Na passada sexta-feira, dia 2 de dezembro, a Seleção Portuguesa de Futebol perdeu com a sua congénere sul-coreana por duas bolas contra uma, em jogo a contar para a fase de grupos do Mundial 2022. Apesar deste resultado, Portugal terminou o grupo em primeiro e seguiu para os oitavos de final da prova, onde irá defrontar a Suíça.
A isto sim, já estou mais habituada. Infelizmente.
Este foi outro jogo que vi em casa, com a minha irmã. Felizmente, desta feita os meus vizinhos não se fizeram ouvir. Como se previa, Portugal alinhou com um onze com várias mudanças – entre os titulares encontravam-se Ricardo Horta, Vitinha, Diogo Dalot, António Silva (que passou a ser o português mais jovem a representar Portugal num Campeonato do Mundo).
Depressa houve oportunidade de celebrar um golo: Pepe fez um grande passe, desde o meio campo coreano, para Diogo Dalot, que depois assistiu para Ricardo Horta se estrear a marcar neste Mundial.
Por acaso, uma parte de mim lembrou-se na altura que golos madrugadores costumam ser traiçoeiros. Aconteceu com a Sérvia no ano passado, por exemplo. Como neste jogo, ainda por cima, tínhamos a passagem mais do que garantida – pouco após a meia-hora de jogo o Uruguai já vencia o Gana por 2-0 – Portugal desacelerou. Isso, somado aos jogadores menos habituados uns aos outros, correu tão bem como devíamos ter calculado.
Ainda assim, houveram uns quantos portugueses que estiveram bem. Pepe continua ao nível de sempre. Dalot foi um dos melhores, provou merecer a titularidade. Ricardo Horta marcou o golo. Vitinha também esteve bem – destaque para estes passos de dança. Por fim, João Cancelo pareceu um pouco melhor jogando à esquerda. Mas nada disso chegou. Portugal só jogou bem durante os primeiros dez, quinze minutos do jogo.
A Coreia do Sul já tinha deixado um aviso uns minutos antes, com um golo anulado por fora-de-jogo. Pelos vistos, os portugueses não levaram a sério. No golo não anulado, Cristiano Ronaldo ficou mal na fotografia: aquando de um pontapé de canto favorável aos coreanos, Ronaldo encolheu-se todo, a bola bateu-lhe nas costas, sobrando para Kim Young-gwon rematar.
Mais um erro caricato para juntarmos à coleção. Daquelas coisas que só acontecem a quem faz. No entanto, Ronaldo só se pode culpar a si próprio. Andava com vontade de saber o que aconteceria quando o Capitão não pudesse apontar o dedo a outros.
Tive um vislumbre depressa.
Está na altura de falarmos do infame momento da substituição de Ronaldo, aos sessenta e cinco minutos de jogo. As câmaras captaram-no aparentemente reclamando que estavam com muita pressa de tirá-lo de campo – isto pontuado por termos mais coloridos.
Mais tarde, Fernando Santos e o próprio Ronaldo garantiriam que o Capitão se dirigia a um coreano qualquer. Ninguém acredita nisso. Ronaldo sabe falar inglês, porque falaria em português com um coreano?
Dito isto… não dá para ter a certeza do que aconteceu ali. Ele estava a dirigir-se a Fernando Santos? Ao André Silva? Estava a “vociferar”, como cheguei a ler, ou apenas a resmungar para si mesmo? (quem nunca? Um dos motivos pelos quais até gosto de trabalhar de máscara.)
Inicialmente, ia ser bastante crítica para com Ronaldo neste texto. Já o fui na página. Depois de pensar melhor no assunto, não tenho assim tanto em que me basear, não seria justo.
Na melhor das hipóteses, foi uma irritação momentânea, um mero desabafo de Ronaldo para os seus botões – todos sabemos que ele não gosta de ser substituído. A minha mãe diz que ele gosta de jogar, quer estar sempre em campo. Eu digo que ele é egoísta, põe as suas necessidades à frente das da equipa, é incapaz de se olhar ao espelho exceto para admirar a sua própria imagem.
Sim, na melhor das hipóteses.
Na pior das hipóteses, isto será o primeiro sintoma daquilo que eu mais temi depois da entrevista a Piers Morgan: Ronaldo cada vez mais afundado na sua negação, desautorizando Fernando Santos, voltando-se contra nós.
Lá está, não quero assumir já o pior. Para já, dou o benefício da dúvida. Para já.
E de qualquer forma… isto cansa. Faz-nos gastar tempo e energia, distrai-nos do resto da Seleção. E eu sei que nem tudo é culpa do próprio Ronaldo – ele definitivamente não convidou as câmaras a focarem-se nos seus lábios enquanto saía de campo.
E para quê, neste momento? O que é que Ronaldo tem feito por nós ultimamente, para além de atrair o interesse das multidões? Perante a Coreia do Sul não fez nada, até prejudicou. Neste momento, estamos com todas as desvantagens e quase nenhuma das vantagens.
Enfim. Esperemos que tenha sido só desta vez. Não quero ter de escrever sobre isto de novo.
À Coreia do Sul bastava um golo para conseguirem sobreviver à fase de grupos. A partir de certa altura, comecei a desejar que conseguissem marcar esse golo – mais para dar uma prenda a Paulo Bento do que por outro motivo qualquer, naquele momento. E como, de qualquer forma, não perderíamos o primeiro lugar… porque não?
Cheguei a pensar que os Marmanjos em campo tiveram a mesma ideia que eu. Pela maneira como, em cima dos noventa, Son Heung-min teve ali um corredor aberto para o contra-ataque, sem ninguém capaz de travá-lo, eu podia jurar que os portugueses fizeram de propósito. E foi uma bela assistência para o remate de Hwang Hee-Chan.
Não vou mentir, eu fiquei contente. Em parte pelo fator Paulo Bento, em parte porque era fácil simpatizar com os sul-coreanos. As imagens deles, jogadores e adeptos, de olhos ansiosos nos telemóveis depois do apito final, são deliciosas – eu própria nesta altura ia alternando entre canais. E, claro, a festa depois, com muitas lágrimas dentro e fora de campo. Os típicos underdogs, humildes mas ambiciosos, apaixonados, dando o seu melhor sem nada a perder.
