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O Meu Clube É a Seleção!

Mulher de muitas paixões, a Seleção Nacional é uma delas.

Teremos sempre Paris

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Na passada quinta-feira, dia 20 de março, Fernando Santos divulgou a lista de Convocados para representar Portugal no Euro 2020.

 

Isto já não é novidade para quem conheça este blogue há algum tempo. Para mim, o Europeu começa com a Convocatória. O que não é tão habitual para mim é só escrever depois da Divulgação. Deve-se a falta de tempo, em parte, mas também porque receei não ter muito a dizer sobre os Convocados – pelo menos não o suficiente para merecer um texto em separado.

 

Este vai ser um Europeu especial em muitos aspetos. Decorre com um ano de atraso (estamos em 2021, mas ainda lhe chamamos Euro 2020) e durante uma pandemia (mais sobre isso adiante). Será também um campeonato onde entramos como detentores do título – e com desejos de renová-lo. 

 

O problema é que o caminho para a renovação passa pelo chamado Grupo da Morte, conforme vimos na altura – meu Deus, parece que o sorteio foi noutra vida!

 

Fernando Santos já disse que somos candidatos ao título, que “espera só regressar a 12 de julho”, ainda que admita que não somos favoritos. Eu concordo com essa ideia. Quero vencer o Europeu outra vez e hei de reforçá-lo nos próximos textos. 

 

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Hoje no entanto quero sacudir a pressão sobre os Marmanjos e dizer que, se não conseguirmos ganhar de novo, não faz (muito) mal porque, ao menos, já ganhámos uma vez.

 

Já lá vão quase cinco anos desde a final do Euro 2016, mas ainda não nos cansámos de falar sobre ela. Duvido que algum dia nos cansemos. Foi o primeiríssimo título após anos de ameaças, de excelentes jogadores. Além disso, o jogo em si foi uma epopeia, cheia de momentos e pormenores deliciosos, conforme recordei aqui.

 

É possível que fiquemos sem a Taça dentro de mês e meio. No entanto, nunca nos tirarão o 10 de julho. Teremos sempre Paris. Teremos sempre aquela final cinemática, as celebrações madrugada fora e no dia seguinte. Adversário nenhum pode roubar-nos recordações – mesmo que percamos faculdades mentais, temos o documentário “10 de julho”, ocasionais reposições do jogo, notícias, blogues como este e o testemunho verbal de milhões para nos reavivar a memória.

 

Tal como ninguém poderá tirar o Euro 2004 aos gregos, para mal dos nossos pecados. 

 

Se tornarmos a ganhar, dificilmente será a mesma coisa, dificilmente será tão especial. Ou melhor, até pode ser especial, até podemos vir a ter outra epopeia, quer na final, quer nos jogos anteriores. Mas será diferente – e não terá aquele sabor de um sonho realizado ao fim de tanto tempo. 

 

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Será diferente sobretudo porque, ganhemos ou não no final, não vamos poder vivê-lo da mesma forma. Pandemia e tal. Veja-se o que aconteceu há coisa de duas semanas, quando o Sporting ganhou o campeonato (finalmente! A minha irmãzinha sportinguista já o merecia há muito!).

 

Concordo que foi uma imprudência o que aconteceu, para não dizer pior, que devia ter sido melhor planeado e ainda estamos para ver quais serão as consequências no controlo da doença. 

