Hungria 3 Portugal 3 - Emoções e parvoíce
Na passada quarta-feira, dia 22 de junho, a Seleção Portuguesa de Futebol empatou a três bolas com a sua congénere húngara, no terceiro jogo da fase de grupos do Campeonato Europeu da modalidade. Com este resultado, a Seleção segue em frente na competição e enfrenta a Croácia nos oitavos-de-final hoje, às oito da noite.
Tendo em conta que o dia começou com um microfone no fundo de um lago, em Lyon, devíamos ter previsto a loucura que seria o jogo. Portugal até entrou mais ou menos bem, mas a Hungria, no seu primeiro remate do encontro, na sequência de um canto, conseguiu marcar.
Jogadores e treinador têm falado muito por estes dias, mas uma coisa tem sido comum a estes três jogos: a equipa não está a saber lidar com a ansiedade (talvez não fosse má ideia arranjar-lhes um psicólogo...) e mal se consegue organizar. No caso do rescaldo deste primeiro golo, Portugal procurou pressionar a Hungria, mas de forma atabalhoada. Uma coisa em que reparei foi que, antes do golo húngaro, os jogadores que marcavam os livres iam rodando, mas depois do golo passou a ser apenas Ronaldo a cobrá-los todos, independentemente da posição - ele deve andar obececado com o facto, muito assinalado, de, em campeonatos de seleções, ele não ter conseguido ainda concretizar em nenhum livre.
Mesmo jogando aos tropeções, os portugas lá conseguiram chegar à igualdade. Cristiano fez um lindo passe, que ultrapassou uma mão-cheia de húngaros e chegou a Nani, que "só" teve de rematar. Depois de já termos tido um golo anulado por fora-de-jogo, eu ainda esperei uns segundos antes de festejar mas, quando o fiz, não me contive. Após uns vinte minutos fora do Europeu, estávamos de novo na corrida. Mas a parvoíce ainda agora tinha começado.
Esperava eu, ao intervalo que o golo de Nani ajudasse os portugueses a esfriar a cabeça e a ganhar forças para correrem atrás da vantagem. Só para provar o quão enganada eu estava, logo ao primeiro minuto da segunda parte, Ricardo Carvalho faz falta para livre e, na conversão, os húngaros colocam-se de novo em vantagem. Não dava para acreditar.
O que nos valeu foram as entradas de Renato Sanches e Ricardo Quaresma, que deram mais dinamismo à equipa lusa, ajudaram a abrir buracos na defesa húngara. Por fim, a bola chega a João Mário, este centra para Cristiano Ronaldo, que iguala o marcador, de calcanhar.
Contudo, ainda não foi desta que a parvoíce acabou pois, menos de cinco minutos mais tarde, Ricardo Carvalho volta a marcar falta na mesma zona, mais uma vez com direito a livre. Eu já adivinhava o que ia acontecer e aconteceu mesmo. Era mesmo para gozar com a nossa cara, não era?
Eu nem me ralei por aí além, desta feita, pois também adivinhava que íamos igualar de novo. E, de facto, já depois dos sessenta minutos, Quaresma centra para Ronaldo, que cabeceia para o golo.
Muitos têm criticado Fernando Santos, e eu concordo, por ter trocado Nani por Danilo, passando portanto a defender o empate perante a Hungria, bem como o segundo lugar do grupo F - que nos atiraria para o chamado lado negro do Europeu, onde encontraríamos a Inglaterra e poderíamos, depois, encontrar Espanha, Itália ou Alemanha. Mais tarde, o Selecionador defenderia as suas escolhas dizendo "Antes um pássaro na mão que dois a voar". Eu teria, mesmo assim, tentado ir atrás do primeiro lugar, pelo menos durante mais alguns minutos, tanto para fugir aos tubarões como por uma questão de honra - até porque, a certa altura, também a Hungria se conformou com o empate. No entanto, pelo andar da carruagem, ainda o marcador chegava aos dez igual. Ironicamente (sobretudo tendo em conta as palavras simpáticas de Ronaldo), acabou por ser a Islândia a salvar-nos dos tubarões, ao marcar o golo da vitória perante a Áustria, o último minuto, atirando-nos para o terceiro lugar do grupo F.
Em suma, este foi, em simultâneo, o jogo mais emocionante e o jogo mais parvo que vi em toda a minha vida. A Seleção conseguiu por três vezes reverter uma desvantagem, é certo. Contudo, de uma maneira muito típica nos últimos anos, foram os próprios Marmanjos a cavar o buraco, de onde tiveram de escapar. Por muito feliz que tenha por continuarmos no Europeu, por termos fugido aos tubarões (embora duvide que a Croácia seja pacífica), é triste não termos ganho um único jogo e ficaro em terceiro neste grupo. Sobretudo tendo em conta que esta é uma Seleção que fala em ganhar o Europeu.
Continuo em saber ao certo o que pensar dos nossos desempenhos inconsistentes neste Europeu. Se é apenas nervosismo, se é falta de frescura física, se é pura e simplesmente falta de qualidade, se Fernando Santos está a serguir o exemplo de antecessores seus e a ser teimoso (demorou dois jogos e meio a perceber que Moutinho já teve dias melhores e, mesmo asim, não me admirava se, hoje, o médio do Mónaco surgir outra vez entre os titulares). Não me parece muito provável que o problema se tenha resolvido nestes dois dias - embora eu tenha a esperança de que a conquista do Apuramento e os golos de Nani e Ronaldo tenham dado confiança para a fase seguinte do Europeu. Se as coisas começarem a correr bem, mesmo bem e, vá lá, Portugal conseguir apurar-se para a final de Paris, ninguém se vai ralar com o que aconteceu na fase de grupos. Mas é um grande "se".
Portugal tem um histórico favorável frente à Croácia (o nosso último jogo foi bastante positivo), mas ninguém espera facilidades, quando o futebol deles está entre os melhores praticados neste Europeu até agora e, sobretudo, depois de os croatas terem vencido a Espanha, mesmo sem Modric. Todos dão os croatas como favoritos e, visto que irritámos muita gente (não sem razão) ao apurarmo-nos sem vitórias, acho que vamos ter o Mundo inteiro a torcer contra nós. Esta nossa aventura no Euro pode terminar já hoje à noite: algo que eu, naturalmente, não quero. Aliás, com tanta gente a criticar-nos, dentro e fora do País (volto a sublinhar, não completamente sem razão), eu fico com ainda mais vontade de ver a Seleção chegar longe neste Europeu, só para irritá-los, para prová-los errados. Cristiano Ronaldo já conseguiu calar várias pessoas com este par de golos e uma assistência. Eu vou esperar que nem ele nem a Seleção fiquem por aqui em termos de respostas em campo às críticas e que, logo à noite, possamos sobreviver ao primero mata-mata.