Contrastem isto connosco: um grupo talentoso mas conformista, complacente, por vezes arrogante, demasiado preso às birras da sua maior estrela. E ainda mais com os uruguaios, que passaram os dias anteriores queixando-se do penálti contra eles no nosso jogo e foram super-agressivos para com a equipa de arbitragem durante o jogo com o Gana. José Maria Giménez foi particularmente execrável.
Por isso, não, ninguém teve pena do Uruguai. Os ganeses nem sequer se ralaram com a sua própria eliminação, pois contribuíram em parte para a desgraça dos seus amigos uruguaios. É certo que foi sobretudo pelo que aconteceu no Mundial 2010, mas mesmo assim.
Quanto a nós… infelizmente nada do que aconteceu na sexta-feira foi inédito, sobretudo no que toca aos últimos anos. Dito isto, se é para cometer erros e jogar mal, que seja em circunstâncias assim, sem consequências. Que não volte a acontecer e que se aproveite para aprender – como disse Tite, o selecionador brasileiro, num Mundial não costumam haver segundas oportunidades.
Já que falo nisso, sinto-me um pouco melhor por saber que também o Brasil e a França perderam no último jogo do grupo, mesmo já apurados.
O primeiro obstáculo no mata-mata é a Suíça. Vamos defrontá-los pela terceira vez este ano. Tivemos uma vitória e uma derrota – infelizmente, acho que a nossa vitória foi a exceção para os suíços, não a regra. Os suíços podem não ter o prestígio de uma França ou de uma Inglaterra, mas são uma equipa competente, muito boa a defender. Não vai ser fácil mas, se fizermos as coisas bem, estará ao nosso alcance.
Um grande “se”.
Por muito que me custe a admitir, tendo em conta as circunstâncias em todo deste campeonato discutidas aqui, este Mundial está a ser super divertido. Esta terceira jornada da fase de grupos, então… Equipas “grandes”, como a Alemanha, a Bélgica e a Dinamarca indo mais cedo para casa. Equipas menos “grandes”, como aqui a Coreia do Sul, o Japão e a Austrália, conseguindo passar. A Tunísia e os Camarões conseguindo vitórias perante a França e o Brasil, respetivamente, mesmo não lhes tendo servido de muito. Tem sido uma delícia.
Infelizmente, depois das surpresas da fase de grupos, até agora os oitavos estão a ser bastante previsíveis. A França venceu a Polónia, a Inglaterra venceu o Senegal e a Argentina venceu a Austrália. Pode ser que hajam surpresas amanhã ou depois... desde que nós não sejamos uma delas! Quero que Portugal continue nesta festa – e que, se possível, seja a derradeira surpresa.
Como sempre, obrigada pela vossa visita. Infelizmente volto ao trabalho amanhã, ou seja, terei menos tempo para ver jogos do Mundial e para escrever aqui. Em todo o caso, se passarmos aos quartos-de-final, vou tentar publicar a análise aos oitavos antes. Se puderem, façam um donativo à Amnistia Internacional, que está a ajudar os trabalhadores maltratados na construção deste campeonato. Continuem a sofrer e a divertir-se comigo, quer através deste blogue, quer através da sua página no Facebook.
Na passada segunda-feira, dia 28 de novembro, a Seleção Portuguesa de Futebol venceu a sua congénere uruguaia por duas bolas sem resposta. Com este resultado, a Seleção garantiu lugar nos oitavos de final do Mundial 2022.
O que é estranho.
Desta vez, não estava a trabalhar, vi o jogo em casa. Se tivesse sido mais cedo, teria tentado ir a uma esplanada, mas o jogo começou demasiado perto da hora do jantar. Infelizmente, isso significou levar com os spoilers dos vizinhos com uma ligação mais rápida do que a minha – algo de que não tinha saudades nenhumas.
Eu por mim via o jogo com a Coreia numa esplanada para tentar evitar isto, mas a minha irmã quer ver o jogo em casa. É fazer figas para que os vizinhos estejam a trabalhar…
Uma vez mais, aconteceu pouco de assinalável na primeira parte: domínio português mas longe de empolgar. Infelizmente, Nuno Mendes lesionou-se e teve de ser substituído antes do intervalo – o pobre saiu do campo em lágrimas. Hoje sabemos que não poderá competir mais neste Mundial. Uma crueldade do destino, ninguém merece, mas ele ainda é jovem. Com um bocadinho de sorte, ele terá outros Mundiais.
A melhor oportunidade na primeira parte pertenceu ao Uruguai, em cima da meia hora de jogo. Ironicamente, quem brilhou foi o nosso Diogo Costa: Rodrigo Betancur tinha passado por toda a gente na defesa portuguesa, eu já quase dava o golo como marcado, mas Diogo estava lá.
Como disse Iker Casillas, a nossa passagem aos oitavos começou aqui. Fico muito feliz por Diogo não se ter deixado afetar pelo erro que cometeu perante o Gana – mérito dele e dos colegas, que estiveram lá quando ele precisou. O miúdo é um espetáculo!
É suposto gritarmos “DIOGO!” em momentos destes?
A segunda parte do jogo foi mais animada, se bem que não com os níveis absurdos do jogo com o Gana. Parece que, neste Mundial, os nossos jogos estão fadados para incluírem um episódio caricato. No primeiro jogo foi o erro de Diogo Costa, neste foi a autoria do nosso primeiro golo.
À primeira vista pareceu-me golo de Cristiano Ronaldo – dá a ideia que ele toca na bola, ele festejou como se de facto tivesse marcado. Quando um jogador celebra assim, eu costumo acreditar nele – porque não haveria de fazê-lo? Eu pensava que o mesmo se aplicava a toda a gente – aplicou-se aos comentadores da SportTV e penso que aos da RTP também – mas falei com uma senhora que disse que viu logo que Ronaldo não tinha tocado na bola.
