À hora desta publicação, faltam pouco mais de duas semanas para o início do Euro 2024. Roberto Martínez Divulgou os Convocados para representar Portugal neste campeonato no passado dia 21 de maio. Pode-se dizer que já estamos em modo Europeu – ou, vá lá, quase.
Este campeonato vai ter – já está a ter – um sabor diferente. Um sabor nostálgico, aludindo a campeonatos anteriores.
Para começar, vai decorrer exatamente vinte anos depois do Euro 2004. “Euro 2024”, aliás, soa parecidíssimo a “Euro 2004” – o meu coração dá um pequeno salto sempre ouço este nome. Sobretudo agora na era das internetes, temos ciclos de nostalgia de vinte anos. E 2004 foi um ano marcante para mim. Foi quando comecei o Secundário, quando adotei novos interesses que mantenho até agora.
A Seleção será um dos maiores. Não é a primeira vez que o digo, não será a última. Foi com o Euro 2004 que o casamento começou – e chegámos à marca dos vinte anos! Tomara muitos!
Além de que foi, pura e simplesmente, um dos capítulos mais bonitos da história do futebol português. Matéria da qual são feitas as lendas. O espanto e a maravilha ainda não se dissiparam, mesmo passadas duas décadas.
Malta! O Ricardo defendeu um penálti decisivo sem luvas! E depois ele mesmo bateu o penálti seguinte, assegurando a nossa vitória. Coisas como esta não acontecem!
Por outro lado, este Europeu irá decorrer na Alemanha – o mesmo palco que o Mundial 2006, também ele com elevado valor nostálgico. Foi o melhor desempenho português em Mundiais que testemunhei até agora. Dá-me imenso gozo ouvir os nomes das cidades, depois de as ter aprendido rapidamente durante esse Mundial. As mais conhecidas Berlim, Munique, Frankfurt, Dusseldorf, claro, mas também Marienfeld (que vai voltar a ser o quartel-general da Seleção), Colónia, Gelsenkirchen – este último é o meu nome preferido.
O único denominador comum entre esses campeonatos e o atual é, claro, Cristiano Ronaldo, o único que continua no ativo. Dezoito, vinte anos depois, voltou a ser Convocado. Também temos Ricardo Carvalho e Ricardo Pereira (referido acima), mas como membros da equipa técnica.
Estamos velhos.
O terceiro fator nostálgico diz respeito aos nossos adversários nesta fase de grupos. A Turquia e a Chéquia também fizeram parte do nosso grupo no Euro 2008. A Geórgia não, mas realizámos um particular contra eles antes desse campeonato – o único, se a memória não me falha. A única recordação que tenho desse jogo é a fotografia do João Moutinho que usei como cabeçalho do texto que escrevi sobre esse jogo aqui no blogue. Ele foi um dos marcadores.
Nem me recordava do resultado, apenas que tínhamos ganho. Uma pesquisa rápida recordou-me que ganhámos por duas bolas contra zero. Mas falaremos melhor num texto futuro, quando olharmos melhor para os nossos adversários neste Europeu.
Não que o Euro 2008 em si tenha sido particularmente memorável. Mas sempre foi o primeiro campeonato que cobri com este blogue, há dezasseis anos.
Dezasseis anos, minha gente. Ainda há pouco tempo o Euro 2004 e o Mundial 2006 tinham sido há apenas meia dúzia de anos. De repente já lá vão duas décadas ou quase.
Algo em que reparei há pouco tempo é que este blogue passou metade da sua vida com uma Seleção sem títulos e a outra metade com título. Nesse sentido, seeria poético se conseguíssemos recuperar a Henri Delaunay este ano.
Vou dizê-lo já: este é capaz de ser o campeonato de seleções que encaro com maior otimismo em muitos anos. Da última vez era (mais) jovem e (mais) ingénua, claro. Agora estou confiante, sim, mas cautelosa. Temos o talento, tivemos os resultados na Qualificação, não temos Fernando Santos.
Mas já se sabe como são estas coisas. Tudo muito bonito, mas só conta quando a bola rolar.
Além disso, como temos vindo a assinalar, ainda não conhecemos Roberto Martínez assim tão bem, ainda não tivemos um desafio a sério. Não sabemos como irá esta Seleção reagir quando nos cruzarmos com um adversário de peso.
Nesse aspeto, uma coisa boa deste grupo teoricamente fácil – sublinhe-se o “teoricamente” – é que vamos continuar a ter um aumento mais ou menos linear em termos de dificuldade.
Confesso que ainda não me sinto bem em modo Europeu. Já não é a primeira vez que o digo. Para além de ter outras coisas ocorrendo na minha vida, já são muitos anos, há aspetos que já se tornaram rotineiros. Como a Divulgação dos Convocados. A atual geração tem tanto talento que é quase impossível fazer uma Convocatória má.
Claro que tenho os meus reparos. Não percebo o que é que Martínez tem contra Francisco Trincão e sobretudo Pedro Gonçalves. Eles não puderam vir ao Europeu porque falharam os amigáveis de março. Mas Pedro Neto e Diogo Jota – que não só falharam essa jornada como vêm de lesões prolongadas – puderam vir? Ainda compreendo mais ou menos a Chamada de Diogo Jota – ele tem currículo na Seleção, vários golos marcados. Pedro Neto, por outro lado, só conta cinco internacionalizações e um golo marcado num particular frente a Andorra.
Dito isto, não estou para me ralar demasiado com esta questão. Até porque nestes debates há sempre gente usando lentes da cor dos respectivos clubes. Quando é assim, é uma luta perdida. Além disso, nenhuma das desilusões dos últimos anos se deveu a problemas com os Convocados.
A única coisa que quero recordar da Convocatória é mesmo a reação do filho do João Palhinha.
