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O Meu Clube É a Seleção!

Mulher de muitas paixões, a Seleção Nacional é uma delas.

Portugal 1 França 0 - Quebrando todas as maldições

 

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Há dez anos, no dia 9 de julho de 2006 - uma manhã de domingo de verão, um calor insuportável - eu estava no Estádio Nacional, no Jamor, juntamente com a Seleção em peso e milhares de adeptos equipados a rigor. Sentia-me feliz por estar ali, mas também me sentia prestes a desmaiar, com aquele calor desértico (costumo dizer que, nesse dia, dava para fritar ovos nas bancadas). Acabei mesmo por ter uma quebra de tensão. Não sem antes ouvir o Selecionador da altura, Luiz Felipe Scolari, dizendo:

 

- Vocês são os campeões do carinho e do sentimento. Não deixem de acreditar! Alegrem-se com este quarto lugar no Campeonato do Mundo e acreditem que, um dia, pode ser que breve, estaremos aqui para comemorar uma grande vitória.

 

Scolari deixaria, dois anos mais tarde, o lugar de Selecionador (mas continua, até hoje, a sofrer à distância), mas eu fiz o que ele disse. Não tenho feito outra coisa, no que toca à Seleção. Cerca de um ano depois daquela manhã de domingo, tive a ideia de criar um blogue, onde pudesse escrever sobre a Equipa de Todos Nós. Menos de um ano mais tarde, criei-o. E hoje, doze anos após o Euro 2004, dez anos após o Mundial 2006, oito anos após inaugurar O Meu Clube é a Seleção, é com um orgulho indescritível que escrevo: Portugal conquistou o seu primeiro título como Seleção A. A Seleção Portuguesa de Futebol é campeã da Europa.

 

Alerta: neste texto, não vou ser muito simpática para o povo francês, o que não significa, de todo, que não esteja solidária para com eles, à luz do recente atentado terrorista em Nice. Antes de ser adepta de futebol e mesmo portuguesa, sou ser humano, cidadã do Mundo e repudio todo o tipo de violência. Todas as críticas que tecer aqui limitam-se ao espectro futebolístico. 

 

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Sonhei com uma noite como a de domingo, dia 10 de julho, durante muitos anos. Cheguei a passar para o papel essas fantasias, embora não as tenha partilhado com ninguém. A realidade, no entanto, foi melhor que a imaginação. Duvido que alguém tenha imaginado que Portugal conquistaria o seu primeiro título desta forma: na casa do seu adversário, adversário esse que não vencia há mais de quarenta anos; com o seu Capitão e melhor jogador saído do jogo, de maca; com um golo do ponta-de-lança em quem quase ninguém acreditava.

 

Têm sido uns dias loucos, sobretudo o dia da final e o que se seguiu. Foi em parte por isso que demorei tanto tempo a escrever este texto. Passei o domingo inteiro na página de Facebook do blogue partilhando pequenos textos de motivação, música, vídeos, tudo o que me ocorreu, as minhas armas todas. Aproveito, aliás, para agradecer ao Sapo Blogs por ter destacado o meu texto anterior durante o domingo todo, até à hora da final. À medida que a hora do jogo se aproximava, os nervos iam apertando, em jeito de antecipação do sofrimento que seria. Na última meia hora antes, já respondia torto a toda a gente.

 

Mesmo a condizer com o meu humor, o jogo começou mal. Os portugueses entraram nervosos, cometendo erros, fazendo lembrar um pouco os nosso primeiros jogos neste Europeu. O pior nem sequer foi isso. Foi quando, aos sete minutos, Dimitri Payet faz uma entrada dura sobre Cristiano Ronaldo e o seu joelho cedeu. O nosso Capitão ainda se obrigou a continuar em campo durante mais algum tempo, mas acabou por se dar por vencido e pedir a substituição, lavado em lágrimas. Gostei de ver Nani abraçando-lhe o rosto enquanto recebia a braçadeira de Capitão e, depois, começado de imediato a puxar pelo resto da equipa. Tenho alguma curiosidade em saber as palavras exatas de Nani ao choroso Cristiano (estou, aliás, surpreendida por ninguém o ter perguntado até agora), mas não terá sido algo muito diferente de:

 

- Não chores. Nós vamos ganhar isto por ti.

 

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Cristiano saiu de maca, ao som de aplausos do estádio inteiro, mas tais aplausos não me comoveram. Pelo contrário, nunca tinha tido tanta raiva aos franceses, em termos futebolísticos. Eles roubaram-nos os nossos sonhos em 1984, 2000 e 2006 (se foi com justiça ou não, não me era relevante naquele momento); quando as coisas não lhes corriam bem nos últimos anos, os mais altos dirigentes do futebol manipulavam as regras a seu favor; a Imprensa francesa tratou-nos abaixo de cão; os franceses tomaram a vitória na final como garantida, até tiveram a arrogância de colocar o autocarro de campeões que tinham preparado a circular pelas ruas de Paris antes do jogo (olhando agora, os franceses estavam mesmo a pedi-las...). E agora tinham-nos tirado o Ronaldo, num lance em que nem sequer foi marcada falta. Esta nem sequer seria a última jogada violenta por parte dos franceses: Ricardo Quaresma apanharia umas duas. E nós é que jogávamos de forma nojenta...