Em defesa de Ronaldo, a primeira indicação que lhe deram foi que, de facto, o golo era dele. Depois é que os ecrãs indicaram Bruno Fernandes como autor do golo. Por outro lado… Ronaldo senti-lo-ia se tivesse tocado ou não na bola, certo? Estaria a iludir-se a si mesmo? Não me admirava.
Ao mesmo tempo, toda a gente concorda que, mesmo não tendo marcado ele mesmo, o posicionamento de Ronaldo baralhou o guarda-redes o suficiente para que a bola entrasse. O que também não tira o mérito a Bruno Fernandes: foi um excelente cruzamento/remate.
Isto está longe de ser uma questão dramática, bem pelo contrário. Tenho-me divertido com as piadas – Ronaldo marcando por telecinese, o cabelo de Deus, tivesse ele o cabelo mais comprido, etc. Há quem critique Ronaldo por reclamar autoria do golo mas, embora tenham razão… as reclamações foram bem humoradas. Mais tarde, saiu de campo abraçado ao Bruno, claramente bem disposto. É certo que, depois, fez queixinhas trocou mensagens com Piers Morgan insistindo que o golo era dele mas, tirando isso… E depois de ter saído a peritagem da FIFA – “As bolas têm chips, como os cães e os gatos?”, perguntou-me a minha avó – ninguém da parte do Ronaldo ou da Seleção disse mais nada.
Sinceramente, não vale a pena atirar pedras a Ronaldo. Pelo menos não por isto.
Pelo meio, por volta dos setenta e cinco minutos, o poste travou um remate do Uruguai. Um sinal claro de que os deuses do futebol estavam do nosso lado naquela noite – apesar de, mais tarde, terem negado o hat-trick a Bruno Fernandes.
Em relação ao nosso penálti, vou ser sincera, tenho algumas dúvidas. Não sei que critério andam a usar para determinar o que é mão na bola e o que não é. A mim pareceu-me que José María Giménez estava a cair e usou aquela mão para se apoiar. No entanto, há quem alegue que a manobra foi deliberada e/ou pode ser abusada – os jogadores poderiam simular quedas para poderem usar as mãos.
Não sei. Não sei que chegue sobre o assunto para fazer um juízo definitivo.
Em todo o caso, como Ronaldo já tinha ido para o banco, Bruno Fernandes foi chamado a bater o penálti e fê-lo com mestria. Segundo Anthony Lopes, impossível de defender.
Em suma, Portugal não fez uma exibição de encher o olho, mas foi a equipa que mais fez por ganhar. Fomos justos vencedores.
Se me dissessem há duas semanas que Portugal se qualificaria para os oitavos-de-final do Mundial à segunda jornada, não acreditaria. Como escrevi aqui, não estava com grandes expectativas para este campeonato. Foram anos, sobretudo os últimos dois, de exibições medianas com o ocasional lampejo de qualidade, apuramentos falhados por um ponto. Desempenhos, em geral, não suficientemente bons para entusiasmar mas não suficientemente maus para correr de forma unânime com Fernando Santos.
Agora chegamos ao Catar e acontece isto. Duas vitórias num Mundial, algo que não acontecia desde 2006. Sobrevivemos à fase de grupos ao segundo jogo, algo que não acontecia desde o Euro 2008 – ainda no tempo de Luiz Felipe Scolari, este blogue era um bebé. Fomos a terceira equipa a passar aos oitavos, a seguir aos tubarões Brasil e França.
E o nosso grupo não é assim tão fácil. O Uruguai é o Uruguai e o Gana venceu a Coreia do Sul – provando que, não sendo tubarões, também não são sardinhas.
Que cronologia é esta, minha gente? Não estou habituada a isto – e não sou a única.
Até estou um bocadinho chateada porque as minhas férias estão quase no fim. Na(s) próxima(s) semana(s) já estarei a trabalhar, será mais difícil ver os jogos e ter tempo para o blogue. Um motivo extra para querer passar em primeiro neste grupo é porque, se o fizermos, jogamos terça-feira. Nesse dia estou a sair às sete e meia – o jogo começa às sete, ou seja, conseguia apanhar pelo menos a segunda parte. Na segunda-feira só saio às oito e meia, perderia o jogo todo.
Ao menos depois os quartos-de-final serão no sábado. Adiante disso… não me atrevo a olhar.
Como é óbvio, estou muito contente com o nosso desempenho até agora, orgulhosa dos nossos Marmanjos. Referências especiais para Diogo Costa, Pepe, William, João Félix, Bernardo Silva, Rafael Leão, Cristiano Ronaldo (até certo ponto mas, para as circunstâncias, não está mal), mesmo João Palhinha e Matheus Nunes.
E sobretudo Bruno Fernandes, a nossa maior figura.
Ainda assim, não consigo alinhar em grandes euforias. Em parte por incredulidade; em parte porque, apesar de tudo, não estamos a deslumbrar; em parte porque tenho medo. Tenho medo de ter demasiada esperança, de sonhar demasiado alto. Mais ou menos aquilo que sentia antes do Euro 2016, quando Fernando Santos falava em sermos campeões.
Até porque, na prática, ainda não ganhámos nada. Igualámos os nossos desempenhos no Mundial 2010 e no de 2018 ao sobrevivermos ao grupo. Nada nos garante que a nossa viagem não termine nos oitavos.
Dito isto… também nada nos garante que a viagem não continuará. Os nossos jogadores têm qualidade, estão motivados, houveram melhorias de um jogo para o outro. Se continuarmos a melhorar… porque não?
O que sugiro, assim, é um meio-termo. Olhar para a final, mas pensar jogo a jogo. Apontar para as estrelas, mas manter os pés no chão.
E, de qualquer forma, ainda nos falta um jogo neste grupo. Estou zangada por Paulo Bento se ter feito expulsar na segunda-feira. Queria vê-lo no banco, cumprimentando Pepe, Ronaldo, Rui Patrício e outros que ele costumava orientar.
Visto não estarmos obrigados a ganhar para ficarmos em primeiro, eu, à semelhança de toda a gente, espero que Fernando Santos rode a equipa – para gerir desgastes e cartões amarelos. Na minha opinião, temos talento suficiente nas segundas linhas para pelo menos empatarmos com a Coreia do Sul. Na verdade, os jogos do grupo G interessam-me quase tanto como os do nosso grupo: quero saber com quem iremos jogar nos oitavos.