A preparação do Europeu começou este domingo. Este é o primeiro campeonato de seleções “normal” que temos em anos. Está a decorrer na altura certa do ano, sem adiamentos ou outros condicionamentos provocados pela pandemia ou climas extremos. Temos três jogos de preparação antes do Europeu! Já não estava habituada a isto.
Por outro lado, tenho estranhado o início tão tardio do estágio de preparação. Vou ser sincera, não me agrada muito. Os Marmanjos vão jogar o primeiro amigável depois de o quê? Um treino? Dois?
Claro que compreendo a lógica. Toda a gente sabe como anda o calendário futebolístico – já não é a primeira vez que falamos disso. Andam a falar de uma possível greve de futebolistas. Esta semana de férias terá feito melhor a estes Marmanjos, em termos físicos e sobretudo psicológicos, do que uma semana de estágio, por muito leve que seja. Se isso significar exibições fraquinhas nos particulares e menos publicações nas redes sociais relacionadas com a Seleção… que assim seja. É um preço mais do que razoável.
Falemos então sobre estes três amigáveis. De referir que vou estar lá em dois deles. Comprei o bilhete para o primeiro, frente à Finlândia, em Alvalade, há poucos dias. Foi decisão de última hora. Estou de folga nessa tarde, não tenho outros planos, o Estádio fica perto da minha casa, a vida é curta. Porque não? É na loucura. E acho que nesta vez consegui um lugar decente. Lá está, não estou à espera de uma grande festa do futebol. Vou sobretudo pelo ambiente, pela festa, para ganhar entusiasmo para o Europeu.
Quanto à Finlândia, é a primeira vez que jogamos contra eles em mais de uma década. Os finlandeses foram nossos adversários na Qualificação para o Euro 2008. Ambos os jogos deram empate. Lembro-me vagamente do primeiro, em setembro de 2006. De ter achado que o empate era um bom resultado, depois de um desastrado particular contra a Dinamarca (cuja única coisa boa foi a estreia de Nani) e da expulsão de Ricardo Costa.
Do segundo empate, em novembro de 2007, recordo-me ainda menos. Apenas que foi o jogo de estreia de Pepe e da célebre conferência do “E o burro sou eu?” de Luiz Felipe Scolari.
Hoje revejo a cena e continuo sem perceber porque é que Scolari estava tão irritadiço. Dito isto, tendo em conta o que aconteceu em Qualificações posteriores, acho que Scolari não estava completamente errado. Seria preciso esperarmos oito anos até voltarmos a ter um Apuramento tão relativamente tranquilo quanto este.
Os dois jogos seguintes com a Finlândia foram particulares. Um deles foi em fevereiro de 2009. Uma vez mais, não me recordo de muito. Apenas que foi uma exibição medíocre, ao nível do que foi a era de Carlos Queiroz, sobretudo o primeiro ano. Só conseguimos ganhar por um golo de penálti de Cristiano Ronaldo – um de um total de dois golos que Ronaldo marcou nos dois anos de liderança de Queiroz.
Só para verem.
Finalmente, o outro particular decorreu em março de 2011, no primeiro ano do mandato de Paulo Bento. Desse não me lembro de nada. Só depois de pesquisar é que me recordei que foi o jogo de estreia de Rúben Micael e que este marcou dois golos.
Não pensava no Rúben há imensos anos, talvez quase uma década. Aparentemente já se reformou.
Por estes dias, a Finlândia está na Divisão B da Liga das Nações. Concluiu a Qualificação para o Euro 2024 atrás da Dinamarca e da Eslovénia, foi a play-offs, mas perdeu contra o País de Gales. Diria que são um adversário de nível médio. Ao nosso alcance.
Mais difícil será o jogo seguinte, com a Croácia. Está na Divisão A da Liga das Nações. Aliás, serão nossos adversários na fase de grupos da próxima edição da prova, este outono. Vêm ao Europeu depois de terem ficado em segundo lugar no grupo D da Qualificação – atrás da Turquia, um aviso para nós. Ficaram em terceiro lugar no último Mundial, depois de vencerem os nossos amigos marroquinos. Destaque para a figura Luka Modrić, que ainda por cima acaba de ganhar a Liga dos Campeões com o Real Madrid.
Ou seja, os croatas podem não ser a primeira seleção que vem à baila quando falamos de tubarões. Mas acho que podem ser considerados candidatos ao título europeu.
Dito isto, a Croácia já anda na mó de cima há uns anos, mas não têm impressionado quando se cruzam connosco. Destaque para a fase de grupos da Liga das Nações em 2020. Existirão atenuantes, claro, mas não deixa de ser estranho.
A ver o que acontece na Liga das Nações. Para já não é tão importante – isto é só um jogo particular. Em todo o caso, será o adversário mais difícil com quem nos cruzamos desde que Roberto Martínez assumiu as rédeas da Seleção. Será um bom teste.
O jogo terá lugar no Estádio Nacional e foi quase só por isso que comprei os bilhetes há já vários meses – venho com uma amiga. Já fui várias vezes ao Jamor. Para receber a Seleção depois do Mundial 2006 – o dia em que quase literalmente caí para o lado por causa do calor (importante tomar cuidado com isso agora no sábado). Para os treinos abertos no tempo de Paulo Bento (saudades). Mas nunca fui ver um jogo lá.
Em parte por falta de oportunidade. O último jogo da Seleção lá foi há uma década – frente à Grécia, curiosamente comandada por Fernando Santos, poucos meses antes de vir orientar Portugal.
Este sábado colmato essa falha, finalmente.
Por fim, vamos jogar contra a República da Irlanda no dia 11 no Estádio de Aveiro – o único particular a que não vou assistir ao vivo. Penso que já referi cá no blogue que este é um dos meus preferidos de todos os estádios construídos para o Euro 2004. No entanto, da última vez que passei por ele (penso que terá sido no final do ano passado), a fachada pareceu-me algo degradada.