 

Basta!, pensei eu, naquele momento. Os franceses não mereciam ganhar o Europeu jogando assim. Eles tiraram-nos o Ronaldo? Nós tirar-lhes-íamos o campeonato! Que ninguém se atrevesse a atirar a toalha ao chão!

 

Felizmente, o resto dos Marmanjos também pensou assim. Mesmo sem o seu elemento mais importante, a Equipa de Todos Nós não vacilou. A França dominava, tinha o árbitro do seu lado (a sério, os franceses fizeram jogo sujo mas, na primeira parte, só os portugueses é que viram amarelos), mas era incapaz de traduzir essa vantagem em golos graças a Pepe, José Fonte e, sobretudo, Rui Patrício. Mais do que qualquer um dos outros Marmanjos, via-se que o guarda-rede estava a fazer o jogo da vida dele, pela maneira como se atirava, sem hesitações, para a bola, como se esta fosse o filho que tem por nascer, arriscando-se a levar com outros jogadores em cima. Dizer que ele "estava inspirado", como ia comentando a minha mãe, é quase insultuoso. Aquilo não é "sorte", ou "inspiração", são anos de experiência, perícia e muita entrega. Teve uma única falha que poderia ter deitado tudo a perder, arruinar-lhe um jogo até ao momento perfeito, em cima dos noventa minutos (a meia-final de 1984, em que o três vezes maldito Michel Platini marcou à beira do fim, passou-me pela cabeça) mas, por uma vez, o poste esteve do nosso lado.

 

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Com o tempo, incapazes de quebrar Portugal, os franceses foram perdendo o ânimo. Não lhes terá ajudado a cantoria constante dos adeptos portugueses. A sério, eles não deviam passar de um quinto da ocupação das bancadas e foram os que mais se ouviram. Só uma vez ou outra é que os franceses se puseram a fazer o haka islandês, que nem sequer é originalmente deles (e, na minha opinião, não tinham o direito de usá-lo). Por usa vez, não me lembro de alguma vez ter ouvido cânticos assim da parte dos portugueses num jogo da Seleção. Parecia a curva sul dos jogos do Sporting, e isso é um elogio. Não será por acaso, que ouvi dizer que elementos dos Super Dragões e da Juve Leo estiveram em França, liderando os adeptos portugueses durante o Europeu. Para além de ser sempre bonito por princípio ver adeptos deixando as rivalidades clubísticas de lado e unindo-se pela Seleção (algo que devia acontecer sempre), tornou o décimo-segundo jogador mais ativo e determinante nesta vitória. Foi uma ótima ideia, que devia ser aplicada em todos os jogos da Seleção.

 

A equipa soltou-se mais no ataque depois de João Moutinho e Éder substituírem Adrien e Renato Sanches, respetivamente (e o pobre Adrien teve de aturar Ronaldo no banco... Não estava fácil para ninguém!). Mais ou menos nessa altura comecei a acreditar que, se marcássemos um golo, ganharíamos o jogo. Mas, naturalmente, não me atrevia a verbalizar esse pressentimento.

 

Não sei como foi com vocês, no sítio onde vivem, mas na minha rua, depois do noventa, desatou tudo a gritar por Portugal, à janela. Eu aproveitei a ocasião, aliás, para estrear a transmissão em direto da página de Facebook, filmando a cena (obviamente, a qualidade deixou muito a desejar...). Como podem ver, houve ali uma mistura de gritos de apoio e celebrações do empate. Ao mesmo tempo, no Stade de France, Ronaldo andava à volta dos companheiros de equipa, dando-lhes força para o prolongamento.

  

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Muitos contavam com um desempate por grandes penalidades mas eu, sinceramente, preferia resolver a situação antes dos cento e vinte ou era desta que me ia dar uma coisinha má. Estivemos perto com aquele livre do Raphael Guerreiro que bateu na trave. Para ser sincera, fiquei um bocadinho aliviada por a bola ter batido na trave nesse lance, visto que aquele livre fora mal marcado a nosso favor (a mão na bola não era de Koscielny, era de Éder. Uma pessoa pergunta-se como que é o árbitro se confundiu, quando os dois jogadores tinham cores de pele bem distintas... Confesso que me fartei de rir com esse momento). Não que fosse propriamente injusto, tendo em conta a maneira como Ronaldo saiu do jogo, e que não fosse de uma ironia deliciosa depois da mãozinha do Abel Xavier no Euro 2000. No entanto, se já como foi os franceses se têm queixado de injustiça (ao ponto de pedir repetição da final, o que acho pura e simplesmente patético), o que não diria se o golo viesse de um livre irregular.

