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O Meu Clube É a Seleção!

Mulher de muitas paixões, a Seleção Nacional é uma delas.

Portugal 0 Bulgária 1 - À moda antiga

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Na passada sexta-feira, dia 25 de março, a Seleção Portuguesa de Futebol perdeu perante a sua congénere búlgara, em jogo de carácter preparatório do Campeonato Europeu da modalidade, que terá lugar em França dentro de dois meses e meio.

 

Há imenso tempo que a Seleção não fazia um jogo destes há algum tempo, talvez há anos. Um jogo à moda antiga, em que a Seleção se farta de jogar, de rematar, mas em que a bola pura e simplesmente não entra e os golos são sofridos numa das poucas ocasiões da equipa adversária e/ou por parvoíce. Isto poucos meses depois de conquistar uma Qualificação fazendo quase o exato oposto. Só prova que, por vezes, quanto mais as coisas mudam, mais elas ficam na mesma.

 

Eu até fiquei entusiasmada quando, nos primeiros quinze minutos, fizemos mais remates que, se calhar, em alguns jogos da Qualificação para o Europeu. O guarda-redes búlgaro, Stoyanov, defendeu todas (como diria a minha irmã, "indício trágico") mas, na altura, pensei que era uma questão de atirar o barro vezes suficientes à parede. Infelizmente, a velha máxima do "quem não marca, sofre" manifestou-se mais cedo do que o costume: aos dezanove minutos, depois de Pepe e Vieirinha se atrapalharem com Marcelinho.

 

Na altura não me ralei por aí além com este golo. Não seria o primeiro resultado desfavorável que anularíamos e ocasiões de golo eram coisas que não estavam a faltar naquele jogo - com desespero crescente, diga-se. No entanto, Stoyanov resolvera fazer o jogo da vida dele naquela noite e nada entrava naquela baliza.

 

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 (fonte: Memes da Bola)

 

A coisa não melhorou na segunda parte, nem mesmo quando Quaresma e Danny entraram. Por fim, aos sessenta e seis minutos, lá conseguimos arrancar um penálti aos búlgaros, para Cristiano Ronaldo marcar.

 

- A ver se o Stoyanov defende esta - disse a minha irmã.

 

Quando Stoyanov defendeu, claro, não evitei virar-me para a minha irmã e refilar:

 

- Tinhas de abrir a boca, não tinhas?

 

Foi mais uma prova de que Deus Nosso Senhor tinha tirado a noite para se divertir à custa da nossa Seleção. Só faltou mesmo a habitual bola ao poste.

 

Pela maneira como muitos vinham a falar dele, uma pessoa quase esperava que, depois de Renato Sanches entrar, aos setenta e quatro minutos, a Seleção de repente marcasse dois ou três golos com a ajuda dele. Obviamente isso não aconteceu. O Renato, aliás, até falhou os primeiros dois passes por nervosismo - como é natural num miúdo de dezoito anos que, de repente, se vê convertido num messias futebolístico. Mas foi o suficiente para o comentador em serviço decretar que o Renato estava em noite não - isto cinco minutos depois de o Marmanjo entrar em campo. Tal como disse antes, é preciso dar espaço ao miúdo para crescer, para se adaptar. Endeusá-lo nesta altura do campeonato pode ser perigoso.

 

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Ao menos Renato sempre proporcionou o momento alto da noite, quando um miúdo de treze anos invadiu o campo para ir abraçá-lo. Um gesto perfeitamente inocente, mas que tem despoletado muita azia clubística de várias partes. Por um lado, já criticaram o miúdo por ter ido abraçar o Renato em vez do Ronaldo (em defesa do miúdo, quando eu tinha mais ou menos a idade dele, o Ronaldo tinha 18 ou 19 anos e também dava os primeiros passos na Seleção. Na altura, se eu invadisse um jogo, também ia primeiro abraçar Ronaldo e não Figo ou Rui Costa). Por outro lado, há quem especule que Ronaldo, enciumado por toda a atenção que o Renato está a receber, irá usar a sua influência para que o miúdo fique de fora do Europeu.