Que os sinais positivos se cumpram e que o nosso sofrimento continue por mais umas jornadas. Sofram comigo, quer aqui no blogue, quer através da sua página de Facebook e façam um donativo à Amnistia Internacional, que está a tentar ajudar os trabalhadores que construíram este campeonato. Como sempre, obrigada pela vossa visita, mantenham-se desse lado.
Na passada quinta-feira, dia 24 de novembro, a Seleção Portuguesa de Futebol estreou-se no Mundial 2022 com uma vitória sobre a sua congénere ganesa por três bolas contra duas.
Como já tinha dito antes, estive a trabalhar durante o jogo. Tenho de confessar, desta vez custou-me imenso. Já por defeito sinto que, quanto mais velha estou, mais sofro com jogos desta envergadura. Estas circunstâncias não ajudaram.
Imaginem-se trabalhando ao balcão durante o jogo, durante este jogo, com o relato radiofónico ligado num computador do backoffice. Imaginem-se atendendo pessoas enquanto a vossa colega no backoffice vai dando atualizações como:
– Penálti para nós!
– O Ronaldo marcou!
– Eles empataram.
– O Félix marcou.
– Então, ainda está 3-1?
– Não, está 3-2.
Vocês aguentavam?
Eu consegui funcionar à mesma, mas custou. Sentia as mãos e a voz a tremerem ligeiramente – espero que não tenha sido perceptível. Não acho que fosse sofrer menos se visse o jogo numa televisão, mas ao menos não precisaria de concentrar-me noutras coisas. E claro, mais tarde senti inveja de quem pôde ver o jogo. Sobretudo depois das milhentas reportagens nos noticiários, de adeptos seguindo a partida em vários pontos de Portugal e do mundo.
Por outro lado, fui poupada ao "comentário" de Paulo Futre – que, segundo as internetes, irritou toda a gente. De facto, se era para estar ao microfone sendo um adepto comum, a TVI podia ter-me convidado – eu aceitava metade do que terão pago a Futre.
Dizem que, tirando as lágrimas de Ronaldo aquando do hino, a primeira parte foi entendiante – Portugal controlando o jogo mas arriscando pouco – e a segunda parte foi o completo oposto. Demasiado agitada para um adversário do calibre do Gana, não desfazendo. Ronaldo marcou de penálti, quebrando mais uns quantos recordes. O Gana repôs a igualdade sete minutos depois. Rúben Dias não conseguiu travar Kudus, Danilo não conseguiu segurar a bola quando esta lhe passou pelos pés e André Ayew marcou.
Cinco minutos depois, Bruno Fernandes assistiu de primeira para João Félix, que não perdoou. Félix finalmente a afirmar-se na Seleção, depois destes anos todos. Algumas pessoas continuam a criticá-lo e eu não percebo porquê. Ele marcou, não marcou? Ele esteve na jogada em que o Ronaldo sofreu falta para penálti, não esteve? Andará essa gente a usar as mesmas lentes de Simeone?
Não esquecer Bruno Fernandes, provavelmente o melhor em campo. Ele que também assistiu para o terceiro golo, desta feita assinado por Rafael Leão. Como tem sido amplamente assinalado, o miúdo rematou com um sorriso. Eu recordei-me deste tweet, a propósito de um falhanço caricato no segundo amigável contra o Catar.
Finalmente saiu. Na altura certa.
Com outra equipa que não nós, com isto ficaria feito o resultado. Talvez até se aumentasse para 4-1. Mas éramos nós, nunca seria assim tão fácil, sobretudo em palcos como este. Os ganeses reduziram para 3-2 aos oitenta e oito minutos. João Cancelo deixou Baba fazer o que quis e este assistiu para o remate certeiro de Bukari.
Está na altura de falarmos na já infame fífia de Diogo Costa. Não vi em direto, mas todos me garantem que ia provocando um ataque cardíaco coletivo. Pessoalmente, achei e ainda acho hilariante – só o vi depois de o jogo ter terminado, a vitória assegurada. A cara do Ronaldo aquando do lance correu mundo – as câmaras vão sempre para ele, em parte porque Ronaldo, em parte porque ele sente tudo, reflete tudo, é incapaz de disfarçar uma emoção. Ainda assim, acho ainda mais piada a este vídeo– o banco inteiro das Quinas, Fernando Santos incluído, levando as mãos à cabeça como se fosse uma coreografia.
Mesmo assim, o Ronaldo foi o mais engraçado. Juro, ele parece quinze anos mais novo nestas imagens.
Aspetos caricatos à parte, não tenho alma para criticar demasiado Diogo Costa. Sobretudo porque não teve consequências – por sorte, Iñaki Williams tropeçou. O Diogo é um miúdo! Só se estreou a titular na Seleção este ano! Não foi o primeiro guarda-redes nem será o último a cometer erros destes. Há quem tenha feito asneiras mais graves com muito mais experiência. Por exemplo, Rui Patrício, que assistiu para o golo do empate de Israel em 2013.
Aliás, culpo mais Rúben Dias e, sobretudo, João Cancelo e Danilo. Eles são bem mais experientes, jogam em grandes clubes, deviam ter feito mais para impedir os golos ganeses.
E uma coisa é certa: o Diogo não torna a fazer uma destas.
Devo dizer que adorei o momento em que o Diogo foi consolado pelos colegas. Esta é a versão do Ronaldo de que mais gosto. O Capitão reconhecendo que o miúdo podia interiorizar demasiado aquele erro e intervindo de imediato. Aparentemente Ronaldo já tinha pedido ao “Pepinho” para falar com o Diogo. Acho deliciosa a ideia de Pepe e Ronaldo emparceirando como papás do grupo.
Eu sei que isto faz parte de qualquer equipa saudável. Ainda assim, adoro a Seleção por isto.