O que, infelizmente, confirma as previsões mais pessimistas de há vinte anos: vários destes estádios virando elefantes brancos.
Quanto à República da Irlanda, esta falhou a Qualificação para o Euro 2004. Uma grande pena, tenho saudades dos seus adeptos. Estão na Divisão B da Liga das Nações. Em teoria, será o particular mais fácil destes três. Na prática, os últimos nossos dois jogos com eles, na Qualificação para o Mundial 2022, foram exibições medíocres.
Ou seja, não convém assumirmos facilidades. Mesmo que seja apenas um particular e o resultado não seja o mais importante.
É pouco provável que estes jogos tenham grande história. Ainda assim, é possível que eu escreva um par de textos antes da nossa estreia no Europeu, sobre estes jogos e sobre o que quer de interessante que ocorra durante a preparação. Vêm aí um par de feriados, em princípio até terei tempo.
Logo se vê. Um de certeza escrevo.
Posso ainda não me sentir muito entusiasmada, mas o meu interesse aumentará à medida que nos aproximarmos do início do Europeu – e com os particulares a que vou assistir. Aliás, basta-me consultar artigos sobre os possíveis caminhos de Portugal até à final de Berlim para sentir os familiares bichinhos no estômago. É o que eu digo, há muitas coisas que deixaram de ser novidade para mim mas, na hora H, o sofrimento é sempre o mesmo. Suspeito que só se tem tornado pior com o tempo.
Mas é também para isso que serve aqui o estaminé. Para catarse, para verter esse sofrimento para o papel e, depois, para o digital, para registar tudo para mais tarde recordar.
Como sempre, obrigada pela vossa visita. É mais um campeonato de seleções que começa. Acompanhemo-lo juntos, quer aqui no blogue, quer na página do Facebook. Até à próxima!
No passado dia 21 de março, a Seleção Portuguesa de Futebol venceu a sua congénere sueca por cinco bolas contra uma. Cinco dias mais tarde, no entanto, perdeu perante a sua congénere eslovena por duas bolas sem resposta. Ambos os jogos foram de carácter amigável.
Enfim.
Conforme já tinha referido no texto anterior, estava ainda a trabalhar durante a primeira parte do jogo com a Suécia. Foi um final de dia mais movimentado que o costume. Aviso de amiga: pessoas que chegam a um estabelecimento nos últimos cinco, dez minutos antes do fecho, sem terem um bom motivo para isso, têm um lugar reservado no inferno. Foi o caso de pelo menos dois dos utentes que ainda lá estavam quando fechámos. É indecente!
Ainda assim, consegui ir espreitando sites de atualizações e soube quando marcaram os dois primeiros golos. O terceiro coincidiu com a altura em que nos preparávamos para fechar, logo, só soube dele durante o intervalo, já a caminho de casa.
Pelo que vi e li mais tarde, a Suécia até entrou no jogo a dominar, mas só se aguentou durante uns vinte minutos. Portugal rapidamente tomou as rédeas da partida. O primeiro golo do jogo – e do ano – surgiu aos vinte e quatro minutos. O primeiro remate foi de Bernardo Silva, mas a bola foi ao poste. Na recarga, Rafael Leão não perdoou.
O segundo golo também teve assistência de Bernardo Silva, ainda que de maneira diferente. Este passou a Matheus Nunes, que avançou pelo campo sem que os suecos conseguissem fazer nada. Ao entrar na grande área, rematou certeiro.
Por sua vez, o terceiro golo começou com um passe fabuloso de João Palhinha. A bola voou quase a distância equivalente a um meio campo até Nélson Semedo, à direita. Este foi até à linha de fundo, assistindo depois para Bruno Fernandes marcar – fazendo um túnel ao pobre defesa sueco.
Na segunda parte, já estava à frente da televisão e, sinceramente, gostei do que vi. Uma exibição bem agradável. Gostei em particular de ver Palhinha: teve vários momentos que me recordaram a célebre jogada do Portugal x França do Euro 2021 2020, que terminou com uma cueca a Pogba.
E fui capaz de ver a Seleção marcando um par de golos. O primeiro teve a assistência de Bruno Fernandes. Esteve frente a frente com o guarda-redes, teve a hipótese de rematar ou de passar a um colega: ou Bruma, à sua esquerda, ou Gonçalo Ramos, à sua direita. Acabou por escolher Bruma, que não desperdiçou o jeitinho.
Infelizmente, depois, cometemos um erro de amadores. Baixámos a guarda durante o rescaldo do golo e deixámos Viktor Gyökeres marcar o primeiro da Suécia. Toti Gomes ficou mal na fotografia.
Ainda assim, só precisámos de alguns minutos para ampliar a vantagem de novo. António Silva fez um passe longo para Nélson Semedo, que seguiu pela direita e assistiu para o golo de Gonçalo Ramos. Os suecos, no entanto, conseguiram voltar a reduzir, perto do fim do jogo.
Toda a gente ficou contente com este resultado e com este jogo, muitos nós começaram a sonhar alto. Não vou mentir, eu também me deixei levar por esse espírito. Mas já tinha escrito que os suecos não estavam a atravessar um bom momento – aquela vitória vale o que vale. E, da minha experiência acompanhando a Seleção de perto, já devia saber que o Universo tem a mania de nos atirar de volta para a Terra quando andamos com a cabeça nas nuvens.
O que, pelo menos esta fase, não é uma coisa má, atenção!
Eu sabia que a Eslovénia seria um adversário mais difícil que a Suécia. Ainda assim, estava à espera de melhor. Nem quero escrever muito sobre este jogo – o que há para dizer? Foi uma seca. Estava a ver a partida e a pensar: “Fui eu pedir para sair mais cedo para isto?”. Não que preferisse estar a trabalhar, mas porque é que os Marmanjos só jogaram bem nesta jornada quando não pude ver o jogo todo?