 

No fim, as coisas desenrolaram-se de maneira perfeita. Ou quase perfeita. Estamos muito avançados tecnologicamente e tal, mas ainda ninguém arranjou maneira de resolver os lapsos na transmissão entre rádio e televisão, quer por fibra ótica quer por box, para evitar spoilers em jogos como este. A nossa rua explodiu de alegria antes de o golo passar na nossa televisão. Não que isso tenha estragado muito a coisa. Quando vi a bola ir às redes, não gritei "GOLO!", gritei antes como uma menina de doze anos num concerto do Justin Bieber. No Stade de France também não faltaram emoções, com toda a gente abraçada ao Éder, o Renato Sanches por cima do novelo humano, o Cristiano Ronaldo a chorar outra vez, desta feita de alegria.

 

Adaptando as célebres declarações de Ricardo Araújo Pereira ao meu caso, eu leito e escrevo livros, oiço música, vou a concertos, vejo séries e filmes, já viajei imenso para uma pessoa da minha idade, mas muito poucas coisas que emocionaram mais do que este golo de Éder, de fora da área, que as lágrimas de Cristiano nas celebrações - vou dizer isto durante toda a minha vida.

 

 

Mas, na altura, não me atrevi a dar nada por garantido antes do apito final. A Equipa das Quinas também pensou assim. Foi, aliás, depois deste golo que Cristiano Ronaldo se fez treinador-adjunto, para delícia do Mundo inteiro. Noutras circunstâncias e se isto ocorresse com frequência, treinador nenhum acharia assim tanta graça - sobretudo tendo em conta em que o Cristiano é um bocadinho bruto com Fernando Santos, que já está longe de ter trinta anos - mas eram os últimos minutos de uma final, estava muita coisa em jogo. Qualquer um deixaria passar. E, sejamos sinceros, teve imensa piada. Felizmente, Portugal conseguiu aguentar a vantagem até aos cento e vinte minutos.

 

Sabem durante quantos anos sonhei com o momento em que a Seleção recebeu a Taça Henri Delaunay? Quantas entregas de taças em futebol vi ao longo dos anos, imaginando a nossa Seleção no lugar dos vencedores? Quantas vezes vi, com os olhos da mente, o Cristiano Ronaldo erguendo a Taça bem no ar, os colegas à volta dele explodindo de alegria, os coffetis verdes e vermelhos, o fogo de artifício? Não cheguei a chorar, mas estive perto disso quando, finalmente, vi com os meus próprios olhos aquilo que, durante anos, só via nos meus sonhos.

 

 

No dia seguinte, tal como tinha prometido, fui receber a Seleção ao aeroporto. Só mais tarde é que descobri que a Seleção ia festejar para a Alameda. Não sei, no entanto, se teria disponibilidade para passar a tarde toda à espera da Equipa de Todos Nós. Além de que aquelas horas todas no calor e no meio da multidão ainda me davam outra coisinha má. Eu queria fazer parte da festa, de uma maneira ou de outra, que eu passei demasiado tempo à espera disto e fiquei satisfeita. Ainda estive um par de horas à espera no aeroporto, eu e uma multidão generosa que se prolongava até ao Palácio de Belém, provavelmente. Não nos aborrecemos pois houve cantoria do princípio ao fim: quer o hino nacional, quer cânticos de louvor ao herói de Paris, invocações a um episódio icónico deste Europeu e aquele que está em vias de se tornar o tema oficial da nossa participação no Euro 2016. Finalmente, o autocarro saiu e fez-se a festa, que se prolongou pela tarde fora.

 

 

Uma parte de mim ainda tem dificuldades em acreditar, mesmo passada uma semana, que isto aconteceu mesmo, que Portugal ganhou mesmo um título. Que estes 23 conseguiram aquilo que as Seleções Portuguesas de 1966, 1984, 2000, 2004, 2006 ou 2012 não conseguiram. Estão a ver a frase-feita que os Marmanjos iam repetindo, no rescaldo do jogo com a Islândia, à laia de desculpa? Que não era como se começava, era como se acabava? Bem, a frase-feita confirmou-se. O início de Portugal neste Europeu não foi famoso. Houve muita ansiedade, muitos erros, umas quantas más escolhas, alguns momentos medíocres e, há que admiti-lo, mérito dos nossos adversários, sobretudo da Islândia. Portugal soube melhorar, corrigir os erros, transformar as fraquezas em forças e isso foi fundamental para o nosso sucesso. Não foi um Europeu brilhante nem particularmente empolgante no que toca a Portugal e não deixei de assinalá-lo. Há quem diga que tivemos imensa sorte, por a Islândia ter marcado aquele golo à Áustria no tempo de compensação, que nos atirou para o caminho mais fácil até Paris. Não estão errados mas, como assinalei antes, é tudo uma questão de perspectiva, pois equipas como a Croácia, Polónia e País de Gales chegaram a onde chegaram por mérito próprio, não apenas por sorte.

 

Numa coisa concordo: dificilmente se repetirão circunstâncias tão favoráveis a Portugal. Mas isso acontece em todos os campeonatos, de seleções e não só: o mérito de uns coincide sempre com o demérito de outros. Acham, por exemplo, que o Leicester teria conseguido ganhar a Premier League se o Manchester United, o Chelsea e os outros clubes ditos grandes do futebol inglês estivessem a fazer tudo bem? O futebol é mesmo assim. 

