Agarrados ao lugar
No passado sábado, dia 24 de setembro, a Seleção Portuguesa de Futebol venceu a congénere checa por quatro bolas a zero. Três dias depois, foi derrotada pela margem mínima pela sua congénere espanhola. Com estes resultados, Portugal falhou a passagem à final four da Liga das Nações.
Cá estamos neste buraco outra vez.
Aviso desde já que não me vou alongar muito sobre estes dois jogos, ainda que por motivos diferentes. Não vi o primeiro. Quanto ao segundo, só não vi a primeira parte e aquilo que vi na segunda parte tira-me a vontade de escrever (e um bocadinho de viver). Quero despachar isto para poder focar-me em coisas menos deprimentes.
Como já tinha referido no texto anterior, no sábado tive um jantar. Na verdade, o termo técnico é “sunset”, uma festa na praia, com petiscos e música para dançar. Nunca fui grande fã de discotecas ou de sair à noite até muito tarde (tirando concertos e jogos de futebol). Naquela noite, no entanto, soube-me bem. Estava em boa companhia, a música era melhor que o costume e terminou relativamente cedo, à uma da manhã.
Não vou mentir, tive alguma pena de não ter visto este jogo. Dizem que foi uma exibição agradável – e compensaria antecipadamente o que aconteceu na terça-feira. Ao mesmo tempo, de uma maneira estranha, sinto que não deixei de viver as emoções do jogo. Ia vendo atualizações em sites próprios no meu telemóvel. A cada golo, ao penálti falhado, aos golos sofridos pela Espanha, eu dançava com mais gosto, dava gritinhos, brindava (pouquinho de cada vez, pois ia a conduzir).
Às vezes é giro viver jogos assim, longe do sofá e da televisão. Sempre é uma experiência diferente.
Fiquei surpreendida pela positiva com o Diogo Dalot. Das poucas vezes que jogara pela Seleção não me tinha impressionado. Agora é capaz de questionar a titularidade de João Cancelo, algo que eu não estava à espera.
De facto, naquela noite correu praticamente tudo bem para o nosso lado. Aconteceu tudo o que eu queria. Tinha esperanças de que a Espanha fosse perder pontos perante a Suíça, mas não imaginava que fosse mesmo perder o jogo. Depois, do nosso lado, os checos foram simpáticos ao ponto de falharem um penálti – às tantas, aquilo que o Diogo Costa referiu depois do jogo com a Turquia, de ser capaz de influenciar os adversários para falharem penáltis, é verdade, ah ah. Uma noite praticamente perfeita.
Não valeu de nada.
Como disse antes, estive a trabalhar durante a primeira parte do jogo com a Espanha, espreitando sites de atualizações quando conseguia. Aparentemente – e de acordo com o que me contaram mais tarde – estava zero a zero, mas os portugueses estavam a esforçar-se. Não estava a correr mal.
A segunda parte não foi assim. O próprio Fernando Santos admitiu que, a partir dos sessenta minutos, “a equipa foi-se abaixo”. Uma pessoa pergunta-se porque é que não fez nada para remediar a situação, ou não fez melhor. Os espanhóis encostaram-nos às cordas, quase literalmente. Quando marcaram foi um choque mas não foi uma surpresa. Como em várias outras ocasiões, fomos a correr atrás do empate mas já não deu.
Já não sei o que dizer que não tenha dito antes. Esta estava ao nosso alcance! Os desígnios já tinham sido simpáticos ao criarem circunstâncias que não nos obrigassem a ganhar à Espanha – algo que seria sempre difícil. Bastava termos jogado um bocadinho mais que fosse para garantirmos o empate e ficarmos todos contentes. Mas nãããããoooo!
Tenham paciência mas já são muitas desilusões. Deixo os links para quando falhámos o Euro 2020 e quando falhámos o Apuramento para o Mundial no ano passado – o que escrevi ainda é válido. Sei que as coisas melhoraram depois do jogo com a Sérvia e tivemos alguns jogos bons este ano. Mas de que serviu se, no fim, o resultado foi o mesmo? De que serviram os bons desempenhos perante a Suíça (o primeiro jogo) e a Chéquia se falhámos o acesso à final four? De que servirão os bons resultados nos play-offs se, mais uma vez, não dermos uma para a caixa no Mundial?
Aparentemente, Fernando Santos considera que esta derrota “não belisca o projeto de trabalho para o Mundial” e nem sequer ameaça o seu emprego. Ele literalmente disse “Tenho contrato até 2024” – só faltava ter acrescentado “É lidar”, como disse o Insónias. Não só piora a sua imagem, numa altura em que tem o país inteiro a vociferar pela sua demissão… mas também me deixa preocupada.
É possível que ele não esteja a ser sincero, pode ter sido só uma boca de gato assanhado. Mas se estiver, se for resistir a uma eventual chicotada psicológica… isto pode ficar feio. E, por muito farta que esteja de Fernando Santos por estes dias… ele não deixa de ser o técnico que nos ganhou os nossos primeiros títulos. Merece uma saída digna.