Muitos têm apontado que esta derrota serviu para demonstrar a falta que nomes como Bernardo Silva e Bruno Fernandes fazem. Talvez tenham razão, mas também concordo com a dispensa deles deste jogo. Já não é a primeira vez que o escrevo: a época futebolística atualmente é uma coisa parva. Se for possível poupar os jogadores literalmente nesta altura do campeonato, que se poupe!
E, no fim do dia, isto é apenas um particular. O próprio Roberto Martínez disse depois que o mais importante não era a vitória – eu disse o mesmo antes, como digo antes de todos os jogos amigáveis. Não vamos colocar tudo em causa e deixar de ser candidatos ao título porque perdemos um jogo – tal como não éramos os grandes favoritos depois de termos ganho a uma seleção que falhou o Apuramento.
Dito isto, espero mesmo que o jogo com a Eslovénia tenha servido para tirar ilações, que aquilo foi penoso.
No meio disto tudo, devo confessar, tenho andado pouco entusiasmada com a Seleção. Em parte por andar ocupada com outras coisas – quem segue o meu outro blogue e sobretudo a sua página no Facebook terá uma ideia sobre o que estou a falar – mas também porque este último ano, sejamos sinceros, foi pouco estimulante. Uma Qualificação tranquila perante adversários de nível médio/acessível (claro que tinha sido pior se tivéssemos sentido dificuldades) e, agora, dois particulares. Já não é a primeira vez que o digo: tenho saudades de partidas mais intensas, com mais em jogo. Tenho saudades do mata-mata, do Nitromint debaixo da língua.
Isto é, no momento não acho assim tanta piada, mas depois gosto de recordar e de escrever sobre isso.
Felizmente já não falta muito tempo. Diz que os Convocados serão anunciados a 20 de maio, marcando o início da era do Europeu. Em princípio, não devo publicar antes da Convocatória, mas vou tentar publicar depois, antes dos particulares marcados para junho.
Hoje, dia 21 de março, a Seleção Portuguesa de Futebol recebe a sua congénere sueca no Estádio D. Afonso Henriques, em Guimarães. Cinco dias mais tarde (cinco?! Já não estou habituada a um intervalo tão grande entre jogos…), desloca-se a Liubliana, na Eslovénia, para defrontar a seleção da casa. Ambos os jogos serão de cariz amigável.
Se formos a ver, estes são os primeiros jogos particulares que temos no mês de março desde 2018. Entre as mudanças no calendário provocadas pela Liga das Nações, a pandemia e os play-offshá dois anos, nunca mais foi possível. Jogos amigáveis em geral tornaram-se uma raridade nos últimos anos, aliás – já não é a primeira vez que falamos disso. Não que ache que a maior parte das pessoas, eu incluída, sinta saudades, bem pelo contrário. Mas acredito que os Selecionadores sintam falta.
Roberto Martínez, o selecionador português, parece querer tirar o melhor proveito desta dupla jornada, tentar gerir o facto de estes jogos não virem numa boa altura da época (ainda estou à espera de jogos da Seleção que venham numa boa altura, mas isso é outra conversa). A Turma das Quinas foi dividida em três grupos: um com Marmanjos que poderão jogar em ambas as partidas, um com os que jogarão apenas na primeira, um com os que jogam apenas na segunda. Neste último estão incluídos nomes como Cristiano Ronaldo, João Cancelo, João Félix, Danilo, entre outros.
Tenho pena de quem, se calhar, comprou bilhete para o jogo com a Suécia para ver o Ronaldo. À parte isso, acho boa ideia. Faz sentido como forma de minimizar o desgaste. E sempre dá oportunidade para Chamar gente que, se calhar, noutras circunstâncias, não conseguiria vir. Como, por exemplo, Francisco Conceição – ou Chico Conceição, como lhe chamou Martínez na Convocatória (isso é uma alcunha dele ou é Martínez que não consegue dizer “Francisco”?) – Jota Silva ou, mais recentemente, Dany Mota.
Não sei se era a única mas, antes de fazer o trabalho de casa para este texto, achava que a Suécia era o adversário mais difícil nesta dupla jornada. Pois bem, não é o caso. Pelo menos não neste momento. Os suecos não se Qualificaram para o Euro 2024: ficaram em terceiro lugar, atrás da Bélgica e da Áustria e, neste momento, estão na Divisão C da Liga das Nações. Ou seja, estarão mais ou menos a meio da tabela europeia. E estão, neste momento, a estrear um novo selecionador.
Por outro lado, os suecos dispõem de um triunfo bem conhecido dos portugueses: Viktor Gyökeres, o atual melhor marcador da Liga Portuguesa. Pelo que me dizem, quando joga pelo Sporting, a qualquer momento pode sacar um coelho da cartola e decidir uma partida. Não sei se acontece o mesmo quando veste a camisola sueca, mas é melhor contar com isso.
Felizmente, o treinador do Sporting, Rúben Amorim, foi amigo e já deu um conselho: meter o Gonçalo Inácio, seu colega de clube, a marcá-lo.
Aqui entre nós, talvez seja em parte viés de ser irmã de uma sportinguista, mas eu gosto do Amorim. Espero que chegue a Selecionador Nacional a longo prazo.
O nosso histórico com os suecos é equilibrado. Literalmente: sete vitórias, sete derrotas e cinco empates, pendendo mais a nosso favor nos últimos anos. Toda a gente se lembra dos play-offs de 2013. No entanto, os jogos mais recentes ocorreram durante a fase de grupos da Liga das Nações, em 2020. Foram dos primeiros jogos da seleção após a pausa imposta pela pandemia – já uma memória distante, felizmente, mas continuo a rezar para que nunca mais passemos por algo do género. Ambos os jogos correram bem, como poderão recordar aqui e aqui.