 

 

Neste final feliz, o nosso primeiro, no meu coração ficam os vinte e três Marmanjos, o nosso Selecionador (cuja fé estava corretíssima) e o restante staff. Se tivesse de escolher entre pegar na Taça Henri Delaunay e um abraço a pelo menos um dos jogadores, escolhia a segunda opção. A Taça em si nada me diz sem os meus Marmanjos, que tanto lutaram para a levar "para o nosso Portugal". Um dia hei de fazê-lo. Hei de abraçá-los e agradecer-lhes esta vitória. Depois de anos e anos acompanhando-os (uns mais do que outros, evidentemente), ouvindo outros dizendo que eles são apenas os protegidos de Jorge Mendes, os mais-dez do Ronaldo, não tinham tanta qualidade como os seus antecessores ou elementos de outras seleções, foi um orgulho enorme vê-los dando cartas neste Europeu, fazendo frente a jogadores com mais prestígio, impressionando um pouco por todo o mundo, sendo eleitos para a equipa ideal do Europeu. Adrien, William, João Mário, Raphael Guerreiro, Cédric, Quaresma, Nani... e, claro, Éder.

 

Quero, aliás, comentar a atenção toda que tem sido dedicada ao "herói improvável" da final do Europeu. Atenção essa que tem o seu quê de hipocrisia. Escrutina-se a vida toda de Éder, comenta-se que ele cresceu quase como um órfão, mas quem queria saber disso quando, mesmo antes do Europeu, lhe chamavam "cone" ou diziam que era "menos um"? Há sites onde as pessoas se inscrevem para pedir desculpa a Éder, mas eu não assino por baixo. Todas as críticas que lhe teci relacionavam-se apenas com o seu desempenho em campo (e, vejamos os factos, ele só começou a marcar pela Seleção há um ano), penso que nunca resvalaram para o insulto. Como poderão ler aqui, não me passou despercebido o seu bom desempenho no Lille e, quando ele foi Convocado, dei-lhe o benefício da dúvida. Por sinal, o Éder até marcou em dois dos três particulares antes do Europeu. Desse modo, ao contrário do que aconteceu com muitos, o golo na final não me pareceu surgido do nada. Acho possível, até, que o Éder marcasse mais neste Europeu se tivesse tido mais tempo em campo.

 

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Este nosso triunfo serviu, aliás, para desmontar uma série de mitos sobre a Seleção, para, mais uma vez, matar demónios, quebrar maldições, as maiores que nos assolavam. Depois deste Europeu, mais ninguém vai dizer que o Éder não é opção para o ataque. Mais ninguém vai dizer que a Seleção não tem estaleca para equipas grandes e falha sempre nos momentos cruciais. Mais ninguém vai dizer que a Seleção é só Ronaldo-mais-dez - nós ganhámos literalmente uma final contra a França com Ronaldo no banco, lesionado. Mais ninguém vai, aliás, dizer que Portugal não tem nenhum título em seleções A. O nosso trajeto até à final de Paris pode não ter sido o mais empolgante, mas tudo o que ocorreu no Stade de France, tudo o que enumerei acima, é a matéria da qual são feitas as lendas.

 

Dito isto tudo, esta vitória não desvaloriza o trabalho de outras grandes figuras da Seleção Portuguesa, só porque estas não conqusitaram nenhum título com a Camisola das Quinas. Pelo contrário, este título também é um pouco deles, pois foram eles que criaram as tradições, que deram o exemplo e a inspiração aos vinte e três que foram a França. Enquanto viveu, Eusébio esteve sempre ao lado da Equipa de Todos Nós, a sofrer - e os campeões da Europa não se esqueceram dele nesta vitória. Cristiano Ronaldo via Luís Figo, Rui Costa e restante Geração de Ouro enquanto crescia, ainda apanhou alguns deles na Seleção e estou certa que os veteranos lhe serviram de mentores - tal como hoje Ronaldo apadrinha os mais novos das Convocatórias. Se não fosse Eusébio, Chalana, Luís Figo, entre tantos outros, não estaríamos aqui, a celebrar esta vitória

 

E não é só a eles que devemos estar gratos. Também a todos os outros que vestiram a Camisola das Quinas, com maior ou menor sucesso. Tudo o que aconteceu na Seleção até agora, todas as derrotas dolorosas, todas as pequenas e grandes crises, todas as trocas de treinadores, todos os momentos em que estivemos à beira de perder a fé valeram a pena pois prepararam-nos para isto, tornaram-nos mais fortes, permitiram-nos conquistar aquilo que nos escapou drante demasiado tempo.

 

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Esta parte, agora, é nova. Não se sabe ainda ao certo qual será o impacto prático da conquista do primeiro título. A curto prazo já deu para ver: não se falou de outra coisa durante dias, havia sempre um novo vídeo de Ronaldo no banco de Portugal, uma nova reação ao golo de Éder, uma nova entrevista, uma nova crónica sobre o jogo. Ficamos, agora, à espera do efeito a médio e longo prazo nas aventuras e desventuras da Seleção.

