Oásis de sanidade
No próximo dia 13 de junho, a Seleção Portuguesa de Futebol deslocar-se-à à Ierevan, na Arménia, para defrontar a sua congénere local, em jogo a contar para a Qualificação para o Campeonato Europeu da modalidade, que terá lugar em França, daqui a um ano. Três dias mais tarde, a Seleção Portuguesa defrontará a sua congénere italiana, em Genebra, na Suíça, em jogo de carácter amigável.
Nesta altura do campeonato, não há muito de novo a dizer, começando pelos Convocados. Temos um bom equilíbrio entre habituais e estreantes - Pizzi já merecia ser Chamado há muito, bem como outros como Danilo, Daniel Carriço e André André. A renovação vai decorrendo a um ritmo saudável. Penso que a única surpresa é a Vinda de Silvestre Varela, que teve uma época estranha. Mas não me queixo. Pela parte que me toca, o eterno Salvador da Pátria, o responsável pelo golo que me fez gritar como uma maluca, será sempre bem-vindo à Seleção. A única coisa que tenho a apontar é não terem Convocado Miguel Veloso, que fez uma boa época no seu clube.
Na semana que termina agora, a Operação Arménia ocorreu em moldes informais, com treinos apenas de manhã e os jogadores dispondo do resto do dia para si mesmos - um pouco à semelhança do que acontece nos clubes. Os Marmanjos têm o sábado de folga e depois, no domingo, reunir-se-ão e viajarão para a Geórgia, ficando instalados a meia hora do local do jogo. Na segunda-feira começa o trabalho a sério. Na verdade, estamos a viver uns dias muito agitados no que toca ao futebol português e internacioal. Não é de admirar que a Seleção fique um pouco em segundo plano. Noutras circunstâncias queixar-me-ia disso, lamentaria o facto de o escândalo da FIFA, a dança dos treinadores do Benfica e do Sporting, terem coincidido com a Operação Arménia. No entanto, eu fico grata por, enquanto isto ocorre, termos a Seleção, num momento estável ainda por cima. No meio de tanta confusão, de tantos acontecimentos inacreditáveis no mundo do desporto, a Equipa de Todos Nós tem representado um oásis de sanidade por estes dias. Espero que se mantenha assim, que esta dupla jornada corra bem.
Passemos, desde já, à análise história dos próximos jogos. O nosso historial com a Arménia é escasso, mas sempre que jogámos por lá empatámos. Uma dessas vezes foi durante o Apuramento para o Mundial 98 e, segundo o que ouvi dizer esta semana, os pontos perdidos com esse empate custaram a Qualificação - a última que falhámos. Nos jogos em casa até ganhamos, mas nunca de forma brilhante. O jogo mais recente, em novembro último, foi um bom exemplo disso: um jogo extremamente pastoso, que ganhámos apenas pela margem mínima (Quaresma ao resgate!). Em Ierevan, teremos a agravante de um clima seco, adverso para os nossos jogadores e de estarmos em fim de época (recordações do trauma do Mundial 2014...).
Mesmo assim, eu acredito numa vitória. Com Fernando Santos tenho notado uma Seleção mais madura (finalmente), que sem deslumbrar consegue os resultados. Por outro lado, ainda que em teoria o momento de forma dos jogadores não seja o ideal, na prática, quando a Turma das Quinas joga em final de época, nos anos ímpares, costuma ganhar os jogos oficiais, mesmo sem brilhar. Em 2009, ganhámos à Albânia (recordações do trauma de setembro...), ainda que resvés Campo de Ourique. Tanto em 2011 como em 2013 ganhámos a adversários diretos nas respetivas Qualificações (gratidão eterna a Hélder Postiga).
Dito isto, um eventual empate frente à Arménia não seria grave. Toda a gente sabe que, nos últimos anos, fomos capazes de ultrapassar situações piores e marcar presença nas respectivas fases finais. E nesta Qualificação o terceiro lugar dá acesso ao playoff e tudo. No entanto, não é prudente arriscar. Fernando Santos tem frisado que é do interesse da Federação garantir o Apuramento o mais cedo possível - o que serve igualmente de resposta àqueles que têm dado a entender que a prioridade devia ser a renovação. Além do mais, o sprint final deste Apuramento vai ser difícil: dois adversários diretos na última dupla jornada e, na dupla jornada anterior, França e (*arrepio de medo*) Albânia. Não convém ir para estes jogos com a corda ao pescoço. Felizmente, na Turma das Quinas, parecem ter noção disso.