Assim, tirando a imprevisibilidade de Gyökeres, penso que a Suécia estará ao nosso alcance. Infelizmente, hoje estou a sair às 20h30 do trabalho, logo, vou perder a primeira parte. Paciência. É apenas um amigável, não é grave.
Mas já pedi para me escalarem para sair mais cedo na terça-feira.
O que nos leva ao jogo com a Eslovénia. Estes Qualificaram-se para o Europeu em segundo lugar no grupo H, atrás da Dinamarca. É a primeira fase final em que participam desde o Mundial 2010 e o primeiro Europeu em que participam desde 2000. No que toca à Liga das Nações, estão na Divisão B – acima da Suécia.
Estive a pesquisar e, tanto quanto consegui apurar, nunca jogámos contra a Eslovénia. Acho estranho ainda existirem seleções europeias com quem nunca nos cruzámos – quer em amigáveis como este, quer em fases de Qualificação.
Por outro lado, é uma seleção relativamente jovem – só foi reconhecida oficialmente pela FIFA e pela UEFA em 1992. Talvez seja essa a explicação.
Ou seja, é uma seleção mais forte do que seria de esperar, que conhecemos mal, e que certamente andará feliz e motivada. Ainda assim, não serão melhores do que nós.
Depois de termos tido uma Qualificação de nível fácil, com todas as ressalvas, tenho-me perguntado – à semelhança de muita gente, imagino eu – como se sairá a Seleção de Martínez perante adversários de maior calibre. Claro que não se podem tirar muitas conclusões de jogos particulares – nestas ocasiões, os resultados e mesmo as exibições não são o mais importante. Mas sempre dará para termos uma ideia.
Antes de terminarmos, temos de falar de equipamentos. Depois deste texto já é habitual.
Uma palavra de despedida para a coleção anterior. Na altura em que saiu estranhei, mas acabei por ficar a gostar do equipamento principal, mesmo que tenha quebrado convenções. Discordem se quiserem, eu acho giro. Foi uma coleção muito bonita – tirando a camisola de aquecimento. Vou ter saudades dos tons dourados em geral, fazendo lembrar o pôr-do-sol, e em particular dos equipamentos de treino.
Estou contente por eles não terem cortado completamente com a estética anterior. Os tipos de letra, pelo menos, são parecidos. O equipamento principal é mais clássico que o anterior: regressa a combinação camisola vermelha e calções verdes. Talvez tenham percebido que a camisola anterior fora demasiado divisiva.
Parece-me giro o equipamento. Por outro lado, a camisola alternativa é bem fora do convencional. Em azul e branco, um padrão inspirado pelos azulejos portugueses. Ficou giríssimo, adoro. Faz-me pensar nos pastéis de Belém.
No entanto, como habitual, preciso de estes equipamentos em campo e reservo a minha opinião final para o fim do ciclo desta coleção. Aliás, esta é a última coleção produzida pela Nike – a próxima já virá da Puma. A ver o que farão.
E com esta nos despedimos, por agora. Como sempre, obrigada pela vossa visita. Que Portugal ganhe logo à noite.
No passado dia 16 de novembro, a Seleção Portuguesa de Futebol venceu a sua congénere… *consulta texto anterior aqui no blogue* liechtensteiniana por duas bolas a zero. Três dias mais tarde, a Seleção venceu a sua congénere islandesa pela mesma diferença de golos… e eu estive lá. Com estes dois jogos, ficou concluída a fase de Apuramento para o Euro 2024, que terá lugar na Alemanha. A Seleção ficou em primeiro lugar no grupo J e irá para o pote 1 no sorteio para a fase de grupos do Euro 2024, que decorrerá no próximo sábado, dia 2 de dezembro.
Comecemos pelo jogo com o Liechtenstein. Vou ser sincera, não foi grande coisa. Arrisco-me a dizer que foi o nosso pior nesta fase de Qualificação.
Não que esteja surpreendida pela exibição. Olhemos para as circunstâncias: este era um jogo que já não contava para nada. Não contava para o primeiro lugar, nem sequer contava para os potes do sorteio. Em termos práticos era um amigável. E naturalmente o Selecionador Roberto Martínez aproveitou a ocasião para inventarfazer experiências – estratégias a que os Marmanjos não estão tão habituados. Além disso, foi fora de casa, durante uma fase intensa da temporada futebolística, perante uma seleção de microestado, de nível semi-profissional ou mesmo amador.
Em suma, não havia nada que convidasse a uma grande festa do futebol. Era daqueles jogos de que os treinadores gostam, mas os jogadores e dos adeptos não.
Foi frustrante para o meu lado pois consegui ver toda a primeira parte, em que não aconteceu nada de assinalável, e mal consegui ver a segunda, mais interessante. Culpa da hora de jantar e a televisão da cozinha, mais velha que a larga maioria da Seleção atual.
Ao menos consegui ver o golo de Cristiano Ronaldo, no início da segunda parte. Ele que, sem surpresas, estava com ganas. Já em cima do intervalo falhara um pontapé de bicicleta (ele tem um bocadinho de azar com eles, não é?) e, no primeiro minuto da segunda parte, enviara uma bola ao poste.
No minuto seguinte, Diogo Jota isolou Ronaldo pela esquerda, este rematou e a bola finalmente entrou. Capitão ao resgate, como tantas vezes antes.
Não consegui ver o golo de João Cancelo em direto, o que é uma pena. A assistência foi de António Silva, depois disso Cancelo fez tudo sozinho. Fintou o guarda-redes (no vídeo da Sport TV, um dos comentadores até se riu) e rematou de um ângulo difícil, entre dois defesas do Liechtenstein.
Ainda houve tempo para José Sá mostrar o que vale, na sua estreia pela Seleção (custou-me a acreditar, confesso. Convocado há anos e só agora é que calçou as luvas). E para o VAR anular um golo a Gonçalo Ramos por fora-de-jogo, na sequência de um livre.