 

Uma das consequências já conhecidas deste triunfo é a presença na Taça das Confederações. Esta é, na minha opinião, uma das melhores: um campeonato de seleções num ano ímpar! É certo que não tem o mesmo prestígio que um Europeu ou um Mundial, mas sempre serão jogos interessantes, sempre é uma desculpa para a Equipa de Todos Nós se concentrar durante algumas semanas e para aqui a "je" escrever neste blogue!

 

Não quero pensar muito nisso, ainda, nem no Mundial 2018 e respetiva Qualificação. Para já, quero saborear este nosso primeiro título, pelo qual esperámos tanto tempo.

 

 

Quero terminar com um sentido agradecimento a todos os que acompanharam este feito inesquecível comigo, quer através deste blogue, quer através da página do Facebook. Tanto àqueles que só me descobriram há pouco mais de uma semana, como àqueles que já me seguem há anos. Esta vitória pertence a todos os portugueses mas nós, que já vimos a Seleção no seu pior e recusámo-nos a virar costas, merecemos esta vitória mais do que o adepto comum. Reservámo-nos a esse direito. Sabe tão bem conquistar finalmente um título...

Portugal 2 Gales 0 - Isto está mesmo a acontecer?

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Na passada quarta-feira, dia 10 de julho, a Seleção Portuguesa de Futebol venceu a sua congénere galesa por duas bolas sem resposta, em jogo a contar para as meias-finais do Campeonato Europeu da modalidade. A Seleção segue agora para a final de Paris, onde vai enfrentar a sua congénere... francesa.

 

Esta é a minha ducentésima publicação aqui no blogue (publicação número duzentos, para os amigos). Dificilmente o timing seria melhor - só mesmo se esta crónica fosse sobre a conquista de um título. Foi para ocasiões como a que estamos a viver neste preciso momento que inaugurei O Meu Clube é a Seleção. Esperei oito anos pela oportunidade de escrever sobre a presença da Equipa de Todos Nós numa final de um campeonato de seleções. Valeu a pena. 

 

Mas falemos do jogo das meias, antes. Não que haja muito a dizer. A primeira parte foi razoavelmente aberta, não desgostei do futebol praticado pelos portugueses, ainda que não tenham havido muitas oportunidades de golo. Da Gales, os lances de maior perigo partiram de Gareth Bale, naturalmente. Em várias ocasiões, valeu-nos Rui Patrício.

 

Na verdade, o jogo resume-se aos dois golos portugueses, aos cinco minutos da segunda parte. Na sequência de um pontapé de canto, Raphael Guerreiro centrou para o meio da grande área galesa. Cristiano Ronaldo deu um salto de quase oitenta centímetros - um daqueles que ele faz de vez em quando e deslumbram toda a gente - e cabeceou a bola diretamente para as redes. Cá em casa estávamos a jantar por esta altura e não consegui gritar "GOLO!" pois estava com a boca cheia de cenoura ralada - à semelhança do que já tinha acontecido antes, só que com esparguete.

 

Ronaldo não se ficou por aqui. Três minutos depois, fez nova tentativa à baliza galesa. A bola acabou por sobrar para Nani, que ampliou a vantagem para as duas bolas. Já conta três golos neste Europeu, mas continua a receber poucos louvores por isso. 

 

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Pouco mais aconteceu no jogo depois destes golos. A Gales ainda tentou reduzir a desvantagem, sem sucesso. Portugal podia ter marcado pelo menos mais um golo, teve oportunidades para isso. O marcador não se voltou a alterar até ao fim do jogo.

 

Acreditam que, mesmo passado este tempo todo, ainda não estou cem por cento convencida de que isto não é um sonho? Que Portugal está mesmo na final do Europeu? Que me sinto como aquele miúdo, meio anestesiado depois de ir ao dentista? Eu e a minha irmã, nos primeiros minutos após o apito final, perguntávamos isso uma à outra:

 

- Estamos mesmo na final?

- Isto está mesmo a acontecer?

 

Ainda ontem à tarde estava a comentá-lo para a minha cadela (sim, eu falo para a minha cadela, que é a única que tem sempre paciência para mim...) e, um pouco do nada, comecei a rir-me e não consegui parar durante minutos. Só depois de a França derrotar a Alemanha, conquistando um lugar na final, é que a verdade me atingiu. Portugal vai à final do Europeu. Com a França.

 

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Não é que Fernando Santos tinha razão? Não é que a Seleção vai ficar em Marcoussis até dia 11? Não é que a fé que resolvi adotar no início da preparação do Europeu se está a justificar?

 

Estive doze anos à espera deste momento - quase metade da minha vida. Desde aquela malfadada derrota perante a Grécia. À espera de uma oportunidade concreta de ver Portugal conquistar um título que lhe escapa há demasiado tempo, de desforrar, dentro do possível, a final do Euro 2004, as meias-finais do Mundial 2006 e do Euro 2012.

