Portugal 7 Estónia 0 - Injeção de confiança antes da nossa estreia no Euro 2016
Na passada quarta-feira, dia 8 de junho, a Seleção Portuguesa de Futebol venceu a sua congénere estónia por sete bolas sem resposta, em jogo de carácter preparatório do Campeonato Europeu da modalidade, em decurso neste momento. Este encontro teve lugar no Estádio da Luz... e eu estive lá.
Eu tinha dito na entrada anterior que não poderia ir ao jogo. Isto porque a minha irmã tinha (e teve) um teste no dia seguinte e eu não queria ir sem ela. No entanto, na véspera do jogo, dei com este vídeo e parei para pensar. Nos últimos anos houveram muitas oportunidades semelhantes que eu não pude aproveitar, por um motivo ou por outro. Mas naquele dia tinha possibilidades de ir ao Colombo àquela hora. Se não tentasse a minha sorte, arrepender-me-ia (sobretudo depois de o jogo ter corrido da maneira como correu). Por isso, fui. Não que estivesse à espera de ganhar os bilhetes: calculava que estaria lá imensa gente, que tivesse de responder a alguma pergunta sobre a História remota da Seleção, eu sei lá... Eu nunca tinha ganho nada em passatempos deste género, porque haveria de ganhar agora?
Na verdade, foi quase tão fácil como chegar lá e pedir. Não tinha chegado a ver a parte de provar "que era um dos melhores adeptos da Seleção" (se tivesse sabido, ter-lhe-ia dado o link do meu blogue) mas, quando a repórter me pediu para falar para a câmara, não tive grandes dificuldades em improvisar uma mensagem de apoio, baseando-me no que tenho escrito inúmeras vezes, de inúmeras formas, ao longo de anos, aqui no estaminé. Disse que sigo a Seleção há muito tempo, nos bons e nos maus momentos sem nunca virar costas, que esta me tem dado muitas alegrias, que continuarei a apoiá-los durante o Europeu. Na altura, não tive lata para divulgar o blogue, mas disse algo como "costumo dizer que o meu clube é a Seleção". Ainda pensei que fossem publicar o vídeo das minhas declarações, mas já ficaria feliz se soubesse que o mostraram a Fernando Santos e/ou aos jogadores. No fim, deram-me o convite duplo e passei a hora seguinte (talvez mais) incapaz de acreditar que tinha conseguido, que ia ver a Seleção outra vez, antes do Europeu!
Por outro lado, verdade seja dita, depois de tanta parvoíce, de tanto sofrimento ao longo destes anos todos com a Equipa de Todos Nós, já estava na altura de a Federação me oferecer qualquer coisa.
De início, a minha irmã não ficou muito contente por a "obrigar" a ir ao jogo. No entanto, ela ia acompanhar a transmissão televisiva de qualquer forma, mesmo com o teste. Acabou por concluir que o tempo perdido para ir e voltar do Estádio da Luz não faria diferença, até porque ainda tinha a quarta e a quinta-feira quase todas para estudar. Afinal de contas, não é todos os dias que se recebem bilhetes grátis.
A verdade é que já pagámos para assistir a uma mão-cheia de jogos da Seleção ao vivo. Demasiadas vezes para o meu gosto, temos levado com exibições fraquinhas, sobretudo nos últimos anos (vide este e este jogo). Por sinal, foi na única ocasião em que não tivemos de pagar bilhete que a Turma das Quinas marca o maior número de golos
À semelhança do que aconteceu antes, ficámos no terceiro anel. Infelizmente a experiência do jogo foi-nos quase arruinada por uns indivíduos armados em engraçadinhos, que entraram ao mesmo tempo que nós e se sentaram umas filas abaixo de nós, que já nas escadas se puseram a cantar pelo S.L.B. A minha irmã, sportinguista confessa e militante, irritou-se logo. Eu, por norma, tenho mais paciência nestas coisas, mas até eu me enervei ao ver que eles não se calavam, que durante o jogo gritavam coisas como "Mete o Jonas!" ou "Ó Patrício, não estás em Alvalade!". Talvez seja só eu, mas acho falta de educação gritar-se por clubes durante um jogo da Turma das Quinas. Se aqueles tipos preferem claramente o Benfica à Seleção (e têm esse direito) e não conseguem desligar-se do clube durante duas míseras horas para ver a Equipa de Todos Nós, que vieram eles fazer ao Estádio?
Eu a minha irmãzinha merecíamos um prémio (OK, mais um depois dos convites...) por termos aguentado o jogo todo sem lhes atirar nada, sem sequer lhes despejar uma garrafa de água em cima. A tentação foi grande. Mas a verdade é que é assim que começa a violência entre adeptos de futebol que eu tanto abomino. Como reza um meme de que gosto muito, este mundo está cheio de idiotas, uma pessoa não ganha nada em descer ao nível deles. De qualquer forma, a partir de certa altura, eles calaram-se ao som de tanto grito de golo.
A entrada de Portugal em jogo não foi assim tão avassaladora como o resultado dá a entender. A primeira meia hora do jogo foi pouco empolgante, com poucas oportunidades para qualquer um dos lados. A Estónia estava claramente a estacionar o autocarro - houve ocasiões em que eu via os onze estónios no nosso meio-campo, em que via cinco estónios formando uma linha perfeita, transversal ao relvado. Suponho que a Estónia seja uma versão muito soft daquilo que nos espera no grupo do Europeu. Calculei que fosse um daqueles casos em que é preciso um primeiro golo para quebrar o gelo e ficar tudo mais fácil. E não me enganei.