Quanto a este jogo, contente pela vitória, preocupada com estes erros defensivos. Faz-me lembrar o Mundial 2018: jogadores que estavam bem antes do campeonato, mas depois, quando foi a doer, não renderam o mesmo. Não sei se isto foram apenas deslizes ou se é algo sistemático. De qualquer forma, não vai dar para repetir. Erros destes custarão mais caro perante adversários mais difíceis que o Gana – o Uruguai, amanhã, será já um desses. Num Mundial não há segundas oportunidades – e eu quero que Portugal vá longe, se possível até à final.
Apesar de não me esquecer do preço deste Mundial, estou a gostar de acompanhá-lo. Não tenho tido oportunidade de ver muitos jogos, mas é giro ir sabendo dos resultados, falando sobre os jogos com outras pessoas, vendo os resumos e as reportagens. Vou tentar aproveitar esta semana que tenho de férias para ver mais jogos – nem que seja apenas enquanto escrevo.
Volto a deixar o link para doarem para a Amnistia Internacional, que está a ajudar os trabalhadores maltratados na construção deste Mundial. Como sempre, obrigada pela vossa visita. Continuem a acompanhar este Mundial comigo, quer aqui quer na página de Facebook.
À hora desta publicação, o Mundial 2022 já decorre. Eu costumo publicar o primeiro texto da era do campeonato bastante mais cedo. Desta vez não deu.
Já é um alívio ter conseguido fazê-lo antes da estreia de Portugal na prova.
Quem acompanhe este blogue saberá que campeonatos de seleções são sempre ocasiões especiais para mim. Desde a Convocatória, são semanas de alegria, de antecipação, de esperança num bom desempenho. Mundiais, então, são para mim a festa suprema do futebol.
Desta vez, no entanto, o meu entusiasmo está em mínimos históricos. Tenho tido alturas em que quase desejei que o Mundial tivesse sido adiado, cancelado, como durante a pandemia, em que quase desejei que não nos tivéssemos Qualificado – mesmo tendo passado vários meses angustiada com os play-offs.
Passo a explicar porquê. Os primeiros motivos prendem-se com o estado atual da Seleção. Não tanto esta em si ou os seus jogadores, mais o Selecionador e o seu cadastro. Ainda há mês e meio, quase dois meses, tivemos uma desilusão na fase de grupos da Liga das Nações – a terceira passagem falhada por um ponto. Além disso, as nossas duas últimas participações em campeonatos desta envergadura – no Mundial 2018 e no Euro 2020 – não tendo sido horríveis, deixaram muito a desejar.
Já me alonguei o suficiente sobre isso em textos anteriores. A versão condensada é que já tive mais fé em Fernando Santos. Receio que esta seja outra ocasião para ele desperdiçar o talento de que dispõe.
Depois, temos Cristiano Ronaldo. Este já era uma das minhas preocupações, ainda antes de ter optado por violência e lançado a já infame entrevista com Piers Morgan.
Muito se tem escrito sobre esta entrevista. Provavelmente continuar-se-á a escrever. Na minha opinião, tem havido uma gritante falta de nuance na conversa: Ronaldo ou tem cem por cento de razão ou está completamente errado. Poucos parecem admitir que ele poderá estar certo nalgumas coisas – os verdadeiros motivos pelos quais ele falhou a pré-época e a forma execrável como o United terá lidado com isso – e errado noutras – como assim ele “não admite” entrar em jogo por apenas três minutos?
A propósito deste texto, no entanto, só me interessa a maneira como afeta a Seleção.
O primeiro efeito era o mais previsível: perguntas sobre o assunto em todo e qualquer contacto da Seleção com a Comunicação Social. Chegou-se a entrar em territórios de reality show. Toda a gente obcecada com uma pequena interação entre Ronaldo e Bruno Fernandes na primeira noite da Cidade do Futebol. Dúvidas sobre a gastroenterite que afastou Ronaldo do particular com a Nigéria. Ridículo.
O segundo efeito é a pressão adicional colocada sobre nós. Todos concordam, Ronaldo queimou irreversivelmente a sua relação com o Manchester United. E agora apostou a sua credibilidade, talvez mesmo a sua carreira, num bom desempenho neste Mundial.
Isso pode não ser mau. Talvez a pressão extra seja boa para os outros Marmanjos.
Por outro lado, isto deixa-me com um sabor desagradável na boca. Para começar, não me agrada a ideia de ganhar este Mundial “para” Cristiano Ronaldo. Já não gosto muito quando dizem que Portugal ganhou o Euro 2016 para ele. É certo que Ronaldo não pôde jogar a maior parte da final de Paris mas, mesmo assim. As pessoas acham que os outros jogadores não tinham, não têm eles próprios ambições?
Além disso, receio que Ronaldo pressione (ainda mais) Fernando Santos para deixá-lo jogar mais do que deve, mais do que é benéfico para a equipa, como já aconteceu nos últimos dois jogos. Pelos vistos, para Ronaldo isso é “respeito”. A negação dele ainda é mais profunda do que eu pensava. Que parte de “não fez pré-época” (mesmo que agora saibamos que foi por motivos legítimos) e “futebolisticamente já tem idade para ser avô” é que ele não percebe?
O que eu receio verdadeiramente é o que acontecerá se Ronaldo não fizer grande coisa no Mundial e se a Seleção desiludir outra vez. Irá Ronaldo também queimar-nos, como fez com o Manchester United? Culpando toda a gente menos ele próprio? Será assim que a história dele na Seleção terminará? Eu quero pensar que não – até porque Ronaldo tem sido o menino-bonito da FPF há muitos anos – mas não sei.
Por estes dias quase desejo que Ronaldo já tivesse deixado a Seleção. Iria custar horrores, sim, não voltará a haver ninguém como ele. Mas temos talento suficiente com que nos entusiasmamos (mais sobre isso já a seguir). Ronaldo é tão grande, tanto no bom como no mau sentido, que produz a sua própria força gravítica, interfere com tudo em seu redor.
Espero que as minhas previsões mais pessimistas não se realizem. Espero que ele esteja a ser sincero quando diz que aceitaria ganhar o Mundial sem marcar um único golo. Ao mesmo tempo, apesar de temer o contrário, espero que Ronaldo se saia bem no Mundial, dentro do possível para esta fase da carreira dele. Talvez um golo ou outro, para contribuir para o seu recorde.