 

De certa forma, é perfeito. Foi frente à França, no próprio palco da final, que Fernando Santos se estreou como Selecionador. Não vencemos esse jogo (nem qualquer jogo com a França nos últimos quarenta anos, diga-se de passagem...). Mas foi nesse dia, nesse balneário, que jogadores e Selecionadores prometeram tudo fazer para regressarem a esse palco, daí a quase exatamente 21 meses, e sagrarem-se campeões da Europa. 

 

Também é perfeito de outra forma. Perfeito por o nosso adversário ser um dos nossos maiores "inimigos" no futebol. O adversário que nos derrubou nas meias-finais de 1984, 2000 e 2006 (de forma injusta no último caso, pelo menos). Houve até uma altura, após o Mundial 2006, em que fantasiei com uma final Portugal-França, precisamente para nos desforrarmos disso tudo (fantasia essa que contribui para a minha sensação de irrealidade). Além do mais, os franceses têm tido anos e anos de colinho por parte da FIFA e da UEFA, destaque para aquela mão de Deus do Thierry Henry, nos playoffs para o Mundial 2010. Por fim, têm passado o Europeu a criticar-nos, e continuam a fazê-lo. Existirá vingança mais doce do que dar-lhes o seu próprio Euro 2004? Uma derrota caseira na sua final para lamentar para o resto das suas vidas? 

 

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Mas isto eu a fantasiar. Voltando à realidade, sei perfeitamente que isto não vai ser nada fácil, raia mesmo o impossível. Como disse antes, a França é um dos nossos maiores demónios e, ainda por cima, joga em casa. Em termos de qualidade, na minha opinião, estão abaixo dos alemães, que perderam a meia-final por erros seus, mas, mesmo assim, os franceses estão muito acima das equipas que temos enfrentado neste Europeu. Vou ser brutalmente sincera: a possibilidade de perdermos é forte. 

 

No entanto, Fernando Santos também tem razão quando diz que é difícil ganhar a Portugal. Não convém esquecer que não perdemos nenhum jogo oficial no seu "mandato". Também acredito no empenho, no espírito de equipa,de sacrifício dos nossos jogadores. 

 

De qualquer forma, aconteça o que acontecer, no dia 11, a seguir à final, estarei no aeroporto da Portela para receber os jogadores, tal como fiz em 2012. Se nem depois do Mundial 2014 fui capaz de virar as costas à Seleção, muito menos fá-lo-ei agora.

 

Feita essa promessa, quero deixar uma mensagem aos jogadores (*põe a tocar como música de fundo um tema épico, estilo Heart of Courage dos Two Steps From Hell. O This One's For You também serve*).

 

Ganhem a final. 

 

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Ganhem pela vossa família e amigos, colegas e treinadores, antigos e atuais, as pessoas que acreditaram em vocês, que tomaram conta de vocês, que vos deram oportunidades para mostrarem o vosso valor, que vos ensinaram, que vos ajudaram, de uma forma ou de outra, a chegar a onde estão agora.

 

Ganhem pelo Eusébio e pelos outros Magriços, pelo Jordão, pelo Chalana, pelo Paulo Futre, pelo Luís Figo, o Rui Costa, o Pedro Pauleta, toda a Geração de Outro, pelo Deco, pelo Maniche. Por todos os jogadores portugueses que também tentaram tornar este sonho realidade, que vos ensinaram direta ou indiretamente, que vos serviram de exemplo e inspiração para se tornarem nos jogadores que são hoje.

 

Ganhem para acertarmos contas com o Destino pela derrota aos pés da Inglaterra há cinquenta anos, pelo golo de Michel Platini a um minuto do prolongamento das meias-finais de 84, pela mão de Abel Xavier em 2000, pela Grécia em 2004, pela falta do Ricardo Carvalho em 2006, pelos penáltis falhados em 2012. Ganhem para vingarmos os inúmeros favorecimentos descarados à seleção francesa e que, a nós, chegaram a ser negados, pelas desconsiderações que pessoas como Michel Platini e Joseph Blatter nos têm feito ao longo dos anos, pelas críticas que franceses (e não só) nos têm dirigido neste Europeu.

 

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Ganhem pelos vossos admiradores, pelos adeptos da nossa Seleção espalhados pelo Mundo inteiro (que não se limitam a portugueses), pelos que têm estado convosco nos bons e nos maus momentos. Por mim. Pelos emigrantes em França, porteiros, empregados de limpeza, trabalhadores das obras, que durante anos lutaram por sobreviver à precariedade, à arrogância e xenofobia de muitos franceses. Ganhem para que eles tenham orgulho, por pouco e fútil que seja, na sua nacionalidade.

 

Ganhem para que todos nós possamos falar de vocês aos nossos filhos e netos. Falar da capacidade de liderança de Cristiano Ronaldo, que obrigou João Moutinho a bater o penálti contra a Polónia. Da constante entrega de Nani. Da magia e perseverança de Ricardo Quaresma. Do ímpeto de Renato Sanches. Da elegância de William. Do talento deslumbrante de Raphael Guerreiro. Do imperialismo de Pepe. Das defesas milagrosas de Rui Patrício. Do empenho de todos os que não mencionei aqui, que se têm ajudado uns aos outros a melhorar e que têm honrado a Camisola das Quinas. Da crença inabalável de Fernando Santos. Ganhem por tudo isto e por muito mais.

