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O Meu Clube É a Seleção!

Mulher de muitas paixões, a Seleção Nacional é uma delas.

Preocupações

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Na passada sexta-feira, dia 11 de outubro, a Seleção Portuguesa de Futebol venceu a sua congénere luxemburguesa por três bolas sem resposta. Três dias depois, foi a Kiev... onde perdeu por duas bolas contra uma. Ambos os jogos contaram para a Qualificação para o Euro 2020.

 

Esta dupla jornada foi mais um exemplo do meu mau timing com a Seleção porque estes jogos apanharam-me numa altura difícil do meu trabalho – como tinha avisado que aconteceria no texto anterior. Não só não tive tempo para escrever a crónica pré-jornada, como saí às oito da noite do trabalho em ambos os dias de jogo. Mesmo fora isso, nas atualizações à página fiquei aquém do habitual.

 

Acontece. Na próxima jornada hei de ter mais tempo. E, sinceramente, em certos momentos foi uma bênção.

 

Também fiquei com pena de não ter podido ir ao jogo com o Luxemburgo, em Alvalade. Foi o primeiro jogo da Seleção naquele Estádio em mais de quatro anos – e o primeiro oficial em exatamente seis anos. A minha irmãzinha sportinguista em particular ansiava por ver jogadores como Rui Patrício, João Mário, mesmo Cristiano Ronaldo de novo em Alvalade.

 

Ainda assim, estou a escrever isto, a deixar os links para crónicas antigas e não consigo deixar de reparar que estou a queixar-me de barriga cheia. Afinal, estive lá nos dois jogos anteriores ao de sexta-feira em Alvalade. Além disso, nos últimos anos praticamente não tenho perdido um único jogo da Seleção na minha vizinhança (tenho a sorte de viver mais ou menos a meio caminho entre a Luz e Alvalade) e ainda fui à final da Liga das Nações.

 

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Por isso, sim, chega de queixas.

 

Foi bonito, por outro lado, terem feito uma homenagem a Aurélio Pereira, por todos os talentos que descobriu e que se tornaram figuras marcantes da Equipa de Todos Nós. Cristiano Ronaldo fez mesmo questão de lhe dar um abraço – ele pode ter muitos defeitos, mas ingratidão ou esquecer-se das pessoas que o ajudaram antes da fama não estão na lista. Gostava de ter visto esse momento (terá passado na televisão?). 

 

Eu ainda estava no trabalho quando o jogo começou, logo, não deu para acompanhar muito de perto. Consta que a Seleção entrou bem no jogo, com várias oportunidades. Duas de Ronaldo, duas de João Félix – este foi mais um jogo em que o miúdo fez de tudo para marcar e não conseguiu. Mais sobre isso adiante.

 

O golo veio aos dezasseis minutos. Eu estava a sair do trabalho e a ir para o meu carro quando ouvi pessoas celebrando num café nas proximidades – o que não é muito habitual num simples jogo de Qualificação. Gostei.

 

A jogada do golo começou com um passe de Bruno Fernandes para Nélson Semedo, que depois arrancou quase até à linha de fundo. Aí, o guarda-redes luxemburguês saiu da baliza para defender, a bola foi parar aos pés de Bernardo Silva, que rematou para as redes.

 

 

Uma das coisas que mais me irrita no hype em torno de João Félix é o facto de fazer com que Bernardo Silva seja ignorado pela imprensa. Fala-se na Seleção de Ronaldo e Félix, quando Bernardo tem feito muito mais – na minha opinião, já conquistou há muito o estatuto de número dois da Turma das Quinas. É certo que não é por falta de esforço da parte de Félix. E há que ter em conta que Bernardo é mais velho, mais experiente e está há mais tempo na Seleção. Mas mesmo no que toca a desempenhos nos clubes, muitas vezes os feitos de Bernardo Silva são menos noticiados que os de João Félix.

 

Na verdade, Bernardo Silva teve bastante cobertura noticiosa ultimamente por motivos menos desejáveis.

 

Em todo o caso, estou cá eu para notar. E para dar graças por termos um talento como o Bernardo vestindo as nossas cores. Sempre será qualquer coisa.

 

Dizem que, depois deste primeiro golo, a Seleção abrandou. Felizmente, esse período coincidiu com a minha viagem de regresso a casa. É claro que eu ia acompanhando via rádio, mas não era a mesma coisa.

 

Não que não seja divertido, atenção. Estava a ouvir a Antena1 e a certa altura falaram dos irmãos Thill – Vincent Thill e Olivier Thill – do Luxemburgo, pronunciando o apelido como “til”. David Carvalho disse, então, que eles tinham um primo, também no futebol, o… Circunflexo.

 

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Eu sei, uma piada um bocadinho seca, mas a maneira como ele a disse caiu-me no golo. A mim e aos colegas comentadores – Alexandre Afonso e José Nunes, se não me engano.