Depois do jogo com Arménia, à semelhança do que aconteceu há dois anos, a Turma das Quinas disputará um particular em Genebra, na Suíça. O jogo esteve quase para se realizar no Qatar - em pleno verão, com temperaturas que podem chegar aos cinquenta graus. Provavelmente num estádio construído à custa das vidas de inúmeros operários, trabalhando em condições de quase escravatura. Felizmente, houve alguém com o bom senso de mudar de palco.
Como poderão deduzir, estou à espera que tirem o Mundial 2022 do Qatar. Já se esteve mais longe, agora que o escândalo rebentou e Blatter se demitiu (reação).
A Itália é um adversário com quem não temos um historial favorável. Um pouco como a França, se bem que com menos ressentimento da nossa parte. Curiosamente, dois dias após o particular, ccompletar-se-ão noventa anos desde o nosso primeiro jogo contra os italianos (um amigável que vencemos por 1-0). De facto, a maioria dos jogos disputados entre as duas seleções foram amigáveis. Infelizmente, não conseguimos ganhar-lhes desde 1976. Mesmo o último empate foi em 1992, na Taça dos Estados Unidos - pelo que eu percebi das pesquisas que fiz na Internet, esta Taça era um torneio que se realizou anualmente entre 92 e 2000 (excluindo os anos de Mundial) para aumentar a popularidade do futebol entre os americanos. Portugal e Itália participaram na primeira edição, juntamente com a República da Irlanda e, claro, os anfitriões americanos. O campeonato funcionou por pontos, como uma mini-liga. A nossa Seleção ficou em último lugar, com um único ponto, amealhado no já referido empate com a Itália - não admira que nunca tenha ouvido falar desta competição antes. Depois desse jogo, foram sempre derrotas. Lembro-me de ter visto as duas mais recentes - o jogo de estreia de Luiz Felipe Scolari como Selecionador e o jogo de preparação para o Euro 2008 - mas não me recordo de pormenores.
Acho, portanto, irrealista esperar um resultado brilhante frente à Itália. Já consideraria um empate como aceitável. No entanto, a verdade é que esta Seleção já conseguiu ganhar à atual vice-campeã, Argentina, ainda que quase por sorte. Uma vitória não é de todo impossível.
Nestas últimas semanas, Fernando Santos tem andado a dizer que quer ganhar o Euro 2016, que é para isso que a Seleção tem estado a trabalhar desde o seu primeiro dia como Selecionador. Eu podia escrever uma entrada inteira só sobre essas declarações, mas esta não é a altura certa - ainda estamos a meio da Qualificação. No entanto, posso afirmar que podíamos ter menos hipóteses. Já não se pode dizer que tenhamos uma Seleção de Liga Europa e, sim, já de Liga dos Campeões - não digo que finalista da Liga dos Campeões, mas, vá lá, chegando aos quartos-de-final. Temos os tugas do Real Madrid. Temos João Moutinho, Ricardo Carvalho, e Bernardo Silva no Mónaco. Temos Tiago no Atlético de Madrid. Temos Quaresma, que até marcou dois golos aos alemães do Bayern de Munique (onde andava o Marmanjo quando mais precisávamos dele?). Temos ainda uma Seleção de Sub-21 recheada de jogadores titulares nos seus clubes, ou seja, o futuro parece promissor. Para não falar dos Sub-20, que estão a sair-se bem no Mundial (pelo menos é o que dizem! Jogos às 5 da manhã não dão com nada...). Por outro lado, no que toca ao grande objetivo, Fernando Santos está a conseguir cumprir aquilo que assumo que seja o primeiro passo: tornar difícil ganhar a Portugal.
Temos, portanto, motivos para algum otimismo a curto/médio prazo. No entanto, esse otimismo de nada servirá se não se traduzir em resultados. A prioridade é reservar um lugar em França o mais cedo possível - até porque tenho curiosidade em saber como é Apurarmo-nos diretamente.
Termino com uma imagem de Ricardo Quaresma despindo-se de preconceitos aqui pelo estaminé...