 

Este vai ser o jogo das vossas carreiras, das vossas vidas. De todas as nossas vidas. Ajam de acordo com isso. 

 

Sem pressão.

 

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(Se por acaso exagerei no dramatismo, peço desculpa. Mas também, se existe altura para palavras grandiosas e dramáticas, é esta).

Polónia 1 Portugal 1 (4-5 após penáltis) - A melhor oportunidade

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Na passada quinta-feira, dia 30 de junho, a Seleção Portuguesa de Futebol empatou a uma bola com a sua congénere polaca, em jogo a contar para os quartos-de-final do Euro 2016. O desempate através da marcação de grandes penalidades, após cento e vinte minutos de jogo, foi favorável à Seleção Nacional. A Equipa das Quinas segue, assim, para as suas quintas meias-finais em campeonatos Europeus. Vale a pena recordar que, nas últimas cinco edições, só em 2008 Portugal falhou o top 4 das seleções europeias.

 

Este foi um jogo que até nem começou bem para as cores portuguesas, com um golo aos dois minutos de Robert Lewandowski, depois de Cédric ter feito mal as contas e deixado Grosicki apanhar a bola e assistir para o golo. Na altura eu disse mesmo algo como "Pronto, já marcou", antes de praguejar, mas sabia perfeitamente que havia tempo de sobra para dar a volta ao texto. 

 

No entanto, os sinais que Portugal foi dando nos trinta minutos que se seguiram não foram animadores. Os portugueses estavam lentos e desorganizados. Os polacos iam detendo a maioria da posse de bola e os seus contra-ataques davam calafrios. Só à meia hora de jogo, mais coisa menos coisa, é que fizemos os primeiros remates. Foi nessa altura que nos negaram um penálti sobre Cristiano Ronaldo - já vamos em dois ou três neste Europeu mas também, como já falhámos um, não é assim tão linear que isso tenha afetado os nossos resultados.

 

Felizmente, o golo não tardaria, vindo dos pés do menino da Musgueira, pela primeira vez titular pela Seleção, Renato Sanches. Ele e Nani fizeram uma troca de bola deliciosa e, de seguida, Renato disparou para a baliza polaca, sem dó nem piedade.

 

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Estão a ver aquelas pessoas irritantes de há uns meses, que endeusavam o Renato até ao enjoo? Que diziam que o Renato seria a próxima superestrela da Equipa de Todos Nós, que já falavam da Seleção como Renato-mais-dez, que Crisitiano Ronaldo andaria com ciúmes dele e tudo? Bem, não estavam completamente errados (tirando a parte dos ciúmes, que o Ronaldo não é assim tão mesquinho) e fico felicíssima por isso. Neste Europeu, o Renato conta um golo e, não exatamente uma assistência, mas um papel importante na marcação de um golo. Foi eleito por duas vezes Homem do Jogo (ainda que Pepe tivesse sido mais merecedor em ambas as ocasiões) e colocou o Mundo inteiro a falar sobre ele. A última vez que aconteceu algo parecido na Equipa das Quinas num Euro, foi em 2004 com… Cristiano Ronaldo. Se forem ler entradas de há uns meses neste blogue, verão que eu achei que este hype montado em volta do Renato era exagerado. Agora já não acho que tenha sido assim tão exagerado. Ele ainda está algo imaturo, comete demasiados erros comprometedores, decaiu muito na segunda parte, mas não é nada que não seja expectável na idade dele. O potencial está todo lá. Resta-nos esperar que o Renato trabalhe, siga as instruções dos seus treinadores, tenha juízo e um bocadinho de sorte. Se isso acontecer, Renato continuará a ter o Mundo inteiro a falar sobre ele.

 

Uma palavra também para Nani. Ele não tem propriamente deslumbrado neste Europeu, mas já conta dois golos e pelo menos duas assistências neste campeonato. Já igualou Luís Figo e Cristiano Ronaldo em assistências em Europeus. Mesmo não estando no seu melhor momento, o Nani é daqueles que dá sempre tudo de si em campo, pela Camisola das Quinas. Pena tão poucas pessoas repararem nisso.

 

Portugal jogou melhor na segunda parte, mas esta foi pobre em acontecimentos. Adrien e William viram o amarelo (o último vai falhar o próximo jogo), pelo que acabaram por ser substituídos por João Moutinho e Danilo, respetivamente. Aos oitenta e seis minutos, Cristiano Ronaldo desperdiçou um isolamento perfeito de Moutinho, que poderia ter resolvido logo o jogo. O prolongamento veio - outra vez. Portugal continuava a jogar melhor, mas nenhuma das equipas quis arriscar demasiado, preferindo relegar a decisão para os penáltis.