 

As coisas só aqueceram a sério na segunda parte – eu já estava em casa. Os remates multiplicavam-se: dois de Bruno Fernandes, uma tentativa de pontapé de bicicleta de Ronaldo. 

 

Este teria a oportunidade de brilhar a sério cerca de dez, quinze minutos mais tarde. O Capitão fez tudo sozinho: aproveitou-se de um erro de um defesa do Luxemburgo, roubou-lhe a bola, viu-se cara a cara com o guarda-redes. Por fim, com a maior das calmas, fez um chapéu perfeito por cima do pobre guardião. A bola só parou nas redes.

 

Que classe!

 

Depois desta, o jogo tornou a abrandar. A minha irmã queria por força que Ronaldo marcasse o seu 700º golo (ou golo número setecentos) no Estádio de Alvalade. Agora, em retrospetiva, concordo com ela. Mas não nos adiantemos.

 

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A certa altura, Gonçalo Guedes começou a aquecer. Cá em casa, eu disse algo tipo:

 

– O Féli vai sair, o Guedes vai entrar para o lugar dele e vai marcar.

 

Não chegou a ser uma substituição direta, Guedes e Félix chegaram a estar juntos em campo durante alguns minutos. De resto, acertei na minha previsão: perto do final do jogo, na sequência de um canto, a bola sobrou para Guedes e este não perdoou.

 

Onde andam estes meus dotes de futurologia quando jogo no Euromilhões?

 

Já falei amplamente sobre João Félix e Gonçalo Guedes na Seleção no texto anterior, não me vou repetir. Dizer apenas que ainda não foi desta que Félix correspondeu ao hype na Equipa de Todos Nós. A ver o que acontece na próxima dupla jornada…

 

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O marcador ficou, assim, em 3-0 para Portugal. Podia ter sido mais, mas chegou para os três pontos. Cumpriu-se a obrigação.

 

O que não aconteceria no jogo seguinte.

 

Mais uma vez, só saí do trabalho depois das oito da noite. Desta feita até foi uma bênção, pois fui poupada aos piores momentos do jogo – à semelhança do que aconteceu no particular com a Holanda. Quando ainda estava na farmácia, dei uma espreitadela rápida ao Twitter e soube que a Ucrânia tinha marcado. Mais tarde, quando cheguei ao meu carro e liguei o relato da Antena1, tinham acabado de marcar o segundo.

 

Isto não estava a acontecer…

 

O primeiro golo foi sofrido logo aos seis minutos, na sequência de um canto. Consta que nem sequer foi o primeiro lance com desconcentração da parte dos portugas, foi apenas o primeiro em que a bola entrou. E de facto praticamente ninguém na defesa de Portugal se mexe durante o lance, tirando Rui Patrício. Este ainda defende a primeira tentativa, mas nada pôde fazer quando Yaremchuk foi à recarga – perante a passividade de Pepe e Danilo. 

 

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No segundo golo, a defesa portuguesa voltou a dormir na forma. Desta feita, foi Raphael Guerreiro a deixar Yarmolenko completamente desmarcado, sozinho na cara de Patrício, que voltou a não ter maneira de impedir o golo.

 

Fernando Santos lá emendou a estratégia pouco depois, trocou peças ao intervalo. Portugal no entanto jogou sempre mais com o coração – ou melhor, com as tripas fazendo de coração – enquanto os ucranianos mantiveram sempre a cabeça fria. 

 

E como é o costume quando jogos da Seleção correm mal, a coisa ganhou contornos caricatos: um festival de oportunidades perdidas, o guarda-redes adversário, Pyatov, fazendo o jogo da vida dele. A certa altura, Bernardo Silva tentou o remate e este foi embater na perna de João Félix (se isto não é uma metáfora perfeita para o tratamento mediático dos dois cá em Portugal…). Por fim, já em cima do final do jogo, Danilo atirou ao poste. 

 

A certa altura, a sorte até nos deu uma mãozinha, com a falta de Stepanenko, que levou à sua expulsão e a um penálti a nosso favor. Ronaldo converteu e não falhou. 

 

Este é que foi o seu 700º golo, algo que as redes sociais da Federação, da Liga Portuguesa fizeram questão de assinalar entusiasmadamente – para irritação de muitos de nós. Eu tenho de concordar que aquelas celebrações caíram mal, dadas as circunstâncias: foi um mísero golo de penálti, não serviu para nada num jogo que acabámos por perder, o próprio Ronaldo teve uma reação bem mais contida. 

 

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Não digo que não se podia assinalar o recorde. Mas podiam tê-lo feito de forma bem mais sóbria. Fica claro que estas entidades se aproveitam dos feitos de Ronaldo para se auto-promoverem. Não é novidade: a Federação fá-lo há anos.

 

Tal como disse acima, teria sido melhor em todos os aspetos se Ronaldo tivesse marcado este golo no jogo com o Luxemburgo.