Uma palavra para o público adepto de Portugal, que se fez ouvir durante todo o jogo. É o costume em países como este, acessíveis aos emigrantes, e é sempre agradável. Por outro lado, em defesa dos liechtensteinianos, segundo uma reportagem que vi na RTP3 antes do jogo, a população de Vaduz, a capital, é de cinco mil. Eles não conseguiriam encher o estádio sem deixar a cidade às moscas.
Ao menos os liechtensteinianos ficaram com o orgulho de terem impedido uma goleada da nossa parte. Por nosso lado, ficámos contentes com a nona vitória na Qualificação. Ainda assim, eu desejei que o jogo seguinte fosse melhor.
E foi.
O jogo com a Islândia decorreu no vigésimo-sexto aniversário da minha irmã – e dez anos depois da inesquecível segunda mão dos play-offs frente à Suécia. Aqui entre nós, tenho inveja dela. Faço anos em janeiro, nunca há jogos da Seleção nessa altura do ano. Em todo o caso, como forma de festejar, fomos todos a Alvalade – casa do Sporting dela. Eu, ela, o seu namorado e os nossos pais.
Chegámos cedo e não tivemos dificuldade em entrar. É a vantagem de o jogo ter sido ao domingo e de Alvalade ter bons acessos.
O pior é que ando com azar e/ou falta de jeito para lugares. Fui eu quem comprou os bilhetes no Continente – já deviam ser os últimos. Não me lembro se fui eu ou a senhora que me atendeu quem escolheu os lugares. Só sei que ficámos na bancada de cima. Tivemos de subir vários lanços de escada – como disse um vizinho nosso, foi um aquecimento ainda mais rigoroso que o dos jogadores. Ainda me afligi com os joelhos da minha mãe, mas felizmente ela não se queixou.
Os lugares em si ficavam literalmente na fila mais acima. Quase batíamos com a cabeça na pala. A visibilidade era péssima – como podem ver na fotografia, era como se víssemos o campo no fundo de um túnel. Nem sequer conseguíamos ver os ecrãs nos cantos do estádio. Mal conseguíamos identificar os jogadores – o que foi chato durante o jogo.
Em defesa deles, os meus pais pelo menos não se importaram. Mal por mal, via-se o campo todo, o que nem sempre é possível nas bancadas mais abaixo. Mas eu gosto de estar próxima dos jogadores, mesmo que às vezes não veja o que se passa do outro lado do campo.
Ainda assim, deu para sentir o ambiente fantástico em Alvalade, com pirotecnia e tudo. Foi a primeira vez que vi um espetáculo assim num estádio. E nós, no público, fizemos barulho durante praticamente o jogo todo – os bate-palmas foram bem utilizados.
O jogo foi, de facto, melhor que o anterior, em parte porque Martínez inventou menos. Portugal entrou bem, com muitas oportunidades – um remate de cabeça de Cristiano Ronaldo no primeiro minuto, uma bola ao poste de Otávio ao sétimo minuto, entre outros. Muitos outros.
Foi um problema recorrente nesta dupla jornada, aliás: dificuldades na finalização. Neste compromisso não fez mal, mas em jogos mais importantes, perante adversários de maior calibre, poderá ser problemático.
Terá de ir para a lista de problemas a resolver antes do Europeu.
Felizmente, o marcador mexeu-se aos trinta e seis minutos, com um belo remate do canto da grande área. Só consegui identificar o pistoleiro porque este, nos festejos, tapou as orelhas – um gesto para a Matilde, a filha mais velha de Bruno Fernandes.
Foi um belo golo, após uma troca deliciosa de bola entre ele e Bernardo Silva.
Na segunda parte houveram mais oportunidades desperdiçadas, sobretudo de Cristiano Ronaldo. Eu queria muito um golo dele porque “SIIIII!!!!!!” e ele, de facto, esforçou-se. E nós puxámos por ele, cantámos por ele. Infelizmente, não foi a noite de Ronaldo.
O segundo golo foi marcado no meio de alguma confusão. Do meu lugar não se conseguia ver bem quem marcou e ainda ficámos no escuro durante algum tempo – o speaker em Alvalade não se dignou a anunciar o marcador. Ainda pensei que tivesse sido João Félix mas não. Foi Ricardo Horta.
Isto cinco minutos após ter entrado em campo. Já é habitual com ele.
Em defesa da minha primeira percepção, foi João Félix quem fez o primeiro remate, defendido pelo guarda-redes. Cristiano ainda tentou a recarga, falhou. Horta tentou e foi bem sucedido. Ficou feito o resultado.
Antes de terminar, uma palavra apenas para o aplauso de Alvalade à entrada de João Neves. Martínez tinha pedido para se deixar as rivalidades de lado e, de qualquer forma, gosto de pensar que o público não seria cruel com um jogador tão novinho ainda. Não devia ter sido necessário pedi-lo, tais aplausos deviam ser a norma, temos a fasquia demasiado baixa.
Mas gostei à mesma. Temos de começar por algum lado.
E foi isto. Ficaram a faltar mais golos, sobretudo de Cristiano, e uns lugares melhores, mas foi uma noite bem passada, um aniversário bem passado. Estive no início desta fase de Qualificação e no final desta. Concluímos este Apuramento sem mácula, como eu desejava há muito tempo, com trinta e seis golos marcados e apenas dois sofridos. Nenhuma outra seleção fez melhor do que nós.
Correndo o risco de repetir o que já escrevi em textos recentes, sim, o nosso grupo era acessível, mas já tivemos grupos acessíveis antes. Por exemplo, o nosso grupo da Qualificação para o Mundial 2022 não era muito mais difícil do que este – a Sérvia é um pouco melhor que a Islândia ou a Eslováquia, na minha opinião, mas só isso – e toda a gente se lembra de como issocorreu. Contrariar a nossa mania da auto-sabotagem é um feito significativo. Temos direito a sentirmo-nos orgulhosos.