 

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Muitos dizem que o desempate por grandes penalidades é uma lotaria, mas eu não concordo. Conforme já tinha escrito aquando dos nossos últimos penáltis, na minha opinião, estes são quarenta por cento perícia, trinta por cento estado psicológico e emocional, trinta por cento sorte. Foi na perícia e no psicológico/emocional que Portugal esteve bem. Ao contrário do que fizemos com a Espanha, em 2012, abordámos bem os penáltis. O Ronaldo deixou-se de manias e ofereceu-se para bater o primeiro, em jeito de exemplo para o resto da equipa. Destaque, aliás, para o facto de ter convencido Moutinho a bater um deles - ele, que se tinha escondido, alegando uma dor na perna ou algo do género, embora eu suspeite que tivesse o penálti falhado em 2012 na memória.

 

Isto é que é ser Capitão. Atitudes como esta são tão valiosas como um golo ou uma assistência, se não forem mais. Daí que não esteja preocupada por aí além com o seu alegado rendimento inferior: Ronaldo tem ajudado de outras maneiras.

 

Eu estava super nervosa aquando dos penáltis, agarrada aos velhos boné e cachecol, mas os Marmanjos que os bateram não estavam: desde o Capitão Ronaldo ao miúdo Renato, todos executaram os penáltis com mestria - uma mestria que, por acaso, os alemães e os italianos não foram capazes de imitar, dois dias mais tarde, apesar de muitos os considerarem duas das melhores seleções do Mundo. Até os polacos foram mais competentes do que eles. É aqui que entra Rui Patrício, que conseguiu defender o penálti de Blaszczykowski, o último dos polacos. Ricardo Quaresma, de seguida, não desperdiçou a vantagem.

 

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- 'Tamos nas meias! 'Tamos nas meias! - repetia eu, entre os festejos, ainda sem acreditar. Mesmo agora, dias depois, uma parte de mim ainda não encaixou que esta Seleção está entre as quatro melhores da Europa. Passaram-se quatro anos desde o Euro 2012. Aconteceu muita coisa nestes anos, a Seleção desiludiu várias vezes, houveram ocasiões - sobretudo depois do Mundial 2014 - em que cheguei a pensar que Portugal não voltaria a chegar tão longe tão cedo, que não voltaria a estar entre as grandes seleções. Mas a verdade é que, mesmo não jogando ao nível a que jogámos em 2004, 2006 ou mesmo 2012, estamos a conseguir os mesmos feitos. Segundo os meus critérios, este está a ser um Europeu bem sucedido. Como tal, as ambições de Fernando Santos não são assim tão descabidas: nas meias-finais todos são candidatos ao título.

 

Numa coisa vou ser sincera, no entanto.  Não é bem a mesma coisa chegar às meias-finais ”só com empates”, enfrentando equipas como a Islândia, a Croácia, a Polónia, quando, nas vezes anteriores, conseguimos o mesmo com vitórias épicas, perante seleções como a Alemanha, a Espanha, a Inglaterra, a Holanda - sobre algumas das quais escrevi aqui. É claro que isto são as minhas próprias ideias pré-concebidas pois, se formos a ver, das equipas que referi, apenas a Alemanha continua em prova. A Inglaterra e a Espanha caíram nos oitavos-de-final, a Holanda nem sequer veio ao Europeu. Por sua vez, a Polónia empatou com a Alemanha na fase de grupos, a Croácia venceu a Espanha na mesma fase e a Islândia conquistou os corações de toda a gente ao eliminar a Inglaterra.

 

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E já que falamos de equipas surpreendentes neste Europeu, falemos do nosso próximo adversário, o País de Gales, que derrotou a Bélgica nos seus quartos-de-final por 3-1. Muitos consideram que esta equipa está ao nosso alcance, mas eu não me atrevo a subestimá-los. Para começar, tal como afirmei acima, qualquer equipa que chegue às meias-finais é candidata ao título. A Gales nunca chegou tão longe num campeonato de seleções, não tem nada a perder. A pressão está toda do nosso lado.

 

Eu sinto-me ansiosa em relação ao jogo mas é a mesma ansiedade de qualquer mata-mata. Por outro lado, no outro dia, atingiu-me pela primeira vez a ideia de que, doze anos após o Euro 2004, podemos voltar à final de um Europeu e… senti-me a hiperventilar. Ainda me sinto um bocadinho, enquanto escrevo isto. Antes de isto tudo começar, já tinha escrito que demorara imenso tempo a habituar-me à ideia de assumir a candidatura só Europeu. Nesta altura do campeonato, em que temos a nossa melhor oportunidade de voltar a uma final em vários anos, estou a descobrir que ainda não estou preparada para isso. Estou mais preparada que noutras alturas (já tenho algumas ideias muito vagas para uma eventual, muito hipotética, entrada de campeões europeus), mas não me atrevo a pensar abertamente pós meias-finais.

 

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E estas realizam-se quarta-feira. Continuo a acreditar nestes Marmanjos - se não tanto na sua qualidade, mais no seu espírito de equipa, na sua união, atributos que, por si só, não conquistam títulos, mas que são indispensáveis. É isto que interessa, tudo o resto são neuroses minhas. Que esse espírito nos ajude a passar as meias-finais e a marcarmos presença em Paris.