa. A Seleção entrou mal, uma vez mais, só que os checos não souberam tirar proveito disso e os Marmanjos acabaram por melhorar. Apenas Peter Cech e o poste impediram uma vitória mais dilatada. Assim, ganhámos por apenas 1-0, golo de Crsitiano Ronaldo, mais uma vez. Destaque para os festejos de Luís Figo e Eusébio nas bancadas. A Seleção carimbava, assim, a passagem às meias-finais do Europeu. Era o maior avanço numa fase final em seis anos, a primeira campanha digna de orgulho desde o Mundial 2006.
O nosso adversário nas meias foi a Espanha, a campeã europeia e mundial. Atrevo-me a dizer que foi, talvez, o jogo que maior interesse despertou em todo o campeonato Europeu. Lembro-me dos tweets do Phoenix dos Linkin Park, do Chuck Comeau dos Simple Plan, do apoio da eterna adepta portuguesa Nelly Furtado. Foi, sem dúvida, um dos jogos mais intensos desta fase final, sofrimento desde o primeiro minuto ao último penálti. Foi, no fundo, a verdadeira final do Europeu, pois fomos a única equipa a conseguir fazer frente ao poderio espanhol. Apenas perdemos por um detalhe, por um pormenor tornado pormaior, até Del Bosque admitiu, há bem pouco tempo, que os espanhóis tiveram sorte.
Mas eu sempre tive noção disso, que muitos jogos entre grandes se decidem no limite, não podemos tirar o mérito à Espanha pelo seu terceiro título consecutivo.
Algo que não mencionei antes aqui no blogue foi que, no dia a seguir à meia-final frente à Espanha, à tarde, fui receber a Seleção ao aeroporto da Portela. Eu e mais umas centenas de pessoas. Não falei disso no blogue por falta de tempo. Se forem a ver, só consegui publicar a minha análise ao jogo com a Espanha vários dias após a final do Europeu. Já foi uma entrada grande, que demorou a ser escrita, se ainda tivesse de acrescentar mais uns quantos parágrafos, demoraria outra semana a concluí-la. Tomei a decisão de ir até à Portela por estar stressada e deprimida, de certa forma na ressaca da nossa expulsão do Europeu. O único consolo possível seria mesmo fugir para junto da Seleção. Não foi como ir ver um treino ao Jamor. Mais do que pedir autógrafos, o que eu queria mesmo era consolar os jogadores e que eles me consolassem a mim. Muitas vezes desejaria eu, mais tarde, largar tudo e ir ter com a Seleção - e ainda desejo de vez em quando. A diferença era que, naquela altura, tinha possibilidades de fazê-lo. Por fim, seria um último bom momento antes de dar por encerrado o capítulo do Euro 2012.
Por isso fui. Apanhei o Metro até ao Marquês de Pombal e, de seguida, o autocarro 22 - isto deu-se, mais ou menos, uma ou duas semanas antes de abrir o Metro até ao aeroporto Cheguei deviam ser quatro e meia. Já havia gente fazendo a festa na zona das chegadas e câmaras televisivas testemunhando-a. Mantive-me longe das lentes delas, não estava com disposição. Cedo consegui fixar-me junto à rampa de saída, onde já estava montado um cordão policial. Aqui, conheci a Verónica e a Margarida, que me fizeram companhia durante as duas horas de espera. Durante esse intervalo de tempo que se ia esticando - nestas coisas há sempre atrasos - a multidão ia sempre ensaiando palavras de ordem e cantando o hino.
Eles finalmente chegaram eram cerca de seis e meia da tarde. Mais tarde, leria que os jogadores tinham sido apanhados de surpresa e, por acaso, foi o que pareceu. Eu estava numa posição privilegiada, em pude ver e ser vista pelos jogadores. E, mesmo assim, podia ter tido melhor sorte pois o Cristiano Ronaldo esteve a dar autógrafos a uns dois metros de mim. Em todo o caso, eu tinha um letreiro, uma folha arrancada de um caderno A4 onde tinha escrito algo como "Obrigado Portugal! Paulo Bento 4 Ever! Somos grandes graças a vocês!". Acho que consegui fazer com que fosse lido pelo Eduardo, pelo Ricardo Costa, pelo Hélder Postiga - este chegou mesmo a olhar para mim quando o chamei. O Quaresma, que usava um boné todo quitado, chegou mesmo a piscar-me o olho. Entretanto, na confusão, o cordão policial tinha-se desfeito e consegui aproximar-me do Nani. Mas como este abraçava uma miudinha que devia ser irmã dele ou algo do género, não tive lata de ir incomodá-lo.