 

Acho graça à forma como pessoas de mente pequena acham que os demais - sobretudo pessoas bem sucedidas - possuem mentes tão pequenas como as deles. Além disso, na minha modesta opinião, acho que a única coisa que o Ronaldo inveja no Renato é... o seu cabelo. Por um lado, talvez até seja bom que as atenções na Equipa de Todos Nós se desviem um bocadinho do eterno Capitão. Por outro lado, Renato não estará de todo tão habituado a lidar com a pressão como o Ronaldo.

 

Fechando esse aparte, como podem calcular, estas reações movidas a clubites irritam-me. Ainda na semana passada o João Mário defendeu o Renato numa Conferência de Imprensa, a propósito da falta que o jovem cometeu no último derby - mostrando que, na Seleção, os clubes são uma questão secundária. Pena nem todo o adepto comum seguir esse exemplo. De qualquer forma, tenho vindo a aprender que a culpa não é do futebol em si, nem mesmo dos clubes. Pessoas de mente pequena existem em todo o lado, sobretudo na Internet. Por vezes é difícil separar o futebol e os clubes dos seus adeptos e de certos dirigentes.

 

Não aconteceu mais nada de assinalável depois disso. Fiquei com a sensação de que até o árbitro ficou com pena de nós, uma vez que, quando o tempo de compensação estava quase esgotado, nos concedeu mais um ataque. Não era preciso. Como diria o Nani mais tarde, "podíamos ficar cá a noite toda que não marcávamos".

 

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Jogos particulares valem o que valem, não são um indicador muito rigoroso da qualidade atual da Seleção. Por exemplo, tivemos uma série de particulares fracos antes do... Euro 2012, e uma série de particulares satisfatórios antes do... Mundial 2014. Estes jogos servem, precisamente, para cometer as asneiras todas, gastar o azar todo, a parvoíce toda, para depois, quando for a doer, estarmos muito mais firmes - embora saiba que, na prática, não é assim tão simples... Concordo com Fernando Santos quando diz que houveram "coisas positivas no jogo" - sobretudo o facto de Portugal estar de novo a jogar ao ataque, criando oportunidades de golo, depois de muito tempo jogando à defesa. Os problemas de concretização não nos tiram o sono, pelo menos não por enquanto. O caso mudará de figura se estes problemas se mantiverem...

 

Hoje temos mais um jogo para avaliar a situação, com a Bélgica. A ver o que aqueles totós fazem desta vez... 

Estendendo uma mão

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Na próxima sexta-feira, dia 25 de março, a Seleção Portuguesa de Futebol recebe, no Estádio Magalhães Pessoa, em Leiria, a sua congénere búlgara. Estava previsto a Seleção Nacional deslocar-se a Bruxelas para defrontar a sua congénere local, quatro dias mais tarde. No entanto, à luz dos recentes acontecimentos, o jogo foi mudado para o mesmo estádio do jogo com a Bulgária. Ambos os encontros terão carácter amigável, de preparação para o Campeonato Europeu da modalidade, que terá lugar em França, em junho próximo.

 

Uma vez mais, estes serão os primeiros jogos da Turma das Quinas em mais de quatro meses. Desta feita, não me custou tanto esperar - em parte por ser ano de Europeu, em parte por andar a trabalhar, de forma intermitente, numa entrada especial para o aniversário do blogue. Tal como da última vez, muita coisa mudou em quatro meses. Por exemplo, em novembro último, Gonçalo Guedes era o miúdo-sensação do Benfica, de quem toda a gente falava. No entanto, acabou por perder espaço no clube (o mesmo acontecendo a Ruben Neves, no F.C.Porto). O novo miúdo-sensação de quem toda a gente fala é Renato Sanches.