E mesmo que ele não se mostre em grande forma, conto com ele para fazer de Capitão, de mentor. Para ações semelhantes ao “Anda bater!” ou quando mandou Raphael Guerreiro de volta para o campo, nos últimos minutos da final de Paris.
Outra questão prende-se com o timing deste Mundial. É interessante, é uma novidade, mas não pelos melhores motivos. Está a ser uma época muito pesada – a maior parte dos jogadores têm tido dois jogos por semana todas as semanas. Só estamos a ter uma semana e meia para preparar o Mundial e somos dos mais afortunados nesse aspeto.
De início pensei que fazer o Mundial nesta altura do ano teria a vantagem de os jogadores não virem com uma época inteira nas pernas, ao contrário do costume. No entanto, com tantos jogos que já decorreram até agora e tão pouco tempo para recuperar, as vantagens anulam-se.
Por fim, o pior fator desta lista é este Mundial em si, o seu anfitrião e tudo o que aconteceu para se chegar aqui. A menos que tenham estado completamente alheados de tudo, já saberão acerca dos milhares de trabalhadores tratados de forma desumana, mesmo mortos, da misoginia, homofobia e desrespeito em geral pelos direitos humanos.
Como Bruno Fernandes disse no domingo passado, o Mundial é suposto ser alegria, ser festa, ser um escape, sobretudo com tudo o que tem acontecido nos últimos anos. Não devia decorrer sobre milhares de cadáveres, num país onde a maioria da humanidade não pode existir livremente.
Uma das coisas que mais me revolta nisto tudo é a atitude da FIFA. Não só não quiseram saber dos crimes do anfitrião deste Mundial como não toleram que alguém diga alguma coisa. Há semanas enviaram uma mensagem para as seleções participantes, essencialmente dizendo-lhes para enterrarem a cabeça na areia, calarem a boca e jogarem à bola. Foram ao ponto de proibir os ingleses de usarem uma braçadeira pró-LGBTQ+ e, pior ainda, os dinamarqueses de treinarem com camisolas estampadas com a mensagem “direitos humanos para todos”.
Direitos humanos! Eles censuraram uma mensagem pró-direitos humanos! Em que universo é que uma mensagem pró-direitos humanos é censurável?
Como se não bastasse, da mesma forma, os belgas também não puderam usar camisolas com a palavra "amor". Alguém devia experimentar pôr a tocar o Imagine do John Lennon, a ver se a FIFA e/ou os cataris também censuram.
Espero que as pessoas ignorem estes pedidos da FIFA e, mesmo que não boicotem o Mundial, não fiquem caladas. Como este adepto equatoriano. Eu, aliás, estou desiludida com a FPF por não esticar a corda, da maneira como os ingleses, os dinamarqueses e outros têm feito.
Por outro lado, não posso censurar quem opte por não dizer nada. Se as autoridades cataris chegaram a ameaçar jornalistas dinamarqueses no outro dia só porque pensavam que estes não tinham credenciais... E a FIFA está completamente no bolso destes tipos. Aliás, aparentemente um responsável da organização terá dito há uns anos, e cito, “menos democracia às vezes é melhor para organizar um Mundial” e, ainda este fim de semana, Gianni Infantino – e não tenho a certeza de que ele estava a brincar – disse que atribuiria um Mundial à Coreia do Norte.
Com isto tudo, tenho andado com medo que ocorra um incidente grave neste Mundial – já começou a acontecer. Coisas destas têm sido mais frequentes desde o regresso do futebol após a pandemia. Com todas as circunstâncias à volta deste Mundial, infelizmente acho que é quase inevitável.
Espero muito estar enganada.
Assim, mesmo tirando os problemas da Turma das Quinas da equação, não vou conseguir desfrutar deste Mundial da mesma forma. Uma parte de mim deseja que não ganhemos o Mundial desta vez, só para não termos esta mancha em algo que seria o nosso maior feito.
O que é uma pena pois estou de férias na semana dos nossos jogos com o Uruguai e a Coreia do Sul. Era algo que queria fazer há anos e nunca conseguira: tirar uns dias durante um campeonato de seleções, para ter tempo para escrever aqui no blogue e ver jogos à vontade – de Portugal e não só. Finalmente consigo e calhou ser este Mundial. Nem sequer vão haver fanzones.
Ao menos terei cafés e esplanadas.
Termino esta parte do texto deixando este link, onde poderão fazer donativos à Amnistia Internacional, para ajudar os trabalhadores maltratados a propósito deste Mundial. Eu já fiz um donativo, talvez faça mais, se me for possível. Se tiverem possibilidades para isso, façam o mesmo.
Regressando à nossa Seleção, devo dizer que o nosso grupo, os nossos Marmanjos – tirando Cristiano Ronaldo e mesmo assim – contrariam os meus sentimentos negativos. Não tenho muito a dizer sobre os Convocados – como disse António Tadeia umas quantas vezes, quase toda a gente iria escolher os mesmos, só mudaria um ou outro nome. Estou um bocadinho triste por Renato Sanches e, sobretudo, João Moutinho terem ficado de fora – este último não terá mais nenhum Mundial.
Também não tenho muito a dizer sobre o particular com a Nigéria, no Estádio de Alvalade. Tínhamos pensado ir, mas não deu. Um dos motivos foi o horário: o jogo começou às 18h45. Parecendo que não, fez-nos diferença. Não teria havido problema se o jogo tivesse começado às 19h45 da praxe.
Mesmo não tendo ido ao estádio, no dia do jogo só saí às 19h30 – ou seja, perdi a primeira parte, tirando ocasionais espreitadelas a sites de atualizações. Dizem que a primeira parte foi boa. Dois golos de Bruno Fernandes, um de penálti – e ainda terá desperdiçado um, em cima do intervalo.
No primeiro, João Félix fez de Rúben Neves, com um excelente passe à distância para a assistência de Diogo Dalot. Félix também estaria nos golos da segunda parte. Parece que o miúdo não tem tido vida fácil no Atlético de Madrid mas, conforme comentei algumas vezes na página, não percebo porquê. Félix está claramente num bom momento. Porque andam a implicar com ele?