Foi um bom ano para a Seleção, em suma. Tranquilo. Sê-lo-ia sempre com este grupo de Apuramento, a menos que as coisas corressem mesmo muito mal. Mas não deixa de saber bem depois da agitação de 2021 e 2022. Como tinha previsto, este foi um ano para Roberto Martínez se adaptar à Seleção. O verdadeiro teste será agora, em 2024, com o Europeu. Para o qual partimos com ambições.
E, falando por mim, sim, soube-me bem o ano mais tranquilo, mas já ando com desejos de alguma adrenalina.
O que nos leva aos sorteios para a fase de grupos, este sábado. Portugal está no pote 1, evitando uma série de tubarões. Não teremos de novo um cenário como o do Euro 2020. Aliás, não deveremos ter um grupo demasiado difícil. O pior que nos pode acontecer seria encontrarmos os Países Baixos (nossos fregueses, como dizia Luiz Felipe Scolari) e a Itália (detentora do título mas que nem sequer foi ao Mundial 2022). Arrisco-me a dizer que quem sobreviveu a um grupo com a Alemanha e a França, quando estávamos numa fase bem menos estável, sobrevive a qualquer coisa, nas atuais circunstâncias.
…meu Deus, espero não vir a arrepender-me destas palavras. Já se sabe: isto na teoria é tudo muito bonito. Na prática é que se vê.
Costumo escrever um texto analisando os resultados do sorteio, mas não sei se faço o mesmo desta vez. Vou estar ocupada este fim-de-semana, nem deverei acompanhar a cerimónia em si.
A parte mais chata é que, agora, a Seleção só se reúne de novo daqui a quatro meses. Para um particular em Guimarães, frente à Suécia, e outro com adversário a definir – vai depender dos resultados do sorteio. É muito tempo, muita coisa pode – não não, vai – mudar até lá. Nos últimos dois, três anos, vínhamos de desilusões e o hiato deu jeito para lamber as feridas. Agora vai custar mais.
Mas pronto, havemos de sobreviver. Só espero que não hajam lesões graves que impeçam Marmanjos de virem ao Europeu.
Para o caso de não haver nenhuma crónica pós-sorteio, deixo já aqui os meus votos de Boas Festas e de Feliz Ano Novo. Que 2024 seja um ano muito muito feliz para a Seleção.
No passado dia 13 de outubro, a Seleção Portuguesa de Futebol venceu a sua congénere eslovaca por três bolas contra duas, no Estádio do Dragão. Três dias mais tarde, venceu a sua congénere bósnia por cinco bolas sem resposta. Com estes resultados, a Seleção garantiu o primeiro lugar no seu grupo de Apuramento, confirmando presença no Euro 2024, que terá lugar na Alemanha. Foi a Qualificação mais rápida de sempre.
Começando pelo jogo com a Eslováquia, como toda a gente, gostei da primeira parte. Depois do que aconteceu no jogo de Bratislava, no mês passado, estava à espera de outro jogo enfadonho. Não foi isso que aconteceu. Houve animação à mistura com frustração: um festival de oportunidades desperdiçadas – típica mistura de azar e de guarda-redes adversário inspirado – e um par de sustos para o nosso lado. O primeiro desperdício ocorreu relativamente cedo: uma daquelas situações em que está toda a gente na pequena área, a equipa atacante em cima da linha de baliza, rematando várias vezes mas a bola teimando em não entrar.
Felizmente, o marcador funcionou aos dezoito minutos. De uma maneira que já se tornou típica, a assistência foi de Bruno Fernandes. Depois de ter sentado um eslovaco, enviou a bola para a cabeça de Gonçalo Ramos – que, assim, aumentou ainda mais a sua respeitável conta de golos pela Seleção.
Perto da meia hora de jogo, a nossa vantagem ampliou depois de Cristiano Ronaldo ter, sem surpresas, sido chamado para bater um penálti.
Como muitos têm assinalado, os dois golos de vantagem ao intervalo não refletiam o desempenho de Portugal durante a primeira parte. Na altura, os comentadores da RTP disseram que 2-0 era um resultado perigoso. Pode dar uma falsa sensação de segurança, levar a complacência por parte da equipa em vantagem. Se o adversário reduz para 2-1, a partida é relançada.
O tempo deu-lhes algum razão: Portugal abrandou no início da segunda parte. Talvez tenha sido, de facto, complacência. Talvez tenha sido excesso de individualismo. Talvez tenha sido a chuva – aumentou de intensidade na segunda parte e Portugal começou a meter água. Os eslovacos começaram a crescer no jogo e conseguiram chegar ao golo aos sessenta e nove minutos. O primeiro golo que sofremos na era Martínez, em quase um ano.
Sim, desagradável, mas tinha de acontecer mais cedo ou mais tarde.
Felizmente, como já tantas aconteceu nas últimas duas décadas, Cristiano Ronaldo veio em nosso auxílio três minutos depois. A assistência foi de Bruno Fernandes (quem mais?), Ronaldo só teve de encostar.
Os eslovacos ainda tornaram a reduzir, por volta dos oitenta minutos. Mesmo assim, apesar de algum nervosismo da minha parte, a vitória não chegou a estar em risco. Com o apito final, Portugal selou a sua presença no Euro 2024 – a mais rápida de sempre, como referido antes.
Uma palavra para a chuva. Que incomodou e prejudicou, sim, mas que na minha opinião tornou tudo mais épico, deu estilo às fotografias e aos vídeos. Ao longo do encontro, ia-me recordando de outro jogo no Dragão debaixo de chuva – em 2012, frente à Irlanda do Norte (há onze anos! Estou velha!). Um jogo com um desfecho bem mais triste, o início de uma fase triste para a Seleção.
Em contraste, o momento atual é feliz, é tranquilo. No seu pior é enfadonho, mas no seu melhor é uma festa.