Depois daí para o exterior, juntamente com o resto da multidão, rodeando o autocarro. Aqui cantou-se o hino e gritou-se:
- O-BRI-GA-DO! O-BRI-GA-DO!
Foi, de facto, arrepiante. A multidão só se dispersou depois de o autocarro ter partido. Depois disso, fui tratar de arranjar transporte de regresso. A confusão era grande junto às paragens de autocarro, como seria de esperar. Lá pelo meio, consegui encontrar a Margarida - aquando da chegada dos jogadores, tínhamo-nos separado - e agradecer-lhes a companhia. Ainda cheguei a pôr a hipótese de apanhar um táxi mas, entretanto, veio o autocarro 22 e entrei. E ainda bem que o fiz.
O 22 estava cheio de gente tinha vindo receber a Seleção, pelo que passámos a viagem inteira até ao Marquês de Pombal trocando experiências com os Marmanjos no aeroporto, conversando sobre o Europeu e sobre a caminhada até ao Mundial, que se iniciaria em breve. Foi, de certa forma, a última grande conversa de café do Euro 2012 que, ainda por cima, terminou com o senhor que vinha a meu lado a beijar-me a mão em jeito de despedida.
Tal gesto foi-me tão valioso como cada um dos olhares trocados com os jogadores no aeroporto.
Esta pequena aventura ajudou-se a renovar a esperança num título para Portugal a curto ou médio prazo e a encerrar o capítulo do Euro 2012. Além de ter sido mais uma recordação agradável. Foi como quando fui receber a Seleção ao Jamor após o Mundial 2006.
Em suma, o Euro 2012 foi o melhor período deste ano que agora finda. Pelos motivos que enumero frequentemente e outros mais, que descobri ou de que me recordei. É uma emoção diferente ver um jogo de um Europeu ou de um Mundial, já que agrega todo o País, tal como já expliquei acima. Tenho saudades disso, de participar em inúmeras conversas de café e não só, armando-me em especialista na matéria, tão especialista que até fora convidada para a televisão; de ver o Paulo Bento no banco, dando instruções, atirando com o blazer e a gravata, envolvendo-se tanto que parecia querer entrar em campo e ele mesmo fazer o que era preciso; dos jogos às oito menos um quarto; de ver os jogos com a minha irmã, etc. De vez em quando, vou ver os tweets enviados durante os jogos e sou transportada para esse período. Entro de tal forma no espírito que, quando regresso ao presente, sinto-me deprimida, como se acordasse de um sonho bom.
Em agosto, tendo em conta o nosso percurso no Europeu, tinha esperança de que a Qualificação para o Campeonato do Mundo, a realizar-se no Brasil e 2014, corresse melhor que as Qualificações anteriores. Tal esperança sair-me-ia furada mais tarde, mas antes do início do Apuramento sentia-me otimista. Para isso, contribuíra a minha visita ao Jamor, acompanhada da minha irmã - visita que nos rendeu autógrafos do Eduardo, do João Pereira e do Rui Patrício - bem como o jogo com o Panamá - jogo que a Seleção ganhou por duas bolas a zero, cortesia de Nélson Oliveira e Cristiano Ronaldo, com uma exibição acima da média em jogos deste carácter.
A Qualificação em si arrancou cerca de três semanas mais tarde com um jogo frente ao Luxemburgo. A Seleção obteve uma vitória cinzenta, absurdamente suada tendo encontra o nosso adversário. Chegou mesmo a estar a perder. Na altura, achei ridículo mas agora, depois dos últimos jogos... De qualquer forma, a Seleção conseguiu dar a volta ao resultado, com golos marcados pelo Cristiano Ronaldo e pelo Hélder Postiga amealhando, deste modo, os primeiros três pontos da Qualificação.
Um aparte só para comentar que, este ano, o Cristiano foi o melhor marcador da Seleção, com cinco golos. O segundo melhor foi o Hélder, com quatro. Em terceiro, ficou o Varela, com dois.
A Seleção entrou em campo com a sua congénere azeri quatro dias mais tarde com uma atitude diferente, mais desenvolta, mais enérgica mas... ainda sem pontaria. Ou melhor, com pontaria mas para o sítio errado. O poste foi um dos grandes protagonistas de 2012. O que nos valeu foi o facto de os azeris não terem sido capazes de se aproveitarem desta nossa fraqueza. Assim, teve de vir o Varela, já promovido a bombeiro da Seleção, salvar a honra ao convento e quebrar o enguiço, dando espaço a Postiga e a Bruno Alves para dilatarem a vantagem.