 

Como poderão deduzir, estou um bocadinho céptica em relação a todo este hype que está a ser feito em torno do jogador. Não é como se nunca tivesse visto isto, um jogador jovem muito mediatizado, que todos esperam que vá ser uma superestrela, mas que depois não consegue cumprir as promessas que deixara, por um motivo ou por outro (os miúdos deixam que o sucesso lhes suba à cabeça e/ou não sabem lidar com a pressão, são mal aconselhados, passam por momentos baixos de forma, perdem espaço nos respetivos clubes...). Na verdade, tanto quanto sei, o miúdo-sensação (entre 18 e 19 anos) que conseguiu cumprir as suas promessas nos últimos doze anos, mais coisa menos coisa, foi Cristiano Ronaldo (e, vá lá, apenas João Moutinho). Podem vilanizar Jorge Mendes o quanto quiserem, mas ele acertou em cheio ao obrigar Alex Ferguson a prometer que, quando Ronaldo viesse para o Manchester United, jogaria em pelo menos metade dos jogos. De outra forma, talvez Ronaldo não chegasse ao nível a que chegou - mas também, Ronaldo chegou a onde chegou precisamente por ser a exceção a todas as regras.

 

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Fiquei contente por Fernando Santos ter tentado desviar os holofotes de Renato Sanches. "Não vamos criar ansiedade ao miúdo", disse ele. Não sei se já o referi aqui, mas respeito imenso Fernando Santos por se recusar a dançar ao som da música da Comunicação Social, dos seus hypes e polémicas - tudo isto mantendo um tom descontraído, terra-a-terra, sem a agressividade de que alguns dos seus antecessores por vezes adotavam.

 

Acho, por isso, que é muito cedo para lançar Renato Sanches como titular, nos jogos oficiais pelo menos. Nem, lá está, Cristiano Ronaldo, que já se destacava havia pelo menos um ano, começou o Euro 2004 a titular. Na minha modesta opinião (que pode, ou não, ter sido influenciada pela minha irmãzinha sportinguista), não seria má ideia aproveitar estes dois jogos e a lesão de João Moutinho para testar o meio-campo do clube de Alvalade, que já tem rotinas. De qualquer forma, penso que nenhuma das opções para meio-campo disponíveis (incluindo algumas que não couberam na Convocatória) seria errada. A Seleção pode ter as suas lacunas, mas em princípio o meio-campo não será uma delas. Dava jeito, até, ser possível fazer uma equipa só com médios...

 

Já falei, então, do maior destaque da Convocatória, apresentada na passada sexta-feira. O resto da Lista era expectável, tirando... Éder. Nestas coisas eu costumo ficar no lado do Selecionador, ter alguma boa vontade, mas nesta concordo com as críticas. Como muitos têm assinalado, Bruno Moreira, do Paços de Ferreira, e Hugo Vieira, do Estrela Vermelha da Sérvia, contam com catorze e dezassete golos esta época, respetivamente. Éder conta... dois. O último já veio imensas vezes à Seleção ao longo dos anos e apenas marcou um golo. Já teve inúmeras oportunidades para convencer e não o fez. Está na altura de dar oportunidades a outros.

 

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Não sendo esta a Lista definitiva para o Europeu, não deverá definir muito da Convocatória final. Fernando Santos terá estes dois particulares para testar as armas. Sobre a Bulgária não sei quase nada. O nosso historial com essa seleção é equilibrado, mas também não jogamos com eles desde 1992. Os búlgaros não se Qualificaram para o Europeu e, segundo Fernando Santos, gostam de jogar à defesa. Podemos, então, contar com um jogo de paciência na sexta-feira, pouco excitante - pelo menos até a Seleção ser capaz de quebrar o gelo. 

 

A seleção belga é muito mais interessante. Há cerca de dois anos, um pouco do nada (pelo menos para mim), passaram a figurar na lista das melhores seleções do mundo. Na altura, não o sabia, mas a Bélgica fizera uma excelente Qualificação para o Mundial 2014, graças a uma geração de jogadores notáveis como Éden Hazard, Thibaut Courtois, Axel Witsel, Simon Mignolet, entre outros. No Mundial, chegaram aos quartos. Na Qualificação para o Euro 2016, ficaram em primeiro no grupo. Atualmente estão em primeiro lugar no ranking da FIFA, mas não dou muita credibilidade a esse ranking.

