Suíça 2 Portugal 0 - Toblerone envenenado
Na passada terça-feira, dia 6 de setembro, a Seleção Portuguesa de Futebol foi derrotada por duas bolas sem resposta, no Estádio St. Jakob-Park em Basileia, em jogo a contar para a Qualificação para o Campeonato do Mundo da modalidade, que terá lugar na Rússia em 2018.
Aquando deste jogo, estava de férias no estrangeiro. Felizmente, conseguimos ver o jogo através da Internet. A nossa ideia era ver através do site da RTP mas o canal não tinha direitos para transmitir o jogo online (como é que os emigrantes veem o jogo?). Tivemos de ser Inácios. A qualidade da imagem era baixa mas, felizmente, não houve interrupções na transmissão.
Não que tenhamos gostado particularmente de ver o jogo. Portugal até entrou bem, com vontade de comandar. Aos cinco minutos já contávamos dois remates à baliza helvética. Um deles foi de Éder e, por sinal, foi uma jogada parecida àquela que nos deu a Henri Delaunay (pena ter sido ao lado...). Um bom motivador terá sido o público português presente, que fizera o Hino Português ecoar por todo o St. Jakob-Park e, agora, faziam a banda sonora com "Campeões, Campeões" e "É Portugal"..
No entanto, as boas intenções não passaram disso pois, em menos de dez minutos, Portugal sofreu dois golos. O primeiro, aos 23 minutos, surgiu na sequência de um livre. Rui Patrício defendeu para a frente, a bola foi parar a Embolo que, na recarga, não falhou. Sete minutos mais tarde, num lance de contra-ataque suíço, os portugueses não acordaram a tempo e Patrício teve de ir buscar a bola ao fundo da baliza outra vez.
Não chegaram a ser dez minutos de "deslumbramento", como apelidou Fernando Santos, menos de um décimo do tempo de jogo, mas foi o suficiente para nos enfiarmos num buraco do qual já não conseguimos sair. A Seleção até ficou melhor organizada na segunda parte, com as entradas de André Silva, João Mário e Ricardo Quaresma. Porém, nesta altura, a Suíça fez o mesmo que Portugal fizera durante o Europeu: pôs-se à defesa. Tivemos uma daquelas típicas e super irritantes ocasiões em que a bola não quer entrar (eu pensava que já tínhamos passado essa fase, com o Europeu). É quase caricata, a maneira como provámos do nosso próprio veneno, como o Pouco Importa se voltou contra nós. O jogo acabou sem que se conseguíssemos sequer reduzir a desvantagem.
Não existem ainda motivos para colocar tudo em causa, como dizia Paulo Bento. Todos nós sabemos perfeitamente que esta não é a primeira, nem a segunda, nem a terceira vez que tropeçamos nas primeiras jornadas de uma Qualificação e não será, de certeza, a última. Esta nem sequer é a situação mais dramática: foi a primeira derrota em jogos oficiais em dois anos, acabámos de nos sagrar campeões da Europa, logo, em princípio, não será preciso correr com o Selecionador. Além disso, a Suíça é um adversário com quem Portugal tem, historicamente, sentido dificuldades; é o mais difícil do grupo, tirando, talvez, a Hungria. Tirando estes dois, os restantes constituintes do grupo de Qualificação - Letónia, Andorra, Ilhas Faroé - em princípio, não nos colocarão dificuldades. Tudo isto é um progresso relativamente ao nosso último grande tropeção. Podemos perfeitamente resolver este imbróglio.
Dito isto tudo, esta derrota não deixa de ser um enorme balde de água fria, depois de termos passado os últimos quase dois meses nas nuvens, com o nosso primeiro título. Nem sequer é a primeira vez que a Seleção tropeça quando anda de ego inchado. E tendo em conta que metade do mundo futebolístico continua a questionar a justiça da nossa vitória em Paris e um dos nossos adversários disse que tivemos sorte no Europeu, eu não queria, de todo, dar-lhes mais argumentos perdendo o nosso primeiro jogo oficial depois do Euro (o que vale é que a França também não começou bem esta Qualificação, logo, não deverão implicar connosco... por agora).
Não que tenhamos alguma coisa a provar. Tivemos sorte no Europeu, sim, com aquele golo islandês que nos facilitou o caminho para a final de Paris, mas foi uma compensação por inúmeras participações em Europeus e num Mundial nos últimos dezasseis anos (em que até jogávamos mais bonito) em que "faltou sempre a estrelinha para ficarmos em primeiro". Nós éramos a seleção com melhores participações em Europeus sem nunca termos ganho o título, por amor da Santa! Éramos, literalmente, os campeões das vitórias morais (que, como gosto de dizer, "não têm arte nem engenho"). Podemos ter tido sorte no caminho para a final, mas na final em si não a tivemos. Perdemos cedo o nosso melhor jogador, que por sinal é um dos melhores de todos os tempos (já tinha referido que temos o Melhor do Mundo a jogar por nós há mais de doze anos?) e tivemos de fazer das tripas coração para aguentar os franceses, que pressionavam e jogavam sujo. Uma equipa com menos alma teria sucumbido. Nós não. E não foi por sorte.
Mesmo não tendo em consideração o que escrevi acima, a Taça continua em Portugal e por cá ficará até 2020. E isso é que ficará registado na História do futebol. Além do mais, mesmo que Portugal tivesse "jogado bonito" no Europeu, logo, merecido a vitória segundo esses critérios, continuaríamos a ser criticados. Sobretudo pelos franceses, que sempre nos trataram com desdém.
Enfim, perdoem-me este aparte. Vocês sabem como eu às vezes levo criticas à nossa Seleção demasiado a peito. Dizia eu que é uma pena não termos conseguido prolongar o estado de graça. Mas não vou criticar demasiado duramente uma equipa que fez quase tudo bem durante quase dois anos. Fernando Santos garante que a Seleção ganhará os jogos que faltam. Tendo em conta que o Selecionador já garantiu coisas mais absurdas, como que Portugal ganharia o Europeu, mesmo após um par de jogos mal conseguidos na fase de grupos, não tenho motivos para duvidar dele. Continuarei a saborear o estatuto de Campeões Europeus, a cantar o This One's For You, o We Are the Champions e o Pouco Importa, a emocionar-me como vídeos como este.
Mas é bom que a Seleção não torne a escorregar.