O que nos leva ao jogo com a Bósnia-Herzegovina. Não estava à espera de muitas facilidades – íamos jogar fora, com uma equipa perante a qual tínhamos sentido algumas dificuldades na Luz. Mesmo o penálti cobrado por Cristiano Ronaldo, claro, antes dos cinco minutos de jogo, não era garantia de nada para mim. Estes golos madrugadores às vezes são traiçoeiros – uma vez mais, podem levar a complacência.
Bem, estava enganada pois a Bósnia deixou de existir no jogo depois deste penálti. Como aconteceu no mês passado com o Luxemburgo, a primeira parte resume-se aos golos marcados.
Não tenho muito a dizer sobre o penálti de Ronaldo. Foi um penálti, foi bem batido. O segundo golo do Capitão foi mais interessante. Assistência de João Félix – que fez um belo jogo, finalmente encontrou-se a si mesmo no Barcelona. Ronaldo fugiu a dois bósnios, um vindo de cada lado, e fez um chapéu ao guarda-redes. Um golo cheio de estilo, pena o fora-de-jogo mal assinalado – o VAR corrigiu mas o momento já se tinha estragado.
É a desvantagem deste sistema.
Felizmente, não tivemos esse problema com o terceiro golo. O Gonçalo Inácio fez um passe excelente (outro a fazer um jogo fantástico, provando merecer a titularidade), desde a linha de meio-campo. A bola apanhou Bruno Fernandes, este avançou e disparou de primeira para as redes.
O quarto golo teve alguma graça. Os comentadores da RTP estavam a falar sobre o histórico recente de João Cancelo nos clubes. O tema passou para a mesa do jantar. E, falando no diabo, quem marca a seguir?
Uma vez mais, a assistência foi de Bruno Fernandes, em cima da linha de fundo. A bola ia para Ronaldo, mas este atrapalhou-se e deixou-a passar. Cancelo chegou-se à frente, como quem diz “Eu trato disto”, apanhou a bola no limite da grande área e disparou certeiro para as redes.
Finalmente, já a poucos minutos do intervalo, Diogo Dalot fez um passe à distância, desde a linha do meio campo, para Otávio. Este entrou na grande área pela direita, assistindo depois para João Félix assinar um golo. Uma vez mais, a festa teve de ficar em pausa enquanto o VAR validava o golo, mas pronto.
Na segunda parte, a Bósnia estacionou o autocarro para ver se não sofria mais golos. Por sua vez, Portugal entrou em modo de gestão e substituições para experiências. A vitória estava mais do que assegurada, bem como o primeiro lugar no grupo. Manter o mesmo ímpeto atacante já seria bullying.
Assim, a segunda parte não teve história. Chega a ser brilhante a forma como não aconteceu praticamente nada em quarenta e cinco minutos de jogo. Depois do apito final, não me lembrava de quase nada da segunda parte.
Enfadonho, sim, mas não me importei muito, depois daquela primeira parte. Deu para ir preparando este texto.
Com este resultado, assegurámos o primeiro lugar e o nosso estatuto como cabeças-de-série no sorteio da fase de grupos do Euro 2024. Fica menos provável repetir-se o cenário do Euro 2020. E ainda falta uma jornada dupla para o fim da Qualificação.
Naturalmente, está toda a gente satisfeita, eu incluída. Já há quem fale de recuperarmos o título europeu no próximo ano. Uma parte de mim começa a encher-se de fé, outra vez. O resto, no entanto, está a puxar essa parte para baixo, a garantir que ela mantém os pés na terra.
Ainda é cedo. Faltam pouco menos de nove meses para o Europeu (guiando-me por aquele anúncio bizarro da Meo). Muita coisa pode mudar entretanto. Além disso, não nos podemos esquecer que temos apanhado adversários fáceis. Ainda não tivemos de lidar com equipas do nosso nível ou superior. Deu para ver em jogos como os contra a Eslováquia que ainda temos arestas por limar.
Por fim, se me deixarem ser essa pessoa por um momento, enquanto comandou a Bélgica, o problema de Martínez não foram as fases de Qualificação. Foi depois.
(Ainda que eu ache que os jogadores belgas e os seus egos também foram pelo menos parte do problema.)
O próprio Martínez também parece não querer sonhar muito alto, pelo menos não para já. Não está errado. Por outro lado, pode-se argumentar que Portugal tem a obrigação de apontar para o título. Tem talento para isso, mais ainda do que em 2016. Além disso, já li no Record que esta poderá ser uma boa altura para tentarmos recuperar o título, já que vários dos habituais candidatos – Espanha, Alemanha, Itália, Bélgica – estão a passar por fases menos boas.
Bem, exceto a França. Sempre a França.
Não faltarão ocasiões daqui até junho para falarmos sobre isso. Regressando ao presente, queria dar graças pelo momento atual da Seleção: alegre e tranquilo como referi antes. Por coisas como o estreante João Neves sendo acarinhado pelos colegas (“o nosso pupilo”, chamou-lhe Danilo). É um bom contraste com outras áreas da vida atual, tanto a nível individual como coletivo. Como em muitas outras ocasiões nos últimos vinte anos, é um escape, é um consolo, é esperança de mais alegrias no futuro.
E por enquanto é suficiente.
Ficam a faltar dois jogos para o fim da Qualificação. Com o primeiro lugar garantido, estes jogos servirão apenas para cumprir calendário. No lugar de Martínez, tratava estes jogos como meros particulares para fazer experiências, mas ele não parece muito para aí virado. Gostava de ir ao jogo com a Islândia em Alvalade, para a celebração, mas calha nos anos da minha irmã. Não sei se vai dar.
Logo se vê.
De qualquer forma, em princípio, uma vez mais, não haverá crónica pré-jogos, a menos que aconteça algo de extraordinário. Mas, como o costume, irei deixando as minhas observações na página do Facebook.