O miúdo tem é de se mudar para um clube que o trate melhor.
Na segunda parte já estava à frente de uma televisão mas, como é costume nestes jogos, o ímpeto não foi o mesmo. Não deixaram de jogar bem, ainda assim.
O melhor período foi o que foi desde o penálti defendido por Rui Patrício até ao quarto golo. Como se não bastasse o primeiro, o guarda-redes já fizera uma bela defesa antes, mesmo ao seu estilo. Por estes dias ninguém se cala com Diogo Costa, eu incluída, mas Rui Patrício continua a ser Rui Patrício, ainda tem uma palavra a dizer. Somos abençoados por ter os dois. Se eu estivesse no lugar de Fernando Santos, ia alternando entre ambos – até por uma questão de gestão física.
E depois os dois golos, ambos jogadas coletivas, ambos com João Félix a assistir para a assistência, ambos momentos deliciosos. Sobretudo o segundo, com o grande passe de João Palhinha (foi ele, não foi?) para Félix e, depois, a assistência de Gonçalo Ramos de calcanhar.
Já viram o que estes meninos conseguem fazer? Já viram o que acontece quando as coisas se encaixam? É isto que me frustra. Temos todo este talento, mas, quando é a sério, isso não se traduz em bons desempenhos. Esta vitória perante a Nigéria entusiasmou uns quantos, os jogadores têm falado em ganhar o Mundial. Não vou mentir, conseguiram contagiar-me um pouco. Mas também… não estávamos numa situação parecida antes do Euro 2020? E como é que isso correu?
Mesmo tendo isto em conta e tudo o que foi discutido neste texto… no fim, continuo a ser eu. O meu default será sempre apoiar, acreditar. Como escrevi no mês passado, virar as costas não me traria felicidade nenhuma. Mesmo com todas as minhas reservas, enquanto for possível, acreditarei.
Passando a aspetos mais práticos, acho que conseguimos pelo menos passar a fase de grupos. Seria melhor passarmos em primeiro, a ver se evitamos o Brasil nos oitavos de final. Não digo que seria impossível vencê-los, mas… dizendo-o de uma forma simpática, apanharia toda a gente de surpresa.
A nossa estreia perante o Gana será esta quinta-feira. Será o nosso único jogo da fase de grupos em que estarei a trabalhar, mas isso não será completamente mau. Quero ter a experiência de um jogo de campeonato de seleções no meu emprego atual – que sempre atrai mais interesse que jogos de qualificações e afins.
Antes de terminarmos, uma nota rápida para dois temas de apoio à Seleção lançados recentemente. Um deles é a nova versão do Vamos Lá Cambada, o hino oficializado pela Federação – a FPF finalmente acertou. Pena ainda não estar no Spotify mas, com tudo isto, estou a tomar o gosto à versão original (talvez goste ainda mais desta).
Por outro lado, adoro Portugals dos Jesus Quisto, do Pôr do Sol. É uma paródia, mas gosto genuinamente do instrumental – rock misturado com ranchos folclóricos.
Os dois temas são parecidos, nesse aspeto: humorísticos mas muito portugueses. E ainda bem. Isto é futebol. Não precisa de ser levado demasiado a sério.
Acompanhem comigo a participação portuguesa neste Mundial, quer através deste blogue, quer através da página. E termino com uma citação de José Estebes: “Deixem-se de tretas, força nas canetas, que o maior é Portugal!”
(A parte do “força nas canetas” é para mim, não é? Afinal de contas, eu escrevo os rascunhos deste blogue à mão…)
No próximo dia 24 de março, a Seleção Portuguesa de Futebol receberá a sua congénere turca no Estádio do Dragão, em jogo a contar para as meias-finais dos play-offs de acesso ao Mundial 2022. Se vencer, a Seleção Portuguesa defrontará a vencedora da outra meia-final, entre a Itália e a Macedónia do Norte.
Fernando Santos revelou os Convocados para este compromisso da Seleção na passada quinta-feira. Não que tenha muito a dizer sobre esse aspeto. A minha única objeção dizia respeito à ausência de Vitinha, mas este acabou por ser Chamado para substituir o lesionado Rúben Neves – uma perda grande, por acaso. Por outro lado, vários nomes menos unânimes desta lista, como Gonçalo Guedes, João Moutinho, William Carvalho e João Félix, andam a atravessar bons momentos nos respetivos clubes. Esperemos que isso se traduza nestes play-offs.
E por falar nestes play-offs…
Este blogue vai fazer catorze anos em maio deste ano. Antes disso, já acompanhava a Seleção de perto desde, pelo menos, o Euro 2004 – há quase dezoito anos, mais de metade da minha vida. Durante muito tempo, cada jogo da Equipa das Quinas, quer fosse um particular com as Andorras desta vida ou o mata-mata de um Europeu ou Mundial, era uma ocasião especial.
Ainda o é, na verdade, mas confesso que nem sempre me entusiasmo como antes. Em parte porque hoje tenho outras obrigações, não tenho a disponibilidade que tinha há uma década. Mas também porque já são muitos anos, muitos Apuramentos, muitos Europeus e Mundiais. Já se perdeu uma grande parte da novidade.
No entanto, este compromisso da Seleção é diferente. Esta é uma sensação nova. Não é a primeira vez que a Turma das Quinas esteve em pausa durante mais de quatro meses. Mas, nestes quatro meses, foi a primeira vez que não me sentia ansiosa pelos próximos jogos. Pelo contrário, andava com medo destas datas. Como se este play-off fosse a minha Prova Nacional de Acesso do curso de Medicina (quem não saiba o que é, que vá ao Google) e eu não estivesse minimamente preparada.
Em teoria, se vencermos a Turquia, poderemos encontrar tanto a Itália como a Macedónia do Norte na final. Na prática, todos sabemos que o mais certo é encontrarmos os atuais Campeões Europeus.