 

Dito isto, não consigo ser demasiado dura para com os adeptos que saíram às ruas. Se tivesse sido a vitória no Europeu, eu também não ficava em casa. Há coisa de um ano, durante as ordens de confinamento, tínhamos um meme a circular pelas internetes mostrando um doente entubado com a seguinte legenda: "Que bem me soube aquele passeio pela Marginal”. Eu acho que existem por aí muitas pessoas que, mesmo que tivessem de ficar ligadas a um ventilador, pensariam “Ao menos pude ver o Sporting campeão, dezanove anos depois, e ir festejar para o Marquês”

 

Eu mesma pensaria o mesmo, no lugar deles. Eu que não vou a jogos de futebol há quase dois anos e raramente fui tão feliz como quando festejei as conquistas do Europeu e da Liga das Nações

 

Mesmo sem me colocar no lugar dos sportinguistas, eu gostei de ver pessoas nas ruas com camisolas e cachecóis futebolísticos, poucas horas antes do jogo com o Boavista. Já não via isso há mais de um ano – e como vivo mais ou menos a meio caminho entre o Estádio de Alvalade e o Estádio da Luz, antes da pandemia isto era uma visão habitual no meu bairro. 

 

O pior é que isto não afeta só o individual – o nosso último ano, ano e meio teria sido muito mais fácil se assim fosse. Aqueles adeptos podiam não querer saber do coronavírus, mas isso pode não ser verdade para as pessoas que, mais tarde, contactaram com eles. 

 

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Tendo isto em conta, eu tentaria um meio-termo. Como fez a minha irmã: em vez de ir para a confusão do Marquês, ficou no Campo Grande, onde estava menos gente, e esteve sempre de máscara (pelo menos foi o que me disse). 

 

Portanto, se voltarmos a ganhar o Europeu, dificilmente poderemos celebrar sem restrições. Talvez tenhamos mais liberdade do que agora: será daqui a um mês e meio, quase dois meses, mais pessoas estarão vacinadas, talvez a doença esteja mais controlada… mas teremos de ter cuidado à mesma, quase de certeza. 

 

Mesmo antes, acho que não existirão fan zones, como aquela onde fui entrevistada durante o Mundial 2018. Eu tinha ficado com o desejo de ver um jogo de um Europeu ou Mundial desde essa altura – ou pelo menos numa esplanada. Em parte para evitar os meus vizinhos, que me dão spoilers dos golos em jogos desta envergadura. Mas até isso não deverá ser permitido. 

 

E mesmo que o seja… serei capaz de fazê-lo sem medo ou culpa?

 

A vitória no Euro 2016 veio na altura certa por vários motivos – um deles por ter ocorrido quando ninguém sabia ainda o que era um coronavírus. Não havia necessidade de colocar entraves à nossa diversão, pudemos disfrutar como deve ser. Todas estas medidas preventivas – bem como o cansaço psicológico de viver em pandemia – estragam-me um pouco o entusiasmo por este Europeu. 

 

Com um bocadinho de sorte, esse há de crescer à medida que nos aproximamos do Euro. Em todo o caso, fica o desabafo. Passemos à frente.

 

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Acho que ninguém ficou muito surpreendido com a Convocatória para o Euro 2020. Era mais ou menos o que se esperava de Fernando Santos. A grande novidade é a inclusão de Pedro Gonçalves, também conhecido por Pote. Menos de vinte e quatro horas depois de se ter sagrado o melhor marcador da Liga Portuguesa – o primeiro português a consegui-lo desde… Domingos Paciência, que hoje é treinador e tem um filho profissional há já vários anos. 

 

Eu não tinha a certeza de que Pote viria ao Europeu. A sua ausência nos jogos de março deu-me sinais confusos. Fernando Santos explicou que só não chamou Pote em março porque não teria tempo para observá-lo como deve ser. Como vimos na altura, foram três jogos em menos de uma semana, os treinos serviam para muito pouco. 

 

Aceita-se.

 

Não tenho visto grandes objeções a esta lista. Muitos têm contestado a Chamada de William Carvalho, que tem jogado pouco no Bétis. Compreendo as críticas, mas também compreendo que William seja um jogador da confiança de Fernando Santos. Uma incoerência numa lista de vinte e seis não é problemática, na minha opinião – até porque também gosto de William.