No mês seguinte, a seleção jogou fora, com a Rússia. Fê-lo num clima frio, num relvado artificial, amputada de dois titulares - Meireles e Coentrão. Um jogo difícil, em que a Turma das Quinas nem sequer jogou muito mal, embora não tenha conseguido evitar a derrota pela margem mínima. Apesar do desapontamento por não termos ganhou ou, pelo menos, empatado, não me preocupei por aí além. Afinal, aquele era o jogo mais difícil de todo o Apuramento. Os outros correriam melhor.
Enganava-me. Verdadeira deceção, verdadeiro balde de água fria foi o jogo seguinte, frente à Irlanda do Norte. Foi mais um daqueles jogos que tinha tudo para correr bem - comemoravam-se as cem internacionalizações de Cristiano Ronaldo, o Dragão estava cheio, Rui Reininho veio cantar o hino - mas que correu pessimamente. A primeira parte foi medíocre. O golo sofrido foi uma reposição do tento russo. A segunda parte correu um pouco melhor mas, mais uma vez, os Marmanjos acordaram demasiado tarde para conseguirem melhor que um empate.
Ainda houve mais um jogo da Equipa das Quinas este ano, um particular contra o Gabão no mês seguinte, mas um jogo de tal maneira e em tantos aspetos irrelevante que não vou gastar mais linhas com ele.
É basicamente isto. Sinto-me algo desanimada. Nos últimos dois anos, por esta altura, a Seleção atravessava bons momentos e eu sentia-me otimista relativamente ao ano que começaria em breve. Agora... nem por isso. O ano nem sempre foi fácil para mim, muitos pensamentos heréticos, crises existenciais, desânimo relativamente ao futuro. Os últimos jogos da Seleção não me fazem sentir melhor e, neste momento, na reta final do ano, muitos dos nossos jogadores andam, igualmente, a passar por dificuldades nos respetivos clubes. O Nani está lesionado e não é desejado no Manchester United. O Fábio Coentrão também anda lesionado e ainda não se percebe se se encaixa no Real Madrid. Além de que, segundo consta, o ambiente não está fácil no clube madrileno, o que certamente afetará Pepe e Cristiano Ronaldo. Também o Quaresma andou ao longo de meses em guerra com o Besiktas e, agora, está sem clube. O Meireles, esse, teve uma disputa com um árbitro, arriscou-se a ficar de fora de onze jogos mas, felizmente, ficará apenas fora de quatro. E nem falo do Sporting e no efeito que tal crise não estará a ter em Rui Patrício e outros jogadores selecionáveis...
Não sei qual será o efeito destas crises individuais no rendimento da Seleção como coletivo. Se o desempenho cairá por os Marmanjos não andarem a jogar com a devida regularidade ou se, pelo contrário, eles recorrerão à Terapia das Quinas, se encararão uma Convocatória como um escape à situação nos clubes e, consequentemente, jogarem ainda melhor.
Em suma, estamos todos a precisar de uma viragem de maré no ano que começa em breve. Já ajudava se fosse apenas em termos futebolísticos, se relançasse a Seleção no caminho até ao Brasil. Já perdemos todos os pontos que podia perder, não quero escorregadelas em 2013. Até porque tenciono assistir ao jogo com a Rússia, na Luz, e quero que a Seleção esteja num bom momento nessa altura. Será esse um dos meus desejos para 2013: que seja um ano mais tranquilo que 2012, que a Equipa de Todos Nós consiga ultrapassar esta fase má e que nos volte a dar alegrias.
Acredito que o conseguirá. Se houve coisa que aprendi em todos estes anos como adepta hardcore da Turma das Quinas é que nenhuma manifestação de fé, de apoio, é tempo perdido, mesmo em fases menos boas, como esta. Porque, mais cedo ou mais tarde, a Seleção levanta-se e recompensa-o. Pode nem sempre ser fácil ser-se adepto incondicional mas vale a pena.
De uma coisa podem, contudo, ter a certeza: no próximo ano, continuarei a acompanhar tudo o que acontecer relacionado com a Seleção, seja bom ou mau, quer com o blogue ou com a página do Facebook. Desafio-vos, então, a continuarem a aturar-me ao longo do próximo ano, enquanto observamos a Seleção abrindo caminho até ao Brasil. As coisas não estão fáceis mas, com sorte, daqui a um ano estaremos a debater as nossas hipóteses na fase final do Campeonato do Mundo de 2014. É esse um dos meus maiores desejos para 2013.