Acho que nunca me senti tão pouco confiante – ou pelo menos desta forma. Não é a primeira vez e não será a última que Portugal se cruza com um tubarão. Mas uma coisa é enfrentarmos um adversário claramente superior, sabendo que não temos armas que se comparem com as dele. Outra coisa, muito diferente, é sabermos que as nossas armas chegam para, no mínimo, enfrentarmos um tubarão olhos nos olhos, mas podermos não ser capazes de usá-las. Por incompetência e/ou teimosia do Selecionador atual.
Já me queixei longamente sobre o que se passou na Qualificação, sobretudo no texto anterior. Versão condensada: a Equipa de Todos Nós tem o melhor plantel em anos, se não forem décadas. No entanto, corre o sério risco de falhar um campeonato como o Mundial pela primeira vez desde que a minha irmã nasceu – e ela acabou de se tornar médica! Podíamos ter evitado isto com um mísero empate com a Sérvia, mas não fomos capazes disso. Agora, o Universo colocou-nos em rota de colisão com os atuais Campeões Europeus no caminho para o Mundial e só nos podemos culpar a nós mesmos.
Da última vez escrevi que Fernando Santos precisava de refletir sobre o que correu mal durante o Apuramento, procurar evitar erros anteriores de modo a conseguirmos vencer estes play-offs. Mas as palavras dele na Conferência de Imprensa não me deixam grandes esperanças. O Selecionador pôs-se a dizer que “Portugal perdeu um jogo”, ignorando o desempenho fraquinho no Euro 2020 e várias exibições baças (incluindo, mas não limitado a uma vitória à rasquinha perante a República da Irlanda, que na altura estava no fundo da tabela).
São apenas palavras, claro. Não significa que Fernando Santos e restante equipa técnica não tenham feito o trabalho de casa longe dos microfones. Mesmo assim.
Tinha dito no último texto que já não apoiava Fernando Santos enquanto Selecionador. Numa reviravolta chocante, ninguém levou a minha opinião em conta, logo, continuamos com o mesmo técnico. E a verdade é que, neste momento, é irrelevante se acho que Fernando Santos é ou não o homem certo para este lugar. É ele quem está ao leme. Só nos resta esperar que ele faça o que tem a fazer.
Havemos de regressar a essa ideia. Para já, olhemos para os nossos adversários. Temos um histórico simpático com a Turquia. Oito jogos, nenhum empate, vencemos todos os jogos oficiais (cinco) e perdemos todos os jogos particulares. A última vitória foi na nossa estreia no Euro 2008, quando este blogue era um bebé.
Por outro lado, lembro-me de ter ficado zangada quando perdemos contra a Turquia, num dos jogos de preparação do Euro 2012. Na altura estava com algumas expectativas para esse Europeu e tinha acabado de ser convidada para ir à televisão falar do meu blogue. Neste contexto, a derrota foi particularmente desanimadora.
Hoje não teria energia para me ralar com um mero amigável.
Os turcos estão neste play-off depois de terem ficado em segundo lugar num grupo com a Holanda. Antes disso, estiveram na fase de grupos do Euro 2020, mas não ganharam um único jogo. Ainda antes disso, foram relegados para a divisão C da Liga das Nações.
Tendo tudo isto em conta, acho que a Turquia está ao nosso alcance. Com as devidas ressalvas, claro.
Caso vençamos nas meias-finais, pelo menos em teoria poderemos encontrar a Macedónia do Norte na final. Uma palavra para eles. O nosso histórico com os macedónios é reduzido: só dois particulares, uma vitória pela margem mínima em 2003 e um empate sem golos no outro jogo de preparação do Euro 2012.
Neste momento, estão na divisão C da Liga das Nações. Na Qualificação para o Mundial 2022, ficaram num grupo com a Alemanha, chegando a vencê-la por 2-1 há cerca de um ano.
Não serão, por isso, um adversário a desprezar. Além de que, se os encontrarmos na final, será porque venceram os italianos.
Falemos, então, sobre os herdeiros do nosso primeiro título. O nosso histórico mais recente com eles até é favorável. Duas vitórias – uma num jogo amigável, outra na primeira edição da Liga das Nações – e um empate. Na final do Euro 2020, como toda a gente, torci pelos italianos porque não queria que os ingleses ganhassem. Apesar desta conquista, o pós-Europeu não correu muito bem à Itália – se tivesse corrido, não teriam precisado de vir aos play-offs. Ficaram em terceiro lugar na Liga das Nações após perderem com a Espanha e vencerem a Bélgica. Na Qualificação empataram com a Irlanda do Norte, a Bulgária e a Suíça – esta última Apurou-se em primeiro.
Em suma, em teoria são Campeões Europeus, são um tubarão. Na prática, não estão numa fase assim tão boa. Bom sinal para nosso lado… mas nós também não fazemos nada de assinalável desde finais de 2020, logo, vale o que vale.
Comparado com tudo o que se passa no mundo neste momento, ficarmos de fora do Mundial está longe de ser uma grande desgraça. Por outro lado, falando por mim, dava-me jeito uma alegria. Será que ma dão?
O problema nem é bem eu não acreditar. Eu acredito, eu acreditarei e apoiarei enquanto for possível. E pelos vistos não sou a única: os bilhetes para o jogo com a Turquia esgotaram há um mês! Mas, também como disse várias vezes no ano passado, acreditar não basta. Além disso, para ganharmos um lugar no Mundial, a Itália – a atual Campeã Europeia, já disse isso? – terá de ficar pelo caminho, o que me parece inconcebível. Sobretudo tendo em conta a maneira como nós, portugueses, temos jogado neste último ano.
É por isso que chego a este play-off com esperança e medo em partes iguais.
No fim do dia, por muitas queixas que eu e outros tenhamos de Fernando Santos, estamos todos na mesma equipa, queremos todos estar no Mundial do Catar. Se falharmos, passaremos certamente muito tempo a apontar dedos. Mas se não falharmos, se correr bem, podemos começar já a fazer planos para novembro e dezembro. E quem sabe? Quem vence a Itália, poderá fazer coisas giras no Catar.
Como habitual, obrigada pela vossa visita. Acompanhem comigo este compromisso da Seleção na página de Facebook deste blogue.