 

Quanto à parte de só levar três centrais, aí concordo com a opinião popular: má ideia. Levamos dois centrais que, como diria Manuel José, já são quase avôs. Pepe falhou inclusivamente os dois últimos compromissos da Turma das Quinas por lesão – quem nos garante que ele não se lesiona outra vez, que estamos em fim de época? Fernando Santos diz que outros jogadores, como William ou Palhinha, podem jogar como defesas, se for necessário. Mas não seria mais seguro termos um central de raiz?

 

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Além de que este continua a ser um setor que precisa de sangue novo. Temos o jovem Rúben Dias (que tinha dez anos quando Pepe se estreou na Seleção, quase podia ser filho dele), um dos melhores centrais da Europa atualmente, um dos nossos orgulhos, mas não chega. Se levássemos outro central – por exemplo, Rúben Semedo – matávamos dois coelhos com uma cajadada. A curto prazo, teríamos um central extra. A longo prazo, investíamos no futuro do setor defensivo. 

 

Enfim, tudo isto são problemas menores na minha opinião. Temos um conjunto cheio de talento – vários que foram campeões pelos respectivos clubes, um que chegou à final da Liga Europa e três que estão na final da Liga dos Campeões (é refrescante por uma vez não ser o Ronaldo a chegar atrasado à Cidade do Futebol). Um grupo digno de tentar a revalidação do título. Além disso, Fernando Santos já nos ganhou dois títulos, merece a nossa confiança.

 

Dito isto, para os críticos de Fernando Santos (uns mais legítimos do que outros), esta será a prova dos nove. Aqui o Selecionador não se poderá esconder atrás do “ai e tal, tive pouco tempo para treinar”. Agora é que vamos ver se Fernando Santos é o homem certo no lugar certo ou se o seu tempo já acabou.

 

A preparação começa oficialmente amanhã. Posso ter começado este texto retirando a pressão sobre os ombros dos Marmanjos, mas isso não significa que não quero a Taça – nem que não vou ficar triste se não a conseguirmos. Mesmo que não dê para celebrar da forma que desejo, quero vitórias à mesma. Não vai ser fácil, mas eu acredito na Seleção. Sei que temos capacidade para sobreviver a este grupo difícil – e, dos oitavos-de-final para a frente, tudo é possível. 

 

Vale a pena recordar que serão jogos de muito sofrimento. Repito o conselho que dei em dezembro de 2019: preparem-se (sobretudo se forem do Sporting, o vosso coração já teve a sua dose esta época). Se calhar já não vão a tempo de irem ao cardiologista, mas tentem arranjar receitas para comprimidos de nitroglicerina, para meter debaixo da língua nas alturas mais difíceis.

 

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No que toca a este blogue, não se chegou a confirmar aquilo de que falei no meu último texto: ainda tenho tempo para escrever aqui. No entanto, as coisas deverão mudar à mesma, porque estamos a falar de um campeonato longo de seleções. O Mundial 2018 foi um período muito stressante para mim, tentando conjugar o blogue com um emprego recente. Na altura prometi a mim mesma que, no próximo campeonato de seleções deste género, tiraria pelo menos alguns dias de férias. 

 

O pior é que estou outra vez num emprego novo – ainda não posso tirar férias. Isto não teria acontecido se o Europeu tivesse decorrido na altura certa, maldita pandemia!

 

Assim, mantenho o plano de fazer as coisas de maneira um pouco diferente. Não me vou obrigar a escrever um texto para cada um dos jogos, para começar. Escreverei e publicarei quando conseguir – vou falando sobre os meus planos na página do Facebook. A prazo mais curto, não deverei publicar antes do jogo com a Espanha – jogámos com eles há pouco tempo, não há muito a dizer sobre os espanhóis – a menos que surja algo de interessante nos primeiros dias da preparação. 

 

Como habitual, obrigada pela vossa visita. Estou ansiosa por viver este Europeu na vossa companhia. Esperemos que termine da mesma maneira que o último.