 

Mas estamos a adiantar-nos um pouco. Depois do penálti convertido e em superioridade numérica, a Seleção pareceu finalmente acordar para a vida, tentando chegar ao empate. Aqui entre nós, quase fico aliviada por não termos conseguido. Teria sido patético conseguirmos pontuar perante uma equipa que fora superior a nós em quase todos os aspetos – apenas por causa de uma expulsão e um golo de penálti.

 

De qualquer forma, a injeção de cafeína depois do golo não fez efeito durante muito tempo. O jogo terminou sem que conseguíssemos chegar ao empate. Com este resultado, a Ucrânia garantiu a Qualificação – e celebrou-o efusivamente, como bem mereciam. Consta que era Dia da Defesa da Ucrânia nessa segunda-feira – como se dirá “É feriado hoje, cara***!” em ucraniano?

 

Esta foi a primeira derrota em jogos oficiais desde o Mundial 2018 – e apenas a terceira em jogos oficiais na era de Fernando Santos. Se as circunstâncias fossem diferentes, não faria grande drama da situação, nem sempre é possível ganhar todos os jogos… se não tivéssemos perdido quatro pontos em casa, na primeira dupla jornada desta Qualificação. Depois de os dois Apuramentos anteriores terem corrido de forma mais ou menos tranquila, tirando os primeiros jogos, devemos estar preocupados?

 

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No que toca a este jogo, Fernando Santos assumiu a responsabilidade, admitiu que a sua estratégia inicial não foi a correta. Pelo que tenho lido e ouvido, todos concordam. Voltam questões que já levantei em textos anteriores: se o Selecionador é demasiado conservador, se dependemos demasiado de Ronaldo, se Fernando Santos é o melhor homem para o lugar.

 

É uma questão complicada, para ser sincera. É possível que outros treinadores fizessem melhor com esta base de recrutamento… mas, antes de Fernando Santos, ninguém fez melhor, nem mesmo com bases de recrutamento de qualidade semelhante. 

 

E quando as coisas correm bem, correm mesmo bem. Vejam-se os dois títulos que Fernando Santos ajudou a conquistar. Veja-se a final da Liga das Nações, há pouco mais de quatro meses, um dos nossos melhores jogos em anos! 

 

Mas porque estamos a falhar agora? O que se está a passar nesta Qualificação? 

 

É por estas e por outras que hesito em considerar Portugal uma das melhores Seleções do Mundo. Só da Europa e, mesmo assim, mais ou menos, é mais por causa dos nossos títulos. Somos demasiado instáveis, demasiado imaturos de certa forma. Falta-nos a consistência, o instinto implacável dos grandes tubarões. 

 

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No que toca a este Apuramento, a situação está longe de ser dramática. Continuamos a depender de nós mesmos. Temos de ganhar os dois últimos jogos, no próximo mês, para nos Qualificarmos em segundo lugar. Como os adversários serão o Luxemburgo e a Lituânia, em princípio, não teremos problemas. Já saímos de situações bem piores. 

 

Na verdade, as consequências desta derrota serão mais graves a médio prazo. Por falharmos a Qualificação em primeiro, perdemos o lugar no pote 1 do sorteio da fase de grupos do Euro 2020 – correndo o risco de apanharmos um tubarão. 

 

Se isso é uma coisa má ou boa é discutível – com a nossa mania de complicar o que é simples, de nos superarmos perante dificuldades (às vezes). É também uma questão de orgulho, pelo menos no que toca a mim. Onde é que já se viu o detentor do título, bem como da Liga das Nações, fora dos cabeças-de-série? 

 

Em todo o caso, o facto de termos de viver com as consequências desta derrota durante algum tempo poderá ter uma vantagem: aprendermos com os erros. Isto é, espero eu…

 

A meu ver, a melhor atitude neste momento será encarar um desafio de cada vez. Para já, a prioridade será ganharmos os jogos de novembro e garantirmos a Qualificação direta. Se não conseguirmos (três vezes na madeira), ainda teremos os play-offs, mas, tal como referi antes, prefiro que a questão do Apuramento fique resolvida este ano. Quando estivermos Qualificados (não duvido que vamos conseguir; conseguimos de todas as vezes nos últimos vinte anos, algumas das vezes em circunstâncias bem piores, porque falharíamos agora?), logo nos preocuparemos com o sorteio. 

 

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Na melhor das hipóteses, esta derrota será apenas um acidente de percurso. Fernando Santos e restante equipa técnica tomarão medidas para que, dentro do possível, não se repita. Na prática, não há garantias de nada. Só o tempo dirá como lidaremos com as consequências do que aconteceu. 

 

Para já, é aproveitar estas semanas para ultrapassar esta desilusão e ganhar forças para a reta final. Isto tudo faz parte. Resta-nos esperar que, depois desta, não voltemos a escorregar de novo tão cedo.