Esse primeiro golo veio com um toque de magia: Ricardo Quaresma assistiu de trivela para a cabeça do recém-chegado Cristiano Ronaldo, que cabeceou para as redes estónias. No que restava da primeira parte (menos de nove minutos) marcaram-se mais dois golos. O segundo voltou a meter magia de Quaresma, que desta feita não precisou de Ronaldo para enfiar a bola na baliza (ainda que, à primeira vista, me tenha parecido que fora o Capitão a dar o toque final). Poucos minutos depois, Cristiano Ronaldo teve um entendimento perfeito com João Mário, numa jogada que terminou com a assistência do médio para o remate do madeirense.
No início da segunda parte, já sem Ronaldo, Portugal ainda apanhou um pequeno susto no início do segundo tempo, quando os estónios conseguiram enviar uma bola à barra, na sequência de um livre. Poucos minutos mais tarde, Quaresma bateu um livre para a cabeça de Danilo Pereira, que aproveitou para fazer o seu primeiro golo pela Seleção. O eterno mustang voltaria a destacar-se ao assistir para o auto-golo estónio.
Mais tarde, aos setenta e seis minutos, Renato Sanches (que saltara do banco e estava a fazer um jogo muito inconsistente) fez uma daquelas arrancadas que o tornaram famoso, assistiu para Quaresma (outra vez), que assinou o seu segundo golo da noite. Por sua vez, foi André Gomes que, poucos minutos depois, assistiu Éder (também ele suplente utilizado) para o golo final da noite.
Tal como a derrota frente à Inglaterra não significou que estava tudo mal com a Seleção, também esta vitória generosa não significa que esteja tudo bem. Há que ter em conta que este adversário terá sido escolhido a dedo para garantir uma vitória fácil, talvez com goleada, para elevar a auto-estima e dar confiança aos jogadores e adeptos para a participação no Europeu. No entanto, não é todos os dias que se ganha por 7-0, sobretudo se nos recordámos, tal como assinalei antes, que passámos um ano, um ano e meio, a ganhar pela margem mínima. Mais, não é todos os dias que eu salto do banco de um estádio e grito "GOLO!" sete vezes numa só noite. Este jogo pode não ter contado para nada, mas a injeção de confiança poderá ter bons resultados.
Entre esses jogadores com confiança elevada encontra-se Ricardo Quaresma, cuja magia catalisou em grande parte esta goleada. Já muitos exaltaram o talento tardio do nosso Harry Potter, eu não tenho muito mais a acrescentar. Digo apenas que ele se queixou, recentemente, que em Portugal não lhe davam o devido valor, pelo menos não tanto como na Turquia. Não digo que não haja verdade nestas declarações, mas estas não se confirmaram no Estádio da Luz. Pelo contrário, os adeptos fartaram-se de aplaudi-lo, sobretudo quando ele batia cantos. Talvez esse amor que o público deu a Quaresma durante o jogo tenha catalisado a sua boa exibição. Talvez tenha ocorrido ao contrário. Só sei que é disto que o cântico fala quando cantamos "Tudo o que eu te dou, tu me dás a mim".
Todos concordam que, com este jogo, Quaresma rouba a titularidade a Nani, merecidamente. O pior é que o mustang está em dúvida para a nossa estreia no Europeu devido a uma mialgia de esforço (isto só a nós...). Eu não me importo por aí além se optarem por poupá-lo no jogo de amanhã (nestas coisas, antes um pássaro na mão que dois a voar), até porque acredito que Nani saberá dar conta do recado. Se alguma coisa correr mal (três vezes na madeira), não será por aí.
Com isto tudo, estamos a menos de vinte e quatro horas do momento da verdade, da nossa estreia no Euro 2016. Não estou tão nervosa como esperaria estar, tendo em conta a importância deste jogo, o facto de esse ser o momento em que passaremos das palavras, das promessas, das ambições - e estas, como sabemos, são grandes - à ação. Talvez por estarmos num grupo em que, em princípio (porque neste Europeu equipas menos cotadas têm surpreendido), não teremos problemas de maior. Talvez porque, ao contrário do que aconteceu há dois anos, tudo parece estar no sítio certo: tirando o caso de Quaresma, a equipa parece bem fisicamente, unida, empenhada. Fernando Santos tem tido um discurso ao mesmo tempo realista e ambicioso. Não sei se isto chega para conquistar o Europeu, tal como todos ambicionamos, mas acho - sublinho, acho - que temos condições para fazer um bom campeonato.
Eu provavelmente devia estar mais nervosa. Segundo uma velha superstição minha, dá azar não estar nervosa, não ter medo, mas a verdade é que não estou nervosa, não tenho medo - não tanto como noutras ocasiões deste género e definitivamente menos que no início da preparação do Europeu. Não garanto que se mantenha assim até ao início do jogo, no entanto... Acredito que é possível Portugal levantar a Taça caso a sorte esteja do nosso lado e, sobretudo, se todos fizerem bem o seu trabalho.
Na verdade, tudo o que eu quero neste momento é que nos deixemos todos de conjeturas, especulações e promessas. Tivemos meses e meses disso. O que eu quero é que o jogo de amanhã comece e que vejamos de que é que esta Seleção é capaz.
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