 

 

O nosso historial frente a Bélgica é desfavorável, mas guardo boas recordações dos últimos dois jogos, em 2007. O primeiro, em Alvalade, terminou com uma vitória por 4-0, destacando-se o golo de trivela de Ricardo Quaresma, como podem ver acima. Também ganhámos o jogo fora, por 2-1, e aqui destacou-se a bomba de Hélder Postiga, como poderão ver abaixo. Isto tudo, no entanto, decorreu há nove anos, muita coisa mudou nesse tempo. Consta que alguns dos titulares, como Hazard e Vicent Kompany, vão falhar o jogo por lesão, mas não me parece que a Bélgica diminua muito de qualidade. Eu espero que não, pelo menos. Quero ver por mim mesma se a Bélgica é essa Coca-Cola toda.

 

 

 

Não posso falar deste jogo sem falar dos atentados terroristas em Bruxelas. Durante cerca de um par de horas esta manhã, pareceu que o encontro não seria de todo realizado. Eu confesso que fiquei com medo. Já aquando dos ataques em Paris, uma das coisas em que pensei quando soube que um dos alvos era o jogo entre a França e a Alemanha, foi que, pouco mais de um ano antes, Portugal tinha jogado lá (não sei se era o mesmo estádio...) e que o Europeu disputar-se-á precisamente em França. Da mesma maneira, quando soube dos ataques em Bruxelas, uma das coisas em que pensei foi que, tivesse o jogo marcado para uns dias antes, os nossos jogadores podiam ter estado no aeroporto no momento fatídico. 

 

Por isso não, não posso dizer que não compreenderia, nem mesmo que não concordaria pelo menos em parte com um cancelamento, mesmo que os motivos não fossem estritamente práticos - a deslocalização foi sobretudo por, com a grande operação de segurança montada no país, não existirem recursos policiais suficientes para assegurar a segurança no jogo, não tanto o luto ou o medo. 

 

Por outro lado, cancelar completamente o jogo seria ceder ao terrorismo. Era isso que eles queriam. O objetivo deles é destruir a sociedade e o estilo de vida ocidental, disseminar o medo. A melhor resposta é precisamente recusarmo-nos a seguir os termos deles, continuarmos a viver as nossas vidas normalmente, fingindo que não temos medo. Para além de ser impraticável vivermos sem aviões e transportes públicos, a longo prazo, será que queremos uma vida sem futebol? Não vou dizer que prefiro morrer num atentado do que deixar de ir a jogos de futebol, mas não sei se quereria uma vida assim. Até porque, como já escrevi várias vezes aqui no blogue, o futebol chega a ser uma das únicas fontes de esperança e alegria de que dispomos.

 

Fico aliviada por este particular não ter sido cancelado, apenas deslocalizado, e por já se ter posto de parte a hipótese de realizar o Euro 2016 à porta fechada. Poucas coisas são mais tristes que um jogo de futebol sem público, até porque eu acredito que o futebol é, acima de tudo, um entretenimento. Além disso, em termos práticos, não sei se ajudaria tanto assim. Aglomerados de pessoas durante eventos desta envergadura são inevitáveis, se não nos estádios, em parques ou praças, à volta de ecrãs gigantes. Ao menos nos estádios é mais fácil revistar quem entra.

 

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Esta jornada de seleções já está estragada, mesmo que o jogo não tenha sido cancelado. No entanto, o facto de este se realizar à mesma é uma maneira de mostrar ao mundo e aos que procuram disseminar o medo que não abdicaremos da nossa liberdade, das coisas que nos fazem felizes, da nossa própria vida. É uma oportunidade de estendermos uma mão aos belgas, de mostrarmos a nossa solidariedade e amizade. Por outras palavras, é uma oportunidade para, numa altura em que nunca precisámos tanto disso, usarmos o futebol para a sua mais importante função: para unir.

 

Um abraço a todas as vítimas, diretas ou indiretas, do terrorismo.