Se eu acho que Fernando Santos deve deixar a Seleção? Não é uma resposta simples. Por um lado sim, talvez já devesse ter saído há mais tempo, depois do Euro 2020. Por outro lado, temos o Mundial já aí à porta e só teremos para aí uma semana para prepará-lo. Será a melhor altura para trocar a equipa técnica? Por ainda mais um lado, não quero o registo destes últimos anos neste Mundial, o último de João Moutinho, Pepe e Cristiano Ronaldo.
No fundo é irrelevante se apoio ou não o Selecionador. A Federação não levará a minha opinião em conta. Não me serve de nada dizer que não apoio Fernando Santos, ou que não apoio a Seleção enquanto lá estiver Fernando Santos. Talvez me proteja de eventuais desilusões, mas não me traz felicidade nenhuma. Eu quero apoiar a Seleção, eu quero ter esperança, quero desfrutar deste Mundial. Até estou a pensar ir ao particular com a Nigéria em Novembro. Mas… desta forma?
Não sei, sinceramente. Não sei o que esperar deste Mundial, não sei com que atitude partirei para ele. Falaremos sobre isso na altura, suponho eu.
E já que falamos de sujeitos agarrados aos respetivos lugares… uma palavra para Cristiano Ronaldo – provavelmente um dos piores em campo nesta dupla jornada.
Uma das discussões nos últimos dias tem-se centrado no papel dele na Seleção. O vídeo abaixo (em inglês) fez-me reconsiderar a minha opinião sobre o desejo de Ronaldo vestir a Camisola das Quinas até 2024. Até que ponto será nobre prolongar a sua estadia, tirando o lugar a jogadores mais capazes, se não conseguir ajudar a equipa.
Faz-me lembrar a história de Roy Kent, no final da primeira temporada de Ted Lasso. Seguem-se spoilers nos próximos parágrafos. É também um conflito entre uma estrela em decadência e as necessidades de uma equipa. Ted (que, na minha opinião, é mais um mental coach do que um treinador propriamente dito) não quer colocar Roy no banco pois não quer magoá-lo. Os seus colegas, no entanto, fazem-lhe ver que Ted não pode colocar o ego de Roy acima de uma equipa inteira.
Ao mesmo tempo, Roy construiu toda a sua identidade em torno da sua carreira futebolística. Destaco a frase “Roy Kent tem sido o melhor jogador em todas as equipas em que esteve desde miúdo”. Não quer aceitar o facto de já não conseguir jogar ao nível de outrora. Tanto a sua namorada como a sua sobrinha fazem-lhe ver que existe Roy Kent para além do futebol. No fim, ele e Ted tomam a decisão certa.
Da mesma maneira, receio que Ronaldo esteja em profunda negação sobre si mesmo. E o pior é que acho que ele não tem nenhuma Keeley ou nenhuma Phoebe na sua vida. Tirando, talvez, Erik ten Hag e alguns colegas dele no Manchester United, todos à volta dele continuam a alimentar-lhe as ilusões. Veja-se a publicação da irmã dele nas redes sociais. Sim, as pessoas são cruéis na Internet, mas não é ódio, não é ingratidão, não é um ataque pessoal reconhecer o que está à vista de todos – e isto também é válido para Fernando Santos. Pelo contrário, reforçar a negação de Ronaldo será pior para ele a longo prazo, receio eu. A maior prova de amor que alguém lhe pode dar neste momento é obrigá-lo a enfrentar a realidade e adaptar-se a ela.
Até porque, no fim do dia, Ronaldo é apenas humano. Não é uma falha pessoal ele estar a perder os seus super-poderes ao fim de vinte anos como sénior. Alguém que lhe diga isso!
Ao mesmo tempo, Fernando Santos e talvez a Federação em geral precisam de um Coach Beard. Não vou ao ponto de pôr todas as culpas no Selecionador. Acredito que haja pressão da parte das equipas de marketing e dos patrocinadores para dar protagonismo ao jogador mais mediático da Seleção. Mas não podem pôr o ego de um único Marmanjo, ou eventuais likes ou camisolas vendidas, acima da equipa toda.
Não me interpretem mal, não digo que esta seja a altura de Ronaldo pendurar a Camisola das Quinas. Mas precisamos de mudar de atitude. Se Ronaldo não rende em campo, substituam-no! No vídeo que referi acima, sugerem usá-lo como suplente de ouro, estilo Ricardo Quaresma no primeiro ano de Fernando Santos – que se estude essa hipótese!
E, falando a médio/longo prazo, começar a pensar na retirada de Ronaldo.
Esta é apenas a minha opinião, claro. Estão à vontade para discordar – até porque Ronaldo ontem ficou no banco e o Manchester United foi goleado à mesma. Posso estar redondamente enganada em relação a isto tudo. Mas temos de ter esta conversa.
Veremos, então, o que acontecerá a seguir. Falamos de novo em vésperas do Mundial, provavelmente depois da Convocatória. A ver como me sentirei na altura.
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